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ABORDAGENS

METODOLÓGICAS
DO ENSINO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA

Diogo Silveira Heredia Y Antunes


Metodologias de
aprendizagem ativa
na educação física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever a contribuição das metodologias de aprendizagem ativa


para os processos de ensino e aprendizagem.
 Ilustrar estratégias de aplicação das metodologias de aprendizagem
ativa no ambiente educacional.
 Aplicar diferentes metodologias de aprendizagem ativa nas aulas de
educação física escolar.

Introdução
As metodologias de aprendizagem ativa estão na vanguarda da educação
contemporânea e têm sido aplicadas em escolas e universidades que
buscam desenvolver ensino de ponta para seus alunos. Neste capítulo,
você vai estudar essas metodologias, verificando o seu conceito e os
benefícios de sua utilização, em comparação aos modelos tradicionais.
Além disso, você vai conferir exemplos de modelos utilizados atualmente
em diferentes contextos educacionais e, mais especificamente, nas au-
las de educação física, para melhor compreender os benefícios dessas
estratégias.

1 Contribuições das metodologias de


aprendizagem ativa
As metodologias de aprendizagem ativa surgiram no contexto da educação em
contraposição aos modelos tradicionais de ensino, que tomam o aluno em uma
perspectiva passiva, como uma tabula rasa, um quadro em branco, no qual
2 Metodologias de aprendizagem ativa na educação física

o professor, detentor do saber, deve imprimir os conhecimentos assimilados


pelo aluno. A perspectiva tradicional está ancorada nas origens da educação
escolar, que surgiu na Europa, por volta do século XII, e se ampliou no século
XV (ARIÈS, 1978); ela tem tamanha força que segue influenciando a prática
de educadores até hoje. Não apenas essa perspectiva pedagógica e a relação
professor aluno se mantêm presentes na educação contemporânea, mas a
disposição dos alunos em fila na sala, a separação por idades, os castigos e as
punições e a escolha de um currículo rígido e padronizado entre as escolas
são padrões que guardam características da origem da instituição escolar.
A educação tradicional vem sendo há mais de um século contestada, uma
vez que é marcada por currículos definidos a priori, ensinados de forma
massificante e com conteúdo descontextualizado da realidade dos alunos,
além de ser aplicada em espaços pouco ou nada acolhedores, com classes
dispostas em fileiras, relações de poder autoritárias e tempos de aula rígidos.
Muitas vezes, são feitas comparações ente o surgimento, a estrutura e os
métodos das escolas com os de presídios e fábricas (VEIGA-NETO, 2003).
As críticas que são feitas a essa metodologia dizem respeito à não valorização
dos conhecimentos dos alunos, à baixa aplicabilidade dos conhecimentos nos
contextos reais, à pequena aprendizagem, em virtude dos métodos de transfe-
rência e memorização utilizados, bem como à necessidade de estabelecimento
de relações mais horizontais e construção de espaços mais acolhedores. Para
Marin et al. (2010, documento on-line):

[…] a escola é o local de lidar com as contradições sociais e problematizar


a realidade; de que a decisão do que saber e do que fazer depende das ne-
cessidades sociais vividas; procuram a superação da dicotomia ‘trabalho
intelectual e trabalho manual’, e a proposta delas é a de formar o homem
pelo e para o trabalho.

No vídeo disponível no link a seguir, Carolina Savioli explica sobre metodologias de


aprendizagem ativa e o método de aplicação prática do ensino híbrido. A pedagoga
debate como aplicar o método híbrido em cinco passos, auxiliando a tornar as aulas
inovadoras e garantindo engajamento discente e aprendizagem eficaz.

https://qrgo.page.link/f6HkM
Metodologias de aprendizagem ativa na educação física 3

As metodologias de aprendizagem ativa contemporâneas foram criadas


embasadas em movimentos anteriores de transformação da educação, sendo,
assim, parte do processo de evolução do conhecimento. Elas são herdeiras
de movimentos de contraposição à escola convencional, como a escola nova,
iniciada no final do século XIX e início do século XX, e a pedagogia crítica,
originada na escola de Frankfurt na década de 1970.

