Você está na página 1de 2

AULA 03 – IDENTIDADES AFRICANAS Identidade étnica informava relações do Texto 2: SLENES, ROBERT.

Texto 2: SLENES, ROBERT. “Malungu, ngoma IDENTIDADE BANTU → acima das diferenças
CURSO: IDENTIDADE BRASIL – escravo com o senhor e destas se alimentava vem!”: A África coberta e descoberta do Brasil. étnicas originais.
SET/2011 para estruturar a comunidade escrava na paz e (1992)
na guerra. CENTRO-SUL: condições favoráveis para o
Centro: investigou indícios do processo pelo surgimento de uma identidade comum entre
Texto 1: REIS, João José – “O levante dos Malês: Na Bahia: qual africanos de diversas etnias, falantes de escravos africanos. Quais as conseqüências
uma interpretação política” (1988) •Africanos eram maioria dos escravos diferentes línguas BANTU, redesenharam as políticas disso?
•Maioria dos africanos era escrava. fronteiras étnicas.
Relações entre CLASSE – ETNIA E RELIGIÃO na UMA NAÇÃO DENTRO DE OUTRA NAÇÃO:
rebelião de 1835. Ou seja: todos africanos da Bahia eram ou SOLIDARIEDADES TECIDAS ATRAVÉS DA: •Formariam uma “proto-nação” BANTU no
haviam sido escravos. •Palavra → Línguas Brasil – PREOCUPAÇÃO.
Escravos recriaram na Bahia rede cultural e •Afinidades culturais (“Gramática cultural”) •BANTU: “A língua das senzalas”
institucional, enraizada nas tradições étnicas Convívio de várias etnias sob a escravidão
africanas, mas readaptadas ao contexto da transformou-os em cúmplices, sugerindo uma A partir dessas solidariedades, foi possível aos Códigos: “Ngoma vem” – (Tambor) /Jongo
escravidão. identidade pan-africana embrionária. escravos do Centro-Sul do Brasil construir um
Identidade, entretanto, que não eliminava as CONCEITO COMUM DE POVO E NAÇÃO – ÁFRICA → permanecia COBERTA no Brasil para
Pressuposto: hostilidade entre CRIOULOS e diferenças. expressado muitas vezes nos projetos de alguns.
AFRICANOS. rebelião.
Enfim: Enquanto isso: “ia sendo DESCOBERTA – e
Pressuposto: CONCEITO DE CLASSE Relacionando classe e etnia, Reis afirma que se Início: Rugendas justificando presença imagens acobertada – por outros, que reconheciam uma
ABRANGENTE – mais do que relações as diferenças étnicas dividiam os escravos de escravos em sua obra – Brasil = variedade teia de significados em comum: não mais
econômicas. “enquanto classes, a experiência escrava de étnica. Rugendas: entrevistava escravos – através da linguagem, mas no interior dela, na
classe reforçava a solidariedade étnica. Conclui vocabulário de línguas africanas. própria densidade cultural e histórica de suas
Salvador: escravos e libertos se assemelhavam, assim que o “convívio sob a escravidão dessas palavras e na dinâmica de sua utilização.
eram tratados igualmente. Também se diversas etnias transformou-as muitas vezes em LÍNGUAS → Elos culturais entre os escravos;
assemelhavam nas relações sociais, ideológicas cúmplices, sugerindo uma identidade pan- Santo Antônio: Santo Antonio dos negros
e culturais com brancos e outros habitantes da africana embrionária”. ÁFRICA CENTRAL → “reino etnográfico” = oferecia um exemplo da capacidade de pessoas
cidade. Solidariedade étnica diminuía grande grupo lingüístico. LÍNGUAS BANTU da África central de REINTERPRETAR SÍMBOLOS
diferenças entre libertos e escravos. Religião: e objetos estrangeiros, nos termos básicos de
•30% dos escravos eram NAGÔS MALUNGU → barco + companheiro de sua cultura de origem.
Porque haviam libertos na Revolta dos Malês, •1835: 304 escravos presos – 200 Nagôs embarcação + companheiro na travessia da
parte da historiografia apressou-se em dizer que •200 Nagôs: 143 escravos kalunga. 1848 – Medo/Revolta em Vassouras – Tráfico.
esta não era uma revolta classista. Escravidão → PROBLEMA PARA FORMAÇÃO DA
Ou seja: A rebelião foi luta étnica, mas foi “A história de malungu encapsula o processo IDENTIDADE NACIONAL.
