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EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

Antonio Rodolfo de Siqueira


Viviane Guidotti
M278e Siqueira, Antonio Rodolfo de.
Educação de jovens e adultos / Antonio Rodolfo de
Siqueira, Viviane Guidotti. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
216 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-052-8

1. Educação de jovens. 2. Educação de adultos I.


Guidotti, Viviane. II. Título.

CDU 37.022

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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A importância da didática
para jovens e adultos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a importância e o conceito da didática no ensino de


jovens e adultos.
 Associar a relação professor e aluno no ensino de jovens e adultos.
 Distinguir as avaliações apropriadas para o ensino de jovens e adultos.

Introdução
A didática faz parte da prática pedagógica do professor. Elaborar uma
aula pautada em objetivos educacionais claros, aprimorando o desen-
volvimento cognitivo, afetivo e social do aluno. Em se tratando do aluno
da EJA, além dos conteúdos a serem abordados é preciso promover um
ambiente de confiança, cidadania e de astúcia.
Neste texto serão discutidos assuntos relacionados ao conceito e a
importância da didática. A elaboração de um planejamento e abordagens
acerca da avaliação, bem como o papel do professor na sala de aula.

A importância de uma didática


flexível e dinâmica
A pedagogia é o estudo sistemático da educação. É a reflexão sobre as doutrinas
e os sistemas de educação. A didática é uma seção ou um ramo específico da
Pedagogia que se refere aos conteúdos do ensino e aos processos próprios para
a construção do conhecimento. Enquanto a Pedagogia pode ser conceituada

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como a ciência e a arte da educação, a didática pode ser definida como a


ciência e a arte do ensino.
Para Haydt (2006), ensinar e aprender são como as duas faces de uma
mesma moeda. A didática não pode tratar do ensino, por parte do professor, sem
considerar simultaneamente a aprendizagem por parte do aluno. Com relação
à didática, é importante, ainda, considerar que os aspectos socioeconômicos e
políticos são pano de fundo nos quais se constituem as diferentes tendências
pedagógicas que marcam períodos históricos específicos.
No Brasil, essas tendências pedagógicas são classificadas por Libâneo
(1990) em dois tipos, a saber:

 Tendências pedagógicas liberais: sustentam a ideia de que a escola


tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis
sociais, de acordo com as aptidões individuais.
 Tendências pedagógicas progressistas: partindo de uma análise crí-
tica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades
sociopolíticas da educação.

Para os professores, é fundamental compreender quais são os limites e as


possibilidades pedagógicas que essas diferentes tendências expressam como
meio de fundamentar sua atividade docente. A dinâmica da aprendizagem é
essencial para uma didática que tem como princípio básico não a passividade,
mas sim a atividade do aluno.

Cabe ao professor direcionar suas práticas pedagógicas de acordo com as relações


entre a educação e a sociedade; entender que o ensinar não pode ficar restrito ao
domínio técnico e instrumental ou, como já citava Paulo Freire, à educação bancária.
A educação deve, sim, considerar o contexto social e todo o conhecimento que
o aluno possui. Falando mais especificamente sobre o ato de ensinar e aprender.
Bruner diz que é um processo essencialmente social, porque “[...] as relações entre
quem ensina e quem aprende repercutem sempre na aprendizagem.” (HAYDT, 2006, p. 56)

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A construção do conhecimento se dá por meio de processos interativos


