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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS Ainda nessa concepção, distinguem-se duas vertentes: a

leiga e a religiosa.
2. Concepção e tendências pedagógicas
contemporâneas Características da concepção pedagógica tradicional
As tendências pedagógicas surgiram a partir dos
diferentes pensamentos filosóficos e os autores de O papel da escola é o de promover uma formação
forma geral concordam em classificá-las em dois puramente moral e intelectual, lapidando o aluno para a
grupos: Tendência Pedagógica Liberal e Tendência convivência social, tendo como pressuposto a
Pedagógica Progressista. O primeiro grupo representa a conservação da sociedade em seu estado atual (status
parte conservadora (ou renovada) que mantém a quo). A escola terá como foco apenas a cultura, sendo
sociedade do jeito que ela está. O segundo grupo propõe os problemas sociais resguardados apenas à própria
a transformação da sociedade, questionando suas sociedade.
relações, levando a educação como instrumento de
transformação social. Os conteúdos de ensino são aqueles que foram ao longo
do tempo acumulados e, nesse momento, são passados
Tendências Pedagógicas Liberais como verdades absolutas, sem chance de
questionamentos ou levantamentos de dúvidas em
Na pedagogia liberal a escola prepara o indivíduo para relação a sua veracidade. Nessa concepção não está
a sociedade, no entanto possui uma forma de presente a consideração sobre os conhecimentos prévios
organização baseada na propriedade privada dos meios do aluno, apenas o que está no currículo é transmitido,
de produção, denominada sociedade de classes. sem interferências ou ‘perdas de tempo’.

Tradicional A Metodologia de ensino é a exposição verbal por parte


do professor e a preparação do aluno. O foco principal
O termo pedagogia tradicional, como bem o é na resolução de exercícios e na memorização de
conhecemos através dos cursos de formação inicial e fórmulas e conceitos. Desta forma, o professor
continuada, adveio do estudo das concepções antigas de inicialmente realiza a preparação do aluno, em seguida
educação. Essa teoria ou concepção pedagógica formula a apresentação do conteúdo, correlacionando-o
formou-se a partir dos pontos recorrentes nas práticas de com outros assuntos e, por último, faz-se a
ensino evidentes ao longo da história da educação. Daí generalização e aplicação de exercícios.
o termo Pedagogia Tradicional, para explicitar a sua
recorrência, a sua gênese histórico-cronológica. A relação professor-aluno é marcada pelo autoritarismo
do primeiro em relação ao segundo. Somente o
Segundo o verbete criado pelo filósofo e pedagogo professor possui conhecimento para ensinar, o papel do
brasileiro Dermeval Saviani para o glossário do sítio da aluno é o de receber o conhecimento transmitido pelo
Unicamp disponível nas referências bibliográficas, a professor. O silêncio em sala de aula é imposto pela
introdução da denominação “Concepção Pedagógica autoridade docente.
Tradicional ou Pedagogia Tradicional foi introduzida no
final do século XIX com o advento do movimento Os Pressupostos da aprendizagem são fundamentados
renovador que, para marcar a novidade das propostas na receptividade dos conteúdos e na mecanização de sua
que começaram a ser veiculadas, classificaram como recepção. A aprendizagem se dá por meio da resolução
‘tradicional’ a concepção até então dominante”. de exercícios e da repetição de conceitos e recapitulação
do saber adquirido sempre que necessário for reavivá-lo
A visão da concepção pedagógica é a busca pela na mente. A avaliação também é mecânica e ocorre por
essência do homem e para realizar as suas inferências meio de resolução de tarefas enviadas para casa, provas
coloca o professor como o centro de todo o processo arguitivas e escritas.
educativo, mantendo a visão no desenvolvimento do
intelecto, na imposição da disciplina como parte Ao destacar as principais características da concepção
fundamental para o sucesso educacional, na tradicional percebemos que ela se encontra cada vez
memorização dos conteúdos como forma de mais presente nas práticas pedagógicas atuais. Apesar
apropriação dos conhecimentos tidos como essenciais. de hoje em dia se pregar a importância de evidenciar o
conhecimento prévio do aluno, pouco se ver o
aproveitamento posterior dessa investigação e, o aprendizado, constrói-se ele. E essa construção deverá
principalmente, a sua correlação com os conteúdos ser feita por todos, professores, alunos e comunidade
curriculares organizados. escolar, através da prática alicerçada na teoria.