Identidade Étnica: elaboração local de materiais também luta de classes e, outro aspecto que pelo qual escravos, falantes de língua bantu
culturais velhos e novos, materiais trazidos e passamos a discutir é luta religiosa. diferentes e provindo de diversas etnias, Visão preconceituosa sobre a África não
materiais aqui encontrados, todos reinventados começaram a descobrir-se como irmãos. permitia senhores perceber a sofisticação na
sob a experiência da escravidão. Religião: foi força ideológico-cultural mais elaboração cultural e rebelde dos escravos.
poderosa de moderação das diferenças étnicas Centro-Sul:
Papel da experiência de classe na formação das e sociais no interior da comunidade africana, •Grande número de escravos africanos Se para a elite brasileira a única identidade que
culturas étnicas. embora tenha falhado em unir africanos e •intensidade do tráfico (que não parava) podia ser forjada entre os africanos era a que
crioulos. •Escravos vindos da África Central. surgisse a partir de sua condição de escravos, ou
Bahia: Se aqui a etnicidade dividia escravos •Escravidão no centro sul era BANTU. a que fosse buscada na “barbárie”
enquanto classes, a experiência escrava de Religião - foi meio de solidariedade inter-étnica. compartilhada de suas origens, era impensável
classe reforçava a solidariedade étnica. Classe e Islã foi forte fator de mobilização. Preconceitos contra africanos recém-chegados – que pudesse haver uma união entre cativos em
etnia estavam, nesse sentido, intimamente aprofunda solidariedade e identidade já nascida torno de paradigmas culturais complexos.
ligadas. do outro lado do Atlântico.
Texto 3: SLENES, ROBERT. “A árvore de NSANDA Estratégia: identifica características dos cultos escravos, na ausência de saídas individuais,
transplantada: cultos Kongo de Aflição e KIMPASI. levasse à senzala à unidade política. AFIRMAR-SE NEGRO: estava subordinado ao
Identidade escrava no Sudeste Brasileiro”. Texto 4: AZEVEDO, ELCIENE. Orfeu de reconhecimento de uma ascendência africana.
(2006) “Movimento Antoniano” (KIMPA VITA) no Carapinha: a trajetória de Luiz Gama na
antigo Reino do Kongo, fortemente marcado Imperial cidade de São Paulo. (1999) ASCENDÊNCIA: para além de tradições culturais
Argumento central: existência de “forças de pelos cultos KIMPASI. partilhadas. Passado naturalizado em laços
coesão” dentro das senzalas, para além dos Vida: consangüíneos, de PARENTESCO. Depois de
laços familiares. Kongo recorriam a seus recursos culturais para - Filho de africana livre com fidalgo português. tantos anos de escravidão, como não ter
Como se dava esse CONSENSO nas senzalas? confrontar tráfico, na América, utilizavam-no - Vendido escravo (1840) – BA – SP (10 anos) vínculos? É mais que cor da pele.
para confrontar escravidão. Nsanda foi - Morar na cidade de SP (sapateiro)
Texto começa com o relato de uma briga entre transplantada. - 17 anos alfabetiza-se com hóspede senhor CONSTATAÇÃO: BRASIL É MESTIÇO. Todo o país
dois escravos – morte de um deles. - 18 anos: fugiu – provas de liberdade. tinha ascendência negra.
Vai identificar 3 MOVIMENTOS RELIGIOSOS NO - Cabo de esquadra/ Amanuense de Delegacia
“A Árvore da Liberdade” (Formação da Classe SUDESTE que fazem lembrar as sociedade - Escrivão policial ORIGEM COMUM: Reconhecimento
Operária – Thompson) – costumes em comum, KIMPASI. Um deles era uma CONSPIRAÇÃO. - Amanuense da Secretária de Polícia. IGUALDADE ENTRE NEGROS E BRANCOS.
tradições, laços identitários → antes da - Poeta, jornalista (Diabo Coxo), advogado.
