O filósofo Jean Galard discute no livro "Beleza Exorbitante" as relações entre ética e estética a partir da obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Suas reflexões surgem do choque causado pelas imagens de populações sofrendo, mas captadas de forma aparentemente bela por Salgado. Galard questiona por que fotografias de sofrimento geram mais questionamentos do que pinturas com temas semelhantes. Ele explora também ambiguidades na representação da dor e a "arte abjeta".
Descrição original:
Título original
Beleza Exorbitante - Reflexões sobre o Abuso Estético.doc
O filósofo Jean Galard discute no livro "Beleza Exorbitante" as relações entre ética e estética a partir da obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Suas reflexões surgem do choque causado pelas imagens de populações sofrendo, mas captadas de forma aparentemente bela por Salgado. Galard questiona por que fotografias de sofrimento geram mais questionamentos do que pinturas com temas semelhantes. Ele explora também ambiguidades na representação da dor e a "arte abjeta".
O filósofo Jean Galard discute no livro "Beleza Exorbitante" as relações entre ética e estética a partir da obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Suas reflexões surgem do choque causado pelas imagens de populações sofrendo, mas captadas de forma aparentemente bela por Salgado. Galard questiona por que fotografias de sofrimento geram mais questionamentos do que pinturas com temas semelhantes. Ele explora também ambiguidades na representação da dor e a "arte abjeta".
No prefácio de "Beleza Exorbitante - Reflexões sobre o Abuso Estético", o
filósofo e historiador da arte Jean Galard declara que os ensaios desse livro foram desencadeados pela exposição "Êxodos" (2000), do brasileiro Sebastião Salgado: "O repórter fotográfico mostra populações atingidas pela desgraça, expulsas pela guerra ou pela pobreza (...). Numerosos espectadores expressaram o mal-estar que suscitam, que deveriam suscitar tais imagens em que a beleza, diz-se, combina demais com a dor".
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Imagem de refugiados clicada em 1994 na Tanzânia integra a série "Êxodos", de Sebastião Salgado, tema do livro de Jean Galard
Não apenas os espectadores. Também críticos de arte publicaram artigos
sugerindo que Salgado tirava proveito do sofrimento, aventurava-se "perigosamente nos limites da desgraça e da beleza". A partir desse choque entre as imagens de Salgado e sua recepção crítica, Galard escreve um livro que aborda com excepcional clareza um tema complexo: o estatuto do belo nas artes e suas mutações, incluindo o sentido ético da representação.
"Beleza Exorbitante" não é sobre a fotografia, mas identifica nesta (e em
linguagens correlatas, como cinema, televisão, videoarte) um ponto de inflexão. Basicamente, ele pergunta: por que uma fotografia como a "Pietà" (retrato de uma mulher desmaiando durante massacre na Argélia, em 1997), de Hocine, pode gerar questionamentos que não atingem, por exemplo, os inúmeros quadros que representam a agonia de Cristo?
A formulação parece simplista, mas o filósofo francês extrai daí reflexões
instigantes sobre ambiguidades que dizem respeito tanto aos fotógrafos (preocupados com luzes e enquadramentos diante de situações extremas) quanto ao nosso deleite diante de figurações e estetizações da dor.
São especialmente esclarecedoras as reflexões sobre a "arte abjeta" e sobre as
representações dos campos de concentração nazistas (filmes como "Kapo", de Pontecorvo, e "Shoah", de Lanzmann), das quais Galard extrai uma regra paradoxal: "A beleza abandona tudo que é feito com a única intenção de produzi-la".