Não é preciso ir muito longe para percebermos as “Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
metodologias tradicionais de ensino sendo utilizadas torna uma atividade de descoberta, é uma auto-
pelos professores da atualidade: exposição verbal, foco aprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio
nos exercícios, na repetição e na memorização. No caso estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à
da relação professor-aluno, ainda prevalece, na maioria atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que
das escolas, o predomínio da autoridade do professor, é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para
bem como a imposição do silêncio. A avaliação está ser empregado em novas situações. É a tomada de
totalmente ligada à concepção tradicional, dando-se por consciência, segundo Piaget”. (SILVA, Delcio Barros
meio de tarefas para casa e, quase que exclusivamente, de.)
pela prova escrita.
O aluno passa a ter a autonomia da sua aprendizagem.
Tendência Liberal Renovada Progressivista Ele passa a proporcionar a sua própria aprendizagem,
atribuindo maior responsabilidade ao seu atual papel de
Grandes mudanças, se comparada com a Tendência promotor-receptor do conhecimento. Das suas
Tradicional (TT), podem ser percebidas na Tendência atividades nasce aquilo que será incorporado na sua
Liberal Renovada Progressivista (TLRP). Por exemplo, estrutura cognitiva, tornando-o consciente.
se antes o professor era o núcleo do processo de
ensinoaprendizagem, a peça mais importante de todo Características principais
esse processo, o protagonista, na TLRP esses papéis
foram ofertados ao aluno. É ele agora quem ganha o O papel da escola é o de promover a satisfação dos
enfoque principal. A educação é pensada para ele, mas alunos em relação aos interesses por eles apresentados,
também por ele. mas também de atender as exigências da sociedade,
tudo isso num processo onde todos participam
No contexto acima, a educação tem como objetivo ativamente da construção do conhecimento, recebendo-
principal preparar os alunos para exercerem o seu o e promovendo-o.
devido papel na sociedade, ou seja, a educação facilita
o entendimento do que é a convivência social e as regras Os conteúdos de ensino são aqueles gerados a partir de
necessárias para essa convivência. Para que essa experiências, da vivência e convivência social, das
aprendizagem aconteça, a TLRP destaca a importância pesquisas etc. Nesta concepção consideram-se todos os
do fazer para aprender. Essa é, sem dúvidas, a principal processos mentais, bem como as habilidades cognitivas.
diferença da TLRP para a TT. Enquanto a primeira A ideia chave aqui é “aprender a aprender”. (LAGAR et
valoriza a pesquisa, os experimentos, o estudo do meio al. 2013). As metodologias de ensino baseiam-se na
social e natural, a descoberta, a segunda valoriza apenas promoção de atividades devidamente adequadas ao
a transmissão de conteúdos prontos, acabados, desenvolvimento do aluno, assim como à sua natureza.
acumulados ao longo do tempo e batizado de cultura. O aprendizado é marcado pela prática, pelo fazer para
Para a Tendência Tradicional, apenas o saber aprender, através de trabalhos em grupo, de desafios e
acumulado merece atenção, sendo os experimentos e a de atividades motivadoras.
pesquisa, por exemplo, encarados como mera perda de
tempo. A relação professor-aluno é marcada pela
horizontalidade. O professor, diferentemente da TT, não
Percebe-se na Tendência Liberal Renovada é o protagonista, e sim o aluno. Aqui o professor ganha
Progressivista o enfoque no aluno, a possibilidade o papel de facilitador e ajuda o aluno no seu
natural no seu aprendizado, mas também no seu desenvolvimento livre e espontâneo.
momento de ensinar, de testar, de tentar, de
experimentar, de aprender fazendo inferências, A disciplina é definida como atitudes solidárias,
modificando o meio, transformando-o. Essas ofertas ao participativas, respeitáveis. Os principais
aluno surgem como necessidade que ele apresentava autores/pensadores desta concepção pedagógica são:
quando ainda sem voz. Com toda certeza não se impõe
Dewey, Declory, Anísio Teixeira, Claparède, Piaget, coerência as próprias percepções ao caminho adequado
Montessori, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo. das exigências da sociedade.
