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Curso de Eletrodinâmica Clássica I. 2005.

1 Departamento de Fı́sica - UFPE 1

Aula 20 - 16/06/2005

O Teorema de Poynting e a Conservação da Energia e do


Momentum do Campo Eletromagnético
Ref: Jackson, §6.7 - 6.9

Objetivos:

• Estudar a conservação da energia e dos momenta linear e angular dos campo


eletromagnético. Definir o vetor de Poynting e o tensor tensão de Maxwell.
• Analisar o teorema de Poynting para o caso de meios lineares com dispersão
de energia. Em particular, estudar o caso de campos e fontes harmônicas.

Teorema de Poynting e a Conservação da Energia


Considerar uma carga q em presença de um campo
~ B).
eletromagnético (E, ~ A potência (mecânica) exer-
~ ~
cida pelos campos E e B sobre q é dada pela expressão: ~
E
~v

dWE q b
= F~ · ~v = (q E
~ + q ~v × B)
~ ·~v = q ~v · E
~ (1)
dt | {z }
Força de Lorentz
~
B
que é a potência do campo elétrico, uma vez que a força
exercida pelo campo de indução B ~ não realiza trabalho.
~
Lembrar: q (~v × B) ⊥ ~v . ~ x, t)
E(~

~ x, t) ~ x, t)
J(~
Considerar, agora, uma densidade de corrente J(~
~
sob ação de campo externo E(~x, t). Neste caso, a
potência é dada por: b

Z ~x
dWE ~ x, t) · E(~
~ x, t)d3 x
= J(~ (2)
dt V ~ x, t)
B(~

onde V é o volume ocupado por J~ 6= 0. Usando as


~ ×H
equações de Maxwell: ∇ ~ − ∂ D/∂t
~ = J~ e ∇
~ ×E
~+ b
0
~
∂ B/∂t = 0 em (2),
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Z Z " ~
#
dWE ∂ D
= J~ · Ed
~ 3x = ~ · (∇
E ~ × H)
~ −E~· d3 x =
dt V V ∂t
Z " ~
#
~ ·∇
~ ×E ~ −∇~ · (E
~ × H)
~ −E~· ∂ D
= H d3 x =
V ∂t

R h ~ ~
i
= − ~ · (E
∇ ~ × H)
~ +H
~ · ∂B ~·
+E ∂D
d3 x (3)
V ∂t ∂t

Supor:
• Meio linear (elétrico e magnético).
• Perdas e dispersão desprezı́veis (resistência).
Considerar a densidade de energia eletromagnética:

1 ~ ~ ~ · H)
~
u = (E ·D+B (4)
2
R R
onde WE = 12 E· ~ Dd
~ 3 x e W ~ = 1 B· ~ Hd
~ 3 x são as energias eletrostática e magnetostática
B 2
estocadas nos respectivos campos, em princı́pio, dependentes do tempo.
O decréscimo de energia dos campos (E, ~ B)
~ para fornecer o trabalho à densidade de
corrente na potência dWE /dt é, por conservação da energia, igual a

Z Z  
dWE ~ · J~ d x =
3 ~ · (E
~ × H)
~ + ∂u
− =− E ∇ d3 x (5)
dt V V ∂t

~ = ǫE,
onde, para meios lineares (D ~ B~ = µH)~ e usando (4) podemos verificar:
" #
∂u 1 ~ ∂D ~ ∂ ~
E ∂ ~
B ∂ ~
H
= E· +D~ · +H~ · ~·
+ +B =
∂t 2 ∂t ∂t ∂t ∂t
~ ~
~ · ∂D + H
= E ~ · ∂B
∂t ∂t
Comparando os integrandos em (5):
∂u ~ ~ ×H ~ ) = −J~ · E
~
+ ∇ · (E (6)
∂t | {z }
~
S

ou
∂u ~ ~
+ ∇ · S = −J~ · E
~ (7)
∂t
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~=E
onde S ~ ×H
~ é o vetor de Poynting.

