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REMÉDIO CONSTITUCIONAL – HABEAS DATA.

1. CONCEITO

Habeas Data trata-se de um remédio constitucional, onde a pessoa, física ou


jurídica, pode solicitar ou retificar informações suas perante aos órgãos públicos e
governamentais, desde que esgotada as vias administrativas.
Em sua lei de número 9.507 de 1997 determina casos para utilização desse
remédio constitucional, vejamos:
Art. 7° Conceder-se-á habeas data:
I - para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do
interessado, de contestação ou explicação sobre
dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob
pendência judicial ou amigável

Segundo Hely Lopes Meirelles, “o habeas data é uma ação constitucional, de


caráter civil, conteúdo e rito sumário, que tem por objeto a proteção do direito líquido
e certo do impetrante em conhecer todas as informações e registros relativos à sua
pessoa e constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público,
para eventual retificação de seus dados pessoais”.
Insta ressaltar que a origem da legislação se deu nos Estados Unidos, por
meio do Freedom of Information Act de 1974 e com alteração pelo Freedom of
Information Reform Act de 1978, propondo-se a possibilitar o acesso do particular às
informações constantes de registros públicos ou particulares permitidos ao público.

2. PREVISÃO LEGAL E PROCEDIMENTOS

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O art. 5º, LXXII, a e b da CF/88 traz a previsão do Habeas Data. Vejamos:

Art. 5°, LXXII – conceder-se-á “habeas-data”:


a) Para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou banco de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) Para a retificação de dados, quando não se
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;

A Lei 9.507/97 regulamenta em nível infraconstitucional o Habeas data, sendo


nela estabelecidas as normas a respeito desse remédio constitucional.
O habeas Data tem caráter civil, pois não trata de lides penais, bem como tem
conteúdo mandamental e/ou constitutivo, pois veicula uma pretensão a que o Poder
Judiciário expeça um comando a uma autoridade dita coatora, para que faça alguma
coisa, explicitando o dado que se pretende conhecer (natureza mandamental) ou
retificar dados do impetrante em seus registros (natureza constitutiva). ( AUAD
FILHO, 2010).
Destarte, conforme a lei supracitada, temos os seguintes procedimentos:
 Em fase extrajudicial, não existe necessidade de constituir procurador nesse
momento. Essa fase é anterior ao Habeas Data, momento em que a pessoa
entra em contato com o órgão detentor dos dados, a fim de ter acesso a
essas informações (Art. 2° da Lei 9507/97)
 Em fase judicial notam-se procedimentos na lei 9.507/97 a serem seguidos
para impetrar o remédio constitucional, neste momento existe a necessidade
de constituir procurador. Em seu artigo 8º determina-se que deverá ser levada
aos autos, junto com a peça inicial, a prova de que o órgão coator se negou a
conceder informações ao impetrante, vejamos:

“Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os


requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de

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Processo Civil, será apresentada em duas vias, e
os documentos que instruírem a primeira serão
reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser
instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do
decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do
decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se
refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de
quinze dias sem decisão.”

Se o juiz entender que não seja caso de Habeas Data ou se faltar algum
requisito previsto na lei 9.507/97, poderá ser indeferida a petição inicial, cabendo
apelação dessa decisão.
Caso o Juiz não indefira a peça inicial, deverá ser notificada a unidade
coatora, para que no prazo de dez dias apresente informações que achar
necessárias. Nesta notificação deverá constar segunda via da peça inicial, bem
como a documentação acostada com a peça. No fim desse prazo, deverá o
Ministério Público se manifestando prazo de cinco dias. Logo após, os autos serão
conclusos ao juiz para proferir a decisão.

3. APELAÇÃO

Da sentença que conceder ou negar o habeas data caberá o recurso de


apelação, conforme art. 15 da Lei 9.507/97.
Os prazos dos recursos, por não ter norma expressa da Lei do Habeas Data,
são os mesmos previstos no Código de Processo Civil, contando-se em dobro para
a Fazenda Pública e para o Ministério Público (art. 183 Ncpc).
Segundo Alexandre de Moraes, “São legitimados para interposição do recurso
de apelação: o impetrante, ministério publico, o coator e as entidades
governamentais, da administração pública direta e indireta, bem como as

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instituições, entidades e pessoas jurídicas privadas que prestem serviços para o
publico ou de interesse publico, desde que detenham dados referentes às pessoas
físicas ou jurídicas, a que pertencer o coator”. (MORAES,2009)

4. PRAZO E CUSTAS PROCESSUAIS

Em relação ao prazo para impetração do Habeas Data, existe discussão. De


fato não existe prazo para impetrar o Habeas data, porém há quem defenda que o
prazo deverá ser o mesmo que o do mandado de segurança, ou seja, prazo
decadencial de 120 dias.
O Habeas data é uma ação gratuita de acordo com o art. 5º, LXXVII da CF/88.
Vejamos:
Art. 5°, LXXVII: são gratuitas as ações de
“habeas-corpus” e “habeas-data”, e, na forma da
lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

E no artigo 21° da Lei de Habeas data. Vejamos:

Art. 21° Lei 9507/97: São gratuitos o


procedimento administrativo para acesso a
informações e para anotação de justificação, bem
como a ação de habeas data.
Desta forma, não há o que se falar em “custas processuais”, pois é garantido
pela própria CF/88 e Lei 9.507/97 a gratuidade para o próprio exercício da cidadania.

