CONSULTORIA EDUCACIONAL

A EDUCAÇÃO COMO CONCEPÇÃO E AS TECNOLOGIAS COMO RECURSO PARA POTENCIALIZAR

APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS

Profa. Ma. Maristela Barcelos Castro

Em vários países do mundo não existe “educação presencial” e “educação a distância” tal qual a
nomeamos aqui no Brasil. Países como a Finlândia, Inglaterra ou Alemanha pensam em termos de
Educação tanto os momentos físicos, presenciais, como os momentos mediados por tecnologias.
Educação é “simplesmente” Educação. Nesses países não há e nem mesmo faria sentido alguém
estudar apenas por meio das tecnologias. As distâncias são pequenas, o acesso é facilitado, os
estudantes se dedicam aos estudos em tempo integral e a grande maioria jamais pensaria em
estudar e trabalhar ao mesmo tempo, por isso não compreendem como essa relação acontece e
como conciliam os estudantes brasileiros uma e outra tarefa.

Apesar das diferenças, mudam-se os lugares, os tempos, os espaços, os recursos, as estratégias, as

tecnologias, os modos de desenvolver o processo, mas a educação continua sendo educação e todos
sabem em menor ou maior grau a que se refere quando falamos nesse assunto. No Brasil, no
entanto, agregamos adjetivos e fala-se em educação presencia ou a distância.

Ainda estamos presos a conceitos apertados que criamos e que nem cabemos mais neles. Além de
termos que lidar com “educações”, ainda nos vemos envoltos em não conseguir, muitas vezes,
alcançar os objetivos em nenhuma das modalidades: desenvolver as potencialidades humanas e leia-
se aqui físicas, cognitivas, sociais e emocionais. Fracionamos, dividimos e atomizamos o
conhecimento em tantas partículas que nos perdemos em fiapos insignificantes e perdemos de vista
que a educação tem que ajudar as pessoas e resolver problemas, da vida e profissionais, senão, não
faz sentido.

A educação perde a utilidade quanto mais a engessarmos em programas curriculares fragmentados,

a ofertarmos em padrões pré-estabelecidos como se todos aprendessem da mesma forma ou
estivessem interessados exatamente nas mesmas coisas. Também perde o sentido quando a
oferecemos em linha reta e linear, distanciando dos fatos da vida, dos problemas das profissões, das

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empresas, organizações, das relações interpessoais, das problemáticas que o mundo globalizado está
passando e distante das tecnologias que todos, no mundo real não acadêmico, utilizamos à enésima
potência.

A grande maioria de nós professores, usa celular, computador, aplicativos diversos, assiste filmes, faz
buscas sobre assuntos de interesse, se comunica via e-mail, chats, hangouts, faz operações bancárias
via internet banking, trabalha, scanneia documentos, fotografa, estuda, lê jornais, filma, compartilha
emoções, convida pessoas para reuniões de trabalho, festas, happy hours, enfim, se entretém,
aprende e resolve problemas do cotidiano pela rede mundial de computadores.

Da mesma forma acontece com nossos alunos. A vida da grande maioria deles é permeada pelas
tecnologias, leia-se por conseguinte, por fatos, histórias, imagens, áudios, acessos a variadas
informações em variados lugares, tempos e espaços diferentes. Dados da FGV1 indicam que temos no
Brasil mais de um celular por habitante.

Estima-se2 ainda que há em torno de 174 milhões de comput., notebooks e tablets em um total de
mais de 207 milhões de habitantes. Estamos conectados a tudo e a todos o tempo inteiro. Todos
estamos familiarizados ao uso das tecnologias. Sejam idosos, bebês, adolescentes, crianças ou
adultos, de todas as idades. Vivemos o mundo Tec, pensamos Tec, sentimos Tec, aprendemos Tec,
operamos Tec.