Obs:
• ∂u/∂t é taxa de variação da densidade de energia.
• ∇~ ·S~ é o fluxo de energia.
• J~ · E
~ é taxa de fornecimento de energia para unidade de volume.
• Se S ~→S ~ +∇ ~ × F~ → ∇ ~ · (S
~ +∇~ × F~ ) = ∇
~ · S,
~ a equação de continuidade para a
energia não se altera.
• Caso haja dispersão (e sempre há), mesmo em meios lineares, rigorosamente não se
poderia ir além da relação dada pela equação (3):
Z Z " ~ ~
#
∂ D ∂ B
− J~ · Ed
~ 3x = ∇~ ·S~ +E~ +H~ · d3 x (8)
V V ∂t ∂t

∆V

Interpretação fı́sica: Conservação da energia!


A taxa de variação da energia eletro-
magnética em ∆V + o fluxo de energia ao
longo das superfı́cies por unidade de tempo
= − o trabalho doado pelos campos sobre as
fontes dentro de ∆V .

Considerar um conjunto de partı́culas carregadas (número fixo) confinadas em um volume


V . Vamos examinar a transferência de energia dos campos para as cargas e vice-versa:

energia eletromagnética ↔ energia mecânica

ou seja
dE d
= (Emecânica + Ecampos ) ,
dt dt Z Z
d ~ ~ 3 d ∂u 3
Emecânica = E · Jd x, Ecampos = dx
dt V dt V ∂t
Z Z Z I
dE ~ ~ 3 ∂u 3 ~ ~ 3 ~
= J · Ed x + d x=− ∇·S d x=− n̂ · Sda
dt ∂t V
| S {z }
Fluxo total em S
ou
I
d ~
(Emecânica + Ecampos ) = − n̂ · Sda (9)
dt S
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Conservação do Momentum do Campo Eletromagnético

Considerar uma densidade de carga ρ e de corrente J~ submetidas à Força de Lorentz. A


segunda Lei de Newton é escrita como:
~ mecânico Z
dP ~ + J~ × B)d
~ 3x
= (ρE (10)
dt V

onde P~ mecânico é o momentum linear e dP


~ mecânico /dt é a força mecânica total atuando sobre
as cargas e correntes em V .
Usando
~
~ e J~ = 1 ∇
~ ·E
ρ = ǫ0 ∇ ~ ×B ~ − ǫ0 ∂ E
µ0 ∂t
no integrando de (10):
" #
~
~ + J~ × B
ρE ~ = ǫ0 ~ ∇
E( ~ · E)
~ − c2 B
~ × (∇
~ × B) ~ × ∂E
~ +B (11)
∂t

onde a ordem dos produtos vetoriais foi trocada. Mas,


~ ~ ~
~ × ∂ E = ∂ (B
B ~ − ∂B × E
~ × E) ~ = − ∂ (E ~ − ∂B × E
~ × B) ~ (12)
∂t ∂t ∂t ∂t ∂t
Substituindo em (12) em (11), e depois em (9) resulta:

~ + J~ × B
ρE ~ = ǫ0 [E(
~ ∇~ E)
~ − c2 B
~ × (∇
~ × B)~ − ∂ (E
~ × B)
~ +
∂t
~
+E ~ × ∂ B +c2 B( ~ ∇~ · B)]
~ (13)
∂t
|{z}
~ E)
−(∇× ~

~ mecânico Z Z n
dP d ~ × B)
~ +ǫ0 ~ ∇~ · E)
~ −E
~ × (∇
~ × E)]
~ +
= − ǫ0 (E [E(
dt dt V V
| {z }
~ campos
P
o
~ ∇
+ c2 [B( ~ · B)
~ −B
~ × (∇
~ × B)]
~ d3 x (14)

onde identificamos
Z Z
~ campos = ǫ0 µ0
P ~ × H)d
(E ~ 3
x = ǫ0 µ 0 ~ d3 x
S (15)
V V

~ a densidade de momentum eletromagnético, ou seja


sendo ~g = ǫ0 µ0 S,

1~ 1 ~ ~
~g = 2
S = 2 (E × H) (16)
c c
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Densidade de momen- ∝ Densidade de fluxo de energia


tum eletromagnético eletromagnética.

