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o PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: REFLEXÕES

LUCINÉA APARECIDA DE REZENDE1

REZENDE, L.A. O processo ensino-aprendizagem: reflexões. Semina: Cio Soc./Hum. Londrina, v. 19/20,
n. 3, p. 51-56, set. 1998/1999.

RESUMO: As idéias apresentadas neste texto expressam a reflexão acerca do ensino, frente ao processo
ensino-aprendizagem. As referências tomadas são as obseNaçóes feitas no Ensino Fundamental e Médio,
analisadas à luz da literatura, e que podem oferecer pistas para o professor universitário. A conclusão a
que se chega é que precisamos, enquanto professores, reorientar-nos para a tarefa de ensinar.

PALAVRA5-CHAVE: ensino-aprendizagem; aluno; professor; conhecimento; construtivismo.

INTRODUçAo O que embasa sua prática? Qual o significado de


construtivismo que está sendo tomado como
Ele disse: nunca mais vou voltar pra escola
referência? O que expressa sua prática? Como
porque na escola me ensinam coisas que não sei.

Eis aí, é isso ...

se dá a interação professor-aluno?
Marguerite Duras
Neste contexto, buscarei tecer reflexões à luz
de observações feitas no convívio com professores
do Ensino Fundamental e Médio e da literatura,
Há uma prática tradicional, centrada na razão (ou que podem oferecer pistas para a prática do
racíonalidade) técnica (administrativa), evidentemente professor universitário. A idéia básica é, enquanto
pautada no professor, privilegiando a transmissão­ professora de Didática, atuando no Ensino Superior,
assimilação de conhecimentos e resultados obtidos oferecer aos licenciandos, bem como a professores,
a curto prazo, imediatos. A razão crítica tem sido elementos para reflexão sobre o processo de
abandonada em prol da preservação da má tradição. construção do conhecimento na escola.
O conhecimento, nesta perspectiva, é fragmentado,
tido dentro dos limites de disciplinas estanques, que
longe estão de complementarem-se, fundamentarem­ 1. CONSTRUTIVISMO: QUAL A SUA
se mutuamente e constituir um corpo teórico-prático COMPREENSAO?
onde o fato e suas explicações, suas leis e suas inter­
relações sejam percebidas, compreendidas, discutidas Na ótica do construtivismo os alunos são vistos
e apropriadas pelo aluno. como agentes mentalmente ativos lutando para
Estas afirmações são feitas tendo-se por base compreender o seu mundo (Pines & West)2.
também a atuação com professores do Ensino Ora, na busca de compreender o mundo, o aluno
• Fundamental e Médio, onde é comum ouvir-se, dispõe de múltiplas e diferenciadas informações.
com relação ao trabalho efetivado, que ele é Informações essas que chegam a todo momento,
desenvolvido numa perspectiva construtivista. A com maior ou menor clareza, maior ou menor
questão que podemos colocar é: o que isto velocidade e intensidade, chegando à superposição.
significa? Que princípios norteadores tem o Conforme essas informações - carregadas de cor,
professor para o processo ensino-aprendizagem? luminosidade, elementos éticos e estéticos,

1 Mestre em Educação. Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR., Brasil,
Caixa Postal 6001, CEP 86051-970.
2 Pines, LA e West, L. H.T. Artigo apresentado na conferência anual da Associação de Pesquisa em Educação e Ciência Austral iana,
1984, revisto com os comentários deGoldmark, B. e Parker, Susan, da Univ. Esl. de Sonoma e sugestões de Pinchas. T., da Univ.
Hebréia de Jerusalém, Israel.