5. LEGITIMIDADE DAS PARTES

Quem tem a legitimidade Ativa para impetrar o Habeas Data é a própria


Pessoa física ou pessoa jurídica que deseje ter acesso as suas informações
pessoais em registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público, como também para a retificação de dados.
Já a legitimidade passiva se dá as entidades governamentais da
Administração direta e indireta e pessoas jurídicas de direito privado que

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mantenham banco de dados aberto ao público. A Lei nº 9.507/97, em seu artigo 1º,
parágrafo único, diz que: "considera-se de caráter público todo registro ou banco de
dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros
ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária
das informações”.
O habeas data é uma ação de caráter personalíssimo, desta forma, só é
possível pleitear as informações relativas ao próprio impetrante. Excepcionalmente
se tem admitido legitimação dos herdeiros do falecido.
Este remédio constitucional só pode ser usado em caso de não haver solução
por via administrativa, ou seja, somente em caso extremo, onde aja recusa por parte
da autoridade administrativa.

6. LIMINAR

A lei não regulariza o pedido de liminar, causando muitas discussões a


respeito. Existem doutrinadores que defendem a não concessão de liminar, pois tem
efeito apenas devolutivo. Já por outro lado existe quem defenda a concessão da
liminar pelo “Periculum in mora”, ou seja, no caso de ameaça de lesão irreparável,
desde que comprovada o “Fumus boni juris”
Podemos citar um exemplo para requerer o Habeas Data com pedido de
liminar: João passou em um concurso público para cargo da Polícia Militar do Estado
de São Paulo, cujo cargo necessitava de confirmação de uma vida ilibada, ocorre
que existe um homônimo com ficha restrita perante a Secretaria de Segurança
Pública, sendo assim cabível de impetrar com o Habeas Data com pedido de liminar,
pois existe o “Periculum in mora”.
Desta forma, é valido dizer que a concessão da liminar dependerá do caso
concreto.

7. COMPETÊNCIA

Para processar e julgar o Habeas data deve-se verificar quem foi a autoridade
coatora que negou a informação ou ratificação, através desta informação é possível
saber o órgão competente.

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Conforme a lei de nº 9.507/97 nota-se em seu art.20 um rol de órgãos
competentes para julgar o Habeas Data, vejamos:
Art. 20. O julgamento do habeas data compete:
I - originariamente:
a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da
União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Supremo Tribunal Federal;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de
Ministro de Estado ou do próprio Tribunal;
c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do
próprio Tribunal ou de juiz federal;
d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais
federais;
e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na
Constituição do Estado;
f) a juiz estadual, nos demais casos;
II - em grau de recurso:
a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão
denegatória for proferida em única instância pelos Tribunais
Superiores;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão
for proferida em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais;
c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a
decisão for proferida por juiz federal;
d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e
Territórios, conforme dispuserem a respectiva Constituição
e a lei que organizar a Justiça do Distrito Federal;
III - mediante recurso extraordinário ao Supremo
Tribunal Federal, nos casos previstos na Constituição.

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8. CASO CONCRETO

Processo nº 1015718-78.2014.8.26.0309 – Habeas Data – Foro Distrital de


Louveira na Comarca de Vinhedo/SP.

8.1 RESUMO DO CASO

Identifica-se como impetrante o Sr. Wanderley Aparecido de Souza,


funcionário público da Prefeitura de Louveira, São Paulo e o impetrado o Diretor de
Divisão de pessoal da Prefeitura Municipal de Louveira.
O Sr. Wanderley Aparecido de Souza, com seu interesse, ingressa com a
presente ação de Habeas Data, com fulcro na entrega imediata de cópias de todo o
seu prontuário como referido funcionário público.
Nota-se que junto com a peça inicial, o impetrante trouxe aos autos a
comprovação de envio e entrega de telegrama online, no qual o reclamante
esclarece a necessidade de acesso às informações requeridas, entretanto não lhe é
ouvido o clamor e nada foi feito pelo impetrado. Dentro das alegações, motiva-se
então, a presente ação.
Como previsto na Constituição, em seu art. 5º, LXXII, “a”, endente-se como
sendo cabível a ação. Cumprindo-se todos os requisitos necessários conforme Lei
do Habeas Data 9.507/97.
Na exordial, o Sr Wanderley Aparecido de Souza requereu a notificação ao
impetrado, a fim de prestar as informações necessárias sobre os documentos
solicitados no prazo de 10 dias, conforme art. 9º da lei 9.507/97.
Seguindo o rito, a parte impetrada manifestou que não foi produzida pelo polo
ativo a listagem dos documentos cogitados por ele. Na contestação ainda é
argumentado sobre a falta de provas da entrega do requerimento, a falta de
comprovantes de negativas administrativa, a inépcia da inicial por falta de interesse
de agir e também, o consequente prejuízo nítido a ampla defesa.

