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CINESIOLOGIA

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD


Cinesiologia – Prof. Dr. César Augusto Bueno Zanella e Prof. Ms. Edson Alves de Barros Júnior

Meu nome é César Augusto Bueno Zanella. Sou graduado em


Fisioterapia pela Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP,
mestre em Farmacologia pela Faculdade de Ciências Médicas
– UNICAMP e doutor em Neurociências pela Faculdade de
Medicina – USP-Ribeirão Preto. Minha experiência profissional
está pautada na reabilitação de pacientes neurológicos.
Atualmente, sou coordenador geral de Extensão do Centro
Universitário Claretiano e docente do curso de Fisioterapia,
ministrando as disciplinas Patologia, Fundamentos Bioquímicos
e Farmacológicos, Fisioterapia Neuropediátrica e Fisioterapia
Neurológica I e II. Além disso, sou professor convidado dos programas de Pós-graduação
lato-sensu da Universidade de Franca e do Centro Universitário Barão de Mauá.
e-mail: extensao@claretiano.edu.br

Meu nome é Edson Alves de Barros Júnior. Sou graduado em


Fisioterapia pela Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP.
Realizei o programa de Aprimoramento Profissional na Área
de Fisioterapia aplicada à Ortopedia e Traumatologia, do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP-Ribeirão
Preto (HCFMRP-USP), e sou mestre em Bioengenharia pela
Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto. Tenho experiência
clínica, iniciada em 1990, com atendimento às lesões de atletas
profissionais e amadores e já atuei, também, como docente
no curso de Fisioterapia da Universidade de Alfenas – UNIFENAS, de 1995 a 1997, e
na Universidade Paulista – UNIP campus Ribeirão Preto, de 1998 a 20Atualmente, sou
coordenador dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Fisioterapia do Centro
Universitário Claretiano e docente no curso de Graduação, ministrando as disciplinas de
Cinesiologia e Fisioterapia Geral.
e-mail: fisioterapia@claretiano.edu.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


César Augusto Bueno Zanella
Edson Alves de Barros Júnior

CINESIOLOGIA
Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2009 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
 
612.76 Z32c

Zanella, Cesar Augusto Bueno


Cinesiologia / Cesar Augusto Bueno Zanella, Edson Alves de Barros Junior –
Batatais, SP : Claretiano, 2013.
266 p.

ISBN: 978-85-67425-26-9

1. Aquisição de noções básicas a respeito do aparelho locomotor. 2. Conceitos e


aplicações da cinesiologia e da biomecânica relacionados à complexa análise do
movimento humano, tanto nas atividades da vida diária como nas esportivas.
I. Barros Junior, Edson Alves de. II. Cinesiologia.

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Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

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Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO........................................................................... 10

Unidade  1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CINESIOLOGIA


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 33
2 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 33
3 SUGESTÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE......................................................... 34
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 37
5 CONSIDERAÇÕES E HISTÓRICO DA CINESIOLOGIA.............................................. 37
6 CONCEITOS MECÂNICOS..................................................................................... 41
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 80
8 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 80
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 81
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 82

Unidade  2 – ARTROLOGIA
1 OBJETIVOS........................................................................................................... 85
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 85
3 SUGESTÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE......................................................... 86
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 86
5 SISTEMA ARTICULAR........................................................................................... 87
6 ARTICULAÇÕES E SEUS MOVIMENTOS................................................................ 93
7 ARTICULAÇÕES DO MEMBRO INFERIOR............................................................. 156
8 COLUNA VERTEBRAL .......................................................................................... 208
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................... 222
10 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 223
11 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 224
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 227

Unidade  3 – ASPECTOS DA FISIOLOGIA MUSCULAR E NEUROFISIOLOGIA


DO CONTROLE MOTOR
1 OBJETIVOS........................................................................................................... 229
2 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 230
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 230
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 231
5 ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO.......................................................... 231
6 EXCITAÇÃO DOS NERVOS E DAS FIBRAS MUSCULARES ESQUELÉTICAS.............. 241
7 FONTES DE ENERGIA PARA A CONTRAÇÃO MUSCULAR...................................... 245
8 TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES.......................................................................... 248
9 A UNIDADE MOTORA.......................................................................................... 250
10 RECEPTORES ARTICULARES, TENDINOSOS E MUSCULARES................................ 252
11 O CONTROLE MOTOR.......................................................................................... 257
12 CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS A RESPEITO DO CONTROLE MOTOR........................ 260
13 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 262
14 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 263
15 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 264
16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 264

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EAD
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Aquisição de noções básicas a respeito do aparelho locomotor. Conceitos e apli-
cações da Cinesiologia e da biomecânica relacionados à complexa análise do
movimento humano tanto nas atividades da vida diária como nas atividades es-
portivas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Neste Caderno de Referência de Conteúdo, você encontrará
tópicos que o ajudarão a compreender a importância dos conhe-
cimentos fundamentais da Cinesiologia como pré-requisitos para
o aprendizado de outras disciplinas e para a formação de um pro-
fissional voltado à promoção e à manutenção da saúde tanto em
nossa sociedade, de maneira geral, como no contexto escolar de
forma mais específica, dando subsídios para o planejamento e a
implementação de programas de prevenção, orientação e treina-
mento esportivo apropriados.
A cinesiologia faz parte do currículo básico de alguns cursos
voltados à área da saúde, uma vez que um de seus objetos de es-
tudo é o movimento do corpo humano.
Vamos juntos estudar os conceitos mecânicos e suas influên-
cias no corpo humano durante as atividades cotidianas e despor-
8 © Cinesiologia

tivas. Faremos uma revisão da estrutura do músculo esquelético


retomando, na anatomia, todas as interações importantes para a
função, como a fisiologia muscular, a neurofisiologia e as ativida-
des que envolvem as ações do sistema neuro-musculoesquelético,
estudando as considerações necessárias a respeito do controle
motor.
A Cinesiologia, pode não parecer importante em um primei-
ro momento. No entanto, não é difícil entender o porquê de ser
essencial esse estudo para o profissional que atua nessa área, uma
vez que esse estudo é fundamental para a compreensão dos mo-
vimentos humanos, o que torna pertinente o seu ensino, também,
no âmbito da licenciatura.
Este caderno fornecerá o suporte básico para que você pos-
sa ter uma visão crítica sobre os movimentos envolvidos nas ati-
vidades cotidianas, laborais e desportivas, o que proporcionará a
concepção de um professor de Educação Física diferenciado, inte-
ressado por uma formação completa que garanta o cuidado apro-
priado de seus futuros alunos.
A Educação a Distância exigirá de você uma nova forma de
estudo, uma vez que você é o protagonista da sua aprendizagem.
Contudo, você não estará sozinho; terá todo o suporte necessário
para a construção de seu conhecimento. Esse será um desafio que
enfrentaremos juntos, e você verá que, com a sua dedicação, o
crescimento pessoal e o desenvolvimento profissional acontece-
rão naturalmente.
Não se esqueça de que você deverá participar e interagir
constantemente com seus tutores e colegas de curso nem de que
deverá fazer a leitura não só deste material, como também das
bibliografias indicadas. Quanto ao conteúdo do material, este está,
didaticamente, organizado em três unidades.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

Na Unidade 1, faremos uma introdução ao estudo da cine-


siologia iniciando-o com um relato histórico sobre essa área. Na
sequência, estudaremos os conceitos mecânicos e suas influências
no corpo humano durante as atividades cotidianas e desportivas,
e a importância desses conceitos na atuação do educador físico.
Veremos os principais termos utilizados neste campo, os quais se-
rão importantes para a padronização e compreensão do Caderno
de Referência de Conteúdo.
Já na segunda unidade , estudaremos, segmentarmente, o
corpo humano, abordando as estruturas anatômicas e todas as
interações importantes para suas funções. Assim, trataremos da
cinesiologia do tronco, dos membros superiores e dos membros
inferiores.
Finalmente, na Unidade 3, estudaremos os aspectos da fisio-
logia muscular e da neurofisiologia, bem como toda atividade que
envolve as ações do sistema neuro-musculoesquelético. Faremos
uma revisão da estrutura do músculo esquelético e abordaremos
todas as considerações importantes a respeito do controle motor.
A proposta deste caderno é despertar a compreensão dos
princípios básicos do movimento humano, de como a estrutura
anatômica e a função estão a ele diretamente envolvidas.
O convite está feito e agora só depende de você. O êxito da
sua aprendizagem dependerá, principalmente, do seu empenho
em cumprir as atividades propostas e em interagir de maneira
apropriada com seu tutor e colegas de curso. Portanto, venha ad-
quirir os conhecimentos básicos capazes de beneficiar e potencia-
lizar a sua atuação como professor de Educação Física.
Após esta introdução aos conceitos principais, apresentamos
a seguir, no Tópico Orientações para o Estudo, algumas orienta-
ções de caráter motivacional, dicas e estratégias de aprendizagem
que poderão facilitar o seu estudo.

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10 © Cinesiologia

2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO

Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse
modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social.
A seguir, apresentaremos uma breve síntese do conteúdo da
Cinesiologia.
Na primeira parte faremos a introdução ao estudo da cinesio-
logia, iniciando com um relato histórico sobre esta área. Também
estudaremos os conceitos mecânicos, suas influências no corpo
humano, nas atividades cotidianas e desportivas, e a importância
desses conceitos na atuação do educador físico. Estudaremos os
principais termos utilizados na cinesiologia, importantes para a pa-
dronização e compreensão.
A partir da segunda parte estudaremos, segmentarmente, o
corpo humano, abordando as estruturas anatômicas e todas as inte-
rações importantes para função. Assim abordaremos a cinesiologia
do tronco, dos membros superiores e dos membros inferiores.
Na terceira e última parte estudaremos os aspectos de Fisio-
logia Muscular e Neurofisiologia, e toda atividade que envolve as
ações do sistema neuro-musculoesquelético. Faremos uma revi-
são da estrutura do músculo esquelético, e abordaremos todas as
considerações importantes a respeito do controle motor.
Esses estudos são fundamentais para compreensão dos mo-
vimentos humanos, portanto, não fica difícil entender porque a
cinesiologia é importante para o profissional da Educação Física e
para a formação de um profissional diferenciado e comprometido
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

com a educação e com a promoção e manutenção da saúde. Então


vamos começar!
Talvez muitos já saibam, mas pode ser que alguns estejam
se questionando sobre o que é cinesiologia. Qual a importância
dela no contexto da Educação Física? No contexto das ciências da
Saúde? O termo cinesiologia é uma combinação de dois verbos
gregos. Kinein e Logos, que significam mover (Knein) e estudar
(Logos), assim temos que cinesiologia é a ciência dos movimentos
do corpo. O estudo da cinesiologia combina a anatomia – que é a
ciência da estrutura do corpo, com a fisiologia, que é a ciência da
função do corpo.
Mas, qual a origem da cinesiologia e como surgiram os pri-
meiro relatos e estudos? O título de "pai da cinesiologia" é dado a
Aristóteles, que descreveu, pela primeira vez, a ação dos músculos.
Aristóteles foi o primeiro a analisar e descrever o complexo pro-
cesso da marcha. Para sua época revelou notável conhecimento
sobre o papel do centro de gravidade, sobre as leis do movimento
e da alavanca. Outro grego, Arquimedes, determinou os princípios
hidrostáticos que ainda são considerados válidos na cinesiologia
da natação, e que são ainda empregados na determinação da com-
posição corporal.
Temos muitos estudiosos que contribuíram para o surgimen-
to da moderna cinesiologia, como Galeno, cidadão romano que
cuidava dos gladiadores, possuía importantes conhecimentos do
movimento humano e é considerado o primeiro médico de equipe
da história. Ele estabeleceu a diferença entre nervos motores e
sensitivos e entre músculos agonistas e antagonistas. Após Galeno,
a cinesiologia permaneceu quase estática por mais de mil anos, e
então temos muitos influenciadores como Leonardo Da Vinci, Ga-
lileu Galilei (1564-1643) e Alfonso Borelli (1608-1679) que relatou
a força produzida pelos músculos sobre os ossos utilizados como
alavanca. Ele é considerado como pai da moderna biomecânica.
Como não citar Isaac Newton (1642-1727), que estabeleceu o fun-

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12 © Cinesiologia

damento da dinâmica moderna, por meio das leis do movimento


e repouso.
Muitos outros, importantes personagens, introduziram ter-
mos ainda atuais, como isométrico, isotônico e hipertrofia muscu-
lar. Logo relembraremos esses termos abordando sua importância
para o nosso trabalho.
Agora que você já sabe que a cinesiologia é a ciência do mo-
vimento, vamos entender porque você utilizará essa ciência em
sua vida profissional. Embora possamos ver e sentir os movimen-
tos, as posturas adotadas em atividades cotidianas ou desportivas,
as forças que afetam os movimentos ou posturas não são vistas
ou percebidas. Conhecer onde e como estas forças atuam é fun-
damental para orientar e modificar atividades prescritas. Com a
análise cinesiológica nós poderemos compreender as forças que
atuam no corpo e como e onde atuam, como manipular estas for-
ças para corrigir alterações posturais ou laborais, para melhorar o
desempenho de um atleta ou para prevenir uma lesão. Veja um
exemplo: durante a marcha humana temos uma sucessão de mo-
vimentos dos membros inferiores que se deslocam anteriormente
e posteriormente, o mesmo ocorrendo com os membros superio-
res, sem contar com o equilíbrio que deve ser gerado na cabeça
e tronco. Temos, portanto, uma sucessão de ações musculares e
de forças geradas, e como descrevê-la? Como descrever possíveis
alterações? Para isso utilizaremos a cinesiologia.
Atualmente, temos muitos recursos tecnológicos que podem
nos auxiliar, como programas que, mediante uma imagem fazem
toda a descrição de movimentos.
Porém, é muito importante que antes de utilizar a tecnolo-
gia, você possa por meio da observação de pessoas que estejam
sob seu cuidado profissional, promover uma análise e intervir da
maneira correta.
Muito bem! Para realizar isso, vamos então dividir a análise
cinesiológica em dois momentos:
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

O primeiro momento é o estudo da cinemática. A cinemáti-


ca estuda o movimento sem, porém, analisar as forças que causam
esse movimento; assim a cinemática observa e analisa o movimento
que ocorreu. Vamos a um exemplo: como já citado, durante o cami-
nhar podemos observar que os membros inferiores se movimentam
alternadamente na direção anterior e posterior, ao realizarmos essa
forma de descrição realizamos uma análise cinemática, mas se qui-
sermos saber o que provoca esses movimentos, ai sim faremos uma
análise das forças, e entraremos em outra área de estudo.
A Cinesiologia, assim como a Anatomia, é um estudo des-
critivo e para padronizar a descrição cinesiológica utilizamos al-
gumas regras. Inicialmente devemos sempre considerar a posição
anatômica em que o corpo deverá estar em pé, em posição bípe-
de, com a cabeça e os olhos voltados para frente, com os membros
superiores ao lado do corpo e as palmas das mãos para frente, os
membros inferiores unidos e os pés também dirigidos para frente.
A partir da posição anatômica, a análise cinesiológica segue-se uti-
lizando os planos e eixos de movimento. Isso você já estudou na
anatomia! Mas vamos relembrar! Nós vamos utilizar os três planos
que são:
1) plano frontal ou coronal que divide o corpo em parte
anterior e posterior, neste plano ocorrem os movimen-
tos de Abdução (que é o movimento que afasta o seg-
mento da linha média do corpo) e adução (que é o mo-
vimento que aproxima o segmento da linha média do
corpo), neste plano também ocorre a Inclinação lateral.
Sempre que falamos de movimento articular, falamos de
movimento angular, e este ocorre em torno de um eixo.
No caso dos movimentos do plano frontal o eixo é o an-
tero posterior ou eixo Z.
2) Temos também o plano mediano que divide o corpo em
lado direito e esquerdo. Neste plano ocorrem os movi-
mentos de flexão e extensão. Para os movimentos do
plano mediano, o eixo é o latero-lateral ou eixo X
3) E, finalizando, temos o plano horizontal ou transverso
que divide o corpo em parte superior e inferior. Nes-

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14 © Cinesiologia

te plano ocorrem os movimentos de rotação interna e


externa (para os membros), rotação direita e esquerda
(para o tronco) supinação e pronação (para o ante-braço)
adução e abdução horizontal (para o ombro e quadril). O
eixo para esses movimentos é o eixo longitundidal ou Y.
Os planos também estão posicionados nos segmentos indi-
viduais (como nos membros superiores ou inferiores) a esses cha-
mamos de planos secundários. Na mão o plano mediano corres-
ponde ao terceiro dedo, e a região anterior é denominada de face
palmar ou volar e, a região posterior, face dorsal. Os movimentos
do punho são flexão extensão, e a abdução denominada como
desvio radial, e a adução como desvio ulnar. No pé o plano media-
no esta localizado no terceiro dedo, e os movimentos do tornozelo
são de flexão plantar como quando ficamos na ponta dos pés e
dorsiflexão quando elevamos a ponta dos pés do solo.
Agora que já compreendemos sobre os planos de movimen-
tos e seus eixos, vamos a um exemplo. Ao observar, por exemplo,
um grupo de crianças praticando futebol, imagine um garoto que
se prepara para realizar um chute. Temos que todo o seu corpo
está envolvido no movimento, porém, se tentarmos analisar to-
dos os movimentos de uma vez, podemos nos perder. Portanto, o
primeiro passo então, será determinar qual segmento queremos
avaliar, qual momento do gesto e pela posição deste segmento de-
terminar qual movimento está sendo realizado. Se escolhermos
analisar o membro inferior que se prepara para o chute, mesmo
neste segmento devemos realizar análises dividindo o segmento
nas várias articulações, ou seja, articulações do pé, tornozelo, jo-
elho e quadril. Essa é uma análise tradicional, na qual podemos
analisar os movimentos angulares ou rotacionais, descrevendo a
posição ou deslocamento do segmento. Podemos analisar cada ar-
ticulação individualmente, e obtermos no final uma análise de to-
dos os movimentos envolvidos na ação de chutar. Outras variáveis
da cinemática que podemos analisar são características temporais
do movimento que são velocidade e aceleração, e além dos movi-
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

mentos angulares podemos realizar analise do movimento linear


ou de translação, em que todas as partes do corpo se movem, mas
isso veremos com detalhes. Vamos rever os passos de uma análise
como a citada no exemplo:
1) Selecionamos uma pessoa.
2) Selecionamos uma atividade.
3) Determinamos qual segmento avaliar.
4) Descrevemos a posição ou movimento realizado.
Com a cinemática você poderá analisar a posição e movi-
mentos realizados por um individuo em seu ambiente escolar, em
seu trabalho, em sua atividade esportiva, e determinar situações
normais e anormais, podendo realizar correções de posturas coti-
dianas e gestos desportivos.
A partir da análise cinemática, podemos pela visualização
das estruturas e conhecimento da anatomia analisar as forças en-
volvidas no movimento, e então entraremos no estudo da Cinética
que é o segundo momento de análise.
A cinética estuda as forças que causam o movimento e tam-
bém que surgem em função do movimento.
Utilizando o mesmo exemplo, podemos analisar que ao chu-
tar uma bola , temos trabalhos diferentes, de diversos grupos mus-
culares, e assim em todo momento do chute. Desse modo, com a
análise cinética, podemos determinar quais forças agem nas arti-
culações, suas consequências e muito mais.
Durante nosso estudo detalharemos as forças, as leis de
Newton, a composição das forças, o princípio das alavancas mecâ-
nicas e alavancas musculares, as relações peso e gravidade e toda
aplicação dessas variáveis na sua atividade profissional.
Você já deve ter percebido que para realizarmos uma boa
avaliação cinesiológica, o processo se inicia com conhecimento de
anatomia, portanto se precisar não hesite em fazer revisões, mas
para melhor compreensão, estudaremos os segmentos anatômi-
cos e as principais características deste movimento, que será o as-
sunto da segunda parte do nosso estudo.

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16 © Cinesiologia

Agora que conhecemos alguns conceitos da cinesiologia, es-


tudaremos o corpo humano de modo segmentar, abordando as
estruturas importantes para função.
Relembrando da anatomia, temos: o tronco formado pela
coluna, pelo externo e pelas costelas. A coluna vertebral tem o
importante papel de sustentação do tronco, ao mesmo tempo em
que deve permitir mobilidade, ela serve para proteção da medula
espinhal, e é o elemento de ligação dos membros superiores e in-
feriores, servindo de elemento estático para movimentação destes
seguimentos. Percebam que interessante é o papel da coluna: ao
mesmo tempo em que deve ser móvel, deve ser também um ele-
mento de sustentação para movimentação perfeita dos membros.
Assim, a análise dos movimentos e das forças envolvidas nessas
funções da coluna é fundamental para prescrição de qualquer ati-
vidade. O tronco realiza movimentos nos três planos e em torno
dos três eixos, ou seja, Flexão e Extensão no plano mediano em
torno do eixo lateral, Inclinação lateral no plano frontal em torno
do eixo antero-posterior, e Rotação no plano horizontal em torno
do eixo longitudinal.
Uma importante e rica rede de músculos envolve o tronco,
realizando os movimentos que ocorrem nas articulações interver-
tebrais, costo-vertebrais e esternocostais. Os movimentos da ca-
beça são os mesmos, ou seja, flexão, extensão, inclinação lateral e
rotação, e ocorrem em conjunto com a região cervical da coluna e
estão contidos nos mesmos planos e eixos.
Como já vimos, a coluna atua como sustentadora dos mem-
bros superiores e inferiores. O membro superior é composto pelo
úmero, rádio, ulna, ossos do carpo, metacarpos e falanges, e está
preso ao tronco por meio da cintura escapular, formada pela es-
cápula e clavícula.
A união do úmero e da escapula forma a articulação gleno
umeral, ou ombro que possui movimentos em todos os planos e
eixos.
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

O ombro é a articulação com maior mobilidade no corpo,


e isso faz dele, também, uma articulação instável e susceptível a
lesões. Seus movimentos são:
• Flexão e Extensão no plano mediano em torno do eixo
lateral.
• Abdução e Adução no plano frontal em torno do eixo an-
tero-posterior.
• Rotação medial e lateral no plano horizontal em torno do
eixo longitudinal.
Como vimos, a cintura escapular une o membro superior ao
tronco, e a escápula possui importantes movimentos que aumen-
tam a mobilidade do ombro e que são fundamentais para ativi-
dades diárias e esportivas, como na natação. Podemos descrever
ainda no ombro, um movimento que ocorre pela combinação dos
anteriores que é a cincundução do ombro.
Continuando nossa descrição dos movimentos do membro
superior, temos o cotovelo que possui dois movimentos, que são
a flexão e extensão, que ocorrem no plano mediano em torno do
eixo lateral. O antebraço realiza movimentos importantes que
ocorrem tanto no cotovelo como no punho que são os movimen-
tos de pronação e supinação, estes ocorrem no plano horizontal
em torno do eixo longitudinal.
O punho realiza movimentos de flexão e extensão no plano
mediano em torno do eixo lateral e realiza ainda uma abdução
conhecida como desvio radial e uma adução conhecida como des-
vio ulnar que ocorrem no plano frontal em torno do eixo Antero-
-posterior. A mão possui movimentos dos dedos que são de flexão
e extensão no plano mediano e eixo lateral, e abdução e adução
dos dedos no plano frontal em torno do eixo Antero posterior.
Vejam que fizemos uma análise cinemática do tronco e
membros superiores. Estudaremos cineticamente esses movimen-
tos, ou seja, nos ocuparemos também com os músculos que os
realizam.

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18 © Cinesiologia

Vamos agora fazer o mesmo com os membros inferiores.


O membro inferior é formado pelo fêmur, tíbia, fíbula, ossos
do tarso, metatarso e falanges, e também está preso ao tronco, só
que pela cintura pélvica formada pelos ossos dos quadris. A cintu-
ra pélvica é o similar da cintura escapular para os membros infe-
riores. A união do quadril com o membro inferior é realizada pela
articulação coxo-femoral, que também possui ampla mobilidade,
mas diferentemente do ombro possui grande estabilidade, e seus
movimentos, portanto, são de menor amplitude, e esses são:
• Flexão e extensão no plano mediano em torno do eixo
lateral.
• Abdução e Adução no plano frontal em torno do eixo an-
tero-posterior.
• Rotação externa e interna no plano horizontal em torno
do eixo longitudinal.
No quadril também temos o movimento de circundução, po-
rém, com menor amplitude em relação ao ombro.
A próxima articulação é o joelho, sendo esse o local de
importantes lesões, isso pela sua importância como pivô para o
membro inferior.
No joelho temos os movimentos de flexão e extensão no
plano mediano, em torno do eixo lateral, e esses são acompanha-
dos de rotações, ou seja, na extensão temos uma rotação lateral
da tíbia e na flexão uma rotação medial desta. Esses movimentos
ocorrem no plano horizontal em tono do eixo longitudinal.
Finalizando a descrição dos membros inferiores, temos arti-
culação do tornozelo que é local de movimentos importantes, va-
mos destacar aqui os principais que são os de flexão plantar e dor-
siflexão, que ocorrem no plano mediano em torno do eixo lateral.
Considerando o tornozelo e o pé, temos ainda dois movimentos
complexos que são o de inversão e eversão. Esses possuem planos
e eixos compostos que, estudaremos com detalhes.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Bem até aqui fizemos uma análise cinemática de cada arti-


culação e sabemos que temos importantes músculos que são res-
ponsáveis por esses movimentos, ao estudarmos esses músculos
poderemos descrever vários aspectos da cinética. Isso também de-
talharemos no decorrer de nosso estudo, mas importante, ainda,
é saber que os músculos que realizam esses movimentos possuem
particularidades em suas ações e controles, que é o que veremos
na terceira parte: aspectos de fisiologia muscular e neurofisiologia
do controle motor.
Como já visto, a cinesiologia é a ciência que estuda os mo-
vimentos do corpo humano. Sendo assim, torna-se indispensável
a compreensão da estrutura do músculo esquelético, da fisiologia
da contração muscular e da neurofisiologia do controle motor.
Os músculos esqueléticos são compostos de fibras muscula-
res que são organizadas em feixes. Cada feixe de fibras musculares
é chamado fascículo.
As miofibrilas são agrupadas para formar as fibras muscula-
res. A miofibrila contrátil é composta de unidades, e cada unidade
é denominada sarcômero, a porção entre duas linhas Z sucessivas.
Cada miofibrila, por sua vez, contém muitos miofilamentos.
Os miofilamentos são fios finos de duas moléculas de proteínas,
actina (filamentos finos) e miosina (filamentos (grossos).
Já conhecemos superficialmente a estrutura do músculo es-
quelético. Então, como esta estrutura seria capaz de desencadear
o movimento?
Segundo a teoria dos filamentos deslizantes da contração
muscular, os filamentos de actina e miosina deslizam um sobre o
outro, diminuindo o comprimento de cada sarcômero, promoven-
do dessa forma o encurtamento global do músculo.
No estado relaxado, as extremidades dos filamentos de acti-
na derivados de dois discos Z consecutivos se superpõem apenas
discretamente, enquanto, ao mesmo tempo, se sobrepõem com-
pletamente aos filamentos de miosina.

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20 © Cinesiologia

Por outro lado, no estado contraído, os filamentos de actina


foram tracionados para a parte média, de modo que ficam, nesse
estado, bem mais sobrepostos que antes. Também, os discos Z fo-
ram puxados, pelos filamentos de actina, até as extremidades dos
filamentos de miosina. Na verdade, os filamentos de actina podem
ser tracionados tão intensamente que as extremidades dos fila-
mentos de miosina chegam a ficar dobradas durante as contrações
muito fortes. Assim, a contração muscular é causada por mecanis-
mo de deslizamento dos filamentos.
De onde vem a informação para que o músculo se contraia?
Vamos relembrar alguns conceitos de anatomia. Todos os
sistemas do corpo humano são controlados diretamente pelo sis-
tema nervoso central. Dessa forma, podemos concluir que o siste-
ma muscular também sofre influência do sistema nervoso central.
Tanto o tecido nervoso quanto o muscular são excitáveis,
quer dizer, as suas membranas podem ser despolarizadas. Além
disso, a despolarização pode ser propagada ao longo da membra-
na do nervo ou músculo.
O neurônio, assim como o músculo esquelético, além de ex-
citável possui características de membrana que asseguram que a
excitação que ocorre gere um potencial de ação.
Os potenciais de ação são propagados sem nenhuma alte-
ração de intensidade, independentemente de quão grande seja a
distância à qual o potencial de ação tenha que viajar para atingir
o seu alvo.
O estímulo que produz contração muscular pode ser elétri-
co, mecânico, químico ou térmico. O estímulo usualmente é de
origem química, origina-se no sistema nervoso e é conduzido a
cada fibra muscular por uma fibra nervosa.
Diante disso pense: qual a origem da energia necessária para
que ocorra a contração muscular?
As células musculares, como as demais células vivas no
corpo, necessitam de energia, mesmo quando em repouso, para
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

sustentar os processos metabólicos necessários à manutenção da


vida.
Quando um músculo se contrai, a energia química é conver-
tida em energia mecânica e, desse modo, aumenta a necessidade
de mais energia química. A fonte final de energia para os processos
metabólicos é o ATP.
Suficiente quantidade de ATP está armazenada em cada
músculo esquelético para fornecer energia química para efetuar
duas ou três contrações musculares fortes. Como as reações não
necessitam de oxigênio, os processos são denominados metabo-
lismo anaeróbio.
As reservas de fosfocreatina também podem fornecer ener-
gia para as contrações musculares por processos anaeróbios. A
regeneração da fosfocreatina é realizada em parte por meio da de-
gradação de glicose para ácido lático.
No entanto, as reservas de energia química para a contra-
ção muscular podem ser restauradas pelo metabolismo oxidativo
de gorduras, carboidratos e proteínas nas mitocôndrias das fibras
musculares, caracterizando o metabolismo aeróbio.
Considerando a especificidade de cada atividade motora
que realizamos diariamente, existem três tipos diferentes de fibra
muscular esquelética: tipo I, tipo IIA e tipo IIB.
A fibra tipo I é escura porque contém grandes números de
mitocôndrias e uma alta concentração de mioglobina além de pos-
suir características de contração lenta.
A fibra tipo IIA é pálida porque contém menos mitocôndrias
e pequenas quantidades de mioglobina. São maiores em diâmetro
que as fibras tipo I e possui propriedades de contração rápida.
As fibras IIA desenvolvem maior força de contração e com-
pletam uma contração única em um tempo significativamente

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22 © Cinesiologia

mais curto do que as fibras musculares tipo I. As fibras tipo IIA, no


entanto, fatigam mais rapidamente do que as do tipo I.
O terceiro tipo de fibra muscular, tipo IIB, apresenta carac-
terísticas intermediárias tais como cor, números de mitocôndrias,
tamanho, velocidade de contração e tempo para fadiga.
Já estudamos que as ações musculares são controladas pelo
sistema nervoso central. Então fica a seguinte pergunta: de onde
se originam as informações para que o sistema nervoso central
consiga manter um controle eficiente das contrações musculares?
Essa função é responsabilidade dos receptores, estruturas
especializadas presentes nas articulações, tendões e músculos es-
queléticos.
Os receptores detectam alterações de tensão e posição das
estruturas nas quais os receptores estão situados, e um padrão de
impulsos nervosos é gerado no receptor para transmitir a informa-
ção a outras partes do sistema nervoso.
Como resultado, alterações de momento a momento no ân-
gulo articular, na velocidade do movimento articular, na quanti-
dade de compressão ou tração articular, bem como alterações no
comprimento e na força de contração muscular são transmitidas
aos centros na medula espinhal e encéfalo.
Para realizar atividades motoras especializadas é necessário
um conjunto altamente integrado de comandos motores para ati-
var músculos apropriados na sequência correta. Essa é a função
dos centros de controle motor localizados na medula espinhal,
tronco cerebral e cérebro. O preciso controle da função motora
depende da integração.
Na maioria das condições, uma pessoa é capaz de saber
conscientemente a posição das várias articulações do seu corpo
em relação a todas as outras partes, e se uma parte está se mo-
vendo ou parada.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

O termo sentido de posição refere-se ao conhecimento da


posição estática e o termo cinestesia ao conhecimento do movi-
mento dinâmico articular.
Estes conhecimentos compõem a definição de propriocep-
ção. A sensibilidade proprioceptiva torna-se importante para o
controle motor preciso, e interfere na coordenação motora, equi-
líbrio, mecanismos de proteção contra lesões de estruturas articu-
lares entre outros.
Não podemos esquecer uma função importante do corpo
humano, a capacidade para manter posturas apropriadas para a
realização de atividades de vida diária, por meio do tono muscular.
O tono muscular postural é caracterizado pela tensão em
músculos particulares que estão ativamente envolvidos em man-
ter diferentes partes do esqueleto em relações apropriadas para
manter posturas particulares.
Os músculos usados mais frequentemente para manter o
corpo em uma posição ereta são conhecidos como músculos anti-
gravitacionais.
Uma compreensão da fisiologia muscular e neural é neces-
sária para a compreensão dos problemas clínicos associados com
distúrbios do controle motor.
O comprometimento do controle motor pode resultar de
muitas doenças e lesões do sistema nervoso, ou de interferências
sobre o desenvolvimento neuropsicomotor normal.
A perda de transmissão de impulsos motores para os mús-
culos pode ser causada pelo funcionamento prejudicado de neu-
rônios motores superiores (localizados no encéfalo) ou inferiores
(localizados na medula espinhal). A perda do impulso motor pode
produzir uma redução do tono muscular, também conhecida como
hipotonia.
Doença ou lesão dos neurônios motores superiores pode
conduzir a um estado de tono muscular excessivo, ou hipertônus.

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24 © Cinesiologia

Quando um músculo não é usado durante longos períodos


de tempo, a quantidade de filamentos de actina e miosina em cada
fibra muscular diminui, levando a atrofia muscular. Uma perda de
força muscular também deve acontecer.
Esta breve explanação sobre Cinesiologia evidencia a sua im-
portância na formação do profissional educador físico. Esperamos
que os conhecimentos adquiridos contribua de maneira decisiva
para a sua formação e, posteriormente, na sua atuação profissio-
nal. Desejamos a todos bons estudos.

Glossário de Conceitos
O Glossário permite a você uma consulta rápida e precisa
das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio
dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento
dos temas tratados em Cinesiologia. Veja a seguir a definição dos
principais conceitos:
1) Alavanca: uma haste relativamente rígida, que pode gi-
rar ao redor de um eixo por meio da aplicação de uma
força.
2) Agonista: função desempenhada por um músculo que
atua para produzir o movimento.
3) Antagonista: função desempenhada por um músculo
que atua para controlar o movimento agonista ou para
interrompê-lo realiza controle da ação agonista, e opõe
a ação agonista.
4) Axônio: processo tubular que se origina do soma de um
neurônio e funciona como um cabo para transmitir si-
nais elétricos gerados pelo neurônio.
5) Biomecânica: aplicação dos princípios mecânicos no es-
tudo dos organismos vivos.
6) Braço de Alavanca: menor distância perpendicular entre
a linha de ação de uma força e um eixo de rotação.
7) Cinesiologia: estudo do movimento humano
8) Cinética: estudo da ação das forças
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

9) Cinemática: a geometria, o padrão ou a seqüência do


movimento em relação ao tempo, análise do movimento
sem levar em consideração as forças que o realiza.
10) Contração Isotônica: a condição em que um músculo se
contrai e realiza trabalho e movimento articular contra
uma resistência.
11) Contração Isotônica concêntrica: processo, com gas-
to energético, que resulta no encurtamento das fibras
musculares.
12) Contração Isotônica excêntrica: processo, com gasto
energético, que resulta no alongamento das fibras mus-
culares.
13) Contração Isométrica: processo, com gasto energético,
no qual o comprimento das fibras musculares não se al-
tera.
14) Fibra Aferente: um axônio que transmite sinais prove-
nientes dos receptores sensórias.
15) Fibra Eferente: um axônio que transmite potenciais de
ação dos neurônios ao órgão efetor.
16) Fibra Intrafusal: uma miniatura da fibra músculo esque-
lética que forma parte do fuso muscular.
17) Fibra Extrafusal: uma fibra do músculo esquelético que
não faz parte do fuso muscular.
18) Força: uma quantia vetorial, com a capacidade de reali-
zar trabalho, ou causar mudança física tal como acelera-
ção de um corpo na direção de sua aplicação.
19) Fuso Muscular: receptor sensorial, que provoca contra-
ção reflexa em um músculo alongado e inibe o desenvol-
vimento de tensão nos músculos antagonistas.
20) Hiperplasia: um aumento na massa tecidual devido a
um aumento no número células.
21) Hipertrofia: aumento na massa muscular, devido a um
aumento na área de secção transversa das fibras mus-
culares.
22) Hipertonia: um aumento no tônus muscular, tal como
ocorre com espasticidade e rigidez.

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26 © Cinesiologia

23) Hipotonia: uma diminuição no tônus muscular, tal como


ocorre na lesão cerebelar.
24) Hipotrofia: diminuição na massa muscular, devido a
uma diminuição na área de secção transversa das fibras
musculares.
25) Manguito Rotador: feixe de tendões dos músculos su-
pra espinhos, infra espinhoso, redondo menor e subes-
capular, todos inseridos no úmero (tuberosidade maior
e menor).
26) Movimento em Cadeia aberta: movimento que ocorre
na parte distal de uma extremidade e que a parte proxi-
mal está estabilizada.
27) Movimento em Cadeia aberta: movimento que ocorre
na parte proximal de uma extremidade porque a parte
distal está estabilizada.
28) Potencial de Ação: um sinal propagado, do tipo tudo ou
nada, dos neurônios e das fibras musculares.
29) Sinergista: músculos que agem para auxiliar o agonista
na realização de um movimento
30) Sarcômero: o componente da miofibrila contido na re-
gião de uma banda Z até a seguinte. Contém o aparato
contrátil necessário para converte energia química em
trabalho mecânico.
31) Tônus Muscular: estado mínimo de contração muscular
ao repouso ou a resistência passiva do músculo ao mo-
vimento.