formação da classe. 1) Cabula: Espírito Santo (1900) IDENTIDADE PROPOSTA: implica na superação
2) Movimento Religioso em São Roque (1854) Obra: Primeiras trovas burlescas de Getulino das diferenças dentro da raça – para criação de
“A Árvore de NSANDA”: origem dos negros, 3) Plano de Revolta em Vassouras em 1848. (1859) uma TRADIÇÃO COMUM.
figueira da África Central – encerra crenças e
instituições fundamentais para KONGOS Impacto político das rebeliões com presença de Reafirmava o tempo toda sua identidade negra IDENTIDADE de GAMA: ultrapassa fronteiras
(BAKONGOS) E MBUNDU → povos do Baixo cultos religiosos africanos → mostraria nos versos. étnicas (3 experiências – Infância: BA + africanos
Zaire e interior de Luanda. identidade e unidade entre escravos. livres e escravos/ juventude: SP + escravo
48 - Sátira irreverente de pena mordaz e negra, doméstico, crioulos + identidade africana
NSANDA: Árvore sagrada, símbolo de “NOVA FAMÍLIA ESCRAVA”: os KIMPASI disposta a tematizar entre outras coisas, a Centro-Sul/ adulto: mundo branco das letras).
autoridade real, chefaturas locais. Ligada atravessam fronteiras entre linhagens e clãs. questão racial.
também às matrilinhagens locais e GAMA: resgatando uma origem africana
fecundidade. Nsanda relacionada com espíritos Instituições religiosas que permeavam tanto a 51 – Enfrentou: além de querelas estéticas, comum, que superava não só diferenças étnicas,
locais da água e da terra. senzala como o mundo dos livres e libertos. preconceito por entrar num mundo considerado mas também distinções entre brancos e negros
branco – o “mundo letrado”. criadas pelo regime escravista. AFRICANIDADE
“Complexo da Árvore de Nsanda” – sobreviveu à Os escravos eram essencialmente dados à 53 – Como poderia um sapateiro, negro, ex- reivindicada seria uma das partes constitutivas
travessia do Atlântico. Reapareceu no Brasil nos rebelião? escravo, ser poeta? da sociedade brasileira.
cultos de aflição comunitários. Movimentos
religiosos, também de conotação política – Africanos e seus filhos no Brasil, como em 59 – Em um de seus poemas, intitulou-se AFRICANIDADE → RAIZ DA BRASILIDADE
conhecidos no Kongo como KIMPASI. outros lugares, desenvolveram uma consciência “ORFEU DE CARAPINHA”. Orfeu na mitologia:
dupla – a astuta habilidade de cultivar, aquele que busca algo em seu passado que foi ROMANTISMO: “invisibilidade do negro”. Gama
África Central Ocidental: herança cultural e simultaneamente, estratégias e identidades perdido. (MÃE AFRICANA) abria caminho para uma aceitação nacional a
patrimônio lingüístico BANTU. aparentemente contraditórias – para poder diferença e da diversidade brasileira.
enfrentar – “com ginga” tudo o que viesse pela 59 – Identidade: ultrapassava questão da cor,
INDÍCIOS: línguas próximas + cosmologia e frente. mergulhava mais fundo no significado de ser GAMA: elegia a ÁFRICA COMO PARTE DA NOVA
práticas religiosas muito semelhantes. negro. NACIONALIDADE.
[...] Nas plantations paulistas e fluminenses as
Impacto da cultura Kongo e de cultura próximas grandes forças de coesão escrava, e o sistema INSISTE NO RECONHECIMENTO DE SUA INCORPORAR ÁFRICA AO BRASIL.
a elas nas senzalas do Sudeste: VALE DO peculiar de incentivos senhoriais, pode ter tido AFRICANIDADE – legitimidade para criticar.
PARAÍBA FLUMINENSE + NORTE ESPÍRITO uma ligação dialética. Talvez os senhores
SANTO. tenham sido obrigados a adotar este sistema MESTIÇOS: tinham a possibilidade de burlar as
para evitar que a proximidade cultural entre os dificuldades impostas pela sociedade escravista.
Males individuais/Sociais → Feitiçaria, rituais Reproduziam preconceitos. (Ver p. 61)

Você também pode gostar