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filósóficos, históricos, afetivos, psicológicos ­ em prol de agentes mentalmente ativos lutando
tomam corpo na história do aluno, elas passam a para compreender o seu mundo?
constituir o seu referencial - o seu conhecimento Diria mais: tratando-se da Didática, há que se
prévio diante daquilo que a escola propõe-se a lembrar de sua história que vem de uma "tradição"
ensiná-lo. Frente à organização e intencional idade técnica, para, a partir dos anos 70, posicionar-se
da escola, esses conhecimentos prévios, não raro, como "crítica". Vale tentar compreender o que isto
encontram-se desordenados, desarticulados. significa enquanto prática pedagógica. No âmbito
Fazem parte, ainda que contendo elementos ditos deste trabalho, busco refletir sobre como se ensina
"científicos", do conhecimento de senso-comum, e como se aprende, no contexto de uma didática
pela sua desarticulação e ausência de objetividade crítica, e o que isto revela sobre a epistemologia
e clareza. Senso-cornum que pode ser compreendido do professor, ou, dizendo de outra forma, que
como o conjunto das representações, das crenças, concepções de conhecimento tem o professor e
dos saber-fazer, que constituem os conhecimentos como a expressa.
dos indivíduos (Duarte, 1997)3. O pressuposto do qual parto é que um ensino
Teço estas considerações tendo em vista as que se pretende crítico não pode ser concebido
questões teóricas que devem entrelaçar-se à de maneira autoritária, centrado no professor,
prática, nos cursos de formação de professores. desconhecendo o aluno enquanto sujeito histórico
Que pressupostos trago para esta reflexão? e determinado, considerando-o heterônomo e não
Começaria por apontar a complexidade do processo autônomo. Não deve,' por outro lado, estar no
ensino-aprendizagem. Nele estão presentes o extremo oposto e ser confundido com senso­
professor e o aluno e os conhecimentos prévios de comum, exclusivamente, nem com a mediocridade
ambos. Os objetivos de cada um darão o "tom" à irresponsável do não-compromisso, quer seja no
interação a ser estabelecida. O professor esteve âmbito intelectual, ético ou político.
durante anos, na escola, na condição de aluno. Ora, o ensino crftico deve ser pensado, organizado,
Na sua formação contou com elementos teóricos arquitetado, primordialmente, considerando o sujeito
que, não raro,propiciaram o vislumbre de possíveis que aprende - o aluno. O aluno situado no
outras formas de pensar e organizar-se o processo processo ensino-aprendizagem como alguém que
ensino-aprendizagem. Passou, com certeza, por conhece e que é capaz de reconstruções que o
Práticas de Ensino, efetivando estágios levem não só a apropriação do conhecimento, mas
supervisionados. O que tenho me perguntado é: ­ à sua transformação, na dinâmica da apreensão­
qual o peso que tais elementos teórico-práticos desconstrução-reconstrução, tornando esse
têm na formação do professor, frente a prováveis conhecimento seu - submetendo-o à sua
situações de ensino mecânico-tradicional vividas compreensão e possibilidade de uso. Não me refiro
enquanto aluno, ao longo dos anos em que ao uso pragmatista, voltado para relações de
freqüentou a escola? O que isto nos leva a pensar? trabalho, pura e simplesmente. Refiro-me ao uso
Acredito que o professor, ainda quando, na em todas as possibilidades presentes na vida e
expressão de conhecimentos gerais, apresenta um que podem ajudar o homem a viver mais feliz e
discurso cuja base é a razão crítica, poucas vezes melhor. O ensino, nesta perspectiva, exige
demonstra essa crítica incorporada à sua prática. rigorosidade metódica (Freire, 1997, p 28).
Quero dizer com isto que o professor fica preso a Concordo que
uma lógica segmentada, fragmentada, fruto de
uma razão técnico-administrativa que se prende o educador democrático não pode negar-se o
a planilhas, horários, notas, num contexto de dever de, na sua prática docente, reforçar a
capacidade crítica do educando, sua curiosidade,
"controle" hierárquico que, muito provavelmente,
sua insubmissão. Uma de suas tarefas
já está incorporado por ele (e também pelos primordiais é trabalhar com os educandos a
alunos). Assim formado (e con-formado), como o rigorosidade metódica com que devem se
professor pode contribuir, de maneira significativa, "aproximar" dos objetos cognoscíveis. E esta

