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SOCIOLOGIA DA

EDUCAÇÃO

Jocélia Santana Barreto


Sociologia da
educação digital
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a contribuição da sociologia para a educação digital.


 Relacionar as possibilidades e os limites do uso da tecnologia digital
na educação.
 Analisar o impacto social da tecnologia digital na educação.

Introdução
A humanidade vive um momento histórico sem precedentes, uma época
de grandes inovações tecnológicas. Como você sabe, a tecnologia modi-
fica as relações das pessoas com o mundo em geral. A educação também
é perpassada pela era tecnológica. Nesse contexto, os processos de
ensino e aprendizagem são remodelados. A educação se torna digital,
semipresencial e a distância. Mas quais são as consequências do uso da
tecnologia digital na educação? E quais são os papéis do professor, do
aluno e da escola nessa nova era digital?
Neste capítulo, você vai ver que a educação do século XXI exige
do professor e dos alunos uma nova postura. Por isso, é importante
realizar uma análise crítica e cidadã da revolução digital. Essa revolu-
ção é instigante, inovadora e singular, porém, naturalmente, também
possui limites.
2 Sociologia da educação digital

A sociologia e a educação digital


O modelo de escola chamado de escola moderna pelos historiadores surgiu
no final do século XVI e se desenvolveu no decorrer do século XVII. Esse
modelo possui as seguintes características:

 divisão dos estudantes em séries e classes, conforme a sua idade;


 currículo escolar dividido de acordo com a série;
 diferentes níveis de ensino (ensino fundamental, médio e superior);
 tempo de estudo preestabelecido pela organização escolar.

Nesse contexto, surge o caderno de chamadas, com o registro de aulas e


o controle de frequência, além dos livros didáticos de cada matéria. Também
há uma disciplina a ser mantida, com regras e normas de conduta, seja do
professor, seja do aluno. A instituição escolar detém o poder de transmitir o
conhecimento e de organizar o seu funcionamento com controle e disciplina.
A escola surge para atender aos anseios do modelo de produção capitalista,
desenvolvido a partir do século XVI. A burguesia, classe social dominante,
impõe a sua ideologia liberal baseada no individualismo, no livre mercado, na
propriedade privada, na igualdade e na democracia. Segundo essa ideologia,
os indivíduos são livres para se relacionarem entre si e conseguem ser bem-
-sucedidos por meio do esforço individual, independentemente da sua condição
social ou econômica. É a tese da meritocracia pessoal. De acordo com essa
teoria, o Estado deve ter influência mínima no setor privado. Além disso, a
democracia representativa é o modelo de democracia para essa ideologia. Com
base nesses valores, ocorreu a universalização da educação, concretizada pela
escola pública, que se tornou laica, isto é, sem a presença da Igreja.
A revolução científica também foi essencial para o surgimento da escola
moderna. As ciências naturais e humanas passaram por transformações profun-
das: a matemática, a física e a química foram influenciadas pelo pensamento
racional e científico fundado por Descartes (1596–1650). A ideia de um “novo
homem”, baseado na razão, também se popularizou. Esse novo homem deveria
se adaptar às normas e princípios da era contemporânea.
Como uma das principais instituições de socialização, a escola não pode-
ria deixar de ser objeto de estudo da sociologia. Diversas teorias surgiram.
Algumas delas definiram a escola como um instrumento de reprodução da
sociedade, não possibilitando o questionamento. Outras teorias construíram a
categoria “escola”, como se todas as instituições de ensino fossem iguais. Ora,
como você sabe, não existe a “escola em si”. Diversos fatores são fundamentais
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para a construção da cultura de cada instituição escolar: o espaço geográfico


