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Universidade Estadual da Paraíba – Campus III

Curso: Licenciatura plena em História


Aluno: Júlio César Miguel de Aquino Cabral - 141448520
Disciplina: Libras
Turma: 2014.1; Turno: Noite.

Resumo do capítulo 4 (Os Artefatos culturais do povo surdo) do livro As imagens do


outro sobre a cultura surda, escrito por Karin Strobel.

A autora inicia o capítulo explicando o conceito de artefatos culturais. Ela


defende um sentido amplo do termo, abarcando não apenas os artefatos materiais
produzidos por uma determinada cultura, mas as formas de sentir, entender e interagir
com o mundo. O capítulo discute oito artefatos culturais, sendo respectivamente:
Experiência visual; linguístico; família; literatura surda; vida social e esportiva; artes
visuais; política; materiais.
O artefato cultural experiência visual envolve a singularidade da percepção dentro
da comunidade surda. Não tendo a percepção auditiva, a experiência visual é de grande
importância para entender as formas de se ver o mundo e também a construção das
identidades (A autora utiliza o conceito de Identidade desenvolvido por Stuart Hall). A
percepção visual dos surdos tem a capacidade de interpretar situações cotidianas de uma
maneira diferente dos ouvintes. Se estes se prendem, muitas vezes, aos sons do
ambiente para identificar situações, os surdos têm na visão à ferramenta para perceber o
mundo que os cerca. (Por exemplo, a importância das expressões faciais e corporais
para potencializar a comunicação) As leituras da realidade realizadas por surdos e
ouvintes podem divergir, ou seja, uma mesma situação pode ganhar significados
diferentes. A autora também afirma que a sociedade, em vários aspectos, não se adapta
as necessidades dos surdos, dando como exemplo a ausência de sinais visuais em uma
agência bancária.
O segundo artefato cultural é a linguística. A língua de sinais é um dos
principais aspectos da identidade surda. É por meio da língua de sinais (unido a outros
as aspectos) que os surdos podem adquirir e transmitir (ou construir) conhecimento. A
autora também cita os sinais emergentes ou sinais caseiros. Estes últimos são
utilizados por surdos que não têm contato com a comunidade surda e consequentemente
com a língua de sinais, diante disto, criam sinais e procuram, em seu cotidiano, diversas
formas de se comunicar.
O contato com a língua de sinais desde os primeiros anos da criança influencia
diretamente na formação e na consolidação de uma identidade. Quanto mais precoce o
contato da língua de sinais e de outros artefatos culturais com os surdos, melhor a
chance de se tornarem mais seguros de si, mais do que isto, este contato potencializa a
comunicação e consequentemente melhora a experiência de vida das pessoas surdas. A
valorização da Língua de sinais é resultado da militância e da persistência da
comunidade surda, representada por estudiosos e pesquisadores. É uma língua que não
tem sua base na língua portuguesa. Foi desenvolvida e transformada ao longo dos anos e
se consolidou como uma das principais marcas e ferramentas da comunidade surda.
Também é preciso citar que a língua de sinais não é ágrafa. Ela pode ser escrita, a partir
do sistema denominado Sign Writing (SW). No Brasil, esta escrita se desenvolveu
inicialmente a partir dos esforços da doutora surda Mariane Stumpf.
O artefato cultural familiar também é de grande importância no que diz respeito
ao desenvolvimento dos surdos. A família é o primeiro espaço de convívio social, é
palco das primeiras experiências sensórias. As famílias ouvintes, muitas vezes leigas
sobre a cultura da comunidade surda, não sabem lidar com nascimento de uma criança
surda. A surdez é percebida, por estes pais, como uma grave deficiência. No desespero,
colocam todos os esforços e recursos para tentar ‘’curar’’ estas crianças. Enquanto isto,
não por curam informações dentro da comunidade surda, fonte de conhecimentos
relevantes para o desenvolvimento da criança. Na falta de conhecimento, estas famílias
não conseguem proporcionar a estas crianças surdas um espaço favorável para o pleno
desenvolvimento de suas capacidades o que pode ter efeitos destrutivos em longo prazo.
Em contrapartida as famílias que já integram a comunidade surda (ou famílias
ouvintes que procuram entender a cultura surda) acolhem as crianças surdas,
construindo um espaço de sociabilidades. Tudo isto potencializa a capacidade de
comunicação e interação das crianças surdas, além de colaborar para a sensação de
pertencimento e para o desenvolvimento da identidade destas crianças.
