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Conectivismo Pedagógico: novas formas de ensinar e aprender no século XXI

RESUMO

O Conectivismo, uma teoria de aprendizagem proposta por George Siemens, tem como objetivo a
promoção da construção e produção de conhecimento interativo por cada indivíduo, por meio do
conceito de rede. Nessa perspectiva, a rede é entendida, de acordo com Siemens, como um
espaço, físico ou virtual, no qual ocorrem diversas conexões, em que cada indivíduo desempenha
o papel de um "nó" ou um elo para o acesso a novos conhecimentos e perspectivas.

A contribuição teórica de Siemens é notável pela maneira como integra elementos sócio-
interacionistas com uma perspectiva globalizada, que considera os novos padrões culturais da
sociedade contemporânea, muitas vezes denominada "Aldeia Global". É importante destacar que,
sob essa abordagem, o indivíduo não é concebido como um ser a ser moldado passivamente, mas
como um sujeito situado historicamente, ativo na construção do seu próprio conhecimento.

Do ponto de vista metodológico, esta pesquisa adota uma abordagem bibliográfica, que explora os
princípios da Teoria Conectivista e sua base conceitual, além de referências que elucidam os novos
paradigmas educacionais para o século XXI. A escolha por essa abordagem se justifica pela
escassez de obras acadêmicas, como teses e dissertações, dedicadas ao tema do Conectivismo
até o momento. Além disso, uma pesquisa empírica revelou que uma parcela significativa de
docentes da Educação Básica desconhece o conceito de Conectivismo, ressaltando a importância
de explorar e disseminar essa teoria na área educacional.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo apresentar o arcabouço epistemológico da Teoria de Aprendizagem
Conectivista, centrando-se no pensamento de George Siemens. A primeira seção analisa as novas
construções sociais e identifica a necessidade de transformar o sistema educacional para atender
a um sujeito imerso em interações constantes com os outros e inundado por um mar de
informações. Isso resulta em um novo paradigma de ensino e aprendizado, que contrasta com o
modelo atual das escolas, que ainda dividem o conhecimento em disciplinas e fragmentam o todo
em partes, negligenciando a integração, interação e síntese.

A segunda seção explora os conceitos epistemológicos do conectivismo, estabelecendo uma base


de análise para essa teoria no contexto sociológico. Os pressupostos do conectivismo em relação
à educação são o foco da terceira seção.
Essa discussão gira em torno da escola na sociedade pós-moderna, cujo paradigma é uma
complexa rede de conhecimento que impõe novas maneiras de aprender, pensar e agir.

2. NOVAS ABORDAGENS NA EDUCAÇÃO E NA APRENDIZAGEM

Ao longo da história, as sociedades humanas enfrentaram momentos de ruptura com modelos


anteriores que já não promoviam o progresso social. Essas mudanças ocorreram de maneira
diferenciada e marcaram períodos de transição paradigmática (Morin, 2011). Da mesma forma, o
que acontece na chamada pós-modernidade hoje em dia também ocorreu em outros momentos da
história humana, como a transição para a era agrícola ou a era dos metais.

Zuffo e Behrens (2009) argumentam que os aspectos históricos e culturais fornecem insights para
compreender os referenciais que sustentam cada paradigma e levam à renovação da cultura. A
cultura de uma sociedade abrange seu modo de vida, valores, crenças, instrumentos de trabalho,
sistemas de organização social e muito mais (Moraes, 2011). A cultura está intrinsicamente ligada
à educação, que orienta os membros da sociedade em um determinado caminho.

Paiva (2003) destaca que as mudanças nos padrões culturais são um componente essencial da
evolução da sociedade e que a educação desempenha um papel crucial na transição
paradigmática. Desde a Revolução Industrial, as sociedades estão se tornando cada vez mais
integradas em um contexto global, como apontado por Morin (2011).

Dada a importância da educação como elemento de coesão social, é fundamental refletir sobre os
processos educacionais, especialmente no contexto da sociedade da informação, onde a forma
como as pessoas obtêm informações mudou drasticamente. A geração atual cresceu em um
ambiente de informações instantâneas e acesso global à internet (Langaro, 2013).

Essas mudanças na forma como as informações são adquiridas destacam a necessidade de


repensar a educação. Não se trata apenas de transmitir informações, mas de capacitar os
indivíduos a trabalhar com informações de maneira crítica e contextualizada (Morin, 2010). É nesse
cenário que surge a teoria da aprendizagem conectivista, que se baseia na tecnologia e na
individualidade no processo de aprendizado.

