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TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR

As tendências pedagógicas no Brasil estão diretamente ligadas às questões


sociais e políticas, enquanto um reflexo dos propósitos estabelecidos pela
escola e pela sociedade. Os principais aspectos que definem cada corrente
pedagógica são os conteúdos abordados, os métodos de ensino, as
motivações no processo de aprendizagem, suas manifestações e a relação
estabelecida entre o professor e o aluno.

Existem duas vertentes principais no contexto das tendências pedagógicas: a


liberal e a progressista. Elas surgiram no século XIX, a partir de circunstâncias
históricas ao redor do mundo nos cenários social e filosófico, e tiveram
influência da Revolução Francesa, com os princípios de “igualdade, liberdade e
fraternidade”, o que foi decisivo para a disseminação do liberalismo e do
sistema capitalista.

A vertente liberal é pautada na preparação do indivíduo para desempenhar


papéis sociais, com base nas suas aptidões individuais. Promove valores e
normas da sociedade de classes, alinhados ao ideário capitalista. Essa
vertente contempla quatro correntes:

 Liberal Tradicional;
 Liberal Renovadora Progressiva;

 Liberal Renovadora Não Direta;

 Tecnicista.

A vertente progressista, por sua vez, possui uma essência sócio-política,


propondo que o sujeito desenvolva uma visão crítica do meio em que vive e do
contexto social, a fim de que ele seja um agente transformador da realidade. O
progressismo na prática escolar se divide em três correntes:

 Progressista Libertadora;
 Progressista Libertária;

 Progressista Crítico-Social dos Conteúdos.

Então, vamos abordar neste artigo as concepções e tendências


pedagógicas da educação no Brasil e, assim, compreender as diferentes
premissas sobre o papel da escola que embasam o processo de ensino-
aprendizagem. Vamos começar pelas tendências pedagógicas da vertente
liberal.

Pedagogia Liberal Tradicional

Considerada primitiva dentre os processos educativos, a pedagogia tradicional


é oriunda da educação jesuítica, com a catequização dos índios pelos padres
jesuítas, numa época em que já se estabelecia uma relação vertical entre
educador e educando. O professor era a figura central no processo educativo,
detentor de todo o conhecimento e reputado superior aos alunos, que, por sua
vez, não tinham base alguma sobre os ensinamentos.

Apesar de ser considerada arcaica em muitos aspectos, a pedagogia


tradicional se disseminou de tal forma que resquícios desse método de ensino
ainda permeiam em muitas escolas. Suas práticas e metodologias têm como
principais características:

 Enaltecer a figura do professor como um transmissor de conhecimento


(perspectiva magistrocêntrica), que assume uma postura de liderança e
autoritarismo;
 Programas de ensino ordenados numa progressão lógica, com a
valorização de conteúdos enciclopédicos e descontextualizados;

 Valoriza os saberes necessários para a adaptação na sociedade numa


perspectiva tradicional;

 Homogeneização da sala de aula: considera que todos os alunos são


iguais em suas capacidades e aptidões, desconsiderando
individualidades;
 O aluno é um receptor passivo das informações e submisso ao
professor.

Pedagogia Liberal Renovada Progressivista

No início do século XX, um movimento de renovação da educação chamado


Escola Nova ficou ainda mais forte, especialmente na Europa, América e no
Brasil, também impulsionado pelos avanços científicos nos campos da biologia
e psicologia.

Por aqui, a Escola Nova tinha a intenção de promover a modernização,


democratização e a industrialização da sociedade, a partir da introdução de
novas ideias e técnicas nas práticas pedagógicas. Algumas das suas principais
propostas consistiam em colocar o aluno no centro do processo educacional,
considerar suas individualidades, introduzir métodos ativos na aprendizagem,
dentre outras. Com isso, surgiram novas tendências pedagógicas.

Também conhecida como Pragmatista, a Pedagogia Renovada Progressivista


defende a ideia da autoaprendizagem, basicamente, de que o aluno tem de
aprender a aprender, ou seja, aprender fazendo. O próprio sujeito desenvolve o
seu processo de aprendizagem, de acordo com as suas necessidades e
inclinações individuais.

Dessa forma, a atuação do professor passa a ser mais de auxiliar do que


ensinar, e os alunos, apesar da autonomia, têm uma orientação prevista nos
programas de ensino, que são baseados nas necessidades para viver em
sociedade.

Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva

Da mesma forma que a anterior, a Pedagogia Renovada Não Diretiva tem o


pressuposto de renovação e de atender às necessidades do aluno em relação
ao processo de aprendizagem. A diferença é que, nessa pedagogia, há um
foco maior nas questões psicológicas e emocionais do estudante, tornando as
aulas, basicamente, mais próximas a uma terapia.

A Pedagogia Renovada Não Diretiva tem a preocupação de formar valores,


promover o amadurecimento emocional, a autonomia, a realização pessoal e
priorizar fatores psicológicos dos alunos. Por se tratar de um processo interno,
ela sustenta a ideia da educação centrada no estudante e, portanto, uma
prática pedagógica antiautoritária.

