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O QUE É GRAFFITE? O QUE É PIXAÇÃO?

A origem da pixação ou graffite é muito antiga. Sua base está nas pinturas
ruprestes da Antiguidade. Depois destas, outras formas de muralismo foram as
paredes de Pompéia, os túmulos dos faraós egípcios, as catacumbas de Roma, os
muros de Berlim. 1

Segundo os dicionários, pixação é rabiscar ou escrever em muros, fachadas


urbanas usando tinta em spray ou algum outro tipo de tinta. O conteúdo das
pichações variam entre protestos sociais e políticos, declarações de amor,
homenagens aos pais, auto promoção ou meros xingamentos.

A pixação vem da escrita (palavra ou letra), já o graffite, advém das artes


plasticas (imagem), mas o graffite e a pixação são basicamente iguais. Ambos teem
seu cenário na cidade e utilizam os mesmo elementos para sua produção. Ambos
também possuem em sua essência a subversão. Gitahy define as características
conceituais do graffite e da pixação da seguinte maneira:

“Subversivo, espontâneo, gratuito, efêmero;


Discute e denuncia valores sociais, políticos e econômicos com muito humor
e ironia;
Apropria-se do espaço urbano a fim de discutir, recriar e imprimir a
interferência humana na arquitetura de metrópole;
Democratiza e desburocratiza a arte, aproximando-a do homem, sem
distinção de raça ou de credo;
Produz em espaço aberto sua galeria urbana, pois os espaços fechados dos
museus e afins são quase sempre inacessíveis.” (GITAHY, p.18)

O princípio defendido pelos graffiteiros e pixadores é a liberdade de


expressão. Por isso a pixação só é vista basicamente em países onde a democracia
é teoricamente a forma de governo vigente. Por exemplo nos muros de Berlim as
pixações existiam apenas do lado ocidental. Nos periodo de ditadura no Brasil,
tivemos muros pixados que viraram registros histõricos de manifestacoes a favor da
democracia2. Mas, como foi dito, a democracia é apenas teórica e na verdade essa
liberdade de expressão nada mais é do que um grito pela própria liberdade. Gitahy,
citando Sudbreck diz que a arte é sempre o reflexo social de um povo. E ele mesmo
complementa dizendo: “No nosso caso, Brasil, reflexo de um povo oprimido. Que
sofre desrespeito em seus direitos humanos, falta de trabalho e habilitação, saúde,
educação, segurança, lazer, etc” (GITAHY, p.23)
1
Foto anexo Muro de Berlim
2
Foto anexo Abaixo a ditadura
Leirner vai mais além:

“O grande historiador francês Fernand Braudel tem uma teoria sobre a


decadência e as grandes cidades que ele chama de cidades-mundo.
Segundo ele, sempre houve crise, o passado desemboca no futuro de uma
maneira constante; e estas cidades (primeiro Veneza, depois Amsterdam,
Gênova, Antuérpia e hoje New York) funcionam como pólos organizadores
do equilíbrio mundial. Não seria esse o mesmo tipo de sistema que sempre
garante a arte e a estética o poder da renovação, desenvolvimento e
harmonia? Que garantiu, mesmo depois que a arte foi proclamada morta,
essa esperança e a certeza revolucionária de uma redenção para ela, como
a expressão de uma necessidade máxima – a própria liberdade? Não
estaria na América Latina por acaso (mesmo que ela não possua a tradição
da liberdade) esse futuro papel de equilíbrio e centralização? Não seriam os
nossos artistas os reais principiantes, a verdadeira força potencial de uma
nova era?” (LEIRNER, 1991, p. 101)

Gitahy, um conceituado graffiteiro com anos de carreira, define o pixo como a


arte dos graffiteiros artisticamente despreparados.3 Esse ponto de vista, no entanto,
é questionável. Vários são os debates em relação ao pixo. Sua estética e seu
significado são alguns dos temas discutidos sobre essa forma de arte. Assim como
no movimento artístico dadaísta, o pixo é muitas vezes, desprovido de significado, e
feito de forma espontânea e improvisada, mas com um conteúdo inconsciente de
protesto.