Do ponto de vista teórico e político, a proposta da pedagogia não diretiva,


também denominada escola ativa ou escola nova, que surge em reação ao
autoritarismo do professor da escola tradicional, ainda hoje orienta reformas
no sistema escolar. Essa corrente tem como princípio norteador a valorização
do indivíduo como ser livre, ativo e social. Valoriza-se mais o processo de
aquisição do saber do que o saber propriamente dito [...]. Alguns educadores,
na tentativa de resgatar a relevância dada ao saber elaborado e historicamente
acumulado, desencadearam o movimento da pedagogia crítica, que ganhou
força no final da década de 1970 e início da década de 1980. Originalmente
usada pela escola de Frankfurt, na atualidade abriga um amplo espectro de
reflexões filosóficas com algumas diferenças em suas bases conceituais
(MARIN et al., 2010, documento on-line).

Podemos entender um método como um caminho por meio do qual se


busca chegar a algum objetivo, no caso, os processos de ensino e aprendizagem
(ANASTASIOU, 2015). Existem diversas metodologias de aprendizagem
ativa em uso na educação contemporânea, como design thinking, think-pair-
-share e brainstorm. Não é fácil conceituar as metodologias criativas, pois
há diversos modelos sendo aplicados atualmente, que vêm sendo construídos
por diferentes autores ou grupos ao redor do mundo. Mas, o que elas têm
em comum? Todas levam em conta o papel ativo dos alunos e valorizam os
processos de construção do conhecimento e a relação entre os sujeitos. Partem
de problemas e situações reais na busca de soluções relevantes, construindo
conhecimentos aplicáveis, embasados nos contextos dos alunos. Cada uma
delas possui passos ou matrizes distintas que colocam em evidência mais ou
menos cada um desses elementos.
No campo da educação física, pode parecer estranho a ideia de um aluno
passivo, uma vez que todas as práticas envolvem movimento corporal. Porém,
essa passividade se coloca na forma como se estabelece a relação de ensino e
aprendizagem, que, no modelo tradicional, é unilateral, vinda de um professor
que ensinará aos alunos, e estes devem reproduzir o que lhes foi ensinado. As-
sim, estabelece-se o mesmo processo de educação bancária de mera reprodução
do conhecimento (FREIRE, 1996). A educação física escolar tradicional propõe
o treinamento dos alunos para a execução mecânica dos gestos de ginásticas,
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jogos, esportes, entre outras atividades. Já na perspectiva das metodologias de


aprendizagem ativa, estão em evidência as relações, nos processos de ensino e
aprendizagem das práticas corporais, integrando a execução dos movimentos
ao conhecimento histórico e às concepções crítica, lúdica e cocriadora que
devem existir na educação física escolar contemporânea. O que muda não é
o conteúdo em si, mas a forma como é apresentado para os alunos.
Nem sempre é fácil trabalhar com metodologias de aprendizagem ativa.
Quanto mais acostumados aos modelos tradicionais de ensino estão os alunos,
mais estarão condicionados a essa forma de educação. Com isso, pode ocorrer
de os alunos não se sentirem preparados; algumas vezes, sentem-se perdidos em
ter de buscar os conhecimentos, além de apresentarem dificuldades de realizar
uma correlação dos conhecimentos com a realidade na qual se encontram. A
construção de novos modelos de aprendizagem requer empenho constante,
visando ao seu aperfeiçoamento, e pode levar algum tempo até que os alunos
compreendam esses métodos de trabalho e desenvolvam autonomia (MARIN
et al., 2010). Para os professores, que também tiveram vivências escolares e
universitárias ligadas às metodologias tradicionais, pode ser também desa-
fiador ter de aplicar métodos ativos de ensino que não vivenciaram como
alunos. Vamos agora conhecer algumas metodologias de aprendizagem ativa
e possibilidades de aplicação no contexto educacional.