Interpretação do segundo termo do lado direito de (14). Considerar uma componente


cartesiana, por exemplo, a componente 1.
h i  
~ ~ ~ ~ ~ ~ ∂E1 ∂E2 ∂E3
E(∇ · E) − E × (∇ × E) = E1 + + −
1 ∂x1 ∂x2 ∂x3
   
∂E2 ∂E1 ∂E1 ∂E3
− E2 − + E3 − =
∂x1 ∂x2 ∂x3 ∂x1
∂ 2 ∂ ∂ 1 ∂
= E1 + (E1 E2 ) + (E1 E3 )− (E 2 + E 2 + E32 )
∂x1 ∂x2 ∂x3 2 ∂x1 | 1 {z2 }
E2
ou h i X ∂  1~ ~

~ ~ ~ ~ ~ ~
E(∇ · E) − E × (∇ × E) = Eα Eβ − E · Eδαβ (17)
α
β
∂x α 2
De modo análogo o terceiro termo de (14) pode ser reescrito:
h i X ∂  1

~ ∇
B( ~ · B)
~ −B ~ × (∇
~ × B)
~ = Bα Bβ − B ~ · Bδ
~ αβ (18)
α
β
∂x α 2
Ambos os termos (17) e (18) têm o formato do divergente de um tensor de rank dois.

Definição: Tensor Tensão de Maxwell


Grupando (17) e (18) com o primeiro termo de (14), podemos definir o tensor tensão de
Maxwell :
 
2 1 ~ ~ 2~ ~ αβ
Tαβ = ǫ0 Eα Eβ + c Bα Bβ − (E · E + c B · B)δ (19)
2

Conservação do Momentum:
Substituindo (19) na expressão (14) resulta:
" #
~ mec dP
dP ~ campos XZ ∂
+ = Tαβ d3 x (20)
dt dt β V ∂x β
α
onde usando o teorema divergente, temos
I X
d h~ ~
i
Pmec + Pcampos = Tαβ nβ da (21)
dt α S β

sendo nβ a componente β do versor n̂ (exterior a S).

• A expressão (21) representa a conservação do momentum total do sistema1 onde


1
Compare com a expressão análoga para a conservação da energia, equação (9).
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X
Tαβ nβ é a componente α do fluxo de momentum para unidade de área sobre S.
β
X
• De outro modo, Tαβ nβ é força para unidade de área transmitida ao longo de S
β
ao sistema combinado de partı́culas e campos encapsulados por S.
• Esta expressão (21) pode ser usada para calcular a força atuando sobre objetos
materiais em um campo eletromagnético, usando o artifı́cio de encapsular o objeto
com uma superfı́cie hipotética S e considerar a força eletromagnética total segundo
a expressão (21).
Conservação do Momentum Angular:
• A conservação do momentum angular total do sistema pode ser obtida de forma
análoga2 :

(Lmec + Lcampo ) = −∇ ~ ·←→
M (22)
∂t
ou
Z I
d 3 ←

(Lmecânico + Lcampo )d x = − n̂ · M da (23)
dt V S

onde
~ × H)
Lcampo = ~x × ~g = µǫ ~x(E ~ (24)

é a densidade de momentum angular total do campo eletromagnético e


→ ← →
M = T × ~x (25)

é o tensor de Maxwell correspondente escrito em forma diádica 3

Teorema de Poynting em Meios Lineares Dispersivos com Perdas (ǫ e µ complexos e de-


pendentes da freqüência)

Considerar decomposição em Transformadas de Fourier dos campos em relação ao


tempo.
Z ∞ Z ∞
~
E(~x, t) = ~ x, ω)e−iωt
dω E(~ ~ x, t) =
B(~ ~
dω B(ω, ~x)e−iωt
Z−∞
∞ Z−∞

~
D(~x, t) = ~ x, ω)e−iωt
dω D(~ ~ x, t) =
H(~ ~ x)e−iωt
dω H(ω~
−∞ −∞

Supor linearmente isotrópica para as componentes de Fourier:


2
Vide problema 6.10 do Jackson, 3a edição


3
A notação diádica é intuitiva: a dupla seta indica, por exemplo, que n̂ · M é um vetor cuja j ésima
P ←→
componente é dada por i ni Tij . O tensor M é de segundo rank e pode ser escrito como um tensor de
terceiro rank Mijk = Tij xk − Tik xj .
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~ x, ω) = ǫ(ω)E(~
D(~ ~ x, ω)

