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3 - Conectivismo na sociedade

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o conectivismo como uma teoria
compatível com a sociedade do conhecimento e a era digital.

O que é conectivismo?
No módulo que encerramos, o foco esteve na Psicologia Cognitiva da
Educação desenvolvida na Rússia, tendo como protagonista Lev
Semenovich Vygotsky, psicólogo cuja obra esteve proibida durante
muitos anos, por determinação do regime totalitário russo. Ainda assim,
ele criou, com o apoio de seguidores como Luria e Leontiev, os
fundamentos de uma tendência teórica: a Psicologia Sócio-Histórica.

Vygotsky atuou como professor e deixou importantes estudos sobre a


cognição humana, o ensino da Arte, o brinquedo, o atendimento aos
alunos com necessidades especiais, entre outros.

Neste módulo, vamos estudar uma escola mais atual do cognitivismo,


cujo nome é até parecido, o conectivismo. Vamos precisar investigar o
que representa esse olhar. Há uma defesa importante, que ele não
representa uma ruptura, mas uma atualização dinâmica para o mundo
contemporâneo das abordagens da Psicologia no ambiente escolar.
Afinal, conectar passou a ser um verbo recorrente e com importantes
metáforas em nosso meio.

Cognitivismo
Via de regra, é uma tendência, não foi apresentado de forma tão detalhada
na Educação como as Teorias de Piaget e de Vygotsky. Isso ocorre por sua
atualidade, além da demora da chegada ao Brasil de linhas de Psicologia da
Educação já conhecidas, mas que passaram por enorme resistência.

Mas, afinal, o que é o conectivismo? O conectivismo implica uma nova


visão de aprendizagem não apenas formal e sistemática, mas apresenta
um modelo que não a considera mais uma atividade interna,
individualista, e reconhece as aceleradas mudanças tecnológicas na
sociedade.

Segundo Siemens (2004), "a tecnologia reorganizou o modo como


vivemos, como nos comunicamos e como aprendemos", e continua: “o
conectivismo fornece uma percepção das habilidades e tarefas de
aprendizagem necessárias para os aprendizes florescerem na era
digital”.

É central no conectivismo a ideia de que o conhecimento está


distribuído em redes conectadas e de que aprender constitui a
capacidade de circular ativa e proveitosamente por essas redes. Isso faz
com que essa ideia esteja em sintonia com a nova realidade tecnológica
e a sociedade em rede da era atual.

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Conectivismo e sociedade de rede
Neste vídeo, você entenderá mais sobre a sociedade em rede!

Alguns princípios do conectivismo


Confira agora oito princípios do conectivismo:

Aprendizagem e conhecimento apoiam-se na diversidade de


opiniões;

Aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou


fontes de informação;

Aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos;

A capacidade de saber mais é mais crítica do que aquilo que é


conhecido atualmente;

É necessário cultivar e manter conexões para facilitar a


aprendizagem contínua;

A habilidade de enxergar conexões entre áreas, ideias e conceitos é


uma habilidade fundamental;

Atualização (currency – conhecimento acurado e em dia) é a


intenção de todas as atividades de aprendizagem conectivistas;

A tomada de decisão é, por si só, um processo de aprendizagem.

Tomada de decisão
Escolher o que aprender e o significado das informações que chegam é
enxergar através das lentes de uma realidade em mudança. Apesar de
haver uma resposta certa agora, ela pode ser errada amanhã, devido a
mudanças nas condições que cercam a informação e que afetam a decisão
(SIEMENS, 2004, p. 6).
Criadores do conectivismo: Siemens
e Downes
George Siemens nasceu no Canadá, em 1970, professor da Athabasca
University, em Alberta, e é considerado o criador e principal teórico do
conectivismo.

Manifestou interesse pelas possibilidades pedagógicas das Tecnologias


da Informação e Comunicação (TIC) e, com o também canadense
Stephen Downes, apresentou o conectivismo como um novo paradigma
de estudo da aprendizagem mediada por tecnologias.

Stephen Downes.

Nascido em 1959, Downes é considerado um dos principais


especialistas mundiais em tecnologia de aprendizagem online e novas
mídias.