em que ela se insere, o tempo histórico em que ela se situa, sua arquitetura
e seu corpo discente e docente — diretores, coordenadores, funcionários,
alunos, enfim, os sujeitos da educação.
O cotidiano das interações sociais, as regras de conduta e controle, a cria-
ção e a aplicação de conteúdos, os currículos, os planos de ensino e de aula:
todos esses elementos compõem a cultura escolar. Apesar de as escolas serem
subordinadas às regras oficiais muitas vezes impostas hierarquicamente pelo
Estado, existe a influência das histórias de vida de cada ator social. Há as
opções políticas, as preferências pessoais e as ações e ideologias dos grupos
que interagem no espaço escolar. Essas interações, por sua vez, podem ser
coesas ou contraditórias.
A instituição escolar vem se modificando ao longo dos séculos, apesar de,
no geral, ainda possuir a mesma estrutura do século XVII. Nessa estrutura, um
professor se posiciona na frente da lousa e “transmite” conhecimento a uma sala
de aula com alunos sentados em cadeiras distribuídas em filas. Esses alunos
possuem seus materiais escolares e ouvem, anotam e perguntam sobre o conte-
údo escolar. O currículo escolar, os planos de ensino e de aula são organizados
pela instituição escolar, composta por diretores, coordenadores e professores.
Contudo, desde o final do século XX, com o desenvolvimento e o aprimo-
ramento constantes da tecnologia, a escola também vem sofrendo inúmeras
mudanças. O professor deixou de ser um mero transmissor do saber, e o aluno,
um mero aprendiz. A nova geração de estudantes que nasce na era da tecnologia,
influenciada pela velocidade das informações, representa um desafio constante
para o professor. Este precisa exercer sua função e se reinventar a cada dia a
fim de construir o conhecimento e a socialização do saber. Os estudantes já
trazem uma bagagem de informações que devem ser mediadas pelo professor
para que se transformem em conhecimento útil e relevante. Nesse cenário,
surgem novos discursos. Além disso, novos atores sociais passam a ter voz
ativa, rompendo com a monopolização do conhecimento.
Os professores nascidos por volta da segunda metade do século XX passaram
por uma fase de transição e tiveram de se adaptar. Eles precisaram aprender a
utilizar recursos tecnológicos como o computador, a internet, o smartphone, etc.
Viram surgir um mundo novo com inovações que pareciam saídas dos filmes
de ficção científica que cresceram vendo na televisão — que na sua época era
analógica. Algumas vezes, esses professores são instruídos pelos seus próprios
alunos a utilizarem os eletroeletrônicos. Assim, tanto o professor como o aluno
são sujeitos da educação contemporânea, de modo que muitas vezes têm de
interagir com dispositivos tecnológicos mediadores da aprendizagem.
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A educação digital é toda educação baseada no uso de tecnologias digitais, seja de


forma parcial ou integral. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) são
tecnologias que interferem nos processos e nas relações de comunicação e de troca
de informação entre os seres humanos.