e, portanto, sociais, nos quais os agentes que deles participam estabelecem
relações entre si. Por intermédio desse relacionamento e dessa troca de ideias,
opiniões e experiências, os alunos vão adquirindo conhecimento e diferentes
formas de observar o mundo. Destaca-se a importância da relação professor-
-aluno, na construção do conhecimento, pois o professor estimula e ativa o
interesse do aluno, conduzindo-o em seu processo de aprendizagem.
Segundo Haydt (2006), o professor é fundamental no processo de ensino-
-aprendizagem e, basicamente, possui duas funções na sua relação com o aluno.
A primeira delas é a função incentivadora e energizante, que aproveita a curio-
sidade do estudante para despertar o seu interesse e mobilizar seus esquemas
cognitivos. A segunda é a função orientadora, que deve direcionar o esforço
do aluno para aprender, ajudando-o a construir seu próprio conhecimento.
O docente ajuda o aluno a transformar sua curiosidade em esforço cognitivo
e a passar de um conhecimento confuso e fragmentado a um saber organizado
e preciso. Mas é importante que o professor seja consciente de que ele é um
educador que serve de exemplo para seus alunos – sua personalidade, seus
valores e seus princípios de vida são veículos que transmitem não apenas
conhecimentos em forma de informações, mas também que facilitam a vei-
culação de ideias, valores e princípios de vida em sala de aula.
Dessa forma, a interação professor-aluno é primordial e deve ser considerada
em dois aspectos. O primeiro se refere à sua contribuição para a formação
da personalidade dos alunos e o segundo destaca-se em função de seu papel
de garantir que os estudantes sintam-se valorizados e instigados a aprender.
O diálogo em sala deverá representar uma troca de ideias e informações
tanto para o professor quanto para o aluno, momento em que o conhecimento
será construído em conjunto, chegando-se a uma síntese do saber de cada um.
A aprendizagem ocorrerá naturalmente quando o aluno participar ati-
vamente do processo de reconstrução do conhecimento, utilizando seus
esquemas operatórios de pensamento; já que ela é uma atividade mental,
na qual é preciso pensar e refletir.
Com relação aos métodos didáticos mais adequados de ensino, devemos
pensar sempre que o melhor procedimento didático é aquele em que o aluno
vai incorporar os novos conhecimentos de forma ativa, compreensiva e cons-
trutiva, estimulando o pensamento operatório. Assim sendo, cabe ao professor
apresentar situações desafiadoras, para acionar os esquemas operatórios de

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pensamento, dialogar e explicar com clareza, criar condições para a pesquisa,


podendo se utilizar de diferentes procedimentos ou métodos de ensino, ofe-
recendo ao seu aluno as mais diversas experiências de aprendizagem, mas
com a certeza de que ela será mais eficiente, significativa e duradoura, se o
estudante construir o objeto de ensino por meio de sua atividade mental e se
suas experiências, vivências e conhecimentos anteriores forem respeitados.
Segundo Candau (2002), a escola é concebida como um centro cultural, em
que diversas linguagens e expressões culturais estão presentes e são produzidas.
O que o professor precisa respeitar e ter como objetivo principal é a aprendiza-
gem do aluno. Por isso, durante suas aulas, o professor deve sempre aproveitar as
experiências anteriores dos alunos, incentivando a sua participação e oferecendo
a oportunidade de transferir e aplicar o conhecimento aprendido para que man-
tenham uma atitude reflexiva. Além disso, o docente deve adequar o conteúdo
e a linguagem de acordo com o perfil dos alunose verificar constantemente se o
estudante assimilou e compreendeu o conteúdo. As práticas didáticas do ensino
regular não podem ser aplicadas na EJA, fazendo com que a educação não faça
sentido para o estudante. Trabalhar com jovens e adultos requer que se estabeleça
um diálogo com cidadãos que possuem uma trajetória marcada pela realidade
social em que vivem e com capacidade de estabelecer um diálogo qualificado
com o professor. A EJA recebe alunos cada vez mais jovens, trazendo a marca
das transformações sociais e do mundo do trabalho; as necessidades econômicas
de muitas famílias, fazem com que os jovens abandonem seus estudos.
Os procedimentos didáticos utilizados em sala de aula deverão contemplar
as demandas desses jovens, ajudando-os no processo de reconstrução do
conhecimento e na eficácia de sua ação didática, expressa nos resultados da
avaliação do aproveitamento do aluno e, principalmente, na possibilidade de
transformar sua condição social.
O professor poderá utilizar-se de diversos recursos para atingir o seu objetivo.
O uso de jogos ajuda a criar na sala de aula uma atmosfera de motivação que
permite ao aluno de qualquer faixa etária participar ativamente do processo de
ensino-aprendizagem. O professor também poderá utilizar-se de situação-problema,
técnica e dramatização que facilita a aprendizagem quanto à assimilação de co-
nhecimentos e à aquisição de conceitos. Outra opção é o trabalho em grupo que,
além de promover a aquisição de conhecimentos e troca de ideias, é um recurso
que ajuda a formar hábitos de estudos. Enfim, existem diversas formas e diversos
métodos e procedimentos que o professor poderá fazer uso a fim de obter êxito no
seu trabalho e tornar a aula mais atrativa. No entanto, o docente deve estar ciente
de que a prática pedagógica precisa ser analisada e repensada continuamente, e que
seu método de trabalho deve ser adequado de acordo com o perfil de seus alunos.