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-
quema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteú-
do. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de
conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício
é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignifican-
do as informações a partir de suas próprias percepções.
© Caderno de Referência de Conteúdo 27

É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos


Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se
que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque-
mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen-
to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos
significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-

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28 © Cinesiologia

cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-


cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino da cinesiologia pode ser uma
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além
disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-
cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-
sional.

As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta


apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por
resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-

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30 © Cinesiologia

teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con-
ceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno na modalidade EaD, necessita de uma for-
mação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com
a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da
interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o
seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
© Caderno de Referência de Conteúdo 31

Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na


modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

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EAD
Introdução ao Estudo da
Cinesiologia

1
1. Objetivos
• Conhecer a breve história da cinesiologia.
• Definir cinesiologia.
• Identificar os principais conceitos cinésiológicos para a
compreensão do seu estudo.
• Compreender os planos e eixos utilizados no estudo ana-
tômico.
• Compreender os movimentos em cada plano e eixos des-
critos.

2. Conteúdos
• Breve histórico sobre a Cinesiologia.
• Posição de descrição cinesiológica.
• Planos de delimitação, planos de secção e eixos de movi-
mentos do corpo humano.
34 © Cinesiologia

• Movimentos do corpo humano.


• Conceituação de Cinesiologia e nomenclatura cinesioló-
gica.
• Princípios mecânicos – Cinemática.
• Princípios mecânicos – Cinética.

3. SUGESTÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Para enriquecer seus conhecimentos quanto à articu-
lação dos ombros, como recomendação, sugerimos
que você assista a um vídeo sobre o nadador Michael
Phelps no seguinte endereço eletrônico. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=KieW204RveU&fe
ature=PlayList&p=D73D0774646A4FDC&playnext=1&pl
aynext_from=PL&index=6>. Acesso em: 12 maio 2010.
2) No decorrer do estudo desta unidade, serão apresentados
a você alguns filósofos, bem como a sua importância para
a Cinesiologia. Desse modo, antes de iniciar seus estudos, é
interessante que você conheça um pouco da sua biografia.
Além disso, para saber mais, acesse os sites indicados.

Aristóteles
Aristóteles nasceu em Estágira, uma colônia jônica loca-
lizada no reino da Macedônia, no norte da Grécia. Seu
pai, Nicômaco, era médico do rei Amintas, e deu ao filho
estrutura para construir e solidificar seus estudos.
Jovem, ainda aos 17 anos, Aristóteles ingressou na Aca-
demia de Platão, em Atenas. Foi por lá que fez despertou
a atenção de seu mestre, Platão, a ponto de substituí-lo
após sua morte.
Sua primeira esposa foi Pítias, irmã de Hérmias, que foi
morto pelos persas. Após a morte de Hérmias, Aristóteles
foi para Mitilene.
Depois que sua primeira esposa faleceu, o filósofo casou-se novamente com
Hérpilis, com quem teve um filho chamado Nicômaco, a quem Aristóteles dedicou
o livro "Ética a Nicômaco".
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 35

Em 343 se tornou o preceptor de Alexandre, filho do rei Macedônio Felipe II, e


grande conquistador da época.
Com o assassinato do rei Felipe II, Alexandre assume o trono. Em 335 a.C. Aris-
tóteles retorna para Atenas e, com a ajuda de Alexandre, o filósofo funda sua
própria escola. Sua escola, em pouco tempo, se tornaria um renomado centro de
estudos, dividido em diferentes especialidades.
Mas, com a morte de Alexandre, em 323 a.C., houve um aumento do sentimento
antimacedônico em Atenas. E, além disso, o partido nacionalista foi reativado por
Demóstenes.
Tudo isso deixou a situação de Aristóteles delicada. Foi acusado, assim como
Sócrates, de impiedade e teve que se retirar de Atenas, deixando a Teofrasto
sua escola.
Morreu um ano depois de sua saída, acometido por uma doença estomacal (Ima-
gem disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/
escola/liceu/liceu_4.htm>. Acesso em: 11 maio 20Texto disponível em: <http://
www.pensador.info/autor/Aristoteles/biografia/>. Acesso em: 11 maio 2010).

Arquimedes
Arquimedes foi um matemático e físico grego. Nascido
em Siracusa-Sicília, por volta do ano 287 a.C, o seu nome
é originário do grego Arkhimedes. Quando jovem muda-
-se para Alexandria, centro da atividade matemática,
onde continua as aulas de Euclides. De volta à sua pátria,
entrega-se por completo aos estudos científicos.
Segundo narração de Plutarco, general romano, refere as
passagens relativas à luta travada pelos romanos para a
posse da Sicília, especialmente para a conquista da cida-
de de Siracusa. Quando os Romanos atacaram Siracusa,
Arquimedes dirige a defesa da sua cidade, para o que se
serve de máquinas de guerra (catapultas, etc.). Após um
longo assédio, as tropas de Marcelo entram na cidade. Segundo Plutarco, apesar
das ordens de Marcelo para respeitar a vida do sábio, um soldado romano, irrita-
do porque Arquimedes, absorto na resolução de um problema, não responde às
suas intimações, mata-o. Cícero, questor da Sicília, encontra o seu túmulo, onde
figura uma esfera inscrita num cilindro.
São bastantes as obras de Arquimedes que chegaram até aos nossos dias. Na
matemática, destacam-se Da Esfera e do Cilindro, A Medida do Círculo, Dos
Esferóides e dos Conóides e Das Linhas Espirais. Nas obras de mecânica há
que citar, Do Equilíbrio dos Planos e Dos Corpos Flutuantes. Outros achados
importantes são: A Quadratura da Parábola e O Método.
Dedicou-se a aritmética, mecânica e hidrostática. Atribuem-se a Arquimedes a
invenção do parafuso sem fim, da espiral ou parafuso de Arquimedes (aparelho
para elevar água por meio de um tubo enrolado em hélice à volta de um cilindro
giratório sobre o seu eixo), de diversas combinações de roldanas para levantar
pesos, da roda dentada, relação da circunferência com o diâmetro (o número pi),
a quadratura da parábola, as propriedades das espirais, etc.
Há uma célebre anedota da Antiguidade relacionada com os estudos hidrostáticos de

Claretiano - Centro Universitário


36 © Cinesiologia

Arquimedes. Trata-se do chamado problema da coroa. Hiero, rei de Siracusa, enco-


menda uma coroa que paga como se fosse de ouro puro, mas posteriormente suspeita
que o ourives fez mistura do ouro com prata. Arquimedes resolve o problema deter-
minando o volume da coroa, para o que a submerge num recipiente completamente
cheio de água e pesa de seguida o líquido derramado. Averigua assim a densida-
de da coroa e calcula a proporção de prata que o desleal ourives utiliza. Conta-se
que Arquimedes inventa este procedimento quando, ao se introduzir num recipiente
completamente cheio de água para se lavar, parte dela transborda. Sai então do ba-
nho a gritar Eureka! (que em grego significa «Achei!»). O clássico enunciado deste
princípio, chamado de Arquimedes, é o seguinte: todo o corpo submergido num flui-
do experimenta um impulso de baixo para cima igual ao peso do fluído que desloca.
Formula também a teoria da alavanca simples, resumida numa frase célebre: «Dai-me
um ponto de apoio e levantarei a Terra (Imagem disponível em: <http://clubedema-
tematica.esc-joseregio.pt/arquimedes.html>. Acesso em: 12 maio 20Texto disponível
em: <http://www.pensador.info/autor/Arquimedes/biografia/>. Acesso em: 11 maio
2010).

Isaac Newton
Isaac Newton nasceu em Londres, no ano de 1643, e vi-
veu até o ano de 1727.
Cientista, químico, físico, é considerado o fundador do
Cálculo Infinitesimal, a par de Leibniz, mas independente-
mente dele, ao contrário do que até então se fazia, deter-
mina primeiro a taxa de variação de uma área e depois,
a partir dela, a área propriamente dita. Ou seja, a função
derivada de f é tomada como ideia básica e f (o integral) é
definida a partir desta.
Newton foi o primeiro a estabelecer um procedimento ge-
ral, aplicável para determinar a taxa de variação instantâ-
nea de uma função e, depois, em certos problemas, chegar à função. É com este
passo dado por Newton que se considera que nasceu o Cálculo Infinitesimal.
O seu trabalho mais importante foi em mecânica celeste, que culminou com a
Teoria da Gravitação Universal.
Formulou ainda as leis de Newton, que descrevem o comportamento de corpos
em movimento, cujos enunciados originais são os seguintes:
Lei da Inércia: Todo corpo continua em estado de repouso ou de movimento
uniforme numa linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por
forças imprimidas sobre ele.
Lei da quantidade de movimento: A mudança de movimento é proporcional à
força motora imprimida, e é produzida na direção da linha reta na qual aquela
força é imprimida.
Lei da ação-reação: A toda ação há sempre oposta uma reação igual, ou, as
ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas a
partes opostas (Texto e imagem disponíveis em: <http://clubedematematica.esc-
joseregio.pt/isaacnewton.html>. Acesso em: 12 maio 2010).
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 37

4. INTRODUÇÃO à unidade
Prezado aluno, iniciaremos nosso estudo de Cinesiologia fa-
zendo a sua conceituação e, também, uma breve apresentação de
alguns aspectos históricos interessantes sobre essa área de estu-
do e seus principais pesquisadores, os quais foram fundamentais
para o desenvolvimento dessa ciência. Em seguida, faremos o es-
tudo dos conceitos cinesiológicos importantes não apenas para a
compreensão do caderno, mas também para nosso campo práti-
co, buscando compreender cada item e possibilidade de análise
cinesiológica. Para isso, faremos uma revisão da Anatomia, o que
favorecerá a delimitação do corpo humano para o estudo da Cine-
siologia.
Esperamos que, ao final desta unidade, você possa reconhe-
cer, compreender e analisar os principais conceitos utilizados na
Cinesiologia e a importância dessa ciência para o Educador Físico.
Que o estudo seja agradável e estimulante. Bom trabalho!

5. CONSIDERAÇÕES E HISTÓRICO DA CINESIOLOGIA


O termo "Cinesiologia" é uma combinação entre dois verbos gre-
gos: Kinein, que significa "mover", e Logos, que significa "estudar".
O estudo da Cinesiologia combina a Anatomia (ciência da
estrutura do corpo na qual se estuda, macroscopicamente, a cons-
tituição e organização dos seres vivos) com a Fisiologia ( ciência
da função do corpo). Assim, surgiu a Cinesiologia, que é a ciência
dos movimentos do corpo (RASCH; BURKE, 1987; SMITH; WEISS;
LEHMKUHL, 1997).

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
ANATOMIA + FISIOLOGIA = CINESIOLOGIA
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Claretiano - Centro Universitário


38 © Cinesiologia

A Cinesiologia também é conhecida como a ciência que estuda a


atividade física, e há relatos de que ela foi envolvida na educação física
há mais de 50 anos (HOFFMAN; HARRIS, 2002). Mas qual é a origem
dessa ciência? Como surgiram os seus primeiros relatos e estudos?
O título de "pai da Cinesiologia" é dado a Aristóteles (384–
322 a. C.), que submeteu os músculos à análise geométrica e, em
seus tratados, descreveu, pela primeira vez, as ações deles (RAS-
CH; BURKE, 1987).
Aristóteles registrou as seguintes observações práticas:
[...] o animal que se move faz sua mudança de posição pressionan-
do o que está debaixo dele. Por essa razão atletas saltam a uma
maior distância, se carregam pesos na mão do que se não os car-
regassem, e corredores são mais velozes se balançarem os braços,
porque na extensão dos braços existe uma espécie de apoio sobre
as mãos e punhos.

Nesta citação, podemos observar importantes conceitos que


estudaremos e que devem fazer parte do conhecimento de um
profissional que trabalha com os cuidados do corpo.
Dentre esses conceitos, podemos observar a adaptação pela
utilização de resistência, ou seja, o princípio da sobrecarga e o con-
ceito do equilíbrio dinâmico, quando nosso cientista relata a im-
portância do balanço dos braços na corrida.
Aristóteles foi o primeiro a analisar e descrever o complexo
processo da marcha. Suas exposições e seus conceitos foram pre-
cursores das leis do movimento, de Newton. Para sua época, Aris-
tóteles revelou um notável conhecimento sobre o papel do centro
de gravidade e sobre as leis do movimento e da alavanca como
podemos verificar na Figura 1.
Outro grego, Arquimedes (287–212 a. C.), determinou os
princípios hidrostáticos que governam os corpos flutuantes, prin-
cípios esses considerados válidos na Cinesiologia da natação e uti-
lizados, inclusive, no desenvolvimento de viagens espaciais.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 39

Figura 1 Gravura de alavanca.

Entre as suas indagações, estão incluídas as leis da alavanca


e os problemas relacionados ao centro de gravidade. Os princípios
de Arquimedes são, ainda, empregados na determinação da com-
posição corporal.
Galeno (131–201 d. C.), cidadão ro-
mano que cuidava dos gladiadores, possuía
importantes conhecimentos sobre o movi-
mento humano. Ele foi considerado o pri-
meiro médico de equipe da história.
Ele estabeleceu a diferença entre ner-
vos motores e sensitivos e entre músculos
agonistas e antagonistas, como também
descreveu termos que até hoje são utiliza-
dos, como por exemplo: articulação diartro-
dial e sinartrodial (RASCH; BURKE, 1987).
Na Anatomia, aprendemos que a arti-
culação diartrodial possui grande potencial de
movimento, como, por exemplo, a articulação
do joelho; já a articulação sinartrodial é uma
articulação limitada na característica de seu
movimento, ou seja, nela ocorre pouco ou ne-
Fonte: SOBOTTA (2006, p. 294).
Figura 2 Articulação tibiofibular
nhum movimento, como a articulação tibiofi-
inferior (sinartorse). bular como explicamos nas Figuras 2 e 3.

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40 © Cinesiologia

Fonte: NETTER (2004, p. 491).


Figura 3 Articulação do joelho (diatrose).

A descoberta da contração muscular parece ter surgido de


Galeno. Após Galeno, a Cinesiologia permaneceu quase estática
por mais de 1000 anos. Foi quando surgiu Leonardo da Vinci, que,
além de artista, era engenheiro e cientista, e que, provavelmente,
foi o primeiro a registrar dados científicos da marcha humana. Leo-
nardo da Vinci dissecou cadáveres e desenhou milhares de ilustra-
ções anatômicas. Uma curiosidade é que Galeno utilizava números
para descrever músculos e da Vinci, letras.
E como não citar Isaac Newton (1642–727), que estabeleceu
os fundamentos da dinâmica moderna por meio das leis de movi-
mento e repouso, amplamente aplicadas à função muscular?
Após esses, temos tantos outros influenciadores importan-
tes, como, por exemplo, Galileu Galilei (1564–1643), que pelo seu
trabalho impulsionou o estudo da Cinesiologia como ciência, e Al-
fonso Borelli (1608–1679), considerado o pai da biomecânica mo-
derna do sistema locomotor, que relatou a força produzida pelos
músculos e os ossos utilizados como alavanca.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 41

Também outros importantes personagens introduziram ter-


mos ainda atuais, como, por exemplo, "isométrico", "isotônico" e
"hipertrofia muscular". Logo, relembraremos esses termos abor-
dando sua importância para o nosso trabalho. Dentre esses per-
sonagens, temos James Keill (1674–1719), que estudou a tensão
muscular; John Huner (1728–1793) e Luigi Galvani (1737–1798),
que, com seus estudos sobre estimulação elétrica, determinou a
primeira manifestação explícita da presença de potenciais elétri-
cos no nervo e no músculo. Em seguida, surgiram Guillaume-Ben-
jamin-Amand Duchenne (1806–1875), Rudolf A. Fick (1866–1939)
e outros não menos importantes (RASCH; BURKE, 1987).

6. CONCEITOS MECÂNICOS
Agora que você já sabe que a Cinesiologia é a ciência do mo-
vimento e já conhece um pouco de sua história, vamos entender
por que você a utilizará em sua vida profissional.
O movimento é essencial para a vida. Perceba como o orga-
nismo procura, conscientemente ou não, movimentar-se. Ao sen-
tar-se em uma cadeira, por exemplo, será que você permanecerá
imóvel? Dificilmente. Normalmente, cruzamos e descruzamos as
pernas, espreguiçamo-nos, contorcemo-nos, deslizamo-nos etc.
As crianças constituem, talvez, a melhor evidência da natureza hu-
mana de se movimentar, pois elas nunca param. Imagine-se em
uma aula com crianças muito ativas movimentando-se o tempo
todo sob o seu comando, e que uma delas apresente alguma alte-
ração nos movimentos básicos, como correr ou saltar (WHITING;
ZERNICKE, 2001).
Embora possamos ver e sentir os movimentos e as posturas
adotadas em atividades cotidianas ou desportivas, não podemos ver
as forças que os afetam. Conhecer onde e como essas forças atuam
é fundamental para orientar e modificar atividades prescritas.

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42 © Cinesiologia

Com a análise cinesiológica, podemos compreender as for-


ças que atuam no corpo (como e onde atuam) e manipular essas
forças para corrigir alterações posturais ou laborais, melhorando o
desempenho de um atleta ou prevenindo uma lesão.
Veja um exemplo: durante uma corrida, que é uma ação
muito dinâmica, temos uma sucessão de movimentos e, portanto,
uma sucessão de ações musculares e forças geradas, como pode-
mos observar na Figura Considerando essa ação, como podemos
descrevê-la? Como descrever as ações musculares? Sabemos, por
exemplo, que a marcha do idoso sofre importantes alterações.
Como descrever essas alterações?

Figura 4 Corrida humana e músculos envolvidos nos movimentos.

Atualmente, dispomos de muitos recursos tecnológicos para nos


auxiliar, como programas que, por meio de uma imagem, fazem toda a
descrição dos movimentos. E é claro que podemos e devemos utilizar
toda tecnologia disponível, como técnicas fotográficas simples ou técni-
cas utilizadas em laboratórios de marcha, como ilustra a Figura 5.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 43

Figura 5 Laboratório de marcha.

É muito importante que, antes de utilizar a tecnologia, você


possa, por meio da simples observação de pessoas que estejam
sob seu cuidado profissional, promover uma análise e intervir de
maneira correta, ou seja, imagine-se em uma aula em que você
precise orientar seus alunos sobre os gestos da atividade que está
sendo orientada; sua ação precisa ser imediata, mas, posterior-
mente, você poderá, por meio de imagens recolhidas de fotos ou
filmes, realizar uma correção detalhada. Mas durante a execução
dessa atividade, como proceder?
Para realizar este procedimento, vamos dividir a análise cine-
siológica em dois momentos que explicaremos a seguir.

Cinemática e Cinética
O primeiro momento é o estudo da Cinemática, que analisa
o movimento sem analisar as forças que o causam.
Vamos a um exemplo:

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44 © Cinesiologia

Durante o caminhar ou o correr, podemos observar que os mem-


bros inferiores se movimentam, alternadamente, nas direções anterior
e posterior. Ao realizarmos esses movimentos, obtemos uma análise
cinemática, mas, se quisermos saber o que os provoca, teremos que
fazer a análise de suas forças, entrando, assim, no segundo momento
do estudo. Estamos falando da Cinética, que lida com as forças que
produzem, param ou modificam os movimentos dos corpos.
A Cinesiologia, assim como a Ana-
tomia, é um estudo descritivo, e para
padronizar a sua descrição, utilizamos
algumas regras. Inicialmente, devemos
sempre considerar a posição anatômi-
ca: o corpo deverá estar em pé, na po-
sição bípede, com a cabeça e os olhos
voltados para frente, os membros supe-
riores ao lado do corpo e as palmas das
mãos para frente, os membros inferio-
res unidos e os pés, também, dirigidos
para frente, como ilustra a Figura 6.
A partir da posição anatômica, a
análise cinesiológica segue utilizando os
planos de secção, ou seja, planos de mo-
vimento e eixos de movimentos que estão
contidos em cada plano. Isso você já es- Figura 6 Posição anatômica do corpo
tudou em Anatomia, mas vale relembrar. humano.

Utilizaremos três planos, que são:


1) Plano frontal ou coronal: divide o corpo nas partes an-
terior e posterior, conforme é mostrado na Figura Nesse
plano, ocorrem os movimentos de abdução (que é aque-
le que afasta o segmento da linha média do corpo) e
adução (que é aquele que aproxima o segmento da linha
média do corpo). Ocorre, também, a inclinação lateral.
Sempre que falamos de movimento articular, estamos
falando de movimento angular, e esse ocorre em torno
de um eixo. No caso dos movimentos do plano frontal, o
eixo é o anteroposterior ou eixo Z.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 45

2) Plano mediano: divide o corpo nos lados direito e es-


querdo, como podemos observar na Figura Nesse plano,
ocorrem os movimentos de flexão e extensão. Para os
CENTRO do
movimentos DEplano
FORMAÇÃO
mediano,DE PROFESSORES
o eixo E DISCIPL
é o latero-lateral,
também chamado de transverso ou eixo X.
INSTITUCIONAIS
3) Plano horizontal ou transverso: divide o corpo nas
CURSO:
partes superior LICENCIATURA
e inferior, EM aEDUCAÇÃO
como mostra Figura NesseFÍSICA
COORDENADOR
plano, ocorrem (A): PROF.
os movimentos MS.interna
de rotação ENGELS CÂMAR
e ro-
tação externa (para DISCIPLINA:
os membros), CINESIOLOGIA
rotação direita e ro-
tação esquerda (para a cabeça e o tronco) supinação e
AUTORES:
pronação (para oPROF. DR. CESAR
antebraço), aduçãoAUGUSTO
horizontal eBUENO
abdu- ZAN
E PROF.
ção horizontal (paraMS. EDSON
o ombro e oALVES
quadril)DE BARROS
e adução paraJUNIOR
o pé e abdução para o pé. O eixo para esses
UNIDADE 1 movimentos
é o eixo longitudinal ou Y.
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES

Figura 7 Plano frontal Figura 8 Plano mediano.



Figura 9 Plano transverso.
ou coronal.
Figura 9 Plano transverso.
Observe, na Figura 10, que, para cada plano de movimento,

temos um eixo perpendicular a ele.

Assim, temos:

• Movimentos no plano frontal em torno do eixo antero-

posterior (eixo Z) contido no plano mediano.

• Movimentos no plano mediano em torno do eixo latero-

lateral (eixo X) contido no plano frontal.

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46 © Cinesiologia

• Movimentos no plano horizontal em torno do eixo longi-


tudinal (eixo Y) formado pela união dos planos frontal e
mediano.

Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 3).


Figura 10 Planos e eixos de movimentos.

Os planos também estão posicionados nos segmentos indi-


viduais (nos membros superiores e nos inferiores); a esses chama-
mos de planos secundários, como demonstra na Figura 11.
Na mão, o plano mediano corresponde ao terceiro dedo; a
região anterior da mão é denominada "face palmar" ou "volar" e a
região posterior, "face dorsal". Os movimentos que ocorrem no pu-
nho são: flexão e extensão, abdução (denominada "desvio radial") e
adução (denominada "desvio ulnar"). Nos dedos, também ocorrem
os movimentos de flexão, extensão, abdução e adução.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 47

No pé, o plano mediano também corresponde ao terceiro


dedo, e os movimentos do tornozelo são de flexão plantar (como
quando ficamos na ponta dos pés) e dorso flexão (como quando
elevamos a ponta dos pés do solo). Já no plano frontal ou coronal,
não está posicionado o tornozelo, mas sim o médio pé.

Plano mediano
Um plano
Plano sagital
mediano
da mão Plano
(3º dedo) mediano
da mão

Plano mediano
do pé (3º dedo)

Fonte: MOORE (1994, p. 4).


Figura 11 Planos de movimento nos membros superiores e inferiores.

Os movimentos que ocorrem em cada plano e eixo estão de-


monstrados na Tabela 1 e nas Figuras de 12 a 23.

Tabela 1 Planos, eixos de movimentos e movimentos correspon-


dentes.
PLANOS EIXOS MOVIMENTOS
Flexão/Extensão
Mediano Lateral, Transversal ou X
(cabeça, tronco e membros)
Flexão/Extensão
Mediano da mão Lateral, Transversal ou X
(punho e dedos da mão)

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48 © Cinesiologia

PLANOS EIXOS MOVIMENTOS


Dorsiflexão e Flexão Plantar
Mediano do pé Lateral, Transversal ou X Flexão e Extensão dos dedos
do pé
Inclinação lateral
(cabeça e tronco)
Abdução de membros
Frontal
Desvio radial e ulnar do
Anteroposterior ou Z punho
Abdução e adução dos dedos
da mão
Eversão e Inversão do
Frontal do pé
tornozelo e do pé
Rotação direita/esquerda da
cabeça e do tronco
Rotação medial e lateral dos
Transversal ou Horizontal Longitudinal ou Axial ou Y membros
Pronação e supinação do
antebraço
Adução e abdução dos pés
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Figura 12 Movimentos de flexão e extensão dos membros superior e inferior.


© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 49

DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DISCIPLINAS


INSTITUCIONAIS
CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E D
RSO: LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
INSTITUCIONAIS
RDENADOR (A): PROF. MS.LICENCIATURA
CURSO: ENGELS CÂMARA EM EDUCAÇÃO F
DISCIPLINA:COORDENADOR
CINESIOLOGIA(A): PROF. MS. ENGELS CÂ
S: PROF. DR. CESAR AUGUSTO DISCIPLINA:
BUENOCINESIOLOGIA
ZANELLA
OF. MS. EDSON AUTORES:
ALVES DEPROF. DR. CESAR
BARROS AUGUSTO BUENO
JUNIOR
E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JU
UNIDADE 1
UNIDADE 1
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGU
o tronco.
Figura 13 Flexão do tronco.


Figura 14 Movimento de extensão e de Figura 15 Flexão e extensão dos dedos
flexão de punho. da mão. 

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50 © Cinesiologia

Figura 16 Movimentos de dorsiflexão e flexão plantar do tornozelo.

Figura 17 Movimentos de abdução, adução e rotação medial e lateral dos membros


superior e inferior.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 51

Figura 18 Movimento de Figura 19 Movimento de Figura 20 Movimento de


inclinação lateral do tronco. inclinação lateral da cabeça. rotação do tronco.
CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DISCIPLINAS
INSTITUCIONAIS
CURSO: LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DISCIPLINAS INSTITUCIONAIS

COORDENADOR (A): PROF. MS. ENGELS CÂMARA


AUTORES: PROF. DR. CESAR AUGUSTO BUENO ZANELLA
COORDENADOR (A): PROF. MS. ENGELS CÂMARA

E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JUNIOR

DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
CURSO: LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES


DISCIPLINA: CINESIOLOGIA

AUTORES: PROF. DR. CESAR AUGUSTO BUENO ZANELLA


UNIDADE 1

E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JUNIOR


UNIDADE 1


Figura 24 Osteocinemática e artrocinemática no ombro.

PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES


Figura 21 Movimentos de adução Figura 22 Movimentos de supinação
 e abdução horizontal do ombro. e pronação do antebraço.


 Posição Abdução Adução


Neutra
 23 Movimentos de adução e abdução do pé.
Figura
Figura 23 Movimentos de adução e abdução do pé.
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52 © Cinesiologia

Com a Cinemática, você poderá analisar a posição e os movi-


mentos realizados por um indivíduo em seu trabalho e/ou em sua
atividade esportiva, como também determinar situações normais
e anormais e corrigir posturas cotidianas e gestos desportivos.
A partir disso, podemos, por meio da visualização das estru-
turas e do conhecimento da Anatomia, analisar as forças envolvi-
das no movimento, e, então, entraremos no segundo momento da
análise – o estudo da Cinética.
Mas antes de iniciarmos este estudo, vamos, ainda, definir
algumas questões sobre a Cinemática, a qual realiza duas análises
distintas que falaremos a seguir.

Osteocinemática e Artrocinemática
A Cinemática realiza duas análises distintas quando são
considerados os segmentos anatômicos, os quais são a osteoci-
nemática, que analisa o movimento dos seguimentos ósseos, e a
artrocinemática, que analisa os movimentos que ocorrem nas su-
perfícies articulares.
Veja um exemplo na Figura 24: na movimentação do ombro,
temos que,CENTRO
no plano frontal, DE
DE FORMAÇÃO ocorre a abdução
PROFESSORES do úmero
E DISCIPLINAS (movimen-
INSTITUCIONAIS
CURSO: LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
to osteocinemático), que é o afastamento deste da linha média, e
COORDENADOR (A): PROF. MS. ENGELS CÂMARA
temos, também, movimentos intra-articulares
DISCIPLINA: CINESIOLOGIA entre a cabeça do
AUTORES: PROF. DR. CESAR
úmero e a cavidade glenoide, que, nesse AUGUSTO
caso,BUENO ZANELLA
se trata de um desli-
E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JUNIOR
zamento inferior da cabeça umeral (movimento
UNIDADE 1 artrocinemático).
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES






Figura 24 Osteocinemática e artrocinemática no ombro.


Figura 24 Osteocinemática e artrocinemática no ombro.


© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 53

Embora haja uma comparação das articulações humanas com


as formas geométricas e as articulações mecânicas (dobradiça, pivô,
plano, esfera e cone), a capacidade de movimento das articulações
supera qualquer articulação artificial, e essa vantagem está dire-
tamente relacionada com a presença de estruturas, como a carti-
lagem e o liquido sinovial, que permitem um coeficiente baixo de
atrito com a presença de estruturas que conferem a sensibilidade da
articulação, a capacidade de resposta de crescimento dinâmico ao
desgaste e ao uso e, principalmente, a complexidade mecânica.
Essa complexidade permite que as articulações realizem mo-
vimentos de rolamento, de deslizamento e de rotação, sendo que
os movimentos de deslizamento e de rotação são chamados de
"movimentos acessórios".
Para que você tenha facilidade em analisar a direção do
movimento articular (artrocinemático), note que, quando a su-
perfície articular for convexa, como no caso da cabeça umeral, o
movimento artrocinemático sempre ocorrerá na direção contrária
à direção do movimento osteocinemático, e, quando a superfície
for côncava, o movimento artrocinemático ocorrerá na mesma
direção do movimento osteocinemático, como, por exemplo, na
extensão do joelho, em que a tíbia se desloca anteriormente e a
sua superfície articular também desliza anteriormente. Portanto,
é muito importante que você faça uma revisão do estudo da ana-
tomia humana, pois isso facilitará suas conclusões a respeito da
direção dos movimentos articulares.
Essa análise é fundamental para o bom funcionamento ar-
ticular e muscular, pois a diminuição dos movimentos artrocine-
máticos promoverá alterações nos movimentos osteocinemáticos
e, consequentemente, alterações na função muscular, causando
erros de posturas, gestos desportivos, gestos laborais e outros. As-
sim, sua interferência como profissional da educação física é es-
sencial por detectar essas alterações e realizar os procedimentos
corretos com seu aluno.
Em termos mecânicos, podemos definir duas formas básicas de
movimento: o movimento angular ou rotacional, no qual analisamos

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54 © Cinesiologia

os movimentos dos seguimentos do corpo em que estão envolvidas


a osteocinemática e a artrocinemática, e o movimento linear, no qual
um corpo se movimenta ao longo de uma linha reta (movimento reti-
líneo) ou de uma linha curva (movimento curvilíneo).
CENTRO
Muitos dosDEmovimentos
FORMAÇÃOque DE PROFESSORES
realizamos sãoE DISCIPLINAS
combinaçõesINSTITUCIONAIS
dos
CURSO:
movimentos tanto lineares LICENCIATURA
quanto angulares.EM EDUCAÇÃO
Considere FÍSICA
o movimen-
to da coxa durante aCOORDENADOR
marcha. Neste,(A): PROF.
existe um MS. ENGELS linear,
movimento CÂMARA nas
DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
direções anterior e posterior, combinado com um movimento angular,
que roda em tornoAUTORES: PROF. DR.
do eixo lateral, CESAR AUGUSTO
na articulação BUENO
do quadril, ZANELLA
alternan-
E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JUNIOR
do entre flexão e extensão, que ocorrem no plano mediano, conforme
podemos observar na Figura 25 (WHITING; UNIDADE 1
ZERNICKE, 2001).
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES






 
 


onte: SOBOTTA (2006).
Fonte: SOBOTTA (2006).
igura 25 Movimento
Figura 25 linear e angular
Movimento da coxa.
linear e angular da coxa.

Podemos, também, realizar a análise do corpo inteiro. Por


exemplo: quando um patinador se desloca linearmente em uma di-
reção (anterior, posterior ou lateral) ou durante a marcha, podemos
dizer que o seu corpo se desloca linearmente na direção anterior;
quando analisamos uma bola de basquete que descreve um movi-
mento linear, consideramos seu deslocamento no ar em direção à
cesta, e um movimento angular que seria o movimento rotatório da
bola (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997; WHITING; ZERNICKE, 2001).
Outra característica que devemos considerar quando analisamos
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 55

os movimentos articulares é a capacidade de movimento de cada


articulação, ou seja, cada articulação possui graus de liberdade de
movimentos diferentes. Assim, temos articulações de um, dois ou
três graus de liberdade, e isso permite a maior ou menor eficiência
dos movimentos angulares. Veja os exemplos:
1) Articulações com um eixo e um grau de liberdade (mo-
noaxial): interfalangeanas dos dedos da mão e do pé e
articulação do cotovelo.
2) Articulações com dois eixos e dois graus de liberdade (biaxial):
metacarpofalangeanas da mão e radiocárpica do punho.
3) Articulações com três eixos e três graus de liberdade
(triaxial): ombro e quadril.
4) Há, ainda, articulações sem eixo de movimento (anaxial),
em que ocorrem, apenas, movimentos de deslizamento:
entre ossos do carpo, sacroilíaca, acromioclavicular.
A articulação do ombro possui os três eixos, os quais o permi-
tem maior mobilidade e possibilidade de movimento, além da rea-
lização da circundução, movimento muito utilizado em atividades
esportivas e diárias, como podemos observar nas Figuras 26 e

1 – Eixo Lateral
2 – Eixo Anteroposterior
3 – Eixo Longitudinal
Fonte: KAPANDJI, 1990, p. 11. Fonte: DRAKE, VOGL; MITCHELL, 2005, p. 611.
Figura 26 Eixos da articulação do ombro. Figura 27 Circundução do ombro.

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56 © Cinesiologia

Até aqui, estudamos a forma de descrever os movimentos


articulares e os corpos no espaço. Uma importante e fundamental
consideração que devemos também fazer para a análise dos mo-
vimentos é sobre a Cadeia Cinemática, definida como uma com-
binação de várias articulações unindo segmentos sucessivos, que
veremos a seguir (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).

Cadeia Cinemática
A sucessão de segmentos da qual falávamos permite maior
mobilidade, como, por exemplo, no membro superior. Consideran-
do desde a parede torácica até os dedos da mão temos mais de
19º de liberdade, e do tronco aos pés, mais de 25º. Essa sucessão
de articulações permite uma liberdade de movimentos planares,
que constituem a base mecânica para o desempenho de ativida-
des diárias tanto para o membro superior como para o membro
inferior.
É importante ressaltar que a cadeia cinemática articular cor-
responde a uma cadeia muscular, ou seja, um grupo de músculos
mono ou biarticulares motores da cadeia articular. Assim, pode-
mos definir dois termos: Cadeia Cinemática Articular e Cadeia Ci-
nemática Muscular (DUFOUR, M. et al., 1989).
A partir da definição de Cadeia Cinemática, apresentamos, a
seguir, dois termos muito importantes para a descrição e a prescri-
ção de atividades: Cadeia Cinemática Aberta e Cadeia Cinemática
Fechada.
Em uma Cadeia Cinemática Aberta, o segmento distal move-
se no espaço, enquanto, em uma Cadeia Cinemática Fechada, o
segmento distal está fixo e as partes proximais se movem.
Antes de detalharmos os trabalhos nas diferentes cadeias,
vamos a elas nos referir, apenas, como cadeia aberta e cadeia fe-
chada. Esse conceito é muito importante, pois há consideráveis
diferenças nas ações realizadas em cada uma.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 57

Na cadeia fechada, todos os segmentos se movem e são


mais funcionais, como, por exemplo, o ato de sentar e levantar
de uma cadeira. Esse tipo de movimento realiza, além do trabalho
articular e muscular, uma ativação sensório-motora, que veremos
na Unidade 3 com mais detalhes.
Na cadeia aberta, nem todos os segmentos se movem e,
embora os movimentos também sejam utilizados nas atividades
diárias, eles podem ser menos funcionais pelo menor número de
articulações se movendo. Um exemplo disso seria levar um objeto
à boca realizando o movimento do ombro, do cotovelo, do punho
e da mão, e realizar o mesmo movimento mantendo o ombro imó-
vel e movimentando apenas o cotovelo, o punho e a mão, como
ilustra a Figura 28.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 83).


Figura 28 Movimento da cadeia cinemática do membro superior, realizado em cadeia
aberta com movimento apenas do cotovelo punho e mão.

Tanto as atividades realizadas em cadeia aberta quanto fe-


chada são muito importantes nos processos de treinamento do
desenvolvimento motor das crianças, de trabalho de reeducação
postural para o trabalho e de prescrição de atividades físicas di-

Claretiano - Centro Universitário


58 © Cinesiologia

versas. A descrição de atividades realizadas em cadeia aberta e


fechada é muito ampla. Podemos citar alguns exemplos nos quais
as duas ocorrem simultaneamente, como quando subimos uma
escada: no momento em que transferimos os pés de um degrau
a outro, estamos em cadeia aberta, e quando apoiamos para nos
impulsionar, estamos em cadeia fechada.
Os exercícios de academia são muito aplicados em cadeia
aberta e/ou fechada. Quando trabalhamos os músculos flexores
do cotovelo com pesos livres, temos trabalho em cadeia aberta;
podemos, da mesma maneira, trabalhar esses músculos em ca-
deia fechada quando realizamos o exercício de barra, mostrado na
Figura

Bíceps

Braquial

Redondo maior

Grande dorsal

Figura 29 Exercício em cadeia fechada na barra.

