Você está na página 1de 11

PORTILHO

ARTIGO EML &ESPECIAL


BARBOSA LMS

O GRITO DA PROFESSORA: DO IMPLÍCITO


AO EXPLÍCITO

Evelise Maria Labatut Portilho; Laura Monte Serrat Barbosa

RESUMO - Neste trabalho, faz-se um recorte da pesquisa Aprendizagem


e Conhecimento na Formação Docente, que foi realizada numa Rede
Municipal de Ensino do Estado do Paraná, nas turmas da 1ª etapa do 1º
ciclo do Ensino Fundamental. O objetivo do presente estudo é entender o
que se encontra implícito na dinâmica e na temática do ambiente educativo,
mais especificamente da sala de aula. Buscou-se observar as estratégias
utilizadas pela professora, a conduta dos alunos diante dessas estratégias e
a identificação do estilo de ensinar. A tendência tradicional, presente nas
estratégias e no estilo de ensinar da grande maioria das professoras, parece
não ser uma escolha, e sim falta de oportunidade de fazer reflexões sobre a
prática educativa e de praticar as conclusões de tais reflexões. Mais do que
realizar uma crítica às inadequações observadas, a intenção é de compreendê-
las como um pedido de ajuda da professora.

UNITERMOS: Aprendizagem. Modelos educacionais. Ensino.


Comportamento.

Evelise Maria Labatut Portilho – Pedagoga, Especialista Correspondência


em Psicopedagogia, Mestre e Doutora em Educação, Evelise Maria Labatut Portilho
Profa. do Curso de Pedagogia e do Mestrado em Rua Imaculada Conceição, 1155 – Prado Velho –
Educação da PUCPR, Coordenadora da Pesquisa Curitiba, PR – CEP 80215-901
Aprendizagem e Conhecimento na Formação Docente, E-mail: evelisep@onda.com.br
Coordenadora do Curso de Especialização em
Psicopedagogia da PUCPR. Laura Monte Serrat Barbosa
Laura Monte Serrat Barbosa – Pedagoga, Especialista Av. Agostinho Leão Junior, 37 – Alto da Glória –
em Psicopedagogia, Mestre em Educação, Curitiba, PR – CEP 80030-110
Psicopedagoga na Síntese – Centro de Estudos, E-mail: lauraserrat@bol.com.br
Aperfeiçoamento e Desenvolvimento da Aprendizagem,
Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Aprendizagem e
Conhecimento na Formação Docente.

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

12
O GRITO DA PROFESSORA: DO IMPLÍCITO AO EXPLÍCITO

O INÍCIO DA REFLEXÃO habilidades, estratégias e estilos para aprender.


Em um espaço de formação continuada de Na dimensão do sentir, destaca-se o papel
professores, numa escola municipal, uma dos vínculos afetivos com as situações de
pedagoga manifesta-se à professora convidada aprendizagem, o que possibilita a organização
pelo grupo, dizendo: “Já sabemos tudo o que você de estruturas e representações cognitivas
vai dizer e, por isso, queremos saber a que horas capazes de viabilizarem práticas reflexivas
vamos embora”. que têm como resultado a aprendizagem
Nessa fala, a pedagoga tornou emergente toda significativa.
angústia latente de um grupo de educadores, que Segundo Portilho et al.1, na dimensão do agir
está sentindo-se impotente, amedrontado e e do interagir considera-se que aprender e
incompetente diante dos desafios decorrentes de ensinar só tem sentido se for para instru-
um mundo diferente e, consequentemente, de mentalizar, tanto o aprendiz como o ensinante, a
uma escola que necessita, urgentemente, conhecerem-se mais profundamente, inserindo-
modificar-se para atender seus fins educativos. se na construção de uma sociedade mais crítica e
Entendemos esse emergente como um ‘grito voltada às questões da humanidade e da
da professora’, como tantos outros que nos humanização. Nessa instrumentalização, deve ser
levaram a desenvolver a pesquisa realizada com considerado o ambiente tanto na sua constituição
alunos, professoras e o ambiente educativo de física, quanto na sua dinâmica, como elemento
uma Rede Municipal de Ensino. interveniente na aprendizagem.
Por que protagonistas do processo de aprender
A HISTÓRIA DA PESQUISA e ensinar?
A pesquisa Aprendizagem e Conhecimento na A maioria dos estudos da aprendizagem nas
Formação Docente teve sua origem no encontro primeiras séries coloca seu foco no aluno como
de um grupo de pesquisadores advindos de sendo ele o único que tem algo a aprender.
diferentes instituições educacionais, com o Acredita-se que “aquele que ensina precisa ser
objetivo de compreender o processo de convidado a conhecer-se como aprendiz, em todas
aprendizagem de quem ensina e de quem as dimensões que o envolvem, para poder
aprende. compreender a aprendizagem daquele que está
Para que o grupo conseguisse realizar sua na escola para aprender ”1. O conhecer a si
intenção, foi necessário focar a pesquisa na 1ª mesmo, do professor, pode viabilizar a
etapa do 1º ciclo do Ensino Fundamental, uma modificação de sua modalidade de ensinar e,
vez que o momento foi considerado crucial para assim, repercutir no resultado da aprendizagem
a apropriação da linguagem oral e da escrita como significativa do aluno.
instrumentos de aprendizagem para inserção A forma de ensinar, os modelos e os ideais
social, pessoal e cidadã do aprendiz. de pessoa e sociedade, como consequência
Além da escolha da população e do objeto de de uma profissão a que se subtraiu,
estudo, a equipe de profissionais constituiu-se, inveteradamente, a capacidade de dar
também, como um grupo de estudos, buscando a respostas próprias à pergunta “para quê
fundamentação necessária para construção de ensinar?”. O papel do ensino, sua função
uma linguagem comum. Nesse estudo, os social, não pode ser nunca objeto de análise
pesquisadores consideraram os protagonistas do ou de reflexão dos professores. As decisões
processo de aprender e ensinar como sujeitos mais importantes sobre as finalidades do
inteiros, mas compostos pelas dimensões do ensino e as estratégias para alcançá-las
pensamento, do sentimento, da ação e da sempre foram alheias aos homens e às
interação. mulheres que trabalham como docentes2.
Na dimensão do pensamento, impõe-se o Esse professor, além de não ter sido convidado
desenvolvimento de uma tomada de consciência a responder à pergunta: “Para quê ensinar?”,
da modalidade de aprendizagem desses também não foi chamado a conhecer-se como
protagonistas. A partir desse movimento, é sujeito que aprende e, como tal, a ser capaz de
possível conhecer-se e fazer-se, regulando construir estilos diferentes de ensinar, que podem