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A proposta freiriana de ação/reflexão/ação


A metodologia, os procedimentos de ensino ou as práticas pedagógicas adotadas
pelo professor estão vinculadas ao planejamento construído para desenvol-
ver um processo educativo de excelência, atingir determinadas finalidades
educativas; alcançar certos objetivos de ensino; possibilitar a aprendizagem
de determinados conteúdos e uma realidade educacional distinta expressa na
turma que ele ensina. A atitude do professor, na sua interação com a classe e
nas suas relações com cada aluno, depende da postura por ele adotada diante
da vida e perante seu fazer pedagógico. Essa postura é o reflexo de suas con-
cepções sobre o homem, o mundo e a educação. Não adianta conhecer novos
métodos de ensino e utilizar diversos recursos pedagógicos se encararmos os
alunos como seres passivos e receptivos. Além disso, é preciso considerar que
a melhor aprendizagem não resulta apenas do tempo de permanência na escola,
mas do modo adequado da sua utilização. As atividades não devem ter caráter
utilitário, nem finalístico. O aluno precisa conhecer; logo, não lhe interessa
visar a uma finalidade prática, o importante é que o objetivo não seja o de
desenvolver objetos, e sim o de desenvolver a si próprio. Aprender não implica
percorrer caminhos seguros em busca de verdades estáveis, e sim suportar
dúvidas e desconfianças, conviver com as diferenças, investigar os sentidos
e as representações, refletindo os interesses, as visões de mundo e ideologias.
Um aprendizado significativo ocorre quando o aluno constrói seu próprio
conhecimento; quando há o envolvimento de um sujeito em um processo
pessoal de aprendizagem e a conquista progressiva de sua autonomia. Para
Haydt (2006, p. 150), o “[...] professor deve variar os procedimentos didáticos,
usando os mais adequados aos objetivos propostos e à natureza do conteúdo
estudado. Ele deve favorecer a compreensão, a assimilação e a construção do
conhecimento por parte do aluno.”
O professor precisa, portanto, rever suas práticas pedagógicas, como exer-
cício para a melhoria da condição profissional. A prática reflexiva proporciona
embasamento para construir sua conduta, garantindo mais conhecimento dos
seus recursos pedagógicos e mais segurança para realizar suas atividades.
Ao trocar informações com seus colegas e outros profissionais, o docente
constrói novas estratégias para o desenvolvimento do seu trabalho, fortalecendo
os processos de ação/reflexão/ação no espaço educativo. Ele precisa dialogar
com as situações do cotidiano, indagando o que parece óbvio e desconfiando do
que se apresenta como estável e verdadeiro. É nesta perspectiva que se projeta
observar a experiência formativa com lentes problematizadoras. Problematizar
é tomar a realidade como ponto de partida e chegada, comprometendo-se com