Muitas aplicações podem ser realizadas a partir dessa for-


ma de análise, como, por exemplo, nas alterações posturais que
normalmente ocorrem na posição ortostática, ou seja, em cadeia
fechada. Dessa forma, é muito importante a orientação de ativida-
des que capacitam as cadeias articular e muscular para o indivíduo
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 59

se manter em posição correta, como nas atividades laborais que


exigem posição em pé por períodos prolongados.
Como vimos anteriormente, a análise cinesiológica utiliza-se
de duas áreas: a Cinemática, a qual acabamos de estudar, e a Ciné-
tica, que veremos a seguir.

Cinética
A Cinética estuda tanto as forças envolvidas no movimento
quanto as forças que produzem, param ou modificam o movimen-
to dos corpos ou de segmentos. Ao estudarmos a Cinética, priori-
zaremos as forças exercidas pela gravidade, pelos músculos, pelas
resistências externas e outras que promovem algum efeito sobre o
corpo (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).
Segundo Miranda (2008), a Cinética estuda as forças que
causam o movimento e, também, as que surgem em função do
movimento. Por muitos anos, algumas teorias foram usadas para
explicar como os objetos se moviam. O termo "força" pode ser de-
finido como todo agente capaz de produzir ou modificar um movi-
mento e de deformar um corpo.
A força é uma grandeza vetorial, logo, é representada por
um vetor de força que, por sua vez, representa a intensidade, a
direção e o sentido da força e que tem um ponto de aplicação.
Assim, temos:
1) Ponto de aplicação: é o ponto do corpo no qual se aplica
força.
2) Direção: é a trajetória do corpo ou parte dele sob a qual
a força foi aplicada.
3) Sentido: é a orientação que segue a força aplicada (para
cima, para baixo, para esquerda, para direita).
4) Intensidade: também conhecida como magnitude, é a capa-
cidade da força de produzir maiores ou menores efeitos.
A intensidade da força é representada pelo comprimento do
vetor, assim, forças maiores são representadas por vetores maio-

Claretiano - Centro Universitário


CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DISCIPLINAS
60 © Cinesiologia
INSTITUCIONAIS
CURSO: LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
res, como, por exemplo, numa situação em que o cotovelo está
COORDENADOR (A): PROF. MS. ENGELS CÂMARA
fletido a 90º com um objeto sendo sustentado na mão como pode-
DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
mos observar na Figura 30; temos, nessa situação, algumas forças
AUTORES: PROF. DR. CESAR AUGUSTO BUENO ZANELLA
atuando, que são:
E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JUNIOR
1) o peso do objeto;
UNIDADE 1
2) o peso do antebraço e da mão;
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES
3) a força muscular (contração dos flexores do cotovelo);
4) a força articular (força de reação do úmero sobre a ulna).

Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 31). 


Figura 30 Antebraço sustentando peso.
Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 31).
Figura 30 Antebraço sustentando peso.
Conforme descrito anteriormente, a força sempre é repre-

sentada por um sistema de vetores (setas); então, no exemplo a

seguir, vamos descrever e determinar as forças e os valores da se-
guinte maneira:

4,5 kg = peso do objeto

 1,35 kg = peso do antebraço e da mão
M = força muscular

A = força articular

 Ao
descrevermos essas forças, determinamos vetores com
localização, sentido e intensidade, em que forças maiores serão
representadas por setas maiores. No caso das forças musculares,
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 61

a localização deve corresponder às suas inserções e nos casos dos


segmentos ósseos e do objeto ao centro de massa ou ao centro
geométrico, a direção deve seguir as ações das forças, ou seja, a
CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DISCIPLINAS
trajetória do corpo ou do objeto determinada pela aplicação da
forças. Então, os pesos doINSTITUCIONAIS
antebraço e do objeto realizam força no
CURSO:
sentido LICENCIATURA
da gravidade, EM será
portanto, a direção EDUCAÇÃO FÍSICA
para baixo; os flexo-
resCOORDENADOR
do cotovelo realizam (A):
forçaPROF.
no sentido
MS.contrário
ENGELS ao antebraço
CÂMARA
e ao objeto, portanto, a direção determinada pela força muscular
DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
será para cima. No caso dessa articulação, quando os flexores do
AUTORES: PROF. DR.
cotovelo determinam uma CESAR AUGUSTO
direção superior para oBUENO
antebraço,ZANELLA
ha-
veráEuma
PROF. MS. EDSON
compressão ALVES
da ulna sobre DE BARROS
o úmero JUNIOR
e, consequentemen-
UNIDADE
te, uma força de reação do úmero sobre 1
a ulna, o que determina
uma força de reação do úmero na direção inferior. Veja a ilustração
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES
na Figura 31:

1,35 kg 4,5 kg

Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 31).


Figura 31 Vetores de força (M = força muscular, A = força de reação
articular, 1,35kg = peso do antebraço, 4,5kg = peso do objeto).
Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 31).
Figura 31 Vetores de força (M = força muscular, A = força de reação articular, 1,
peso do antebraço, 4,5kg = peso do objeto). Claretiano - Centro Universitário
62 © Cinesiologia

Observe que os tamanhos dos vetores são diferentes con-


forme a magnitude da força. Já a magnitude de reação articular
é igual à magnitude da força muscular, que é igual à soma das
forças geradas pelo peso do antebraço e do objeto. Nesse exem-
plo, temos uma situação de equilíbrio, ou seja, a força muscular é
suficiente para manter o cotovelo flexionado a 90º sem que haja
movimento.
Temos várias forças nesse modelo, representadas por um es-
quema que permite uma visualização simplificada. Observe como
é importante termos o conhecimento da Anatomia para as deter-
minar; conhecimento esse que sempre será necessário quando
você precisar indicar quais forças estão agindo em diversas situa-
ções, como, por exemplo, em um indivíduo que fica muito tempo
sentado ou em um indivíduo que realiza um exercício ou, ainda,
numa criança em idade escolar com alteração na postura, como
também em outras situações que, com certeza, ocorrerão na sua
vida profissional.
O interessante é que, na análise realizada, temos muitas
questões a respeito das forças que vamos estudar agora.
Para compreendermos como as forças agem, é muito impor-
tante entendermos as três leis de Newton, as quais nos darão a
compreensão sobre como e onde as forças atuam, fornecendo ba-
ses para modificar ou alterar as atividades desportivas ou laborais
de seus alunos. Vamos entender, inicialmente, a terceira lei: Lei
da ação e reação, cuja definição pontua que toda força aplicada a
um corpo determinará uma força de reação igual e oposta (como
vimos no exemplo em que a força gerada pela ulna sobre o úmero
determinou uma força de reação do úmero sobre a ulna). Assim,
uma força não atua isoladamente, mas como um par interativo.
Considere a ação de subir escadas citada no estudo sobre as ca-
deias aberta e fechada. No momento em que se apoia o pé no solo
para dar impulso, o pé empurra o degrau, e este produz uma força
de reação contra o pé, desenvolvendo uma força de compressão.
AUTORES: PROF. DR. CESAR AUG
63ALVES D
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia
E PROF. MS. EDSON
UNIDADE
Como vimos no exemplo anterior, o mesmo ocorre quando um
PREPARADOR (A): SIMO
músculo traciona um osso: este responde com uma força igual e oposta,
fazendo surgir uma força de tração, como demonstrado na Figura
Você deve estar se perguntando
sobre qual é a importância desse en-
tendimento. A resposta é que, sempre
que você prescrever alguma atividade 4,5 kg
M
para alguém, ocorrerão ações e reações
que podem acarretar desde simples 
mudanças nos tecidos do corpo até al-
terações mais intensas que podem le-
var às lesões teciduais. Essa afirmação
nos leva a entender que as forças estão

envolvidas tanto na prevenção como Força de reação

na provocação de uma lesão, portan- do osso no
músculo
to, o bom senso e a prescrição correta 
de atividades são fundamentais no seu Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 31).

trabalho. A manutenção de posturas na Figura 32 Força de reação da ulna.

escola ou no trabalho por períodos prolongados fará com que sur-
Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 31).
jam forças de reação nos tecidos, promovendo desde incômodos,
Figura 32 Força de reação da ulna.
como a dor, até alterações posturais.

A Primeira Lei de Newton fala sobre
 o equilíbrio em que,
nesse estado, a soma das forças que atuam sobre o corpo é igual a
zero. Essa é a Lei da Inércia, cuja definição
 pontua que todo corpo
persiste em seu estado de repouso ou  de movimento uniforme
em uma linha reta, a não ser que seja obrigado a alterar esse es-
tado por forças atuando sobre ele, ou seja, uma força sempre é
necessária para iniciar, parar ou alterar a direção e a velocidade do
movimento. Essa lei nos demonstra a importância da utilização do
cinto de segurança na prevenção de traumas; algumas situações
cotidianas sofrem a ação dessa lei sem que percebamos, como,
por exemplo, quando andamos: os grupos musculares alternam-se
realizando um movimento promovido pelo grupo muscular ago-
nista (aceleração) ou controlando um movimento promovido pelo
grupo muscular antagonista (desaceleração).

Claretiano - Centro Universitário


64 © Cinesiologia

Quando forças atuam sobre diferentes corpos, estes se com-


portam de maneira diferente conforme a sua massa ou forma, ou
seja, os corpos resistem à alteração do movimento. De uma ma-
neira mais simples, temos que uma força maior é necessária para
mover ou parar o movimento de uma massa maior. Temos, aqui, a
Segunda Lei de Newton, que relata que a aceleração de um corpo
é proporcional à magnitude das forças resultantes sobre ele e in-
versamente proporcional à massa do corpo.


INFORMAÇÃO:
Primeira Lei de Newton: todo corpo persiste em seu estado de re-
pouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a não ser que
seja obrigado a alterar esse estado por forças atuando sobre ele.
Segunda Lei de Newton: a aceleração de um corpo é proporcio-
nal à magnitude das forças resultantes sobre ele e inversamente
proporcional à massa do corpo.
Terceira Lei de Newton: para toda força de ação há uma força de
reação igual e oposta.

A Segunda Lei de Newton está sempre presente em ativi-


dades de fortalecimento muscular ou no nosso dia a dia. Imagine
um indivíduo realizando um fortalecimento dos músculos flexores
do cotovelo com um peso acima da sua capacidade. Ao flexionar
o cotovelo, a limitação dos seus músculos, devido ao excesso de
peso utilizado, poderá determinar mecanismos de compensação,
como, por exemplo, um impulso com o tronco para tentar elevar
o peso (flexionar o cotovelo); nesse caso, o peso elevado é uma
massa excessiva para a força muscular dos flexores, e isso determi-
na a necessidade de mais força no movimento para que haja uma
aceleração, gerada, no exemplo, pela impulsão do tronco.
Podemos citar outros exemplos que se adéquam à segunda
lei, como o de um estudante que carrega uma mochila de peso
excessivo em suas costas. Isto demandará maior força muscular,
excesso de trabalho muscular e articular, entre outros excessos em
outras estruturas.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 65

Não só a massa dos corpos está relacionada com a dificulda-


de de movê-los, mas também a distribuição dessa massa, ou seja,
um corpo com massa distribuída de maneira uniforme proporcio-
nará maior facilidade para ser movido; ao contrário, se essa massa
for distribuída de maneira desigual. Sempre devemos orientar as
pessoas a carregarem, em seu dia a dia, pesos de maneira equili-
brada, diferente do exemplo do estudante com mochila nas costas
que citamos, pois ele está distribuindo mal o peso a ser carrega-
do, visto que todo o peso do material está na região posterior do
tronco. O contrário ocorre com uma gestante, em quem o peso do
bebê traciona o tronco para frente, sobrecarregando as estruturas
lombares.
Quando falamos em distribuição de massa, podemos nos re-
portar ao conceito do peso e do centro de gravidade ou centro de
massa. A linha de ação do vetor de força do peso de um corpo é
sempre vertical, e é localizada no centro de gravidade desse corpo,
que é um ponto ao redor da massa, na qual está distribuída de ma-
neira uniforme; se o corpo fosse suspenso nesse ponto, ele ficaria
perfeitamente equilibrado.
Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), o centro de gravidade
(ou centro de massa) de um homem adulto em posição anatômica
foi determinado como ficando um pouco anterior à segunda vér-
tebra sacra ou aproximadamente a 55% da altura de uma pessoa,
ilustrado na Figura
Quando uma pessoa carrega um peso extra (mochila, ges-
tação, halteres), há uma mudança na distribuição da massa que
provoca alteração nas forças que atuam no corpo, pois a massa do
corpo e do peso carregado agora se somam para determinar a lo-
calização do centro de gravidade. O mesmo ocorre com variações
na posição do corpo, quando, por exemplo, realizamos uma flexão
anterior do tronco para uma manobra de ginástica, de mergulho
ou de musculação; o centro de gravidade modifica sua posição,
alterando as ações das forças, como percebemos na Figura 34.

Claretiano - Centro Universitário


66
DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
© Cinesiologia

AUTORES: PROF. DR. CESAR AUGUSTO BUENO ZANELLA


E PROF. MS. EDSON ALVES DE BARROS JUNIOR
UNIDADE 1
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES

 CDM




CDM




 Fonte: WHITING (20p. 251). Fonte: WHITING (2001, p. 47).
Figura 33 Centro de gravidade para Figura 34 Centro de gravidade localizado
um corpo
nte: WHITING regular.
(2001, p. 47). fora do corpo.
1). 34 Centro de gravidade localizado fora do corpo.
gura
Essa alteração no centro de massa gera uma necessidade de
ade para um corpo regular.
forças diferentes ou maiores (Segunda Lei de Newton), carecendo
de cuidados para evitar a sobrecarga, modificando a ação da mas-
sa em estruturas importantes, como a coluna vertebral, e, conse-
quentemente, minimizando os efeitos sobre estas. Um exemplo
importante é quando orientamos nossos alunos para elevarem um
peso do solo de maneira correta.
Ao orientarmos a aproximação do peso a ser levantado para
perto do tronco, estamos aproximando o tronco da pessoa à mas-
sa do peso, fazendo com que a massa fique mais próxima do cen-
tro de gravidade, o que resultará na diminuição do esforço gerado
pelos músculos paravertebrais, como mostram as Figuras 35 A e
35 B.
 © U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 67


CENTRO30 cmDE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 20 cm
E DI

INSTITUCIONAIS


CURSO: LICENCIATURAF m
EM EDUCAÇÃO FÍ
COORDENADOR (A): PROF.5 cmMS. FENGELS CÂ
5 cm m


 DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
AUTORES:
 500 N PROF. DR. CESAR 500 N AUGUSTO BUENO
a) E PROF. MS. EDSONb) ALVES DE BARROS JU
1986, p. 65). Fonte: WIRHED
Fonte: (1986,
WIRHED (1986, p. 65).
p. 65).
Figurado35tronco.
o elevado longe Figura 35A Peso –
A Peso elevado
Figura
elevado longelonge
35 B do
Peso
do tronco. tronco. 35–BFigura
UNIDADE
elevado
– Figura 35 Bpróximo
próximo
Peso elevado Peso
ao elevado
ao tronco.próximo
1 tronco.
Muito se pode PREPARADOR
dizer a respeito das (A): SIMONE
forças, RODRIGUE
e de suas consequ-
ências benéficas ou não, no corpo. Há cinco formas de forças, que
são categorizadas em: compressão, tração, cisalhamento, torção
e flexão. Todas estas ocorrem no corpo humano a cada atividade
 realizada. Observe a Figura 36.


Fonte: HAMILL (1999, p. 47).
 Figura 36 Forças de compressão, tração, cisalhamento, torção e flexão aplicada ao osso.

 Claretiano - Centro Universitário


68 © Cinesiologia

1) Força de compressão: pressiona as estruturas


2) Força de tração: alonga as estruturas
3) Força de cisalhamento: comprime e desliza as estruturas
4) Força de torção: ocorre força rotativa
5) Força de flexão: ocorre o curvamento das estruturas

Observe que em algumas forças ocorre a somatória de ou-


tras, como, por exemplo, na força de flexão em que observamos a
compressão no lado côncavo e a tração no lado convexo, ou seja,
uma estrutura anatômica, submetida a esse tipo de força, pode
sofrer alterações diferentes em cada lado.

As forças são necessárias para o bom desenvolvimento dos


tecidos, e, por conseguinte, cada tecido diariamente sofre forças
fisiológicas que promovem o seu bom estado, como, por exemplo,
os ossos, que necessitam de compressão para manter sua densi-
dade mineral; os tendões e os músculos, que necessitam de tra-
ção para manter sua resistência; e a cartilagem, que reage bem às
forças de deslizamento fisiológicas. Assim, torna-se fundamental à
saúde a prescrição de atividades físicas que promovam essas for-
ças de maneira adequada.

Como demonstra a Figura 37, forças excessivas podem pro-


vocar lesões.

Nesse exemplo, observamos um joelho submetido a um es-


forço em valgo, que pode promover lesão por compressão de um
lado e por tração de outro; no caso do exemplo, trata-se do joelho
de uma criança cuja placa epifisária (linha de crescimento) é o lo-
cal da lesão. É importante lembrar que as articulações das crianças
possuem particularidades especiais e que uma lesão nesses locais
se difere de uma lesão nas articulações de um adulto, portanto, é
preciso ficar atento com seus alunos.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 69

Placa
epifisária
fraturada

FORÇA
EM VALGO

Fonte: HAMILL (1999, p. 47).


Figura 37 Forças podem provocar lesões.

Torque
Como vimos, as forças são aplicadas em um ponto, e, no
caso da força muscular, esse ponto pode ser a origem ou a inser-
ção muscular com o objetivo de movimentar o segmento ósseo
(osteocinemática), o que gera, também, movimento na articulação
(artrocinemática).
Para os movimentos lineares, a força é o agente mecânico
que cria e controla o movimento. Para o movimento angular ocor-
rido nas articulações, o agente é conhecido como torque (T), de-
finido como o efeito de uma força que tende a causar rotação ao
redor de um eixo, e momento de força ou momento (M), sendo
que a definição matemática desses dois agentes é a mesma, mas
com a existência de uma diferença técnica.

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70 © Cinesiologia

O torque é o movimento de rotação criado por uma força


enquanto o momento se relaciona com a ação de flexão de uma
força, como, por exemplo, no salto com vara, em que ocorre a fle-
xão desta gerada por uma força, ilustrado na Figura

Figura 38 Salto com vara.

Ao analisar a Figura 38, podemos observar que no intervalo


entre as ações 2 e 3 há o curvamento da vara (momento de força)
que gerará a aceleração do atleta.
Nessa imagem, podemos identificar muitos dos conceitos
que estudamos anteriormente. Vamos fazer uma pausa para rever
esses conceitos:
1) Indivíduo correndo: movimento linear.
2) Diminuição da velocidade e apoio da barra: Primeira Lei
de Newton.
3) Voo: Segunda Lei de Newton.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 71

4) Movimento angular: giro do corpo.


5) Amortecimento da queda: Primeira Lei de Newton.
Podemos, ainda, analisar vários dos conceitos estudados,
como os movimentos angulares das várias partes do corpo do atle-
ta, as forças geradas (como a flexão da vara e a sua compressão na
caixa de apoio), entre outros. Contudo, vamos voltar ao estudo do
torque.
Apesar das diferenças, torque e momento são usados como
sinônimos com frequência. Como vimos anteriormente, o torque
refere-se ao movimento de rotação criado por uma força, e sua
magnitude é igual a força aplicada vezes (x) a distância mais curta
(perpendicular) do eixo de rotação até a linha de aplicação da for-
ça. Essa linha perpendicular é conhecida como braço de momen-
to, braço de torque ou braço de alavanca
CENTRO (WHITING;
DE FORMAÇÃO ZERNICKE,E DISCIPLI
DE PROFESSORES
2001). INSTITUCIONAIS
CURSO: LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Para uma força (F) que atua formando um ângulo
COORDENADOR (A): PROF.reto com o CÂMARA
MS. ENGELS
DISCIPLINA: CINESIOLOGIA
corpo que está sendo rodado, o braço de momento é a distância (d)
AUTORES: PROF. DR. CESAR AUGUSTO BUENO ZANE
e a magnitude do momento (T ou M)EéPROF.
fornecida pelaALVES
MS. EDSON equação:
DE BARROS JUNIOR
UNIDADE 1
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
T = F. d
PREPARADOR (A): SIMONE RODRIGUES

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Veja o exemplo a seguir, no
I
qual temos um sistema de alavancas,
que há um eixo E, um peso (P) e uma
força (F), representados na Figura E

Considerando que torque é uma for-


F P
ça rotatória, nesse exemplo, teremos
a
dois torques: o do peso e o da força, b
assim como dois braços de momen-
Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 37).
to: o de força (a) e o de peso (b). Figura 39 Aplicações de torques em um
sistema de alavancas.

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72 © Cinesiologia

Nesse exemplo, o torque gerado em F será o valor de F x a


distância de F a E, e o torque gerado em P será o valor de P x a
distância de P a E.
Note que o ponto de aplicação de P corresponde ao centro
da figura geométrica, que representa seu centro de massa ou cen-
tro de gravidade, conforme já estudamos.
Ainda utilizando o mesmo exemplo, no caso de uma gangor-
ra, uma criança de 22,5kg (222N) é capaz de equilibrar uma criança
de 45kg (445N) se a distância do braço de momento daquela apre-
sentar o dobro de comprimento do braço de alavanca desta.
No exemplo citado, as forças F e
P atuam perpendicularmente ao bra-
ço de momento, portanto, aplica-se
a fórmula T = F. d. Todavia, quando a
F
Eixo
força não estiver atuando perpendi-
θ d´
cularmente ao segmento, o braço de
momento será menor, e, para o cálcu-
lo, utilizar-se-á a função trigonométrica
d
β apropriada, demonstrada na Figura
No exemplo citado, considerando
que uma força de 45kg estivesse atuan-
Fonte: WHITING (2001, p. 50).
Figura 40 Quando a força atua do, formando um ângulo β = 35º, o braço
formando um ângulo β com o de momento seria d´= d . sen (β) = 1,2m
segmento de comprimento d, o braço
de momento d´= d . sen β, o momento . 0,574 = 0,688m. O momento criado,
é dado pela equação M = F . d. sen β ou agora, é T = F. d´= 45 . 0,688m = 3,09kg.
M = F . d. cos θ.
m.
Um princípio importante sobre o torque é que, sempre que
alterarmos a força, o peso, o braço de força ou braço de peso, te-
remos alteração na força rotatória. Assim, devemos estar atentos
ao prescrever exercícios de fortalecimento com pesos livres, pois
estes podem não representar o mesmo torque em todo momento
do movimento angular da articulação, como ilustra a Figura 41.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 73

Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 42).


Figura 41 Variação do torque de resistência para flexores do ombro quando um peso de 5kg
é seguro na mão e o ombro flexionado a 60º , 90º e 150º.

Sendo o torque ou momento de força o efeito que uma força


tende a causar na rotação ao redor de um eixo, no que concerne
à função articular, os momentos criados pela ação dos músculos
esqueléticos são os elementos essenciais para gerar e controlar o
movimento articular.
Os princípios do torque são muito aplicados na realização de
testes de força e na aplicação de exercícios resistidos. Se conside-
rarmos o exemplo do indivíduo elevando um peso do solo (Figu-
ras 35 A e 35 B), podemos entender que, no caso em que o peso
está distante do tronco, houve um aumento no torque gerado pelo
peso, e, consequentemente, os músculos envolvidos nessa ação
realizaram mais trabalho, pois a distância do peso foi maior em
relação ao tronco do indivíduo.
O mesmo princípio deve ser utilizado ao analisarmos as pos-
turas de indivíduos sentados em seu trabalho, em sua escola ou
em outras atividades. Dependendo da posição, a necessidade por

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74 © Cinesiologia

torques gerados pelos grupos musculares pode ser aumentada, e,


consequentemente, o trabalho muscular será aumentado, provo-
cando alterações como fadiga e dor. Essa é uma análise muito im-
portante para trabalhos em escolas ou empresas.
Como vimos neste momento, o torque é uma força rotatória.
Sempre que um segmento ou uma máquina opera sob o princípio
de uma barra rígida que sofre ação de forças tendentes a rodar a
barra em torno de seu ponto de apoio, denominamos alavanca.

Alavanca
Na Biomecânica, os princípios da alavanca são utilizados
para visualizar o sistema mais complexo das forças que produzem
o movimento rotatório no corpo. Se considerarmos os três compo-
nentes de uma alavanca, conforme já visto no item sobre torque,
podemos determinar os deslocamentos dos segmentos e as forças
resultantes, sendo estas uma base importante para a prescrição de
exercícios para a prevenção, uma vez que todos os movimentos do
corpo ocorrem por um sistema de alavancas.
Uma alavanca mecânica possui três forças: o eixo ou apoio E, o
peso ou resistência P e a força F, que move ou mantém o sistema. A
distância perpendicular desde o ponto de apoio (ou centro de rota-
ção) até a linha de ação do peso é chamada de braço de peso, e a dis-
tância perpendicular da força ao eixo é chamada de braço de força.
As alavancas podem ser avaliadas quanto à sua efetividade me-
cânica, ou seja, quando a força empregada é capaz de vencer o peso
ou resistência, dizemos que há a vantagem mecânica da alavanca.
A vantagem mecânica (VM) designa a razão entre o compri-
mento do braço de força e o comprimento do braço de peso. A
equação será:
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
VM = Comprimento do braço de força
Comprimento do braço de peso
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 75

Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), quanto maior for


o braço de força, menor será a demanda de força desempenhada
para gerar o movimento, e quanto maior o braço de resistência,
maior será a necessidade de força para gerar o movimento. Assim,
um aumento no braço de força ou uma diminuição no comprimen-
to do braço de peso ou de resistência resultará em maior vantagem
mecânica, facilitando a tarefa a ser realizada. Veja que o princípio
do torque está diretamente relacionado à alavanca, uma vez que o
torque é calculado pela força x a distância perpendicular do ponto
de aplicação da força até o eixo; se aumentarmos o braço de força,
teremos um torque maior para a força empregada.

ATENÇÃO!
Se necessário, veja novamente o item sobre torque e os cálculos
demonstrados.

Nos movimentos angulares ou nas posturas do corpo, o osso ou


segmento é a alavanca, o eixo está na articulação, a contração mus-
cular é a força que se move ou se mantém e a resistência é o peso do
segmento ou as resistências externas aplicadas. Observe a Figura

Fonte: HAMILL (1999, p. 441).


Figura 42 Sistemas articulares representam alavancas.

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76 © Cinesiologia

• Fulcro: eixo (articulação).


• Força de esforço: força (força muscular).
• Peso do braço: resistência (peso do antebraço).
Considerando a VM, na construção das alavancas existem
três situações que podem surgir e definir a função delas. O caso
mais simples é quando VM = 1, ou seja, o braço de força equivale
ao braço de resistência; nesse caso, há um equilíbrio, e para mo-
vermos os sistemas, precisamos aumentar a força ou a resistência.
O segundo caso é quando VM>1, ou seja, o braço de força é maior
que o braço de resistência; nesse caso, o torque gerado pela força
é ampliado pelo braço de força maior. No terceiro caso, temos
VM<1, em que o braço de força é menor que o braço de resistên-
cia, necessitando de uma força maior para vencer a resistência. A
força age sobre uma distância pequena, e a resistência é movida
sobre uma distância maior ao mesmo tempo; nesse caso, conside-
ra-se que quando VM<1, a velocidade é aumentada (HAMILL;
KNUTZEN, 1999).
Essa terceira situação é a que
ocorre nas articulações (Figura 43)
em que a distância da inserção arti-
cular ao eixo (articulação) geralmente
é menor que a distância do eixo até a
aplicação da resistência ou peso.
Existem três tipos de alavancas:
as alavancas de primeira, de segunda
e de terceira classes, cujas classifica-
ções dependem da posição da força,
Fonte: HAMILL (1999, p. 440).
do eixo e da resistência: Figura 43 Alavanca de primeira classe.

1) Alavanca de primeira classe: também é conhecida como


interfixa (Figura 49 e Tabela 2) ou alavanca de equilíbrio.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 77

A força e a resistência estão em lados opostos ao eixo e,


também podemos dizer, que o eixo está entre a força e a
resistência. Um exemplo típico é a gangorra de um par-
que de diversões. No corpo humano, ao considerarmos
a ação simultânea de músculos agonistas e antagonis-
tas agindo nos lados opostos de uma articulação, cria-se
uma alavanca de primeira classe, que, geralmente, age
para gerar equilíbrio, como no caso dos músculos pos-
teriores do pescoço mantendo o equilíbrio da cabeça,
como se observa na Figura 43.
2) Alavanca de segunda classe: também é conhecida como
inter-resistente, como veremos mais adiante na Figura
46 e na Tabela 2 ou alavanca de força, pois permite uma
vantagem de força tal que possibilita que grandes pe-
sos sejam suportados ou movidos por uma força menor.
Nessa alavanca, a força e a resistência agem do mesmo
lado, sendo que a resistência age entre o apoio e a força,
como, por exemplo, um pé de cabra ou um carrinho de
mão, mostrado na Figura 44.

Fonte: HAMILL (1999, p. 440).


Figura 44 Alavanca de segunda classe.

Hamill e Knutzen (1999) citam que poucos são os exemplos


desse tipo de alavanca no corpo. Um bom exemplo é quando nos

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78 © Cinesiologia

apoiamos na ponta dos pés (Figura 48), sendo que o apoio no solo
é o eixo, o peso corporal é o peso e a ação do tríceps sural é a força.
Como existem poucos exemplos no corpo desse tipo de alavanca, é
seguro afirmar que os humanos não foram projetados para aplicar
grandes forças através de sistemas de alavancas de segunda classe.

Fonte: WIRHED (1986, p. 65).


Figura 45 Alavanca de segunda classe.

3) Alavanca de terceira classe: também é conhecida como


alavanca interpotente, como podemos verificar na Figu-
ra 46 e na Tabela 2 ou alavanca de velocidade. Nessa ala-
vanca, a força e a resistência também agem do mesmo
lado, porém, desta vez, com a força agindo entre o apoio
e a resistência. No corpo humano, como já vimos, a força
está localizada na inserção muscular, e, geralmente, na
alavanca de terceira classe, há uma VM>1, o que é muito
comum no corpo, ou seja, o braço de resistência é maior
que o braço de força. Um exemplo fácil de ser visualiza-
do é a articulação do cotovelo, em que temos o eixo ou
apoio na articulação, a força na inserção dos flexores do
cotovelo e a resistência composta pelo peso do antebra-
ço, como vimos na Figura 45.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 79

Na alavanca de terceira classe, há a necessidade de uma


grande força para ganhar vantagem e vencer a resistência, alcan-
çando, consequentemente, maior velocidade e movimento de
maior amplitude. Esse arranjo de alavanca é o mais comum no
corpo humano, concluindo que há uma ênfase no sistema mus-
culoesquelético para maiores velocidades de movimento, ficando,
em segundo plano, a capacidade de aplicação de grandes forças,
que é a característica de uma alavanca de segunda classe (HAMILL;
KNUTZEN, 1999).

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
F = força – E = eixo – R = resistência
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Figura 46 Alavancas interfixa, inter-resistente e interpotente.

Tabela 2 Alavancas e suas características.


TAMBÉM LOCALIZAÇÃO
ALAVANCA CONHECIDA VM CARACTERÍSTICA DOS
COMO COMPONENTES
Primeira
Interfixa =1 Equilíbrio F–E–R
classe
Segunda
Inter-resistente >1 Força E–R–F
classe

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80 © Cinesiologia

Velocidade e
Terceira classe Interpotente <1 amplitude de E–F–R
movimento
Fonte: arquivo pessoal do autor.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Vamos aproveitar este momento para verificar, por meio de
uma autoavaliação, como está a sua aprendizagem. Tente respon-
der às seguintes questões:
1) Qual é a definição de Cinesiologia?
2) Qual é a origem da palavra "cinesiologia"?
3) Quais são os planos e eixos de movimentos?
4) Quais movimentos ocorrem em cada plano em eixo?
5) Qual é a diferença entre Cinemática e Cinética?
6) O que é uma Cadeia Cinemática Articular?
7) O que é uma Cadeia Cinemática Muscular?
8) O que é um movimento realizado em cadeia aberta?
9) O que é um movimento realizado em cadeia fechada?
10) Como definir força?
11) O que é o torque?
12) Quais são as três alavancas que existem?
13) Qual é a principal alavanca encontrada no sistema mus-
culoesquelético?

8. CONSIDERAÇÕES
Nesta primeira unidade, pudemos verificar que a Cinesio-
logia é uma ciência muito importante para todos os profissionais
que trabalham com o corpo, com a prevenção e a orientação de
atividades diárias e esportivas.
Pudemos, também, verificar pela história que a Cinesiologia
não surgiu ao acaso e que muitos pensadores foram fundamentais
para o surgimento de conceitos ainda atuais, ou de conceitos que
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 81

foram modificados e atualizados, mas baseados nas ideias desses


estudiosos.
Você pôde recordar a posição anatômica de análise, os pla-
nos e eixos de movimentos, bem como quais movimentos ocor-
rem em cada plano e eixo. Estudamos que cada movimento ocorre
devido à aplicação de forças, que podem ser aplicadas de maneira
diversas e em locais diferentes.
É muito importante entender que, embora você analise seus
alunos, não pensará em todos os conceitos estudados, pois estão
envolvidos em análises desde as mais simples até as mais comple-
xas, realizadas em campo ou em laboratório.

9. E-REFERÊNCIAS

Lista de Figuras
Figura 1 – Gravura de alavanca: disponível em: <http://www.coladaweb.com/fisica/
mecanica/alavancas-e-outras-maquinas>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 4 – Corrida humana e músculos envolvidos nos movimentos: disponível em:
<http://www.medicinageriatrica.com.br/category/gerontologia/page/8/>. Acesso em:
13 maio 2010.
Figura 5 – Laboratório de marcha: disponível em: <http://www.scml.pt/default.asp?site
=cmra&sub=&id=18&mnu=9>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 6 – Posição anatômica do corpo humano: disponível em: <http://
radiologiaonline-radiologia.blogspot.com/2009/11/posicao-anatomica.html> e <http://
turmaderadiologia51.blogspot.com/2009/09/anatomia-planos-de-seccao.html>. Acesso
em: 13 maio 2010.
Figura 7 – Plano frontal ou coronal: disponível em: <http://www.auladeanatomia.com>.
Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 8 – Plano mediano: disponível em: <http://www.auladeanatomia.com>. Acesso
em: 13 maio 2010.
Figura 9 – Plano transverso: disponível em: <http://www.auladeanatomia.com>. Acesso
em: 13 maio 2010.
Figura 12 – Movimentos de flexão e extensão dos membros superior e inferior: disponível
em: <http://www.auladeanatomia.com/generalidades/termos.htm> e <http://www.
auladeanatomia.com/sistemamuscular/flexao3.jpg>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 13 – Flexão do tronco: disponível em: <www.projetohomemvirtual.org.br>.
Acesso em: 13 maio 2010.

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82 © Cinesiologia

Figura 14 – Movimento de extensão e flexão de punho: disponível em: <http://


anahatayoga.tripod.com/image16.jpg>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 15 – Flexão e extensão dos dedos da mão: disponível em: <http://www.
auladeanatomia.com/generalidades/termos.htm>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 16 – Movimentos de dorsiflexão e flexão plantar do tornozelo: disponível em: <http://
www.auladeanatomia.com/generalidades/termos.htm>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 17 – Movimentos de abdução, adução e rotação medial e lateral dos membros
superior e inferior: disponível em: <http://www.auladeanatomia.com/generalidades/
termos.htm>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 18 – Movimento de inclinação lateral do tronco: disponível em: <http://www.
ussagui.kit.net/alongamentos.htm>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 19 – Movimento de inclinação lateral da cabeça: disponível em: <http://www.
peninhacapoeira.com.br/principal.php?pagina=alongamento>. Acesso em: 13 maio
2010.
Figura 20 – Movimento de rotação do tronco: disponível em: <http://www.ussagui.kit.
net/alongamentos.htm>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 21 – Movimentos de adução e abdução e horizontal do ombro: disponível em:
<http://www.drsergio.com.br/ergonomia/curso/IMGcurso/antrop/20.gif>. Acesso em:
13 maio 2010.
Figura 22 – Movimentos de supinação e pronação do antebraço: disponível em: <http://
www.auladeanatomia.com/generalidades/termos.htm>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 23 – Movimentos de adução e abdução do pé: disponível em: <http://www.
efdeportes.com/efd120/tenorrafia-do-tendao-extensor-longo-do-halux.htm>. Acesso
em: 13 maio 2010.
Figura 24 – Osteocinemática e artrocinemática no ombro: disponível em: <http://www.
artroscopiadeombro.com.br/sindrome_do_impacto.php>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 29 – Exercício em cadeia fechada na barra: disponível em: <http://www.
fiqueinforma.com/exercicios/exercicios-na-barra/ >. Acesso em: 13 maio 20
Figura 38 – Salto com vara: disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/
fichaTecnicaAula.html?aula=15444>. Acesso em: 13 maio 2010.
Figura 46 – Alavancas interfixa, inter-resistente e interpotente: disponível em: <http://
crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_crv/%7BBF0E2FF5-52E3-4E1E-
A624-32D3B3A65CCB%7D_026.JPG>. Acesso em: 13 maio 2010.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DUFOUR, M. et al. Cinesioterapia: avaliações técnicas passivas e ativas do aparelho
locomotor – princípios. Tradução de Joel João da Silva. São Paulo: Panamericana, 19
HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. Tradução de
Lilia Breternitz Ribeiro. São Paulo: Manole, 1999.
HOFFMAN, S. J.; HARRIS, J. C. (Org.). Cinesiologia: o estudo da atividade física. Tradução
de Vagner Raso. Porto Alegre: Artmed, 2002.
© U1 - Introdução ao Estudo da Cinesiologia 83

MIRANDA, E. ­­­Bases de anatomia e cinesiologia. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2008.


MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. Tradução de Claudia Lucia Caetano de
Araujo. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994.
NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
RASCH, P. J.; BURKE, R. K. Cinesiologia e anatomia aplicada: a ciência do movimento humano.
Tradução de Olavo Pires de Camargo. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.
SMITH, L. K.; WEISS, E. L.; LEHMKUHL, L. D. Cinesiologia clinica de Brunnstrom. Tradução
de Flora Maria Gomide Vezza. ed. São Paulo: Manole, 1987.
SOBOTTA, J. Atlas de anatomia humana. ed. Rio de Janeiro: Gujanabara Koogan, 2006.
WHITING, W. C.; ZERNICKE, R. F. Biomecânica da lesão musculoesquelética. Tradução de
Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
WIRHED, R. Atlas de anatomia do movimento. Tradução de Anita Viviani. São Paulo:
Manole, 1986.

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EAD
Artrologia

2
1. Objetivos
• Conhecer e identificar os tipos de articulações.
• Conhecer e definir as formas de trabalho muscular.
• Compreender as articulações, os músculos e as funções
do tronco e dos membros.
• Analisar cada possibilidade de movimento em cada arti-
culação.

2. Conteúdos
• Articulações fibrosas, cartilaginosas e sinoviais.
• Contração muscular isotônica.
• Contração muscular isométrica.
• Articulações, músculos e movimentos das articulações do
membro superior.
86 © Cinesiologia

• Articulações, músculos e movimentos das articulações do


membro inferior.
• Articulações, músculos e movimentos das articulações do
tronco.
• Principais alterações nos movimentos.

3. SUGESTÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Ao longo desta unidade, você estudará as ações muscu-
lares. Desse modo, sempre que as for analisar, você deve
lembrar-se dos conceitos de músculo agonista, músculo
antagonista e músculo sinergista, explicados no texto.
2) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático em mãos e discuta a unidade
com seus colegas e com o tutor.
3) Estude este material didático conferindo as referências
com as explicações dadas.

4. INTRODUÇÃO à unidade
Na primeira unidade, estudamos os conceitos cinesiológicos,
ou seja, os conceitos mecânicos que regem os movimentos. Tive-
mos a oportunidade de rever os planos anatômicos e os eixos de
movimentos estudando cada movimento que ocorre nesses pla-
nos e eixos.
Agora que já conhecemos alguns conceitos da Cinesiologia,
segmentarmente estudaremos, nesta unidade, o corpo humano,
abordando as estruturas importantes para a função. Inicialmente,
veremos os conceitos de Artrologia já estudados em Anatomia; fare-
mos uma explanação suficiente para entendermos este estudo. Não
temos, aqui, o objetivo de fazer um estudo anatômico como o reali-
© U2 - Artrologia 87

zado no caderno específico deste tema, mas analisaremos o que for


de maior relevância para entendermos os movimentos.
Você pode notar alguma diferença entre os conceitos anatô-
micos e os funcionais, mas é importante explicar que a Anatomia
realiza uma análise morfológica enquanto a Cinesiologia realiza uma
análise funcional, o que pode trazer entendimentos diferentes.
Inicialmente, vamos rever alguns conceitos da artrologia fun-
cional relembrando os componentes importantes das diferentes ar-
ticulações. Depois, estudaremos as articulações de cada segmento
– isto é, do tronco e dos membros superiores e inferiores – e cada
possibilidade de movimento osteocinemático e artrocinemático,
bem como a aplicação desses conceitos na sua prática profissional.
Desejamos, a você, êxito nos estudos e nas atividades!

5. SISTEMA ARTICULAR
A Artrologia (do grego artron, que significa "juntura") ou
Sindesmologia é a parte da Anatomia que estuda as articulações
(MIRANDA, 2008). Os ossos, em conjunto, formam o esqueleto,
mantido em conexão pelos elementos estruturais que, por sua
vez, compõem as articulações.
O sistema articular integra, junto aos sistemas esquelético e
muscular, o aparelho locomotor. As articulações são classificadas
pelos tipos, baseados nos tecidos que as compõem e na liberdade
de movimento, e sua mobilidade depende do tipo de elemento
que está interposto entre os ossos, que pode ser tecido fibroso,
cartilagem ou líquido sinovial. Recordando a Anatomia, temos as
articulações fibrosas, cartilaginosas e sinoviais (Quadro 1).
As articulações fibrosas, conhecidas no ponto de vista fun-
cional como sinartroses, têm como característica a mobilidade
reduzida, e sua conexão é realizada por um tecido conjuntivo fi-
broso. Existem dois tipos de sinartroses, que são as sindesmoses,
como a articulação tibiofibular, e as suturas, como as dos ossos do
crânio, ilustrada na Figura 1.

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88 © Cinesiologia

Figura 1 Suturas do crânio. Figura 2 Sínfise pubiana.

As articulações cartilaginosas têm a cartilagem como ele-


mento entre os ossos, e são chamadas, no ponto de vista funcional,
de anfiartrose pela sua pouca mobilidade, sendo classificadas em:
sincondroses, nas quais os ossos são unidos por cartilagem hiali-
na, como a sincondrose esfeno-occiptal, e as sínfises, nas quais os
ossos unem-se por uma cartilagem fibrosa, como a sínfise pubiana
e os discos intervertebrais.
As articulações sinoviais, ilustrada na Figura 3, são as mais
complexas e móveis, sendo responsáveis pelos movimentos corpo-
rais. Mas para que essa mobilidade exista, é necessário que os ossos
que se articulam estejam livres para deslizarem entre si ao longo dos
movimentos. Assim, a maior característica dessas articulações é a
presença do líquido sinovial, como veremos no Quadro 1.
Os ossos são unidos pela cápsula articular, na qual há uma
cavidade em que está o líquido sinovial; as superfícies desses os-
sos são revestidas por cartilagem, o que favorece o deslizamento.
Assim, todas as articulações sinoviais possuem, como característi-
cas, a presença de cápsula articular, cartilagem articular, cavidade
articular e líquido sinovial, e, além disso, algumas possuem liga-
mentos, discos e meniscos.
© U2 - Artrologia 89

Fonte: STEWART (2004, p. 70).


Figura 3 Articulação sinovial (Joint cavity = cavidade articular; Joint capsule = cápsula
articular; Hyaline cartilage = cartilagem hialina).

A cápsula sinovial pode, em algumas articulações, ser reforçada


em sua camada externa (membrana fibrosa) por ligamentos chama-
dos "ligamentos capsulares". Há, também, ligamentos separados da
cápsula, chamados "ligamentos extracapsulares". Quando esses liga-
mentos estão dentro da articulação, são chamados "intra-articulares",
como os ligamentos cruzado anterior do joelho e cruzado posterior do
joelho. A função dos ligamentos é impedir movimentos excessivos.

Ligamento cruzado posterior

Ligamento cruzado anterior Meniscos

Medial

Lateral

Ligamentos Cruzados e Meniscos

Figura 4 Articulação do joelho, com ligamentos cruzados anterior, posterior e meniscos


medial e lateral.

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90 © Cinesiologia

A função dos discos presentes nas articulações temporo-


mandibular e esternoclavicular e a dos meniscos encontrados no
joelho, como vimos na Figura 4, é melhorar a congruência entre as
superfícies articulares, melhorar o deslizamento entre as superfí-
cies articulares e absorver impacto.

Quadro 1 Classificação morfológica e funcional das articulações.


CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO
MOBILIDADE SUBDIVISÃO EXEMPLO
MORFOLÓGICA FUNCIONAL
Tibiofibular
Sindesmose
Fibrosa Sinartrose Diminuída Suturas
Sutura
cranianas
Esfeno-
Sincondroses occiptal
Cartilaginosa Anfiartrose Pouca
Sínfises Sínfise
pubiana
Sacroilíaca
Anaxial Cotovelo
Monoaxial Rádio-ulnar
Diartrose ou
Sinoviais Ampla Trocoide proximal
Diartrodial
Biaxial Rádiocárpica
Triaxial Ombro e
Quadril
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Como vimos na Unidade 1, as articulações também são clas-


sificadas no ponto de vista funcional, considerando o grau de liber-
dade de movimentos. Assim, temos as articulações anaxiais, que
não possuem eixo de movimentos; as monoaxiais, que se movi-
mentam em torno de um eixo; as biaxiais, que se movimentam em
torno de dois eixos; e as triaxiais, que realizam o movimento em
torno de três eixos. Essa classificação está relacionada à morfologia
da articulação, ou seja, ao formato de sua superfície articular. As
articulações anaxiais são planares, isto é, as superfícies ósseas que
se articulam são planas, ocorrendo, apenas, o movimento de des-
lizamento, e possuem mobilidade reduzida, como, por exemplo, a
sacroilíaca e as articulações intercárpicas, ilustradas na Figura 5.
© U2 - Artrologia 91

Figura 5 Exemplo de articulação plana.

As articulações monoaxiais podem ser do tipo gínglimo,


como podemos observar na Figura 6 (também chamado de "do-
bradiça" por apresentarem semelhança com esse sistema) quando
permitirem flexão e extensão, como, por exemplo, o cotovelo e as
interfalangeanas da mão. Podem ser, também, do tipo trocoide,
como vemos na Figura 7 (ou pivô), em que uma superfície articular
em forma de um pivô gira sobre outra – a articulação radio-ulnar
proximal.

Figura 6 Exemplo de articulação gínglimo. Figura 7 Exemplo de articulação trocoide.

As articulações biaxiais podem ser do tipo selar, como po-


demos observar na Figura Tal nome é dado por causa da sua for-

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92 © Cinesiologia

ma, que tem o mesmo formato de uma sela de montaria, pois


as superfícies são côncavas em um plano e convexas em outro,
além de se articularem sob uma superfície que possui as mes-
mas características, apesar de a superfície côncava se encaixar na
convexa e vice-versa. Um bom exemplo é a articulação carpome-
tacarpiana do polegar; os movimentos que ocorrem nesse tipo
articular são de flexão e extensão, de abdução e adução, como
também de rotação, que ocorre pela combinação de movimen-
tos.
As articulações biaxiais também podem ser do tipo condilar
ou elipsoide, em que uma superfície de forma condilar ou ovoide
se articula com outra de forma elíptica, permitindo o movimento
em dois planos: flexão – extensão e abdução – adução, como, por
exemplo, a articulação radiocárpica do punho vista, exemplificada,
na Figura 9.

Figura 8 Exemplo de articulação selar. Figura 9 Exemplo de articulação condilar.

As articulações triaxiais são do tipo esferoide, ou seja, per-


mitem maior mobilidade devido a forma de suas superfícies arti-
culares, em que uma, em forma de esfera, se articula com outra,
em forma côncava (receptáculo), sendo exemplos as articulações
do ombro e do quadril; os movimentos que ocorrem nessas articu-
lações são de flexão e extensão, de abdução e adução, de rotação
medial e lateral, de abdução e adução horizontal e de circundução.
Observe a Figura 10.
© U2 - Artrologia 93

Figura 10 Exemplo de articulação esferoide.

6. ARTICULAÇÕES E SEUS MOVIMENTOS


Agora que já recordamos as características funcionais das ar-
ticulações e já as classificamos sob os pontos de vista morfológico
e funcional, estudaremos as articulações e, sobre estas, realizare-
mos uma análise cinesiológica, o que é, na verdade, a essência da
nosso Caderno de Referência de Conteúdo, uma vez que você irá
trabalhar numa área em que o movimento é fundamental.
As articulações e os ossos formam um sistema de alavanca,
cujo movimento (artrocinemática e osteocinemática) é produzido
por uma força que, por sua vez, é gerada pelo músculo esquelético,
como vimos na unidade anterior. Toda ação neurofisiológica envol-
vida no trabalho muscular será estudada em detalhes na Unidade
3, porém, é importante vermos as formas de contração muscular e
seus efeitos nos segmentos ósseos.
Os músculos esqueléticos são os executores primários do
sistema nervoso (motores primários), compostos por proteínas
contráteis e por uma rede de tecido conjuntivo que se unem a um
tendão e formam um importante conjunto que transfere a tensão
(força) gerada para o osso. Existem interações celulares significati-
vas que determinam a resposta fisiológica do músculo.

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94 © Cinesiologia

A estrutura básica do músculo esquelético é composta por fi-


bras musculares individuais (células musculares), subdivididas em
miofibrilas, sarcômeros e, finalmente, actina e miosina. O tecido con-
juntivo que circunda o músculo inteiro é denominado epimísio, os fei-
xes de fibras musculares (fascículos) são circundados pelo perimísio, e
cada fibra muscular individual é circundada pelo endomísio.
Para Whiting e Zernicke (2001), as fibras musculares pos-
suem capacidade contrátil e podem encurtar-se até a metade do
seu comprimento em repouso.
A maior e mais frequente fonte de força gerada dentro do
corpo se dá pela contração muscular, com forças passivas adicio-
nais ocorrendo pela tensão de fáscias, que são ligamentos e estru-
turas não contráteis do músculo. As forças musculares podem ser
representadas, para a simplificação, como atuando em um ponto
do corpo, mas é sempre importante lembrar que muitas forças
complexas ocorrem na função. Normalmente, os músculos contra-
em-se em grupo, pois a contração de um único músculo poderia
gerar movimentos estereotipados, como, por exemplo: se na fle-
xão do cotovelo houvesse, apenas, a contração do bíceps braquial,
haveria a supinação do antebraço e a flexão do ombro. Por isso,
ocorre um trabalho simultâneo de vários músculos e tecidos (WHI-
TING; ZERNICKE, 2001).
Podemos, então, classificar os músculos como agonistas, an-
tagonistas, sinergistas e fixadores:
1) Agonistas (do grego agon – "competição"): motor princi-
pal do movimento.
2) Antagonistas (do grego anti – "contra"): possui ação ana-
tômica oposta ao agonista para controlar o movimento.
3) Sinergista (do grego syn – "junto"; ergon – "trabalho"): são
músculos auxiliares atuando como o motor secundário de
um movimento; contraem-se ao mesmo tempo que o ago-
nista e evitam que movimentos indesejáveis ocorram.
4) Fixadores: estabilizam as diversas partes do corpo para
que a ação principal ocorra.
© U2 - Artrologia 95

Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), alguns autores


descrevem, apenas, os músculos agonistas, antagonistas e siner-
gistas, incluindo, nesse último grupo, os fixadores.
Como vimos, os músculos exercem força nos segmentos ós-
seos por meio da contração muscular, podendo, talvez, gerar mo-
vimento, o que, eventualmente, pode não ocorrer, embora seja
importante entender que, na verdade, sempre que um músculo se
contrai, haverá uma força aplicada em sua origem e sua inserção,
sendo essa a força de tração.
Um músculo pode se contrair sem que haja movimento ar-
ticular; a isto chamamos de contração isométrica (do grego isos
– "igual"; metro – "medida"). Isto pode ser obtido aplicando re-
sistência e força iguais, e é muito utilizado no fortalecimento de
músculos que atuam em articulações que, por algum motivo, não
podem ser movidas, como, por exemplo, o caso de presença de
dor ou de alguma alteração degenerativa, como a osteoartrose
(desgaste da cartilagem hialina). A contração isométrica também
ocorre em ações cotidianas, como, por exemplo, para alcançar a
frente com a mão. A escápula necessita ser estabilizada indo de
encontro ao tórax (músculos fixadores).
Quando ocorre o movimento articular pela contração mus-
cular, diz-se que houve uma contração isotônica (do grego isos –
"igual"; tônus – "tensão"), e que esta pode ser concêntrica, quan-
do o músculo se encurta e ocorre a aproximação da origem e da
inserção muscular, ou excêntrica, quando o músculo se alonga e
ocorre o afastamento da origem e da inserção muscular.
"Força muscular" é um termo difícil de ser definido, porém,
há definições, como a capacidade do músculo gerar força, a ca-
pacidade do músculo gerar tensão ativa, entre outras. Além dos
fatores neurológicos, metabólicos, endócrinos e psicológicos, que
afetam a força muscular, muitos outros fatores determinam a for-
ça muscular ou uma contração, como idade, sexo, tamanho dos
músculos, comprimento no momento da contração, alavancagem
do músculo e velocidade de contração; muitos desses fatores você
verá com mais detalhes na Unidade 3.

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96 © Cinesiologia

Agora que já sabemos que os músculos, os ossos e as articu-


lações formam um sistema de alavancas e geram os movimentos
corporais, vamos estudar, segmentarmente, os movimentos.
Relembrando a Anatomia, o corpo humano é dividido em ca-
beça, tronco e membros. Para melhor compreensão e facilidade,
iniciaremos nossos estudos pelas articulações do membro supe-
rior; posteriormente, estudaremos os membros inferiores e finali-
zaremos com o estudo do tronco.

Articulações do membro superior – ombro


O membro superior é composto pelo úmero, o rádio, a ulna,
os ossos do carpo, os metacarpos e as falanges, e está preso ao
tronco por meio da cintura escapular, formada pela escápula e
pela clavícula, como podemos observar na Figura 11.

}
clavícula
Ombro = cintura
escapular (raiz)
escápula

úmero Braço

}
rádio
Antebraço
ulna

}
carpo

metacarpos Mão
falanges

Fonte: PUTZ, PABST, SOBOTTA (2006, p. 158).


Figura 11 Ossos do membro superior.

A união entre o úmero e a escápula forma a articulação gle-


noumeral ou ombro, que é do tipo sinovial, triaxial e esferoide,
portanto, ela possui movimentos em todos os planos e eixos, tor-
© U2 - Artrologia 97

nando-se a articulação com maior mobilidade no corpo, o que faz


dela uma articulação instável e susceptível às lesões.
Sempre que falamos em ombro, devemos falar em cintu-
ra escapular, pois o ombro possui toda mobilidade devido a esse
complexo formado pelo úmero, pela clavícula e pela escápula, que
se articula com o grádio-costal; logo, a mobilidade do ombro inclui
a caixa torácica e a coluna.
Considerando a cintura escapular, temos, então, cinco articu-
lações que devemos considerar para estudo, como podemos ver na
Figura 12: articulação glenoumeral (sinovial-esferoide-triaxial) (1); ar-
ticulação subacromial, conhecida como uma falsa articulação (2), arti-
culação escápulo-torácica (plana-anaxial) (3); articulação acromiocla-
vicular (plana-anaxial) (4) e articulação esternoclavicular (selar) (5).

2
5

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 29).


Figura 12 Cintura escapular.

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98 © Cinesiologia

Figura 13 Articulações do ombro (1 – acromioclavicular; 2 – subacromial; 3 –


glenoumeral).

Essa anatomia permite toda movimentação do ombro (como vi-


mos na Unidade 1), ilustrado na Figura 13 e possui movimento nos três
planos e eixos. Esses movimentos serão vistos nas Figuras 14 à 18:
1) Flexão e extensão no plano mediano em torno do eixo
lateral.
2) Abdução e adução no plano frontal em torno do eixo an-
teroposterior.
3) Rotação medial e lateral no plano horizontal em torno
do eixo longitudinal.
4) Adução e abdução horizontal no plano horizontal em
torno do eixo longitudinal.
5) Cincundução.
© U2 - Artrologia 99
180º

90º

50º

a b

30º

a b

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 13).


Figura 14 Movimentos de extensão, flexão e adução do ombro.

60º

180º

a b

120º

c d

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 15).


Figura 15 Movimento de abdução do ombro.

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100 © Cinesiologia

0 30º
RI

80º

95º
b c

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 17).


Figura 16 Movimentos de rotação lateral e medial do ombro.

140º

30º

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 19).


Figura 17 Movimentos de adução e abdução horizontal do ombro.
© U2 - Artrologia 101

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 21).


Figura 18 Movimentos de circundução do ombro.

A escápula possui importantes movimentos que compõem


a mobilidade total do ombro. São eles: elevação, depressão, ab-
dução (protração), adução (retração), rotação lateral e medial,
inclinação anterior e posterior – todos vistos na Figura Esses mo-
vimentos ocorrem devido ao deslizamento da escápula sobre o
grádio-costal.
A mobilidade do ombro, então, é obtida pelos movimentos
em conjunto da escápula, da articulação glenoumeral e, também,

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102 © Cinesiologia

por movimentos pequenos, mas não menos importantes, que


ocorrem nas articulações esternoclavicular e acromioclavicular.

60

40 - 45
70
37

15
38

10 12

10 12

39

40
60º

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 21).


Figura 19 Movimentos da escápula.

Como a articulação do ombro é formada por meio da cone-


xão com o tronco, a mobilidade da coluna vertebral é muito im-
portante para os movimentos se completarem. Assim, para que
haja a flexão total e a abdução total do ombro, deve ocorrer a in-
clinação da coluna para o lado oposto, como vimos, anteriormen-
te, na Figura Quando a flexão ocorre bilateralmente, a coluna to-
rácica deve realizar extensão permitindo a mobilidade total. Esse
dado é muito importante, pois, sempre que você cuidar de alguém
com alguma alteração no ombro, deve ficar atento à mobilidade
da coluna e, também, aos menores movimentos que ocorrem nas
© U2 - Artrologia 103

articulações esternoclavicular e acromioclavicular. Se houver dimi-


nuição ou perda desses movimentos, provavelmente a articulação
glenoumeral será sobrecarregada, gerando alterações como dor
ou até instabilidade articular.
Importantes ligamentos realizam a estabilização do comple-
xo articular do ombro.
A articulação esternoclavicular é sinovial e do tipo plana,
com movimentos de anteriorização, posteriorização, elevação, de-
pressão e discretas rotações que ocorrem na clavícula. É estabi-
lizada pela cápsula e pelos ligamentos esternoclavicular anterior
e posterior, interclavicular, costoclavicular e disco articular, como
podemos observar nas Figuras 20 e 21.
A articulação acromioclavicular é do tipo plana e anaxial e é
estabilizada por uma cápsula articular, pelos ligamentos acromiocla-
vicular e coracoclaviculares (ligamento trapezoide e ligamento co-
noide) e pelo disco, que pode estar ausente em algumas pessoas.

EC
AC

Fonte: arquivo pessoal do autor.


Figura 20 Articulações esternoclavicular (EC) e acromioclavicular (AC) – visão anatômica
superficial.

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104 © Cinesiologia

Ligamento esternoclavicular anterior


Ligamento costoclavicular
Ligamento interclavicular
Clavícula
Músculo Disco articular
subclávio

1ª Cavidade
costela articular

Cartilagens Sincondrose
costais esternocostal

Manúbrio

2ª costela
Articulação sinovial
esternocostal
Ligamento esternocostal radiado Sincondrose esternal

Fonte: NETTER (1996)


Figura 21 Articulação esternoclavicular.

Quedas sobre o ombro podem levar a diferentes graus de


lesões nesses ligamentos, como mostra a Figura Imagine a dificul-
dade de alguém que queira praticar ou que já pratica natação com
a limitação desses movimentos!

Figura 22 Ligamentos acromioclavicular e coracoclaviculares podem se romper.


© U2 - Artrologia 105

O acrômio possui, ainda, um ligamento que o une ao proces-


so coracoide da escápula chamado "ligamento coracoacromial".
Esse ligamento tem a função de evitar a luxação superior da cabeça
umeral, e forma, junto com o acrômio, o espaço subacromial. Du-
rante o movimento de abdução, pode ocorrer o impacto do úmero
(tuberosidade maior) nessas estruturas, originando sintomas de
dor ao movimento e uma importante patologia denominada "Sín-
drome do Impacto", que leva à ruptura dos tendões do manguito
rotador, ilustrados nas Figuras 23 e 24.

Acrômio

Coracóide

Tendões
Rotadores

Ombro E

Figura 23 Anatomia do espaço subacromial.

ponto de compressão

Figura 24 Síndrome do Impacto.

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106 © Cinesiologia

Miranda (2008) menciona que a articulação escapulotoráci-


ca é uma articulação funcional e plana, estabilizada no gradiocostal
pelos músculos serrátil anterior e romboide, que desempenham
papel de verdadeiros ligamentos, estabilizando essa articulação.
A articulação do ombro ou glenoumeral é sinovial e dos tipos
esferoide e triaxial. É formada pela cabeça esférica do úmero, na
qual se articula com a cavidade glenoide da escápula. Não há uma
proporção entre o tamanho da cabeça do úmero e da cavidade
glenoide, pois esta é muito rasa, o que determina facilidade de
movimento, apesar de determinar, também, instabilidade, exem-
plificada na Figura 25.

Fonte: KAPANDJI (19p. 31).


Figura 25 Cabeça umeral (a) é maior que cavidade glenoide (b) com estabilidade aumentada
pelo lábio glenoidal (c).

Podemos ver, ainda na Figura 25, que a característica funcio-


nal do ombro é compensada pela existência de importantes esta-
bilizadores, ou seja, estruturas que aumentam a estabilidade da
articulação glenoumeral. São eles: a cápsula fibrosa, os ligamen-
tos, o lábio glenoidal e a presença de uma pressão negativa dentro
da articulação que, junto com a viscosidade do líquido sinovial,
aumenta a estabilidade.
© U2 - Artrologia 107

Já os ligamentos da articulação glenoumeral são capsulares,


como os ligamentos glenoumeral superior, médio e inferior e os
ligamentos coracoumeral e transverso do úmero, que podem ser
vistos na Figura 26.

Figura 26 Ligamentos do ombro.

Os ligamentos do ombro possuem um importante papel na


estabilização da articulação glenoumeral e realizam essa função
tanto de maneira estática, ou seja, mantêm a articulação em mo-
mentos de repouso, quanto dinâmica, quando agem mantendo a
articulação estável durante a movimentação.
Na Figura 27, observamos que, durante a abdução, os liga-
mentos glenoumeral médio e inferior ficam tensos e estabilizam a
articulação, mantendo, por meio de sua tensão, a cabeça umeral
encaixada na glenoide e limitando o deslizamento inferior do úmero
(artrocinemática). Já na rotação lateral, os três ligamentos glenou-
merais tensionam-se, estabilizando a cabeça do úmero na glenoide
e impedindo que haja o deslizamento excessivo do úmero para a
região anterior (artrocinemática), como mostrado na Figura 28.

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108 © Cinesiologia

Já na Figura 29, notamos que o ligamento coracoumeral se


tensiona tanto na flexão como na extensão, estabilizando o ombro
nos dois movimentos. Esses conceitos sobre a ação dos ligamentos
do ombro são importantes para todo profissional que trabalha na
área da saúde, pois movimentos extremos em atividades laborais
ou desportivas podem gerar o alongamento dessas estruturas fa-
vorecendo a instabilidade, uma vez que o conjunto de ligamentos
e músculos fornecem estabilidade ao ombro e que a falha de um
desses elementos anatômicos pode causar lesões.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 39).


Figura 27 Ligamentos glenoumeral médio e inferior relaxados (a) e tensos na abdução (b).

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 39).


Figura 28 Ligamentos glenoumerais tensos na rotação lateral (a) e relaxados em repouso (b).
© U2 - Artrologia 109

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 41).


Figura 29 Ligamento coracoumeral relaxado (a), tenso na exensão (b) e tenso na flexão (c).

Os movimentos da articulação do ombro são realizados por


três grupos musculares distintos. São eles:
• Grupo A: músculos que se originam na escápula e se inse-
rem no úmero.
• Grupo B: músculos que se originam no tronco e se inse-
rem na escápula.
• Grupo C: músculos que se originam no tronco e se inse-
rem no úmero.
Para facilitar o entendimento, descreveremos os músculos,
suas funções e ações para a articulação e, posteriormente, suas
origens e inserções.

Músculos do grupo A
1) Supraespinhoso: abduz a articulação do ombro e estabiliza
a cabeça do úmero na cavidade glenoide. Esse músculo tem
sua ação principal controlando a força resultante do deltoide
médio, que tende a tracionar o úmero para cima no início da

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110 © Cinesiologia

abdução; assim, a ação conjunta dos dois músculos permite


uma abdução glenoumeral dentro dos padrões fisiológicos.
2) Músculo redondo maior: realiza adução do úmero e ro-
da-o lateralmente.
3) Músculos infraespinhal e redondo menor: realizam
adução e rodam lateralmente o úmero.
4) Músculo subescapular: realiza adução e rotação medial
do úmero.
Esses músculos, exceto o redondo maior, formam o chamado
"manguito rotador", que é muito importante para a estabilidade do
úmero na glenoide, ou seja, em conjunto, eles trabalham encaixan-
do a cabeça do úmero na glenoide, atuando, principalmente, nos
movimentos de abdução e flexão. São esses músculos que devem
ser trabalhados em casos de patologias como a Síndrome do Impac-
to já citada, e, também, nas instabilidades do ombro (subluxação e
luxação). A porção longa do bíceps também possui papel importan-
te na estabilidade glenoumeral. Observe as Figuras 30 à 32.
• Músculo tríceps braquial: estende o úmero (sinergista).
• Músculo bíceps braquial: flexiona o úmero.
• Músculo coracobraquial: flexiona e roda, medialmente, o
úmero.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 43).


Figura 30 Ação dos músculos supraespinhos (1), infraespinhal (3) e redondo menor (4) –
vista posterior do ombro.
© U2 - Artrologia 111

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 43).


Figura 31 Ação dos músculos supraespinhos (1), subescapular (2) e cabo longo do bíceps
(5) – vista anterior do ombro.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 43).


Figura 32 Ação dos músculos supraespinhos (1), subescapular (2), infraespinhoso (3),
redondo menor (4) e cabo longo do bíceps – vista superior do ombro.

Músculos do grupo B
Para que haja uma movimentação correta na articulação
glenoumeral, é importante que a escápula esteja bem estabiliza-
da para realizar os movimentos necessários à complementação
da mobilidade da cintura escapular. Assim, quando necessário, a
escápula se move, e, também quando necessário, ela será estabi-
lizada pelas ações agonista e antagonista dos músculos que agem

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112 © Cinesiologia

sobre ela. Para facilitar o entendimento dos músculos citados a


seguir, exceto o número 6, retorne à Figura 20.
1) Músculo levantador da escápula: eleva e roda, medial-
mente, a escápula.
2) Músculos romboides maior e menor: aduz e roda, me-
dialmente, a escápula.
3) Músculo trapézio superior: eleva e roda, lateralmente, a
escápula, e inclina-a anteriormente.
4) Músculo trapézio médio: aduz a escápula.
5) Músculo trapézio inferior: deprime e roda, lateralmen-
te, a escápula, e inclina-a posteriormente.
6) Músculo peitoral menor: inclina a escápula anteriormente.
O levantador da escápula, atuando em conjunto com o tra-
pézio superior, realiza a elevação da escápula sem rotação.
Sempre que alguma fibra do trapézio atua, as outras fibras
agem para estabilizar a escápula, como, por exemplo, na rotação
lateral da escápula, em que temos a ação do trapézio superior e
inferior, bem como a estabilização pelo trapézio médio; quando o
trapézio médio aduz a escápula, as fibras superiores e inferiores
estabilizam-se. Imagine os romboides agindo em conjunto com o
trapézio médio: a ação estabilizadora das fibras superiores e infe-
riores do trapézio impedirão a rotação medial da escápula. O mús-
culo trapézio inferior é um antagonista do peitoral menor e vice-
versa nas ações de rotação anterior e posterior da escápula.

Músculos do grupo C
1) Peitoral maior: quando suas fibras superiores e inferio-
res atuam em conjunto, são capazes de realizar a adu-
ção medial e horizontal do úmero e a rotação medial do
úmero; as fibras superiores isoladas rodam medialmente
e flexionam o úmero, e as inferiores deprimem a cintura
escapular e aduzem, obliquamente, o úmero na direção
do ilíaco oposto.
2) Músculo deltoide: abduz (fibras médias), estende (fibras
posteriores) e flexiona (fibras anteriores) a articulação gle-
© U2 - Artrologia 113

noumeral; as fibras anteriores ainda rodam, medialmen-


te, a articulação, e as posteriores rodam lateralmente.
3) Músculo grande dorsal: roda medialmente, aduz e es-
tende a articulação do ombro.
4) Músculo serrátil anterior: abduz e roda, lateralmente,
a escápula; responsável pela manutenção da escápula
contra o gradiocostal.
É importante analisar que, sempre que ocorre um movimen-
to na articulação glenoumeral, a escápula será solicitada ou como
ponto de apoio (estabilizada pelas ações agonistas e antagonistas
dos músculos escapulares) ou se movendo para completar a am-
plitude de movimento.
Os movimentos ocorrem sempre em conjunto, cuja sequ-
ência se inicia com o movimento na glenoumeral, na escápula e
nas articulações acrômio e esternoclaviculares, posteriormente, e,
finalmente, no tronco (coluna). Assim, temos que, durante a abdu-
ção, ocorre o que denominamos "ritmo escapulo umeral", ou seja,
o ritmo em que os movimentos se alternam entre glenoumeral e
escapulo torácica. Vejamos, a seguir, os três estágios de abdução
que os músculos do grupo C realizam:
• Primeiro estágio: de 0º a 30º de abdução – ocorre o mo-
vimento glenoumeral.
• Segundo estágio: de 30º a 90º de abdução – ocorre mais
de 40º de movimento na glenoumeral e 20º na escapulo
torácica, com movimentos de inferiorização na articula-
ção esternoclavicular.
• Terceiro estágio: de 90º a 180º de abdução – ocorre 45º
de movimento glenoumeral e 45º na escapulo torácica e
na coluna torácica associada aos deslizamentos acromio-
claviculares.
Podemos, então, concluir que as ativações musculares tam-
bém ocorrem de maneira diferente, em momentos que temos

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114 © Cinesiologia

maior ou menor ação de cada músculo, com a sincronização das


ações musculares. Vamos descrever como se comportam os mús-
culos nos dois movimentos de maior amplitude: a flexão e a ab-
dução do ombro. É importante salientar que os momentos des-
critos se referem aos momentos de maior ativação dos motores
principais e que os músculos estarão sempre ativos, inclusive os
sinergistas.

Quadro 2 Sequência das ações musculares no decorrer da flexão e


da sequência das ações musculares durante a abdução.
SEQUENCIA DAS AÇÕES MUSCULARES DURANTE A FLEXÃO
0 – 50 graus
Feixe clavicular do Deltóide
Coracobraquial
Feixe superior clavicular do peitoral maior
60 -120 graus
Trapézio superior e inferior
Serrátil
120 – 180 graus
Ação importante dos extensores da Coluna
SEQUENCIA DAS AÇÕES MUSCULARES DURANTE A ABDUÇÃO
0 – 90 graus
Supra Espinhoso
90 – 150 graus
Trapézio
Serrátil Anterior
150 – 180 graus
Coluna
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Veja as Figuras 33 e 34 e atente-se ao conhecimento des-


sas ações, pois elas são importantes para que você possa enfati-
zar o trabalho dos músculos ou dos grupos musculares quando
necessário.
© U2 - Artrologia 115

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 75).


Figura 33 Sequência da ação muscular durante a flexão – observe a sequência de
movimentação da escápula.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 73).


Figura 34 Sequência da ação muscular durante a abdução – observe a sequência dos
movimentos escapulares.

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116 © Cinesiologia

Para melhorar o estudo, segue uma tabela, com os músculos


que agem na cintura escapular e suas ações, suas origens e suas
inserções, bem como as Figuras 35 a 51, que também facilitarão
seu conhecimento.

Quadro 3 Músculos do grupo A.


MÚSCULOS DO GRUPO A
Supraespinhoso: abduz a articulação do ombro e estabiliza a cabeça do úmero
na cavidade glenoide. Esse músculo tem sua ação principal controlando a força
resultante do deltoide médio, que tende a tracionar o úmero para cima no início da
abdução; assim a ação conjunta dos dois músculos permite uma abdução gleno -
umeral dentro dos padrões fisiológicos.
Origem: dois terços mediais da fossa supra espinhosa da escápula.
Inserção: porção superior do tubérculo maior do úmero.
Músculo redondo maior: realiza adução do úmero e o roda lateralmente.
Origem: face posterior da escápula, na margem lateral e no ângulo inferior.
Inserção: tubérculo menor do úmero.
Músculos infra espinhal e redondo menor: realiza adução e roda lateralmente o
úmero.
Origem: fossa infra espinhal da escápula.
Inserção: faceta medial do tubérculo maior do úmero.
Redondo menor: realiza adução e roda lateralmente o úmero.
Origem: dois terços superiores e superfície dorsal da borda lateral da escápula.
Inserção: a faceta mais inferior do tubérculo maior do úmero e a cápsula da
articulação do ombro.
Músculo subescapular: realiza adução e rotação medial do úmero.
Origem: fossa subescapular da escápula.
Inserção: tubérculo menor do úmero e cápsula da articulação do ombro.
Obs.: Esses músculos, exceto o redondo maior, formam o chamado “manguito
rotador”, muito importante para a estabilidade do úmero na glenoide, ou seja,
em conjunto eles atuam encaixando a cabeça do úmero na glenóide, atuando
principalmente nos movimentos de abdução e flexão. São esses músculos que devem
ser trabalhados em patologias como a Síndrome do Impacto, já citada, e, também,
nas instabilidades do ombro (sub-luxação e luxação).
Músculo tríceps braquial cabeça longa: estende o úmero (sinergista)
Origem: tubérculo infraglenoideo da escápula.
Inserção: superfície posterior do processo do olecrano, da ulna, e da fascia
antebraquial.
© U2 - Artrologia 117

MÚSCULOS DO GRUPO A
Músculo bíceps braquial: flexiona o úmero.
Origem da cabeça curta: ápice do processo coracoide da escápula.
Origem da cabeça longa: tubérculo supraglenoideo da escápula.
Inserção: tuberosidade do rádio, e aponeurose do bíceps braquial.
Músculo coracobraquial: flexiona e roda medialmente o úmero.
Origem: ápice do processo coracóide da escápula.
Inserção: superfície medial do meio da diáfise do úmero em oposição à tuberosidade
do deltoide.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Quadro 4 Músculos do grupo B.


