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Princípios da Educação

Online: para sua aula não ficar


massiva nem maçante!
• Mariano Pimentel

• 23 de maio de 2020

• Ciência, Destaques, Educação

Por: Mariano Pimentel; Felipe da Silva Ponte de Carvalho (23/5/2020)


Edição: Renata Araujo
Revisão: Alvanisio Damasceno
Ilustrações: Monica Lopes (do canal IlustrAqui)*
Há muitos anos temos praticado e pesquisado Educação a Distância e
Educação Online, mas nunca poderíamos imaginar que, de um dia para o
outro, ou as pessoas estariam aprendendo-ensinando pelas tecnologias
digitais em rede, ou estariam com as aulas paralisadas por conta de um
vírus (PIMENTEL, ARAUJO, 2020a). Acompanhamos, surpresos, o corre-
corre de alguns colegas professores que não sabiam, ao certo, o que fazer:
que abordagem pedagógica empregar?, que tecnologias utilizar?, com que
conteúdos trabalhar?, como conversar com os alunos?, que situações de
aprendizagem realizar?, como realizar a mediação docente?, como avaliar
online?
Para cada uma dessas perguntas, que acreditamos serem as mais
importantes para pensarfazer a educação em tempos de pandemia (e
também na pós-pandemia), queremos apresentar as reflexões que fomos
tecendo ao longo de nossos anos de prática e pesquisa na modalidade a
distância empregando a abordagem da educação online. Organizamos em
“princípios” as lições aprendidas até agora.

Princípios da Educação Online

Este é um momento oportuno para discutirmos nossas práticas didático-


pedagógicas, pois estamos vivenciando uma situação sem precedentes.
Mesmo quem tem experiência com Educação a Distância sabe que a
situação atual é diferente, há restrições e potencialidades que a difere do
que usualmente se pratica na modalidade a distância. Queremos
aproveitar este momento para abrir um diálogo para nos informarmos e
nos formarmos no coletivo. É nessa perspectiva dialógica, para promover a
partilha e a reflexão com esta comunidade, que apresentamos nossas
proposições sobre educação online.

Como ponto de partida, para nos entendermos, precisamos diferenciar


Educação a Distância (EAD), que é uma modalidade educacional alternativa
à educação presencial, daquilo que denominamos de Educação OnLine
(EOL), que é uma abordagem didático-pedagógica.

Na Educação a Distância, muitas vezes os computadores em rede são


usados para difundir conteúdos e, em alguns casos, até mesmo para
apresentar os conteúdos, corrigir automaticamente as respostas dos
alunos, recomendar o estudo de novos conteúdos em função do
desempenho, ou da personalidade ou do estado emocional do aluno, entre
outras ações já possibilitadas pela inteligência artificial (JACQUES; NUNES,
2020; VICARI, 2020). Nessa concepção, frequentemente pensamos em um
aluno estudando os conteúdos sozinho (autoaprendizagem, autoestudo),
no “seu próprio ritmo”, e o computador sendo utilizado como uma
“máquina de ensinar”, como preconizado por Skinner (~1960), o que fez
emergir a crença de que os professores um dia serão substituídos por
computadores. Nessa concepção, os computadores representam uma
evolução das mídias e não modificam o modelo de comunicação de massa,
predominantemente unidirecional, que tipicamente caracteriza a
abordagem instrucionista-massiva que ainda hoje é muito praticada na
modalidade a distância, o cibertecnicismo (PIMENTEL, CARVALHO, 2021) –
não é essa a concepção pedagógica que estamos propondo para as suas
aulas online!

Concepção pedagógica massivo-instrucionista frequentemente


empregada na EAD
Alertamos que o “ruim” na modalidade presencial torna-se o “péssimo” na
modalidade a distância: a abordagem instrucionista-massiva levada ao
extremo por “cursos massivos online” (MOOC) resulta em altíssimos
índices de evasão, com taxa de até 95% de abandono (SILVA; BERNARDO
JR; OLIVEIRA, 2014). Ressaltamos que a modalidade a distância não implica
necessariamente a adoção de práticas instrucionista-massivas; temos
praticado, nessa modalidade, o que Edméa Santos (2009, 2019) denomina
“Educação Online”:
Assumimos desde já que a educação online não é apenas uma
evolução das gerações da EAD, mas um fenômeno da
cibercultura. É comum encontrar na literatura especializada em
educação e tecnologias que a educação online é uma evolução
ou nova geração da modalidade de EAD. Discordamos, mesmo
sem ignorar ou descartar essa possibilidade, com essa
afirmativa simplista. […] A educação online é o conjunto de
ações de ensino-aprendizagem ou atos de currículo mediados
por interfaces digitais que potencializam práticas
comunicacionais interativas e hipertextuais. (SANTOS, 2009, p.
5659,5663)

