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Introdução
encontre limites. Para que não se possa Art. 13 O controle das atividades da
abusar do poder, é preciso que, pela Administração Federal deverá exercer-
disposição das coisas, o poder detenha o se em todos os níveis e em todos os
poder”. Nesse sentido, o uso do poder órgãos, compreendendo, particular-
pelo administrador público deve sofrer mente:
controle e interferência capazes de agir a) o controle, pela chefia competente,
como freio ao arbítrio, à improvisação e à da execução dos programas e da
irresponsabilidade administrativa. Na atual observância das normas que gover-
Constituição Federal o “sistema de freios”, nam a atividade específica do órgão
no âmbito da administração pública, controlado;
corresponde aos controles interno e b) o controle, pelos órgãos própri-
externo, conforme definido no artigo 70: os de cada sistema, da observância das
normas gerais que regulam o exercício
Art. 70: A fiscalização contábil, das atividades auxiliares;
financeira, orçamentária, operacional e c) o controle da aplicação dos dinhei-
patrimonial da União e das entidades da ros públicos e da guarda dos bens da União
administração direta, indireta, quanto à pelos órgãos próprios do sistema de
legalidade, legitimidade, economicidade, contabilidade e auditoria. (Decreto-Lei no
aplicação de subvenções e renúncia de 200 de 25 de fevereiro de 1967).
receitas, será exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, e Seguramente, o Decreto-Lei no 200/
pelo sistema de controle interno de cada poder 67 foi o instrumento que teve o condão
(grifo nosso). de positivar, entre as responsabilidades da
administração pública, o controle interno
Antes disso, o sistema de controle já do próprio administrador sobre o seu
havia sido recepcionado pela primeira vez fazer (controle interno administrativo),
na Constituição de 1967, e positivado no inaugurando, inclusive, as auditorias de ca-
Decreto-Lei no 200/67 que determinava, no ráter financeiro e orçamentário.
artigo 6o, “Dos Princípios Fundamentais”: No entanto, apesar de meio útil e
imprescindível da administração, muito
Art. 6o As atividades da Administração comumente surgem dúvidas quanto ao
Federal obedecerão aos seguintes que, de fato, seja controle interno. Para
princípios fundamentais: fins deste trabalho, o conceito que será
I - Planejamento. aqui exposto trata do controle interno não
II - Coordenação. como imposição legal e burocrática de
III - Descentralização. controle dos atos, ações e resultados do
IV - Delegação de Competência. administrador público. A definição
V - Controle. adotada conceitua o controle interno
(Decreto-Lei no 200 de 25 de feve- como processo, do dia a dia, realizado
reiro de 1967, grifo nosso). pela direção, ou seja, por pessoa
responsável por dirigir as atividades da
E especificamente no Capítulo V, no área que coordena, como, por exemplo,
que concerne ao sistema de controle na área de compras, financeira, entre outras,
administração: com propósito de fornecer segurança
ampará-lo e assessorá-lo na medida em que, o que deve fazer” e seja impedido “de fazer
através da auditoria, é possível prever, o que não deve ser feito”.
corrigir e até coibir práticas dissociadas dos Por essa razão, este artigo apresenta a
objetivos de sua gestão. Por ignorância e proposta de criação de auditoria interna
preconceitos, o administrador considera em todos os níveis da administração
que, via de regra, “auditoria é problema”. pública brasileira, como elemento de cons-
Quando, na realidade, a auditoria aponta tante análise sobre o controle interno e
soluções para os problemas. como interface com o controle externo.