MÚSCULOS DO GRUPO B
Para que haja a movimentação correta da articulação gleno-umeral, é importante
que a escápula esteja bem estabilizada para realizar os movimentos necessários à
complementação da mobilidade do ombro ou da cintura escapular. Assim, quando
necessário, a escápula se move, e também quando necessário ela será estabilizada
pelas ações agonista e antagonista dos músculos que agem sobre ela.
Músculo levantador da escápula: eleva e roda, medialmente, a escápula.
Origem: processos transversos das primeiras quatro vértebras cervicais.
Inserção: borda medial da escápula entre o ângulo superior e a raiz da espinha.
Músculos romboides maior e menor: aduz e roda, medialmente, a escápula.
Origem do maior: processos espinhosos da segunda até a quinta vértebra torácica.
Origem do menor: ligamento nucal, processos espinhosos da sétima vértebra
cervical e da primeira torácica.
Inserção do maior: borda medial da escápula entre a espinha e o ângulo inferior.
Inserção do menor: borda medial na raiz da espinha da escápula.
Músculo trapézio superior: eleva e roda, lateralmente, a escápula, e inclina-a anteriormente.
Origem: protuberância occipital externa, terço médio da linha nucal superior,
ligamento nucal e processo espinhoso da sétima vértebra cervical.
Inserção: terço lateral da clavícula e processo do acrômio da escápula.
Músculo Trapézio Médio: aduz a escápula.
Origem: processo espinhoso da primeira até a quinta vértebra torácica.
Inserção: margem medial do acrômio e lábio superior da espinha da escápula.
Músculo trapézio inferior: deprime e roda, lateralmente, a escápula, e inclina-a
posteriormente.

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118 © Cinesiologia

MÚSCULOS DO GRUPO B
Origem: processo espinhoso da sexta até a 12ª vértebra torácica.
Inserção: tubérculo no ápice da espinha da escápula.
Músculo peitoral menor: inclina a escápula anteriormente.
Origem: margens superiores, superfícies externas da terceira, da quarta e da quinta costela
próximo às cartilagens e a partir da fáscia sobre os músculos intercostais correspondentes.
Inserção: borda medial, superfície superior do processo coracoide da escápula.
O levantador da escápula, atuando em conjunto com o trapézio superior, realiza a
elevação da escápula sem rotação.
Sempre que alguma fibra do trapézio atua, as outras fibras agem para estabilizar
a escápula, como, por exemplo, na rotação lateral da escápula, temos a ação do
trapézio superior e inferior, e estabilização pelo trapézio médio; quando o trapézio
médio aduz a escápula, as fibras superiores e inferiores estabilizam-se. Imagine os
romboides agindo em conjunto com o trapézio médio: a ação estabilizadora das
fibras superiores e inferiores do trapézio impedirão a rotação medial da escápula.
O músculo trapézio inferior é um antagonista do peitoral menor e vice - versa, nas
ações de rotação anterior e posterior da escápula.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Quadro 5 Músculos do grupo C.


MÚSCULOS DO GRUPO C
Peitoral maior: atuando em conjunto suas fibras superiores e inferiores realizam
adução e adução horizontal do úmero e rotação medial do úmero. As fibras superiores
isoladamente rodam, medialmente, e flexionam o úmero, e as inferiores deprimem a
cintura escapular e aduzem, obliquamente, o úmero na direção do ilíaco oposto.
Origem das fibras superiores (porção clavicular): superfície anterior da metade
esternal da clavícula.
Origem das fibras inferiores (porção esternocostal): superfície anterior do esterno,
cartilagens das primeiras seis ou sete costelas e aponeurose do obliquo externo.
Inserção das fibras superiores e inferiores: crista do tubérculo maior do úmero. As
fibras superiores são mais anteriores e caudais na crista do que as fibras inferiores
que se torcem sobre si próprias e são mais posteriores e craniais.
Músculo deltoide: abduz (fibras médias), estende (fibras posteriores) e flexiona
(fibras anteriores) a articulação gleno - umeral; as fibras anteriores ainda rodam
medialmente e as posteriores, lateralmente, na articulação.
Origem das fibras anteriores: borda anterior, superfície superior e terço lateral da
clavícula.
Origem das fibras médias: margem lateral e superfície superior do acrômio.
Origem das fibras posteriores: lábio inferior da borda posterior da espinha da
escápula.
© U2 - Artrologia 119

MÚSCULOS DO GRUPO C
Inserção: tuberosidade deltoidea do úmero.
Músculo grande dorsal: roda medialmente, aduz e estende a articulação do ombro.
Origem: processo espinhoso das últimas seis vértebras torácicas, das ultimas três ou quatro
costelas, através da fáscia toracolombar, a partir das vértebras lombares e sacras; terço
posterior do lábio externo da crista ilíaca e uma tira a partir do ângulo inferior da escápula.
Inserção: sulco intertubecular do úmero.
Músculo serrátil anterior: abduz e roda, lateralmente, a escápula; responsável pela
manutenção da escápula contra o gradio - costal.
Origem: superfícies externas e bordas superiores das oito ou nove costelas superiores.
Inserção: superfície costal da borda medial da escápula.
Fonte: Arquivo pessoal do autor.

Fonte: KENDALL (1987, p. 111). Fonte: KENDALL (1987, p. 125).


Figura 35 Músculo supraespinhal. Figura 36 Músculos infraespinhoso e redondo menor.

Fonte: KENDALL (1987, p. 123).


Figura 37 Músculo subescapular.

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120 © Cinesiologia

Fonte: KENDALL (1987, p. 109).


Figura 38 Tríceps braquial.

Fonte: KENDALL (1987, p. 107).


Figura 39 Músculo bíceps braquial.
© U2 - Artrologia 121

Fonte: NETTER (2000, p. 395).


Figura 40 Músculo da cintura escapular – vista posterior.

Fonte: KENDALL (1987, p. 127).


Figura 41 Músculos elevador da escápula, rombóides maior e menor.

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122 © Cinesiologia

Fonte: KENDALL (1987, p. 133).


Figura 42 Músculo trapézio superior e sua ação de elevação e rotação lateral da escápula.

Fonte: KENDALL (1987, p. 130).


Figura 43 Músculo trapézio médio.
© U2 - Artrologia 123

Fonte: KENDALL (1987, p. 132).


Figura 44 Músculo trapézio inferior.

Peito
Maior

Fonte: KENDALL (1987, p. 132).


Figura 45 Músculo peitoral maior.

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124 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 69). Fonte: KAPANDJI (1990, p. 69).


Figura 46 Músculo deltóide – feixes anteriores Figura 47 Músculo deltóide – feixes médio
(I e II) e médio (III). (III) e posteriores (IV, V, VI e VII).

Elevador
da escápula
Rombóide menor
Rombóide maior

Grande
dorsal

Redondo Maior
Grande dorsal

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 115).


Figura 48 Músculo grande dorsal.
© U2 - Artrologia 125

Vista
ântero-lateral

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 134).


Figura 49 Músculo serrátil anterior.

TS DTA

TS DTM
TM
DTP

TI RM
GD

Fonte: COHEN (2003/2005, p. 746).


Figura 50 Músculos do ombro – visão anatômica de superfície (trapézio superior – TS;
trapézio médio – TM; trapézio inferior – TI; grande dorsal – GD; deltoide anterior – DTA;
deltóide médio – DTM; deltóide posterior – DTP; redondo maior – RM; tríceps – TR).

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126 © Cinesiologia

TS

DTA
DTM PTM

Fonte: COHEN (2003/2005, p. 746).


Figura 51 Músculos do ombro – visão anatômica de superfície (trapézio superior – TS;
deltóide anterior – DTA; deltóide médio – DTM; peitoral maior – PTM; serrátil anterior – ST).

Articulações do membro superior – cotovelo


O cotovelo é uma articulação fundamental para complementar
a mobilidade do membro superior, constituindo, junto ao ombro, uma
unidade funcional que possibilita atividades simples, como pentear-se
ou alimentar-se, conforme mostradas nas Figuras 52 e 53.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 27).


Figura 52 Funções conseguidas com a Fonte: KAPANDJI (1990, p. 83).
mobilidade do ombro e cotovelo. Figura 53 Mobilidade do cotovelo.
© U2 - Artrologia 127

A articulação do cotovelo é sinovial, monoaxial, do tipo gín-


glimo, e possui três articulações contidas em uma cápsula articular
comum formando uma unidade, como podemos observar, a se-
guir, nas Figuras 54 e São elas:
• Articulação umeroulnar: encontra-se entre a tróclea do
úmero e a incisura troclear da ulna; é uma articulação do
tipo pivô, monoaxial, em que ocorre flexão e extensão.
• Articulação umerorradial: encontra-se entre o capítulo do
úmero e a fóvea da cabeça do rádio, é do tipo condilar,
biaxial, nas quais ocorrem flexão, extensão, pronação e
supinação do antebraço.
• Articulação radioulnar proximal: nesta, a cabeça do rádio
articula-se na incisura radial da ulna, é do tipo pivô, mono-
axial, em que ocorre pronação e supinação do antebraço.

Clavícula

Escápula

Úmero

Articulação umerorradial Articulação umeroulnar

Articulação radioulnar proximal


Cotovelo

Ulna

Antebraço
Rádio

Fonte: STEWART (2004, p. 70).


Figura 54 Membro superior e articulações do ombro e cotovelo.

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128 © Cinesiologia

Como a tróclea se estende mais distalmente que o capítulo,


o eixo para flexão e extensão (lateral) não é totalmente vertical, ou
seja, não é perpendicular à diáfise do úmero. Por essa razão, quan-
do o cotovelo é estendido e o antebraço supinado, este se desvia
lateralmente em relação ao úmero, formando um ângulo entre o
braço e o antebraço chamado "ângulo de carregar". Esse ângulo
varia entre os indivíduos, sendo maior na mulher (em torno de
14º) do que no homem (em torno de 11º); em crianças, esse ângu-
lo alcança cerca de 6º, como mostram as Figuras 56 e O aumento
desse ângulo é conhecido como "cúbito valgo" e a diminuição, "cú-
bito varo", e pode estar relacionado aos traumas precoces, como
fraturas na infância.

Fonte: NETTER (2004, p. 419).


Figura 55 Articulação do cotovelo.
© U2 - Artrologia 129

Fonte: LEHMKUHL (1987, p. 185).


Figura 56 Ângulo de carregar.

A articulação é reforçada e estabilizada pela cápsula, comum


às três articulações, e por ligamentos, sendo os principais: o cola-
teral ulnar, que estabiliza, medialmente, a articulação, o colateral
radial, que estabiliza, lateralmente, a articulação, e o ligamento
anular da cabeça do rádio, que mantém esta articulada e fixada à
ulna. Observe as Figuras 58 e 59.

Figura 57 Ligamentos do cotovelo.

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130 © Cinesiologia

Figura 58 Cápsula e ligamentos do cotovelo – vista anterior.

Fonte: NETTER (2004, p.421).


Figura 59 Cápsula do cotovelo e cavidade articular do cotovelo – vista anterior e posterior.
© U2 - Artrologia 131

Na Figura 60, percebemos que três articulações mantêm


o rádio alinhado à ulna, permitindo movimentos de pronação e
supinação do antebraço. São eles: radioulnar proximal, média e
distal.
A radioulnar proximal, como já citado,
é mantida pelo ligamento anular; já na mé-
dia, o rádio e a ulna estão unidos por uma
membrana interóssea. É uma clássica sin-
desmose. Finalmente, a distal ocorre entre
a cabeça da ulna e a incisura do rádio na ex-
tremidade distal.
Os movimentos das articulações do
cotovelo são de flexão, extensão, pronação
e supinação, sendo que, as duas últimas,
ocorrem no antebraço, nas articulações ra-
dioulnar proximal, média e distal.
A flexão possui uma amplitude que
varia de 120º à 160º, dependendo da massa
muscular anterior, que pode limitar o mo-
vimento. Os fatores que limitam fisiologica-
mente o movimento de flexão são: o conta-
Fonte: NETTER (2000, p. 409). to dos tecidos moles anteriores, o contato
Figura 60 Articulações ósseo e a tensão da cápsula e dos músculos
radioulnar proximal (RP),
média (RM) e distal (RD). extensores, ilustrados nas Figuras 61 e
A extensão possui uma amplitude de 0º ou de 180º, poden-
do haver alguns graus de hiperextensão em casos de frouxidão li-
gamentar. Os fatores que limitam fisiologicamente o movimento
de extensão são o contato do olecrano com a fossa olecraneana e
a tensão da cápsula anterior e dos músculos flexores, mostrados
nas Figuras 62 e 67.

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132 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 95). Fonte: KAPANDJI (1990, p. 95).


Figura 61 Fatores limitantes da flexão do Figura 62 Fatores limitantes da extensão
cotovelo (1 – contato dos tecidos moles; do cotovelo (1 – contato do olecrano com
2 – contato ósseo da cabeça do rádio com fossa olecraneana; 2 – tensão da cápsula
úmero; 3 – tensão da cápsula; 4 – tensão anterior; 3 – tensão dos flexores).
dos extensores-tríceps braquial).

Quadro 6 Músculos flexores do cotovelo.


MÚSCULOS FLEXORES DO COTOVELO
A flexão do cotovelo é realizada por três músculos que tem sua ação
diferenciada dependendo da posição do antebraço; a amplitude mais eficaz
para força a dos músculos é em 90º. (Figura 62).
Inserção: superfície posterior do processo do olecrano da ulna e fáscia
antebraquial.
Músculo bíceps braquial: flexiona o cotovelo e supina o antebraço.
Origem da cabeça curta: ápice do processo coracoide da escápula.
Origem da cabeça longa: tubérculo supraglenoideo da escápula.
Inserção: tuberosidade do rádio e aponeurose do bíceps braquial.
Músculos braquial: flexiona o cotovelo e possui ação com mesma eficiência
independente da posição do antebraço.
Origem: face anterior da metade inferior do úmero, logo abaixo da tuberosidade
deltoidea.
Inserção: tuberosidade da ulna.
© U2 - Artrologia 133

MÚSCULOS FLEXORES DO COTOVELO


Músculo braquiorradial: flexiona o cotovelo com maior ação quando o
antebraço está neutro.
Origem: crista supra-epicondilar lateral do úmero.
Inserção: base do processo estiloide do rádio.
Músculo pronador redondo (sinergista): flexiona articulação do cotovelo e
prona o antebraço.
Origem: epicôndilo medial e processo coronóide da ulna.
Inserção: lateral no rádio no seu ponto médio.
Algumas diferenças ocorrem nas ações dos flexores do cotovelo: o braquial
tem eficácia tanto em posição supina quanto em posição prona do
antebraço; o braquiorradial é mais eficaz em posição neutra do antebraço e
o bíceps braquial tem pouca ação na flexão lenta em pronação. Ele age com
eficácia na flexão lenta em supinação e na contração rápida em pronação
(SMITH, WEISS, LEHMKUHL, 1987).
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Quadro 7 Músculos extensores do cotovelo.


MÚSCULOS EXTENSORES DO COTOVELO
Tríceps braquial: estender o cotovelo.
Origem da cabeça longa: tubérculo infraglenoideo da escápula.
Origem da cabeça curta: parte inferior do tubérculo maior na parte
posterior do úmero.
Origem da cabeça medial: superfície posterior do úmero, abaixo do sulco do
nervo radial.
Inserção: superfície posterior do processo do olecrano da ulna e fáscia
antebraquial.
Ancôneo: estender o cotovelo – sinergista.
Origem: epicôndilo lateral do úmero.
Inserção: face superior da parte posterior da ulna.
O tríceps é o extensor mais potente, com secção tranversal cinco vezes
maior e duas vezes a distância de encurtamento do ancôneo.
Fonte: Arquivo pessoal do autor.

Nas Figuras 63 a 66, bem como a 72, temos os músculos


motores da articulação do cotovelo:

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134 © Cinesiologia

BBC

BBL

Fonte: NETTER (2000, p.402)


Figura 63 Bíceps braquial cabeça curta (BBC), cabeça longa (BBL).

Fonte: NETTER (2000, p.402)


Figura 64 Músculo braquial (MB).
© U2 - Artrologia 135

PR

BR

Fonte: NETTER (2000, p.416)


Figura 65 Músculos do antebraço braquiorral (BR) pronador redondo (PR).

Fonte: NETTER (2000, p.403)


Figura 66 Extensores do cotovelo.

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136 © Cinesiologia

Como é possível ver na Figura 67, os músculos que realizam


a supinação do antebraço são o bíceps braquial e o supinador; os
que realizam a pronação são os pronadores redondo e quadrado,
sendo o pronador redondo mais forte do que o quadrado.
Na ação de supinação, o bíceps tem atuação mais eficaz em 90º
de flexão e, à medida que o cotovelo se estende, sua eficácia como su-
pinador diminui. Em 90º, a eficácia do bíceps é quatro vezes maior que a
do supinador e, quando o cotovelo é estendido, a eficácia do bíceps para
a supinação é a metade em relação ao supinador. A amplitude do movi-
mento de supinação é de cerca de 90º, e a de pronação é de 85º, como
podemos observar na Figura 68.

Fonte: NETTER (2000, p.410)


Figura 67 Músculos pronadores e supinador.
© U2 - Artrologia 137

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 109).


Figura 68 Movimentos de supinação e pronação do antebraço.

Quadro 8 Músculo supinador, músculo pronador redondo e mús-


culo pronador quadrado.
MÚSCULO SUPINADOR
Origem: epicôndilo lateral, ligamento colateral radial, ligamento anular e crista
supinadora da ulna.
Inserção: superfícies volar e lateral da parte proximal do rádio.
MÚSCULO PRONADOR REDONDO
Origem: epicôndilo medial e processo coronoide da ulna.
Inserção: lateral do rádio no seu ponto médio.
MÚSCULO PRONADOR QUADRADO
Origem: terço distal da ulna (volar).
Inserção: terço distal do rádio (volar).
Fonte: arquivo pessoal do autor.

A articulação do cotovelo é um local em que ocorrem muitas


lesões por esforço repetido (LER) ou doenças osteomusculares re-
lacionadas ao trabalho (DORT). Isto acontece devido ao fato de os
músculos que se inserem e se originam nessa região serem muito
utilizados em trabalhos e atividades desportivas, como a digitação,
o manusear de uma chave de fendas, jogar tênis ou vôlei, entre
outros que se dão, inclusive, pela origem de músculos que movi-
mentam o punho e os dedos da mão originados no cotovelo, os
quais veremos nas Figuras 69 a 73:

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138 © Cinesiologia

arco de movimento
do cotovelo
Figura 69 Arco de movimento do Figura 70 Ângulo mais eficaz para flexores é em
cotovelo – flexão e extensão. 90º.

Figura 71 Posturas e atividades repetidas por períodos


prolongados podem provocar LER ou DORT.
© U2 - Artrologia 139

TB

BB

bíceps braquial (BB) bíceps braquial (BB)


Fonte: COHEN (2003/2005, p. 74).
Figuras 72 e 73 Músculos do cotovelo – bíceps braquial (BB), bíceps braquial (BB).

Articulações do membro superior – punho


São compostas pela articulação das extremidades distais do rádio
e do disco articular, com três ossos laterais da fileira proximal do carpo,
sendo estes o escafoide, o semilunar e o piramidal, mostrados na Figura
74, em que apenas o escafoide e o semilunar se articulam com o rádio,
uma vez que a ulna está separada do carpo por um disco articular.

Fonte: NETTER (2004, p.422).


Figura 74 Articulação do punho.

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140 © Cinesiologia

O punho é uma articulação sinovial, biaxial, do tipo condilar


ou elipsoide, em que ocorrem os movimentos de flexão com ampli-
tude de 90º, extensão com amplitude de 45º, desvio radial com am-
plitude de 15º, desvio ulnar com amplitude de 45º e cincundução.

Fonte: MARTINI, TIMMONS, TALLITSCH (2009, p. 210).


Figura 75 Movimentos de flexão e extensão do punho.

Fonte: MARTINI, TIMMONS, TALLITSCH (2009, p. 210).


Figura 76 Movimentos de desvio radial e ulnar do punho.
© U2 - Artrologia 141

A articulação do punho é reforçada pela cápsula articular e


pelos ligamentos radiocarpal palmar, que limita a extensão, pelo
radiocarpal dorsal, que limita a flexão, pelo colateral ulnar do car-
po, que limita o desvio radial, pelo colateral radial do carpo, que
limita o desvio ulnar, e pelo ulnocarpal palmar, que limita a exten-
são, e o dorsal, que limita a flexão, como pode-se observar nas
Figuras 77 e

Fonte: NETTER (2000, p.425).


Figura 77 Ligamentos do punho – vista dorsal.

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142 © Cinesiologia

Fonte: NETTER (2000, p. 424).


Figura 78 Ligamentos do punho – vista palmar.

Quadro 9 Músculos flexores do punho e músculos extensores do punho.


MÚSCULOS FLEXORES DO PUNHO
Músculo flexor radial do carpo: flexão do punho e desvio radial.
Origem: epicôndilo medial do úmero.
Inserção: base do segundo metacarpo.
Músculo flexor ulnar do carpo: Flexão do punho e desvio ulnar.
Origem: epicôndilo medial do úmero e margem interna do olecrano.
Inserção: osso pisiforme e base do quinto metacarpo.
Músculo palmar longo: tensiona a fáscia palmar e auxilia a flexão do punho.
Origem: epicôndilo medial do úmero.
Inserção: fáscia palmar.
MÚSCULOS EXTENSORES DO PUNHO
Músculo extensor radial longo do carpo
Origem: crista supraepicondilar lateral do úmero.
Inserção: base do segundo metacarpo.
© U2 - Artrologia 143

MÚSCULOS EXTENSORES DO PUNHO


Músculo extensor radial curto do carpo:
Origem: epicôndilo lateral do úmero.
Inserção: base do terceiro metacarpo.
Músculo extensor ulnar do carpo:
Origem: epicôndilo lateral do úmero.
Inserção: base do quinto metacarpo.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Vamos destacar seis músculos motores do punho (do carpo)


que atuam na articulação, sendo três responsáveis pela flexão e
três responsáveis pela extensão, ilustradas nas Figuras 79 a 88.

Fonte: LIPPERT (19p. 301). Fonte: KAPANDJI (1990, p. 96).


Figura 79 Músculo flexor Figura 80 Músculo flexor radial do carpo realizando flexão
radial do carpo. com desvio radial contra resistência manual.

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144 © Cinesiologia

Fonte: LIPPERT (19p. 301).


Figura 81 Músculo flexor ulnar do carpo.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 97).


Figura 82 Músculo flexor ulnar do carpo realizando flexão com desvio
ulnar contra resistência manual.
© U2 - Artrologia 145

Palmar
curto

Palmar
longo

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 89).


Figura 83 Músculo palmar longo flexiona o punho e tensiona a fáscia palmar.

Longo
Curto

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 98).


Figura 84 Músculos extensor radial longo e curto do carpo.

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146 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 99).


Figura 85 Músculos extensor radial longo e curto do carpo realizam extensão com desvio
radial.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 99).


Figura 86 Músculos extensor ulnar do carpo.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 100).


Figura 87 Músculos extensor ulnar do carpo realiza extensão com desvio ulnar; ilustração
do movimento realizado contra resistência manual.
© U2 - Artrologia 147

Fonte: NETTER (2004, p.427).


Figura 88 Músculos extensores do punho.

Fonte: NETTER (2004, p.429).


Figura 89 Músculos flexores do punho.

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148 © Cinesiologia

Como nos mostraram as Figuras 75 e 76, os movimentos de


desvio radial e desvio ulnar são realizados pelos flexores e exten-
sores em conjunto, ou seja, os extensores radiais longo e curto
do carpo, somando suas respectivas ações com o flexor radial do
carpo, realizam o desvio radial, e o extensor ulnar do carpo, em
conjunto com o flexor ulnar do carpo, realizam o desvio ulnar.
Como fora citado anteriormente no estudo sobre o cotovelo,
vimos que essa articulação pode ser prejudicada por LER ou DORT.
É fácil entender, se observarmos que os músculos que movimen-
tam o punho têm sua origem no cotovelo. Dessa maneira, todos
os movimentos do punho podem provocar tensões excessivas e
patologias comuns nessas origens, como, por exemplo, a epicon-
diloalgia lateral do cotovelo (cotovelo do tenista) – uma afecção
no epicôndilo lateral na qual se originam todos os extensores do
punho.
Essa afecção pode acometer trabalhadores, estudantes ou
atletas que realizam repetição da extensão do punho ou preensão
palmar, como podemos observar nas Figuras 90 e 91A.

Figura 90 O epicôndilo lateral origem dos extensores é um local de alteração


© U2 - Artrologia 149

Figura 91 Esforço no trabalho ou esporte.

Articulações do membro superior – mão e dedos


Na Figura 92, podemos ver que a mão é constituída pelos ossos do
carpo e pelos metacarpos, e as falanges formam os dedos. A face ante-
rior da mão é denominada "face palmar" e a face posterior, denominada
"face dorsal"; a região próxima ao polegar é conhecida como "região tê-
nar" e a próxima ao dedo mínimo é conhecida como "região hipotênar".

Fonte: REIDER (20p. 106).


Figura 92 Face palmar da mão (A – prega IF distal; B – prega IF proximal; C – prega digito
palmar; D – prega palmar distal; E – prega palmar proximal; F – nível da MCF; G – eminência
tênar; H – eminência hipotênar).

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150 © Cinesiologia

Os ossos que compõem a mão são os do carpo, divididos


em fileiras e metacarpianos. A primeira fileira do carpo é formada
pelos ossos escafoide, semilunar e piramidal, e a segunda fileira
é formada pelo trapézio, trapezoide, capitato e hamato, ilustrada
nas Figuras 93 e 94.
Os ossos do carpo possuem pequenos movimentos de des-
lizamento entre si (articulações intercarpicas), caracterizando arti-
culações anaxiais planares; os elementos de estabilização dessas
articulações são os ligamentos intercarpais dorsais e palmares, os
intercarpais interósseos piso-hamato e pisometacarpal e o radiado
do carpo.
Os ossos metacarpianos são cinco, e, da mesma maneira que
os dedos, são contados a partir do lado radial, ou seja, o polegar é
o primeiro dedo e o mínimo é o quinto dedo.
As articulações carpometacarpianas (CM) são sinoviais,
estabilizadas pelos ligamentos carpometarcapais dorsais e pal-
mares, e possuem características distintas: a primeira articu-
lação carpometacarpiana é biaxial do tipo selar, permitindo
flexão-extensão e abdução-adução; as demais são planas e
monoaxiais, permitindo flexão e extensão. É essa característica
da primeira CM que possibilita a grande amplitude do polegar.
Os ossos metacarpianos articulam-se em meio a articulações
intermetacarpianas e são estabilizadas pelos ligamentos me-
tacarpianos, dorsais palmares e interósseos, como vimos nas
Figuras 77 e 78.
© U2 - Artrologia 151

Fonte: NETTER (2000, p.426).


Figura 93 Ossos da mão e dedos – vista anterior.

Fonte: NETTER (2000, p. 426).


Figura 94 Ossos da mão e dedos – vista posterior.

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152 © Cinesiologia

A amplitude de movimento das articulações CM aumenta da


região radial para a ulnar, favorecendo a formação da concavidade da
mão, o que beneficia a melhor conformação para segurar objetos.
Os ossos metacarpianos articulam-se com as falanges proximais
(articulações metacarpofalangeanas – MF); as articulações são sino-
viais, do tipo condilar e biaxial, permitindo flexão de 90º/extensão de
45º, abdução de 30º/adução de 30º, cincundução e rotação limitada.
Essas articulações são estabilizadas pela cápsula, pelos ligamentos
palmares, pelos colaterais externos (radial) e internos (ulnar).
São três as falanges que vão do segundo ao quinto dedos
(falange proximal, média e distal) e duas no primeiro dedo (falange
proximal e distal). A articulação entre as falanges é denominada
"articulação interfalangeana" (IF); são sinoviais, do tipo gínglimo
ou troclear, monoaxial, permitindo flexão e extensão, estabilizadas
pelos ligamentos colaterais externos e internos. A amplitude de
movimento das interfalangeanas é de 100º para as interfalangea-
nas proximais (IFP) e de 90º para as distais (IFD), a extensão é de
100º para as IFP e de 100º para as IFD, podendo haver hiperex-
tensão de 20º. Essa amplitude pode variar, sendo aumentada do
segundo para o quinto dedo.
Os músculos motores da mão são divididos em extrínsecos (ori-
gem fora da mão) e intrínsecos (origem e inserção na mão), e suas ações
estão demonstradas no Quadro 10 e nas Figuras 88 e 89, 95 a 101.

Quadro 10 Flexores extrínsecos, extensores extrínsecos, músculos


intrínsecos e músculos para o polegar.
FLEXORES EXTRÍNSECOS (Figura 89)
Flexor superficial dos dedos: flete as MF e IFP do II ao V dedos.
Flexor profundo dos dedos: flete as MF, IFP e IFD do II ao V dedos.
EXTENSORES EXTRÍNSECOS (Figura 88)
Extensor comum dos dedos: estende as MF do II ao V dedos.
Extensor próprio do indicador: estende o indicador.
Extensor do dedo mínimo: estende o mínimo.
© U2 - Artrologia 153

MÚSCULOS INTRÍNSECOS (Figura 101)


Interósseos dorsais: abduz as MF do II ao IV dedos.
Interósseos palmares: aduz as MF dos dedos.
Lumbricais: flexão da MF e extensão da IF do II ao V dedos.
Oponente do dedo mínimo: oponência do dedo mínimo.
MÚSCULOS PARA O POLEGAR
Flexor curto do polegar (intrínseco): flexiona as MF.
Flexor longo do polegar: flexiona as IF.
Extensor curto do polegar: estende a MF.
Extensor longo do polegar: estende a IF.
Abdutor Longo do polegar: abduz e estende a CM.
Abdutor curto do polegar (intrínseco): abduz articulação CM e MF do polegar.
Adutor do polegar (intrínseco): aduz o polegar.
Oponente do polegar (intrínseco): flexiona e aduz CM do polegar.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Fonte: DRAKE, VOGL, MITCHELL (2005, p. 613).


Figura 95 Movimentos da mão abdução, adução e extensão/flexão MF.

A ação conjunta dos músculos do punho e da mão permite


ações como, por exemplo, segurar firmemente um objeto. Quando
seguramos um objeto (flexão dos dedos), os músculos extensores
do punho estabilizam a articulação para favorecer a força de pre-
ensão. A força de preensão também é obtida pela ação dos intrín-

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154 © Cinesiologia

secos, que estabilizam os ossos metacarpianos e a articulação MF.


Essa força também é útil em ações comuns, como segurar uma
caneta ou um jornal, como nos mostra a Figura
Os músculos extensores e flexores dos dedos comumente
são acometidos devido às LER e às DORT, que ocorrem, principal-
mente, em digitadores.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 91).


Figura 96 Ação do extensor comum dos dedos, extensor do
indicador e do dedo mínimo contra uma resistência manual.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 78).


Figura 97 Ação dos extensores do polegar.
© U2 - Artrologia 155

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 93).


Figura 98 Ação do flexor superficial dos dedos contra uma
resistência manual.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 95).


Figura 99 Ação do flexor profundo dos dedos contra uma
resistência manual.

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 86-87).


Figuras 100 Ação conjunta dos intrínsecos.

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156 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 86-87).


Figuras 101 Ação conjunta dos intrínsecos.

7. ARTICULAÇÕES DO MEMBRO INFERIOR

Quadril
Rasch (1991) menciona que a articulação do quadril, tam-
bém denominada "articulação coxofemoral", é sinovial esferoide e
que, diferente da articulação glenoumeral, possui estabilidade de-
vido à sua estrutura arquitetônica. É formada pelo encaixe da ca-
beça do fêmur na fossa do acetábulo do osso quadril. O acetábulo
é formado pela união dos três ossos da pelve – o ilíaco, o ísquio e o
púbis – os quais constituem, cada um deles, cerca de um terço do
acetábulo. A fossa do acetábulo é posicionada de tal modo que se
direciona, lateralmente, para baixo e para frente, quando recebe a
cabeça do fêmur, como podemos observar na Figura 1
Vale lembrar que os ossos da pelve não estão completamen-
te ossificados até meados da segunda década de vida.
© U2 - Artrologia 157

Figura 102 Articulação do quadril.

Como elementos de reforço e de estabilização da articula-


ção do quadril, encontramos a cápsula articular e os ligamentos da
articulação do quadril. A cápsula articular está inserida acima da
margem do acetábulo, antes da linha intertrocantérica e depois da
crista intertrocantérica. Na parte da frente, em que é necessário
maior resistência, a cápsula é bem mais espessa que na parte de
trás, como nos mostram as Figuras 103 e 104 (MIRANDA, 2000).
Os ligamentos que reforçam as faces lateral e anterior da
cápsula são:
• Iliofemoral: freia a extensão do quadril e limita a rotação
do fêmur em torno do seu eixo longitudinal, o que im-
pede que o tronco gire para trás durante a manutenção
da posição bípede, reduzindo a necessidade de contração
muscular para manter a postura.
• Pubofemoral: restringe a abdução do quadril, bem como
a extensão e a rotação lateral.
• Isquiofemoral: limita a rotação medial do quadril.

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158 © Cinesiologia

Há, ainda, o ligamento da cabeça do fêmur ou ligamento re-


dondo, como vimos na Figura 102, que estabiliza a cabeça do fê-
mur no interior da fossa do acetábulo.

Lig. pubofemoral
M. reto da coxa, Tendão Canal obturatório

Parte descendente
Lig. iliofemoral
Parte transversal
Membrana obturatória
Trocante maior

Trocante menor

Fonte: Sobotta (1995, p. 279).


Figuras 103 Cápsula articular e ligamentos da articulação do quadril em vista anterior.

Lig. sacroespinhal

Cabeça reflexa M. reto da


Cabeça reta coxa, Tendão

Lig. iliofemoral

Lig. sacrotuberal
Colo do fêmur
Lig. isquio-
femoral Trocante maior

Trocante menor

Tuberosidade glútea

Fonte: Sobotta (1995, p. 279).


Figuras 104 Cápsula articular e ligamentos da articulação do quadril em vista posterior.
© U2 - Artrologia 159

Movimentos da articulação do quadril


Contrariando a estabilidade que é inerente à articulação do
quadril, esta articulação demonstra alto grau de mobilidade. A ar-
ticulação do quadril é triaxial, ou seja, permite três graus de liber-
dade de movimento: flexão e extensão no plano sagital, adução e
abdução no plano frontal e rotações interna ou medial, externa ou
lateral, no plano transversal (RASCH, 1991).
Em uma primeira análise, iremos considerar os movimentos
em que o ilíaco se mantém fixo e o fêmur se desloca em direção
ao ilíaco. O movimento que aproxima as faces anteriores da coxa
e do tronco se chama "flexão". Em função da tensão dos múscu-
los isquiotibiais, quanto mais fletido estiver o joelho, maior será
a amplitude de flexão, e quanto mais estendido estiver o joelho,
mais limitada será a amplitude de flexão, como veremos nas Fi-
guras 105 e 1A flexão passiva é um pouco mais ampla do que a
flexão ativa, uma vez que os músculos flexores relaxam. A flexão
do quadril ocasiona, frequentemente, uma retroversão da pelve.

Fonte: KAPANDJI (2000, p. 15).


Figuras 105 e 106 Movimento de flexão do quadril.

Em contrapartida, segundo Calais-Germain (1992), o movi-


mento que aproxima as faces posteriores da coxa e do tronco se

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160 © Cinesiologia

chama "extensão". Em geral, a extensão é muito limitada; muitas


vezes é confundida e/ou aumentada por uma lordose lombar. Em
função da ação do músculo retofemoral, a amplitude da extensão
será maior quanto mais estendido estiver o joelho e mais limitada
quanto mais fletido estiver o joelho, ilustrado na Figura 107.

Fonte: KAPANDJI (2000, p.17).


Figura 107 Movimento de extensão do quadril.

O movimento no qual a coxa se desloca medialmente se chama


"adução", observado na Figura 1Para ocorrer a adução, é necessário
o deslocamento prévio do outro membro inferior, o que tornará sua
realização possível em um plano puramente frontal. O movimento
que aproxima as faces laterais da coxa e do tronco se chama "abdu-
ção". A abdução que mantém o fêmur em posição neutra é limitada,
uma vez que a parte superior do colo se encontra com o teto do
acetábulo. Na Figura 109, podemos observar que, com uma rotação
externa do fêmur, a abdução pode ser mais ampla.
© U2 - Artrologia 161

Fonte: KAPANDJI (2000, p.21).


Figura 108 Movimento de adução do quadril.

Fonte: KAPANDJI (2000, p.19).


Figura 109 Movimento de abdução do quadril.

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Na articulação do quadril, é possível observar movimentos


de rotação que fazem o fêmur girar sobre o seu eixo. Nas Figu-
ras 110 e 111, vemos que a rotação interna ou medial do pé se
orienta medialmente; já nas Figuras 112 e 113, percebemos que,
na rotação externa ou lateral, o pé se orienta lateralmente. A
rotação externa que mantém o quadril fletido é mais ampla, pois
o ligamento iliofemoral se encontra relaxado (CALAIS-GERMAIN,
1992).

Fonte: KAPANDJI (2000, p.23).


Figuras 110 e 111 Movimento de rotação interna do quadril.
© U2 - Artrologia 163

Fonte: KAPANDJI (2000, p.23).


Figura 112 E 113 Movimento de rotação externa do quadril.

Rasch (1991) menciona que a posição do fêmur, por meio do


colo femoral, a certa distância da pelve, ajuda a prevenir as limita-
ções de movimento do quadril que poderiam resultar em um cho-
que mecânico. O ângulo colo-femoral-corpo permite que o corpo
do fêmur se posicione mais lateralmente em relação à pelve. No
plano frontal, o ângulo colo-corpo-femoral normal é de, aproxima-
damente, 125º, como veremos na Figura 1A deformidade em que
o ângulo é maior (coxa vara) e a deformidade em que o ângulo
é menor (coxa valga) causam alterações na transmissão de forças
para o fêmur e para os outros ossos a partir dele, observado na
Figura 115.