~ x, ω) = µ(ω)H(~
B(~ ~ x, ω)

onde ǫ(ω) é susceptibilidade elétrica complexa (dependente da freqüência) e µ(ω): a cor-


respondente susceptibilidade magnética complexa.
Como os campos são grandezas reais, suas componentes Fourier devem satisfazer às
propriedades:
~ ∗ (~x, ω) = E(~
E ~ x, −ω) ~ ∗ (~x, ω) = B(~
B ~ x, −ω)
~ ∗ (~x, ω) = D(~
D ~ x, −ω) ~ ∗ (~x, ω) = H(~
H ~ x, −ω)

de sorte que
ǫ∗ (ω) = ǫ(−ω) µ∗ (ω) = µ(−ω) (26)

Comentário4 :
~ x, t) e E(~
A dispersão acarreta uma conexão não-local temporal entre D(~ ~ x, t)
Z ∞
~ 1 ~ x, ω)e−iωt dω =
D(~x, t) = √ ǫ(ω)E(~
2π −∞
Z ∞ Z
1 −iωt ~ x, t′ )eiωt′
= dω ǫ(ω) ǫ dt′ E(~
2π −∞
Z ∞ Z ∞
1 ′ ~ ′
= ′
dt E(~x, t ) dω ǫ(ω)e−iω(t−t ) (27)
2π −∞ −∞

Definindo ǫ(ω) = ǫ0 [1 + χe (ω)]


Z ∞ Z ∞  
D(~ ~ x, t) + 1
~ x, t) = ǫ(0)[E(~ ′
dt dω
ǫ(ω) ~ x, t′ ) e−iω(t−t′ ) ]
− 1 E(~ (28)
2π ǫ
−∞ −∞
| 0 {z }
χe

Fazendo a mudança de variável temporal para (t − t′ ) = τ , (28) fica

 Z ∞ 
~ x, t) = ǫ(0) E(~
D(~ ~ x, t) + ~ x, t − τ ) G(τ )
dτ E(~ (29)
−∞

onde
Z ∞ 
1 ǫ(ω)
G(τ ) = dω − 1 e−iωτ (30)
2π −∞ ǫ0

Obs:
4
Vide §7.10 do Jackson, 3a edição.
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~ x, t) em (29) depende de E
• D(~ ~ em outros instantes (t − τ )!
• A equação (30) é um caso particular de convolução do Teorema de Fourier, ou seja,
se c(ω) = a(ω)b(ω) e
Z Z Z
1 iωt 1 iωt 1
a(ω) = A(t)e dt, b(ω) = B(t)e dt e c(ω) = C(t)eiωt dt
2π 2π 2π
então Z ∞
1
C(t) = √ A(t′ )B(t − t′ )dt′ (31)
2π −∞

com algumas restrições apropriadas para integrabilidade (inversão da ordem de in-


tegração, etc.)

Lembrar o caso geral da potência do campo eletromagnético dada pela equação (3):
Z Z " ~ ~
#
dWE ∂ D ∂ B
= J~ · Ed
~ x=−
3
∇~ · (E
~ × H)
~ +E~· +H~ · d3 x (32)
dt V V ∂t ∂t

~ · ∂ D/∂t
Vamos analisar a decomposição Fourier dos termos E ~ ~ · ∂ B/∂t:
eH ~

~ Z Z
~ · ∂D =
E ′~
dω E(~x, ω )e ′
·

−iω ′ t ~ x, ω)e−iωt
dω D(~
∂t ∂t
Z Z
′ ~∗ ′ iω ′ t ∂ ~ x, ω)e−iωt
= dω E (~x, ω )e · dωǫ(ω)E(~
∂t
Z Z
= dω ~ ∗ (~x, ω ′ ) [−iω ǫ(ω)] · E(~
dω ′ E ~ x, ω) e−i(ω−ω′ )t =
 
Z Z
1 ~ x, ω)e−i(ω−ω′ )t
~ ∗ (~x, ω ′ ) −iω ǫ(ω) + iω ′ ǫ∗ (ω ′ )  · E(~
= dω dω ′ E
2 | {z }
ω→ω ′ e ω ′ →−ω

onde a segunda integral foi subdividida em duas com a troca de variáveis indicada.