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

13
PORTILHO EML & BARBOSA LMS

atender às distintas potencialidades dos alunos apud Pozo, 20043, “todos os organismos dispõem
no seu processo de aprender. de representações implícitas a partir das quais
A partir da fundamentação estudada e interagem com o mundo”. Esse autor, em 1993,
sistematizada pelos pesquisadores, o grupo foi a destaca como características de tal aprendizagem:
campo, selecionou 25 escolas da Rede Municipal ser o sistema mais antigo na filogênese, o mais
de Ensino e organizou três instrumentos de antigo na ontogênese, independente da idade e
pesquisa: um voltado para o aprendiz – composto do desenvolvimento cognitivo, independente da
por dois blocos de materiais, uma prova cultura e do ensino, mais encorpado do que o
complementar e um protocolo de observação das sistema cognitivo explícito, mais duradouro em
estratégias de aprendizagem a; outro para a seus efeitos e menos suscetível de interferência,
professora – Questionário Honey-Alonso de mais econômico do ponto de vista cognitivo ou
Estilos de Aprendizagemb; um terceiro para o energético, além de sustentar boa parte das
ambiente escolar, cujo conteúdo será motivo de representações intuitivas e estar presente em
análise neste artigo. Tais instrumentos foram todos os momentos da vida. As pesquisas
criados para serem, ao mesmo tempo, únicos e comprovam que há existência de aprendizagens
complementares e, na análise dos dados, implícitas já em bebês e crianças, como também
permitirem uma visão dinâmica do processo de na totalidade das aprendizagens animais,
ensinar e aprender. Por meio deles, foi possível principalmente porque eles não podem informar
observarmos os protagonistas do ensino e as aprendizagens obtidas.
aprendizagem em várias situações: o aluno em Aprendizagem explícita, segundo Pozo3, é um
situação de aprendizagem individual e grupal; a processo de re-descrição representacional de
professora por meio da própria avaliação do seu nossas aprendizagens implícitas prévias;
estilo de aprender e em sua atuação em sala de poderíamos dizer que é a tomada de consciência
aula; os dois em relação, mergulhados no espaço da aprendizagem implícita:
da escola ao qual chamamos de ambiente As formas explícitas de aprendizagem,
educativo. essas que supostamente nos diferenciam de
No presente estudo, colocaremos ênfase nas outras aprendizagens animais, geram um
aprendizagens implícitas reveladas pela ação da novo produto cognitivo especificamente
professorac no processo de aprender e ensinar, ou humano, o conhecimento, e que a aquisição
seja, no que chamamos de O Grito da Professora. desse novo produto cognitivo requer também
novos processos de aprendizagem, agora já
APRENDIZAGEM IMPLÍCITA E EXPLÍCITA especificamente humanos.
Para esclarecermos o que entendemos por A aprendizagem desses processos cons-
aprendizagem implícita e explícita, faremos cientes ou metacognitivos é responsável pela
referência às idéias cognitivistas mais recentes reorganização e ressignificação de tais
no panorama da psicologia educacional. representações, ou seja, de novas maneiras de
Aprendizagem implícita é um processo não- aprender.
consciente de aquisição do conhecimento, por O estudo da aprendizagem implícita e
meio do qual o aprendiz, apesar de ter aprendido, explícita nessa pesquisa objetiva compreender,
não sabe o que sabe e não sabe informar como por meio da ação ou do ‘grito da professora’, a
aprendeu. Os estudos sobre aprendizagem combinação resultante de suas aprendizagens e
implícita tiveram seu início com Reber, em 1967 o reflexo dela em sua forma de ensinar, como

a
Sobre os instrumentos utilizados para pesquisar as estratégias de aprendizagem das crianças, ver: Portilho EML; Kuster
S. Estratégias de aprendizagem da criança em processo de alfabetização. Revista Psicopedagogia. 2006;70(23):23-9.
b
Esse questionário pode ser encontrado em: Portilho EML. Aprendizaje universitario: un enfoque meta cognitivo [Tese de
doutorado]. Madrid, España: Universidad Complutense;2003. Disponível em <http://www.ucm.es/BUCM/2006.htm>
c
Como só observamos salas de aula conduzidas por professoras, optou-se por utilizar o termo no feminino, justificando a
presença da mulher, quase que exclusiva, no magistério da 1ª etapa do 1º ciclo do Ensino Fundamental da Rede Municipal
de Ensino pesquisada.