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164 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (2000).


Figura 114 Plano frontal – ângulo colo-corpo-femoral normal de 125o.

Figura 115 Coxa vara e coxa valga.


© U2 - Artrologia 165

Na próxima análise, iremos considerar o fêmur como o pon-


to fixo em que se desloca o ilíaco. Nesse caso, observam-se os se-
guintes deslocamentos da espinha ilíaca ântero-superior:
1) Para frente ou anteversão: prolonga-se na coluna lom-
bar por uma tendência à lordose.
2) Para trás ou retroversão: prolonga-se na região lombar
por uma tendência à retificação da lordose.
3) Lateralmente ou inclinação lateral externa.
4) Medialmente ou inclinação lateral interna.
O ângulo de anteversão é o ângulo no qual o colo se projeta
do fêmur na direção ântero- -posterior. Embora ocorra variações
entre os indivíduos, o valor normal é de cerca de 12o a 14o (RASCH,
1991). Valores acima destes evidenciam uma condição conhecida
como "hiperlordose".

Figura 116 Hiperlordose lombar.

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Rasch (1991) ainda cita que a articulação do quadril apresenta


sua maior amplitude de movimento no plano sagital, no qual se ob-
serva que a flexão pode chegar a 140o e, a extensão, a 15o. A abdução
pode atingir 30o e, a adução, um pouco menos, 25o. Com o quadril
estendido, os efeitos dos ligamentos estão ativos e as amplitudes de
rotação medial e lateral atingem 70o e 90o, respectivamente.

Músculos da articulação do quadril


Vinte e dois músculos atuam sobre a articulação do quadril. A
seguir, será apresentada, no Quadro 11, a classificação baseada nas
ações desempenhadas pelos músculos da articulação do quadril.
Segundo Rasch (1991), Calais-Germain (1992) e Miranda (2000),
os músculos do grupo flexor incluem o psoas e o ilíaco, ambos mostra-
dos na Figura 117, os agonistas primários e o reto da coxa, estes na Fi-
gura 1O psoas exerce os importantes papeis de flexor e de estabilizador
da articulação do quadril. O músculo ilíaco desempenha papel predo-
minante na flexão do quadril. O reto da coxa, membro do grupo quadrí-
ceps da coxa, é o único músculo do grupo que atua sobre o quadril como
importante flexor, auxiliando na rotação lateral e na abdução.

Quadro 11 Músculos flexores do quadril.


MÚSCULOS FLEXORES DO QUADRIL
Reto femoral: flexão do quadril, anteroversão da pelve (cadeia cinética fechada) e
extensão do joelho.
Origem: a partir da espinha ilíaca ântero-inferior e no sulco acima do rebordo do
acetábulo.
Inserção: na borda proximal da patela e por meio do ligamento patelar na
tuberosidade anterior da tíbia.
Ilíaco: flexão do quadril, rotação lateral do quadril, adução do quadril, anteroversão
da pelve aumentando a lordose lombar.
Origem: localizado na fossa ilíaca e nas espinhas ilíacas anteriores.
Inserção: trocânter menor do fêmur.
Psoas: flexão do quadril.
Origem: localizado na parede posterior da cavidade abdominal, no nível dos corpos
vertebrais, dos discos intervertebrais e dos processos transversos de T12 a L5.
Fonte: arquivo pessoal do autor.
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Figura 117 Músculos flexores do quadril – psoas e ilíaco.

Figura 118 Músculo reto femoral.

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Observe, no Quadro 12, que o grupo extensor do quadril


inclui os músculos do jarrete: o semimembranáceo, o semitendí-
neo e a cabeça longa do bíceps da coxa – que é ativa na extensão
habitual do quadril, enquanto que o semimembranáceo e semi-
tendíneo são ativos na extensão contra resistência. O músculo
glúteo máximo também é um potente extensor além de ser ro-
tador lateral e, dependendo da face do músculo em considera-
ção, age como abdutor do quadril fletido ou adutor contra uma
resistência de abdução (RASCH, 1991; CALAIS-GERMAIN, 1992;
MIRANDA, 2000).

Quadro 12 Músculos extensores do quadril.


MÚSCULOS EXTENSORES DO QUADRIL
Semimembranáceo: extensão do quadril; auxilia na rotação medial do
quadril e é retroversor da pelve quando o membro inferior está fixo.
Origem: tuberosidade isquiática.
Inserção: parte posterior do côndilo medial da tíbia.
Semitendíneo: realiza extensão do quadril e auxilia na rotação medial e na
adução. Com os membros inferiores fixos, promove a retroversão da pelve.
Origem: tuberosidade isquiática.
Inserção: superfície medial da parte superior da tíbia; o mais posterior da
pata de ganso.
Bíceps femoral: a cabeça longa atua na articulação do quadril fazendo
a extensão e a rotação lateral; com o membro inferior fixo, promove a
retroversão da pelve (cadeia fechada).
Origem: cabeça longa – tuberosidade isquiática; cabeça curta – linha áspera
do fêmur.
Inserção: as duas porções fundem-se distalmente e vão até a face lateral da
cabeça da fíbula.
Glúteo máximo: extensor e rotador lateral do quadril; feixes superiores são
abdutores e feixes inferiores são adutores; realiza retroversão da pelve.
Origem: linha glútea posterior, parte posterior da crista ilíaca e face
posterior do sacro e do cóccix.
Inserção: tuberosidade glútea no fêmur e tracto iliotibial.
Fonte: arquivo pessoal do autor.
© U2 - Artrologia 169

Figura 119 Vista posterior do membro inferior. Músculos extensores do quadril.

No Quadro 13, veremos que o grupo adutor do quadril é


formado pelo grácil, pelo pectíneo e pelos adutores longo, cur-
to e magno, vistos nas Figuras 118 e 1Situados na face medial
da coxa, os adutores formam a maior parte da massa muscular
dessa região, sendo os responsáveis pela rotação medial, pela
flexão do quadril e pela adução. A abertura excessiva dos mem-
bros inferiores pode causar a laceração do adutor longo próximo
à sua fixação tendínea no púbis (RASCH, 1991; CALAIS-GERMAIN,
1992; MIRANDA, 2000).

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170 © Cinesiologia

Quadro 13 Músculos adutores do quadril.


MÚSCULOS ADUTORES DO QUADRIL
Pectíneo: flexão e adução da coxa; auxilia na rotação lateral e na
anteroversão da pelve em cadeia cinética fechada.
Origem: linha pectínea do púbis.
Inserção: linha pectínea do fêmur.
Adutor curto: atua na adução do quadril; auxilia na flexão e na rotação
lateral do quadril. Participa, na anteroversão da pelve, em cadeia cinética
fechada.
Origem: corpo e ramo inferior do púbis.
Inserção: linha pectínea do púbis e proximal da linha áspera do fêmur.
Adutor longo: atua na adução do quadril; auxilia na flexão e na rotação
lateral do quadril. Participa, na anteroversão da pelve, em cadeia cinética
fechada.
Origem: corpo do púbis.
Inserção: linha áspera do fêmur, na parte média.
Adutor magno: potente adutor do quadril; realiza a extensão do quadril e a
anteroversão da pelve em cadeia cinética fechada.
Origem: ramo inferior do púbis e tuberosidade isquiática.
Inserção: inicia na linha áspera e vai até o côndilo medial do fêmur, no tubérculo
adutor.
Grácil: realiza a adução do quadril e auxilia na flexão e na rotação medial do
joelho.
Origem: corpo e ramo inferior do púbis.
Insersão: parte superior da face medial da tíbia; encontra-se em um ponto
médio da pata de ganso.
Fonte: arquivo pessoal do autor.
© U2 - Artrologia 171

Figura 120 Músculos adutores do quadril.

Rasch (1991), Calais-Germain (1992) e Miranda (2000)


mencionam, ainda, que os músculos abdutores atuam, predomi-
nantemente, em outras ações articulares, uma vez que poucas
ações exigem uma abdução vigorosa do quadril. O músculo glú-
teo médio é o principal agonista da abdução, e exerce um papel
importante na estabilização da pelve durante a marcha. Outros
músculos que auxiliam na abdução do quadril quando o movi-
mento encontra resistência ou quando o quadril está numa de-
terminada posição incluem o glúteo mínimo, o glúteo máximo,
o reto da coxa, o sartório e o tensor da fáscia lata, cujos papeis
dependem da rotação do quadril. Observe o Quadro

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172 © Cinesiologia

Quadro 14 Músculos abdutores do quadril.


MÚSCULOS ABDUTORES DO QUADRIL
Glúteo médio: abdutor do quadril; auxilia na rotação medial (feixes anteriores)
e na rotação lateral (feixes posteriores); inclina a pelve para o lado oposto e
equilibra-a no plano frontal; auxilia na flexão do quadril (fibras anteriores)
e na extensão do quadril (fibras posteriores); participa na anteroversão da
pelve (fibras anteriores) e na retroversão da pelve (fibras posteriores) atuando
bilateralmente, tomando como ponto fixo o fêmur e o glúteo médio.
Origem: face externa do ílio, entre as linhas glúteas anteriores e posteriores.
Inserção: trocânter maior do fêmur.
Glúteo mínimo: abdutor e rotador medial do quadril; auxilia na flexão
da coxa e na inclinação da pelve para o lado oposto; as fibras posteriores
auxiliam na rotação lateral e na extensão da coxa.
Origem: face externa do ílio, entre as linhas glúteas anteriores e posteriores.
Inserção: face anterior do trocânter.
Sartório: é um músculo biarticular que atua como flexor, abdutor e rotador
lateral do quadril; Realiza a anteroversão da pelve e auxilia na flexão e na
rotação medial do joelho.
Origem: espinha ilíaca ântero-superior.
Inserção: parte alta da face medial da tíbia; o mais anterior da “pata de
ganso” – termo que ainda explicaremos nesta unidade.
Tensor da fáscia lata: realiza flexão, abdução e rotação medial do quadril;
ajuda a manter o joelho estendido; estabiliza o tronco sobre a coxa; equilibra
a pelve no plano frontal.
Origem: espinha ilíaca ântero-superior.
Inserção: trato iliotibial que se fixa ao côndilo lateral da tíbia.
Fonte: arquivo pessoal do autor.
© U2 - Artrologia 173

Figura 121 Vista posterior do membro inferior com destaque para os músculos
abdutores do quadril, glúteos médio e mínimo.

Figura 122 Vista anterior do membro inferior com destaque para os músculos
abdutores do quadril, sartório e tensor da fáscia lata.

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174 © Cinesiologia

Muitos dos músculos anteriormente apresentados contri-


buem para a rotação interna (medial) ou externa (lateral) do fêmur
em torno de seu eixo longitudinal. Como vimos nas Figuras 120,
121 e 122, os glúteos médio e mínimo, o tensor da fáscia lata, o
grácil e os adutores longo e magno podem participar da rotação
medial do fêmur; já os músculos que participam da rotação lateral
são parte do glúteo máximo, do reto femoral e de um grupo de
seis músculos agrupados como rotadores laterais: piriforme, ob-
turador interno, obturador externo, quadríceps femoral e gêmeos
superior e inferior, mostrados nas Figuras 119 e 1Esses músculos
realizam, basicamente, a rotação lateral, porém, o piriforme, o ob-
turador interno e os gêmeos podem contribuir na abdução do qua-
dril quando este está fletido (RASCH, 1991).

Joelho
O joelho engloba três articulações, sendo duas femorotibiais
e uma femoropatelar.
Os côndilos femorais medial e lateral fazem contato por meio
dos meniscos interpostos à face articular superior da tíbia, consti-
tuindo, portanto, uma articulação sinovial e bicondilar enquanto
que a articulação femoropatelar ocorre entre a face articular da
patela e a tróclea femoral, sendo sinovial plana.
O joelho é estabilizado pela cápsula articular fibrosa e pelos
ligamentos patelar, colateral tibial (LCM), colateral fibular (LCL), cru-
zado anterior (LCA), cruzado posterior (LCP), transverso do joelho,
menisco femoral anterior e menisco femoral posterior, poplíteo obli-
quo e poplíteo arqueado. Observe os ligamentos na Figura 123.
Os meniscos são estruturas fibrocartilaginosas que repou-
sam sobre as superfícies articulares da tíbia. Cada joelho possui
dois meniscos, sendo um medial e o outro lateral, cujas finalidades
são: aumentar a estabilidade do joelho, favorecer o deslizamento
articular e diminuir o impacto e o cisalhamento articular. Os me-
© U2 - Artrologia 175

niscos possuem mobilidade, podendo se movimentar no sentido


ântero-posterior. O menisco lateral tem a maior mobilidade, pois
se desloca de 9 a 12 mm. O medial tem a menor mobilidade, pois
se desloca cerca de 2 a 6 mm, sendo o mais lesado quando ocor-
rem entorses – mesmo porque tem sua fixação na camada profun-
da da cápsula medial do joelho.
Durante a marcha, os meniscos suportam o peso corporal
cerca de duas a quatro vezes, e durante a flexão do joelho em ca-
deia fechada, a carga se desloca posteriormente, pressionando a
região (corno) posterior dos meniscos.
Durante a extensão e a flexão dos joelhos, os meniscos são
tracionados anteriormente (na extensão) e posteriormente (na fle-
xão), pois há ligações com os grupos musculares responsáveis por
essa movimentação, fato importante para o reforço muscular após
uma lesão.

Fonte: NETTER (2004, p. 491).


Figura 123 Vista anterior do joelho e principais estruturas estabilizadoras.

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176 © Cinesiologia

Fonte: NETTER (2004, p. 491).


Figura 124 Vista posterior do joelho e principais estruturas estabilizadoras.

Fonte: NETTER (2004, p. 490).


Figura 125 Vista superior do joelho demonstrando meniscos e ligamentos.
© U2 - Artrologia 177

Os ligamentos possuem um importante papel na estabiliza-


ção dessa articulação, sendo os principais estabilizados: o ligamen-
to cruzado anterior, que limita o deslizamento anterior da tíbia, o
ligamento cruzado posterior, que limita o deslizamento posterior
da tíbia, o ligamento colateral medial ou tibial, que limita a aber-
tura medial do joelho (valgo), e o ligamento colateral lateral ou
fibular, que limita a abertura lateral do joelho (varo).
Essas são as principais ações desses ligamentos que atuam
em conjunto para manter a estabilidade do joelho que, por sua vez,
também depende da integridade dos meniscos. A lesão de alguma
dessas estruturas pode sobrecarregar os outros estabilizadores.
Lesões nos ligamentos e nos meniscos são comuns em ativi-
dades desportivas e estão relacionadas ao movimento que ocorre
no momento da lesão, ou seja, um esforço em valgo pode lesar o
LCM e, um esforço em varo, o LCA, assim como as forças de hipe-
rextensão podem causar danos ao LCA e ao LCP.
No joelho, temos os movimentos de flexão e de extensão no
plano mediano em torno do eixo lateral, e estes são acompanha-
dos de rotações, ou seja, na extensão, temos uma rotação lateral
da tíbia, e, na flexão, uma rotação medial desta; esses movimen-
tos ocorrem no plano horizontal em torno do eixo longitudinal,
porém, com o joelho fletido, as rotações podem ser obtidas livre-
mente, conforme ilustra as Figuras 126, 127 e 1
A amplitude de flexão do joelho varia de 120º a 140º e tem
influência da posição do quadril, ou seja, com o quadril flexionado,
a amplitude aumenta pelo relaxamento do músculo reto femoral,
que é biarticular. Já a extensão tem amplitude de 0º ou 180º e
também é influenciada pela posição do quadril que, quando fleti-
do, interfere na flexão do joelho pelo aumento da tensão dos mús-
culos isquiotibiais, que são biarticulares. As rotações têm amplitu-
de de 45º a 50º para a externa e de 30 a 35º para a interna, como
podemos ver nas Figuras 127 e 1

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178 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 77).


Figura 126 Eixos de movimentos do joelho.
© U2 - Artrologia 179

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 81).


Figura 127 Movimentos de rotação medial e lateral associados à extensão podem ser
realizados livremente com o joelho fletido.

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180 © Cinesiologia

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 81).


Figura 128 Amplitude de flexão e extensão do joelho influenciada pela posição
do quadril.

A patela tem um importante papel, pois, além de proteger a arti-


culação anterior, aumenta o torque gerado pelo quadríceps e, por isso,
possui movimentação distinta durante a flexão e a extensão do joelho.
No movimento de flexão, a patela desce, posterioriza e medializa, e no
movimento de extensão, a patela sobe, anterioriza e lateraliza.
Esses movimentos geram, em alguns casos, alterações como a
hiperpressão patelar, que, em algumas pessoas, piora com a flexão,
originando uma síndrome conhecida como "femoropatelar"; também
© U2 - Artrologia 181

pode ocorrer uma instabilidade lateral na qual, em alguns indivíduos,


a patela tende a se lateralizar mais do que o normal, podendo sublu-
xar ou luxar. Essas duas alterações são muito comuns em adolescen-
tes. Para sua melhor compreensão, observe as Figuras 129, 130 e 1

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 113).


Figura 129 Movimentos patelares – posteriorização (a e b), anteriorização (c) e lateralização (d).

Fonte: KAPANDJI (1990, p. 111).


Figura 130 Movimentos patelares de superiorização na extensão e inferiorização na flexão.

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182 © Cinesiologia

Fonte: HAMIL, KNUTZEN (1999, p. 232).


Figura 131 Desvio angular do joelho – geno varo e geno valgo.

Os músculos motores do joelho podem ser divididos em:


grupo muscular anterior da coxa (extensores) e grupo muscular
posterior da coxa (flexores), além dos músculos da perna, que são
biarticulares. Para melhor entendimento, observe o Quadro 15 e
as Figuras 132 a 135.

Quadro 15 Músculos extensores do joelho – quadríceps.


MÚSCULOS EXTENSORES DO JOELHO – QUADRÍCEPS
Reto femoral
Origem: a partir da espinha ilíaca ântero-inferior e no sulco acima do
rebordo do acetábulo.
Inserção: na borda proximal da patela e através do ligamento patelar na
tuberosidade anterior da tíbia (TAT).
Vasto intermédio
Origem: nas superfícies anterior e lateral dos dois terços proximais do corpo do
fêmur. Inserção: na borda proximal da patela e através do ligamento patelar na TAT.
Vasto lateral
Origem: parte proximal da linha intertrocantérica, bordas anterior e inferior
do trocânter maior, lábio lateral da tuberosidade glútea.
© U2 - Artrologia 183

MÚSCULOS EXTENSORES DO JOELHO – QUADRÍCEPS


Inserção: patela e TAT.
Vasto medial
Origem: na metade distal da linha intertrocantérica, lábio medial da linha áspera
do fêmur, parte proximal da linha supracondiliar medial, junto ao tendão do
adutor magno.
Inserção: na borda proximal da patela, através do ligamento patelar na TAT.
Em cadeia fechada, o quadríceps é o desacelerador do joelho, controlando
as articulações em ações como descer escadas ou aterrissar após salto.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Tendão co
do reto fe rtado
moral
Reto fem
oral

Vasto
lateral

Vasto med
ia l

Vasto
intermédio

Tendão co
do reto fe rtado
moral

Fonte: KENDALL (1987, p. 178).


Figura 132 Quadríceps da coxa.

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184 © Cinesiologia

Fonte: KENDALL (1987)


Figura 133 Extensão do joelho contra resistência manual.

Fonte: NETTER (2000, p. 458).


Figura 134 Músculos da coxa vista anterior – camada superficial.
© U2 - Artrologia 185

Fonte: NETTER (2000, p. 459).


Figura 135 Músculos da coxa vista anterior – camada profunda.

O músculo tensor da fáscia lata, que tem origem na parte an-


terior do lábio externo da crista ilíaca e inserção no trato ílio tibial,
possui ação no joelho pela inserção do trato ílio tibial no tubérculo
lateral da tíbia (Tubérculo de Gerdy).
Como podemos observar na Figura 136, a ação do tensor da
fáscia lata sobre o joelho é mista, ou seja, a partir de 30º, partindo
da flexão para a extensão, esse tensor auxilia a extensão, e a partir
de 30º, partindo da extensão para a flexão, auxilia a flexão. Além
disso, o tensor possui fixação na face lateral da patela e, em caso
de instabilidade lateral da patela, ele deve ser alongado, como está
descrito no Quadro 16 e ilustrado nas Figuras 137, 138 e 139.

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186 © Cinesiologia

Fonte: NETTER (2000, p. 460).


Figura 136 Músculo tensor da fáscia lata tem função mista no joelho.

Quadro 16 Músculos flexores do joelho – ísquios tibiais.


MÚSCULOS FLEXORES DO JOELHO – ÍSQUIOs TIBIAIS (Figuras 137, 138 e 139)
Semitendinoso: flexiona e roda, medialmente, a tíbia.
Origem: tuberosidade isquiática.
Inserção: na superfície medial da tíbia.
Semimembranoso: flexiona e roda, medialmente, a tíbia.
Origem: na tuberosidade isquiática.
Inserção: na face póstero-lateral do côndilo medial da tíbia.
Bíceps femoral: flexiona e roda, lateralmente, a tíbia.
Origem da cabeça longa: na parte distal do ligamento sacrotuberoso e na parte
posterior da tuberosidade isquiática.
Origem da cabeça curta: lábio lateral da linha áspera e 2/3 proximais da linha
supracondilar.
Inserção: na cabeça da fíbula e no côndilo lateral de tíbia.
© U2 - Artrologia 187

MÚSCULOS FLEXORES DO JOELHO – ÍSQUIOs TIBIAIS (Figuras 137, 138 e 139)


Músculo poplíteo: flexiona e roda medialmente quando o joelho está flexionado.
Origem: parte anterior do sulco condilar lateral.
Inserção: área triangular solear posterior da tíbia.
Músculo gastrocnêmio: flexiona o joelho em cadeia aberta.
Origem: côndilo medial e lateral do fêmur.
Inserção: calcâneo posterior.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Túber
isquiático

Músculo
semimembranáceo
Músculo
semitendíneo
Músculo bíceps
da coxa

Cabeça da fíbula

Côdilo medial

Pélvis e fêmur vistos de trás

Fonte: WIRHED (1986, p. 51).


Figura 137 Músculos flexores do joelho.

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188 © Cinesiologia

Vista lateral

Vista posterior

Fonte: KENDALL (1987, p. 177).


Figura 138 Músculo poplíteo é um rotador medial da tíbia em flexão.

Fonte: NETTER (2000, p. 461).


Figura 139 Músculos flexores do joelho.
© U2 - Artrologia 189

Atuando em cadeia fechada, os músculos flexores do joelho


auxiliam em sua extensão, ou seja, após a flexão, esse grupo mus-
cular atua em conjunto com o quadríceps realizando a extensão da
tíbia (ísquios tibiais) e do fêmur (gastrocnêmio), como nos mostra
a Figura 140.

Fonte: DUFOUR et al. (1989, p. 136).


Figura 140 Ação dos ísquios tibiais e gastrocnêmio em cadeia fechada.

Tornozelo e pé
Adaptado à posição bípede, o pé humano desempenha fun-
ções importantes, como receber o peso do corpo e permitir o de-
senvolvimento progressivo dinâmico do passo durante a marcha.
No entanto, por ser uma estrutura tridimensional variável, o pé se
encontra deformado, uma vez que está sujeito às solicitações mecâ-

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190 © Cinesiologia

nicas do peso do corpo e às do calçado, que, frequentemente, estão


longe de ser as ideais (CALAIS-GERMAIN, 1992; MIRANDA, 2000).
O pé contém cerca de 15% de todos os ossos do corpo hu-
mano, com 33 articulações sinoviais, mais de 100 ligamentos e 30
músculos agindo sobre o segmento. É composto, também, por 26
ossos, agrupados aos sete ossos do metatarso (cuneiformes medial,
intermédio e lateral; tálus, calcâneo, navicular e cuboide), aos cinco
ossos do tarso e às 14 falanges, conforme nos mostra a Figura 1Visto
de cima, apresenta três regiões (CALAIS-GERMAIN, 1992):
• Anteriormente: ossos delgados alinhados formando raios
horizontalmente justapostos e numerados a partir do
lado medial de um a cinco. Cada raio consta de um me-
tatarso prolongado por falanges, região essa conhecida
como "antepé".
• Posteriormente: dois ossos volumosos superpostos, sen-
do eles o tálus e o calcâneo, que constituem o retropé ou
tarso posterior.
• Entre essas duas regiões: encontra-se em uma zona inter-
mediária formada por cinco ossos pequenos (cuneiformes
medial, intermédio e lateral; navicular e cuboide), os quais
formam o mediopé ou tarso anterior. Essa é uma zona de
junção e de torção entre as duas precedentes que permite
a adaptação ao solo, também chamada mediopé.
Os ossos do pé articulam-se para formar três arcos estruturais
que, em conjunto com um sistema complexo de ligamentos e num
menor grau de músculos, fornecem sustentação interna. Esses arcos
(medial, lateral e transverso) contribuem para a força, a estabilida-
de, a mobilidade e a elasticidade do pé. Durante a sustentação do
peso e outros tipos de carga, os arcos têm a função de absorção do
impacto, dissipando energia e impedindo que ela seja transferida do
tornozelo para a perna. Nota-se, na Figura 142, que as articulações
© U2 - Artrologia 191

do pé incluem a articulação do tornozelo (talocrural), as articulações


intertarsais, as tarsometatarsais, as metatarsofalângicas e as inter-
falângicas do pé (RASCH, 1991; MIRANDA, 2000).

Fonte: SOBOTTA (1995, p. 295).


Figura 141 Esqueleto do pé – ossos do tarso, metatarso e falanges.

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192 © Cinesiologia

Figura 142 Articulações do pé e tornozelo.

Articulação talocrural
Essa articulação compreende as extremidades inferiores da
tíbia e da fíbula com a porção superior do tálus. A articulação do
tornozelo é formada por três faces articuladas ao tálus, sendo elas:
a face superior, que se articula com a face inferior da tíbia; a face
lateral, que se articula com a face articular do maléolo fibular; e a
face medial, que se articula com a face articular do maléolo tibial.
A articulação talocrural é do tipo gínglimo, estabilizada pela
cápsula articular e pelos ligamentos colateral medial (deltoide) e
colateral lateral. Realiza os movimentos de dorsiflexão e de flexão
plantar (MIRANDA, 2000).

Articulações intertarsais
Miranda (2000) acrescenta que essas articulações envolvem
os sete ossos do tarso, representados pelas articulações talocalcâ-
nea, talocalcânea-navicular, calcaneocuboide, cuneonavicular, inter-
cuneiformes, cuneocuboide e cuboidenavicular. Os movimentos das
articulações intertársicas são, basicamente, de deslizamento e de
rotação, auxiliando e complementando os movimentos de inversão
© U2 - Artrologia 193

e de eversão do pé. Já os elementos de reforço e estabilização das


articulações intertársicas são representados pelos ligamentos talo-
calcâneo lateral, medial e interósseo, talonavicular, plantar longo,
calcâneo cuboide plantar, dorsais e plantares das articulações inter-
cuneiformes e das articulações cuboide naviculares.

Articulações tarsometatarsais
São a união entre os três ossos cuneiformes, o cuboide e
a base dos cinco metatarsianos. Esse conjunto de articulações é
também denominado "articulação de Lisfranc”. São articulações
sinoviais planas, estabilizadas pelos ligamentos tarsometatarsais
dorsais e plantares e pelos cuneometatarsais interósseos. Essas
articulações realizam discretos movimentos de deslizamento, ex-
ceto entre o primeiro cuneiforme e o primeiro osso metatarsal,
nos quais pode ocorrer, também, uma ligeira flexão e extensão
(MIRANDA, 2000).

Articulações metatarsofalângicas
Miranda (2000) ainda cita que essas articulações resultam
da união entre as cabeças dos metatársicos e as bases das falanges
proximais dos dedos. São articulações estabilizadas pelas cápsulas
fibrosas, pelos ligamentos plantares, colaterais e metatarsal trans-
verso profundo. Apresentam 2º de liberdade de movimento, reali-
zando flexão, extensão, abdução e adução.

Articulações interfalângicas do pé
Miranda (2000) conclui que essas articulações são em dobra-
diça, resultantes da união das cabeças das falanges com as bases
das falanges adjacentes. Possuem, como elementos de estabiliza-
ção, a cápsula articular, os ligamentos plantares e os colaterais ex-
terno e interno. Realizam, em alto grau, os movimentos de flexão
e de extensão, embora limitados pela ação dos músculos flexores
dos dedos. Observe as Figuras 144, 145 e 146.

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194 © Cinesiologia

Figura 143 Ligamentos do pé e tornozelo – vista medial.

Figura 144 Ligamentos do pé e tornozelo – vista lateral.


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Figuras 145 Mecanismo de trauma Figura146Movimentodeinversãocomcomprometimento


mais comum do tornozelo. dos feixes do ligamento colateral lateral.

Movimentos do tornozelo
O tornozelo normal realiza 40º de flexão plantar e 30º de fle-
xão dorsal. Os movimentos da articulação talocrural e do pé ainda
necessitam ser definidos, porque há diferença de valores entre os
autores. “Flexão plantar” é o movimento em direção à face plan-
tar do pé, cuja amplitude é, em média, de 50°, sendo efetivado,
sobretudo pelos músculos gastrocnêmios e sóleo. A dorsiflexão é
o movimento em direção à face dorsal do pé, cuja amplitude é em
torno de 20°, nas quais os músculos atuantes são: o tibial anterior,
o extensor longo dos dedos e o fibular terceiro. Podemos observar
esses movimentos na figura a seguir.
Esses movimentos ocorrem no plano sagital. Os termos "fle-
xão" e "extensão", aqui, devem ser evitados devido aos conflitos
de definição. Funcionalmente, flexão plantar é o mesmo que ex-
tensão, partindo do movimento de extensão geral do quadril, do
joelho e do tornozelo. Contudo, anatomicamente falando, dorsi-
flexão é o mesmo que extensão, significando movimento em dire-
ção ao lado extensor do pé, como ilustra a Figura 1

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196 © Cinesiologia

Dorsiflexão

Posição
Neutra

Plantiflexão

Figura 147 Movimentos de dorsiflexão e extensão.

Na Figura 148, vemos os movimentos do plano frontal, cha-


mados de "inversão" e "eversão". Inversão é a elevação da margem
medial do pé ou a rotação nas articulações tarsais. Girando o pé de
anterior para medial, a amplitude máxima desse movimento é de 20°.
Tal movimento é realizado, principalmente, pelo músculo tibial pos-
terior e auxiliado pelos músculos gastrocnêmios, sóleo e flexor longo
dos dedos. Já a eversão é o movimento oposto, ou seja, a elevação da
margem lateral do pé ou a rotação das articulações tarsais. Girando
o antepé para lateral, a amplitude máxima é de 5°. Tal movimento é
realizado, principalmente, pelos músculos fibular curto e longo e auxi-
liado pelos músculos extensor longo dos dedos e fibular terceiro.
Os movimentos no plano transverso são chamados "adução"
e "abdução", os quais ocorrem no pé anterior e acompanham a in-
versão e a eversão. Já a supinação descreve uma combinação de fle-
xão plantar, inversão e adução, e, finalmente, a pronação traduz-se
por uma combinação entre a dorsiflexão, a eversão e a abdução.

Inversão
Eversão

Posição
Neutra

Figura 148 Movimentos de eversão e inversão.


© U2 - Artrologia 197

Músculos
Segundo Miranda (2000), os movimentos do tornozelo e do
pé são realizados pelos músculos extrínsecos e intrínsecos. Os mús-
culos extrínsecos inserem-se abaixo do joelho até o pé e realizam
movimentos como a plantiflexão, a dorsiflexão, a eversão e a inver-
são, além de atuarem na movimentação dos dedos. Os músculos in-
trínsecos são os que se originam abaixo da articulação do tornozelo,
podendo posicionar-se na planta ou no dorso do pé. Esses músculos
desempenham a movimentação dos dedos e são subdivididos em
três compartimentos: anterior, posterior e lateral.
Os músculos do compartimento anterior, que veremos no Qua-
dro 17, também podem ser denominados “músculos pré-tibiais”; são
eles: tibial anterior, demonstrado nas Figuras 149 e 150, extensor lon-
go do hálux, extensor longo dos dedos e fibular terceiro, os quais são
inervados pelo nervo fibular profundo e pela artéria tibial anterior,
sendo esta responsável pelo suprimento sanguíneo dessa região. A
ação primária desses músculos é realizar a extensão do tornozelo e
controlar a redução da flexão plantar do tornozelo excentricamente.
Para maior compreensão, observe ainda as Figuras 151, 152 e 153.

Quadro 17 Músculos do compartimento anterior que atuam sobre


as articulações do pé e do tornozelo.
MÚSCULOS DO COMPARTIMENTO ANTERIOR
Tibial anterior: dorsiflexão da talocrural e inversão da talocalcânea.
Origem: côndilo lateral e face lateral da tíbia.
Inserção: osso cuneiforme medial e base do primeiro osso metatarsal.
Extensor longo do hálux: estende o hálux e auxilia na dorsiflexão da talocrural e na
inversão da talocalcânea.
Origem: face anterior da fíbula e membrana interóssea.
Inserção: base da falange distal do hálux.
Extensor longo dos dedos: dorsiflexão da talocrural e eversão da talocalcânea; estende as
metatarsofalângicas e as interfalângicas.
Origem: côndilo lateral da tíbia, parte superior da fíbula e membrana interóssea.
Inserção: falanges média e distal dos quatro últimos dedos.
Fibular terceiro: dorsiflexão da talocrural e eversão da talocalcânea; levanta a margem
lateral do pé.
Origem: terço inferior da face anterior da fíbula e membrana interóssea.
Inserção: base do quinto osso metatarsal.
Fonte: arquivo pessoal do autor

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198 © Cinesiologia

Metatársico I Cuneiforme
medial

Fonte: KENDALL (1987, p. 158).


Figuras 149 e 150 Músculo tibial anterior.

Fonte: KENDALL (1987, p. 157).


Figura 151 e 152 Músculo extensor longo do hálux.
© U2 - Artrologia 199

Extensor
longo dos
dedos

Fibular
terceiro

Galcâneo

Ext. curto dos dedos Ext. longo


dos dedos
Fibular terceiro Ext. curto
do hálux

Ext. curto dedos


Ext. longo dedos

Fonte: KENDALL (1987, p. 155).


Figura 153 Músculo extensor longo dos dedos.

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200 © Cinesiologia

Os músculos do compartimento posterior estão divididos em


dois grupos. O grupo superficial inclui o sóleo e os gastrocnêmios
medial e lateral – designados em um conjunto como o tríceps su-
ral – além do plantar longo, que poderão ser vistos na Figura 1Os
gastrocnêmios e o sóleo são flexores plantares poderosos, enquanto
o plantar longo contribui pouco para a função por ser um músculo
muito longo e fino, semelhante a um tendão em toda sua extensão.
Os músculos do compartimento posterior superficial recebem iner-
vação do nervo tibial e suprimento sanguíneo da artéria tibial poste-
rior. Observe o Quadro 18, para maior entendimento.

Quadro 18 Músculos do compartimento posterior (grupo superfi-


cial), que atuam sobre as articulações do pé e tornozelo.
MÚSCULOS DO COMPARTIMENTO POSTERIOR (GRUPO SUPERFICIAL)
Gastrocnêmio: atua na flexão plantar da talocrural e na inversão
talocalcânea; eleva o calcanhar durante a marcha e contribui na flexão do
joelho.
Origem: face posterior dos côndilos femorais.
Inserção: face posterior do calcâneo, através do tendão calcâneo.
Sóleo: atua na flexão plantar talocrural e na inversão talocalcânea; estabiliza
a perna sobre o pé.
Origem: para o músculo solear da tíbia.
Inserção: superfície posterior do calcâneo, no tendão do calcâneo.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

O sóleo e o gastrocnêmio formam, juntos, uma unidade funcio-


nal, às vezes denominada de tríceps sural. Os estudos realizados
coincidem bastante no sentido de afirmar que a força máxima do
gastrocnêmio e sóleo pode exercer um esforço voluntário de, apro-
ximadamente, 450 kg (RASCH; BURKE, 1977, p. 375).
© U2 - Artrologia 201

Figura 154 Músculos gastrocnêmio e sóleo.

Os músculos do compartimento posterior profundo são o


flexor longo do hálux, o flexor longo dos dedos, o tibial posterior e
o plopíteo, que atua na articulação do joelho, descritos no Quadro
19 e ilustrados nas Figuras 155, 156 e 1Cada músculo está cruzado
com cada articulação do tornozelo. Esses músculos também são
inervados pelo nervo tibial e recebem suprimento sanguíneo da
artéria tibial posterior, contribuem para a flexão plantar e estão lo-
calizados posteriormente. Todavia, a principal ação do flexor longo
do hálux e do flexor longo dos dedos é realizar a flexão do hálux e
dos quatro dedos laterais, respectivamente.

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202 © Cinesiologia

Quadro 19 Músculos do compartimento posterior (grupo profundo)


que atuam sobre as articulações do pé e do tornozelo.
MÚSCULOS DO COMPARTIMENTO POSTERIOR (GRUPO PROFUNDO)
Flexor longo do hálux: promove a flexão do hálux; auxilia na flexão plantar da talocrural e
na adução da talocalcânea; auxilia na inversão do pé e sustenta o arco longitudinal do pé.
Origem: parte inferior da face posterior da fíbula e parte inferior da membrana interóssea.
Inserção: base da falange distal do hálux.
Flexor longo dos dedos: flete as quatro últimas metatarsofalângicas e inerfalângicas;
atua na flexão plantar; auxilia na inversão talocalcânea; sustenta o arco longitudinal
do pé e participa na adução talocalcânea.
Origem: face posterior da tíbia, abaixo da linha do músculo solear.
Inserção: nas falanges distais dos quatro últimos dedos.
Tibial posterior: potente inversor da talocalcânea; auxilia na flexão plantar talocrural
e eleva a margem medial do pé.
Origem: face posterior da tíbia e fíbula, e membrana interóssea.
Inserção: na tuberosidade do osso navicular nos ossos cuneiformes e na base dos
ossos metatarsais.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Figura 155 Músculo flexor longo do hálux. Figura 156 Músculo flexor longo dos dedos.
© U2 - Artrologia 203

Figura 157 Músculo tibial posterior.