Apesar dessa realidade há ainda alguns lugares em que essas tecnologias sofrem resistência, entre
elas, parte da educação a que chamamos, erradamente, de presencial. Afinal, quem diz que o
estudante está com a cabeça presente no mesmo lugar do corpo? Afinal o que é presencialidade? O
uso de quadro (ou Datashow), giz, apagador e voz ainda são os instrumentos majoritários utilizados
pela docência em ambientes de sala de aula Brasil afora. Não que seja inoportuno, errado ou
desaconselhado, mas que demonstram e nos “entregam” a um apego exagerado às tradições
portuguesas do séc. XVIII. Esse modelo faz parte do período inicial da colonização, chamado o “modo
Coimbrã” de educação.

Não queremos dizer também com isso que a adoção de tecnologias seja o que falta ou a tábua de
salvação da nossa educação. Não é. O maior problema do Brasil é a concepção que temos de

1
LIMA, Mariana. Brasil já tem mais de um smartphone ativo por habitante, diz estudo da FGV. Estadão.
Publicado em 19/04/2018. Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-ja-tem-mais-de-
um-smartphone-ativo-por-habitante-diz-estudo-da-fgv,70002275238 acesso em jul/2018.
2
Idem

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educação e a cultura cristalizada de uma metodologia que considera o professor um transmissor e, o
aluno, um receptor passivo. Daí, desejando-se superar o paradigma, se chega aos modismos
chamados de “metodologias ativas” que nada mais são que abordagens antigas que aproximam a
educação às formas intrínsecas de aprendizagem humana. Ou seja, para aprender deve haver
sentido, utilidade no conhecimento e precisa, ao final, ajudar o estudante a resolver problemas
complexos que, sem essa educação, não seria capaz de resolver.

Voltando ao nosso assunto mais diretamente, não pretendemos distinguir EDUCAÇÃO. Seja na forma
que for deve servir para desenvolver potencialidades cognitivas, instrumentais, sociais e emocionais
das pessoas. Sem esses requisitos não há educação, seja PRESENCIAL ou a DISTÂNCIA.

A adoção e o uso de tecnologias da informação e comunicação na educação no Brasil tem sido muito
falada e pensada. Os cursos superiores estabelecidos totalmente por tecnologias são uma realidade
em um país continental como o nosso e são importantes em algumas ocasiões, desde que apoiados
por mediadores de aprendizagem que orientem essas aprendizagens por meio de diversas portas de
entrada, tal qual deve acontecer na educação presencial. O professor, tutor, mediador não é
dispensável, faz parte do processo. No entanto, é uma aflição ainda não termos resolvido questões
importantes referentes ao assunto. Muitas vezes ainda nos perdemos em conteúdos sem sentido ou
significativos para a vida dos estudantes que certifica, ao final, pessoas que não conseguem adentrar
ao mundo do trabalho por que estiveram distantes dele ao longo de seus cursos.

Como resultado temos, tal qual ao final do século XVIII e início do séc. XIX, uma república de
bacharéis, somando-se ainda hoje aos dos licenciados e tecnólogos, que pouco contribuem com
soluções das problemáticas que se apresentam ou trazem inovações que melhore a vida das pessoas,
além é claro, de um desenvolvimento ético, cooperativo e autônomo-reflexivo.

Apesar dessas dificuldades não iniciadas nem resolvidas totalmente pelo mundo TEC, as tecnologias
da comunicação e informação ajudam. Elas nos auxiliam a encurtar os caminhos entre os conteúdos
teóricos e a realidade da vida, que fica ao alcance das mãos e de alguns cliques, contribuindo para os
links entre um e outro mundo. Auxiliam ainda por que possibilitam ao estudante lugares, formas,
tempos e espaços diferenciados da sala de aula para construir aprendizagens, ou seja, se torna um
processo continuado de construção e elaborações novas contínuas. Ainda oferecem uma diversidade
de inputs que ajudam ao estudante em suas diversas formas de aprender que não somente a de um
professor falando e transmitindo conteúdo.

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É nessa modelagem, utilizando-se de metodologias que contemplem as especificidades humanas, e
uso de recursos que acabamos por evidenciar e atingir mais facilmente as potencialidades dos
estudantes. Em Gardner3 vemos que as pessoas requerem aprendizagens por diversas formas de
inteligências, a chamada Teoria das Inteligências Múltiplas.

