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FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 2

NOME: _____________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: _________

GRUPO I

Leia com atenção o soneto de Antero de Quental que se segue.

DAS UNNENNBARE1

Oh quimera, que passas embalada


Na onda de meus sonhos dolorosos,
E roças co’os vestidos vaporosos
A minha fronte pálida e cansada!

5 Leva-te o ar da noite sossegada…


Pergunto em vão, com olhos ansiosos,
Que nome é que te dão os venturosos
No teu país, misteriosa fada!

Mas que destino o meu! e que luz baça


10 A desta aurora, igual à do sol posto,
Quando só nuvem lívida esvoaça!

Que nem a noite uma ilusão consinta!


Que só de longe e em sonhos te pressinta…
E nem em sonhos possa ver-te o rosto!…

ANTERO DE QUENTAL, Sonetos completos, [Lisboa], Ulisseia, 2002.

(1) A palavra alemã do título significa «indizível» ou «inefável».

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Comente a expressividade dos verbos «passar» (v. 1) e «roçar» (v. 3), relacionando-os com a ideia
que o sujeito poético pretende exprimir na primeira estrofe.

2. Identifique o recurso de estilo presente em «olhos ansiosos» (v. 6) e comente o seu valor
expressivo.

3. Divida o soneto em partes e justifique essa divisão.

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B

Leia as estâncias 95-96 do Canto VI d’Os Lusíadas. Em caso de necessidade, consulte as notas
apresentadas.

95 Por meio destes hórridos1 perigos,


Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores;
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
Não nos leitos dourados, entre os finos
Animais de Moscóvia zibelinos;2
Não cos manjares novos e esquisitos,
96 Não cos passeios moles e ouciosos,
Não cos vários deleites3 e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos;
Não cos nunca vencidos apetites,
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,
Que não sofre a nenhum que o passo mude
Pera algũa obra heroica de virtude;

LUÍS DE CAMÕES, Os Lusíadas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão,


5.ª ed., Lisboa, MNE/IC, 2003.

(1) hórridos: horríveis.


(2) animais […] zibelinos: peles caras de animais de regiões frias.
(3) deleites: prazeres suaves.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Comente a expressividade dos adjetivos presentes nos dois primeiros versos da primeira
estância transcrita, relacionando-os com a noção de «ser de fama amigo» (v. 3).

2. Explicite a intenção crítica manifestada pelo Poeta nos versos 5-8 da estância 95 e em toda a
estância 96.

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GRUPO II

Leia um excerto do discurso de António Barreto proferido em Castelo Branco, a 10 de junho de 2001.

Há momentos, na história de um país, em que se exige uma especial relação política e afetiva entre o
povo e os seus dirigentes. Em que é indispensável uma particular sintonia entre os cidadãos e os seus
governantes. Em que é fundamental que haja um entendimento de princípio entre trabalhadores e patrões.
Sem esta comunidade de cooperação e sem esta consciência do interesse comum nada é possível, nem
5 sequer a liberdade.
Vivemos um desses momentos. Tudo deve ser feito para que estas condições de sobrevivência, porque
é disso que se trata, estejam ao nosso alcance. Sem encenação medíocre e vazia, os políticos têm de falar
uns com os outros, como alguns já não o fazem há muito. Os políticos devem respeitar os empresários e os
trabalhadores, o que muitos parecem ter esquecido há algum tempo. Os políticos devem exprimir-se com
10 verdade, princípio moral fundador da liberdade, o que infelizmente tem sido pouco habitual. Os políticos
devem dar provas de honestidade e de cordialidade, condições para uma sociedade decente.
Vivemos os resultados de uma grave crise internacional. Sem dúvida. O nosso povo sofre o que outros
povos, quase todos, sofrem. Com a agravante de uma crise política e institucional europeia que fere mais os
países mais frágeis, como o nosso. Sentimos também, indiscutivelmente, os efeitos de longos anos de vida
15 despreocupada e ilusória. Pagamos a fatura que a miragem da abundância nos legou. Amargamos as
sequelas de erros antigos que tornaram a economia portuguesa pouco competitiva e escassamente inova-
dora. Mas também sofremos as consequências da imprevidência das autoridades. Eis por que o apuramento
de responsabilidades é indispensável, a fim de evitar novos erros.
Ao longo dos últimos meses, vivemos acontecimentos extraordinários que deixaram na população
20 marcas de ansiedade. Uma sucessão de factos e decisões criou uma vaga de perplexidade. Há poucos dias,
o povo falou. Fez a sua parte. Aos políticos cabe agora fazer a sua. Compete-lhes interpretar, não aproveitar.
Exige-se-lhes que interpretem não só a expressão eleitoral do nosso povo, mas também e sobretudo os seus
sentimentos e as suas aspirações. Pede-se-lhes que sejam capazes, como não o foram até agora, de dialogar
e discutir entre si e de informar a população com verdade. Compete-lhes estabelecer objetivos, firmar um
25 pacto com a sociedade, estimular o reconhecimento dos cidadãos nos seus dirigentes e orientar as energias
necessárias à recuperação económica e à saúde financeira. Espera-se deles que saibam traduzir em razões
públicas e conhecidas os objetivos das suas políticas. Deseja-se que percebam que vivemos um desses raros
momentos históricos de aflição e de ansiedade coletiva em que é preciso estabelecer uma relação especial
entre cidadãos e governantes. Os Portugueses, idosos e jovens, homens e mulheres, ricos e pobres, mere-
30 cem ser tratados como cidadãos livres. Não apenas como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados.
É muito difícil, ao mesmo tempo, sanear as contas públicas, investir na economia e salvaguardar o
Estado de proteção social. É quase impossível. Mas é possível. É muito difícil, em momentos de penúria, acudir
à prioridade nacional, a reorganização da Justiça, e fazer com que os Juízes julguem prontamente, com
independência, mas em obediência ao povo soberano e no respeito pelos cidadãos. É difícil. Mas é possível.
35 O esforço que é hoje pedido aos Portugueses é talvez ímpar na nossa história, pelo menos no último
século. Por isso são necessários meios excecionais que permitam que os cidadãos, em liberdade, saibam
para quê e para quem trabalham. Sem respeito pelos empresários e pelos trabalhadores, não há saída nem
solução. E sem participação dos cidadãos, nomeadamente das gerações mais novas, o esforço da comuni-
dade nacional será inútil.