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

14
O GRITO DA PROFESSORA: DO IMPLÍCITO AO EXPLÍCITO

também na construção do processo de estratégia requer que o aprendiz seja jogador


aprendizagem de seus alunos. antes de ser treinador, que aplique e pratique
A professora, nessa rede de ensino, além de uma técnica para refletir sobre ela e adquirir um
suas experiências pessoais relacionadas à sua controle crescente sobre seu uso. Por isso,
história, é convidada a participar de reflexões acreditamos que, para a professora ensinar, é
importantes, em programas de formação preciso antes ela perceber a si mesma como
continuada, sobre o processo de ensinar e aprendiz, assim construindo a sua prática
aprender. Percebemos que um grande número de educativa.
professoras não incorpora em sua ação docente Nessa pesquisa, observamos as estratégias de
as informações recebidas e, por isso, não integra aprender e ensinar da professora, tendo como
intuição e conhecimento, ou seja, não transforma referencial os seguintes aspectos:
a aprendizagem implícita em explícita. • estratégias de planejamento, ou seja,
organização para iniciar o processo,
A ESCUTA DE UM MANIFESTO antecipação das possíveis diferenças durante
Faremos a escuta em três momentos: primeiro, o encaminhamento da aula, previsão dos
contanto o que selecionamos para ‘escutar ’; recursos a serem utilizados, estabelecimento
segundo, descrevendo como foi realizada a de objetivos e realização de um plano para
‘escuta’; terceiro, fundamentando o porquê da atingi-los;
‘escuta’. • estratégias de controle ou auto-regulação, ou
seja, atitudes tomadas frente a situações não
O que ‘escutar’? previstas para reorganizar o rumo na direção
Pensamos que a observação das estratégias dos objetivos estabelecidos;
utilizadas pela professora poderia nos contar seu • estratégias de avaliação, ou seja, evocação das
modo particular de aprender a sua função de metas para relacionar o resultado obtido com
ensinar. A partir dessa idéia, desenvolvemos o objetivo previamente estabelecido.
estudos sobre estratégias de aprendizagem O resultado dessa observação será utilizado
buscando uma fundamentação para nossa em um outro momento do projeto, num processo
‘escuta’. de intervenção, no qual a professora terá
Por estratégia, entendemos um conjunto de oportunidade de perceber-se como aprendente
procedimentos que é utilizado no processo de e, consequentemente, como ensinante, tomando
aprender e que requer planificação, controle na consciência de sua aprendizagem e das
execução e avaliação contínua, caracterizando a estratégias que utiliza.
maneira pessoal e subjetiva de cada um aprender.
Planejamento, controle e avaliação possibilitam Como escutar?
ao aprendiz compreender o quê realiza, por quê Ao decidirmos desenvolver uma pesquisa
escolhe aquela forma de agir para aprender algo participante, buscamos como referência os
e qual o efeito de sua ação em tal aprendizagem. conhecimentos de Pichon-Rivière6, nos quais se
Vários autores concebem “as estratégias como refere à investigação do homem em situação,
processos ou atividades mentais deliberadas, entendido como uma unidade operacional que
intencionais, propositivas, quer dizer, enriquece tanto a situação a ser observada, como
conscientes. [...] quando se desenvolve uma a pesquisa a ser realizada. Esse homem em
estratégia, deve-se ‘parar e pensar’ e planejar situação, segundo Visca7, assemelha-se a uma
suas ações, antecipando, em parte, os efeitos que situação a ser descoberta ou revelada.
terão em relação ao objetivo perseguido”4. Na pesquisa desenvolvida, o objeto revelado
Sendo assim, para aprender como ensinar, a diz respeito à ação da professora e dos alunos no
professora necessita desenvolver estratégias que processo de aprender e ensinar, situados no
lhe coloquem a pensar sobre a sua própria ambiente de sala de aula.
aprendizagem. Para realizar o que estamos chamando de
Flavell 5 , ao fazer uma analogia entre a ‘escuta’, utilizamos uma forma de observação que
aprendizagem e o jogo, afirma que uma divide e integra dois aspectos: a observação da

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

15
PORTILHO EML & BARBOSA LMS

temática e a observação da dinâmica. A temática formação daquele que é responsável pela


