A Relação Campo-Cidade
Prof: Welligton Mendes Frente: 02
AGRICULTURA E A DIVERSIDADE DO MEIO RURAL
O campo e a cidade
Nas sociedades antigas a agricultura era a principal
atividade econômica. Mesmo naquelas que se celebrizaram pelo
esplendor de suas cidades, a grande maioria da população
trabalhadora vivia nos campos. Na Antigüidade, o campo era o
espaço da produção; a cidade, o espaço da circulação e do
consumo das mercadorias produzidas. A cidade foi também o es-
paço da política, das artes e da ciência, do ócio.
CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
população urbana e população rural
Nas sociedades pré-industriais, o campo abrigava a
grande maioria da população e era responsável pela quase
totalidade da produção de riquezas. Através de diferentes
mecanismos de coerção política, o excedente da produção
agrícola era canalizado para o sustento das populações urbanas
e dos homens em armas.
A Revolução Industrial transformou radicalmente as
relações entre o campo e a cidade. Somente as cidades podiam
oferecer condições necessárias para o nascimento da indústria
moderna: concentração geográfica de mão-de-obra e mercado
consumidor, além da possibilidade de uso comum das infra-
estruturas necessárias ao funcionamento das fábricas, como os
sistemas de distribuição de energia e de abastecimento de água.
A urbanização acompanha a industrialização. Ao mesmo
tempo que libera mão-de-obra para as atividades urbano-
industriais, a agricultura deve responder pela produção de uma
quantidade crescente de alimentos para as populações da
cidade. Menos pessoas produzindo no campo, mais pessoas
consumindo nas cidades: isso só foi possível graças ao aumento
exponencial da produtividade agrícola. Uma verdadeira revolução
nas técnicas da agropecuária precedeu, preparou e acompanhou
a Revolução Industrial.
Nas economias modernas, o consumo urbano de
alimentos e matérias-primas condiciona a produção agrícola. De
um lado, a economia rural, antes autosuficiente, se reorganiza e
se especializa para atender as demandas da cidade. De outro,
passa a depender das cidades, que fornecem maquinário
agrícola, insumos e alimentos industrializados.
O agricultor moderno é um produtor especializado. Sua
produção destina-se exclusivamente ao mercado, do qual ele
adquire tudo o que necessita para viver. A cidade, antes espaço
de consumo e circulação de excedentes da produção agrícola, se
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Aula: 13
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torna o foco de transformação industrial e de redistribuição da
totalidade da produção rural.
A industrialização da agricultura
A agropecuária consiste no conjunto de técnicas
produtivas voltadas para o controle do desenvolvimento das
plantas e animais para consumo alimentar e industrial. Ela se
distingue da indústria, pois suas matérias-primas são seres vivos,
cujo desenvolvimento depende de processos naturais. As plantas
processam luz solar, em presença de água e nutrientes. O
crescimento das plantas e animais é regulado pela interação de
sua carga genética com o ambiente. Esse é o motivo pelo qual a
eficiência da agropecuária não pode alcançar a eficiência da
indústria.
A Bolsa Mercantil de Chicago (EUA) é o maior centro
financeiro mundial dedicado à comercialização de alimentos.
As suas cotações definem as paisagens dos campos de cultivo
da América do Norte e repercutem sobre as decisões de
produção de agricultores de todos os continentes.
Há diversas limitações naturais a produção e ao aumento
da produtividade. Nem todos os solos são propícios a agricultura
e existem fortes diferenciais de fertilidade natural. Os baixos
níveis de insolação impedem o cultivo de plantas nas altas
latitudes e a carência de água tem o mesmo efeito nos desertos.
As espécies vegetais e animais apresentam requisitos
ambientais mínimos, que definem limites geográficos para as
culturas e a criação: o trigo não se adapta a climas quentes e
úmidos, o cacau e a cana-de-açúcar não se desenvolvem em
climas frios e secos, o arroz necessita de água em abundância...
Além disso, todos os seres vivos são vulneráveis a pragas, que
participam dos ecossistemas.
Toda a história da agropecuária, desde a Revolução do
Neolítico1, consiste na criação de técnicas destinadas a ampliar
o controle humano sobre os processos naturais de
desenvolvimento dos seres vivos. Em milênios de seleção
dirigida, as sociedades produziram novas variedades de plantas
e raças de animais. Através da colonização, sementes, mudas e
animais reprodutores atravessaram oceanos e difundiram-se
para novos ambientes. A irrigação, os fertilizantes químicos e o
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Revolução Neolítica. O Neolítico, ou Idade da Pedra Polida, assinala a
transição economia predatória e nômade ou seminômade para a
economia produtiva e sedentária. Essa revolução produtiva, que
começou no Crescente Fértil há cerca de 10 mil anos, baseou-se na
domesticação das plantas e dos animais. Os excedentes gerados pelas
novas técnicas possibilitaram o surgimento das mais antigas
aglomerações urbanas e das primeiras civilizações históricas.
terraceamento2 ampliaram os solos cultiváveis.