http://www.publico.pt/politica/noticia/discurso-de-antonio-barreto-presidente-da-comissao-organizadoradas-comemoracoes-
do-dia-de-portugal-de-camoes-e-das-comunidades-portuguesas-1498333,
consultado em 28 de dezembro de 2015.

1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.7, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. Com a expressão «Vivemos um desses momentos» (linha 6), o orador refere-se a um momento
em que
(A) é preciso trabalhar em conjunto e ter consciência do bem comum.
(B) os dirigentes políticos devem combater as desigualdades sociais.
(C) o povo deve submeter-se à vontade do poder político.
(D) os dirigentes políticos devem interpretar a vontade do povo.

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1.2. Ao falar numa «encenação medíocre e vazia» (linha 7), o orador
(A) exprime a sua confiança no sistema político.
(B) refere uma característica negativa do comportamento de alguns políticos.
(C) evidencia o seu apreço pela classe política.
(D) enuncia uma debilidade essencial do sistema democrático.
1.3. No terceiro parágrafo do texto, o orador
(A) responsabiliza as autoridades políticas pela fragilidade económica do País.
(B) explica a fragilidade económica do País com a crise internacional.
(C) considera que os portugueses, grupo em que se inclui, foram também responsáveis pela
fragilidade económica em que o País se encontra.
(D) responsabiliza as autoridades políticas pela fragilidade económica do País, explica esta
fragilidade com a crise internacional e considera que os portugueses, grupo em que se inclui,
também foram responsáveis por ela.
1.4. A expressão «o povo falou» (linha 21) significa que
(A) os eleitores votaram.
(B) foram organizadas várias manifestações.
(C) o povo fez-se representar por um grupo que falou em seu nome.
(D) as pessoas organizaram movimentos cívicos.
1.5. O antecedente do pronome «[d]eles» (linha 26) é
(A) «os eleitores».
(B) «os cidadãos».
(C) «os políticos».
(D) «os objetivos».
1.6. Na passagem «É quase impossível. Mas é possível» (linha 32), encontramos uma
(A) anáfora.
(B) antítese.
(C) hipálage.
(D) metáfora.
1.7. A utilização do adjetivo «ímpar» (linha 35) permite ao orador
(A) enfatizar a dimensão daquilo que é exigido aos cidadãos portugueses.
(B) sublinhar a importância do consenso político no presente.
(C) mostrar que nunca foi tão necessário ter dirigentes políticos competentes.
(D) mostrar a sua confiança nos portugueses.

2. Classifique as orações que se seguem.

a) «que a miragem da abundância nos legou» (linha 15).

b) «que vivemos um desses raros momentos históricos de aflição e de ansiedade coletiva» (linhas 27-28).

3. Identifique o tipo de coesão assegurada pela repetição do vocábulo «lhes» (linhas 21-24).

GRUPO III

O desejo de evasão e de procura de uma outra realidade está presente na obra de muitos artistas. Para
muitos, a arte é uma forma de encontrar um mundo alternativo. Segundo outras conceções, pelo contrário, a
arte deve evidenciar uma preocupação com o mundo em que vivemos, tendo, eventualmente, uma missão
social ou política.
Num texto bem estruturado, com duzentas (200) a trezentas (300) palavras, defenda uma das perspetivas
apresentadas, fundamentando a sua opinião com, no mínimo, dois argumentos.

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