Um dos principais idealizadores dessa pedagogia foi o psicólogo Carl Rogers,


que defendia na prática escolar:

 O autodesenvolvimento (experiências e formação individuais);


 A autoavaliação;

 A preparação do sujeito para desenvolver papéis sociais;

 Uma relação entre professor e aluno genuína e mais pessoal.

Pedagogia Liberal Tecnicista

Com o objetivo de atender aos interesses econômicos e sociais no período da


ditadura militar, a educação passou por uma reestruturação, a partir da
expansão do mercado e uma sociedade mais industrializada e urbanizada.

A Pedagogia Tecnicista é a última dentre as tendências pedagógicas da


vertente liberal. Ela se estabeleceu no Brasil na década de 60, promovendo
uma nova relação entre educação e trabalho, pautada na teoria do capital
humano.

O foco da educação era desenvolver habilidades e conhecimentos que


favorecessem a máquina social, apoiada no desenvolvimento econômico e
social do País. Essa pedagogia buscava formar mão-de-obra especializada,
conforme as qualificações necessárias para a atuação no mercado de trabalho.
Por isso, as práticas escolares tinham como base as competências técnicas,
em que o aluno assumia o papel de espectador e aprendia por meio de
treinamentos e orientações do professor, o qual era responsável por controlar
os processos de ensino, modelar comportamentos e assegurar que os
objetivos pré-estabelecidos fossem atingidos.

O professor era considerado um especialista, que ensinaria o passo a passo


para que os alunos absorvessem um determinado conhecimento, geralmente,
com o propósito de melhorar a eficiência, qualidade, racionalidade, e outros
aspectos importantes para as empresas e o sistema capitalista.

Pedagogia Progressista Libertadora

Essa é a primeira corrente da vertente progressista, também conhecida como


Freireana – em referência ao educador e filósofo Paulo Freire. Ele defendia que
quando o sujeito conhece a sua realidade, ele consegue modificá-la. Portanto,
a Pedagogia Progressista Libertadora tem como princípio a reflexão crítica
sobre a realidade.

Essa corrente compreende que o aluno já chega à escola com uma bagagem
de saberes e experiências vividas no seu primeiro meio de aprendizagem, que
é a sua própria casa. Para Freire, esse deveria ser o ponto de partida para a
construção do processo pedagógico. Assim, ele pregava a ideia de que o
ensino deveria fazer sentido, ser contextualizado ao meio social, por meio da
reflexão e crítica de situações-problema.

Essa pedagogia acredita que os processos educacionais devam ser um ato


político, por ter uma forte ligação com o lado social, um aspecto bastante
abordado nessa corrente. Dessa forma, a relação entre professor e aluno
deveria se dar, essencialmente, de forma horizontal, à base do diálogo em
grupos de discussão, como ferramenta de desenvolvimento dos estudantes
para a transformação social.

Pedagogia Progressista Libertária

Nesse caso, libertária vem de libertarianismo, no sentido de que nem sempre é


necessário ter uma autoridade dentro do processo educativo. Portanto, nessa
pedagogia, se defende que a educação deva ser gerenciada por ela mesma,
com a ideia da autogestão e o estímulo à própria iniciativa. Dessa forma, o
aluno é colocado no centro do processo e, além disso, coordena a sua
aprendizagem.

Portanto, é permitido que o estudante faça as suas escolhas, em termos de


conteúdos a serem aprendidos, conforme as suas necessidades e prioridades.
E o mesmo serve para as escolas, que podem se autogerir sem a interferência
de uma autoridade externa. Assim, as decisões sobre os mecanismos e
processos de ensino são tomadas de forma coletiva e democrática com a
comunidade escolar.

O fator motivacional dessa pedagogia está no interesse do sujeito de crescer


dentro da vivência grupal. E o professor, por sua vez, assume a postura de
conselheiro e catalisador, por vezes sendo um monitor dos grupos de
discussão e outras participando das reflexões em comum.

De forma geral, a pedagogia libertária é associada ao anarquismo, enquanto


um movimento que desconsidera qualquer tipo de autoridade, como o governo,
sendo a favor do antiautoritarismo.

Pedagogia Progressista Crítico-Social dos Conteúdos

Por fim, esta é a última dentre as tendências pedagógicas na prática


escolar. Também conhecida como histórico-crítica, a Pedagogia Crítico-Social
dos Conteúdos, conforme seu próprio nome, compreende que os conteúdos
devam servir como uma ferramenta de transformação da sociedade. Portanto,
há maior atenção no conteúdo em si do que à metodologia.

Essa pedagogia indica que o papel da escola é preparar o aluno para a


realidade da vida adulta e se refere à educação como uma atividade mediadora
para uma atuação organizada e ativa numa sociedade democrática. Ou seja,
os ensinamentos devem ter uma correlação com a significação humana e
social, permitindo a análise crítica do conteúdo.

O professor entra em cena como um orientador e responsável por abrir


perspectivas vinculadas ao meio – natural, social e cultural – e ao modo de vida
dos alunos. Dessa forma, os alunos são estimulados a participar ativamente e
contribuir para o processo e, assim, possam usufruir de uma aprendizagem
significativa, adquirindo uma visão mais clara e unificadora

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