“consiste em tudo o que o sujeito diz, o que terá, docência no cotidiano da escola e da sala de aula.
como toda conduta humana, um aspecto manifesto O professor está sentindo-se criticado,
e outro latente. [...] A dinâmica consiste em tudo amarrado e incapaz, o que vem impedindo o seu
o que o sujeito faz que não seja estritamente crescimento na práxis educativa. Se pudermos,
verbal: gestos, tons de voz, postura corporal etc”7. ao invés de criticá-lo, ouvir seu apelo como
A partir dessa concepção de observação, foi manifesto de um movimento que busca novo
possível fazer uma articulação entre as estratégias significado do para quê ensinar no mundo de
observadas daquele que ensina e as condutas hoje, estaremos contribuindo para o rompimento
daquele que aprende, para identificarmos o estilo dos possíveis obstáculos inibidores do avanço
predominante de ensinar da professora e a desejado. “Revalorizar a função do docente e
interferência na aprendizagem do aluno. enriquecer suas possibilidades de formação e
Entendemos por estilo “um conjunto de participação frente às novas exigências sociais
comportamentos sociais com significados são um dos grandes desafios que sustentamos”9.
específicos, como, por exemplo, o estilo Os manifestos percebidos durante o estudo
participativo, o democrático, o polêmico, etc. Os serão destacados com o intuito de compreender
estilos de aprendizagem centram-se, geralmente, o que se encontra latente na fala, na atitude e na
em ‘como’ as pessoas gostam de aprender, como ação pedagógica da professora, como salienta
também podem ser considerados como uma forma Tardif10:
de pensar”8. O professor possui competências, regras,
Nesse sentido, um estilo de ensinar é visto recursos que se incorporam ao seu trabalho,
como uma maneira peculiar da professora sem que tenha, necessariamente, consciência
encaminhar a sua aula. Nessa pesquisa, explícita disto. Nesse sentido, o saber fazer
consideramos como possíveis estilos de ensinar: do educador parece mais amplo que seu
o tradicional; o que promove a individualidade; conhecimento discursivo. Por isso, uma teoria
o que possibilita a participação do aluno no consistente do ensino não pode se basear,
ensino; o que propicia a socialização; o que exclusivamente, no discurso dos docentes
provoca o pensamento de forma mais direta ao sobre seus conhecimentos discursivos e sua
aluno em sua aprendizagem; o que favorece a consciência explícita. Deve registrar, também,
criatividade; o que estimula a tomada de as regularidades da ação dos atores, assim
consciência, o controle e a transformação do aluno como suas práticas objetivas, com todos os
com relação a sua aprendizagem – o estilo seus componentes corporais, sociais, etc.
metacognitivo de ensinar. Algumas professoras, apesar de,
racionalmente, saberem das influências de suas
Por que escutar? atitudes sobre o aprendizado do aluno, de
Pesquisas junto a professores têm diferentes formas, inibem-nos com gritos, broncas,
demonstrado o quanto sua prática ainda está castigos e outras manifestações de poder, as quais,
encharcada do senso comum e o quanto a sua em algumas situações, chegam a humilhar e a
forma de transmissão e produção do impedir a demonstração do real potencial. Por que
conhecimento encontra-se presa a concepções a professora precisa desse recurso para sentir-se
tradicionais do que seja aprender e ensinar. potente? Estará esse fato atrelado à formação do
Para Becker8, a escola em geral sofre de uma professor, que enfatiza a racionalidade em
inércia histórica e parece ter que copiar detrimento do fazer real? A metodologia adotada
constantemente, praticando, assim, uma em sua formação foi coerente com a concepção de
pedagogia e uma didática da reprodução. ensino-aprendizagem apresentada por seus
Os problemas da aprendizagem e do ensino professores? A formação continuada oferecida
são, historicamente, ora colocados como deixa espaço para discussão e reelaboração da
decorrentes das incapacidades dos alunos, ora prática educativa?
como originados na incompetência do professor, Outra maneira de manifestar a sua angústia
o que tem dificultado os avanços necessários na foi apresentada por professoras que não admitem

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

16
O GRITO DA PROFESSORA: DO IMPLÍCITO AO EXPLÍCITO

terem sua aula observada. Será sinal de da sala de aula e, consequentemente, do


insegurança? Será medo de expor-se por não pensamento e sentimento de seus alunos. O que
acreditar no seu potencial? Será um sentimento está por trás dessa atitude que faz com que a
de superioridade que não lhe permite mostrar professora sinta-se tão poderosa? Estará
para o outro o que sabe, nem receber qualquer relacionado ao modelo de autoridade posto na
tipo de sugestão? nossa sociedade? Será aquela imagem de
A não-aceitação de erros por parte dos alunos sabedora a responsável por essa sensação de
caracterizou-se, também, como um emergente do poder? Existem espaços na instituição escolar que
que se encontra subjacente à prática educativa. permitem a reflexão sobre esse aspecto? Será a
Até que ponto o erro do aluno ou o seu não-saber desvalorização atual da figura do professor que
traz à tona as impossibilidades da professora? a leva a compensar, por meio de atitudes
Como se sente uma professora diante do seu não- autoritárias, o sentimento de menos valia? “As
saber se a representação social do seu papel na salas de aula são ambientes de abertura contínua,
sociedade coloca-a como sabedora? A professora onde as pessoas são chamadas para, juntas,
tem a real dimensão do papel do não-saber e do estudarem o mundo que as rodeia”12. Será
erro no processo de aprender de seu aluno? possível um espaço como esse ter apenas um
Marchesi11 apresenta o depoimento de um proprietário?
‘mau aluno’, que reafirma a dificuldade que A grande maioria das salas de aula continua
alguns professores possuem quando se deparam possuindo um formato impeditivo da comunicação
com os erros de seus alunos, principalmente necessária para que a aprendizagem aconteça
quando estes já se encontram rotulados como num espaço coletivo. As carteiras colocadas umas
maus: atrás das outras reforçam, objetivamente, a
Um dia decidi estudar, não queria mais concepção histórica de que o professor deve
confusão. E me atirei de cabeça em geografia. continuar sendo a figura principal do processo
Lembro muito bem que a matéria tratava da de aprender e ensinar. Por que a prática não
região de Valência. Quando me perguntaram consegue acompanhar o discurso atual? O que
a lição, soltei o verbo, mas, que diabo, com aconteceria se a sala de aula assumisse um outro
um erro: em vez de dizer barraca, disse formato? Que medo encontra-se latente na
carraca. O professor foi inflexível e, inclusive, manutenção do espaço nesse formato?
fez uma piada. É muito difícil tentar ser bom Senge12, quando propõe a criação de salas de
aluno quando já colocaram você entre os aula que aprendem, sente a necessidade de
maus. Só resta engolir a humilhação e modificar o formato tradicional para que o diálogo
aguentar as gozações dos colegas, porque a possa se instalar de forma efetiva: “Um dos meus
piada deve ter sido boa. Voltei para casa com objetivos era criar um ambiente de diálogo na
vontade de chorar e, naturalmente, não classe. Nunca pedi para que os alunos
comentei com ninguém o que tinha levantassem a mão para falar; sentávamos em um
acontecido. A solidão é boa companheira do círculo ou de algum modo que permitisse que
“mau aluno” porque não exige reconhe- cada um se sentisse confortável e deixasse que a
cimento social e, como já disse, afeta todos os conversa fluísse através de nós”.
aspectos da vida, mesmo que não sejam Além do espaço, percebe-se que uma boa parte
propriamente escolares. do material utilizado pela professora apresenta
Essa dificuldade relatada por um ‘mau aluno’, uma qualidade de conteúdo questionável. Apesar
agora professor, vem reafirmar o fato de que do discurso sobre a construção do conhecimento,
conflitos decorrentes da relação de poder e parte do material empregado apresenta
submissão, vividos na relação professor-aluno, características que exigem apenas a memorização
podem interferir na dinâmica pessoal, para além e a reprodução. Sabe-se, no entanto, que a
da escolar. característica do material, isoladamente, não
Em algumas observações do ambiente escolar, determina uma concepção educacional e, por isso,
perceberam-se professoras que, pelas atitudes, questionamos: Qual é, então, a teoria da
fazem-nos acreditar que se sentem proprietárias professora? A instituição escolar dá espaço para