Compreender em profundidade como funciona o comportamento e a psique humana


na relação com a aprendizagem é fundamental para entender a relevância das meto-
dologias de aprendizagem ativa. Uma teoria bastante importante, nesse contexto, é a
teoria da autodeterminação (self-determination theory). A autodeterminação representa
um conjunto de comportamentos e habilidades que permitem que a pessoa tenha
a capacidade de ser o agente causal em relação ao seu futuro — ou seja, de ter
comportamentos intencionais. Essa teoria sustenta que, para as pessoas se sentirem
motivadas e se engajarem como agentes ativos das ações, há três elementos básicos
que devem ser levados em conta (SILVA, WENDT; ARGIMON, 2010):
1. relacionamentos (sentimento de pertencimento a um grupo);
2. competência (capacidade de executar a ação);
3. autonomia (possibilidade de escolhas sobre a ação).
Fique atento se esses três aspectos são levados em conta quando você ministra
suas aulas.
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3 Metodologias de aprendizagem ativa na


educação física escolar
Como comentamos anteriormente, existem diferentes modelos de metodologias
de aprendizagem ativa que podem ser aplicados com nossos alunos. Vamos
estudar agora cinco desses modelos, analisando brevemente sua história e
observando os principais passos para sua execução, além de exemplificar
como podem ser utilizados nas aulas de educação física. As metodologias
analisadas serão:

 problematização/aprendizagem baseada em problemas (ABP);


 design thinking;
 storytelling/storyboard;
 think-pair-share;
 brainstorm.

Problematização e aprendizagem baseada em


problemas (ABP)
As perspectivas de problematização e ABP, embora distintas, apresentam
muitas semelhanças, visto que ambas se propõem a romper com os métodos
tradicionais de ensino e aprendizagem e se embasam na pedagogia crítica da
escola de Frankfurt (MARIN et al., 2010). Elas têm em comum:

[…] o fato de trabalharem intencionalmente com problemas para o desenvol-


vimento dos processos de ensino e aprendizagem e valorizarem o aprender
a aprender. A reflexão sobre as situações propostas desencadeia a busca de
fatores explicativos e a proposição de solução ou soluções para o problema.
Problematizar significa ser capaz de responder ao conflito intrínseco que
o problema traz. Os conteúdos são construídos pelo estudante, que precisa
reorganizar o material, adaptando-o à sua estrutura cognitiva prévia, para
descobrir relações, leis ou conceitos que precisará assimilar (MARIN et al.,
2010, documento on-line).

A ABP se propõe a reestruturar o currículo, integrando as disciplinas a partir


da prática dos estudantes, em um processo que envolve pesquisa-intervenção-
-atuação (COLLIER; SOUZA, 2017). A organização curricular é feita a partir
de situações-problema que o aluno precisa vivenciar, para aprender alguns
conteúdos que são tratados como temas de estudo. As situações-problema
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abrangem conhecimentos de diversas áreas, remetendo a uma organização


interdisciplinar do currículo (NETO, 2013).
Essa mudança pode se dar de forma radical em uma escola, que passa a
organizar a grade curricular a partir de grandes temas de estudos ou áreas
do conhecimento, ou de forma gradual, em uma escola que se organiza nas
disciplinas tradicionais, mas que garante parte do tempo de sua grade curricular
para a utilização da ABP em projetos interdisciplinares. Nesse caso, o professor
se torna um facilitador no processo de aprendizagem, ajudando os alunos a
criarem questões, para melhor compreenderem a natureza do problema e
conseguirem chegar a possíveis soluções. A aprendizagem ocorre em pequenos
grupos, na forma de trabalho colaborativo (COLLIER; SOUZA, 2017).

A ABP estimula o aluno a ser o protagonista do próprio aprendizado a partir


da busca ativa de informações, integrando o conhecimento, identificando e
explorando novas áreas, desenvolvendo assim habilidades técnicas, cognitivas
e atitudinais para a prática profissional e também para aprender ao longo da
vida (COLLIER; SOUZA, 2017, documento on-line).

Enquanto a ABP se propõe a reorganizar o currículo, a proposta da pro-


blematização se caracteriza como uma estratégia de ensino. Ela se baseia em
alguns pressupostos e passos e pode ser aplicada em qualquer disciplina, entre
elas, na educação física escolar.

