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Separação de poderes
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Isabel Graes
University of Lisbon
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All content following this page was uploaded by Isabel Graes on 03 November 2020.
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Realizações da
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História do Direito
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Português
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Isabel Graes
Jorge Santos
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Jorge Testos
Margarida Seixas
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Miguel Romão
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Míriam Brigas
Pedro Caridade de Freitas
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Sílvia Alves
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thd@fd.ul.pt
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Isabel Graes
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Datas relevantes:
Referências Bibliográficas:
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Ferreira, Silvestre Pinheiro, Questões de Direito Público e Administrativo, parte II, Lisboa, Typo-
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1907.
Canotilho, Gomes J. J., Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 6ª edição, Coimbra, Alme-
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dina, 2002.
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THD | Centro de Investigação da Universidade de Lisboa
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O conceito de separação de poderes tem ocupado a outro, não pode usurpar a sua função, actuando an-
atenção de inúmeros teóricos e governantes, ao longo tes segundo o seu próprio princípio. Na verdade, ao
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da história, sobretudo dos últimos três séculos, sendo invés da teoria da separação rígida do poder político,
entendido, em especial, como o aspecto fundamen- residirá a ideia metafórica de balança de poderes de
tal da constituição liberal que permite o respeito pela contornos mecanicistas ou organicistas, constituída
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garantia orgânica contra o arbítrio e o abuso do poder por dois ou três poderes (caso se entenda ou adopte
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do Estado. o modelo lockiano ou montesquino, até porque este
Ainda que seja possível vislumbrar alguns laivos último prefere a adopção da distribuição de poder a
do princípio da divisão de poderes nos textos de Aris- separação de poderes de modo que o problema con-
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tóteles e Platão ou mesmo nas magistraturas roma- siste não em manter separados os poderes políticos,
nas e no estado estamental, a estes dois últimos falta mas em permitir e conseguir que estes se conjuguem)
a ideia de especialização orgânico-funcional assim impedindo deste modo que um se evidencie mais que
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como a ligação à ideia de direitos fundamentais pelo o(s) outro(s), determinando que todos estejam uni-
que só figurará mais tarde como bastião das ideias formemente nivelados. Por sua vez, Rousseau afasta-
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publicistas. Expresso em Inglaterra no século XVII de rá a ideia de separação de poderes ainda que admita
que é exemplo o Instrument of Government, de 16 de a distinção de funções (legislativa e executiva). Não
Dezembro de 1653, estreitamente associado à ideia de obstante o presente raciocínio, o autor do Contrato
rule of law e baseado em reivindicações e critérios ju- Social considera que apenas a primeira (a legislativa)
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rídicos de cariz essencialmente anti-absolutista, este é soberana pois só esta corresponde à vontade geral
princípio está consagrado na Constituição americana do povo.
de 1787 (arts. 1º a 3º da secção I) e no art. 16º da Decla- Atendendo ao caso português, devem também ser
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ração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, consideradas as teses de Bentham e Constant, distin-
sendo transferido para o título 3º das Constituições guindo a primeira o poder legislativo, o poder exe-
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francesas de 1791 e de 1795 que influenciariam o texto cutivo, um terceiro que consiste em aumentar os
português de 1822, fixando assim a existência dos três impostos e o poder judiciário; ao passo que a tese de
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poderes (legislativo, executivo e judicial), com ori- Benjamin Constant ao basear-se na classificação de
gem na nação soberana e na sua independência. Clermont Tonnerre separa o poder real do executivo
É inquestionável que a teoria da divisão de pode- dividindo os poderes constitucionais em real, execu-
res ganha contornos distintos com Stuart Mill, Locke tivo e representativo; ou, ainda, em representativo de
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e Montesquieu tendo adquirido, no final, o estatuto duração, representativo de opinião e judicial, repre-
do equilíbrio entre os poderes internos e externos. sentando a simbiose e a adequação das teorias tradi-
Assim, enquanto Locke frisa que para garantir a li- cionais de um ténue absolutismo liberal com as ideias
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berdade é necessária a separação entre o poder le- revolucionárias que haviam caracterizado os pensa-
gislativo e o executivo, concedendo primazia ao pri- dores e políticos da ruptura ideológica e conduzindo a
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meiro e privando o judicial da autonomia política; uma teoria que defendia a distribuição harmoniosa e
Montesquieu aceita que só pode haver liberdade se equilibrada de poderes por vários órgãos.
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os poderes políticos forem independentes, inclusi- Em Portugal, a discussão em torno desta temá-
ve o judicial. Recorde-se que, para o filósofo francês tica, toma apenas lugar a partir da revolução de 24
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deve atender-se ao conceito bodiniano de soberania de Agosto de 1820, donde se destaca a influência do
na perspectiva da superioridade do centro de poder pensamento de Bentham. De vigência efémera, o tex-
constituído pela entidade soberana sobre os outros to de 1822 que instaura a separação rígida da tripar-
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centros do poder político. Mais tarde Duguit, Mauri- tição de poderes, tal como a congénere francesa de
ce Hauriou e Barthélémy defendem que a verdadeira 1793 é substituído pela Carta Constitucional de 1826
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doutrina de Montesquieu se baseia não na separação que procede à conjugação equilibrada destes pode-
total ou absoluta dos poderes, mas na colaboração res tal como propunha o modelo de Constant sendo,
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destes, como o reflectirá a obra kantiana que espelha- por isso, adoptado o modelo político quadripartido:
rá a forma mais aperfeiçoada desta doutrina de direito legislativo, executivo, judicial e moderador (art.11º).
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público, enunciando a linha tripartida dos poderes, Esta seria a realidade constitucional que se manteria
subordinando-os de modo que um, ao completar o vigente por quase todo o século XIX, com excepção de
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Grandes Realizações da História do Direito Português
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um breve período de tempo entre 1838-1842 em que
a classificação tripartida seria retomada sendo revo-
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gado o poder moderador (art. 34º da Constituição de
1838). Por sua vez, dos textos constitucionais nove-
centistas, um (1911) mantém o princípio da separa-
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ção de poderes (art. 6º); enquanto o segundo (1933)
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o afasta e o terceiro (1976), na linha das experiências
constitucionais alemã de 1919 e francesa de 1959,
consagra a separação e interdependência dos órgãos
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de soberania (arts. 113º e 114º).
A ideia de separação de poderes prende-se, desta
forma, com a consagração de um texto constitucio-
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nal, mais ou menos rígido, pelo que adoptá-lo num
momento ou noutro, implica perceber se aquele foi
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ou não aplicado escrupulosamente. No entanto, se
recordarmos, no contexto do século XIX, a concessão
do direito de veto aos monarcas, o direito de nomea-
ção e demissão dos magistrados e dos funcionários ad
dos poderes executivo e judicial pelo governante, a
ilação a extrair é uma só: a de que a sua aplicação inte-
gral ou total não se verificou no ordenamento jurídico
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português. Nem Montesquieu a quem se deve a teoria
que se destacará em todo o século XIX quer pela via
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