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

17
PORTILHO EML & BARBOSA LMS

que essa teoria seja discutida e reelaborada? O desenvolvidas na sua formação contínua e no seu
especialista da instituição está contribuindo para cotidiano escolar. Percebeu-se esse fato em
que a professora possa se apropriar de uma teoria atitudes tais como: chegar tarde, sair cedo,
e exercê-la? acreditar que já sabe tudo ou não valorizar a
Uma questão a ser, também, considerada, a discussão e a aprendizagem num espaço coletivo.
partir das observações realizadas nesse estudo, Na escola, observa-se uma quantidade
diz respeito ao tempo. Percebemos que a significativa de pedidos de licença médica,
professora, nas suas ações e no seu discurso, promovendo um disfuncionamento da rotina
refere-se, continuamente, à falta de tempo. Parece escolar e do processo pedagógico. Por que a
existir: uma organização, por vezes tão rígida que professora não consegue realizar o exercício de
impede a flexibilização; afazeres acumulados e responsabilidade que ela mesma exige de seus
não planejados que resultam num não alunos? Por que as professoras estão precisando
estabelecimento de prioridades; uma organização sair da sala de aula? Até que ponto essa dicotomia
tão frouxa que leva à acomodação. De que tempo revela uma escolha profissional não decorrente
fala-se, do tempo interno, externo ou do tempo de um desejo pessoal e real?
com os alunos e dos seus alunos, com seus pares, Para Barbosa14, das instituições construídas na
com os pais e com a comunidade? história da humanidade, a escola foi a que
Hugo Assmann13 aborda o entrelaçamento do permaneceu mais estável. Com a Revolução
tempo escolar e o tempo vivo dos sujeitos Industrial, a família, a Igreja e o Estado perderam
aprendentes: suas identidades e, de certa forma, delegaram
A interpenetração do tempo cronológico para a escola suas funções: formar um ser humano
com o tempo vivo é uma tarefa sumamente educado, espiritual e cidadão.
exigente. Há os tempos trazidos pelas pessoas A escola, na tentativa de cobrir tais faltas,
(de casa, de fora), os tempos institucionais acaba perdendo a sua identidade original, tendo
(muitas vezes distantes do tempo pedagógico), que se construir de forma diferente para atender
os tempos compactados da invasora ecologia as demandas do mundo atual.
cognitiva das novas tecnologias da Segundo Hugo Assmann 13 , estamos
informação e da comunicação [...] E todos eles superando a era da informação, rumo a uma
convergem no minguado tempo da sala de sociedade aprendente que deve pensar nas
aula. Nela, o que mais importa são os tempos necessidades vitais do aprendiz, ao invés de
subjetivos, isto é, a temporalidade histórica selecionar conhecimentos a serem assimilados:
dos sujeitos aprendentes. [...] A criação de “Não há verdadeiros processos de conhecimento
condições de aprendizagem requer que a sem conexão com as expectativas e a vida dos
temporalidade institucional seja colocada em aprendentes”. Nesse sentido, a mudança do
função da produção de tempo vivo, ou seja, a enfoque da prática educativa, do ensino para a
serviço de um tempo que se revele fecundo aprendizagem, deve se revelar, primeiramente,
para a construção do conhecimento e para na observação e no registro de como o aluno
alentar a sensação de alunos/as e docentes aprende e de quais são suas reais necessidades
de que eles, efetivamente, encontram-se para, então, pensar-se no como ensinar para que
inseridos num tempo pedagógico. ele aprenda.
Nessa citação, observa-se a importância que De que forma a escola pode se inserir numa
a escola deveria dar ao tempo, revendo o seu proposta de sociedade aprendente?
projeto pedagógico e priorizando o equilíbrio A idéia de uma escola que possa aprender
entre o tempo da instituição (quatro ou seis horas tornou-se cada vez mais proeminente nos
do relógio) e o tempo (particular) que cada últimos anos. Está ficando claro que as
aprendente leva para significar as informações escolas podem ser recriadas, vitalizadas e
recebidas e convertê-las em conhecimento. renovadas [...] não por decreto ou ordem e
Outro aspecto a ser considerado, que revela a nem por fiscalização, mas pela adoção de uma
dissociação entre prática e discurso, é a posição orientação aprendente. Isso significa
da professora como aprendiz em atividades envolver a todos do sistema para expressar