A metodologia da Problematização busca mediar a concepção histórico-crítica


da educação, e o trabalho pedagógico se inspira no materialismo histórico
dialético e encontra fundamentos principalmente na Filosofia da Práxis e na
Pedagogia Libertadora/Problematizadora de Paulo Freire. O eixo básico de
orientação de todo o processo se refere à ação-reflexão-ação transformadora
(MARIN et al., 2010, documento on-line).

A realidade concreta é de onde provém a aprendizagem e é o campo de


atuação do estudante. Estudo e intervenção, ou teoria e práxis, são processos
inseparáveis na busca de soluções para os problemas. São elaboradas coleti-
vamente possibilidades de solução, das quais uma ou mais são escolhidas para
serem colocadas em prática no contexto em que foi observado o problema de
estudo. Algumas pesquisas mostram que a utilização dessas metodologias
estimula o interesse dos alunos pelos temas abordados, uma vez que eles se
tornam parte dos processos de aprendizagem e elencam problemas pertinentes
de sua realidade sobre os quais vão se debruçar (COLLIER; SOUZA, 2017).
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No caso da aplicação dessa metodologia na educação física escolar, por


exemplo, imagine uma escola da periferia de uma grande cidade, onde o
professor questiona os alunos do 9º ano do ensino fundamental sobre as proble-
máticas de suas vidas. As reflexões levantam alguns temas como a violência,
o uso de drogas e a escassez de espaços de lazer na comunidade. A partir daí,
o professor propõe que os alunos identifiquem práticas corporais que são
realizadas nessa comunidade e que busquem identificar se existem espaços
de lazer próximos. Os alunos citam uma praça próxima à escola, que está em
condições precárias de manutenção, onde se pode jogar basquete, futebol e
andar de skate, e comentam de grupos de hip-hop e dança de rua da região.
Imagine agora que, em conjunto com a associação de bairro, a comunidade se
mobilize para revitalizar a praça, que algumas aulas passem a ser realizadas
nesse local e que esse professor faça contato com jovens que realizam dança
de rua para compartilhar essa prática com seus alunos.

Design thinking
Outra metodologia de aprendizagem ativa é o design thinking, uma metodo-
logia adaptada do contexto empresarial que tem sido utilizada na educação.
O design thinking foi desenvolvido para buscar soluções para problemas
complexos. Como o nome diz, refere-se à maneira de o designer pensar; esse
profissional utiliza um tipo de raciocínio pouco convencional, denominado
pensamento abdutivo. Nesse tipo de pensamento, busca-se formular questio-
namentos por meio da apreensão ou compreensão dos fenômenos; para isso,
são criadas perguntas a serem respondidas a partir de informações coletadas
durante a observação de uma determinada realidade (VIANA et al., 2012).

O designer enxerga como um problema tudo aquilo que prejudica ou impede a


experiência (emocional, cognitiva, estética) e o bem-estar na vida das pessoas
(considerando todos os aspectos da vida, como trabalho, lazer, relacionamentos,
cultura etc.). Isso faz com que sua principal tarefa seja identificar problemas e
gerar soluções. Ele entende que problemas que afetam o bem-estar das pessoas
são de natureza diversa, e que é preciso mapear a cultura, os contextos, as
experiências pessoais e os processos na vida dos indivíduos para ganhar uma
visão mais completa e assim melhor identificar as barreiras e gerar alternativas
para transpô-las. Ao investir esforços nesse mapeamento, o designer consegue
identificar as causas e as consequências das dificuldades e ser mais assertivo
na busca por soluções (VIANA et al., 2012, p. 13).
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A metodologia do design thinking tem três etapas: imersão, ideação e