Hoje, os professores precisam conhecer as novas tecnologias e colocá-las em


prática na sala de aula. Mas será que isso ocorre? O aluno tem mais liberdade para
direcionar a sua aprendizagem, tornando-se autônomo? Para responder a essas
perguntas, você deve considerar que a internet apresenta uma base de dados que o
aluno pode utilizar para aprender, agindo em um contexto social e local. O processo
de ensino e aprendizagem realizado pela internet tem sido visto de um ponto de
vista construtivista, em uma teoria do conectivismo. Nesse sentido, os alunos se
conectam aos objetos para acessar a informação de que necessitam para aprender.
Aprendizagem é o termo que designa a capacidade do indivíduo de se conectar
a fontes de informações no momento que desejar, bem como a aptidão de nutrir e
conservar essas informações. Assim, por meio da internet, o aluno aprende, tem
mais acesso ao conhecimento e consegue aprofundar o seu aprendizado. A ideia
é que ele produza e crie conexões com diversos elementos do sistema escolar,
tornando a aprendizagem mais pessoal. É dessa forma que ele constrói seu próprio
aprendizado, adaptando o sistema aos seus interesses e exercendo a sua autonomia.
Nesse sentido, ocorre o fenômeno da personalização da aprendizagem.
Esse fenômeno implica novas posições: o estudante não é mais o sujeito pas-
sivo receptor dos conteúdos que são ensinados. Ele age ativamente, escolhendo
o ritmo de seus estudos, o lugar e a hora de aprender. Isso é possível por meio
da internet. Com o aumento do uso dessa rede para fins educativos, a educação
digital vem sendo encarada como um meio para a democratização do ensino. Ela
também possibilita maior acesso e igualdade de condições de aprendizagem a
todos que dela quiserem usufruir, independentemente do local de acesso ou do
nível socioeconômico. A internet também teria o poder de ensinar informalmente,
pois nela há uma imensa quantidade de informações sendo gerada a cada minuto.
Como você pode notar, por trás disso tudo está a ideia de que a internet
gera a democratização de oportunidades, seja do ponto de vista formal ou
informal. Isso faz com que os representantes do Estado, em todo o mundo,
busquem, por meio dessa rede, uma forma de gerar novas políticas para o
desenvolvimento de grupos com diferentes possibilidades de crescimento
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econômico. Assim, o uso da rede auxilia na diminuição das desigualdades


sociais e na construção da equidade e da justiça social.
Contudo, é necessário ter uma postura crítica e reflexiva sobre o que se
espera e o que realmente acontece com o uso das novas tecnologias. Afinal,
não deve haver uma idealização excessiva e ofuscante. Ainda assim, tenha em
mente que a internet possibilita a transformação da educação contemporânea, ou
seja, a revolução digital educativa. Essa revolução se relaciona à atuação de cada
estudante, que agora pode escolher como construir seu próprio conhecimento
— sem barreiras geográficas e de forma personalizada (por meio dos aparelhos
e dispositivos tecnológicos que o conectam às informações disponíveis na rede).
Por outro lado, o que muitos professores, governantes e legisladores ce-
lebram como a autonomia dos alunos pode ser visto como um processo de
individualização em rede. A idealização da tecnologia como algo essencial-
mente benéfico, portanto, merece estudos mais aprofundados da sociologia
da educação. Há um quadro pintado de um aluno racional agindo dentro de
uma rede inteligente, com total autonomia e eficiência, sendo que a tecnologia
aparece como um baú fechado. Contudo, os profissionais da educação deveriam
ir além, percebendo o aspecto sociotécnico da utilização da internet na insti-
tuição escolar e enxergando a continuidade de relações e bases sociais que são
menos estruturadas. É necessário compreender os processos de continuidade
ou ruptura da educação na era digital. Além disso, é preciso questionar se
as atividades realizadas por meio das tecnologias educativas completam as
interações sociais ou se realmente provocam nelas rupturas e modificações.
A sociologia da educação enriquece esse debate ao analisar o presente, que
é mutável e inovador. A ideia é usar a imaginação sociológica para pensar o
potencial do uso das tecnologias. A sociologia analisa as relações sociais que
ocorrem por meio da internet, relações que têm se tornado também virtuais.
Assim, o virtual e o real estão intrinsecamente conectados. A proposta da
sociologia é compreender e desvendar relações ocultas no que diz respeito às
desilusões, ao não dito e às contradições do uso da rede.
Você pode se perguntar: será que a internet gera mesmo a igualdade e
a inclusão social total em todos os lugares? Não há desigualdade social e
exclusão ocorrendo? Será que todos os estudantes conseguem se conectar
sem restrições e de forma igualitária? A igualdade de acesso à informação é
uma suposição muito ambiciosa.
Apesar de a internet abranger todo o planeta, mesmo em países com elevado
desenvolvimento tecnológico e socioeconômico, a distribuição do acesso e
a conectividade não é igual para todos. Há pessoas que possuem maior ou
menor acesso. Tal acesso é condicionado por diferentes fatores, como a aptidão
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para se inserir nas redes e para usá-las em benefício próprio. Pode parecer
inacreditável, mas muitas pessoas do mundo todo não acessam a internet.
Além disso, você deve considerar que as pessoas não vivem conectadas o
tempo todo, mas acessam a rede entrando e saindo dela com frequência. Sua
permanência depende da fase da vida em que estão e das vivências que passam
a ter. Como você sabe, os usuários mais frequentes são os das novas gerações.
Às vezes, a internet parece homogeneizar as informações e os conheci-
mentos. Contudo, é importante você atentar à influência de cada cultura ao
redor do globo. A rede é, ao mesmo tempo, global e local. Portanto, a cons-
trução da aprendizagem não pode se desvencilhar dos aspectos locais que
possibilitam e determinam as práticas educativas. Assim como a construção
dos currículos tem de ser feita com base nas particularidades de cada local,
o uso das tecnologias não pode ser desvinculado do contexto escolar de cada
lugar. As situações de cada ambiente devem ser consideradas. Seria uma falha,
por exemplo, generalizar os conteúdos e abstraí-los das interações entre os
estudantes, desvinculando-os das organizações educativas e desconsiderando
as informações necessárias para a construção do conhecimento.
Você deve considerar também que a internet possibilita o acesso à infor-
mação, mas o professor tem o papel de mediar a relação entre o aluno e essa
informação. É dessa forma que se constrói o conhecimento. Entram em cena
métodos e técnicas educativas aliadas à tecnologia. Assim, o professor pode
utilizar explicações e pesquisas, além de construir materiais didáticos junto
aos alunos — como vídeos, blogs e trabalhos escritos. A ideia é incentivar os
estudantes a entender e analisar criticamente as informações.