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mudanças qualitativas no percurso de levantar problemas, teorizar e propor


intervenções (BERBEL, 2001; FREIRE, 1996).
É preciso superar um certo senso comum em relação à sua formação pro-
fissional, construindo aproximações teóricas mais consistentes. É a relação
de um professor com o saber que lhe permite aplicar nos seus afazeres diários
a finalidade da instrução escolar. A ação reflexiva proporciona ao professor
identificar a importância e os novos desafios que se encontram no seu dia a
dia, superando seus limites e despertando todo o potencial dos seus alunos.
O docente não é o detentor do saber e precisa estar em constante busca de
aperfeiçoamento e especialização, refletindo sobre sua prática na sala de aula.
O professor é, assim, um sujeito em constante construção, transformando seu
conhecimento, suas práticas pedagógicas e sua concepção de mundo. Ele é um
formador de opiniões, que não se contenta em ser o detentor do saber, mas sim
busca possuir a capacidade de compartilhá-lo com os alunos, conduzindo-os a
uma formação mais integral do sujeito. O grande desafio é repensar a prática
docente e sua importância na vida dos alunos. Tomando como referência
as reflexões de Freire (1986), o professor precisa possuir alguns saberes e
determinadas atitudes essenciais à prática do educador da EJA: assumir-se
como profissional libertador que tem postura crítica diante da realidade vivida,
valorizando o sujeito com que trabalha, respeitando-o e tendo a intenção de
propiciar novos aprendizados; ter papel diretivo no processo educativo, não
como quem ocupa uma posição de comando, mas como articulador de um
estudo sério sobre algum objeto de investigação; colocar-se na posição de
quem busca superar-se constantemente em uma atitude práxica; fazer do ato
educativo um ato de conhecimento; colocar-se em constante processo de for-
mação ( o que é central no desenvolvimento de uma prática criadora); trabalhar
com indissociabilidade entre teoria e prática mediante reflexão crítica sobre
a prática; respeitar o educando e a si próprio como sujeito do conhecimento,
ou seja, adotar a postura de um sujeito pensante criativo.
São inúmeros os saberes e as atitudes que levam a uma concepção dialógica
de educação na EJA. Cabe a cada professor fazer uma opção correta para que
a sociedade possa caminhar para a emancipação, superando as diferentes
formas de opressão que ainda marcam as relações sociais.
Sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é uma mera reprodu-
ção de hábitos existentes ou respostas a demandas externas. Se um projeto se
concretiza em educação é porque os docentes o fazem seu de alguma maneira
interpretando-o e adaptando-o (SACRISTÁN, 1997).
Para Schwartz (2012), o saber é condição para o fazer, porém não é sufi-
ciente. O saber do professor demanda conhecimento teórico, mas inclui, além

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disso, habilidades e recursos que transcendem a ele. É preciso saber e saber


fazer nas situações reais. É necessário que o professor reflita que sem pensar
criticamente, ele encaminha-se para a alienação, para o não profissionalismo,
para a incompreensão dos fenômenos sociais e educativos. Quando o professor
constrói saberes sobre como os sujeitos aprendem e como é possível ensinar
a todos, ele compreende as reações do aluno, planeja e desenvolve suas ações
direcionadas a esses sujeitos reais, ensinando e aprendendo com todos eles.
O trabalho do professor deve estar voltado para a construção e reconstrução
diárias, em um movimento constante de ação/reflexão/ação da prática docente
e da busca de significados dos conteúdos para a vida dos educandos.

Organização do planejamento:
escolhas metodológicas importantes
O termo didática ainda carrega significados de suas definições originárias – essa
é uma palavra grega que significava ensinar ou fazer aprender. Ela foi utilizada
no século XVII pelo educador Comenius (1997), que definiu a didática como
a arte de ensinar. A didática está diretamente associada ao trabalho docente
e seus efeitos sociais no conjunto das tarefas educativas (LIBÂNEO, 1990).
Ao se proporem a ensinar, o professor e a escola assumem a responsabilidade
social, já que o processo educacional tem como finalidade preparar cidadãos e
garantir que os conhecimentos e as competências necessárias à sua atuação sejam
compreendidas. A didática emprega seus esforços, primeiramente para sistematizar
os conhecimentos já adquiridos nas diversas áreas do conhecimento, direcionando-
-os para as práticas pedagógicas; depois, para produzir novos conhecimentos sobre
as práticas de ensino e cunhar novos métodos e formas de ensinar. A didática vai
além da reflexão teórica e dedica-se a compreender os procedimentos cotidianos.
Para Maseto (1997), a didática sugere ao educador como planejar um
curso com a participação dos alunos. Isso significa dividir as responsa-
bilidades do processo, tornando os alunos e os professores conscientes de
que o trabalho e o esforço são mútuos. A didática permite, por exemplo,
selecionar assuntos relevantes e técnicas que facilitem a participação dos
alunos e, consequentemente, a aprendizagem. Segundo o autor, a didática
possibilita, ainda, organizar formas de relacionar teoria e prática, associando
os conhecimentos científicos ao cotidiano do aluno. Outro ponto que merece
destaque é que a didática também atua como instrumento para transformar
a avaliação em algo que incentive o aluno e não seja meramente um objeto
de punição ou ameaça.