prototipação. No primeiro momento, é preciso aproximar-se do contexto do
problema. Essa etapa envolve levantamento de dados (descoberta), análise e
síntese das informações coletadas (interpretação). Os insights são organizados
de maneira a se obter padrões e a criar desafios que auxiliem na compreensão
do problema. A partir daí, entra-se na segunda fase, que tem como intuito
gerar ideias inovadoras para o tema utilizando a criatividade; busca-se gerar
soluções que estejam de acordo com o contexto do assunto trabalhado. Por
fim, chega-se à prototipação, etapa que tem como função auxiliar a validação
das ideias geradas; é o momento de colocar em prática, em pequena escala, as
propostas de soluções pensadas. Essa etapa deve ser constantemente revista e
envolve uma evolução ao longo do tempo (VIANA et al., 2012).
Imagine uma turma de 8º ano, na qual o professor de educação física quer
trabalhar com as paraolimpíadas. Ele propõe que os alunos usem a metodo-
logia do design thinking para pensar a respeito do esporte adaptado e quais
práticas podem ser realizadas na aula, para que os alunos vivenciem o esporte
a partir dessa possibilidade. Primeiro, eles buscam locais próximos à escola
onde existe a prática de esportes adaptados. Um dos alunos descobre que na
associação da brigada militar é realizada a prática de esgrima em cadeira de
rodas. Iniciando a imersão, os alunos marcam uma visita no local, entrevistam
os praticantes e fazem uma breve vivência dessa prática. Retornando para a
escola, assistem alguns vídeos e começam a pensar alternativas (ideação) de
jogos que podem realizar na escola. Eles sugerem: jogar futebol vendados com
uma bola com guizo; reproduzir a esgrima em cadeira de rodas com cadeiras
normais e espadas adaptadas com cabos de plástico e mata-moscas; jogar
vôlei sentado. Na prototipação, decidem pôr em prática a última ideia, em
virtude de sua viabilidade; além de se divertirem, os alunos acabam vivendo
situações que lhes permitem experimentar os jogos a partir do ponto de vista
de outros sujeitos.
Metodologias de aprendizagem ativa na educação física 9

Em um projeto utilizando o design thinking, uma equipe multidisciplinar auxiliou uma


professora de educação física e de letras de uma escola estadual da periferia de Porto
Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, a pensar soluções para os problemas que
enfrentavam na escola. O problema elencado foi a violência presente no ambiente
da escola e a necessidade de promoção de uma cultura de paz entre os alunos. Após
algumas rodadas de conversa, o projeto final incluía: pintar na escola (portas dos
banheiros e escadas) palavras de elogio para os colegas e realizar rodas de partilha,
práticas de yoga e atividades de meditação e educação socioemocional com os alunos.

Storytelling e storyboard
A contação de histórias ou storytelling se refere à possibilidade de transmi-
tirmos uma informação contando uma história — não apenas os fatos que a
compõem, mas também os componentes emocionais que estão envolvidos.
Trata-se de uma prática cuja origem se perde no tempo; ela é utilizada em
muitas culturas como ferramenta pedagógica. Já o storyboard diz respeito à
utilização de desenhos para exemplificar o tema exposto. Essa metodologia
era inicialmente utilizada por cineastas, e sua criação é atribuída ao francês
Georges Méliès, que viveu no final do século XIX e início do século XX.
Então, ela foi remodelada por Webb Smith, do Walt Disney Studios, durante o
começo da década de 1930. Posteriormente, passou a ser utilizada para outros
fins além da produção de filmes e desenhos animados.
Vejamos um exemplo de uso do storytelling para descrever a história do
esporte, como se estivéssemos em uma aula de educação física.

A história do esporte pode ser dividida em três fases: o esporte antigo,


cujas origens se perdem no tempo e que se desenvolve até metade do
século XIX; o esporte moderno, de 1820 até 1980; e o esporte contem-
porâneo. Imaginem só: na Antiguidade, os esportes não eram como os
conhecemos hoje; eram atividades realizadas em festivais, que tinham
relação com a necessidade de sobrevivência das comunidades, como a
caça, a corrida ou a guerra. Pensem em nós, agora, se vivêssemos na Grécia
Antiga: que prática faríamos? Salto em distância, arremesso de dardo,
arremesso de disco, corrida ou, até mesmo, pancrácio, uma modalidade
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de luta que poderia levar até à morte. Um pouco violento, não? Por essas
e outras houve mudanças nos esportes. Avançando um pouco mais no
tempo, por volta dos séculos XVII e XVIII, antes de serem proibidos na
Europa, os esportes eram atividades populares, que ocorriam, em geral, na
rua. Mas passaram a ser considerados como práticas perigosas na Europa,
que se industrializava, sendo considerados uma balbúrdia. Então, Norbert
Elias e Eric Dunning criaram o termo esporte moderno, diferenciando-o do
esporte antigo. Ele passou a ter condições de igualdade entre os jogadores,
espaços e tempos próprios e um código universal de regras. Essa era do
esporte vai até 1980, quando, a partir da aceitação do direito de todos
ao esporte e da publicação da Carta Internacional de Educação Física e
Esporte, houve a disseminação do esporte na sociedade globalizada e
da comercialização crescente que o envolve.