“A teoria das inteligências múltiplas foi estudada pelo psicólogo Howard Gardner como um contrapeso para o
paradigma da inteligência única. Ele propôs que a vida humana requer o desenvolvimento de vários tipos de
inteligências. Portanto, Gardner não entra em conflito com a definição científica de inteligência como sendo “a
capacidade de resolver problemas ou fazer coisas importantes””.4

Ouvir notícias, músicas, assistir filmes, vídeos do professor, ler jornais, artigos científicos, gráficos,
imagens, assistir vídeo-aulas do You Tube, ter espaços de conversa, reflexões, apresentação de cases
enfim, um sem-número de cenários novos que podemos compartilhar, orientar, motivar, instigar,
provocar e interagir com esse aluno são excelentes formas de oportunizar aprendizagens para
múltiplas inteligências. Ainda podemos nos comunicar com eles por chats, msn, whatsapp, e-mail,
plataformas de aprendizagem, grupo de twiters, fóruns, entre outros.

3
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas - A Teoria na Prática. Tradução VERONESE, Maria Adriana
Verissimo. Artmed. 1995.
4
SOUZA, Tais. A Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner. Psiconlinews. Publicado em ago./2015.
Disponível em: http://www.psiconlinews.com/2015/05/teoria-das-inteligencias-multiplas-de-gardner.html, acesso em
jul./2018.

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Não estamos falando, nem queremos chamar de blended learning, aprendizagem ou ensino híbrido
ou ainda metodologias ativas, aula invertida ou ainda Flipped Classroom, por que não desejamos
nem adjetivar a EDUCAÇÃO, em presencial e a distância, nem utilizar modismos pedagógicos que
mais atrapalham que ajudam a solucionar nossos problemas brasileiros dessa área. Apontamos sim,
para o uso de recursos que estão disponíveis e que podemos utilizar de forma complementar às
aulas. Esses recursos podem ser formalmente utilizados e organizados, por meio de plataforma
educacionais, chamadas de AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA) ou informalmente
organizados, por meio de formação de comunidades virtuais ou outros meios que forem do
conhecimento desses professores e estudantes.

Muitos utilizam a plataforma Moodle, que é aberta a formatos, códigos, programas e rótulos. Pode-
se fazer desde apenas um repositório simples de atividades de leitura como algo mais elaborado,
com uma cara mais elaborada, com atividades e avaliações, acompanhamentos de estágio e
relatórios, TCC, uso de fóruns e outros recursos. Afora o Moodle, que é muito conhecido no meio
educacional, temos ainda o Google For Educacion com várias soluções ou o Google sala de aula entre
muitas outras possibilidades, plataformas, aplicativos e possibilidades educacionais disponíveis e
gratuitas. Tecnologia é utilidade, mobilidade, acessibilidade, conhecimento, informação... ad
infinitum. A questão maior é construir programas educacionais para seres humanos, que privilegiem
e utilizem da melhor forma possível nossas capacidades de expandir o cérebro, aprender sempre e
mais, colaborar, respeitar e viver eticamente. Eis nossos verdadeiros desafios a serem urgentemente
superados!

Referenciais:

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas - A Teoria na Prática. Tradução VERONESE, Maria Adriana
Verissimo. Artmed. 1995.

ALFINITO, Solange et al. (Org.) Aplicações e tendências do uso de tecnologias de informação e

comunicação na educação superior presencial no Brasil. Brasília: Universidade de Brasília,
Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, 2012.
Disponível em: http://leunb.bce.unb.br/jspui/handle/123456789/28 , acesso em jul/2018.

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Disponível em: http://www.psiconlinews.com/2015/05/teoria-das-inteligencias-multiplas-de-
gardner.html, acesso em jul./2018.

LIMA, Mariana. Brasil já tem mais de um smartphone ativo por habitante, diz estudo da FGV.
Estadão. Publicado em 19/04/2018. Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-
ja-tem-mais-de-um-smartphone-ativo-por-habitante-diz-estudo-da-fgv,70002275238 acesso em
jul/2018.

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