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O professor apoia na didática não só as práticas para aprendizagem dos


alunos, mas também para sua própria aprendizagem, incentivando-o à pes-
quisa e a buscar por novas informações e novos conhecimentos que auxiliem
sua atuação profissional, permitindo que ele compartilhe experiências com
outros docentes.

A aprendizagem possui várias dimensões que se apresentam em conjunto,


mas que podem, por determinadas circunstâncias, ganhar maior destaque,
são elas as dimensões técnica, sociopolítica e humana. A técnica corresponde
à constatação de que a aprendizagem é um processo consciente e planejado,
há uma intencionalidade no fato de traçar objetivos orientadores e em garantir
as condições necessárias para que o aluno aprenda. A utilização de recursos,
métodos e avaliações para ensinar, obedece à dimensão técnica da aprendizagem.
Estamos falando do processo educativo formal, ligado à instituição escolar. Essa,
por sua vez, está subordinada a regras e normatizações governamentais e internas,
obedece a critérios impostos pelo corpo de funcionários e respeita processos
educativos organizados por parâmetros curriculares – sem contar que a escola
está ainda inserida em um contexto histórico e social, específico, todos estes
fatores formam a dimensão sociopolítica da aprendizagem, qualquer proposta
didática tem de considerar que esses aspectos influenciam diretamente o pro-
cesso de aprendizagem. Não há aprendizagem sem relacionamento interpessoal,
qualquer processo de ensino envolve o contato entre pessoas e esse contato
produz vínculos afetivos essenciais para a aprendizagem. Por esse fato, a didática
se debruça sobre a dimensão humana da aprendizagem.

A escola é um espaço de aprendizado para o homem desenvolver habili-


dades específicas, julgadas necessárias para as sociedades humanas. Sempre
que nos referimos à escola, teremos em mente um lugar de aprendizagem
permanente (MASETO, 1997). Nesse cenário, o aluno é o principal responsável
por esse processo, que envolve procurar informações, experimentar e rever
suas experiências, adaptar-se a mudanças, desenvolver e descobrir sentidos e
significados para as coisas e os fatos e aprender comportamentos e condutas
sociais. E se o aluno é o protagonista da aprendizagem, o professor é a per-
sonagem principal no ato de ensinar, é dele a responsabilidade de comunicar
os conhecimentos, trazer as informações, mediar os saberes, ser um guia,
conduzindo às habilidades. Ensinar e aprender são parte de um único processo,
contínuo e indissociável.

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Para ensinar, o professor precisa, antes de tudo, aprender. Ele deverá ser o principal
mediador entre o aluno e o conhecimento, portanto o docente não pode ignorar sua
condição de aprendiz.