3. CONCEITOS EPISTEMOLÓGICOS DO CONECTIVISMO


O conectivismo, conforme abordado por George Siemens (2004), é uma nova teoria da
aprendizagem que reconhece que as mudanças na sociedade digital estão moldando os ambientes
de ensino. Nesse novo paradigma, a aprendizagem não é mais uma atividade individualista interna,
mas ocorre em uma rede de conexões.

O conectivismo integra princípios das teorias do caos, redes, complexidade e auto-organização. A


aprendizagem acontece em ambientes complexos e em constante mudança, não completamente
sob o controle das pessoas (Siemens, 2004).

O cerne do conectivismo é a aplicação do conceito de "redes" ao processo de aprendizagem.


Siemens argumenta que o conhecimento está crescendo exponencialmente, tornando-se obsoleto
em um ritmo acelerado. As redes permitem o acesso, verificação e atualização desse conhecimento
(Siemens, 2008).

Os vínculos informacionais, ou "nós", desempenham um papel fundamental no conectivismo. Cada


nó reflete uma conexão e atua como ponto de disseminação de conhecimento. Esses nós têm um
impacto na sociedade, gerando ondas de conhecimento (Siemens, 2004).

O conectivismo também aborda o conceito de "caos", que se refere à maneira imprevisível como o
conhecimento é organizado na sociedade. Siemens argumenta que os significados já existem, e o
desafio dos aprendizes é reconhecer os padrões subjacentes (Siemens, 2004).

Os princípios fundamentais do conectivismo incluem a valorização da diversidade de opiniões, a


aprendizagem por meio da conexão com fontes de informação, a capacidade de usar dispositivos
não humanos para aprender, a ênfase na capacidade de aprender mais do que se sabe atualmente,
a manutenção de conexões para facilitar a aprendizagem contínua, a habilidade de reconhecer
conexões entre áreas e conceitos, a atualização constante do conhecimento e a tomada de
decisões como um processo de aprendizagem (Siemens, 2004).

Assim, o conectivismo apresenta um modelo de aprendizagem que está intrinsecamente ligado às


mudanças na sociedade, onde o aprendizado não é mais uma atividade interna e individualizada.

4. CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS DO CONECTIVISMO

O conectivismo coloca o indivíduo no centro do processo de aprendizagem. Os aprendizes têm a


responsabilidade e a liberdade de buscar conhecimento em um ambiente de "caos", onde os
significados emergem por meio de conexões. Os professores, por sua vez, desempenham o papel
de facilitadores na construção dessas conexões (Siemens, 2004).

A aprendizagem no conectivismo envolve ativar o conhecimento existente para aplicá-lo em novos


contextos. Não se trata apenas de adquirir informações, mas de desenvolver a capacidade de
navegar na rede de conhecimento em constante evolução (Siemens, 2004).

A avaliação no conectivismo enfatiza mais a formação do sujeito do que a medição de habilidades.


A preocupação está em ajudar o aprendiz a construir significado e desenvolver habilidades de
raciocínio crítico e resolução de problemas (Fernandes, 2010).

Em resumo, o conectivismo propõe uma abordagem de aprendizagem que se adapta às mudanças


na sociedade da informação, onde o aprendizado é um processo contínuo e dinâmico, impulsionado
pela interação e pela tecnologia. É uma abordagem centrada no aprendiz, onde a construção de
significado e a formação de conexões desempenham um papel fundamental.

5. UMA BREVE ENQUETE SOBRE O CONHECIMENTO DOS PROFESSORES SOBRE O


CONECTIVISMO

Para investigar o conhecimento teórico dos conceitos de conectivismo, uma pesquisa foi iniciada
por meio da distribuição de um formulário digital para cerca de 300 participantes, alcançados por
e-mail e redes sociais. Dentre esses participantes, 63 eram professores atuantes na Educação
Básica, abrangendo as esferas municipal, estadual e federal. O questionário visava avaliar o
conhecimento desses educadores acerca da teoria conectivista, bem como dos principais teóricos
associados a ela.