As metodologias de aprendizagem ativa realmente aumentam o engajamento de


nossos alunos? E, principalmente, elas são mais eficientes na aprendizagem? Pesquisas
em andamento com estudantes universitários trouxeram resultados e achados que
atestam as vantagens das metodologias de aprendizagem ativa em relação aos mé-
todos tradicionais de ensino. Em termos de engajamento, acima de 80% dos alunos
participaram ativamente das propostas, e, com relação ao desempenho acadêmico,
as notas abaixo de 5,0 passaram de 60% para 8%, quando comparado o semestre em
que foram aplicadas as metodologias de aprendizagem ativa com o semestre anterior
(ROCHA; LEMOS, 2014).

Think-pair-share
A metodologia think-pair-share (em uma tradução literal: pense-dupla-
-compartilhe) para resolução de problemas foi criada pelo Dr. Frank Lyman,
da universidade de Maryland, em Washington, nos Estados Unidos.

Ela é considerada uma estratégia de aprendizagem cooperativa que inclui três


componentes: tempo para pensar, tempo para compartilhar com um parceiro
e tempo para compartilhar entre pares em um grupo maior. A aprendizagem
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entre pares possibilita a interação dos alunos uma vez que deverão pensar em
conjunto (em duplas e em grupo) (REIS, 2017, documento on-line).

Imagine que, em uma turma de 8º ano, haja uma dificuldade de integração


entre os meninos e as meninas na realização dos jogos. No momento da prá-
tica de algum esporte coletivo, como futebol ou basquete, os garotos dizem
que as garotas não sabem jogar e que atrapalham o andamento da atividade,
enquanto as garotas dizem não sentir vontade de jogar e que, quando tentam,
os garotos não lhes passam a bola. Para disparar as reflexões, é apresentado
para os alunos o vídeo da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado
“ONU Mulheres — Mulheres e meninas no esporte” (ONU BRASIL, 2019).
A partir daí, são lançadas algumas perguntas, como: “o que mais lhe tocou
neste vídeo?”, “quem são as mulheres com destaque nos esportes?”, “há algum
esporte só para homens ou só para mulheres?”, “como você se sente praticando
um esporte?”, “como meninos e meninas podem jogar juntos?”. Dá-se o tempo
de 10 minutos para cada aluno e aluna realizar individualmente algumas
reflexões; eles podem anotar em uma folha alguns tópicos. É importante
já determinar quais serão as duplas do momento posterior da reflexão em
pares, pois, caso contrário, alguns alunos podem ficar mais preocupados
em escolher seu parceiro(a) do que em pensar sobre a temática. Finalizado o
tempo da reflexão individual, pede-se que as duplas se juntem e conversem
sobre o tema por 15 minutos. Após essa rodada, faz-se um grande círculo,
em que as duplas que quiserem podem compartilhar as suas reflexões, e se
inicia um debate com toda a turma, trazendo para a centralidade da reflexão
as relações entre os alunos.