O quarto artefato cultural da comunidade surda é a Literatura surda. Esta é a
forma de realizar a manutenção das memórias e vivências de surdos de outras
temporalidades. É também a manifestação de emoções por meio da arte. É o registro das
formas de ver e sentir o mundo. A literatura surda engloba contos, fábulas romances,
lendas e etc. É um rico material, tanto para ouvintes que buscam entender a comunidade
da cultura surda, como para os surdos que se identificam com as obras. Podemos citar
como exemplos de escritores surdos Carolina Hessel, Celso Baldin, Fabiano Souto
Rosa, Flaviane Reis, Gisele Rangel, entre outros. As piadas (Utilizando de expressões
corporais e faciais, além da língua de sinais) também fazem parte do rico universo da
literatura surda. Geralmente estas piadas têm como conteúdo as situações cômicas do
cotidiano.
O quinto artefato cultural é a vida social e esportiva. A comunidade surda se
integra por meio de eventos e associações onde buscam construir espaços de
sociabilidades direcionados para os surdos. Mas a vida social não se restringe as estes
eventos. Os eventos sociais e esportivos também é uma forma de provocar intercâmbios
da cultura surda, possibilitando a divulgação e a relação entre os membros da
comunidade. Um simples caminhar na rua, ir ao casamento de alguém ou ao marcado,
dentro da cultura surda, é repleto de experiências positivas e negativas. A sociedade
ainda tem dificuldade para se adaptar e consequentemente proporcionar acessibilidade
aos surdos, por falta de conhecimento e de políticas públicas direcionadas, o cotidiano
dos surdos é marcado por dificuldades. No entanto, os surdos procuram burlar estas
dificuldades, procurando mil e uma maneiras de melhorar a experiência social. Um das
características da comunidade surda é a busca pela integração e pela forte relação entre
os membros do grupo. Um dos sintomas é o índice de surdos que se relacionam
amorosamente com outros surdos, índice este que supera significativamente o número
de relacionamentos entre surdos e ouvintes.
As artes visuais também é um importante artefato cultural da comunidade surda.
É meio artístico de expressão dos sentimentos e formas de sentir o mundo dos artistas
surdos. Por meio de pinturas, desenhos, charges, teatro, os surdos conseguem
potencializar a manifestação de emoções e de ideias. Alguns membros da comunidade
surda ocupam lugares de importância nas artes visuais a exemplo de Marlee Matlin que
ganhou o Oscar de melhor atriz por sua participação no filme ‘’Filhos do silêncio’’
’Podemos citar também Rimar Romano, mímico e Clown, fundador, junto com sua
irmã, da Cia. Arte e Silêncio e o ator paulista Reinaldo Pólo. Além de criar uma arte
direcionada e adaptada para a cultura surda, estes artistas também divulgam esta cultura
para a sociedade ouvinte.
A politica é o sétimo artefato cultural dos surdos. É principal ferramenta para a
luta por mudança social e melhores condições de vida. Por meio de organizações,
grupos e associações, os surdos reivindicam, de diversas maneiras, os seus direitos e
interesses. Buscam representatividade na vida política do país e pautam projetos que
visem proporcionar uma sociedade mais igualitária em relação a surdos e ouvintes. Uma
das principais pautas é a divulgação de uma pedagogia direcionada a comunidade surda.
Pedagogia esta, que adaptada e direcionada para os surdos, possibilitasse uma maior
integração entre escola, família e surdos. As lutas da comunidade surda e suas
organizações remontam pelo menos ao século XVIII. Ao longo do tempo várias
conquistas foram feitas. A partir de militantes (Podemos citar o exemplo de Ana Regina
e Sousa Campello) a comunidade surda conseguiu diversas melhorias a exemplo do
reconhecimento da língua de sinais como língua oficial do povo surdo (Lei n. 10. 436,
de 24 de abril de 2002). Também foi criado o ‘’dia do surdo’’, em que se debate e se
divulga questões relacionadas à comunidade surda.
O oitavo artefato cultural são os materiais. São as conquistas materiais que
buscam melhorar a acessibilidade dos surdos dentro da sociedade. Visando uma melhor
qualidade de vida e também facilidade de comunicação estes materiais são de suma
importância para a comunidade surda. Citamos como exemplo o telefone Device for the
Deaf (TDD) espécie de telefone adaptado para o uso dos surdos. A acessibilidade
também se dá pela adaptação das mídias e das tecnologias digitais (aplicativos, redes
sociais e etc.) para os surdos, além do uso de interpretes em palestras e em jornais e
eventos em canais de televisão.

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