Você está na página 1de 11
© Cosac Naify, 201 © Fernando Antonio Novais, 2011 © Rogerio Forastieri da Silva, 201 Coordenacao editorial MILTON OHATA Preparagdo CLAUDIA AGNELLI e JULIA BUSSIUS Revisio CECLIA RAMOS, CLAUDIA CANTARIN € MARIA FERNANDA ALVARES Projeto grifico MARIA CAROLINA SAMPAIO Composigao ALEJANDRA ADEIKALAM € GUSTAVO MARCHETIT Produgao gréfica ALINE VALLI Nesta edigdo, respeitou-se o nove Acordo Ortogréfico da Lingua Portuguesa. Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagao (c1P) (Camara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Nova histéria em perspectiva volume 1/ organizacio ¢ introdugao Fernando A. Novais e Rogerio Forastieri da Silva Sao Paulo: Cosac Naify, 201 Visrios autores $60 pp. ISBN 978-85-7503-742-3, 1. Historia - Teoria, 2, Historiografia 1. Novais, Fernando A. 11, Silva, Rogerio Forastieri da 11-03422 cpp 907.2 Indice para catélogo sistematico: 1. Histéria e historiografia 907.2 cosac NAIFY Rua General Jardim, 770, 2° andar 01223-010 Sao Paulo sP [ss 11] 3218 1444 cosacnaify.com.br Atendimento ao professor (ss 11) 3218 1473, a rr re CARLO GINZBURG 13. CONTROLANDO A EVIDENCIA: O JUIZ E 0 HISTORIADOR he a) Evidéncia, como pista ou prova, é uma palavra crucial para o historiador e pa © juiz. Essa afinidade implica tanto convergéncias quanto divergéncias, e is tem sido reconhecido ha muito tempo. Alguns desenvolvimentos recentes’ no trabalho do historiador langam novas luzes sobre esse antigo tema.’ 1 Trato de alguns dos temas mencionados neste ensaio nos seguintes trabalhos: “Ch Roots of an Evidential Paradigm” e “The Inquisitor as Anthropologist”, in Clues, My and the Historical Method, trad, John e Anne C. Tedeschi. Baltimore: ‘The Johns Hopkit University Press, 1989, pp. 96-125, 156-64 [ed. bras.: Mitos, emblemas, sinais: morfologia 6ria, trad, Federico Carotti. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2003]; introdugao Cultura popolare nell’Europa moderna, de Peter Burke, trad. Federico Canobbio-Codel Milo: A. Monadori, 1980, pp. x1v-xv [ed. bras.: Cultura popular na Idade Modern trad. Denise Bottmann. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1989]; “Proofs and Possil lities: In the Margins of Natalie Zemon Davis’ The Return of Martin Guerre”. Yearbo of Comparative and General Literature, trad. Anthony Guneratne, n. 37, 1988, pp. 14~ especialmente n. 7, p. 116; “Montrer et citer: La vérité de l'histoire”. Le Débat, 56, out. 1989, pp. 43-59; € “Just One Witness”, in Probing the Limit zism and the Final Solution, Saul Friedlander (org.). Cambridge, Mass., no prelo. Es! ensaio é parcialmente baseado em passagens extraidas do meu livro II giudice e lo storico: Considerazioni in margine al processo Sofri. Turim: Einaudi, 1991. ; 342 CONTROLANDD A EVIDENCIA: 0 JUIZ E 0 HISTORIADOR Nos tiltimos 2500 anos, desde os primérdios do género literério que chama- mos “hist6ria’, na Grécia Antiga, o relacionamento entre a histéria ea lei tem sido muito estreito. De fato, 0 termo grego historia deriva da linguagem médica, mas a habilidade argumentativa que ele traz se relacionava & esfera judicial. A historia, como enfatizava Arnaldo Momigliano ha alguns anos, emerge como atividade intelectual independente na interse¢ao da retérica e da medicina. Seguindo o exemplo da ultima, o historiador analisa casos especificos e situagdes buscando suas causas naturais; seguindo as prescrig6es da primeira — uma técnica, ou uma arte, nascida nos tribunais —, ele comunicava os resultados de sua investigagao? Na tradi¢ao classica, a escrita da histéria (e da poesia) tinha de trazer uma marca que os gregos chamavam enargeia, e os romanos, evidentia in narratione: a habilidade de construir uma vivida representagao de perso- nagens e situagdes. O historiador, como 0 advogado, devia formular um argumento convincente comunicando a ilusao de realidade, nao pela exi- bicao de provas coligidas por si ou por outros. Coligir provas era, até a metade do século xvi, uma pratica de antiqudrios e eruditos, nao de historiadores.’ Quando, em seu Traité des differentes sortes de preuves qui servent 4 établir la vérité de I’histoire (1769), 0 erudito jesuita Henri Griffet comparou o historiador a um juiz que cuidadosamente avaliava provas e testemunhas, ele expressava uma necessidade intelectual ainda nao for- mulada. Somente alguns anos depois Edward Gibbon publicou seu Decli- ne and Fall of Roman Empire, o primeiro trabalho que efetivamente com- binava narrativa histérica e abordagem antiquaria’ 2 Ver Arnaldo Momigliano, “History between Medicine and Rhetoric”, in Ottavo contri- buto alla storia degli studi classici e del mondo antico, trad. Ricardo Di Donato. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura, 1987, pp. 14-25. 3. Ver C. Ginzburg, “Montrer et citer”, op. cit. 4 Ver A. Momigliano, “Ancient Historian and the Antiquarian’, in Contributo alla storia degli studi classici. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura, 1955, pp. 67-106. 5 Ver Henri Griffet, Traité des differentes sortes de preuves qui servent a établir la vérité de Vhistoire, 2? ed. Liége: Bassompierre, 1770. Allen Johnson, em seu Historian and Histo- rical Evidence. Nova York: Charles Scribner's Sons, 1926, fala do Traité como “o mais icativo livro sobre método depois de De re diplomatica, de Mabillon (p. 114). Ver também Momigliano, “Ancient Historian and the Antiquarian”, p. 81, e Ginzburg, “Just One Witness”. Sobre Gibbon, ver Momigliano, Sesto contributo alla storia degli studi classici e del mondo antico. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura, 1980, pp. 231-84. GINZBURG 343

Você também pode gostar