A proposição de efetivar uma Educação Online, como aqui caracterizada,


parte da compreensão de que vivemos, hoje, em um (ciber)espaço-tempo
propício à aprendizagem em rede: conectar-se, conversar, postar, curtir,
comentar, compartilhar, colaborar, tornar-se autor, expor-se, negociar
sentidos, co-criar … que outras palavras lhe vêm à mente quando falamos
de valores e práticas que caracterizam a nossa (ciber)cultura
contemporânea?

Não estamos sozinhos nessas proposições – vários são os filósofos e


pesquisadores que há décadas sustentam que vivenciamos um momento
revolucionário em nossa sociedade, principalmente a partir de meados da
década de 1990 com a abertura da internet para uso comercial, que a
tornou acessível para a população em geral intensificando as
transformações que os computadores em rede já estavam provocando em
nossa sociedade (NICOLACI-DA-COSTA; PIMENTEL, 2011). Algumas de
nossas inspirações:
Podemos/devemos (re)pensar nossos desenhos didáticos para o digital em
rede nos inspirando nos valores e práticas da cibercultura. O cenário
sociotécnico contemporâneo, de nossa cultura estruturada pelas
tecnologias digitais em rede, vem nos desafiando a reconfigurar a
educação formal para estarmos mais em sintonia com o “espírito de nosso
tempo”. Os meios de comunicação de massa, unidirecionais, que foram
característicos do século passado, hoje nos parecem datados, bem como
nos parecem ultrapassadas as práticas pedagógicas instrucionista-
massivas que muitas vezes são equivocadamente confundidas com a
própria modalidade a distância.

Ao anunciar os “Princípios da Educação Online”, queremos mostrar a


possibilidade de outras práticas didático-pedagógicas para a modalidade a
distância. A seguir, apresentamos um resumo de cada um dos princípios (e
nas próximas postagens vamos publicar um artigo sobre cada um deles –
acompanhe a nossa série!). Embora apresentados um a um, os princípios
estão correlacionados, são interdependentes, fazem parte de um conjunto
coerente de concepções e ações necessárias para efetivar a Educação
Online: não é possível promover aprendizagem colaborativa (4º princípio),
se não houver conversação entre todos (5º princípio); para efetivar a
colaboração (4º princípio) promovendo conversação (5º princípio) e
coautorias (6º princípio), é preciso haver mediação docente ativa (7º
princípio); atividades autorais (6º princípio) só fazem sentido quando o
conhecimento é entendido como obra aberta (1º princípio); entre outras
relações. A numeração dos princípios é apenas para facilitar a referência,
pois não há uma ordem entre eles.
Princípio 1 – Conhecimento como “obra
aberta” (em vez de “mensagem fechada”)

O conhecimento científico é o resultado de uma construção social. Bruno


Latour (2000) descreveu o processo social de construção de conhecimentos
científicos como uma dinâmica em que diferentes atores disputam
narrativas capazes de explicar um fenômeno em investigação, inicialmente
cheios de incertezas, até que as controvérsias vão sendo encerradas e o
conhecimento se fecha em “fato científico”, indiscutível (uma “caixa
preta”), pronto para ser difundido na sociedade como uma verdade… até
que um discordante reabra as controvérsias. O conhecimento científico,
portanto, embora possa ser divulgado como fechado, está sempre sujeito a
reabertura, a novas teceduras. Na Educação Online, partimos dessa
concepção epistemológica do conhecimento como “obra aberta” (ECO,
1962), possível de ser ressignificado e cocriado, num movimento sem fim.
Quando o conhecimento é entendido como produto acabado, fechado, só
resta aos alunos assimilarem sem questionar os conteúdos que um
professor ou o computador apresenta, numa perspectiva bancária de
educação que há décadas temos combatido (ARAUJO; PIMENTEL, 2020):
Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e
depósitos que os educandos, meras incidências, recebem
pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção
“bancária” da educação, em que a única margem de ação que
se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos,
guardá-los e arquivá-los. […] Nesta distorcida visão da
educação, não há criatividade, não há transformação, não há
saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca
inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no
mundo, com o mundo e com os outros. (FREIRE, 1970, p 80-81)