O compartimento lateral contém os músculos responsáveis


pela realização da eversão do tornozelo. Esses músculos consis-
tem nos fibulares longo e curto, como nos mostra as Figuras 158
e 1Como num grupo, o nervo fibular superficial fornece o supri-
mento primário, bem como a artéria fibular. Uma lesão no nervo
fíbular comum, antes da sua decisão nos componentes fibulares
superficial e profundo, logo abaixo da cabeça da fíbula, resultará
na incapacidade dos flexores dorsais e dos eversores do tornozelo
de realizarem suas funções. Essa condição é denominada “pé em
gota” ou “pé caído”.

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204 © Cinesiologia

Quadro 20 Músculos do compartimento lateral que atuam sobre


as articulações do pé e do tornozelo.
MÚSCULOS DO COMPARTIMENTO LATERAL
Fibular longo: eversão da talocalcânea; auxilia na flexão plantar, eleva a margem
lateral do pé, abaixa a margem medial e participa na abdução.
Origem: cabeça da fíbula.
Inserção: base do primeiro osso metatarsal e primeiro cuneiforme.
Fibular curto: eversão da talocalcânea; auxilia na flexão plantar e eleva a margem
lateral do pé.
Origem: parte inferior da face lateral da fíbula.
Inserção: base do quinto metatarsal.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Figura 158 Músculo fibular longo. Figura 159 Músculo fibular curto.
© U2 - Artrologia 205

Segundo Miranda (2000), os músculos do pé são distribuídos


em quatro regiões: dorsal do pé (Figura 160), plantar medial, plan-
tar lateral e plantar central. Os músculos intrínsecos localizados no
dorso do pé são os extensores curtos dos dedos e do hálux, sendo
responsáveis pela extensão do primeiro ao quinto dedos. Os mús-
culos intrínsecos da região plantar medial são: o abdutor do hálux,
o flexor curto do hálux e o adutor do hálux. A região plantar lateral
é formada pelos músculos abdutor do dedo mínimo, flexor curto
do dedo mínimo e oponente do dedo mínimo; já a região plantar
central é formada pelos músculos flexor curto dos dedos, quadra-
do plantar, quatro lumbricais, três interósseos plantares e quatro
interósseos dorsais.
Rasch (1991) afirma que, apesar do agrupamento anatômi-
co, os músculos dos três grupos da região plantar são mais fre-
quentemente classificados por suas camadas, que são evidentes
durante uma dissecção desde a primeira até a quarta camada.
A camada mais superficial (primeira, ilustrada na Figura 161)
é formada pelos músculos abdutor do hálux, flexor curto dos de-
dos e abdutor do dedo mínimo, os quais se originam, todos, do
calcâneo. A segunda camada (Figura 162) compõe-se do quadrado
plantar e dos lumbricais. O quadrado plantar insere-se no tendão
do flexor longo dos dedos, auxiliando esse músculo no movimento
de flexão e alterando sua linha de tração para aproximá-lo do eixo
longitudinal do pé.
A terceira camada (Figura 163) é constituída pelo flexor curto
do hálux, pelo flexor curto do dedo mínimo e pelo adutor do hálux.
A quarta camada (Figura 164)consiste nos músculos interósseos
dorsais e nos plantares. Os interósseos dorsais abduzem os dedos
e ajudam a fletir a falange proximal e a estender as falanges dis-
tais. Os interósseos plantares aduzem do terceiro ao quinto dedos,
fletem a falange proximal e estendem as distais.

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206 © Cinesiologia

Figura 160 Músculos da região dorsal do pé.

Figura 161 Músculos da região plantar do pé (camada I).


© U2 - Artrologia 207

Figura 162 Músculos da região plantar do pé (camada II).

Figura 163 Músculos da região plantar do pé (camada III).

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208 © Cinesiologia

Figura 164 Músculos da região plantar do pé (camada IV).

8. COLUNA VERTEBRAL
O movimento dos membros superiores e dos membros in-
feriores, em qualquer atividade, provoca a transmissão de forças
à coluna vertebral que, por sua vez, fornece sustentação para a
postura ereta, protege a medula espinhal e é local para a fixação
de músculos, além de transferir e atenuar cargas da cabeça e do
tronco para os membros inferiores e vice-versa.
Na Figura 165, veremos que a coluna vertebral é composta
por 33 vértebras, das quais 24 se unem para formar uma coluna
flexível. Possui três curvaturas fisiológicas: torácica ou curvatura
primária (presente já ao nascimento), lombar ou curvatura secun-
dária, que se desenvolve em resposta às forças exercidas sobre os
corpos dos lactentes quando estes começam a sustentar a cabeça
e a se sentar, e a cervical, ilustradas também na Figura 1
© U2 - Artrologia 209

Figura 165 Coluna vertebral.

Figura 166 Curvaturas fisiológicas da coluna vertebral.

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210 © Cinesiologia

Segundo Miranda (2000), a sustentação e a proteção da co-


luna vertebral são realizadas, em parte, pelas estruturas articu-
lares, as quais apresentam dois tipos de articulações. As sínfeses
cartilagíneas, encontradas ao longo da coluna vertebral do áxis
ao sacro, são formadas por discos fibrocartilaginosos que se in-
terpõem entre os corpos de vértebras adjacentes (Figura 167). As
principais funções do disco são amortecer choques, igualar ten-
sões, promover o deslocamento de uma vértebra sobre a outra
e unir dois corpos vertebrais adjacentes. Vale ressaltar que esses
discos fibrocartilaginosos degeneram-se com a idade.

Figura 167 O disco fibrocartilaginoso intervertebral.

Miranda (2000) e Rasch (1991) mencionam que a forma do


disco está relacionada com os corpos vertebrais que por ele são se-
parados e que a sua espessura varia com sua localização na coluna
e entre as diferentes seções do mesmo disco. Na região torácica,
os discos têm uma espessura quase uniforme, enquanto nas áre-
as cervical e lombar são mais espessos na frente, o que contribui
para as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. As espessuras
dos discos variam de acordo com a sua região, sendo que a lombar
possui 9 mm, a torácica 5 mm e a cervical 3 mm. Atribui-se, aos
discos, 25% do comprimento da coluna vertebral.
Miranda (2000) ainda afirma que o disco é composto por
duas partes funcionais. Observe a Figura 168:
© U2 - Artrologia 211

• Parte periférica ou anel fibroso: é a parede do disco for-


mada por uma malha fibroelástica que envolve o núcleo
pulposo.
• Parte central ou núcleo pulposo: material gelatinoso,
transparente, composto por até 90% de água e colágeno.

Figura 168 As divisões funcionais do disco intervertebral (1 – anel fibroso; 2 – núcleo pulposo).

Durante o movimento de flexão da coluna vertebral, o nú-


cleo pulposo projeta-se anteriormente e o anel fibroso sofre com-
pressão anterior e tração posterior. Já no movimento de extensão,
o núcleo pulposo projeta-se anteriormente e o anel fibroso sofre
compressão posterior e tração anterior.
Nas inclinações laterais ou na flexão lateral, o núcleo pulpo-
so projeta-se para o lado oposto da inclinação e o anel fibroso é
comprimido no lado côncavo da curvatura e tracionado no lado
convexo da curvatura. Durante as rotações, o núcleo pulposo so-
fre uma forte compressão e o aumento da pressão intranuclear
proporcional ao grau de rotação. Já no anel fibroso, há tensão nas
fibras orientadas na direção da rotação e menos tensão nas fibras
orientadas na direção oposta (MIRANDA, 2000).

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INFORMAÇÃO:
As rotações promovem aumento na pressão intradiscal, estreitam o
espaço articular e criam uma força de atrito no plano horizontal de ro-
tação. Isto faz com que o disco seja mais susceptível à lesão quando
ocorre a transição da rotação de um sentido para o sentido oposto.

A hérnia de disco, demonstrada na Figura 169, ocorre quando


o anel fibroso não mais possui resistência suficiente para manter a
forma do disco. Pode ocorrer o extravasamento posterior, com a com-
pressão da medula espinhal, ou o extravasamento lateral, com a com-
pressão das raízes nervosas que emergem do forame de conjugação.

Figura 169 Hérnia de disco.

Rasch (1991) apresenta-nos o segundo tipo de articulação da


coluna vertebral: a articulação sinovial encontrada entre os proces-
sos articulares de vértebras adjacentes. A flexibilidade da coluna
está diretamente relacionada à orientação dessas articulações umas
com as outras, sendo que a orientação muda de região para região.
© U2 - Artrologia 213

A sustentação ligamentosa da coluna vertebral provém de


seis estruturas, demonstradas na Figura 1Três desses ligamentos
são como bandas contínuas, que vão do occipital ao sacro. O liga-
mento longitudinal anterior, à frente dos corpos vertebrais, é um
freio para a extensão da coluna; já o ligamento longitudinal poste-
rior, situado exatamente atrás dos corpos vertebrais, e o ligamento
supraespinhal, situado atrás das espinhas, são freios para a flexão
da coluna vertebral. Durante a flexão, o ligamento longitudinal
posterior recebe uma pressão do núcleo distal (CALAIS-GERMAIN,
1992).

Figura 170 Ligamentos da coluna vertebral.

Os demais ligamentos são descontínuos. Entre duas lâminas,


por exemplo, está o ligamento elástico flavo ou amarelo, cujas ex-
tensibilidade e elasticidade permitem a separação das lâminas du-
rante a flexão da coluna vertebral; entre duas espinhas se encontra
o ligamento interespinhal, que conecta os processos espinhosos

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214 © Cinesiologia

adjacentes; e, finalmente, entre dois processos transversos super-


postos, se encontram os ligamentos intertransversários, cujas in-
clinações laterais da coluna vertebral os colocam sob tensão do
lado convexo (RASCH, 1991; CALAIS-GERMAIN, 1992).

Articulações da coluna vertebral


Segundo Miranda (2000), as articulações da coluna vertebral
dividem-se em:
1) Intervertebrais: articulações dos corpos vertebrais (Fi-
gura 172), articulações dos arcos vertebrais, articulações
atlantoaxiais (Figura 171), articulações lombosacrais e
articulações sacrococcígeas.
2) Costovertebrais: articulações das cabeças das costelas,
articulações costotransversárias (Figura 173).
3) Craniovertebral ou atlantoccipital.
4) Articulação sacroilíaca.

Figura 171 Articulação atlantoaxial.


© U2 - Artrologia 215

Figura 172 Articulações entre os corpos vertebrais.

Figura 173 Articulações costovertebrais.

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216 © Cinesiologia

Movimentos da coluna vertebral


Graças à mobilidade da coluna vertebral, o tronco pode
efetuar movimentos nos três planos: flexão (cervical 45o, lombar
75o-95o) e extensão (cervical 60o, lombar 35o), inclinação lateral
(cervical 45o, lombar 40o) e rotação (cervical 80o). Dependendo de
alguns fatores que variam segundo a região, esses movimentos
não têm a mesma amplitude em todos os níveis vertebrais, como,
por exemplo, a forma das vértebras, a altura dos discos em relação
à altura dos corpos e a presença de costelas.
Calais-Germain (1992) menciona que esses movimentos,
como a flexão do quadril sem a flexão do tronco, devem ser dife-
renciados daqueles que movimentam o tronco em bloco sobre os
quadris e podem ser alcançados pelos movimentos dos membros,
como, por exemplo, a abdução do braço, que leva o tronco a uma
inclinação lateral. O tronco também pode ser o local em que se
inicia os movimentos de translação. Apesar da frequência mínima
de incidência, nos movimentos para frente, para trás e para os la-
dos ocorre o deslizamento das vértebras, mas a somatória de cada
articulação existente entre essas vértebras permite uma certa am-
plitude.
Na flexão da coluna, os processos articulares superiores des-
lizam sobre os inferiores para cima e para frente. O disco é pinçado
anteriormente, e o núcleo pulposo desloca-se um pouco para trás.
As lâminas e as espinhas separam-se e os ligamentos posteriores
são colocados sob tensão.
Na extensão, ocorre o contrário, pois os processos articula-
res estão fortemente contatados, chegando a comprimirem-se. O
disco é pinçado posteriormente, e o núcleo desloca-se um pouco
para frente. Já as espinhas e as lâminas aproximam-se e todos os
ligamentos posteriores se afrouxam, colocando o ligamento longi-
tudinal anterior sob tensão.
Nas inclinações laterais, o disco é pinçado do lado côncavo
e o núcleo desloca-se para o lado convexo. No lado convexo, há a
© U2 - Artrologia 217

separação entre os processos articulares, que deslizam de maneira


divergente. Os ligamentos estão tensionados no lado convexo, sen-
do que, nas rotações, as fibras do disco se torcem e, devido a essa
torção, dois efeitos são produzidos simultaneamente: a tensão das
fibras colágenas e a diminuição da altura do disco, ocorrendo a
compressão do núcleo pulposo. Nesse caso, todos os ligamentos
estão tensionados (CALAIS-GERMAIN, 1992).

Músculos da coluna vertebral


Rasch (1991) afirma que os músculos atuantes na coluna ver-
tebral podem ser divididos em dois grupos: anterior e posterior. Os
músculos anteriores e posteriores existem em pares, porém, tra-
balham de modo independente. Os anteriores realizam a flexão da
coluna vertebral, enquanto que os extensores realizam sua exten-
são. Podemos, ainda, subdividir cada grupo, considerando a região
que os músculos atuam.
Segundo Miranda (2000), os músculos da região anterior e
cervical são: reto anterior da cabeça, reto lateral da cabeça, longo
da cabeça, longo do pescoço, hioides, esternocleidomastoideo e
escalenos; já na região toracolombar, encontram-se os músculos
retos abdominais oblíquos externo, interno e transverso do abdo-
me, o iliopsoas e o quadrado lombar. Para se contextualizar, obser-
ve os Quadros 21, 22, 23 e 24 e as Figuras 174 e 175 que abordam
os músculos da coluna vertebral.

Quadro 21 Músculos da coluna vertebral – região anterior cervical


(Figura 175).
MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL
Reto anterior da cabeça: flexiona a cabeça.
Origem: no processo transverso do atlas.
Inserção: superfície inferior do occipital anterior ao forame magno.
Reto lateral da cabeça: flexiona a cabeça lateralmente.
Origem: no processo transverso do atlas.

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218 © Cinesiologia

MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL


Inserção: processo jugular do occipital.
Longo da cabeça: flexiona a cabeça sobre a coluna vertebral e a coluna cervical.
Origem: nos processos transversos das vértebras cervicais (de III a VI).
Inserção: parte basilar do osso occipital.
Longo do pescoço: flexiona, bilateralmente, a coluna cervical; promove,
unilateralmente, uma flexão lateral para o mesmo lado; desempenha papel
importante na retificação da lordose cervical e equilibra a coluna cervical em
condições posturais.
Origem: corpo das vértebras torácicas superiores, corpo das vértebras cervicais
inferiores e processos transversos das vértebras cervicais superiores.
Inserção: corpo das vértebras cervicais superiores, processos transversos das
vértebras cervicais e arco anterior do atlas.
Esternocleidomastoideo: bilateralmente, é flexor da cabeça e da coluna cervical
contra resistência; unilateralmente, faz flexão lateral da cabeça e da coluna para o
mesmo lado e determina a rotação da cabeça e da coluna para o lado oposto da
contração; estando o ponto fixo na cabeça, promove a elevação do esterno e da
parte esternal da clavícula.
Origem: no processo mastoide do temporal e na linha nucal.
Inserção: a cabeça esternal prende-se na parte alta da face anterior do manúbrio do
esterno e a cabeça clavicular nas faces superior e posterior da extremidade medial
da clavícula.
Escalenos anterior, médio e posterior: sustentam e elevam as duas primeiras
costelas, produzem uma rotação na coluna cervical para o lado oposto da contração;
estando o ponto fixo nas costelas, fazem a flexão da coluna cervical sobre a coluna
torácica; unilateralmente, flexionam a coluna cervical para o mesmo lado. Na coluna
cervical, não estando rígida pela contração dos músculos longos do pescoço, podem
promover um aumento de lordose cervical.
Hioides: dois grupos de músculos relacionam-se ao osso hioide: os supra-hioides e
os infra-hioides. A localização desses músculos apresenta uma importante função na
flexão da cabeça.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Quadro 22 Músculos da coluna vertebral – região toracolombar


(Figura 175).
MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL – REGIÃO ANTERIOR TORACOLOMBAR
Reto abdominal: estando fixo o ponto de apoio no púbis, atua como um potente
flexor da coluna vertebral torácica; estando fixo o ponto nas costelas e no processo
xifoide, promove uma retroversão na pelve e a flexão lateral para o mesmo lado.
Origem: face lateral das cartilagens costais da quinta a sétima e processo xifoide.
Inserção: crista do púbis.
© U2 - Artrologia 219

MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL – REGIÃO ANTERIOR TORACOLOMBAR


Oblíquo externo do abdome: bilateralmente, flexiona a coluna aplicando força na
inserção proximal; estando a pelve fixa, promove a rotação do tronco para o lado
oposto da contração; com o tronco fixo, executa a rotação da pelve para o mesmo
lado; unilateralmente, flexiona lateralmente a coluna para o mesmo lado e, estando
o ponto fixo nas costelas, promove a retroversão da pelve.
Origem: na face lateral das sete últimas costelas.
Inserção: linha alba, crista ilíaca, ligamento inguinal e púbis.
Oblíquo interno do abdome: bilateralmente, resulta na flexão da coluna vertebral;
unilateralmente, promove uma flexão lateral da coluna para o mesmo lado; a pelve
estando fixa, executa a rotação do tronco para o mesmo lado e, estando o tronco
fixo, executa a rotação da pelve para o lado oposto.
Origem: fáscia toracolombar e margem superior da crista ilíaca.
Inserção: margem inferior das três últimas costelas.
Transverso do abdome: não contribui para a mecânica da coluna vertebral; sua
principal ação é comprimir e suportar as vísceras abdominais.
Iliopsoas: executa a inclinação lateral da coluna para o mesmo lado; faz a rotação
da coluna para o lado oposto da contração, a flexão da coluna toracolombar sobre a
pelve e a flexão e a adução do quadril.
Origem: face anterior do processo transverso e de todas as vértebras lombares, face
lateral do corpo vertebral, disco intervertebral da décima segunda vértebra torácica
e de todas as vértebras lombares; dois terços superiores da fossa ilíaca, lábio interno
da crista ilíaca, ligamentos sacroilíaco anterior e iliolombar.
Inserção: trocânter menor do fêmur; face lateral do tendão do músculo psoas maior
alcançando algumas fibras do trocânter menor.
Quadrado lombar: flexão lateral do tronco para o mesmo lado; elevação da pelve
para o mesmo lado da contração; báscula anterior da pelve; a contração bilateral
produz a extensão do tronco.
Origem: ligamento iliolombar e face posterior do lábio interno da crista ilíaca
adjacente.
Inserção: margem inferior da 12ª costela e face anterolateral do processo transverso
de todas as vértebras lombares.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Para Miranda (2000), no grupo posterior da região cervical,


apresentam-se os músculos trapézio, esplênio da cabeça, esplênio
do pescoço e eretores da espinha. Na região toracolombar, encon-
tram-se os músculos do complexo transverso-espinhal (semiespi-
nhal, multifidos e rotadores), interespinhais e intertransversários.

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220 © Cinesiologia

Quadro 23 Músculos da coluna vertebral – região posterior cervi-


cal (Figura 174).
MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL – REGIÃO POSTERIOR CERVICAL
Trapézio: elevação e adução da escápula.
Origem: processos espinhosos da C4 a C7 e de T1 a T12.
Inserção: terço externo da borda posterior da clavícula, borda interna da espinha da
escápula e acrômio.
Esplênio da cabeça: unilateralmente, produz a flexão lateral da cabeça e do pescoço
para o mesmo lado, extensão da cabeça sobre a coluna cervical; extensão da coluna
cervical; rotação da cabeça e do pescoço para o mesmo lado da contração.
Origem: processo mastoideo.
Inserção: sobe, lateralmente, como grossa lâmina, e divide-se em partes para a
cabeça e o pescoço; ligamento nucal e processos espinhosos de C7 a T6.
Esplênio do pescoço: unilateralmente, produz a flexão lateral da cabeça e do pescoço
para o mesmo lado, extensão da cabeça sobre a coluna cervical; extensão da coluna
cervical; rotação da cabeça e do pescoço para o mesmo lado da contração.
Origem: nos processos transversos das três primeiras vértebras cervicais.
Inserção: sobe, lateralmente, como grossa lâmina, e se divide em partes para a
cabeça e o pescoço; ligamento nucal e processos espinhosos de C7 a T6.
Suboccipitais: são os motores da cabeça sobre a coluna cervical, ou seja, os
discretos movimentos de pequenas amplitudes, quase automáticos, que seguem os
movimentos do globo ocular. Deles fazem parte os músculos reto posterior maior
da cabeça, reto posterior menor da cabeça, oblíquo superior da cabeça e oblíquo
inferior da cabeça
Eretores da espinha: músculos iliocostal, longuíssimo e espinal; suas principais
funções são as de extensão e hiperextensão da coluna vertebral; unilateralmente,
fazem a flexão lateral da coluna vertebral e a contração unilateral executa a rotação
para o mesmo lado.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Quadro 24 Músculos da coluna vertebral – região posterior tora-


colombar (Figura 174).
MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL – REGIÃO POSTERIOR TORACOLOMBAR
Semiespinhal: compreende três grupos musculares: o semiespinal do tórax, o
semiespinal do pescoço e o semiespinal da cabeça, que realizam a extensão e a
hiperextensão da coluna vertebral, a flexão lateral da coluna e a rotação para o
lado oposto.
Multifido: faz a extensão da coluna cervical, a flexão lateral para o mesmo lado e a
rotação do tronco para o lado oposto. Tem função estabilizadora e postural.
Origem: sacro, crista ilíaca, processos transversos das vértebras lombares e torácicas e
processos transversos e articulares da quarta a sétima vértebra cervical.
© U2 - Artrologia 221

MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL – REGIÃO POSTERIOR TORACOLOMBAR


Inserção: nos processos espinhais de todas as vértebras da coluna, exceto o atlas.
Rotadores: extensão e hiperextensão da coluna vertebral, flexão lateral para o
mesmo lado e rotação da coluna para o lado oposto.
Origem: processos transversos das vértebras.
Inserção: processo espinhoso da vértebra, situada acima.
Interespinhais: extensão e hiperextensão da coluna vertebral.
Origem: processo espinhoso da vértebra supra-adjacente.
Inserção: processo espinhoso da vértebra infra-adjacente.
Intertransversário: bilateralmente, faz a extensão da coluna vertebral;
unilateralmente, faz a flexão lateral da coluna vertebral.
Origem: processo transverso.
Inserção: na margem inferior do processo transverso da vértebra acima e na
margem superior do processo transverso da vértebra que está abaixo.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

Fonte: NETTER (2004, p. 167).


Figura 174 Músculos dorsais do tronco.

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222 © Cinesiologia

Fonte: NETTER (2004, p. 182).


Figura 175 Músculos ventrais do tronco.

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Vamos verificar como você aproveitou esta unidade. Tente
responder as seguintes questões para si mesmo.
1) Considerando os graus de movimentos, qual é a classi-
ficação funcional das articulações? Dê um exemplo de
cada.
2) Considerando o grau de mobilidade, como podem ser
classificadas as articulações do ombro, do cotovelo, do
punho, do quadril, do joelho e do tornozelo? Qual são os
tipos de cada uma dessas articulações?
3) Quais são as articulações que compõem o complexo ar-
ticular da cintura escapular?
4) Quais são os motores principais dos movimentos do om-
bro considerando as articulações da cintura escapular?
© U2 - Artrologia 223

5) Quais são as articulações que compõem o complexo ar-


ticular do cotovelo?
6) Quais são os motores principais dos movimentos do co-
tovelo?
7) Quais são as articulações que compõem o complexo ar-
ticular do punho?
8) Quais são os motores principais dos movimentos do punho?
9) Quais são as articulações que compõem a mão?
10) Quais são os motores principais dos movimentos dos dedos?
11) Quais são as articulações que compõem o complexo ar-
ticular da cintura pélvica?
12) Quais são os motores principais dos movimentos do
quadril?
13) Quais são as articulações que compõem o complexo ar-
ticular do joelho?
14) Quais são os motores principais dos movimentos do joelho?
15) Quais são os principais ligamentos dos joelhos e qual são
as funções de cada um?
16) Quais são as articulações que compõem o complexo ar-
ticular do tornozelo?
17) Quais são os motores principais dos movimentos do tor-
nozelo?
18) Quais são as articulações que compõem o pé?
19) Quais são os motores principais dos movimentos dos de-
dos dos pés extrínsecos?
20) Quais são as articulações que compõem a coluna vertebral?
21) Quais são os motores principais dos movimentos da co-
luna vertebral?

10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, estudamos, segmentarmente, o corpo hu-
mano, abordando as estruturas importantes para a função mo-
tora. Abordamos os conceitos de Artrologia com uma explanação
suficiente para o entendimento da Cinesiologia.

Claretiano - Centro Universitário


224 © Cinesiologia

Inicialmente, revemos alguns conceitos da artrologia fun-


cional relembrando os componentes importantes das diferentes
articulações. Em seguida, estudamos as articulações de cada seg-
mento do corpo humano, ou seja, membros superiores, membros
inferiores e tronco. Abordamos cada possibilidade de movimento
osteocinemático e artrocinemático e, também, a aplicação desses
conceitos em sua prática profissional.
Por fim, estudamos os músculos que atuam sobre as arti-
culações do tronco e dos membros inferiores e superiores. Ana-
lisamos como os músculos estão posicionados em relação a cada
articulação, conhecendo suas origens e inserções, como também
qual a influência que esses músculos podem oferecer às articula-
ções por meio dos movimentos corporais.
O entendimento da Cinesiologia é fundamental para a atua-
ção do profissional da Educação Física, pois este trabalha os movi-
mentos corporais para a prática física durante o lazer, os jogos, as
brincadeiras e, até mesmo, para a prática de esportes.
Aproveite esta oportunidade para aprimorar seus conheci-
mentos e lembre-se de fazer a leitura das bibliografias sugeridas e
tirar suas dúvidas com o tutor.

11. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
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craniosutura.jpg>. Acesso em: 24 maio 2010.
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medial e lateral: disponível em: <http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/
fisioterapia/traumato/lca/lca3.jpg>. Acesso em: 24 maio 2010.
Figura 5 – Exemplo de articulação plana: disponível em: <http://www.my-personaltrainer.
it/fisiologia/articolazioni.html>. Acesso em: 24 maio 2010.
Figura 6 – Exemplo de articulação gínglimo: disponível em: <http://www.my-
personaltrainer.it/fisiologia/articolazioni.html>. Acesso em: 24 maio 2010.
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Figura 7 – Exemplo de articulação trocoide: disponível em: <http://www.my-


personaltrainer.it/fisiologia/articolazioni.html>. Acesso em: 24 maio 2010.
Figura 8 – Exemplo de articulação selar: disponível em: <http://www.my-personaltrainer.
it/fisiologia/articolazioni.html>. Acesso em: 24 maio 2010.
Figura 9 – Exemplo de articulação condilar: disponível em: <http://www.my-
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Figura 10 – Exemplo de articulação esferoide: disponível em: <http://www.my-
personaltrainer.it/fisiologia/articolazioni.html>. Acesso em: 24 maio 2010.
Figura 13 – Articulações do ombro (1 – acromioclavicular; 2 – subacromial; 3
– glenoumeral): disponível em: <http://www.clinicadeckers.com.br/imagens/
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Figura 22 – Ligamentos acromioclavicular e coracoclaviculares podem se romper:
disponível em <http://www.milton.com.br/esporte/casos/images/46/ac_dislocation.
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Figura 23 – Anatomia do espaço subacromial: disponível em: <http://www.frrb.com.br/
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Figura 57 – Ligamentos do cotovelo: disponível em: <http://www.auladeanatomia.com/
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Figura 91 – O epicôndilo lateral origem dos extensores é um local de alteração (B) por
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Figura 119 – Vista posterior do membro inferior. Músculos extensores do quadril:
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abdutores do quadril, glúteos médio e mínimo: disponível em: <http://www.
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colateral lateral: disponível em: <http://www.bailavc.com.br/wp-content/uploads/2009/03/
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BR&start=12&um=1&tbnid=Xd_StkWMKgLh5M:&tbnh=128&tbnw=55&prev=/images%
© U2 - Artrologia 227

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Figura 163 – Músculos da região plantar do pé (camada III): disponível em: <http://
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12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 20
EAD
Aspectos da
Fisiologia Muscular e
Neurofisiologia

3
do Controle
Motor

1. Objetivos
• Conhecer e identificar as estruturas macroscópica e mi-
croscópica do músculo estriado esquelético.
• Entender o mecanismo molecular da contração muscular.
• Entender os mecanismos neurais que desencadeiam a
contração muscular.
• Identificar as fontes de energia para a contração muscular.
• Conhecer e analisar os tipos de fibras musculares e de
unidades motoras.
• Definir os receptores sensoriais.
• Entender como ocorre o controle motor e quais são os
problemas associados à deficiência no controle motor.
230 © Cinesiologia

2. Conteúdos
• Estrutura do músculo esquelético.
• Excitação dos nervos e das fibras musculares esqueléticas.
• Fontes de energia para a contração muscular.
• Tipos de fibras musculares.
• Unidade motora.
• Receptores articulares, musculares e tendinosos.
• Controle motor.
• Considerações clínicas a respeito do controle motor.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático em mãos e discuta a unidade
com seus colegas e com o tutor.
2) Recomendamos a leitura por várias vezes dos textos des-
te material, a fim de que você fixe os seus conteúdos.
Para isso, realize pequenos apontamentos com a finali-
dade de comparar e de aprofundar pontos de destaque,
utilizando-se das fontes aqui elencadas, que já indica-
mos como indispensáveis para o estudo deste tema.
3) Volte às unidades anteriores para entender e recordar
os conceitos propostos e quando surgirem ideias que
ainda não foram completamente assimiladas.
4) Ao iniciar seus estudos desta unidade, lembre-se de que
a autodisciplina lhe poderá auxiliar a monitorar seus
pensamentos, suas imaginações, suas emoções e seus
impulsos, canalizando-os para a aprendizagem dos con-
teúdos aqui tratados.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 231

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 1, foram abordados os conceitos cinesiológicos
e mecânicos que regem os movimentos. Também foram revistos
os planos anatômicos e os eixos de movimentos, sendo estudado
cada movimento que ocorre nesses planos e eixos.
Na Unidade 2, estudamos, segmentarmente, o corpo huma-
no, abordando as estruturas importantes para as funções. Abor-
damos os conceitos de Artrologia com uma explanação suficiente
para o entendimento da Cinesiologia.
Nesta unidade, estudaremos os aspectos da fisiologia mus-
cular abordando a estrutura do músculo esquelético, os tipos de
fibras musculares, os eventos que caracterizam a contração mus-
cular e a unidade motora. Na sequência, trataremos da neurofi-
siologia do controle motor identificando as estruturas do sistema
nervoso responsáveis pelo controle motor e as implicações clínicas
de problemas sobre o controle motor.

5. ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO


O órgão quantitativamente mais desenvolvido no ser huma-
no é o músculo, que representa de 40% a 50% do peso corporal
total. O homem só pode produzir trabalho ou atuar sobre o meio
ambiente por meio dos seus músculos, e isto é válido para toda
atividade física, assim como para as atividades intelectuais, como,
por exemplo, o falar e o escrever, que exigem atividade coordena-
da de determinados grupos musculares (SCHMIDT, 1979).
Dessa forma, os músculos do corpo humano são geradores
de força interna que convertem a energia armazenada, quimica-
mente, em trabalho mecânico. Revisando os conceitos apreendi-
dos nos cadernos de Anatomia e de Fisiologia Humana, no corpo
humano são encontrados três tipos diferentes de tecido contrátil:

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232 © Cinesiologia

• Músculo liso ou involuntário: constitui a parede de vísce-


ras como o estômago e a bexiga, como também as pare-
des de vários sistemas de tubos, como os sistemas circu-
latório, digestório, respiratório e urogenital.
• Músculo estriado cardíaco: apresentam semelhanças
tanto estruturais quanto funcionais com os músculos es-
queléticos e lisos. O único exemplo desse tipo de músculo
é o miocárdio – a camada muscular do coração.
• Músculo estriado esquelético: contém terminações para
dor e proprioceptores; suas principais funções são o mo-
vimento do corpo e a manutenção da postura. São esses
os músculos que dão forma ao corpo humano, como o
quadríceps, por exemplo.
No entanto, esses músculos apresentam certas característi-
cas semelhantes, como, por exemplo: são afetados pelo mesmo
tipo de estímulo, produzem um potencial de ação logo após a esti-
mulação, são capazes de manter o tono muscular e de contraírem-
se com a força de contração (dependendo de seu comprimento
inicial e da velocidade da contração), atrofiam-se por decorrência
de circulação inadequada e hipertrofiam-se em resposta a certos
tipos de treinamento de sobrecarga (RASCH, 1991).
Muitos dos princípios básicos da contração são comuns a to-
dos esses músculos, mas, nesta unidade, serão discutidos, apenas,
a estrutura e o funcionamento do músculo estriado esquelético.

Estrutura macroscópica do músculo estriado esquelético


O sistema muscular voluntário inclui, aproximadamente, 434
músculos, porém, somente 75 pares estão envolvidos na postura
geral e no movimento do corpo. Unidades de 100 a 150 células ou
fibras musculares são agrupadas em um tecido conectivo deno-
minado "perimísio" para formar um feixe designado "fascículo".
Vários fascículos estão reunidos por uma bainha de perimísio para
formar uma unidade maior, encerrada numa cobertura de "epimí-
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 233

sio", ou seja, o músculo. A parte central de um músculo é chama-


da de ventre (RASCH, 1991).
Próximas às extremidades do músculo, as células contráteis
desaparecem, mas seu revestimento de tecido conectivo prosse-
gue a fim de fixar os músculos nos ossos. Se o local de fixação ós-
sea é distante do ventre, as bainhas do tecido conectivo fundem-
se para formar um tendão ou aponeurose. Em alguns músculos, as
fibras musculares continuam quase até o osso, no qual as bainhas
dos tecidos contráteis realizam a fixação.
Segundo Rasch (1991), quando um músculo se contrai forte-
mente, a tendência é de que este mova ambos os ossos aos quais
está fixado, sendo que o osso que menos se move é considerado
fixo. O ponto no qual o músculo se une ao osso fixo, que geralmen-
te é o osso proximal, é denominado "origem" e seu ponto de fixa-
ção ao osso móvel é denominado "inserção". A inserção muscular
é o local em que a força é aplicada ao osso (Figura 1).

Fonte: SOBOTTA (1995, p. 10).


Figura 1 Músculo braquial demonstrando o ventre muscular, o tendão muscular e os locais
de origem e de inserção muscular.

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234 © Cinesiologia

Estrutura microscópica do músculo estriado esquelético


Na Figura 2, poderemos ver a organização do músculo es-
quelético apresentada em uma amostra de sua composição, que
é feita por numerosas fibras com diâmetros variando entre 10µm
e 80µm. O sarcolema é a membrana celular da fibra muscular, po-
rém, ele é formado por uma verdadeira membrana celular, chama-
da "membrana plasmática", e por um revestimento externo com-
posto de uma fina camada de material polissacarídeo, que contém
numerosas fibrilas finas de colágeno. Cada fibra muscular contém
desde muitas centenas a vários milhares de miofibrilas que, por
sua vez, apresentam filamentos de miosina (grossos) e filamentos
de actina (finos) responsáveis pela contração muscular. Nota-se
que os filamentos de actina e de miosina se interdigitam em parte,
fazendo com que as miofibrilas apresentem faixas alternadas cla-
ras e escuras. As faixas claras só contêm filamentos de actina e são
chamadas de faixas I, enquanto que as faixas escuras contêm os
filamentos de miosina, além das extremidades dos filamentos de
actina, e são chamadas de faixas A (GUYTON; HALL, 2006).
Schmidt (1979) mostra-nos que, na metade da faixa I, há
uma estria mais delgada e escura, denominada "disco Z". A por-
ção compreendida entre dois discos Z constitui a menor unidade
funcional da miofibrila – o sarcômero. Quando a fibra nervosa está
em seu comprimento normal de repouso, ou seja, completamente
estirada, o sarcômero tem uma extensão de cerca de 2 µm. Nesse
comprimento, os filamentos de actina sobrepõem-se, totalmente,
aos filamentos de miosina e começam a se sobrepor uns sobre os
outros, sendo capazes de gerar sua força máxima de contração.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 235

músculo do
esqueleto

feixe de fibras

fibra muscular

faixa faixa
A l
miofibrila

sarcômero
Z
disco Z

miofilamentos

filamento
de actina
moléculas de actina

filamento
de miosina

moléculas de
miosina

meromiosina leve – pesado

Fonte: SCHMIDT (1979, p. 151).


Figura 2 Microestrutura do músculo estriado esquelético.

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236 © Cinesiologia

Guyton e Hall (2006) citam que, no interior da fibra muscu-


lar, estão presentes as miofibrilas, que ficam suspensas em uma
matriz formada pelos constituintes intracelulares chamada "sarco-
plasma". O líquido do sarcoplasma contém grandes quantidades
de íons e de enzimas proteicas além de um grande número de mi-
tocôndrias que ficam tanto entre as miofibrilas quanto paralelas a
elas, o que indica a sua necessidade pela contração em quantidade
elevada de trifosfato de adenosina (ATP) que, por sua vez, é forma-
do nas mitocôndrias.