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O Ministério Público é intimado para intervir no processo. Este, no entanto,
reconhece que, se tratando de único interesse particular, não se faz necessário a
apresentação de parecer.
Prolata-se então a sentença, no qual é reconhecido e o direito do impetrante,
além da condenação ao impetrado da entrega dos documentos solicitados.

8.2 LEGITIMIDADE ATIVA

O habeas data é um remédio constitucional de caráter personalíssimo para o


qual é necessário que o impetrante seja o próprio interessado em se referindo às
informações pessoais e somente pessoais. Identifica-se como parte legítima no caso
em comento o Sr. Wanderley Aparecido de Souza, necessariamente representado
por seu advogado.

8.3 LEGITIMIDADE PASSIVA

Referente ao caso relatado admite-se como polo passivo da ação o Diretor de


Divisão Pessoal da Prefeitura Municipal de Louveira, por se tratar de entidade
governamental e pessoa jurídica da administração pública direta. Visto que se
encaixa no requisito referente ao impetrado que necessariamente deve ser de
registros ou banco de dados de entidade governamental, pessoa jurídica
componente da Administração Pública direta ou indireta bem como aqueles foi de
entidade privada (não governamental), mas de caráter público, será esta entidade o
legitimado passivo.

8.4 USO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL

Se valendo de tal garantia constitucional “Habeas Data”, conforme o art. 5º,


LXXII, a e b da CF/88, o impetrante supracitado, requereu perante o Foro Distrital de
Louveira, acesso aos seus prontuários e fichas, bem como todo e qualquer
documento de cunho funcional, uma vez que sendo servidor público municipal lhe é
conferido acesso a tais documentos e informações. Desta forma, sendo preenchidos

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os requisitos necessários para tal, segundo o artigo 8º da Lei 9.507/97, § único,
incisos I, II e III, a ação se tornou possível.

8.5 HABEAS DATA SEM PEDIDO DE LIMINAR

No caso concreto não foi utilizado na ação do Habeas Data o pedido de


liminar, pois para tal, seria necessária a demonstração de que a demora da decisão
judicial causaria um dano grave ou de difícil reparação.
Desta forma, além do “fumus boni juris” que é um sinal ou indício de que o
direito pleiteado de fato existe, o “periculum in mora” é requisito indispensável para a
proposição de medidas com caráter urgente, o que não se comprova no caso em
tela.

8.6 COMPETENCIA

A ação foi proposta na Vara da Fazenda Pública da Comarca de Jundiaí/SP,


ocorre que o impetrante trabalhava para a Prefeitura de Louveira/SP. O juízo se
declarou incompetente para julgar a presente ação, a qual deveria ter sido
distribuída perante Foro Distrital de Louveira/SP na comarca de Vinhedo, sendo este
o órgão competente para tramitar o processo.
Desta forma, o Juiz incompetente remeteu os autos para a Vara Judicial do
Foro Distrital de Louveira/SP, o qual deu continuidade a demanda.

8.7 CONCLUSÃO

A sentença proferida pela MMª. Juíza Viviani Dourado Berton, concedeu a


ordem para reconhecer o direito de o impetrante ter acesso à cópia integral de seu
prontuário.
Não contente, a parte vencida apela da sentença requerendo a improcedência
da ação. O recurso foi reconhecido como legitimo, feito análise do mérito e negado
provimento.
É proferido acórdão pelo DD. Relator Rebouças de Carvalho, onde foi
mantido o inteiro teor da sentença.

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Referências:

Lei Nº 9.507, de 12 de Novembro de 1997. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/CCiVil_03/LEIS/L9507.htm. Acesso em 30 de Agosto de
2018.

Habeas Data. Disponível em:


<https://cucacursos.com/direito/habeas-data/>. Acesso em 30 de Agosto de 2018.

Habeas Data Origem. Disponível em:


<https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3086/Habeas-Data>. Acesso em 03 de
Setembro de 2018.

Habeas data: instrumento constitucional em defesa da cidadania. Disponível em:


<https://jus.com.br/artigos/14810/habeas-data-instrumento-constitucional-em-defesa-
da-cidadania>. Acesso em 03 de Setembro de 2018.

Habeas Data, abrangência, legitimidade e competência. Disponível em:


<http://direitoconstitucional.blog.br/habeas-data/>. Acesso em 03 de Setembro de
2018.

MOARES, Alexandre de Moraes. Direito Constitucional. 24ª edição. Local de


publicação: São Paulo, Editora Atlas S.A, 2009.

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