Em síntese, a teoria desenvolvimentista pode ser analisada de duas formas distintas:
uma gestão econômica alternativa ao liberalismo e uma escola de pensamento econômico. Pela visão de Bresser-Pereira, há diferentes formas de manifestação do desenvolvimentismo ao longo da história, sob diversos contextos e regimes organizacionais. A dualidade liberalismo- desenvolvimentismo, atestada de forma atemporal sobre a relação Estado e mercado nas discussões políticas e de definição estrutural nacional é o argumento usado pelo economista para justificar a multiplicidade de formas de tal organização econômica. O novo desenvolvimentismo, portanto, conta com aspectos intrínsecos ao pensamento adverso ao liberalismo, no quesito de atuação estatal sobre a economia. De certa forma, pode ser traduzido como uma teoria que engloba tanto a força do Estado quanto a força do mercado sobre as políticas macro e microeconômicas (obviamente conduzidas pela coordenação eficiente dos agentes de acordo com cada caso de estrutura analisado), em prol do aumento dos padrões de vida da população. Tais padrões podem ser agrupados como "a ordem pública ou a garantia da propriedade e dos contratos, a educação pública, a promoção da ciência e da tecnologia, os investimentos na infraestrutura econômica, e uma taxa de câmbio que torne competitivas as empresas que utilizam a melhor tecnologia disponível no mundo."1 Acerca da dualidade liberalismo-desenvolvimentismo citada, a definição de parâmetros organizacionais de caráter político não é sempre aplicável para a caracterização do liberalismo em si ou o desenvolvimentismo em si. Ou seja, atesta-se, historicamente, que tanto experiências liberais quanto desenvolvimentistas contaram com, por exemplo, regimes autoritários e democráticos. No caso, o chamado primeiro desenvolvimentismo, ocorrido na Inglaterra e França com a Revolução Industrial e o Mercantilismo, contou com experiências autoritárias, assim como o nacional-desenvolvimentismo (Brasil, Turquia) e o desenvolvimentismo do Leste Asiático (Tigres Asiáticos, China, Japão). Por outro lado, o denominado segundo desenvolvimentismo, ocorrido após a Segunda Guerra Mundial (EUA, Europa) foi democrático e social. Apesar dos avanços conquistados, os períodos de crise são comuns a todos, colimando nos anos de influência neoliberal (de maneira teórica e política), os quais também são como “ondas de pensamento”. Dada essa alternância, nasce o novo desenvolvimentismo com o pretexto de explicar a estagnação relativa de países latino-americanos. Tal estagnação é oriunda dos diversos fracassos de experiências ortodoxas e heterodoxas em tais países, diante das políticas (cambiais e fiscais, respectivamente) macroeconômicas adotadas – sobretudo enviesadas por ideologias que defendem o crescimento adjunto do endividamento externo (tanto keynesianos quanto liberais), logo, atingidos pela crise na balança de pagamentos. A evolução histórica é observada de tal forma: a) anos 40 – “development economics” com a formação das Nações Unidas, e “estruturalismo latino-americano” com a Cepal. Desenvolvimento econômico de países periféricos puxado pela aliança política de classes com força motriz de industrialização, capaz de mudar a forma de dependência constituída entre centro e periferia. Conta com influência teórica clássica (Marx e Smith), macroeconomia keynesiana e a teoria estruturalista latino-americana. A dizer do Brasil, verificam-se grandes vertentes influenciadoras: nacionalismo (exclui-se nacionalismo agrário), industrialismo, papelismo e positivismo (mesmo que estes últimos sirvam como uma atestação de quebra de paradigma, vale-se pontuar); b) anos 60 – golpes militares que incorporam o pensamento de subordinação da periferia perante o centro; c) anos 70 – análise estruturalista perde relevância e espaço no meio acadêmico para a teoria neoclássica; d) anos 80 e 90 – preponderância neoliberal em caráter teórico e prático, ambientado em um quadro de ampla dívida externa dos
1 “Teoria novo-desenvolvimentista: uma síntese” – Luiz Carlos Bresser-Pereira, 2016, p. 4
países em desenvolvimento e fortalecimento dos países centrais. Ocorre a transição para a ortodoxia convencional nos países periféricos. Presente em tal contexto, em 1990 o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira se posiciona contra o Consenso de Washington (1989) em uma aula magna de um congresso anual da ANPEC, cujo posicionamento ganha outra dimensão após seu período como ministro na época de governo de FHC, em 1999. Escreve junto de Yoshiaki Nakano dois documentos explicitamente críticos ao populismo cambial ortodoxo que se tornara relevante na América Latina, propondo, além disso, alternativas de políticas econômicas capazes de modificar o estado de semi-estagnação e incapacidade competitiva dos países periféricos. Em 2003, como sugestão de Nakano, nasce o termo “novo desenvolvimentismo”. Dada a relevância alcançada com as exposições de Bresser e Nakano, outros economistas (João Sicsú, Luiz Fernando de Paula e Renaut Michel) se organizam e lançam o livro “Novo-desenvolvimentismo: Um Projeto Nacional de Crescimento com Equidade Social”, caracterizando o novo desenvolvimentismo não mais como uma proposta organizacional, mas sim como um projeto cardinalmente estruturado e com estratégias bem definidas.