Princípio 2 – Curadoria de conteúdos +


sínteses e roteiros de estudo (em vez da
produção de conteúdos próprios para EAD)

Na atualidade, quando queremos aprender algo, geralmente consultamos


a web: fazemos uma busca no Google, navegamos nas páginas
interconectadas da Wikipédia, assistimos a uma videoaula no YouTube,
consultamos uma apresentação compartilhada no SlideShare, lemos uma
matéria num blog, baixamos um artigo científico, consultamos páginas no
Facebook, escrevemos perguntando para um amigo ou para um grupo no
WhatsApp, entre outras táticas (PIMENTEL, 2019). A web se tornou nossa
principal fonte de conhecimento, com conteúdos online em múltiplas
linguagens e formatos disponíveis a um clique de distância. Considerando
a abundância de conteúdos disponíveis online relacionados a nossas aulas,
nós, professores, podemos desempenhar o papel de “curadores”.
“Curadoria de Conteúdo é um termo que descreve o ato de encontrar,
agrupar, organizar ou compartilhar o melhor e mais relevante conteúdo
sobre um assunto específico” (BHARGAVA, 2011). O professor, ao realizar a
curadoria, está mapeando, organizando e dando visibilidade a
determinados conteúdos. Conjugado com a curadoria, pode ser adequado
realizar sínteses, seja no formato de uma apresentação ou de um pequeno
texto interligando os conteúdos mapeados, o que resulta em roteiros de
estudo. Além disso, por considerarmos o conhecimento como obra aberta
e tecido colaborativamente, também devemos considerar os conteúdos
produzidos pelos próprios alunos da turma.
A curadoria de conteúdos online se contrapõe às práticas de produção de
conteúdos específicos para a EAD, sejam livros impressos (BARRETO et al.,
2007), weblivros (PIMENTEL; SANTOS; SAMPAIO, 2017), vídeos (SOUZA,
2017) etc. A produção de conteúdos novos é uma estratégia válida e
custosa, mas não é a única alternativa.

Princípio 3 – Ambiências computacionais


diversas (em vez de se restringir aos
serviços do Ambiente de Aprendizagem)

Na modalidade a distância, é fundamental a adoção de um Ambiente


Virtual de Aprendizagem (AVA), como Moodle, Google Classroom, Canvas,
Grupo de Aprendizagem Social do Facebook, entre outros (GOMES;
PIMENTEL, 2020). Contudo, a grande ênfase que é dada para o uso de AVA
na modalidade a distância acabou disseminando uma cultura de
confinamento e exclusividade, a tal ponto que os professores na EAD
chegam a supor ser proibido usar outros sistemas computacionais,
acreditando que tudo deva ser realizado dentro do AVA. Queremos
combater essa ideia equivocada.
Toda a Internet se apresenta como um vasto território com inúmeros
(ciber)espaços que podem ser configurados para a criação de ambiências
voltadas para a realização de situações de aprendizagem. Se os AVA foram
os sistemas computacionais característicos da 1ª fase da Educação Online
(SANTOS; RIBEIRO; CARVALHO, 2020), hoje devemos nos apropriar
também de outros sistemas computacionais, pois não há quaisquer
impedimentos em também utilizar serviços interativos online, aplicativos,
redes sociais, editores colaborativos, entre tantas possibilidades ao nosso
dispor.
Leia mais em: Ambiências computacionais para dinamizar sua aula online:
é hora de ocuparmos ciberespaços!

Princípio 4 – Aprendizagem em rede,


colaborativa (em vez de aprendizagem
individualista)

Quando o processo educacional se realiza mediado pelos computadores


em rede, nossas práticas e reflexões nos levam a recomendar a
aprendizagem em rede, colaborativa (TORRES; IRALA, 2014; PIMENTEL;
FUKS, 2011; FUKS et al., 2011). Não se trata de colocar os alunos para
discutirem os conteúdos de uma disciplina apenas entre eles, sem um
professor. Trata-se de construir o conhecimento colaborativamente, em
grupo, valorizando-se os múltiplos saberes de cada aluno da turma com a
mediação de um bom professor. Nessa concepção, os computadores em
rede são usados como meios de interação social, não como máquinas para
ensinar, mas sim para conectar as pessoas.
Leia mais em: Aprendizagem online é em rede, colaborativa: para o aluno
não ficar estudando sozinho a distância

Princípio 5 – Conversação entre todos, em


interatividade (em vez de apresentação de
conteúdos)