A segunda razão para o administrador Dessa forma, objetiva-se alicerçar o
público não considerar a criação de uma entendimento de que a criação de uma
auditoria interna na sua gestão é a descon- auditoria interna nas organizações públicas,
fiança de que ficará tolhido, sem liberdade nas três esferas de poder (Executivo,
de dirigir a administração da forma que Legislativo e Judiciário), corresponde, a um
planejou. Isso não corresponde à verdade. só tempo, a uma ação de relevância social
Na realidade, a auditoria interna, longe de e um compromisso com a austeridade por
ser uma área impositiva ou punitiva, é, ao parte de todo aquele que detém a respon-
contrário, uma ferramenta de apoio e sabilidade de gerir a coisa pública.
assessoramento à gestão. A auditoria interna
não toma medidas de correção e, sim, A experiência no Instituto de
sugere essas medidas, prevendo o impacto Pesos e Medidas do Estado de São
das correções nos objetivos da entidade. Paulo (Ipem-SP)
A auditoria não conduz a gestão para esta
ou aquela direção e, sim, organiza relatórios Por meio da Lei 6.985 de 23 de
que mostram os melhores caminhos, as dezembro de 1966 foi criado o Instituto
boas práticas, os melhores controles, sem, de Pesos e Medidas do Município de São
contudo, impor regras de conduta e novos Paulo, respaldando juridicamente atri-
procedimentos que, em ultima análise, são buições metrológicas exercidas pelo
decisões que competem ao próprio gestor município. Em seguida, no mês de feve-
público. Ressalte-se ainda que os relatórios reiro de 1967, atendendo a nova política
e pareceres da auditoria interna possuem nacional de metrologia, foram criados
caráter opinativo e não obrigatório para a órgãos estaduais delegados do Instituto
administração, cujos “pontos de melhoria” Nacional de Pesos e Medidas (INPM),
contidos nos pareceres dos auditores atualmente Instituto Nacional de Metro-
internos podem ou não ser seguidos pelo logia (Inmetro), autarquia federal adminis-
administrador. Naturalmente que o risco trativamente vinculada ao Ministério do
de seguir ou não os pontos de melhoria Desenvolvimento, Indústria e Comércio
propostos pelos auditores internos é de de- Exterior. No mesmo ano, mediante o
cisão do gestor público. Decreto no 47.927 de 24 de abril, foi criado
Portanto, como salientado, a auditoria o Instituto de Pesos e Medidas do Estado
interna age apreciando a atividade pública, de São Paulo (Ipem-SP), com a finalidade
sem infligir o modelo gerencial perfeito, de executar serviços técnico-administra-
corroborando para que a administração e tivos de pesos e medidas no território do
os objetivos sejam eficientemente condu- Estado de São Paulo. O Ipem-SP, portanto,
zidos, de modo que o Estado possa “fazer é um órgão delegado do Inmetro e uma
pública, que zela pelo funcionamento da que seja administrado de forma respon-
organização, tendo ainda um importante sável e competente. Os controles internos
papel conselheiro de boas práticas de e externos estabelecidos no ordenamento
gestão para o administrador público. Dessa jurídico nacional trouxeram bases claras
forma, não tem coerência dizer que a para o agir “politicamente responsável” e
“auditoria é problema”. Ao contrário. Esse o “administrativamente eficiente” do
paradigma perverso e incoerente deve ser administrador público, que, combinados
suplantado em face da necessidade da com a auditoria interna, possam finalmente
administração pública de controlar e prestar levar o Estado a um refinamento e
contas sobre o uso do poder. aprimoramento na gestão pública brasileira.
A Constituição Cidadã de 1988, bem (Artigo recebido em maio de 2010. Versão final
como os demais dispositivos legais, revela em abril de 2011).
os anseios de uma nação por um Estado
Referências bibliográficas
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 16 edição. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1988.
SENADO FEDERAL. Pronunciamento da Constituição Federal Brasileira de 1988. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/comunica/museu/ulisses.htm. Acessado em: 02 de mar. 2010.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 17. ed. rev. atual. São Paulo:
Malheiros, 2000a.
internal audit management mechanism which as a rule, helps to detect and suggest the correction of
erroneous procedures and waste, especially in anticipation of such occurrences. This article is presented
as one more example of the creation of internal audit at the Office of Weights and Measures of the
State of São Paulo – Ipem-SP, his dialogue with the External Control and results within the
municipality.
Keywords: internal and external controls, internal audit, management mechanism
Célia Marçola
Especialista em Administração pela Universidade de São Paulo (USP). Atua como auditora-chefe e responsável
pela implantação da Auditoria Interna do Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem-SP). Contato:
cmarcola@sp.gov.br