• A teoria defende o seguinte princípio só é possível
A Tendência Liberal Renovada Progressivista é para as aprender o que estiver essencialmente relacionado com
escolas que pretendem dar voz ao aluno, que querem se as percepções fundamentais das exigências do meio
tornar um verdadeiro laboratório de ensino e, social. Educar é compreender as exigências do seu
consequentemente, de aprendizagem. A Escola meio.
Progressivista é aquela que dá espaço ao fazer, ao • O processo de avaliação atende esse fundamento de
experimentar. O Professor Progressivista é aquele que relevância com relação ao meio ambiente e a lógica
visa à facilitação da aprendizagem do aluno, tornando- cognitiva do desenvolvimento do eu.
o autônomo e livre para aprender e alimentar a sua • Sem a dialética desse fundamento, não tem
estrutura cognitiva. O Aluno Progressivista é aquele que significação o propósito educacional da Pedagogia
se sente livre para falar, agir e transformar. É aquele que liberal renovada não diretiva.
assume a responsabilidade sobre a sua aprendizagem e • Naturalmente que o mecanismo pedagógico dessa
convive em harmonia com todos ao seu redor, tendência transforma avaliação sem razão
respeitando o espaço de cada um e contribuindo para a epistemológica, porque em sua essência termina por
elevação do coletivo ao invés do individual. privilegiar-se a auto-avaliação.
• Essa é uma das críticas a Pedagogia em referência,
Renovadora não-diretiva além de considerar que não é científica por não usar
critério da verificação, e por outro lado, por ser uma
É uma corrente pedagógica em que o papel da escola é Pedagogia não politizadora.
a formação de atitudes, há uma desvalorização do • Trata-se de uma pedagogia cujo aluno é o centro, mas
ensino e supervalorização dos problemas psicológicos. um centro desfocado das Ciências e das questões
Os conteúdos de ensino baseiam-se em facilitar aos políticas.
alunos os meios para buscarem por si mesmos os
• A função do professor, apenas de facilitar o processo
conhecimentos.
do mecanismo de adaptação dos alunos as questões do
meio.
Os métodos usuais são dispensados, o educador passa a
• A escola tem como razão de ser a promoção dos
ser um facilitador onde pesquisa os meios para que a
alunos ajudar no desenvolvimento, os mesmos devem
aprendizagem ocorra.
buscar os conhecimentos, cujos propósitos relacionam
com a ideologia da escola em questão.
A educação é centralizada no aluno. Quanto a
aprendizagem, entende-se que aprender é modificar as • O professor de certa forma é o próprio método, na sua
percepções da realidade. função de facilitar ao aluno, para que os referidos
possam atingir os objetivos da escola, que são a priori
os objetivos dos estudantes.
• A Pedagogia de tendência liberal renovada não
diretiva, procura defender na sua formulação • Uma educação centrada na Pedagogia cuja referência
pedagógica, a função que a escola deve cumprir na básica é o aluno. Com efeito, o professor antes de ser
formação das atitudes dos alunos. um grande educador precisa ser especialista nas
relações humanas, com a finalidade de facilitar com
• Motivo fundamental que a escola sempre está mais
naturalidade as adaptações sociais.
preocupada com problemas de ordem psicológicos do
que com as questões de natureza essencialmente
Tecnicista
pedagógicas ou sociais políticas conforme reflete muito
bem o professor Libânio.
A década de sessenta foi uma época de grandes
• Aprendizagem precisa favorecer ao esforço constante
transformações, como protestos estudantis, movimentos
com o propósito de desencadear uma mudança dentro
de contracultura, movimento feminista, liberação
do aluno, ou seja, a provocação a adequação do aluno as
sexual, movimento dos direitos civis nos Estados
exigências do meio ambiente.