A educação virtual que promove a aprendizagem on-line não pode ser separada
da realidade escolar. Também precisa estar conectada ao mundo do trabalho, ao
espaço da família, do lar e dos interesses. Ainda é preciso considerar relações e limites
vinculados a essas esferas da vida cotidiana. O uso da rede mundial, portanto, tem de
ocorrer dentro de contextos e situações sociais.

Muitas vezes, as práticas que utilizam a internet nas instituições educativas


estão de acordo com os interesses dessas instituições e não propriamente com
as demandas dos alunos. Nesses casos, geralmente há excesso de burocracia
para o controle de professores, estudantes e funcionários. O uso de sistemas
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informatizados de ensino pela administração muitas vezes tem como objetivo


o controle e o desenvolvimento: a ideia é ser eficiente, moderno e racionalizar
os custos, deixando de lado a preocupação com a aprendizagem dos estudantes.
Assim, a instituição defende seus interesses e os alunos ficam em segundo
plano, tornando-se um meio para o alcance dos objetivos organizacionais.
Como você sabe, a internet também possibilita o controle, a vigilância. Por
meio da rede, as instituições podem monitorar as atividades dos indivíduos que
fazem parte de seu sistema de ensino. As pessoas são observadas, monitoradas e
mensuradas quando a instituição de ensino acha necessário. A ideia é conhecer os
alunos e saber como agir em relação a eles. Historicamente, a escola sempre teve
o poder de monitorar os alunos com a finalidade de manter a ordem e a disciplina.
Mas a rede também contribui para a vigilância externa das outras instituições de
ensino, já que muitas vezes é possível acessar índices de desempenho e avaliações.
Assim, a vigilância aumentou, mas a resistência a ela também cresceu. Ataques
cibernéticos acontecem de tempos em tempos em diversas partes do planeta.
As instituições sociais e políticas, como o Estado, a economia e as empresas,
buscam usar a internet em seu proveito, mas também são influenciadas por ela.
Nesse cenário, as políticas educativas têm sido adequadas aos interesses políticos
e econômicos do mercado e dos Estados. A ideia é competir internacionalmente
com as economias globais. Assim, os sistemas de ensino são remodelados para
que os países possam competir de forma eficaz com outras nações. O ensino
profissional é reformulado para se adaptar às exigências da globalização.
A internet também gera a privatização dentro de instituições de ensino. As
empresas se associam a universidades, usufruindo delas e injetando dinheiro
para produzir mais conhecimento. Por sua vez, o terceiro setor, por meio da
filantropia, também vem utilizando a rede mundial para defender seus pontos
de vista, com um viés missionário. Além disso, na contramão dessa corrente,
grupos neonazistas, terroristas e fanáticos religiosos têm usado a rede para
disseminar suas ideias sem o controle do Estado.