~ x, ω) é não nulo apenas em um estreito intervalo de freqüências ∆ω (por


Supor que E(~
exemplo, centrado em ω0 enquanto ǫ(ω) varia suavemente em ∆ω, como mostram as fi-
guras abaixo.
Ö× ~
campo e permissividade

EHΩL EHtL
campo EHx,tL

ΕHΩL
Ö × Ö×

DΩ

frequência Ω tempo t
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Ou seja, o campo elétrico é dominado pelas componentes de Fourier com freqüências em


um intervalo estreito ∆ω quando comparado ao domı́nio em que ǫ(ω) varia apreciavel-
mente. Deste modo, a dupla integral só terá valores relevantes no intervalo ∆ω quando
ω ≃ ω ′ por causa do produto dos campos E~ ∗ (~x, ω) e E(~
~ x, ω ′ ). Como ǫ(ω) varia suavemente
em torno de ∆ω podemos expandir iω ′ ǫ∗ (ω ′ ) no fator [. . . ] em torno de ω ′ = ω:

d ′ ∗ ′
[−iω ǫ(ω) + iω ′ ǫ∗ (ω ′ )] ≃ 2ω ℑ[ǫ(ω)] − i(ω − ω ′ ) [ω ǫ (ω )]ω′ =ω + · · ·
dω ′
~ · ∂ B/∂t
Assim, substituindo e escrevendo também a expressão análoga para H ~ temos:

~ Z
~ · ∂D ≃
E dω dω ′ E~ ∗ (ω ′ ) · E(ω)
~ ′
ω ℑ [ǫ(ω)] e−i(ω−ω )t +
∂t
Z Z 
1∂ ′ ~∗ ′ ~ d ′ ∗ ′ −i(ω−ω ′ )t
+ dω dω E (ω ) · E(ω) ′ [ω ǫ (ω )]ω′ =ω e + . . . (33)
2 ∂t dω
~ Z
~ ∂B ~ ∗ (ω ′ ) · H(ω)ω
~ ′
H· ≃ dωdω ′ H ℑ [µ(ω)] e−(ω−ω )t +
∂t
Z Z 
1∂ ′ ~∗ ′ ~ d ′ ∗ ′ −i(ω−ω ′ )t
+ dω dω H (ω ) · H(ω) [ω µ (ω )] e + ... (34)
2 ∂t dω ′

Obs:

1. Se ǫ e µ são reais e independentes de ω, recuperamos o resultado original:


~ Z Z
~ · ∂D = 1 ∂
E dω ~ ∗ (ω) · E(ω)e
dω ′ ǫ E ~ ′
−i(ω−ω )t
(35)
∂t 2 ∂t

2. O primeiro termo representa a parcela da energia da radiação absorvida pelo meio,


isto é, convertida em calor ou outras formas de energia como fluorescência etc. Isto
ocorre quando as freqüências dominantes da radiação são próximas das freqüências
de ressonância dos nı́veis de energia dos átomos que compõem o meio, onde a ab-
sorção é relevante. Neste caso, ℑǫ(ω) 6= 0! A re-emissão da energia absorvida em ω
pode ocorrer em ω ′ com ω ′ ≤ ω, dando origem por exemplo à fluorescência.
3. O segundo termo corresponde à uma densidade de energia efetiva dos campos, onde
a parcela absorvida foi excluı́da. Note que a manipulação matemática, feita acima,
foi dirigida justamente para explicitar a parcela proporcional à parte imaginária de
ǫ(ω) ou de µ(ω).