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

18
O GRITO DA PROFESSORA: DO IMPLÍCITO AO EXPLÍCITO

suas aspirações, construir sua consciência e crianças e avaliados os estilos de aprendizagem


desenvolver suas capacidades juntos12. de 82 professoras.
Essa possibilidade de reconhecimento do Nesse artigo, está sendo dada ênfase maior
trabalho coletivo deve se expressar no interior ao instrumento de observação da sala de aula e
da escola, integrando-se projetos individuais e da relação dos protagonistas do ensino e
de grupo, realizando-se um movimento que aprendizagem; porém, nosso olhar, nossa escuta
permita passar do individual ao coletivo e do e nossa análise consideram também os dados
ensino à aprendizagem. Somente assim a escola obtidos por meio dos outros instrumentos e da
poderá se posicionar como uma instituição interação entre eles.
aprendente e capaz de reorganizar-se e atender Para a observação do processo de aprender e
às necessidades da contemporaneidade. ensinar, foi construído um protocolo de observação
As manifestações apontadas nesse estudo do ambiente escolar, contendo, primeiramente,
traduzem a angústia vivida pelos protagonistas os seguintes dados, a serem preenchidos sobre a
do processo educativo em nossas instituições sala de aula, especificamente: Observadoras,
escolares. Ao escutarmos esse manifesto, no ‘grito Escola, Data, Número total de alunos, Faltas,
da professora’, acreditamos que heranças Série, Professora, Horário da observação,
educacionais encontram-se também presentes na Recursos disponíveis no ambiente (computador,
ação pedagógica, muitas vezes de forma televisão, vídeo, livro didático, letras móveis,
inconsciente. Essas heranças precisam se tornar revistas, jogos, livros infantis, gráfico de
conscientes para, então, existir um posicio- responsabilidade, calendário entre outros),
namento que coloque a professora como sujeito Qualidade dos materiais escritos (cópias,
capaz de controlar e mudar o seu processo de originais), Organização espacial das carteiras
ensinar, aprender e de exercer sua profissão de (filas, círculo, semicírculo, equipes).
forma comprometida, tendo como preocupação A pesquisadora registrou a observação (em
permanente a idéia de que “somos pessoas não quadro para registro específico), considerando a
em nós mesmas, mas em comunidade”15. Somos estratégia utilizada pela professora na atividade
pessoas não em nós mesmos, mas em relação com proposta aos alunos, de preferência de leitura e
o outro, com o mundo, com a vida. escrita, a conduta dos alunos ou a resposta deles
à intervenção da professora, destacando, assim,
A OBSERVAÇÃO o estilo de ensinar da professora.
O grupo de pesquisa organizou uma forma
de observar o processo de aprender e ensinar na ANÁLISE PARCIAL DAS OBSERVAÇÕES
escola, a qual considerou o espaço, o tempo, os Nas salas de aula observadas, como mostra o
materiais e os recursos utilizados, o conteúdo instrumento, foram priorizados os seguintes
trabalhado e a dinâmica da relação entre os aspectos: o ambiente da sala de aula, a estratégia
protagonistas desse espaço tanto por meio da da professora, a conduta dos alunos e o estilo de
comunicação verbal, quanto da não-verbal. ensinar.
Embora o instrumento elaborado para o No que se refere ao ambiente de sala de aula,
registro das informações focasse no espaço da observou-se o predomínio da exposição de
sala de aula, a equipe de pesquisadores também materiais e recursos sem a preocupação estética
observou a dinâmica educativa desde o momento e didática relacionada diretamente ao conteúdo
em que entrou na escola – a forma de recepção, a e procedimentos trabalhados. As salas são
ocupação das paredes, a disposição dos objetos, utilizadas por mais de uma turma e contém, em
a comunicação e outros aspectos mais gerais. suas paredes, materiais referentes a todas elas,
No projeto como um todo, foram investigadas revelando a fragmentação existente entre o
25 escolas, distribuídas em oito núcleos de ensino discurso e o ambiente real. Além disso, a
do Município pesquisado. Foram observadas 77 disposição das carteiras, na grande maioria das
salas de aulas, da 1ª etapa do 1º ciclo do Ensino salas observadas, ainda permanece a mesma –
Fundamental (atualmente 2º ano), contendo cada uma carteira atrás da outra, mesmo que estejam
uma delas de 25 a 30 alunos, diagnosticadas 403 os alunos sentados em duplas ou trios, e todas