A exposição de conteúdos pelo “ditar do mestre”, em que os alunos só


podem falar eventualmente para tirar uma dúvida sobre o que foi exposto,
não caracteriza uma conversação genuína. A conversação precisa estar
aberta para o imprevisível e se realizar na interatividade com os alunos e
entre eles (SILVA, 2000). Cabe ao professor o planejamento da situação
conversacional e sua realização por meio de uma ambiência
computacional, lançando mão de serviços variados de conversação pela
internet (PIMENTEL, ARAUJO, 2020b). Por exemplo, podemos utilizar um
sistema de videoconferência para realizarmos reuniões síncronas no
horário que seria ocupado pela aula presencial; criar um grupo do
WhatsApp para a conversação informal e para a coordenação da turma;
discutir os assuntos da disciplina por meio de grupos e fóruns de discussão
ao longo da semana; usar bate-papo online (chat) para levantar diferentes
pontos de vista sobre um assunto; realizar atendimento individualizado
por mensagem instantânea e email; entre outras possibilidades a serem
arquitetadas para promover a conversação na turma.
Leia mais em: Há conversação em sua aula online?

Princípio 6 – Atividades autorais inspiradas


nas práticas da cibercultura (em vez de
“estudo dirigido”)

Em geral, os alunos gostam de atividades práticas, pois sentem que “só se


aprende fazendo”. Atividades práticas e autorais (AMARAL; VELOSO;
ROSSINI, 2020) oportunizam ao aluno aplicar e transformar os
conhecimentos da disciplina, ressignificando-os. Como alternativas para a
educação bancária de exposição-assimilação de conteúdos, além da
própria Educação Online que propõe práticas autorais inspiradas nas
práticas da cibercultura, também reconhecemos outras iniciativas, como
Aprender Fazendo/Aprendizagem Experiencial (DEWEY, 1916), Educação do
Trabalho (FREINET, 1949), Pedagogia Baseada em Projetos (BENDER, 2015),
Metodologias Ativas (BACICH; MORAN, 2018), Sala de Aula Interativa
(SILVA, 2000), Sala de Aula Invertida (BERGMANN; SAMS, 2018), entre
outras proposições pedagógicas.
Queremos marcar a diferença das atividades inspiradas em práticas da
cibercultura daquelas atividades que se caracterizam como uma lista de
exercícios ou um questionário, cujo objetivo é “fixar” os conteúdos da
disciplina, como frequentemente praticado na educação instrucionista-
massiva. Ressaltamos a importância de atividades criativas que
possibilitem a autoria criadora (BACKES, 2012) e que promovam
multiletramentos (FERNANDES; MACIEL; SANTOS, 2020; BUZATO, 2006). Em
tempos de cibercultura, com a “liberação do polo de emissão” (LEMOS,
2007), todos nós nos tornamos autores em potencial. Nesse atual cenário
sociotécnico, nós, professores, somos desafiados a formar alunos capazes
de ler criticamente o mundo e também de atuar como autores
transformadores da sociedade contemporânea (LEMOS, 2010).
Leia mais em: Atividades autorais online: aprendendo com criatividade

Princípio 7 – Mediação docente online para


colaboração (em vez de “tutoria reativa”)

Para efetivar a educação online, é necessário realizar uma mediação ativa


voltada para a promoção da colaboração (SANTOS; CARVALHO; PIMENTEL,
2016), em que o professor desempenha o papel de dinamizador do grupo.
Onde há colaboração e conversação em rede, emergem dúvidas e conflitos
que precisarão ser mediados pelo professor e pelos colegas.
Recomendamos a realização de uma mediação partilhada e empregando
uma “linguagem emocional” (LIMA; CARVALHO; COUTO JR, 2018; BRUNO,
2008), reconhecendo que as emoções expressadas nas conversas
potencializam transformações no convívio social que se desdobram
também no processo formativo.
Sugerimos evitar a prática da “tutoria reativa” (CASTRO; SANTOS, 2010),
muito empregada na EAD instrucionista-massiva, em que um professor-
tutor fica disponível por 1 ou 2 horas por semana para tirar dúvidas de
centenas de alunos. Esse tipo de prática leva a um esvaziamento da
participação dos alunos, resultando em desperdício e desvalorização do
trabalho docente.