Ao longo do seu estudo, é importante que você reflita sobre estas questões: quem
realmente se beneficia da internet? Ela rompe padrões e relações sociais existentes?
A internet tem dado mais poder para aqueles que já são os detentores do poder, da
informação? Em que medida o sujeito que navega virtualmente recebe informação e
pode construir conhecimento? Até que ponto vale a pena estar sempre conectado?
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A escola tem a função de transmitir às novas gerações os conhecimentos


que são necessários para a vida social. A criança, o adolescente e o adulto
vão às instituições escolares para aprender. Mas aprender para quê? Para
ser cidadãos reflexivos e conscientes de seus direitos e deveres, em prol da
construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A utilização apro-
priada da internet pode contribuir significavelmente para que esse objetivo
seja alcançado.
Os aplicativos tecnológicos permitem praticar e cultivar redes sociais. As
pessoas se conectam com empresas, organizações e grupos. A internet é o
instrumento que propicia a construção de redes por meio de computadores e
smartphones. Contudo, apesar de ter o poder de conectar pessoas, formando
ou restabelecendo laços sociais, a internet também pode afastar os sujeitos.
Ela pode levar ao isolamento no mundo real e à superficialidade das relações
sociais, que se tornam fluidas e sem envolvimento.
Muitas vezes, o ser humano fica tão dependente da máquina que se torna
passivo, como se não pudesse viver sem ela. A ânsia de possuir os últimos
aparelhos lançados para não ficar para trás torna o indivíduo um consumidor
voraz e dependente das tecnologias. Como você sabe, a procura por bens
digitais vem crescendo significativamente nas últimas décadas. Isso demonstra
a importância que a sociedade atribui a eles. Contudo, o acesso aos bens de
consumo não ocorre de forma igual para todos, pois a sociedade é desigual.
A exclusão digital ocorre em diversas partes do mundo e é decorrente das
desigualdades socioeconômicas. Muitos não têm acesso a um computador ou
não sabem como usá-lo.
Por fim, outro ponto que você deve considerar é a segurança na internet.
As fake news (notícias falsas) que circulam na rede podem influenciar opiniões
políticas e destruir reputações. É preciso pesquisar a fonte, questionar, criticar
e ter uma postura ativa e reflexiva sobre o que se lê e o que se pode repassar
aos outros. Hoje, existem também os perfis fake. São perfis administrados por
alguém que se passa por outra pessoa. O anonimato na rede faz com que não
seja seguro interagir com indivíduos desconhecidos. Assim como o mundo
real, o ambiente virtual é um espaço para golpes.
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Ultimamente, tem se falado muito em fake news. Elas são informações falsas que
circulam pela internet. A rede mundial de computadores foi se transformando em um
espaço em que tudo se dissemina muito rápido. Assim, reputações são construídas
e destruídas em questão de minutos. Muito do que se posta na rede é considerado
como verdade e muitas pessoas simplesmente replicam o conteúdo sem ao menos
questionar o que foi recebido e lido e sem checar as fontes. Cabe ao professor ensinar
aos alunos a importância da análise crítica das informações e questionar os efeitos
delas na vida das pessoas na sociedade.