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

19
PORTILHO EML & BARBOSA LMS

voltadas para o quadro de giz e a mesa da manifestado pela busca de orientação, inclusive
professora. Em todas as salas, encontram-se a após o período da pesquisa.
televisão e o aparelho de videocassete; em Um exemplo de auto-regulação a destacar está
algumas, o aparelho de DVD. No entanto, os no relato de uma das professoras que, ao
equipamentos foram pouco utilizados ou, quando construir a atividade com os alunos, conseguiu
utilizados, nem sempre com fins pedagógicos. No envolver a todos e aproveitou situações reais da
geral, as salas são bem iluminadas. sala, trabalhando coletivamente:
Com relação à estratégia utilizada pela - Professora: O quadro é como o caderno, dá
professora, observou-se que uma grande maioria para continuar?
planeja suas aulas; porém, sem considerar o - Alunos: Não!
conhecimento prévio dos alunos. As atividades - Professora: Como eu faço?
preparadas são, por vezes, iguais a de todas as - Alunos: Outra linha.
outras turmas da mesma etapa. Essa forma de - Professora: Acabou a frase?
ensinar evidencia-se, principalmente, no controle - Alunos: O pontinho final.
exercido, pela professora, sobre o comportamento Um outro exemplo aconteceu quando outra
dos alunos, sem a preocupação com o professora, ao ensinar o ‘R intrometido’, percebeu
desenvolvimento do autocontrole e da auto- que alguns não entenderam e disse: “Tem gente
avaliação discente. É o chamado controle externo que ainda não entendeu. A professora vai passar
(a sala tem que estar calma) e planejamento e mostrar uma outra maneira de fazer”.
inflexível, quase não aparecendo preocupação No que se refere à conduta dos alunos,
em avaliar a adequação da atividade elaborada contatou-se que ela é decorrente do controle
diante do desempenho dos alunos, nem a externo exercido pela professora, por vezes
preocupação em conscientizar os alunos sobre o passivo e por vezes opositor. A dinâmica da
seu processo de aprendizagem. maioria das salas de aula revelou, como atitude
Para exemplificar esse tipo de estratégia, passiva dos alunos, ações tais como: apagar
destacamos algumas falas obtidas nas observações porque a professora mandou; levantar a mão para
realizadas: “Pronto, todo mundo colou no falar; ficar quieto e abaixar a cabeça; parar
caderno?”; “Vamos estudar uma letrinha nova? imediatamente o que está fazendo diante de uma
Olhem para a professora. Como é o nome da ameaça; perguntar “Onde eu ponho o traço?”.
letra?”; “Muito bem, olhem o F. Vou fazer o Como atitude opositora, foram reveladas ações
grande, vocês vão fazer o pontilhado e copiar”; tais como: rir; arrastar a carteira; não parar na
“Eu vou escrever sobre mim, e vocês copiam; carteira; ir à lixeira constantemente; escorregar
depois de todos copiarem e lerem, vão fazer o no chão; não responder quando solicitado.
texto de vocês. Parem de se mexer e conversar”; A respeito do estilo de ensinar, a tendência
“Vocês precisam fazer certinho na linha”; “Quem verificada é a do estilo tradicional. Por estilo
já terminou, espera os outros, bem quietinho”; tradicional entende-se uma forma de ensinar em
“Todos leiam tudo e desenhem o que que não existe a preocupação com o
entenderam”. desenvolvimento autônomo dos alunos, na qual
Em um número limitado de salas de aula, o controle fica sempre nas mãos da professora. A
encontramos encaminhamentos diferentes desses ênfase do processo educativo permanece no
e que mostraram um desenvolvimento mais ensinar, a despeito da atual concepção que aponta
autônomo por parte dos alunos, devido, acredita- para o aprender. Nesse estudo, foi percebido que
se, à estratégia utilizada pela professora. Em uma o estilo tradicional de ensinar não contém,
das turmas observadas, percebeu-se que a forma necessariamente, atitudes autoritárias de
de encaminhar influenciou na qualidade e desrespeito, mas acaba por não permitir a
quantidade de alunos alfabetizados, já na participação do aluno no seu processo de
primeira metade do ano; em outra, além da aprender, nem leva em conta as diferenças
professora utilizar uma estratégia pertinente de individuais, como as de tempo e ritmo. Por
ensinar, percebeu-se um grau de comprome- exemplo, “Eu não quero que você diga o nome
timento dela com a aprendizagem de seus alunos, da letra, eu quero que você leia”; “Sabe por que