Unidos, luta contra o regime militar no Brasil, entre
• O que significa a lógica epistemológica da referida outros. Não é coincidência que surgissem, também
Pedagogia, aprender é antes de tudo modificar com nessa época linhas de pensamento opostas à estrutura da
educação tradicional (SILVA, 1999).
ou evitar (ou adiar) um desprazer. Este autor coloca que
Segundo Ghiraldelli (2001), identificam-se muitas existem agências capazes de manipular algumas destas
características tecnicistas desde o movimento da escola consequências a fim de controlar certos
nova em meados dos anos 20 e 30, sendo claramente comportamentos, são chamadas de Agências
notável no escolanovismo piagetiano dos anos 60 e 70. Controladoras, entre as quais temos o governo, a
O tecnicismo enquanto movimento surgiu nos Estados religião, a economia, a psicoterapia e a educação.
Unidos durante a segunda metade do século XX e no Talvez o mais óbvio tipo de controle seja o controle
Brasil a partir do golpe militar em 1964, influenciado governamental, o governo se utiliza principalmente do
principalmente pelas correntes positivista de Comte e poder para punir. Apesar de nem sempre exercer um
behaviorista de Skinner (GARCIA, 2005). Durante a controle concreto, o governo emprega asseclas –
década de 70, a tendência tecnicista cresceu com intermediários – que serão governados por ele. O
características próprias, passando a ser considerada a governo tem a preocupação de estabelecer o
Pedagogia Oficial, sendo notória nas bibliografias comportamento obediente, pois este comportamento
adotadas nos concursos públicos para atuação no prepara o indivíduo para ocasiões futuras que não
magistério, também as publicações pedagógicas podem ser previstas, para as quais o indivíduo não tem
tecnicistas obtiveram um aumento considerável. Apesar resposta e, portanto o indivíduo simplesmente faz o que
do volume de publicações nesta época, o debate mandam. (SKINNER, 1998).
filosófico ficou reduzido no campo educacional,
debates como Skinner versus Piaget centralizava a Cabe à educação, como modelação do comportamento
atenção do grupo dos professorados. (ARANHA, citado por GARCIA, 2005), manter o status
quo e aperfeiçoar o sistema social vigente, o que
O positivismo é uma corrente filosófica iniciada por implicava na época uma articulação direta com o
Augusto Comte que propõe que somente os sistema político e produtivo.
conhecimentos baseados em fatos observáveis podem
ser considerados reais; e as leis que regem os fenômenos Segundo o dicionário da língua portuguesa (AURÉLIO,
podem ser apreendidas por meio da observação e do 1993), entende-se por técnica “o conjunto de processos
raciocínio. O positivismo redunda no cientificismo: o duma arte ou ciência”, por tecnicidade “qualidade ou
método científico (a observação e experimentação) caráter do que é técnico (...)” e por tecnicismo “abuso
passa a ser estendido para outros campos do da tecnicidade”.
conhecimento e da atividade humana. Aplicando-se o
positivismo ao estudo do comportamento humano, Aranha (1996) relaciona o crescimento da importância
temos as concepções deterministas, que aplicam ao dada à técnica ao desenvolvimento industrial e
comportamento as mesmas leis invariáveis que regem científico do mundo contemporâneo, em que passou a
os fenômenos naturais (ARANHA, 1996). ser requerida uma formação técnica especializada, para
que o trabalhador pudesse acompanhar e atender às
Segundo a corrente positivista, o ser humano é visto demandas próprias do momento sócio-econômico.
como produto do meio, resultado das influências
culturais e sociais a que está submetido e passível de Esta autora acrescenta que, esta corrente de pensamento
controle pela educação. O fato de Portugal, na época da que se iniciou principalmente nas grandes empresas,
colonização do Brasil, ser um país extremamente estendeu-se ao Estado, aos partidos e inclusive ao
atrasado com relação aos demais países europeus, fez âmbito escolar, em resposta à decepção gerada pela
com que o Brasil sofresse de uma “síndrome de escola nova ao não atender algumas expectativas
insuficiência filosófica” (CASTELLANI, 1988), o que depositadas sobre ela. Assim surge a escola tecnicista,
contribuiu para que as ideias positivistas fossem de origem norte americana, como extensão dos
facilmente aceitas e disseminadas na nossa sociedade. processos organizacionais da indústria.
Somam-se a este fator os anseios pelo progresso,
anseios estes predominantes, e praticamente unânimes, Sendo assim, na educação preponderam os aspectos
na sociedade da época. organizacionais do sistema de ensino, a mesma é
voltada para a racionalidade, eficiência e produtividade.