O uso da tecnologia digital na educação


Educar estudantes que já nascem na era tecnológica é uma tarefa desafiadora,
não é? Os chamados “nativos digitais” já não veem a internet como algo
inovador, como era o caso das gerações passadas. Para eles, a tecnologia
faz parte da sua vida de forma natural, pois quando nasceram ela já existia.
Assim, eles aprenderam desde a infância a utilizar os aparelhos tecnológicos
que iam conhecendo. Além disso, sempre utilizaram seu tempo para postar
fotos e vídeos nas redes sociais, elaborar blogs e sites, ouvir músicas, assistir
a séries, jogar e compartilhar notícias.
Contudo, saber utilizar a internet não implica necessariamente distinguir os
limites entre o mundo real e o virtual. Apontar essa distinção aos estudantes
é tarefa dos mais velhos, como os membros da família e também o professor.
Afinal, o uso da tecnologia pode promover oportunidades e possibilidades,
mas também envolve restrições.
Você pode, então, se perguntar o seguinte: quais têm sido as metodologias
de ensino dos professores nessa era digital? Como se configura a nova sala de
aula? Como são as práticas pedagógicas na sociedade imensamente afetada
pelo uso da tecnologia? Como o professor pode falar a língua do aluno e en-
tender o mundo dele? Como ensinar estudantes que já nasceram na era digital
e que têm como parâmetro a rapidez dos acontecimentos? Preparar os novos
alunos, a nova geração (chamada de “geração Z”) que cresceu com o uso e o
desenvolvimento das novas tecnologias é uma tarefa instigante e desafiadora
para os professores do século XXI.
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Como você sabe, a tecnologia faz parte do processo de ensino e aprendi-


zagem. Embora ela tenha um papel primordial na modificação dos processos
de ensino, é também um instrumento utilizado pelo professor e pela escola
para a construção e a socialização do conhecimento.
No início da educação digital, a principal mudança na sala de aula era a
presença de computadores. Muitas vezes, o professor não possuía total fami-
liaridade com a máquina e esperava que a classe interagisse com o aparelho.
Os alunos criavam textos, gráficos e slides. Atualmente, em algumas escolas,
é utilizada a lousa digital, que é uma nova forma de apresentar slides. Assim,
os alunos não precisam mais copiar o conteúdo do quadro. Na maioria das
escolas públicas, em que o quadro negro ainda persiste, o professor ouve
sempre dos alunos a seguinte frase: “Posso tirar foto do quadro?”. Por outro
lado, em algumas escolas, alunos utilizam óculos virtuais e se transportam
para outros lugares, enriquecendo aulas de geografia e história.
A educação agora não se restringe à sala de aula. O ensino a distância per-
mite que o estudante fique imerso em um ambiente virtual em que tem acesso
a todo o conteúdo da disciplina. A matéria e os exercícios são realizados por
meio de um computador ou um smartphone. Há estudiosos que afirmam que
futuramente o ensino dividido por disciplinas vai desaparecer. Além disso, a
sala de aula poderá ser constituída por grupos de alunos que se reúnem para
estudar e aprender sobre conteúdos que despertam seu interesse. Os grupos
poderão ser multidisciplinares e não mais separados por área de conhecimento
ou matéria. A avaliação será realmente individual, de acordo com o ritmo de
aprendizado de cada estudante. Assim, não será determinada por uma única
pessoa. Além disso, currículos multivariados serão elaborados, conforme a
utilização do corpo discente das tecnologias educativas. Hoje, a educação por
projetos já existe em algumas escolas no mundo.
Em síntese, você deve considerar que o professor precisa usar as ferramentas
tecnológicas a seu favor. A ideia é que prepare atividades que estimulem a atenção
e a aprendizagem dos alunos. Estes podem buscar novos conhecimentos por meio
de pesquisas, criação de vídeos, blogs, grupos de discussão online, contato com
estudantes de outras culturas por meio das redes sociais, etc. A transmissão das
informações pode ser realizada por intermédio de livros, digitais ou não, vídeos,
sites e bancos de dados. Cabe ao educador estimular a pesquisa e a curiosidade
do aluno para aprender e apreender o mundo que o cerca.
A internet faz parte, mas não é o todo. Os estudantes devem aprender a
usar essa ferramenta de comunicação e interação social de forma proveitosa.
Enfim: devem receber uma educação digital. Mas não basta ter dispositivos de
última geração para ser educado digitalmente. Não basta que os governantes
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e as instituições escolares invistam em aparelhos tecnológicos. A verdadeira