Para tornar a análise mais explı́cita, vamos supor que

E(~ ~ x, t) cos(ω t + α),


~ x, t) = Ẽ(~ ~ x, t) cos(ω t + β)
~ x, t) = H̃(~
H(~ (36)
0 0

onde Ẽ ~ e H̃
~ variam suavemente no intervalo ∆t ∼ 1/ω e no intervalo ∆t ∼ 1/ω onde
0 0
ǫ(ω) varia significativamente. Neste exemplo, as componentes de Fourier dominantes têm
freqüências em torno de ω0 .
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D E
Calcular o valor médio de E~ · (∂ D/∂t)
~ ~ · (∂ B/∂t)
+H ~ sobre um ciclo, isto é,
ciclo
Z T0
1 2π
h. . . iciclo = (. . . )dt T0 =
T0 0 ω0
ou seja, * + ( )
~ ~ Z T0 ~ ~
E ~ · ∂B
~ · ∂D + H =
ω0
dt′ ~ · ∂D + H
E ~ · ∂D (37)
∂t ∂t 2π 0 ∂t ∂t
ciclo
Calculando
Z Z
~ 1 ~ iω t 1 ~ e(iω0 t+α) + e−(iω0 t+α)  eiω t dt
E(ω) = Ẽ(t) cos(ω0 t + α)e dt = Ẽ(t)
2π 4π
1 h i
iα −iα
≃ Ẽ0 e δ(ω − ω0 ) + Ẽ0 e δ(ω + ω0 ) (termo lı́der)
Z2 Z
~ 1 ~ 1 ~  (iω0 t+α) 
H(ω) = H̃(t) cos(ω0 t + α)eiω t dt = H̃(t) e + e−(iω0 t+α) eiω t dt
2π 4π
1h i
≃ H̃0 eiα δ(ω − ω0 ) + H̃0 e−iα δ(ω + ω0 ) (termo lı́der)
2

e substituindo em (33) e (34), especificando cuidadosamente os termos em ω e ω ′ , us-


ando as integrais sobre as funções δ e recompondo as definições dos campos, obtém-se
substituindo tudo em (37):
* +
∂ ~
D ∂ ~
B D E

E +H ~ · ~ x, t) · E(~
= ω0 ℑ[ǫ(ω0 )] E(~ ~ x, t) + ω0 ℑ[µ(ω0 )]
∂t ∂t ciclo
ciclo

× < H(~ ~ x, t) > + ∂ uef


~ x, t) · H(~ (38)
∂t
onde
" #
1 d(ωǫ) ~ x, t) · E(~
~ x, t) > +
uef = ℜe < E(~
2 dω ω0
" #
1 d(ωµ) ~ x, t) · H(~
~ x, t) >
+ ℜe < H(~ (39)
2 dω ω0

onde uef é a densidade de energia eletromagnética efetiva5 .


Em resumo, analisando (32):
∂uef ~ ~
+ ∇ · S = −J~ · E
~ − ω0 ℑ[ǫ(ω0 )] < E(~
~ x, t) · E(~
~ x, t) > −
∂t
~ x, t) · H(~
− ω0 ℑ[µ(ω0 )] < H(~ ~ x, t) > (40)
5
Para mais detalhes da obtenção deste resultado, ver L. D. Landau & E. M. Lifschitz, Electrodynamics
of Continuous Media, 2a edição, §80, Addison-Wesley (1984), ou §61 na 1a edição Electrodynamique des
Milieux Continus da editora MIR (Moscou) (1969).
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onde os dois últimos termos representam a dissipação por absorção de energia eletro-
magnética pelo meio.

Aplicação: Teorema de Poynting para campos e fontes harmônicas.


Considerar os campos elétricos e magnéticos, a as fontes de correntes com dependência
temporal harmônica, isto é:
h i h i
E(~ ~ x)e−iωt ≡ 1 E(~
~ x, t) = ℜ E(~ ~ x)e−iωt + E
~ ∗ (~x)eiωt (41)
2
h i h i
~ x, t) = ℜ H(~
H(~ ~ x)e−iωt ≡ 1 H(~ ~ x)e−iωt + H ~ ∗ (~x)eiωt , (42)
2

~ 1 h~ −iωt ~∗ iωt
i
J(x) = J(~x)e + J (~x)e (43)
2
~ x) e J(x)
onde E(~x), H(~ ~ são complexos, isto é o módulo e a fase dependem de ~x:

~ x) = |F(~
F(~ ~ x)| eiθ(~x) (44)
| {z }
F̃ (~
x) é real!