3 Duarte, M.C. Notas de aula. Curso: Ensino e apredizagem de conceitos. UNESP, Marília, out. 1997.

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rigorosidade metódica não tem nada que ver mediador. Por sua vez ele tem referenciais
com o discurso "bancário" meramente anteriores sobre este conteúdo e deverá olhá-lo
transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo.
sob a ótica do aluno, compreendê-Ia e estabelecer
É exatamente neste sentido que ensinar não
se esgota no "tratamento" do objeto ou do pontes entre o que o aluno expressa conhecer e
conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga aquilo que é objetivo da escola que ele conheça.
à produção das condições em que aprender No entanto, no dia-a-dia da sala de aula, parece
criticamente é poss(vel (Freire, 1997, p. 28-9). que nos distanciamos dessa possível relação
aluno-professor-conteúdo. A leitura que faço é que
Na complexidade do processo ensino­
o professor expõe para o aluno a sua (do professor)
aprendizagem, o movimento entre educador interação estabelecida com o conteúdo. O aluno,
democrátlto e a focalização no sujeito que
por sua vez, que não teve a mesma trajetória que
aprende implica em deixar de lado uma prática o professor na relação sujeito-objeto de
"bancária" e buscarmos, com rigorosidade conhecimento, estará relacionando-se com o
metódica, uma prática interacionista.
objeto de conhecimento à luz do seu conhecimento
prévio. Fica faltando a mediação do professor
nesta relação. Ele volta a "interagir' com o aluno,
2. RIGOROSIDADE METÓDICA:
no triângulo aluno-professor-conteúdo. no momento
CONSIDERAÇÕES da avaliação (prova), quando espera do aluno a
expressão de um salto quantitativo e qualitativo
Entendendo que ensinar não se esgota no
de conhecimento. Isto significa que o professor
"tratamento" do objeto ou do conteúdo, mas passa tem a expectativa de que, a partir da exposição
por esse "tratamento" e anunciados alguns
da sua interação com o conteúdo, o aluno passe
elementos de entorno do processo ensino­
a ter e expressar a mesma interação. Posto desta
aprendizagem, passo a considerar a atuação da forma, vejo um vácuo nesta forma de ensinar. O
escola na relação com o aluno e o conhecimento. salto que se espe ra que o aluno dê, parece, não
Este processo pode ser assim considerado: tem ocorrido. A propósito, lembro-me de um filme:
Teachers (A escola da desordem, em português)
• idéias prévias (do aluno e do professor)

V
onde uma escola está sendo processada por um
ex-aluno, porque dela saiu sem saber ler nem
• interação: aluno professor escrever. Vemos, neste filme, a caricatura de uma
escola que não atinge seu objetivo básico: auxiliar
na instrumentalização do aluno para a vida; ensinar
conteúdo a pensar; ensinar a aprender a aprender. Nesta
linha de raciocínio, o potencial de pensamento do
• conhecimento em novas bases (com a mediação aluno não adquire novos instrumentos que lhe
do professor o aluno supera o senso-comum). permitam pensar a realidade. Ele simplesmente,
quando isto ocorre, passa a ter "mais informações",
Esta análise tem presente e considera os
processadas por outro (no caso, o professor), sobre
diferentes elementos que se situam na esfera da o mundo que o rodeia.
relação aluno-professor-conteúdo. Por fazerem Pensado desta maneira. posso afirmar que a
parte de um contexto social, aluno, professor e interação aluno-professor-conteúdo não ocorre. O
conteúdo estão prenhes do pensamento social. que se dá é a relação professor-conteúdo e a
Pois bem: esse "pensamento social" que sustenta
apresentação dessa relação ao aluno, que deve
e " recheia" o olhar do aluno e do professor para " apropriar-se" dela, ainda que, em muitas vezes,
o objeto de conhecimento, carece de maior
esta forma de ensinar venha com "confetes", com
compreensão. O movimento que se estabelece
o auxílio da tecnologia, com aparato modernoso.
na relação de conhecer pode ser assim pensado:
Voltando às idéias expressas no início deste
posto um objeto passível de conhecimento ­ texto, cabe perguntar: é possível, desta maneira,
conteúdo - , o aluno é instado a interagir com ele. formar-se alunos críticos? Recordo-me de um
O professor está presente nesta interação: é o
momento recente vivido em sala de aula em que,