educação digital é a capacidade de utilizar as ferramentas básicas de forma
correta, reflexiva e eficiente, em consonância com princípios e valores cidadãos.
A informação está ao alcance de quase todas as pessoas por meio da
internet. Cabe ao professor e à organização educativa orientar, estimular e
transformar o processo de ensino e aprendizagem por meio do uso das tecno-
logias de informação e comunicação. Como ferramenta de aprendizagem, as
tecnologias não transformam totalmente a relação professor-aluno. Professores
presos a métodos antigos ou autoritários de ensino continuarão a usar o seu
poder hierárquico, enquanto professores democráticos usarão a tecnologia
para a reflexão e o aprimoramento da classe.

Acesse o link a seguir para ler o texto Aumenta acesso de estudantes a novas tecnologias,
disponível no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP).

https://goo.gl/w43ks5

O impacto social da tecnologia na educação


Todos os dias, novos aparelhos tecnológicos surgem e se inserem no cotidiano
de grande parte da população mundial. As telecomunicações e a informática
vêm viabilizando diferentes cursos em diversos níveis de ensino, áreas do
conhecimento e disciplinas. Como você pode imaginar, isso possibilita que
pessoas de diversas idades continuem ou retornem aos seus estudos, ou até
mudem de profissão.
Fora do espaço escolar, os indivíduos estão sempre acessando as inovações
tecnológicas. A realidade também se torna virtual. As pessoas estão conectadas
entre si e com os objetos na maior parte do tempo. Essa nova época mundial
gera muitas possibilidades e experiências de interação. Nesse contexto, surgiu
também a internet das coisas. Eletrônicos e eletrodomésticos se conectam entre
si. A realidade virtual transforma as relações sociais da vida contemporânea.
Segundo Castells (1999), essa revolução se configura como a transição da
sociedade industrial para a sociedade da informação. Para ele, o novo modelo
de informação se manifesta na transformação das sociedades em diferentes
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setores: na cultura, na política, na economia. Enfim: são as relações sociais