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

20
O GRITO DA PROFESSORA: DO IMPLÍCITO AO EXPLÍCITO

você não sabe? É porque você não resolveu”; embalagens atuais; porém, a metodologia nem
“Vocês fiquem quietos, senão vou passar sempre prevê o incentivo e a criação de espaço
vergonha com a nossa visita, e ela vai ficar para que alunos aprendam a aprender, ou seja,
horrorizada”; “Você esqueceu o caderno em casa? planejem, controlem e avaliem sua própria
Pois você vai fazer toda a lição no papel e vai aprendizagem.
passar tudo no caderno”. Apesar do empenho que essa rede de ensino
tem com a formação continuada de seus
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES professores e do maciço comparecimento dos
Com a oportunidade de aproximação da mesmos a tais encontros, perguntamos: Por que
realidade educacional do município em estudo, toda a informação recebida não consegue ser
a equipe de profissionais envolvidos tem transformada em conhecimento e, consequen-
aprendido sobre o aprender e o ensinar e, temente, em ação?
principalmente, sobre o seu percurso de A tendência tradicional presente no estilo de
pesquisadores comprometidos com o próprio ensinar da professora parece não ser uma escolha,
processo de aprendizagem e de ensino. e sim uma falta de possibilidade de fazer reflexões
O recorte realizado permite compreender fatos, sobre a prática educativa e de praticar as
falas e ações da professora como um grito de ajuda. conclusões de tais reflexões, principalmente no
A estratégia utilizada pela maioria das interior do ambiente educativo, no qual participa
professoras, na organização da sua aula e no junto com seus pares.
desenvolvimento de estratégias de aprendizagem Parece que, além dos cursos de formação, de
pelo próprio aluno, nem sempre contempla a aperfeiçoamento, de informações recebidas
preocupação com o planejamento, a auto- através dos diversos canais já existentes na Rede
regulação e a avaliação. O planejamento aparece Municipal de Ensino, faz-se necessário um
de forma rígida, sem reflexão e sem preocupação trabalho com as professoras, que tenha como
com a diversidade. As atividades propostas referência aprender a ensinar mergulhado na ação
parecem adequadas e, muitas vezes, apresentam real de ensinar a aprender.

SUMMARY
The teacher’s cry: from the implicit to the explicit

This work addresses the research on Learning and Knowledge in Teacher


Education carried out at a Municipal School in Fundamental School classes
of the 1st stage of 1st cycle. The purpose of this study is to understand what is
implicit in the dynamics and thematic within the educational environment,
more specifically in the classroom. Strategies used by the teacher were
observed, as well as how students responded to those strategies, and the
teaching style was identified. The traditional trend found in teaching strategies
and style of the majority of teachers seems to be not an option but the lack of
opportunity to ponder upon the practice of teaching and to put those findings
and conclusions into practice. This work proposes to go beyond the mere
criticism of the inadequacies that were observed, but rather to understand
them as a cry for help from teacher.

KEY WORDS: Learning. Models, educational. Teaching. Behavior.

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

21
PORTILHO EML & BARBOSA LMS

AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa é fruto de um grupo, o nosso querido GAE. Queremos
agradecer a todos que de alguma forma colaboraram: Arlete Zagonel Serafini,
Isabel Cristina Hierro Parolin, Simone Carlberg, Sonia Maria Gomes de Sá
Kuster, Maria Gabriela Zgoda Cordeiro Afonso, Maria Silvia Todeski de
Souza, Vanessa Pires de P. Araujo, Lia Munhoz da Rocha, Simone Dreher,
Liliamar Hoça, Loriane Ferreira, Kareen Vedolin, Karin Patricia Miranda
Kiefer, Maria Silvia Winkeler, Kátia Beltrami, Elisangela Pilatti, Claudio
Oliver, Thalita Folmann da Silva, Iara Benício, Fernanda Pirih, Gislaine Ganz,
Maria Cecília Giovanella, Larissa Volcov.

REFERÊNCIAS metacognição. In: Curitiba:XII ENDIPE;


1. Portilho EML et al. Modalidades de 2004. Anais.
aprendizagem de quem aprende e de quem 9. Becker F. A origem do conhecimento e a
ensina. In: Curitiba: IV Educere II aprendizagem escolar. Porto Alegre:
Congresso Nacional da Área de Educação Artmed;2003.
da PUCPR;2004. Anais. p. 2-4. 10. Pogré P, Lombardi G. O ensino para a
2. Zabala A. Enfoque globalizador e compreensão. Vila Velha:Hoper;2006. p.23.
pensamento complexo. Porto Alegre: 11. Tardif M. Los saberes del docente y su
Artmed;2002. p.45. desarrollo profesional. Madrid, España:
3. Pozo JI. Aquisição do conhecimento. Quando Nancea;2004. p.157.
a carne se faz verbo. Porto Alegre:Artmed; 12. Marchesi A. O que será de nós, os maus
2004. p.26-31. alunos? Porto Alegre: Artmed;2005. p.121.
4. Monereo Font C. Estrategias de 13. Senge P. Escolas que aprendem. Porto
aprendizaje. Madrid, España:Visor;2000. Alegre:Artmed;2005. p.73–7.
p.30. 14. Assmann H. Reencantar a educação. Rumo
5. Flavell JH. El desarrollo cognitivo. Madrid, à sociedade aprendente. Petrópolis:
España:Visor;1985. Vozes;2004.
6. Pichon-Rivière E. O processo grupal. São 15. Barbosa LMS. O papel da escola no século
Paulo:Martins Fontes;1991. p.122. XXI. PCN – parâmetros curriculares
7. Visca J. Clínica psicopedagógica. Episte- nacionais. v.3. Curitiba:Bella Escola;2002.
mologia Convergente. Porto Alegre:Artes 16. O’Sullivan E. Aprendizagem transfor-
Médicas;1987. p.73-4. madora. Uma visão transformadora para o
8. Portilho EML. A aprendizagem na univer- século XXI. São Paulo:Cortez, Instituto
sidade: os estilos de aprendizagem e a Paulo Freire;2004. p.378.

Trabalho realizado em uma rede municipal de Ensino Artigo recebido: 29/1/2009


do Estado do Paraná, PR. Aprovado: 15/2/2009

Rev. Psicopedagogia 2009; 26(79): 12-22

22

Você também pode gostar