A Revolução Industrial repercutiu profundamente sobre a
agropecuária, substituindo a forca de trabalho humana pela forca
mecânica. Tratores, semeadeiras, colheitadeiras, debulhadoras
produziram um salto nos níveis de produtividade da economia
rural, que passou a depender da energia fornecida pelos
combustíveis fósseis e pela eletricidade. Em conseqüência, o
campo tornou-se um vasto mercado consumidor para as
indústrias de maquinas agrícolas, de adubos químicos e
pesticidas.
A revolução tecnocientífica contemporânea representa
novas transformações nas técnicas da agropecuária. A mais
importante delas consiste na aplicação da biotecnologia a
produção, através da engenharia genética.
A seleção dirigida realiza-se por meio de cruzamentos
entre variedades e raças da mesma espécie que podem gerar
descendentes com as características desejadas; a engenhana
genética consiste num patamar mais avançado de intervenção
sobre os mecanismos evolutivos naturais: a introdução de genes
escolhidos em plantas ou animais, gerando descendentes com
determinadas características favoráveis. A seleção dirigida limita-
se a promover o intercâmbio de material genético no interior das
espécies; a engenharia genética faz esse intercâmbio por cima
das fronteiras das espécies. A seleção dirigida origina
modificações inesperadas nas características dos organismos; a
engenharia genética produz apenas as modificações
previamente programadas.
Campos irrigados no deserto da Líbia. O “deserto verde”
testemunha a presença da tecnologia e o recuo do meio
natural.
climáticas e pedológicas, bem como a vulnerabilidade da
agropecuária as alterações climáticas e ambientais que escapam
ao controle humano.
Plantas transgênicas: a natureza patenteada.
Esse é o motivo pelo qual a produção agropecuária
continua a constituir um setor econômico dominado pelos
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produtores familiares . As grandes empresas concentram-se,
geralmente, na comercialização e industrialização de alimentos.
As exceções aparecem na pecuária de corte e de leite e,
principalmente, na avicultura, onde o ciclo de produção natural foi
acelerado ao máximo (veja o box).
Fábricas de ovos
Nas modernas granjas norte-americanas, o ritmo da
natureza acompanha quase que integralmente o ritmo da
produção industrial. Não por acaso, a avicultura é o setor que
que concentra os investimentos das grandes empresas
agroindustriais.
“Uma pessoa, trabalhando numa moderna granja de
criação de galinhas, pode encarregar-se de até 75 mil animais.
Algumas grandes empresas de alimentos, como a Ralston
Purina, a Cargill e a Allied Mills, são responsáveis por
gigantescas instalações aviárias que processam dezenas de
milhares de galinhas por dia. Como na organização fabril, as
chaves dessa produção são a procriação especial, alimentação
intensiva enriquecida, estímulos químicos (hormônios) e controle
de doenças.

As empresas de biotecnologia criaram inúmeras novas Além disso, os animais podem ser amontoados em
variedades de soja, milho, batata, tornate e outras plantas. Em ambientes artificiais, onde suas funções orgânicas podem ser
geral, esses organismos geneticamente modificados (OGM) ou tratadas mecanicamente e de maneira contínua, muito
transgênicos toleram determinados pesticidas, comercializados semelhante a operação em uma fábrica real. A produção de
pelas mesmas empresas que fornecem as sementes ovos, em particular, emprega uma operação de linha de
transgênicas. Mas há variedades capazes de exterminar ervas montagem totalmente automatizada. O alimento passa na frente
daninhas ou pragas, tolerantes a ambientes mais secos ou mais de galinhas imóveis, numa correia transportadora, enquanto os
úmidos, que produzem frutos maiores ou mais saborosos. ovos e excrementos são removidos em outras correias. A
iluminação artificial supera o ciclo diário natural e mantém as
Os OGM começaram a ser plantados em meados da galinhas em postura constante. Algumas granjas produzem mais
década de 1990 e em cinco anos já cobriam 40 milhões de de meio milhão de ovos por dia.”
hectares. Os Estados Unidos e, bem depois, a Argentina e o
Canadá detinham as maiores áreas cultivadas com transgênicos. (Burbach e Flynn, Agroindústria nas Américas, p. 31.)
Empresas transnacionais, como a norte-americana Monsanto, a
alemã AgrEvo e a suíça Novartis, controlam as tecnologias e
patentes.
As tecnologias da Revolução Industrial e da biotecnologia
garantiram um enorme salto de eficiência e produtividade, mas
não eliminaram os condicionamentos naturais. O trabalho na
agricultura continua a ser menos produtivo do que o trabalho na
indústria. Esse diferencial negativo de produtividade reflete a
importância dos ciclos vegetativos naturais, das limitações

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Terraceamento. Técnica de proteção dos solos contra a erosão pluvial Produtores Familiares. Agricultores que cultivam a terra utilizando,
que consiste na construção, nas encostas montanhosas, de patamares predominantemente, sua própria força de trabalho e a dos integrantes de
aplainados com lados inclinados. sua família.
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