Para os campos e fontes harmônicas (41)-(43) as Equações de Maxwell ficam escritas


como
~ ·B
∇ ~ =0 ~ ·D
∇ ~ =ρ
~ ×E
∇ ~ − iω B
~ =0 ~ ×H
∇ ~ + iω D
~ = J~ (45)

Para calcular a média por ciclo 6 da potência dos campos dWE /dt, vamos usar uma pro-
priedade válida para grandezas harmônicas:
h i h i
F(~ ~ x, t) = 1 F(~
~ x, t) · G(~ ~ x)e−iωt + F ~ ∗ (~x)eiωt · G(~ ~ x)e−iωt + G~ ∗ (~x)eiωt =
4
1 h~ ~ x)e−2iωt + F ~ ∗ (~x) · G(~
~ x) + F(~
i
~ x) · G~∗ (~x) + F~ ∗ · G~ ∗ (~x)e2iωt =
= F(~x) · G(~
4
1 h~ ~ x)e−2iωt + F ~ ∗ (~x) · G(~
~ x)
i
= ℜ F(~x) · G(~
2
Tomando a média por ciclo:
 
D E 1 D ~ E D E
~ x) · G(~
F(~ ~ x) = ℜ  F(~ ~ x)e−2iωt
x) · G(~ + F~ ∗ (~x) · G(~
~ x) 

ciclo 2 | {z ciclo
} ciclo
0

6
Média por ciclo:
Z T0
1 2π
h. . . iciclo = (. . . )dt T0 =
T0 0 ω0
Curso de Eletrodinâmica Clássica I. 2005.1 Departamento de Fı́sica - UFPE 12

resulta:
D E 1 h ~∗ i
~ x) · G(~
F(~ ~ x) = ℜ F ~ x)
(~x) · G(~ (46)
ciclo 2

Portanto, para a potência eletromagnética:

  Z   Z 
dWE ~ x~′ ) · E(~
~ x)d3 x 1 ~∗ ~ 3
= J( =ℜ J (~x) · E(~x)d x (47)
dt ciclo ciclo 2 V

R R
Portanto, devemos calcular 21 V J~∗ · E
~ d3 x (ao invés de
V
J~ · Ed
~ 3 x) e ao final tomar a
parte real, o resultado sendo a média por ciclo da taxa de variação do trabalho doado
pelos campos ao volume V .

Fazendo um cálculo análogo ao das equação (5)-(7) obtemos para meios lineares:
Z Z
1 ~∗ ~ 3 1 ~ · (∇
~ ×H ~ ∗ − iω D~ ∗ ); d3 x
J ·E d x = E
2 V 2 V
 
Z
1  ~ ~ ×H ~ ∗ ) −iω(E ~ ·D ~∗ −B
~ ·H
~ ∗ ) 3
= −∇ · (E d x (48)
2 V | {z }
~
S

onde identificando

~ = 1 (E
S ~ ×H ~ ∗) Vetor de Poynting complexo (49)
2
1 ~ ~∗
we = (E · D ) Densidade de energia elétrica harmônica (50)
4
1 ~ ~∗
wm = (B · H ) Densidade de energia magnética harmônica (51)
4
podemos escrever a equação complexa (48) como

Z Z I
1
(J~∗ · E)d
~ 3 x + 2iω (wE − wM )d x + 3 ~ · n̂da = 0
S (52)
2 V V S

que é análoga à equação (5).

Análise:

1. A parte real de (52) fornece a conservação da energia para grandezas médias (tem-
porais) em um ciclo!
2. A parte imaginária relaciona a energia armazenada e a energia reativa e os seus
fluxos alternantes.
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3. Se as integrais de volume de wE e wM são reais (como ocorre para sistemas com con-
dutores perfeitos e dielétricos sem perdas) → a parte real da equação (52), resulta:
Z I
1 ~∗ ~ 3 ~ · n̂)da = 0
ℜe(J · E)d x + ℜe(S (53)
2
ou seja:

A taxa média por ciclo do trabalho doado às fontes em V pelos


campos é igual ao fluxo médio da potência ingressando no volume
V , através da sua superfı́cie S.

4. Se houver perdas em componentes do sistema, o segundo termo de (52) terá uma


parcela real que representará a potência dissipada por ciclo.

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