Possui publicações nas áreas de Lógica, raciocínio, habilidades do


século XXI e Literacia Digital, além de grande destaque no movimento de
Educação aberta.

Educação aberta
Educação Aberta é o movimento mundial que defende o livre acesso a
oportunidades de aprendizagem, conteúdos livres e tecnologias e internet
gratuitas.

George Siemens investiga a aprendizagem digital construindo relações


sobre o desenvolvimento da Indústria 4.0, da velocidade de informações
do mundo em sociedade em redes, além de um processo de constante
readaptação.
Indústria 4.0
Um termo recorrente que faz referências às revoluções das tecnologias no
século XXI.

A proposta de Siemens é que a democratização de plataformas e meios


criam oportunidade educacionais singulares; essas novas redes,
formais e informais, geram oportunidades de conhecimento e
plataformas educacionais que podem ser exploradas. No entanto,
precisamos pensar sobre o impacto dessa digitalização nas dimensões
humanas e é sobre isso que passamos a tratar.

George Siemens.

Segundo Downes (2005, apud MOTA, 2004), o conhecimento é


distribuído por uma rede de conexões e, por essa razão, a aprendizagem
consiste na capacidade de construir e circular nessas redes. A
“aprendizagem ocorre em comunidades e a prática da aprendizagem é a
própria participação na comunidade”.

O autor afirma que existem não duas, mas três categorias de


conhecimento. Confira a seguir:

psychology Conhecimento quantitativo

Originado das práticas de calcular e medir, relativo


aos dados objetivos dos objetos.

psychology Conhecimento qualitativo

Derivado dos sentidos, relativo aos dados


subjetivos captados dos objetos.
psychology Conhecimento conectivo ou distribuído

Derivado das conexões, das redes.

Além das categorias, as redes também apresentam características que


possibilitam promover o conhecimento cognitivo. Conheça a seguir
quais são elas e seus significados:

Autonomia
O indivíduo, em uma rede, contribui de acordo com seus próprios
conhecimentos, valores e decisões e também trabalha em prol dos seus
interesses individuais, além dos interesses coletivos.

Abertura
Todos podem interagir com todos e as contribuições dos membros são
fundamentais para a comunidade em rede. A abertura da rede não
impõe barreiras para a entrada de novos membros, ideias e desafios.

Diversidade
Compreende que as pessoas participantes da rede estão em locais
diferentes, falam línguas diferentes, provêm de diferentes culturas,
acessam diferentes recursos e têm diferentes pontos de vista.

Interatividade
O conhecimento conectivo não é aquele transmitido de uma pessoa
para outra, mas o que é gerado da colaboração em rede emerge como
resultado das conexões estabelecidas.

Algumas consequências do
conectivismo para a educação
O conectivismo aplicado na educação pode trazer grandes benefícios
quando aplicados de forma responsável. Veja a seguir três exemplos de
consequencias benéficas que ele trâs:

Aprendizagem em rede expand_more

Chamada por muitos de c-Learning - aprendizagem em


comunidade, aprendizagem comunicativa ou aprendizagem
colaborativa, desenvolvida em redes sociais virtuais.

Comunidades de prática expand_more

Termo criado por Étienne Wenger (1952-) para designar grupos


que se reúnem periodicamente, em função de interesses comuns
na aprendizagem coletiva e colaborativa e na aplicação do
conteúdo aprendido.

MOOCs expand_more

Sigla originada do inglês Massive Open Online Course (Curso


Online Aberto e Massivo), designa cursos acessíveis a qualquer
pessoa com acesso à internet. Não há acompanhamento dos
alunos matriculados por um professor ou tutor. Os MOOCs são
acessados por milhares de pessoas, por isso, são planejados de
modo que o conhecimento do aluno seja testado a cada módulo
aprendido, permitindo o progresso para os módulos seguintes.