Segundo Skinner (1998) o comportamento é
determinado por suas consequências, ou seja, o A prática escolar, dentro desta perspectiva e dentro do
comportamento é emitido para obter uma recompensa contexto brasileiro, tinha como função adequar o ensino
com a proposta econômica e política da época (regime Ainda segundo Bracht (1999);
militar), portanto buscava preparar mão de obra que
pudesse ser aproveitada pelo exército e pelo mercado de Aumento do rendimento atlético-esportivo, com o
trabalho. registro de recordes, é alcançado com uma intervenção
científico-racional sobre o corpo que envolve tanto
Uma vez que esta tendência considera o ser humano aspectos imediatamente biológicos, como aumento da
como um resultado das forças existentes em seu resistência, da força etc., quanto comportamentais,
ambiente, o aluno é visto como um recurso humano como hábitos regrados de vida, respeito às regras e
(meio) para o mercado de trabalho, estabelecendo uma normas das competições, etc. (BRACHT, 1999, p.74).
relação em que o professor planeja e o educando
executa, apresentando assim comportamentos Inspirado também no nacionalismo que tomava conta
esperados. É o técnico quem seleciona e desenvolve o dos anos de ditadura militar no Brasil (de 1964 a 1985)1
conteúdo e método que garantem a suposta eficiência e o desporto se constituía novamente como ferramenta
eficácia do ensino. política ora com levantes ufanistas ora com levantes de
um positivismo, que na realidade se mostrava como
Com base na competência, Castro (1996) diz que a uma provável ordem e progresso para nosso país (fato
educação brasileira reflete uma cultura autoritária, este que carregamos desde nossa Independência).
sendo o professor possuidor do poder, responsável por
apenas falar aquilo que possui como conhecimento, seus O desporto para todos era o lema desta época e
pensamentos ao aluno, este aceitando de forma passiva, formulava-se a pirâmide da elite desportiva no cume,
sem manifestações, anulando toda a possível organização desportiva, equipamento básico urbano,
participação do aluno no processo de ensino ou educação física/desporto escolar no meio e o desporto
aprendizagem, acentuando a obediência e ao não de massa conforme pirâmide ilustrada por Tubino
questionamento. (1996).

A relação professor aluno caracterizava-se por uma


relação “instrutor – recruta”, devido à influência militar
sofrida pela Educação Física Escolar, mas também por
uma relação “treinador – atleta”, já que o esporte
determinava o conteúdo de ensino da Educação Física
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Estes autores afirmam que a Educação Física Escolar


revelava uma identidade esportiva que veio a ser
fortalecida pela pedagogia tecnicista, já que possuíam
os mesmos pressupostos de racionalização, busca da
eficiência e eficácia. Nesta abordagem, as práticas
avaliativas baseiam-se em procedimentos mecânico-
burocráticos, como aplicação de testes, seleção de
alunos, atribuição de notas e detecção de talentos, como Tendências Pedagógicas Progressistas
explicam os mesmos autores.
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as
Utilizada para atingir o interesse imediato e produzir tendências que, partindo de uma análise crítica das
indivíduos competentes para o mercado capitalista, essa realidades sociais, sustentam implicitamente as
tendência tem como premissa a eficiência, a rigidez dos finalidades sociopolíticas da educação.
conteúdos e a competitividade. Segundo Bracht (1999
p.73) “há exemplos marcantes na história desse tipo de Libertadora
instrumentalização de formas culturais do movimentar-
se, como, por exemplo, a ginástica: Jahn e Hitler na Paulo Freire é o principal autor dessa tendência. Esta
Alemanha, Mussolini na Itália e Getúlio Vargas e seu pedagogia propõe uma educação crítica a serviço da
Estado Novo no Brasil.” transformação social. Nessa corrente o papel da escola
está baseado na formação da consciência política do
discente para agir e modificar a realidade. Os conteúdos sociedade. Sua criação, conhecida como método de
são extraídos por meio de Temas geradores retirados da educação libertadora, passa por três estágios.