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literalmente, "perdi a fala". Não conseguia 3- Dessa forma, as concepções prévias ou
expressar-me frente à resposta de uma aluna alternativas não parecem ter endereço mesmo
quando reveladas nas respostas dos alunos,
diante de uma questão posta para a classe.
em face da ausência de crítica, de valoração,
Tratava-se de 3º ano de um curso universitário por parte dos professores.
para formação de professores. A pergunta que fiz
foi sobre como os alunos pensavam que iriam A imagem do aluno como "balde vazio" (Duarte
ensinar seus futuros alunos. Que idéias tinham & Faria, 1997, p.64) está presente nestas
acerca dessa possrvel prática. Após alguns considerações. É como se ele não interagisse com
minutos de silêncio uma aluna respondeu, muito o mundo à sua volta, não tivesse pré-conceitos
seriamente: - na verdade, professora, a gente tem (idéias alternativas) elaborados, nada soubesse a
tido tanta coisa para ler, nas diversas disciplinas, respeito do que lhe é ensinado (ou que a escola
tanto trabalho, que a gente nem consegue pensar pensa que ensina). Desconsidera-se que
sobre o que está fazendo ou vai fazer...
Embora eu suspeitasse dessa realidade, vê-Ia como seres que pensamos estamos
anunciada com clareza, como constatação do que naturalmente inclinados a explicar, categorizar
se vive na escola, pareceu-me (e ainda parecei) e ordenar conhecimentos de forma a que façam
sentido. Esta actividade traduz-se numa
desalentador.
construção activa, não obstante inconsciente,
a que a escola pode fazer frente a isso? Levar de teorias simples ou do senso comum que nos
o aluno a pensar, é o que acredito. Que "passos" proporcionam explicações do mundo e dos
podem ser dados nesta direção? seus fenômenos. O conhecimento que assim
a primeiro, sem dúvida, é que o professor possa se obtém não é formado simplesmente por
noções vagas e dispersas. Trata-se de uma
refletir sobre sua própria prática e redimensioná-Ia
verdadeira estrutura conceptual que tem uma
'a luz da configuração de novas concepções de dupla função: por um lado, assume-se como
ensino, de aprendizagem, de conhecimento ... de uma estrutura de recepção que influencia as
novos parâmetros ou mesmo de novos paradigmas observações e interpretações que os indivíduos
(Aragão, 1993, p. 6). fazem e, portanto, a aquisição de novas
informações: por outro lado, funciona como um
Isto, a meu ver, passa pela tarefa indispensável
instrumento a partir do qual cada indivíduo
de ouvir-se o aluno. Saber o que ele pensa a respeito determina as suas condutas e negoceia as suas
do que se ensina: levá-lo a aprender a pensar ­ acções. Enquanto estrutura de recepção,
pensar para aprender 4, aprender a aprender. No constitui o substrato preexistente e primordial
caso do professor, pensar para ensinar-aprender­ a partir do qual se processa toda a aprendizagem
(Duarte & Faria, 1997, p. 64-5).
ensinar. Concordo com Aragão (1993, p. 10-11),
citando Hashweh5 , que:
Importa salientar que, conforme os autores
anteriormente citados, as correntes epistemológicas
1- Os professores, via de regra, não estão
conscientes das pré-concepções dos seus SUbjacentes a esta concepção, que são de
alunos no curso do processo de ensino­ natureza racionalista e construtivista, defendem
aprendizagem. Conseqüentemente, essas pré­ ser a actividade especulativa da mente humana o
concepções persistem e são usadas na elemento indispensável para a construção de
aquisição do conhecimento científico,
hipóteses ou teorias científicas (Duarte & Faria,
ocasionando distorções e raciocínios
casuísticos. 1997, p. 65).
2- Os métodos de avaliação utilizados, de modo As implicações pedagógicas advindas destes
geral, não conseguem captar nem as concepções pressupostos teóricos dizem respeito, portanto, à
nem a assimilação distorcida de novo tarefa inicial do professor de ouvir o aluno. Ajudá­
conhecimento em função das concepções
lo a identificar o seu próprio pensamento. Em
existentes. Os alunos passam de ano, fazem
cursos e tiram boas notas, sendo aprovados, contraposição à existência de uma estratégia geral
mesmo mantendo concepções errôneas, pré­ de ensino para todos - Comênio/ Herbart -,
existentes. (...) retomando as idéias de Duarte & Faria (1997),