Resumindo, podemos apresentar assim o processo de surgimento e


consolidação do conectivismo no cenário educacional:

1. A Web 2.0 propiciou o surgimento de espaços virtuais de interação


e colaboração;

2. A construção do conhecimento passou a se constituir de forma não


linear, baseada em dados e informações;

3. Os trabalhos de Siemens e Downes propiciam o surgimento do


Conectivismo e suas manifestações, como a aprendizagem em
rede, as comunidades de prática, os MOOCs.
E para finalizar, confira a seguir duas citações importantes de Siemens e
Downes que complementam o que vimos até agora:

Web 2.0
A Web 2.0 foi um dos estágios da evolução inicial da internet, designando a
segunda geração de comunidades e serviços. Houve aumento da
velocidade e da facilidade de uso de diversos aplicativos, do acesso às
redes sociais e às tecnologias da informação e comunicação.

A aprendizagem é um processo que ocorre


dentro de ambientes nebulosos onde os
elementos centrais estão em mudança – não
inteiramente sob o controle das pessoas. A
aprendizagem (definida como conhecimento
acionável) pode residir fora de nós mesmos
(dentro de uma organização ou base de dados),
é focada em conectar conjuntos de
informações especializados, e as conexões que
nos capacitam a aprender mais são mais
importantes que nosso estado atual de
conhecimento.

(SIEMENS, 2004, p. 5-6)

[...] quando a tecnologia é o gargalo através do


qual a instrução deve ser entregue, então a
tecnologia, se ela não impulsiona o conteúdo,
certamente limita o conteúdo. Atualmente, as
instituições que oferecem aprendizado online
devem conviver com a realidade de que o
material instrutivo deve ser entregue através
de tubos estreitos para computadores
descapacitados que executam softwares
duvidosos. No futuro, tudo isso vai mudar.

(DOWNES, 1998, n.p.)

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Atividade Discursiva
Já parou para pensar que esse “nó”, em uma rede, de alguma forma
somos nós, e que se ele sempre existiu, é parte fundamental desse
mundo em que a gente vive?

Não dá para fugir dele em nenhuma hipótese!

A convivência em ambientes virtuais de aprendizagem pressupõe


diversos tipos de interação, síncronas e assíncronas, com níveis
distintos e que são variados nas formas da gente interagir nessa rede.

E esse é um ponto incômodo: os professores estão acabados? Eles não


serão mais necessários?

Com base no conhecimento adquirido até aqui, reflita sobre o papel do


professor:

Digite sua resposta aqui

Chave de respostaexpand_more

Nunca foram tão necessários, a dinâmica das redes e pela


tecnologia só tem subido e se intensificado. As informações
aumentam, mas a profundidade, o sentido, o entendimento das
interações diminuem. E para aprender não basta conectar, tem que
haver troca, tem que haver dinâmica.
O professor está diferente do que conhecemos ou pensamos
normalmente sobre ele. Será que ele é uma nova máquina, uma
conexão? Pense bem – quantas conexões são possíveis?

Essas novas possibilidades de conexão são ganhos. Mas as formas


como elas ocorrem continuam precisando de mediação, de sentido.
Confira a seguinte citação sobre o conectivismo:

O conectivismo não vê mais o professor como o


responsável por definir conhecimento, o
professor está em meio a essa teia, diante da
facilidade de acesso à leitura e aos
conhecimentos não tem sentido imaginar que
ele será o provedor de conteúdo; ele leva a
linha, o processo, mas lida com a colaboração
coletiva constante e ele é parte. O foco de um
professor deve ser ajudar para que os alunos
encontrem soluções. A resolução de problemas
estruturados de forma coletiva. Aprender não é
mais concebido como memorização ou mesmo
compreensão de tudo, mas como construção e
manutenção de conexões em rede,
transformando os alunos não mais em uma
figura passiva a ser iluminada, mas em um
aprendente, e que todo o conjunto constrói seu
aprendizado, inclusive o clima de aprendizado.

(JORGE MATTAR, 2013, p. 24 - 25)

O conectivismo dialoga com a dinâmica de objetos de aprendizagem,


abertos ou direcionados, acessíveis e persistentes. Assim, a interação
em Educação a distância move-se para além de consultas diretas a
professores, bases de teorias diversas da Psicologia e do Cognitivismo,
valorizando as trocas nos grupos e limitações dos ambientes virtuais de
aprendizagem, associadas à Pedagogia Construtivista de Educação a
distância.
B Interatividade

C Autonomia

D Abertura

E Crítica

Parabéns! A alternativa B está correta.