Um bom professor deve ser capaz de articular o que ensina com os contextos nos
quais e para quais ensina. Não é provável construir conhecimentos sem métodos
de ensino, sem planejamento didático. Assim, o docente da EJA deve se preocupar
com a didática, em saber como ensinar, além de dominar os conhecimentos de
sua formação. Os saberes sobre educação precisam compor o aprendizado do
professor. Ao trabalhar com a EJA, precisamos ter em mente que o adulto não
é um sujeito em formação, ele já passou por diversas experiências e aprendeu
diversas habilidades. O adulto é o principal responsável por sua aprendizagem,
ele escolhe e determina os caminhos que quer seguir. As escolhas do adulto são
pautadas por suas necessidades e por reconhecer que é importante conhecer e
entender sua necessidade de conhecimento. O adulto já possui uma motivação
em aprender, sua determinação e as escolhas são pautadas por esse princípio.
O professor atua de forma consciente, suas práticas devem compor um
conjunto de ações sistematizadas e organizadas para garantir a aprendiza-
gem dos alunos. Para organizar tais práticas, o docente precisa dispor de
instrumentos que coordenem seu trabalho, orientem sua atuação e articulem
as atividades desenvolvidas com a realidade escolar. Tais instrumentos são
fornecidos pelo planejamento. Planejar é escolher, definir metas, conhecer
a realidade da escola, definir as principais necessidades dos alunos frente
ao currículo, preparar as atividades a serem desenvolvidas. O planejamento
pressupõe a análise criteriosa de sua função social. Como afirma Freire (1986),
exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo
que pressupõe a tomada consciente de decisões.
No processo de construção de currículo, é preciso considerar que as realidades
escolares são diversas, pois os alunos pertencem a diferentes grupos culturais,
étnicos e religiosos e possuem saberes em diferentes níveis sobre o conteúdo a
ser ensinado. Os conteúdos devem apresentar uma sequência, que não se rela-
ciona apenas à simples aquisição de informação. É por meio dos conteúdos que
transmitimos e assimilamos conhecimentos. Ao selecionar os conteúdos a serem
ensinados, o professor deve basear-se nos seguintes critérios: validade, utilidade,
significação, adequação ao nível de desenvolvimento do aluno e flexibilidade.

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É a partir dos objetivos propostos para o ensino, da natureza do conteúdo


a ser desenvolvido, das características dos alunos das condições físicas e do
tempo disponível, que se escolhem os procedimentos de ensino e se organizam
as experiências de aprendizagem mais adequadas.
Um dos maiores desafios enfrentados pela educação brasileira na atualidade
diante da ampliação do acesso à Educação Básica é oferecer um ensino de
qualidade, ou seja, que possibilite aos estudantes a apropriação dos conheci-
mentos vistos na escola.
Na tentativa de superar esses desafios, é preciso destacar que a educação
é uma forma de intervenção no mundo e que pressupõe a tomada de decisões
coerentes com o perfil de cidadão que se pretende formar. Assim, as práticas
pedagógicas poderão estar a serviço da dominação e da manutenção da ordem
social vigente ou estar empenhadas em emancipar os sujeitos, contribuindo
para as transformações das relações sociais mais amplas.
Com base nessa constatação, ao analisar as formas de utilização da avaliação
escolar nas práticas pedagógicas dos professores, você poderá concluir que
a atividade avaliativa poderá ser utilizada como um mecanismo de controle
social, perpetuando o medo de ser avaliado expresso pelos alunos e o poder de
avaliar concedido ao professor. Ou, em uma outra perspectiva, entender que
a avaliação educacional poderá ser considerada um meio pelo qual os alunos
expressam seu nível de conhecimento sobre as temáticas estudadas, sendo
um elemento que possibilita ao professor repensar sua prática pedagógica.
Evidencia-se dessa forma que a avaliação do processo de ensino e aprendi-
zagem não é neutra. Como afirmam Andre e Passos (2002), é preciso analisar
a avaliação a partir de múltiplas perspectivas: a epistemológica, a histórica,
a filosófica, a psicológica, sociológicas e a pedagógica.
Na perspectiva epistemológica, consideram-se três grandes correntes a cerca
da gênese do conhecimento: a empirista, a inatista, e a interacionista. No enfoque
empirista, avaliar significa identificar o alcance dos objetivos de ensino preestabe-
lecidos; na inatista, avaliar significa autoavaliar para identificar quanto cada um
cresceu e se desenvolveu; e na interacionista, avaliar significa identificar o nível
de desenvolvimento e aprendizagem atingidos pelo sujeito até aquele momento.