problematização do cotidiano dos educandos. Os
métodos de ensino são baseados em grupos de discussão O primeiro é o da investigação, durante o qual mestre e
e deve promover a vivência de relações efetivas. O aprendiz discutem vocábulos e questões que têm maior
professor e aluno são sujeitos do ato do conhecimento, importância na existência do aluno, no interior do grupo
a relação é de igual para igual. A aprendizagem ocorre no qual ele vive. A segunda etapa é a da tematização –
por meio da troca de experiência em torno da prática este é o instante de conscientização em relação ao
social O Método Paulo Freire não se detém na mera mundo, por meio da avaliação dos sentidos sociais
alfabetização tradicional, baseada principalmente no assumidos por temáticas e palavras.
uso da cartilha, que ele rejeita categoricamente no
aprendizado da leitura e da escrita. O educador defende O terceiro momento é o da problematização, quando o
e incentiva o posicionamento do adulto não alfabetizado professor provoca e motiva seus estudantes a
no meio social e político em que ele vive, ou seja, no transcenderem o ponto de vista mítico e desprovido de
seu contexto real. críticas do universo que ele habita, para que possam
atingir a fundamental tomada de consciência.
Desta forma, acredita o mestre, é possível acordar a
consciência do aluno para que ele seja capaz de exercer O educador aconselha que sua corrente pedagógica seja
seu papel de cidadão e se habilitar a revolucionar a praticada em cinco fases. Primeiro, uma avaliação das
sociedade. Assim, o letrado pode transcender a simples condições linguísticas dos alunos, sempre com a
esfera do conhecimento de regras, métodos e aceitação da linguagem de cada um; segundo, a seleção
linguagens, e ser então inserido na esfera de determinados vocábulos, conforme sua importância
sócioeconômica e política da qual fora excluído. fonética, o nível de dificuldades e seu papel sócio-
cultural e político para o grupo em questão; no terceiro
O domínio das letras e das palavras é um instrumento momento privilegia-se a elaboração de contextos
para que o adulto alfabetizado elabore sua consciência vivenciais típicos da comunidade abordada, para que os
política, conquistando um ponto de vista integral do alunos aprendam a analisar criticamente as questões
saber e do universo que habita. O ideal de Paulo Freire levantadas no contexto em que vivem.
brotou justamente do ambiente no qual ele foi criado;
nascido no Recife, ele conhecia bem a realidade do A quarta etapa se resume à elaboração de fichas que
Nordeste do país, e foi durante os anos 50 que ele atuam como roteiros para as discussões, sem que elas
elaborou seu método. necessariamente sejam adotadas enquanto preceitos
inflexíveis; a quinta fase consiste, enfim, na produção
Nesta época a região nordestina abrigava um número de cartões com palavras que deverão ser decompostas
elevado de analfabetos, pelo menos metade de seus em grupos fonéticos congruentes com os vocábulos
moradores, uma consequência direta do período criadores.
colonial e de um contexto de repressão, tirania,
restrições e carências ilimitadas. Sua metodologia é, Libertária
portanto, fruto de muito tempo de gestação e meditações
de Paulo Freire no âmbito da pedagogia. Ele se Esta tendência tem por influência os estudos de crítica
preocupava particularmente com os adultos que das instituições em favor de um projeto autogestionário,
habitavam as áreas socialmente excluídas, tanto nas desenvolvidos por Maurício Tragtenberg (1929-1998)
cidades quanto no campo, em Pernambuco. mesmo não sendo um trabalho voltado diretamente à
pedagogia. Contudo, ao propor um processo
Na metodologia de Freire o mestre se posiciona ao lado essencialmente de autogestão das instituições, busca
de seus aprendizes para que juntos possam organizar as superar os vários limites da burocracia institucional e,
atividades desenvolvidas nas classes, todas baseadas no na maioria das vezes, também pedagógica. Temos como
debate de temáticas sócio-políticas, inerentes ao representantes dessa tendência alguns teóricos
contexto vivenciado por eles. Assim, seu método não conhecidos, como: Freinet, Vasquez, Oury, Ferrer e
age apenas no circuito educativo, mas também na Guardia, entre outros.
economia, na política e nas demais esferas da vida em
Como princípios fundamentais da Pedagogia Libertária, organiza-se de forma mais efetiva e, finalmente, no
podemos destacar a preocupação em transformar a quarto momento, parte para a execução do trabalho”.