4 Tema de uma conferência internacional da CCDE. Paris, jul. de 1989.

5 Hashweh, M.Z. Toward an explanation of conceptual change. Intemational Journal of ScJence Education, 1986.

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citando Driver e Pines & West 6 , vem prevalecendo conhecimento é o resultado de inúmeras explicações,
a idéia de que a estratégia de ensino deve ser produzidaS e sistematizadasporpessoas ou grupos,
determinada querpela natureza do conteúdo, quer em diferentes momentos históricos (Lovato &
pela natureza das concepções que o aluno possui Marques, 1996, p. 7) .
(1997, p. 81). Isto significa que a atividade construtiva dos
O passo seguinte, para o professor, é estabelecer alunos frente aos conteúdos escolares aparece (...)
estratégias que permitam ao aluno confrontar o totalmente imersa na trama de uma atividade social
seu próprio pensamento e os conceitos expressos, coletiva que supera amplamente o limbito do
frente a novas informações. estritamente individual (ColI, 1996, p. 288).
A avaliação - feita por professores e alunos ­ Entendo, portanto, ao analisar a relação
estará sempre presente para informar a ambos indivíduo-coletividade (produção individual frente
sobre a relação ensino-aprendizagem e permitir a à produção coletiva), que o aluno, na escola, não
organização de novas estratégias de atuação. irá produzir conhecimento isoladamente: ele
A possiblidade de ensinar e aprender nesta reconstrói conhecimentos sociais. Neste processo
perspectiva carece de ser revestida de significação
para o aluno. Segundo ColI (1996, p. 397) é o professor quem determina, em grande parte,
com suas atuações, que a atividade do aluno
seja mais ou menos construtiva, que seja
para que a aprendizagem seja significativa,
orientada emumou outrosentkbe, definilivamente,
devem ser cumpridas duas condições. Em
primeirolugar, o conteúdo deve serpotencialmente que gere algumas aprendizagens determinadas.
significativo, tanto do ponto de vista de sua A consideração da atividade construtiva do
aluno não deve, pois, supor, em nenhm caso,
estrutura intema - é a chamada significatividade
lógica, que exige que o material de aprendizagem uma ambigüidade relativa ao papel decisivo da
seja relevante e que tenha uma organização interação professor/aluno, isto implica dirigir os
clara -, como do ponto de vista da possibilidade esforços para a compreensão de como se
exerce a influência educativa, de como o
de assimilá-lo - é a significatívidade psicológica,
professor consegue incidir sobre a atividade
que requer a existéncia, na estrutura cognitiva
doa/uno, de elementos pertinentes e reiacionáveis construtiva do aluno, promovendo-a e orientando­
com o material de aprendizagem. Em segundo
a, com o fim de ajudá-lo a assimilar os
conteúdos escolares (ColI,1996, p. 288)1.
lugar, o aluno deve ter uma disposição favorável
(grifos do autor) para aprender significativamente;
ou seja, deve estar motivado para relacionar o Para sustentar o processo de construção do
novo material de aprendizagem com os que já conhecimento há que se ajustar a ajuda pedagógica
sabe. que é oferecida ao aluno. Concordo com ColI
(1996) que esse ajuste passa pela evolução,
Ainda conforme ColI, de acordo com as inter­ articulação e adequação à atividade construtiva
relações que se estabeleçam entre aluno, do aluno.
professor e conteúdo, a aprendizagem será mais
ou menos significativa. Destaca ainda que a ênfase
nas inter-relações e não nos elementos - aluno, CONCLUSÃO
professor, conteúdo - em separado, constitui-se
como um dos traços distintivos da concepção O processo de construção do conhecimento é
construtivista da aprendizagem e do ensino (ColI, elaborado pelo próprio aluno. No entanto, cab~ ao
1996, p. 398). professor auxiliá-lo nessa elaboração. Para essa
Faz-se necessário salientar que os tarefa precisamos, enquanto professores, nos
conhecimentos que constituem os conteúdos reorientarmos na tarefa de ensinar. O desafio é
escolares são cultural e socialmente (já) desaprender o que aprendemos (sobre como
construídos. Desta forma, advêm de processos ensinar) e aprender a ensinar com o próprio aluno
sociais historicamente determinados, ou seja, o que aprende. Isto significa dizer que a transmissão­

