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FACULTAD INTERAMERICANA DE CIÊNCIAS SOCIALES PROGRAMA DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CURSO DE MESTRADO


DISCIPLINA: ENFOQUES TEÓRICO-PRÁTICOS DA APRENDIZAGEM
DOCENTE: DRª JAQUELINE MENDES BASTOS
DISCENTE: MARIA ALCIONE SANTOS DE ASSUNÇÃO

RESENHA CRÍTICA

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São


Paulo: EPU, 1986.

Maria da Graça Nicoletti Mizukami, graduada em Pedagogia pela


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1970), com mestrado em
Educação (1977) e doutorado em Ciências Humanas (1983) pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, é professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação (UFSCar) e do Centro de Educação, Filosofia e Teologia
da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Com uma extensa contribuição
acadêmica, Mizukami é autora de diversas obras, destacando temas como
desenvolvimento profissional da docência, base de conhecimento para o ensino e
práticas pedagógicas, incluindo livros como “Desenvolvimento profissional da
docência” (EdUFSCar, 2012), “Teorização de práticas pedagógicas” (EdUFSCar,
2009), “Processos formativos da docência” (EdUFSCar, 2005) e “Ensino: as
abordagens do processo” (EPU, 1986).

O livro “Ensino: as abordagens do processo” integra a coleção “Temas


Básicos de Educação e Ensino” e é composto por seis capítulos, tendo como
objetivo central evidenciar experiências e reflexões sobre a realidade educacional
brasileira, pautando-se na seguinte indagação: “o que fundamenta a ação docente?”.
A pesquisa conduzida por Mizukami baseia-se em um levantamento teórico dos
conceitos relacionados às abordagens do processo de ensino-aprendizagem,
vinculados aos cursos de licenciatura. Posteriormente, a autora analisa as posições
de professores de escolas públicas do antigo ensino de 1° e 2° graus, atualmente
ensino fundamental e médio, a fim de examinar e confrontar o discurso desses
educadores com suas práticas reais em sala de aula.
A professora Mizukami apresenta cinco abordagens vinculadas ao fenômeno
educativo, cada uma caracterizada por posições distintas e aplicações pedagógicas
diversas. A primeira delas é a abordagem tradicional, que perdura ao longo do
tempo e serve como referencial para outras correntes. Esta abordagem destaca o
papel central do professor como especialista, privilegiando modelos e conteúdos a
serem transmitidos, refletindo uma perspectiva de educação bancária, em que o
aluno é visto como sujeito passivo a ser preenchido com conhecimento. Assim, a
aprendizagem está focada na instrução, memorização e em modelos pré-
estabelecidos e isso está restrito a escola, na educação formal, só ela pode
sistematizar e depositar esse conhecimento no aluno mesmo sem ele querer, isto é,
esse ensino leva em conta programas minuciosos, rígidos e coercitivos.

Mediante a essa abordagem tradicional, a autora ressalta que surgiram


pedagogias alternativas que confrontaram tal tendência, propondo uma visão
dinâmica do conhecimento, oposta à concepção estática e catequética da escola.
Assim, ela ressalta outras abordagens, como a abordagem comportamentalista,
humanista, cognitivista e sociocultural. Na abordagem comportamentalista, o foco é
no empirismo, no conhecimento resultado direto da experiência. Com isso, o
comportamento humano é modelado e reforçado para se obter êxito, tendo o
professor como planejador desse programa. O treinamento, os objetivos pré-fixados
e o reforço são imprescindíveis para a mudança de comportamento e o papel do
indivíduo é ser passivo e respondente (foco no comportamento observável), ou seja,
o papel da escola é conservar em parte e também modificar comportamentos para
torná-los úteis e desejáveis (treinamento social).

No terceiro capítulo, Mizukami aborda a perspectiva humanista, caracterizada


por um ensino centrado no aluno e pela ênfase nas relações interpessoais para o
desenvolvimento da personalidade. O professor atua como facilitador,
proporcionando assistência e criando condições para que o aluno interaja com o
meio, acreditando na motivação intrínseca do indivíduo para aprender. Nessa
abordagem, não há modelos ou regras rígidas, pois o aluno está em constante
descoberta de sua autonomia, e a disciplina e o castigo são criticados
veementemente.
No que tange à abordagem cognitivista, a autora destaca sua ênfase na
interação e na capacidade do aluno de integrar e processar informações. Com isso,
o conhecimento não é pronto e acabado e sim é um processo contínuo e sucessivo
de reequilibração e a escola deve dar possibilidade para o aluno aprender por si
próprio por meios de desafios que provocarão desequilíbrios.

O quinto capítulo explora a abordagem sociocultural, que enfatiza aspectos


sócio-político-culturais e leva em consideração que a verdadeira educação é uma
educação problematizadora que objetiva a consciência crítica e a liberdade, para
assim superar a relação opressor-oprimido e a educação bancária. Desse modo, a
relação entre professor-aluno é horizontal e não imposta, tudo é desenvolvido a
partir do diálogo, cooperação, resolução de problemas e relacionado ao contexto do
aluno, isto é, para chegar a ser sujeito ele deve passar pelo processo de
conscientização e isso acontece por meio da reflexão sobre seu ambiente concreto e
intervenção na realidade para mudá-la.

No último capítulo, a autora reflete sobre as abordagens de ensino e as


opções teóricas e práticas dos professores participantes da pesquisa. Destaca a
importância de não desconsiderar essas teorias por representarem formas de
aquisição do conhecimento, mas sim contestá-las. Pontua também que nos cursos
de licenciatura em vez de só analisar era necessário vivenciar essas práticas para
assim criticar, para ter uma compreensão cada vez mais abrangente e significativa.
Sobre a pesquisa, os dados indicam uma preferência teórica por abordagens
cognitivas e socioculturais, porém, na prática, observa-se o predomínio do ensino
tradicional.

A autora embasa seu estudo em teorias do conhecimento e cita autores


precursores, conferindo cientificidade ao texto. Sua metodologia é coerente,
proporcionando uma compreensão abrangente das abordagens e da prática
docente. A linguagem é direta e compreensível, facilitando a assimilação do
conteúdo. A obra contribui significativamente para a compreensão das abordagens
educacionais, promovendo reflexões sobre o ensino e seu impacto na formação
docente. No entanto, uma limitação é a concentração extensiva nos capítulos sobre
as abordagens, com uma discussão breve sobre a pesquisa e os dados, e falta
aprofundamento para debater o descompasso entre a preferência teórica dos
professores e suas práticas tradicionais. Apesar disso, a obra é de extrema
relevância para cursos de licenciatura e professores, permitindo uma análise crítica
das abordagens e a integração de pontos positivos de cada uma no fazer
pedagógico.

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