Os resultados da pesquisa destacaram uma carência de conhecimento sobre o conectivismo, pois


55 dos participantes admitiram não estar familiarizados com os conceitos e autores relacionados a
essa teoria. No entanto, de forma intrigante, os dados também sugeriram que esses professores já
faziam uso de redes e conexões como parte de suas práticas educacionais. Isso indica que, embora
não estejam cientes do conceito de conectivismo, eles já estão incorporando elementos
conectivistas em sua abordagem pedagógica, conforme evidenciado no Gráfico 1, que apresenta
uma distribuição equilibrada entre várias atividades conectivistas.
Para superar a falta de conhecimento conceitual sobre o conectivismo, os pesquisadores
realizaram uma análise das produções acadêmicas relacionadas à teoria de Siemens no período
de 2008 a 2017. Esses trabalhos foram obtidos do Banco de Teses e Dissertações da Capes, que
abrange pesquisas de pós-graduação stricto sensu em diversas áreas do conhecimento em
instituições de ensino superior em todo o Brasil.

O termo "Conectivismo" foi utilizado como palavra-chave na busca, dada a falta de familiaridade
dos docentes participantes com esse conceito. A análise dessas produções acadêmicas revelou
um total de 34 trabalhos, englobando 8 teses e 26 dissertações, todos fundamentados no
Conectivismo Pedagógico de George Siemens. Siemens foi citado como a principal referência
teórica em todos esses trabalhos, e, em alguns casos, Stephen Downes também foi empregado
para embasar aspectos relacionados a comunidades de prática, MOOCs (Cursos Online Abertos e
Massivos) e ferramentas de e-learning. Além disso, em 9 desses trabalhos, foram incorporados
elementos da Teoria da Complexidade de Edgar Morin, que fornece bases para a própria teoria
conectivista, especialmente no que diz respeito aos conceitos de nós e redes de conhecimento,
que descrevem o funcionamento da sociedade complexa.

6. ALGUMAS REFLEXÕES

É crucial reconhecer que qualquer teoria pode ser objeto de questionamento e crítica, e o
conectivismo não é exceção. Algumas das críticas comuns levantadas em relação a essa teoria
incluem:

A argumentação de que o conectivismo não é propriamente uma teoria de aprendizagem, mas, em


vez disso, representa um método pedagógico.
A sugestão de que os princípios do conectivismo já estão presentes em outras teorias de
aprendizagem, levantando dúvidas sobre a singularidade da teoria.

A crítica de que a aprendizagem é inerentemente um fenômeno humano e, portanto, não pode ser
adequadamente relacionada a mecanismos não-humanos.

Algumas vozes acadêmicas argumentam que as ideias fundamentais do conectivismo já foram


abordadas por teorias de aprendizagem socioconstrutivistas, como a de Lev Vygotsky. Para esses
críticos, o conectivismo parece se encaixar melhor como uma perspectiva pedagógica e curricular
do que como uma teoria de aprendizagem, uma vez que enfatiza mais o "o quê" e o "porquê" do
aprendizado do que o "como".

Outra linha crítica aponta para a presença dos princípios do conectivismo em outras teorias de
aprendizagem, diferenciando-se apenas pelo seu enfoque tecnológico. Assim, argumenta-se que
o conectivismo não fornece uma base teórica única e distintiva.

Além disso, há desafios relacionados à ideia de que a aprendizagem pode ser alojada em
dispositivos não-humanos, suscitando questões sobre se isso realmente representa uma
transformação significativa no paradigma educacional ou simplesmente uma adaptação das formas
tradicionais de aprendizado, utilizando tecnologia.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, o modelo educacional atual muitas vezes se mostra inadequado para atender às
demandas dos alunos na sociedade contemporânea. A abordagem centrada na memorização de
fatos e na aprendizagem mecânica já não é suficiente para preparar os estudantes para enfrentar
a complexidade do mundo atual.

O conectivismo surge como uma teoria que destaca a importância da interação e da conexão na
aprendizagem, refletindo a realidade da era digital em que vivemos. George Siemens, ao
desenvolver o conectivismo, enfatiza a necessidade de reconhecer o valor da informação e como
ela pode transformar a realidade e aprimorar as habilidades cognitivas individuais.

Embora o conectivismo ainda enfrente críticas e desafios em relação ao seu status teórico e
aplicação prática, ele oferece uma perspectiva que reconhece a importância das redes, da
tecnologia e da interconexão na educação. É essencial repensar as bases epistemológicas da
educação para melhor atender às necessidades dos alunos na sociedade contemporânea, e o
conectivismo representa uma abordagem que busca atender a essas demandas em constante
evolução.

Disponível em: <http://books.scielo.org/id/fp86k/pdf/sousa-9788578793265-09.pdf>.


Acesso em: 16 set. 2016. BEHRENS, Marilda Aparecida; ZUFFO, Darci. Paradigmas educacionais: desafios e
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