6 DRIVER, R. Changing conceptions. Comunicação apresentada no Intemational Seminar - Adolescent Development and School
Science. London: King's CoUege. PINES, A.L.; WEST, L.H. Conceptual understanding and science learning: an interpretation of
research within a source of knowledge framework. Scíence Educaüon, v. 66, p. 211-227, 1986.
7 COLL, C. Acción, interaccioo y construcción dei conocimiento en situaciones educativas. Anuarío de Psicologia, v. 33, p. 59-70, 1996.

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assimilação de conteúdos, num processo de Esta forma de conceber a elaboração do próprio
ensino-aprendizagem centrado no professor, não sujeito no processo de construção do conhecimento
oferece elementos para subsidiar a construção de implica numa relação dinâmica entre aluno­
conhecimento do aluno. É preciso repensar, conhecimento-professor. Isto, por sua vez, leva­
reorganizar, redirecionar o nosso fazer pedagógico. nos a termos presente o movimento contínuo de
Faz-se necessário que tenhamos coerência novas construções/elaborações e necessários!
teórico-prática. Não é suficiente termos um possrveis redirecionamentos. Sob esta ótica
discurso construtivista sobre a nossa prática devemos estar continuamente vigilantes para
pedagógica. É indispensável que tenhamos apreender as informações (pistas) que o estudante
condição efetiva de intervir no processo de nos oferece e instrumentalizados o suficiente para
construção de conhecimento do aluno. poder responder a essas informações apreeendidas.

REZENDE, L. A. The process teaching-Iearnng: reflections. Semina: Ci. Soc.lHum. Londrina, v. 19/20, n.
3, p. 51-56, set. 1998/1999.

ABSTRACT: The ídeas presented in this text express the reflection about teachíng, concerníng the teaching­
learning processo The observations were done in the fírst year classes of prírnary school as well as in the
final year classes of high schoo/. They were ana/ysed based on the /iterature and can offer c/ues to he/p the
uníversity teacher. We carne to the conclusion that it is necessary for us, teachers, to reorganize ourse/ves
for the duty of teaching.

KEY WORDS: teaching-/earning; student; teacher; knowledge; constructivism.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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conhecimento... Ciência & Tecnologia: o ensino de ciências, conhecimentos dos alunos. In: PEREIRA, M. (Coord.).
Didáctica das Ciências da Natureza. Lisboa: Universidade
v. 3, p. 7-11, jun. 1993.
Aberta, 1992. p. 62-97.
COLL, C. Um marco de referência psicológico para a Educação FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à
Escolar: a concepção construtivista da aprendizagem e do prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
ensino. In: COLL, C; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Org.).
LOVATO, LA; MARQUES, LAR. Pesquisar, ensinar, aprender
Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia da e construir conhecimentos. Semina, Londrina, v. 16, n. 3,
Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. v.2. set. 1995.

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