personalidade dos alunos num sentido libertário e (LIBÂNEO, 1994, p. 67-68).
autogestionário. A educação, por meio da escola, deve
estar baseada na participação grupal, favorecendo os Crítico-social dos conteúdos
processos de distribuição do poder, via assembleias,
reuniões, conselhos, eleições, entre outros mecanismos As propostas desta tendência foram desenvolvidas, no
antiautoritários. Este procedimento tem por intenção Brasil, por Dermeval Saviani, o qual se baseia em vários
garantir a participação de todos os agentes, envolvidos autores, como: Marx, Grasmci, Kosik, Snyders, entre
no processo educativo, buscando estimular à autonomia outros. Junto a Saviani, temos vários outros educadores
dos alunos a solidariedade. As ações pedagógicas que elaboram a favor desta corrente, dos quais
devem partir do princípio do não controle, isto é, os destacamos José C. Libâneo, Carlos R. J. Cury e
alunos não são obrigados a participar de nenhuma Guiomar N. de Mello.
atividade que não queiram, contudo, é função do grupo
e do professor compreender porque este aluno não quer Como as outras tendências progressistas, a Crítico-
estar incluído. O poder do professor, de forma alguma, social dos conteúdos também está preocupada com a
deve ser referência nas ações pedagógicas, pois o função transformadora da educação em relação à
professor deve ser um orientador, um catalisador, um sociedade, sem, com isso, negligenciar o processo de
membro a mais do grupo escolar, estimulando os construção do conhecimento fundamentado nos
processos de reflexão e aprendizado. conteúdos acumulados pela humanidade. Segundo
Aranha (1996), a Pedagogia Crítico-social dos
São os alunos que definem o que se deve estudar, sem conteúdos, ou, como também é conhecida, a Pedagogia
necessariamente haver um rol de disciplinas e Histórica-crítica, busca: “Construir uma teoria
conteúdos predefinidos. O conhecimento é construído pedagógica a partir da compreensão de nossa realidade
na fusão dos trabalhos intelectual e manual, buscando histórica e social, a fim de tornar possível o papel
sempre uma resposta às necessidades e às exigências mediador da educação no processo de transformação
das questões vinculadas à vida de cada um, em seus social. Não que a educação possa por si só produzir a
aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, entre democratização da sociedade, mas a mudança se faz de
outros. forma mediatizada, ou seja, por meio da transformação
das consciências”. (ARANHA, 1996, p. 216).
“Método de ensino da Pedagogia Libertária: é na
vivência grupal, na forma de autogestão, que os alunos Pode-se perceber, na fundamentação desta tendência,
buscarão encontrar as bases mais satisfatórias de sua uma preocupação com a transformação social, contudo,
própria 'instituição', graças à sua própria iniciativa e sem para tal, parte-se da compreensão da realidade, a partir
qualquer forma de poder. Trata-se de 'colocar nas mãos da análise do mundo do trabalho, das vivências sociais,
dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida, buscando entendê-lo não como algo natural, mas sim
as atividades e a organização do trabalho no interior da construído culturalmente - torna-se importante no
escola (menos a elaboração dos programas e decisão dos processo de transformação social a mediação cultural.