Princípio 8 – Avaliação formativa e


colaborativa (em vez de exames presenciais)

A modalidade a distância potencializa novas formas de avaliação. Os


rastros que os alunos deixam nas ambiências digitais ao participar das
situações de aprendizagem arquitetadas pelo professor possibilitam a
realização de uma avaliação com base em competências, valorizando não
apenas os conhecimentos (saber o que as coisas são, os conceitos, as
fórmulas), mas também as habilidades (o saber fazer, o conhecimento em
ação) e as atitudes: presença, participação e colaboração. Idealizamos a
realização da avaliação online como uma ação coletiva, realizada não
apenas pelo professor (heteroavaliação), mas também pelo próprio
aprendente (autoavaliação) e por todos da turma (avaliação colaborativa,
avaliação 360º), fugindo da resposta certo-errado e voltando-se para a
valorização dos diferentes olhares, da compreensão e da crítica de todos
os envolvidos no processo formativo. Que a avaliação seja feita numa
perspectiva formativa, de maneira contínua, voltada não apenas para
aprovar ou reprovar ao final da disciplina, mas sim para apoiar a tomada
de consciência sobre o próprio processo de aprendizagem em curso, de tal
maneira que os alunos percebam o que já aprenderam bem, o que
precisam aprender mais e quais ações formativas devem realizar.
A avaliação, na perspectiva da Educação Online, é um desafio, pois a
prática mais difundida de avaliação é a prova presencial, geralmente
voltada para o exame do conhecimento assimilado pelo aluno, com uma
correção feita somente pelo professor com a intensão de classificar o aluno
em aprovado/reprovado. Essa concepção de avaliação parte da perspectiva
epistemológica do conhecimento como “mensagem fechada” (em vez de
“obra aberta” – 1º princípio), podendo até desmotivar o aluno a participar
e colaborar (4º princípio), a realizar autorias e coautorias em rede (6º
princípio). Deve-se planejar uma avaliação com base nas atividades
realizadas nos diversos sistemas computacionais utilizados na disciplina (3º
princípio), visando a promoção de uma atitude para a interatividade (5º
princípio) e considerando, nas conversas e nas autorias, as expressões do
aprendizado dos alunos sobre os conteúdos e para além deles (2º
princípio), o que apoia a mediação pedagógica (7º princípio) (SILVA;
SANTOS, 2006; SANTOS; LIMA, 2016; ARAÚJO, 2018; ARAÚJO, 2013).

Leia mais em:

• Princípios da avaliação para aprendizagem na educação


online
• Cinco equívocos sobre avaliação da aprendizagem
É possível praticar os princípios da educação
online na modalidade a distância?
Reconhecemos que a modalidade a distância “pode ser mais bem
entendida a partir de princípios que regem a produção industrial,
especialmente os de produtividade, divisão do trabalho e produção em
massa” (BELLONI, 2012), e que, nessa modalidade, frequentemente é
induzida a adoção da abordagem pedagógica instrucionista-massiva e
“não acolhe propostas com outras concepções, eliminando, assim, a
possibilidade de reconhecimento do trabalho profissional do professor na
modalidade a distância” (LAPA; PRETTO, 2010). Mas, insistimos, a
modalidade a distância não implica necessariamente a abordagem
instrucionista-massiva.
Reconhecemos, também, a urgência de políticas públicas que garantam a
inclusão digital (e cibercultural) de todos os alunos, pois a ONU já declarou
que o acesso à internet é um direito universal e, no Brasil, o “direito de
acesso à internet a TODOS” é parte do nosso Marco Civil da Internet desde
2014 (Lei 12.965/14). Sem esse acesso, fundamental para o exercício da
cidadania em nossa atual sociedade estruturada pelas tecnologias digitais
em rede, temos visto instituições de ensino interromperem as aulas,
gestores voltarem-se para os valores e práticas características da
comunicação de massa típica do século passado (como usar a televisão
para a disseminação de conteúdos), e professores adotarem
inadvertidamente práticas instrucionista-massivas levando em
consideração a abordagem hegemônica da EAD.

Reconhecemos, por fim, a necessidade de promover a formação de


professores para o exercício responsável da docência online. Esperamos
que este texto seja uma contribuição nesse sentido, para que as aulas
online, na modalidade a distância, não sejam nem massivas nem
maçantes.
Se você teve fôlego para ler até aqui, é porque considerou úteis as
discussões iniciadas nesta postagem. Se você curtiu, então compartilhe nas
suas redes sociais; vamos viralizar os princípios da educação online, fazer
este texto chegar a outros professores que estão muito além das redes
sociais dos próprios autores – afinal, essa também é uma prática da
cibercultura, que tanto nos inspirou e nos motivou a produzir as reflexões
aqui apresentadas.

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