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Na perspectiva psicopedagógica, a avaliação é considerada como instru-


mento de aprendizagem para os alunos, pois evidencia seus sucessos e suas
dificuldades; e de investigação didática para o educador, pois auxilia o professor
na tomada de decisões e na organização do processo de ensino.
Na perspectiva sociológica, evidencia-se o caráter de instrumento de con-
trole atribuído à avaliação, bem como o seu papel como fortalecedora das
desigualdades sociais, na medida em que pode contribuir para a produção do
fracasso escolar.
É preciso alertar que a escola possui um grande poder na construção das
representações da realidade como se ela fosse a verdade absoluta e imutável.
Essas constatações permitem a você identificar que a avaliação é um processo
complexo, que não se resume à adoção de determinados procedimentos como
provas ou trabalhos, mas que envolve uma gama de elementos condicionantes,
que precisam ser explicitados e discutidos pelos envolvidos nas relações de
ensino e aprendizagem na escola.
Para tanto, é urgente a construção de propostas formativas que permitam
ao professor questionar seu papel social na formação de cidadãos e os reflexos
da avaliação do ensino e da aprendizagem nesse processo. É preciso construir
respostas para a pergunta: que cidadão eu pretendo formar? Aquele passivo
e acomodado diante de sua realidade? Ou um cidadão que será capaz de se
apropriar dos conhecimentos escolares e a partir deles traçar análises críticas
de suas realidades?
Na tentativa de responder essas questões, é preciso que o professor tome
consciência de que as formas de organizar o processo de ensino e apren-
dizagem e, consequentemente, a avaliação, não são neutras, e que suas
escolhas devem ser conscientes e coerentes com o perfil dos cidadãos que
ele pretende formar.

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1. Quem é considerado o b) Medir e mensurar o


pai da didática? conhecimento do aluno.
a) Paulo Freire c) É a quantificação mensurável
b) Florestan Fernandes do desenvolvimento do aluno.
c) Comenius d) Busca a aplicação de instrumentos
d) Piaget avaliativos como: provas.
e) Bobbit e) Busca excluir todo e qualquer
2. De acordo com o Paulo Freire, qual tipo de instrumento avaliativo
o perfil do professor da EJA? no aluno, a fim de não
a) Ser ouvinte e criativo. causar a evasão escolar.
b) Ser ríspido e intolerante. 5. Na escolha do instrumento avaliativo
c) Ser tradicional utilizando a o professor pode utilizar uma
avaliação como principal método. prova. Sendo ela dividida em prova
d) Ser flexível, pesquisador e afetivo. objetiva e dissertativa. Marque a
e) Ser flexível, pesquisador opção que dá exemplos de questões
e intolerante. objetivas, e faça a reflexão se são
3. O que é didática? adequadas para o público da EJA.
a) Arte de ensinar tudo a todos. a) Dissertativa e múltipla escolha.
b) Criar um planejamento. b) Relacione as colunas e
c) Criar um instrumento de avaliação complete as lacunas.
d) Escolher uma temática c) Produção textual e questionário
e) Objetivos educacionais d) Apresentação de trabalho
4. O que é avaliação mediadora? e questionário
a) Acompanhar o e) Dissertativa e prova oral
desenvolvimento do aluno.

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ANDRE, M. E. D. A.; PASSOS, L. F. Avaliação escolar: desafios e perspectivas. In: CASTRO,


A. D.; CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental
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BERBEL, N. A. N. (Org.). Conhecer e intervir: o desafio da metodologia da problemati-
zação. Londrina: EDUEL, 2001.
CANDAU, V. M. (Org.). Rumo a uma nova didática. Petrópolis: Vozes, 2002.
COMENIUS, I. A. A didática magma. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2006.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.
MASETO, M. Didática: a aula como centro. São Paulo: FTD, 1997.
SACRISTÁN, G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
SCHWARTZ, S. Alfabetização de jovens e adultos: teoria e pratica. 2. ed. Petrópolis:
Vozes, 2012.

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