O mecanismo da contração muscular


Guyton e Hall (2006) ainda falam que a contração muscular
ocorre segundo as etapas sucessivas que serão descritas a seguir.
Inicialmente, um potencial de ação percorre o axônio motor até
suas terminações nas fibras musculares. Em cada terminação, há a
secreção de uma pequena quantidade da substância neurotrans-
missora chamada "acetilcolina", que atua sobre uma área localiza-
da na membrana da fibra muscular abrindo numerosos canais pro-
teicos, que permitem o influxo de uma grande quantidade de íons
sódio para o interior da membrana da fibra muscular. Isto produz
um potencial de ação na fibra muscular, penetrando, profunda-
mente, no interior dessa fibra, fazendo com que o retículo sarco-
plasmático libere, para as miofibrilas, uma grande quantidade de
íons cálcio, que ficam armazenadas em seu interior. Os íons cálcio
geram forças atrativas entre os filamentos de actina e de miosina,
fazendo com que estes deslizem um em direção ao outro, o que
constitui o processo contrátil. Após uma fração de segundo, os
íons cálcio são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmá-
tico, no qual permanecem armazenados até que ocorra um novo
potencial de ação muscular, terminando, dessa forma, a contração
muscular. Observe a Figura
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 237

Fonte: LENT (2004, p. 351).


Figura 3 Fluxograma descrevendo as principais etapas fisiológicas e moleculares
da contração muscular.

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238 © Cinesiologia

Lent (2004) menciona que a entrada de cálcio no sarcoplas-


ma dá início aos mecanismos moleculares da contração muscular.
A troponina capta os íons cálcio e altera a conformação do com-
plexo molecular dos filamentos de actina. Ocorre um afastamen-
to entre a tropomiosina e a actina, que expõe os sítios da actina
capazes de se ligarem à miosina. Quando isto ocorre, formam-se
pontes entre a actina e as cabeças da miosina (chamadas "pontes
transversas"), que podem ser observadas na Figura 4.

Fonte: Bear, Connors, Paradiso (2008, p. 436).


Figura 4 Mecanismo molecular da contração muscular: formação das pontes transversas.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 239

Lent (2004) ainda cita que a formação das pontes transversas


provoca o deslizamento da actina sobre a miosina, aproximando,
assim, as linhas Z, o que resulta no encurtamento do sarcômero e,
consequentemente, na contração da fibra muscular. Quanto maior
a aproximação entre as linhas Z, maior será a contração muscular,
conforme vemos na Figura 5.

Figura 5 Os estados relaxado e contraído de unia miofibrila, mostrando o deslizamento dos


filamentos de actina sobre os filamentos de miosina.

Quando cessa a despolarização do sarcolema, ocorrem fe-


nômenos inversos que resultam no relaxamento da fibra muscular
(SCHMIDT, 1979).
Assim, Lent (2004) relata que os movimentos que fazemos
dependem da formação das pontes transversas que ligam os fi-
lamentos de actina aos de miosina, seja para encurtar as fibras
musculares na contração seja para alongá-las no relaxamento. Por
isso, podemos estirar um músculo passivamente, puxando-o ou
movendo uma articulação. Sua resistência dependerá, apenas, da
elasticidade das fibras musculares e do tecido conjuntivo que as
envolve. É importante ressaltar que durante o alongamento mus-

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240 © Cinesiologia

cular, quanto maior o estado de relaxamento do músculo, maior a


capacidade de o estirar. No entanto, não podemos deixar de consi-
derar as propriedades mecânicas das fibras musculares e do tecido
conjuntivo.

Tipos de contração muscular


Como estudamos anteriormente, o termo "contração" refe-
re-se ao desenvolvimento da tensão dentro de um músculo, não
implicando, necessariamente, qualquer encurtamento visível do
músculo.
Quando um músculo se contrai e produz força sem nenhu-
ma alteração macroscópica no ângulo da articulação, a contra-
ção é chamada "isométrica", "estática" ou "de sustentação", as
quais funcionalmente estabilizam as articulações (SMITH; WEISS;
LEHMKUHL, 1997). Rasch (1991) acrescenta que, durante a contra-
ção isométrica, a tensão é insuficiente para mover uma parte do
corpo contra uma dada resistência.
Quando um músculo desenvolve tensão suficiente para su-
perar uma resistência, de modo que o músculo encurte visivel-
mente e mova uma parte do corpo, diz-se que ele está em contra-
ção concêntrica. Quando uma dada resistência sobrepõe a tensão
muscular, visto que o músculo se alonga durante a contração, esta
é chamada "contração excêntrica". As contrações musculares con-
cêntrica e excêntrica são conhecidas como "isotônicas" pelos fisio-
logistas (RASCH, 1991).
Uma contração é isocinética quando a velocidade de movi-
mento é constante (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).
Como exemplo para a afirmação citada anteriormente, usa-
remos o levantar-se de uma cadeira. Neste momento, o músculo
quadríceps é contraído concentricamente e o ventre muscular é
encurtado; já no movimento contrário, o sentar-se em uma cadei-
ra, uma contração excêntrica do quadríceps é provocada e é alon-
gado o ventre muscular.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 241

INFORMAÇÃO:
A identificação de uma contração excêntrica é um problema persis-
tente e crucial na análise do desempenho. Durante a realização de
flexões de braço no solo, ocorre a extensão do cotovelo e a abdução
do membro superior. Durante a parada momentânea que ocorre entre
as fases de elevação e de estática, acontece a contração concêntrica
dos extensores do cotovelo e dos abdutores do ombro. Já na fase de
descida, ocorre a contração excêntrica desses músculos.

6. EXCITAÇÃO DOS NERVOS E DAS FIBRAS MUSCULA-


RES ESQUELÉTICAS
Todas as células vivas são envoltas de uma membrana formada
por uma bicamada fosfolipídica contínua e por proteínas com várias
características em toda a sua extensão. Tanto o tecido nervoso quan-
to o tecido muscular são excitáveis, ou seja, suas membranas podem
ser despolarizadas. O músculo esquelético e o neurônio que o inerva
possuem características de membrana, as quais asseguram que a ex-
citação ocorrida gerará um potencial de ação.
O estímulo que produz a contração muscular pode ser elétri-
co, mecânico, químico ou térmico, mas, usualmente, é de origem
química; inicia-se no sistema nervoso e é conduzido a cada fibra
muscular por uma fibra nervosa (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).

Potencial de membrana
Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), existem diferenças
de potencial elétrico nas membranas das células vivas. Os líqui-
dos que banham o lado de dentro e o lado de fora de cada célula
contêm partículas carregadas (íons) dissolvidas em solução. O po-
tencial do interior de uma célula é medido na comparação com o
líquido existente fora da membrana. Sob condições de repouso,
o potencial de membrana ou potencial de repouso é negativo. As
células musculares e nervosas e os receptores sensitivos mantêm
um potencial de membrana mais negativo (-60mv a --80mv) que
em outros tipos de células.

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242 © Cinesiologia

Potencial de ação
Se um estímulo suficiente de força for aplicado a uma célula
excitável, esse estímulo será capaz de fazer com que a membrana
celular se torne mais permeável a certos íons, o que resultará em
uma troca rápida de íons positivos e negativos. Os sinais neurais
são transmitidos por meio dos potenciais de ação, que são varia-
ções muito rápidas do potencial de membrana. Cada potencial de
ação começa pela modificação abrupta do potencial de repouso
negativo normal para um potencial positivo (despolarização) e
termina com a modificação quase tão rápida para o potencial ne-
gativo (repolarização). A onda de despolarização, avançando con-
jugada com a repolarização, é denominada um potencial de ação,
como podemos observar na Figura Para conduzir um sinal neural,
o potencial de ação se desloca ao longo da fibra nervosa até atingir
seu término (GUYTON; HALL, 2006).
Já em músculos de mamíferos, a velocidade de condução é
de, aproximadamente, 5m/s. A duração dos potenciais de ação não
mostra uma diferença significativa entre os indivíduos de ambos
os sexos de 20 a 40 anos de idade, mas torna-se prolongada com
a idade ou a temperatura muscular baixa, levando a um tempo de
resposta reflexa mais longa.

Fonte: BEAR, CONNORS, PARADISO (2008, p. 77).


Figura 6 Potencial de ação registrado por um osciloscópio (a) e as fases do potencial de ação (b).
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 243

Neurotransmissão
Como vimos anteriormente, o homem move-se pela ação de
seus músculos, e, para que isso aconteça, é preciso que as contra-
ções musculares sejam controladas com precisão. A parte motora
do sistema nervoso central é responsável por esse controle, que,
pela excitação dos nervos motores, provoca potenciais na placa
motora (junção mioneural).
Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), esses potenciais de
placa motora causam a liberação do neurotransmissor acetilcoli-
na, que se difunde rapidamente e interage com os receptores da
membrana da fibra muscular. Essa interação aumenta a permea-
bilidade da membrana muscular para íons sódio e outros íons. O
movimento de íons para o interior da célula muscular despolariza
a membrana da fibra muscular e deflagra, nas fibras musculares,
potenciais de ação que por elas se propagam.
Segundo Guyton e Hall (2006), a fibra muscular esqueléti-
ca é tão grossa que os potenciais de ação que se propagam por
sua membrana superficial produzem um fluxo de corrente quase
nulo na profundidade dessas fibras. Contudo, para que ocorra a
contração, essas correntes elétricas devem penetrar a vizinhança
imediata de todas as miofibrilas. Isto é conseguido na transmissão
dos potenciais de ação pelos túbulos transversos (túbulos T), que
atravessam toda a espessura da fibra muscular de um lado a outro.
Os potenciais de ação nos túbulos T, por sua vez, fazem com que
o retículo sarcoplasmático libere íons cálcio na vizinhança imedia-
ta de todas as miofibrilas, e esses íons cálcio, então, induzem à
contração. Esse processo global é chamado "acoplamento excita-
ção-contração". À excitação da membrana muscular, segue-se a
contração da fibra. Portanto, uma alteração no potencial da mem-
brana muscular desencadeia a reação das proteínas contráteis do
músculo – actina e miosina. Observe esse processo na Figura 7 a
seguir.

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244 © Cinesiologia

Fonte: BEAR, CONNORS, PARADISO (2008, p. 433).


Figura 7 A estrutura de uma fibra muscular: os túbulos T e o retículo sarcoplasmático.

Após provocar o aumento da permeabilidade da membra-


na muscular para diversos íons, a acetilcolina é rapidamente ina-
tivada pela enzima colinesterase. O tempo curto – cerca de dois
milissegundos – que a acetilcolina permanece em contato com
a membrana muscular é suficiente para excitar a fibra muscular.
Entretanto, a inativação rápida da acetilcolina pela colinesterase
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 245

impede que a membrana muscular seja novamente excitada após


a fase de repolarização do primeiro potencial de ação, ou seja, a hi-
perpolarização (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008; SMITH; WEISS;
LEHMKUHL, 1997).

7. FONTES DE ENERGIA PARA A CONTRAÇÃO MUS-


CULAR
Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) mencionam que as células
musculares, assim como as demais células do organismo, neces-
sitam de energia para a atividade metabólica de manutenção da
vida mesmo estando em repouso. Quando o músculo se contrai,
a energia química é convertida em energia mecânica por meio da
clivagem de ATP em adenosina difosfato (ADP). Assim, a fonte final
de energia para os processos metabólicos é o ATP.
A maior parte dessa energia é necessária para o deslizamen-
to das miofibrilas na formação das pontes cruzadas, mas pequenas
quantidades de energia também são necessárias para bombear o
cálcio do citoplasma da célula muscular de volta para o retículo
sarcoplasmático no término da contração e para bombear íons só-
dio e potássio (bomba de sódio e de potássio), por meio da mem-
brana da fibra muscular, para manter o ambiente iônico adequado
à propagação dos potenciais de ação.
Contudo, a concentração do ATP presente na fibra muscular
é suficiente para manter a contração por, no máximo, um a dois
segundos. No entanto, após o ATP ter sido clivado em ADP, este
é refosforilado para formar um novo ATP em fração de segundo.
Existem várias fontes de energia para essa fosforilação (GUYTON;
HALL, 2006).
A fosfocreatina contém uma ligação fosfato de alta energia
semelhante à do ATP, e é uma das fontes de energia utilizadas para
a reconstituição deste, embora contenha uma quantidade pouco
maior de energia livre se comprada ao ATP. Como resultado, a fos-

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246 © Cinesiologia

focreatina é clivada de imediato, e a energia liberada provoca a


ligação de um novo íon fosfato ao ADP para reconstituir o ATP. En-
tretanto, a quantidade de fosfocreatina é muito reduzida, e, como
consequência, a energia combinada entre o ATP e a fosfocreati-
na armazenadas no músculo são capazes de manter a contração
máxima do músculo por cerca de apenas sete ou oito segundos
(GUYTON; HALL, 2006).

Metabolismo anaeróbio
Para Guyton e Hall (2006), a mais importante fonte de ener-
gia usada para reconstituir tanto o ATP quanto a fosfocreatina é
o glicogênio previamente armazenado nas células musculares. A
rápida degradação enzimática do glicogênio (glicólise) para áci-
do pirúvico e ácido lático libera uma energia que é utilizada para
converter o ADP em ATP, que pode ser usado, diretamente, para
energizar a contração muscular ou para reconstituir a fosfocreati-
na, como mostrado nas Figuras 8 e As reações glicolíticas podem
ocorrer, até mesmo, na ausência do oxigênio, de modo que a con-
tração muscular possa ser mantida por um breve período. A velo-
cidade com que é formado o ATP pelo processo glicolítico é duas
vezes e meia maior que a da formação de ATP pela reação entre
os nutrientes celulares e o oxigênio. Todavia, infelizmente, ocorre
o acúmulo de muitos produtos finais da glicólise nas células mus-
culares, de modo que, isoladamente, a glicólise só pode manter a
contração muscular máxima por cerca de um minuto, como mos-
tra as Figuras 8 e

Fonte: arquivo pessoal do autor.


Figuras 8 e 9 Metabolismo anaeróbio gerador de energia para a contração muscular e para
reconstituir a fosfocreatina.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 247

Metabolismo aeróbio
A última fonte de energia é o processo do metabolismo oxi-
dativo, ou seja, a combinação de oxigênio com os diversos nutrien-
tes celulares para formar o ATP. É importante sabermos que mais
de 95% de toda a energia utilizada pelos músculos em contrações
continuadas de longa duração derivam dessa fonte. Os nutrientes
consumidos são os carboidratos, as gorduras e as proteínas. Para a
atividade muscular de longa duração, a maior proporção de ener-
gia consumida deriva, em sua maior parte, das gorduras (GUYTON;
HALL, 2006). Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), as molé-
culas de carboidrato, de gordura e de proteína são mobilizadas a
partir dos locais de armazenamento no corpo; já as enzimas que-
bram as grandes moléculas em unidades menores, que podem ser
oxidadas em uma série de reações químicas chamadas "ciclo do
ácido cítrico" ou "Ciclo de Krebs". Observe a Figura

CURIOSIDADE:
Quando ocorre a morte de um indivíduo, cessa, subitamente, o
fornecimento de energia para a contração muscular. Congelam-se
as pontes transversas, e o resultado é a rigidez do cadáver, conhe-
cida, na comunidade médica, como "rigor mortis".

Figura 10 Ciclo de Krebs. Metabolismo aeróbio gerador de energia para a contração


muscular.

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248 © Cinesiologia

Eficiência muscular
A eficiência muscular é calculada de acordo com a porcen-
tagem de energia consumida transformada em trabalho, não em
calor. O percentual da energia química dos nutrientes consumida
pelo músculo que pode ser convertida em trabalho é de 20% a 25%,
sendo o restante transformado em calor. Mas levantar uma carga,
por exemplo, exige de quatro a cinco vezes mais energia química,
o que só poderia ser realizado se toda a energia fosse direcionada
à movimentação da carga (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).
A razão para essa baixa eficiência é de que cerca da metade
da energia dos nutrientes é perdida na formação do ATP, e apenas
cerca de 40% a 45% da energia do próprio ATP pode ser, posterior-
mente, transformada em trabalho.
Guyton e Hall (2006) citam que a eficiência máxima só pode
ser conseguida quando o músculo se contrai com velocidade mo-
derada, ou seja, se ele se contrair muito lentamente, ou sem que
ocorra algum movimento, serão liberadas grandes quantidades
de calor mesmo se estiver sendo realizado pouco ou nenhum tra-
balho, o que diminui a eficiência. Entretanto, se a contração for
muito rápida, grande parte da energia será consumida para vencer
o atrito viscoso no interior do próprio músculo, e isto também re-
duzirá a eficiência da contração. Comumente, a eficiência máxima
será obtida quando a velocidade da contração for de cerca de 30%
da velocidade máxima.

8. TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES


Dentro de um músculo esquelético, há diferentes tipos de
fibras musculares dispersamente distribuídas. É fundamental co-
nhecer os tipos morfológicos de fibras musculares, uma vez que
existe a correlação destas com a função que os músculos execu-
tam, ou seja, o tipo de função desempenhada pelo músculo está
relacionado com os tipos de fibras musculares que o compõem, já
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 249

que, em cada um deles, pode predominar um dos tipos de fibras


em detrimento das demais.
Smith, Weiss, Lehmkuhl (1997) e Lent (2004) mencionam
que, para desempenhar as diferentes funções motoras com maior
eficiência, existem três tipos diferentes de fibra muscular esque-
lética, que são baseadas nas propriedades físicas e metabólicas.
Assim, temos os tipos I, IIB e IIA, como podemos ver na Tabela 1.
• Tipo I: as fibras vermelhas e lentas dispõem de um rico
suprimento sanguíneo, de muitas mitocôndrias, muita
mioglobina (proteína que liga o oxigênio e fornece a to-
nalidade avermelhada dessas fibras) e um metabolismo
fortemente aeróbio. Por essas características, tais fibras
são especializadas em contrações lentas e sustentadas e
são muito resistentes à fadiga.
• Tipo IIB: as fibras brancas rápidas, ao contrário das ver-
melhas, possuem poucos capilares, poucas mitocôndrias
e pouca mioglobina, mas também possuem grandes re-
servas de glicogênio e um metabolismo anaeróbio ge-
rador de ácido lático. Essas fibras são especializadas em
contrações rápidas, fortes e transitórias, mas são muito
fatigáveis.
• Tipo IIA: fibras com características mistas.

Tabela 1 Características das fibras musculares esqueléticas basea-


das nas propriedades físicas e metabólicas.
PROPRIEDADES TIPO I TIPO IIB TIPO IIA
Cor Vermelho Branco Intermediária
Número de
Alto Baixo Intermediário
mitocôndrias
Velocidade de
Lenta Rápida Rápida
contração
Tamanho Pequeno Grande Intermediário
Resistência à fadiga Alta Baixa Intermediária

Fonte: adaptado de LENT (2004, p. 352).

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Podemos mencionar o bíceps braquial como exemplo, pois,


em sua composição, possui maior proporção de fibras do tipo IIB e
do tipo IIA, o que lhe confere maior força e velocidade de contra-
ção. Contrariamente, os músculos intervertebrais possuem maior
proporção de fibras do tipo I, e é por isso que contribuem para a
contínua sustentação do tronco.
Geralmente, nos músculos distais, predominam as fibras do
tipo IIB, enquanto os músculos proximais possuem maior propor-
ção de fibras musculares do tipo I (LENT, 2004).

9. A UNIDADE MOTORA
Retratada na Figura 11, a unidade motora, que representa a
unidade funcional básica do sistema neuromuscular, consiste em
um motoneurônio, proveniente do corno anterior da medula espi-
nhal, com seu axônio e com as fibras musculares por ele inervadas
(ENOKA, 2000).

Fonte: BEAR, CONNORS, PARADISO (2008, p. 429).


Figura 11 A unidade motora.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 251

Para Hamil e Knutzen (1999), um neurônio pode tanto termi-


nar em até 2000 fibras nos músculos – assim como o glúteo máxi-
mo – quanto em apenas umas cinco ou seis fibras – como ocorre
no orbicular dos olhos. O número médio de fibras por neurônio
é algo entre 100 e 200 fibras musculares. As fibras inervadas por
cada unidade motora além de não ficarem arranjadas em feixes,
também não ficam todas no mesmo fascículo, mas, sim, espalha-
das sobre o músculo.
Quando uma unidade motora é ativada suficientemente, to-
das as fibras musculares a ela pertencentes se contraem em pou-
cos milissegundos. Isto é denominado "princípio tudo ou nada".
Se o músculo apresentar unidades motoras com proporções muito
baixas entre o nervo e a fibra muscular (razão de inervação), mais
preciso e coordenado será o movimento feito por esse músculo.
Exemplos de movimentos precisos e coordenados são os realiza-
dos pelos músculos da mão.
Segundo Hamil e Knutzen (1999), os membros inferiores res-
ponsáveis por funções como o suporte de peso ou a marcha neces-
sitam de respostas musculares em massa, ou seja, de movimentos
mais grosseiros. Dessa forma, esses músculos possuem altas rela-
ções neurônio-fibra muscular.
Lent (2004) afirma que as unidades motoras são, geralmen-
te, classificadas em três tipos, cujos critérios para divisão são base-
ados em suas propriedades mecânicas: lenta (L), rápida resistente
à fadiga (RRF) e rápida fatigável (RF). Embora exista uma sobrepo-
sição entre os três tipos, as unidades motoras L geralmente pos-
suem axônios e motoneurônios menores, inervando menos fibras
que as unidades motoras RF. Observe a Tabela 2.

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252 © Cinesiologia

Tabela 2 Os tipos de unidades motoras e sua correlação com as


fibras musculares.
PROPRIEDADES TIPO L TIPO RF TIPO RRF
Fibras musculares L R Intermediárias
Motoneurônios Pequenos Grandes Médios
Axônios Finos Calibrosos Médios
Limiar de
Baixo Alto Médio
excitabilidade
Velocidade de
Baixa Alta Média
condução
Frequência de
Baixa Alta Média
disparo
Tempo de contração Longo Curto Intermediário
Velocidade de
Lenta Rápida Rápida
contração
Força contrátil Pequena Grande Média
Resistência à fadiga Alta Baixa Alta
Fonte: LENT (2004, p. 356).

Registros eletromiográficos de uma única unidade motora


indicam que as unidades motoras L são recrutadas inicialmente e
ativadas durante muitos tipos de atividades, enquanto que as uni-
dades RF, e até certo ponto as RRF, são recrutadas para as ativida-
des que exigem maior força e menor tempo de duração (ISHIHARA
et al., 2003).

10. RECEPTORES ARTICULARES, TENDINOSOS E MUS-


CULARES
Receptores são mecanismos especializados que captam in-
formações das estruturas do sistema motor e informam o sistema
nervoso central sobre as alterações mecânicas que ocorrem. Isto
permite ao sistema nervoso central realizar o controle preciso da
função motora. Os receptores estão localizados nas estruturas ar-
ticulares, nos tendões e no músculo esquelético, como veremos, a
seguir, nas Figuras 12, 13 e 14, respectivamente.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 253

Fibra
muscular
Corpúsculos
pacinianos
(tipo 2)

Aferente lb Terminações de
Ruffini (tipo 1) Terminações
nervosas livres
(tipo 4)
Receptores dos
ligamentos
(tipo 3)

Cápsula

Tendão

Figura 12 Receptores articulares.

Figura 13 Receptor tendinoso: órgão tendinoso de Golgi.

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254 © Cinesiologia

Aferente
mecanoreceptor
IA ou II
Fibras musculares
intrafusais

Fibras musculares
extrafusais

Cápsula

Neurônio Neurônio
motor α fusiomotor γ

Fonte: LENT (2004, p. 358).


Figura 14 Receptor muscular: fuso muscular.

As alterações de tensão e de posição das estruturas nas


quais os receptores estão situados geram um padrão de impulsos
nervosos no receptor para transmitir a informação a outras partes
do sistema nervoso. Como resultado, temos simultâneas altera-
ções no ângulo articular, na velocidade do movimento articular,
na quantidade de compressão ou de tração articular, como tam-
bém alterações no comprimento muscular e na força de contração
muscular são transmitidas para os centros da medula espinhal e
do cérebro.
No sistema nervoso central, a informação é integrada à que
procede de outros órgãos sensoriais e é usada pelos centros de
controle motor no cérebro para ajustar, automaticamente, a loca-
lização, o tipo, o número e a frequência de ativação de unidades
motoras, indispensáveis à realização de movimentos coordenados
e precisos (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 255

Receptores articulares
Para Hamil e Knutzen (1999), limitadas informações sobre os
impulsos dos neurônios sensoriais são provenientes de receptores
localizados no interior e ao redor das articulações sinoviais (Figura
12). As terminações de Ruffini, localizadas na cápsula articular, res-
pondem às mudanças na posição articular e na velocidade de mo-
vimento da articulação. O corpúsculo de Pacini é outro receptor,
também localizado na cápsula articular e, ainda, no tecido conecti-
vo, que responde à pressão criada pelos músculos, como a dor in-
tra-articular. Os receptores articulares, assim como os receptores
tendinosos e os musculares, continuamente informam o sistema
nervoso sobre as condições no interior e ao redor da articulação.

Receptor tendinoso
Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) afirmam que os órgãos ten-
dinosos de Golgi (OTG) estão localizados no interior dos tendões
musculares próximos ao ponto de inserção da fibra muscular no
tendão (Figura 13). O OTG é estimulado pela tensão produzida pe-
las fibras musculares, e os impulsos nervosos são transmitidos por
grandes axônios aferentes de condução rápida à medula espinhal
e ao cerebelo. Esses impulsos provenientes dos OTGs excitam os
interneurônios inibidores, que inibem os neurônios do músculo
em contração limitando a força àquela tensão que pode ser tolera-
da pelos tecidos que estão sendo tensionados.
Assim, os OTGs são responsáveis por detectar as variações de
força (tensão) muscular. Quando ocorre aumento de tensão, como
quando tentamos levantar um objeto muito pesado, por exemplo,
as fibras colágenas dos OTGs são estiradas; quanto maior é a ten-
são, maior é o potencial do receptor e, consequentemente, maior
é a frequência dos potenciais de ação conduzidos ao sistema ner-
voso central (LENT, 2004).

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256 © Cinesiologia

Receptor muscular
Os fusos musculares são pequenos e sofisticados órgãos re-
ceptores que possuem a função de detectar as variações do com-
primento muscular (Figura 14). Cada um deles é formado de cinco
a dez fibras musculares modificadas, muito finas e agrupadas em
forma de fuso, envoltas por uma cápsula conjuntiva que as separa
das fibras musculares comuns; a fibra intrafusal, sendo uma fibra
muscular, também se contrai sob comando neural.
Quando um músculo se contrai ou relaxa, seu comprimento, e
também o dos fusos musculares em seu interior, varia. Da mesma for-
ma pode variar quando o músculo é estirado pelo próprio indivíduo ou
por outra pessoa, como, por exemplo, durante o alongamento muscu-
lar. É isto que faz o médico quando percute o joelho do paciente para
pesquisar o reflexo patelar, conforme observado na Figura 15, em que
o tendão do músculo quadríceps da coxa é atingido, indiretamente,
provocando um estiramento brusco do músculo. Esse estiramento é o
estímulo para o movimento reflexo resultante (LENT, 2004).

Figura 15 Pesquisa do reflexo patelar.


© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 257

Assim, podemos dizer que o fuso muscular detecta altera-


ções no comprimento muscular e informa, sobre tais modificações,
o sistema nervoso central, que prontamente realiza os ajustes ne-
cessários para a atividade motora.

11. O CONTROLE MOTOR


Até o momento, foram descritos os mecanismos fisiológicos bá-
sicos responsáveis pelo desenvolvimento de quantidades graduadas de
tensão nas unidades motoras contidas dentro de um único músculo.
No entanto, para realizar atividades motoras especializadas,
como a marcha, por exemplo, é necessário um conjunto altamente
integrado de comandos motores para ativar (ou inibir) os múscu-
los apropriados na sequência correta.
De que modo o sistema nervoso consegue ativar os múscu-
los para conseguir esses movimentos tão variados e complexos?
A Figura 16 nos mostra, um organograma das estruturas envol-
vidas na execução dos movimentos, que podem ser classificadas em:
efetores, ordenadores, controladores e planejadores. Os receptores,
como discutido anteriormente, são órgãos sensoriais que têm a função
de captar informações dos meios interno e externo. Essa informação
captada é transportada ao sistema nervoso central por vias aferentes.
Inicialmente, precisamos do executor da ação ou efetor, função
essa desempenhada pelos músculos. Posteriormente, seria necessá-
rio um sistema de comando, isto é, as estruturas ordenadoras, cuja
função é transmitir aos músculos o comando para ação. Nessa cate-
goria, entra um conjunto de regiões neurais situadas na medula espi-
nhal, no tronco encefálico, no mesencéfalo e no córtex cerebral.
Mas quem garante que os comandos estão corretos e que os
movimentos estão sendo executados adequadamente? Nesse ce-
nário, temos as estruturas controladoras, o cerebelo e os núcleos
da base (gânglios da base), capazes de checar, a cada momento, se
o sistema funciona adequadamente.

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258 © Cinesiologia

Fonte: LENT (2004, p. 344).


Figura 16 Diagrama descritivo do sistema motor.

Finalmente, já que a intenção final de um ato motor depen-


de de uma sequência complexa e ordenada, temos as estruturas
planejadoras, cuja função é idealizar uma sequência ordenada e
detalhada de instrução que fosse veiculada aos ordenadores para
que eles as transmitissem aos músculos. Essa função de planeja-
mento motor é exercida por regiões específicas do córtex cerebral,
diferentes das regiões de comando (LENT, 2004).

Integração sensório-motora
Os neurônios sensitivos conduzem os impulsos dos múscu-
los esqueléticos aos neurônios motores da medula espinhal, que
transmitem impulsos de volta a esse músculo, formando uma alça
de retroalimentação, que regula a atividade de cada unidade mo-
tora do músculo. O circuito é o componente segmentar básico para
o controle do sistema motor.
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 259

Nenhum movimento, seja ele reflexo ou voluntário, pode


suceder sem que ocorra a integração sensório-motora. Esses cir-
cuitos regulam, automaticamente, o comprimento e a tensão dos
músculos. São responsivos, centralmente, ao impulso neural a par-
tir de vários centros motores e, perifericamente, ao impulso mecâ-
nico, tal como o estiramento do músculo.
Os impulsos sensoriais a partir dos músculos não influen-
ciam, apenas, os seus neurônios motores, mas, também, os neu-
rônios motores de músculos estreitamente correlatos. Assim, o
estiramento ou a contração de um músculo excita os seus próprios
neurônios motores, tanto aqueles que realizam uma ação oposta
quanto aos que facilitam a ação.
Enquanto uma resposta imediata está ocorrendo, os mesmos
sinais sensitivos estão sendo transmitidos aos centros superiores
do sistema nervoso para análises mais elaboradas do conteúdo de
informação, o que contribui na regulagem dos circuitos espinhais e
das unidades motoras que produzem movimento (SMITH; WEISS;
LEHMKUHL, 1997).

Cinestesia e propriocepção
Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) mencionam, ainda, que, em
condições normais, uma pessoa é capaz de saber, conscientemen-
te, a posição dos diversos segmentos do corpo no espaço e na rela-
ção com os outros segmentos, bem como se estes estão estáticos
ou se movimentando. Essa capacidade define o sentido de posição,
o conhecimento da posição estática de um determinado segmento
corporal e a cinestesia, ou seja, o conhecimento do movimento
dinâmico articular. Os sinais cinestésicos são gerados a partir dos
receptores sensoriais musculares, tendinosos e articulares em res-
posta aos movimentos do corpo e à tensão nos tendões.
A propriocepção refere-se ao impulso sensorial que parte dos
receptores musculares, tendinosos e articulares para discriminar a
posição articular e o movimento articular, o que inclui a direção,

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260 © Cinesiologia

a amplitude e a velocidade, bem como a tensão nos tendões. Os


impulsos proprioceptivos são integrados em centros sensório-mo-
tores para a regulagem automática dos músculos posturais, man-
tendo o equilíbrio corporal (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997).

Tônus muscular postural


"Tônus postural" é o termo utilizado para particularmente
caracterizar a tensão nos músculos que estão ativamente envol-
vidos na manutenção das relações apropriadas para garantir pos-
turas convenientes nas diferentes partes do esqueleto. Os mús-
culos frequentemente usados para manter o corpo na posição
ortostática são classificados "músculos antigravitacionais", como,
por exemplo, os músculos do tronco, os flexores das extremidades
superiores e os extensores das extremidades inferiores (SMITH;
WEISS; LEHMKUHL, 1997).

12. CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS A RESPEITO DO CON-


TROLE MOTOR
É necessária uma compreensão das fisiologias muscular e
neural para o entendimento dos problemas clínicos associados aos
distúrbios do controle motor, e também é de grande importância
saber que o comprometimento do controle motor pode resultar
de muitas doenças, lesões ou incapacidades de desenvolvimento.

Alterações no tônus muscular


Tônus muscular é a quantidade de tensão do músculo em
repouso. Clinicamente, o tônus muscular é, em geral, avaliado
pela faixa de movimentação passiva. Em pessoas com o sistema
de controle motor íntegro, a resistência ao estiramento passivo é
mínima.
A lesão em qualquer estrutura do sistema motor pode inter-
ferir na capacidade de regular o tônus muscular. A hipotonia, tam-
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 261

bém chamada "flacidez" ou "resistência baixa ao estiramento pas-


sivo" ocorre em distúrbios cerebelares, em lesões dos neurônios
motores da medula espinhal e, temporariamente, após uma lesão
aguda nos neurônios motores do córtex cerebral (Figura 17).

Figura 17 Hipotonia muscular (flacidez).

Já o outro extremo, ou seja, a hipertonia ou resistência alta


ao estiramento passivo, ocorre em lesões crônicas nos neurônios
motores do córtex cerebral e em alguns distúrbios dos gânglios da
base (LUNDY-EKMAN, 2008). Há dois tipos de hipertonia:
• Hipertonia espástica ou espasticidade: na qual o grau de
resistência ao movimento passivo depende da velocida-
de.
• Rigidez: em que a resistência ao movimento passivo per-
manece constante, independentemente da velocidade
com que a força é aplicada.

Fraqueza e atrofia muscular


Quando um músculo não é usado durante longos períodos
de tempo, a quantidade de filamentos de actina e de miosina em

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262 © Cinesiologia

cada fibra muscular diminui, o que causa atrofia muscular e pode


resultar na diminuição da força muscular. A esse tipo de atrofia
provocada pela imobilidade, chamamos "atrofia de desuso", mos-
trada na Figura 18.
Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), os potenciais de
ação nas fibras musculares são responsáveis pela liberação de
substâncias tróficas que contribuem para a prevenção da atrofia
muscular. A falta de uso, causada por doença ou lesão nos neurô-
nios motores inferiores que inervam um músculo, remove a fonte
do suprimento contínuo de substâncias tróficas, podendo causar
uma progressiva atrofia de desnervação.

Figura 18 Atrofia muscular.

13. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, foi possível notar a importância de certos
conceitos de Anatomia e de Fisiologia para o entendimento da Ci-
nesiologia. Inicialmente, fizemos uma explanação sobre as estru-
turas macroscópica e microscópica do músculo estriado esquelé-
tico e sobre os mecanismos moleculares envolvidos na contração
© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 263

muscular. Estudamos os três tipos de fibras musculares e suas res-


pectivas características correlacionando-as com as características
das três unidades motoras.
Você pôde notar que, para ocorrer a contração muscular, é
necessária uma informação que provém do sistema nervoso, por
meio dos potenciais de ação, que causará, na junção neuromuscu-
lar, a liberação do neurotransmissor acetilcolina, responsável pelo
desencadeamento dos eventos para a contração muscular. Nota-
se, ainda, que, para ocorrer a contração, as fontes de produção de
energia, ou seja, o metabolismo aeróbio e o metabolismo anaeró-
bio, são necessárias.
A presença de receptores sensoriais nas articulações, nos
músculos e nos tendões informam o sistema nervoso central sobre
as características físicas e mecânicas das articulações, sendo indis-
pensáveis para que áreas específicas do sistema nervoso central
ordenem, controlem e planejem atos motores ordenados e coor-
denados. Entretanto, quando ocorrem doenças, lesões ou distúr-
bios de desenvolvimento, o controle motor, pelo sistema nervoso,
não é eficiente, o que pode gerar distúrbios de motricidade.

14. questões autoavaliativas


Por meio de uma autoavaliação, vamos verificar como está
sua aprendizagem. Tente responder, para si mesmo, às seguintes
questões.
1) Quais são os eventos envolvidos no processo de contra-
ção muscular?
2) Quais são as fontes de energia para a contração muscular?
3) Caracterize os diferentes tipos de fibras musculares.
4) Defina "unidade motora" e caracterize os tipos de uni-
dades motoras.
5) Quais são os tipos de receptores sensoriais e como atua
cada um deles?
6) Como ocorre o controle motor?

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264 © Cinesiologia

7) Qual é a importância da propriocepção no controle motor?


8) Caracterize as alterações no tônus muscular.
9) Quais são os tipos de atrofia muscular?

15. E-REFERÊNCIAS
Lista de Figuras
Figura 5 – Os estados relaxado e contraído de unia miofibrila, mostrando o deslizamento
dos filamentos de actina sobre os filamentos de miosina: disponível em:
<http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/biologia/imagens/
sarcomero_est_contr.gif>. Acesso em: 5 jan. 2010.
Figura 10 – Ciclo de Krebs. Metabolismo aeróbio gerador de energia para a contração
muscular: disponível em: <http://www.fisiologia.kit.net/bioquimica/ck/ciclokrebs.gif>.
Acesso em: 5 jan. 2010.
Figura 12 – Receptores articulares: disponível em: <http://br.monografias.com/
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SOBOTTA, J. Atlas de anatomia humana. 20 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
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Claretiano - Centro Universitário


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