Brainstorm
A metodologia do brainstorm (em uma tradução literal: tempestade cerebral)
foi desenvolvida inicialmente pelo norte-americano Alex Faickney Osborn,
no final da década de 1930. Trata-se de:

[...] uma técnica para estimular a geração de grande número de ideias em um


curto espaço de tempo. Geralmente é realizado em grupo, em um processo
criativo conduzido por um moderador, responsável por deixar os participan-
tes à vontade e estimular a criatividade sem deixar que o grupo perca o foco
(VIANA et al., 2012, p. 101).
12 Metodologias de aprendizagem ativa na educação física

Para que a prática de brainstorming tenha sucesso, é preciso estar atento


a algumas questões. Primeiro, a qualidade das ideias finais é diretamente
proporcional à quantidade de ideias que são geradas pelo grupo, pois, quanto
maior a quantidade de ideias geradas pela equipe, maior é a chance de se
produzir uma solução inovadora e funcional. Também é fundamental evitar
julgar as ideias que são lançadas pelo grupo, pois críticas podem atrapalhar
o processo criativo e a geração de ideias ousadas.
Vamos exemplificar a possibilidade do uso do brainstorm com alunos
de educação física. A turma é reunida e o professor traz dois bastões, duas
bolas de borracha, quatro bambolês, um cone e uma corda. Explica-se para a
turma que vai ser utilizada a metodologia do brainstorm para a criação de um
jogo juntos. Os alunos são estimulados a darem ideias sobre como esse jogo
pode ser desenvolvido. As ideias começam a surgir, e o professor, ou um dos
alunos, anota-as no quadro: “pode ser um jogo cooperativo”; “podemos nos
inspirar no baseball ou no golfe”; “pode ser um jogo de defender o cone, tipo,
duas pessoas ficam com os bastões e os outros jogam a bola e tem que tentar
derrubá-lo”. Assim, vão sendo reunidas diversas ideias, até o momento em
que é necessário realizar algumas escolhas, integrar algumas ideias, cortar
outras, até se chegar a uma síntese.
Quer saber como é o jogo que essa turma criou? Chama-se “caça à torre”.
Com a corda, é demarcado um círculo, e, no centro dele, fica o cone (torre).
Dentro do círculo, ficam também os dois jogadores que devem defender a torre;
eles usam os bastões e não podem tocar na bola com seu corpo. Outros oito
jogadores ficam do lado de fora do círculo, quatro deles com um bambolê na
mão; os outros quatro são os arremessadores. Para lançar a bola no cone, ela
deve ser lançada passando por dentro do bambolê — caso contrário, o ponto
não é válido. O jogo transcorre por 5 minutos; após esse tempo, troca-se a
dupla que está defendendo o cone.

Considerações finais
Neste capítulo, foram apresentados alguns exemplos de metodologias de apren-
dizagem ativa e de como elas podem ser utilizadas no contexto educacional
— mais especificamente, nas aulas de educação física. Lembre-se de que a
utilização dessas abordagens é ainda bastante incipiente e pode ser bastante
desafiadora, mas elas fortalecem a autonomia e o engajamento dos alunos e
qualificam a aprendizagem. São mudanças necessárias para a aplicação de
uma educação de vanguarda, coerente com o momento no qual vivemos.
Metodologias de aprendizagem ativa na educação física 13

ANASTASIOU, L. G. C. As bases teórico metodológicas da educação de adultos e os


desafios da metodologia ativa nos cursos de graduação. In: MARTINS, A. K. A.; MAL-
PARTIDA, H. M. G. Metodologias ativas de aprendizagem no ensino superior. São Paulo:
Malheiros, 2015.
ARIÈS, P. História social da infância e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara,
1978.
COLLIER, L. S.; SOUZA, C. T. V. Metodologias de aprendizagem ativa na formação do
professor de educação física. Revista Práxis, v. 9, n. 18, p. 79-88, 2017. Disponível em:
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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35. ed.
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Publicado pelo canal ONU BRASIL. Disponível em: https://www.youtube.com/
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VEIGA-NETO, A. Foucault e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
VIANA, M. et al. Design thinking: inovação em negócios. Rio de Janeiro: MJV Press, 2012.
14 Metodologias de aprendizagem ativa na educação física

Leitura recomendada
TUBINO, M. Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação. Ma-
ringá: Eduem, 2010. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/han-
dle/123456789/130/livro%20tubino.pdf?sequence=5&locale-attribute=es. Acesso
em: 30 jan. 2020.

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