De acordo com Downes (1998), a aprendizagem não é estruturada,


controlada ou processada e acontece em redes. Uma rede é, em si,
um ponto de trocas e conhecimento, paralelo, constantes, e deve
ser debatido sobre sua forma, como pode promover autonomia,
abertura, diversidade e interatividade em prol do aprendizado.

Considerações finais
Estamos concluindo um tema composto por três módulos, que tratou de
uma importante escola da Psicologia da Educação: o cognitivismo.

Ela constitui, com a Psicologia da Educação Humanista e a Psicologia


da Educação Comportamentalista, uma tríade fundamental nessa área
do conhecimento.

A palavra cognição nos remete a processos de aprendizagem, atenção,


memória, linguagem, raciocínio, que compõem o desenvolvimento
intelectual do homem e as habilidades mentais necessárias para que o
ser humano construa o conhecimento sobre o mundo.

Os teóricos que fazem parte desta escola têm, em comum, aspectos


como a ênfase na atividade do sujeito no próprio processo de
aprendizagem e o destaque da interação da pessoa que aprende com o
mundo e com os outros indivíduos.
Os estudos de Piaget sobre o desenvolvimento das operações mentais,
da linguagem e da moralidade da criança; a abordagem de Vygotsky e
de seus seguidores, na então União Soviética, que deram origem ao
movimento Histórico-Social na Psicologia e na Educação; e o
conectivismo constituem importantes manifestações da Psicologia da
Educação Cognitivista.

Encerramos com um bom exemplo da Psicologia Cognitiva. Robert


Sternberg, conhecido autor dessa linha teórica, ao tratar da questão do
julgamento e da tomada de decisões, afirma que ambos são
fundamentados em três requisitos cognitivos:

- Possuir informações completas sobre todas as opções possíveis, bem


como sobre os resultados da decisão tomada.
- Ter clareza das diferenças sutis entre as opções de decisão.
- Ser totalmente racional em relação à escolha da opção.

Segundo o autor, a prioridade do Cognitivismo “é o estudo de como as


pessoas percebem, aprendem, lembram-se e pensam sobre a
informação” (STERNBERG, 2010, p. 23).

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Podcast
Agora com a palavra os Professores Carla Marçal e Rodrigo Rainha,
relembrando e debatendo pontos importantes sobre a Psicologia da
Educação.

Explore +
Se você gostou deste tema, apresentamos uma sugestão para aprender
mais sobre alguns aspectos dos conteúdos abordados.
Um dos movimentos diretamente associados à Psicologia da Educação
Cognitivista é o construtivismo.

Inspirado nas ideias de Jean Piaget, é uma linha de pensamento em


Educação que propõe o aluno como centro do processo educacional,
sendo levado a construir o conhecimento a partir das próprias
experiências e da interação com a realidade e com os colegas. Teve
grande repercussão no Brasil nas décadas de 1980 e 1990.

Para que você conheça mais sobre o Construtivismo, sugerimos a


leitura do texto O construtivismo no ensino fundamental: um caso de
desconstrução, da autoria de Cilene Chakur, Rita de Cássia da Silva e
Vânia Galindo Massabni, apresentado na 27ª Reunião da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED),
realizada em 2004.

Referências
DOWNES, Stephen. The future of online learning. [S.I], 1998.

GOULART, Íris B. Psicologia da Educação: fundamentos teóricos e


aplicações à prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2009.

MATTAR, J. Aprendizagem em ambientes virtuais: teorias, conectivismo


e MOOCs. In: TECCOGS - Revista Digital de Tecnologias Cognitivas
/TIDD/PUC-SP. 7. ed. jan/jun 2013, p.20-40.

MOREIRA, M. A. Teorias da aprendizagem. São Paulo: E. P. U, 1999.

MOTA, J. C. Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: aprender na rede.


Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação. Especialidade em
Pedagogia do e-Learning. Universidade Aberta, Portugal, 2004.

OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento;


um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1995.

PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1996.

PIAGET, Jean. Para onde vai a Educação? Rio de Janeiro: José Olympio,
1998.

PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2011.

REGO, Teresa C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da


Educação. Petrópolis: Vozes 2009.

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