influenciando as visões de mundo.
A sociedade em redes é produzida por indivíduos e grupos humanos que
vêm transformando e atribuindo novos significados às suas interações, sejam
elas sociais ou profissionais. Isso conecta o planeta em uma imensa rede local
e, ao mesmo tempo, global. A internet, como você sabe, possui importância
fundamental na sociedade do século XXI. Ela possibilita o contato com di-
versos aspectos da realidade social. Contudo, segundo Castells (1999), não é
a internet que modifica os indivíduos. Os seres humanos, em suas relações, é
que modificam a internet. Assim, a internet não é algo em si, mas é socialmente
construída pelos atores sociais.
O avanço da tecnologia possibilita a utilização das mídias interativas,
conectando em tempo real estudantes e professores, ainda que estejam a
quilômetros de distância. Isso modifica consideravelmente as estruturas de
ensino e aprendizagem, de modo que a mídia se torna um meio de acesso ao
conhecimento. A rede é utilizada com fins educativos, buscando melhorar a
aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento do ambiente de ensino.
Nesse contexto, há a presença cada vez maior das tecnologias de infor-
mação e comunicação no dia a dia dos estudantes e docentes. Isso configura
um desafio pedagógico. O uso constante de smartphones, tablets e notebooks
na sala de aula exige da instituição de educação uma postura mais dialó-
gica, mas não menos crítica. Os novos recursos de ensino e aprendizagem
transformam o modo como os professores ensinam e a maneira como os
alunos aprendem.
Você pode se perguntar: a implementação da tecnologia no ambiente
escolar é sempre positiva? Quais são seus limites e possibilidades? O uso
da internet realmente melhora o processo de ensino e aprendizagem? A
inclusão de recursos audiovisuais na escola tem se tornado meta de diversos
governos ao redor do mundo e também no Brasil. Mas, afinal, a tecnologia
realmente melhora o ensino? Em síntese, você pode considerar que ela tem
o poder de renovar o ensino e de promover o desenvolvimento integral do
estudante — do ponto de vista psicológico, social e emocional, de forma
crítica e criativa.
Com a inserção da tecnologia, há uma ruptura na estrutura escolar.
Aulas se tornam virtuais. Assim, não há mais a necessidade de um espaço
físico para que o professor ensine e o aluno aprenda. O ensino possui cará-
ter flexível e com traços de mobilidade. A relação entre o que é ensinado
e o que é aprendido na escola nem sempre segue uma linha reta, havendo
recuos e avanços.
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O uso dos aparelhos tecnológicos tem o poder de catalisar e promover


uma transformação no modelo educacional. A tecnologia pode ser utilizada
de diferentes formas, viabilizando inúmeras maneiras de aprender. O espaço
escolar do futuro, portanto, é um espaço de comunicação aberta e múltipla, de
diversos diálogos e posicionamentos, levando à construção do conhecimento. A
tecnologia ajuda o professor em sua atuação na sala de aula e no planejamento
de seu conteúdo. As atividades relacionadas à educação digital podem ocorrer
em diferentes níveis de ensino.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ci-
ência e a Cultura (c2017, documento on-line), as TICs podem promover
e acelerar o desenvolvimento direcionado à meta de “[...] educação para
todos e ao longo da vida [...]”, contribuindo para a universalização e ao
mesmo tempo para a especificidade do conhecimento local dos seres
humanos. Para a Unesco, as TICs fazem parte de um desenvolvimento
gradual de tecnologias educativas, que começaram pela lousa, pelo giz e
pelos livros. Porém, há ainda várias discussões éticas e legais relacionadas
à propriedade do conhecimento e à educação, que vem se tornando uma
mercadoria. Outros debates envolvem a mundialização da cultura versus
a diversidade cultural, a globalização e a homogeneização dos modos de
vida (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO,
A CIÊNCIA E A CULTURA, 2017).
Você não pode desconsiderar o fato de que a escola é um espaço plural, com
um conjunto de estudantes que não é homogêneo. Os alunos possuem diferentes
culturas, níveis socioeconômicos, faixas etárias, bagagens culturais, origens
sociais e visões de mundo. Assim, entender a escola em suas singularidades
e diferenças possibilita agir nessa instituição e transformá-la. Como você
sabe, o ambiente escolar é fundamental para a formação dos sujeitos como
cidadãos e como profissionais. Além disso, é nele que as pessoas passam uma
fase muito importante da sua história.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.


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Acesso em: 14 out. 2018.
14 Sociologia da educação digital

Leituras recomendadas
ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos
ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 2, p.
327-340, jul./dez. 2003.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de
ensino. São Paulo: Francisco Alves, 1975.
CHARLOT, B. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões
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DURKHEIM, E. Educação e sociologia. 6. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1965.
FLORIAN, D. P. Educação tecnologia e sociedade: um debate sobre as possibilidades das
novas mídias no âmbito escolar. 2011. Disponível em: <http://www.uel.br/projetos/
lenpes/pages/arquivos/VI-SS-Sociologia/trabalhos/textos/TEXTO%2011%20-%20
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IMBERNÓN, F. (Org.). A educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. Porto
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