“É bem verdade que há, na essência de muitas propostas artísticas


modernas e sobretudo contemporâneas, uma procura consciente desta
parte soterrada da alma humana. Diferentemente dos surrealistas ou
dadaístas, alguns artistas buscam o estado original dela, a ancestralidade
da sua relação com o material por meio do qual se revela...A arte dos loucos
sempre equivale a um manifesto. Sempre propõe, por meio do contato com
a expressão de um universo desconhecido, um momento de reflexão sobre
o nosso Universo. Coloca-nos diante de verdades inquestionáveis para que
possamos suspeitar das premissas que construímos ao longo de todo nosso
processo cultural.” (LEIRNER, 1991, p. 127)

Em outubro de 2008 na 28ª. Bienal de São Paulo aconteceu um fato histórico


para o graffite no Brasil. Um grupo de 40 pixadores invadiu o pavilhão do Ibirapuera
e pixou paredes e vidros dentro das dependências do evento.4 O fato dividiu a
opinião pública, alguns defendendo a livre expressão que supostamente estava
sendo pregada no próprio evento, enquanto outros repudiaram severamente o
ocorrido classificando-o como puro vandalismo. Esse debate é benéfico, posto que,
suscita a discussão da arte e da democracia, liberdade e respeito mútuo. Leirner
explica muito bem esse impasse:
3
Foto anexo Alfabeto do pixo
4
Foto anexo Pixacao na Bienal
“É principalmente um exercício disciplina democrática que enfatiza o
respeito e a reflexão que se deve dedicar a qualquer gesto registrado pelo
ser humano. Seja ele um gesto gratuito, compulsivo ou mesmo apenas
artístico; seja ele político, mecânico, ou de pura propaganda , como as
pichações que suscitam agora tantas discussões.
Este é um exercício que, sem dúvida, não elimina o nosso sentido crítico e a
consciência da negatividade que certos atos podem ter sobre a integridade
e o equilíbrio do homem e do seu ambiente. Mas que pode, por outro lado,
nos tornar mais tolerantes, evitando entre outras coisas que clamemos pela
repressão, ainda que até agora tenhamos lutado justamente contra ela.”
(LEIRNER, 1991, p. 130)

Diz-se que a geração atual é uma geração desprovida de conceitos


comunitários. O hedonismo5 toma conta e as pessoas estão sempre em busca do
seu próprio bem estar. A internet é ainda um potencializador desse tipo de atitude.
As pessoas não buscam mais o bem estar comum, cada uma passa a vida lutando
pelos seus próprios interesses. Sendo assim, as manifestações em massa por um
ideal comum estão em extinção. A última grande manifestação pública de massa no
Brasil, foi em 1992, os Caras-Pintadas, que defendiam o impeachment do então
presidente Fernando Collor. Desde então a população está estagnada em num
conformismo preguiçoso. Os poucos insatisfeitos buscam expressar sua insatisfação
de maneira isolada. Leirner define esse fenômeno: “...o individualismo que
fragmentou e pluralizou a nossa cultura e que tomou lugar dos movimentos coletivos
“de fé”... o “novo narcisismo” que veio substituir o ideal coletivo, utópico, de construir
um “mundo melhor”.” (LEIRNER, 1991, p. 99).
Hoje o graffite é uma forma de pixação social e politicamente aceita, por ser
visualmente agradável, já havendo projetos de lei que prevêm o incentivo à esse tipo
de manifestação cultural. Mas e a pixação? Afinal, ela é ou não, uma forma de
expressão válida? Como posso conceituá-la esteticamente? Nas palavras de
Leirner:
“Na verdade, queremos limitar o ilimitável, transformar a confusão da vida
em frágeis arranjos de conhecimento verbal, confundindo especificidades
com conhecimento, como os cientistas costumam fazer. Escondemo-nos
atrás das palavras como refúgios do sentimento e da compreensão. A arte é
vista à distância, intimidadora e sacrossanta. E, no entanto, ela está tão
próxima de nós, tão relacionada com a experiência e os sentimentos que,
para nós, são únicos e representam a nossa melhor parte. O que é um
“bom” trabalho, afinal, se a arte é a parte de nós?” (LEIRNER, 1991, p. 125)

5
O hedonismo

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