exames que não dependem nem dos docentes, nem dos
alunos)'. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, Da mesma maneira, é imprescindível conceber que a
ficando o interesse pedagógico na dependência de suas educação - via escola - trabalhe amplamente com os
necessidades ou das do grupo. conteúdos. Neste caso, Libâneo (1994), a respeito do
papel da escola, diz que: “A difusão de conteúdos é a
O progresso da autonomia, excluída qualquer direção de tarefa primordial. Não conteúdos abstratos, mas vivos,
fora do grupo, dá-se num 'crescendo': primeiramente concretos e, portanto, indissociáveis das realidades
oportunidade de contatos, aberturas, relações informais sociais. A valorização da escola como instrumento de
entre os alunos. Em seguida, o grupo começa a apropriação do saber é o melhor serviço que se presta
organizarse, de modo a que todos possam participar de aos interesses populares, já que a própria escola pode
discussões, cooperativas, assembleias, isto é, diversas contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la
formas de participação e expressão pela palavra; quem democrática. Se a escola é parte integrante do todo
quiser fazer outra coisa, ou entra em acordo com o social, agir dentro dela é também agir no rumo da
grupo, ou se retira. No terceiro momento, o grupo transformação da sociedade. Se o que define uma
pedagogia crítica é a consciência de seus condicionantes O Construtivismo sintetiza as teorias que buscam
histórico-sociais, a função da pedagogia 'dos conteúdos' vislumbrar os processos de construção do
é dar um passo à frente no papel transformador da conhecimento, assim como discutir a complexidade do
escola, mas a partir das condições existentes”. processo de aprendizagem. Vários autores dedicaram-se
(LIBÂNEO, 1994, p. 69). a estudos nesta linha, dos quais destacamos: Piaget
(Epistemologia genética ou Construtivismo liberal
E continua afirmando: “Assim, a condição para que a piagetiano) e Vygotsky (Construtivismo sócio-
escola sirva aos interesses populares é garantir a todos histórico); mas também, é importante lembrar-se de
um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos Emília Ferreiro e Remi Wallon.
escolares básicos, que tenham ressonância na vida dos
alunos. Entendida nesse sentido, a educação é 'uma Neste momento, é importante frisar que as teorias
atividade mediadora no seio da prática social global', ou construtivistas buscam uma superação das teorias
seja, uma das mediações pela qual o aluno, pela inatista e empirista, as quais buscam explicar as origens
intervenção do professor e por sua própria participação (fontes) do conhecimento, em que o inatismo afirma que
ativa, passa de uma experiência inicialmente confusa e o conhecimento é a priori (o sujeito nasce com os
fragmentada (sincrética) a uma visão sintética, mais saberes) e, por outro lado, o empirismo acredita que o
organizada e unificada”. (LIBÂNEO, 1994, p. 69). conhecimento é produzido a partir das sensações, das
experiências (o sujeito é uma tábula rasa e suas
Para Libâneo, portanto, é fundamental que se entenda experiências vão fornecendo os conhecimentos ao longo
que: “A atuação da escola consiste na preparação do da vida).
aluno para o mundo adulto e suas contradições,
fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição O conhecimento não pode ser concebido nem de uma
de conteúdos e da socialização, para uma participação forma (inata) nem de outra (conhecimento a posteriori)
organizada e ativa na democratização da sociedade”. e, sim, o conhecimento necessariamente vai ser
(LIBÂNEO, 1994, p. 70). construído a partir das experiências (fatores externos ao
indivíduo) e pelas características próprias do sujeito
Entendo, pois, que o processo educativo: “É passagem (fatores internos do indivíduo), ou seja, cada indivíduo
da desigualdade à igualdade. Portanto, somente é passa por várias etapas, em que organiza o pensamento
possível considerar o processo educativo em seu e a afetividade. Diante dessa perspectiva, Aranha (1996,
conjunto como democrático sob a condição de p. 202) destaca a ideia de que, para os construtivistas, "a
distinguir-se a democracia como possibilidade no ponto criança não é passiva nem o professor é simples
de partida e a democracia como realidade no ponto de transmissor de conhecimento. Nem por isso o aluno
chegada. Consequentemente, aqui também vale o dispensa a atuação do mestre e dos companheiros com
aforismo: democracia é uma conquista; não um dado. os quais interage. Mais propriamente, o conhecimento
(...) Não se trata de optar entre relações autoritárias ou resulta de uma construção contínua, entremeada pela
democráticas no interior da sala de aula, mas de articular invenção e pela descoberta"
o trabalho desenvolvido nas escolas com o processo de
democratização da sociedade.

E a prática pedagógica contribui de modo específico,


isto é, propriamente pedagógico para a democratização
da sociedade, na medida em que se compreende como
se coloca a questão da democracia relativamente à
natureza própria do trabalho pedagógico”. (SAVIANI,
1987,80-82). Não se tem a pretensão de esgotar, a
discussão sobre as tendências progressistas, muito pelo
contrário, o intuito é o de fazer uma introdução a
respeito de cada uma delas, para, a partir daqui, indicar
um processo de aprofundamento posterior. Contudo,
ainda abordar, de forma sucinta, características gerais
do Construtivismo.

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