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BIGUAÇU,
2012
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BIGUAÇU,
2012
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TEMA: Luto
BANCA EXAMINADORA
Agradecimentos
Resumo
Realizou-se um estudo bibliográfico e exploratório com o objetivo de problematizar o
papel da escola no que diz respeito às situações de luto na infância e na adolescência.
Para tanto, a pesquisa bibliográfica ocorreu nas bases de dados eletrônicas ScIELO e
PePSIC, entre os anos de 2006 à 2012, bem como em bases de dados das bibliotecas da
Univali e UFSC. A partir dos objetivos delineados, que foram as perdas no ciclo vital e
as situações de luto vivenciadas na infância e na adolescência; as características do
processo de luto e as atividades que os educadores realizam na escola, a coleta e análise
dos dados deram-se a partir das principais temáticas abordadas pelos autores. Quanto
aos resultados, verificou-se, especificamente, que as crianças e os adolescentes podem
ter seu rendimento escolar prejudicado em função do silêncio que sem tem em torno da
morte e das reações apresentadas durante o processo de luto. A elaboração do luto é
influenciada pelo que é falado, de como os familiares reagem, se há a abertura para a
expressão dos sentimentos. É um processo importante para que se possa ressignificar à
perda. Assim como a realização de algumas atividades voltadas à situação de perda,
como, jogos, brincadeiras, contos, filmes e desenho são uma forma de dar voz, lugar as
crianças e adolescentes enlutados. Assim, conclui-se para a importância do apoio social
fornecido pela escola, para a criança e o adolescente se sentirem acolhidos e
reconhecidos, visto que, a não vivência desse processo pode interferir no seu
desenvolvimento escolar.
SUMÁRIO
1 Introdução............................................................................................................7
2 Método..............................................................................................9
2.1 Tipo de pesquisa.................................................................................................9
2.1.1 Sujeitos..................................................................................................................9
2.1.2 Procedimento de coleta e análise de dados..........................................................10
4 Considerações finais.......................................................................................33
Referências.............................................................................................................36
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1. Introdução
Durante o ciclo vital o ser humano passa por várias situações de perdas, sejam
elas simbólicas ou concretas. Familiares chegam e partem da vida em família e nos
momentos de transição no ciclo vital, como na infância, adolescência, vida adulta, e
velhice há várias perdas simbólicas, referentes às mudanças biopsicossociais que
ocorrem, como no corpo e na esfera dos relacionamentos.
As perdas, seja ela por morte ou não, estão presentes no nosso dia a dia, nos
nossos relacionamentos. Assim, é uma experiência que todos vivenciarão e cada pessoa
de uma forma diferente, peculiar, conforme as características pessoais e sociais.
Pesquisando artigos e livros que falam da morte e de perdas percebeu-se o
quanto a sociedade atualmente afasta as crianças e os adolescentes destes assuntos. Com
isso começou a despertar um interesse em trabalhar com este tema, mais
especificamente com a situação de luto.
É um assunto que não está presente na minha graduação e que encontro no meu
dia a dia, tanto como pessoa quanto profissional. E perguntas surgiram: como lidar com
uma criança ou adolescente que perde um colega da escola, um professor, um pai, um
parente próximo? Deve-se ficar atento a alguma mudança de comportamento?
Acontecerão mudanças? Quem deve auxiliar a criança e o adolescente a lidar com a
perda?
Lidar com perdas e a morte são um processo difícil, e muitas vezes as pessoas
não conseguem associar essas palavras à criança, como se esse processo não fizesse
parte da infância. Isto acaba favorecendo atitudes errôneas por parte da família,
professores e demais pessoas de referência para a criança, não intencionalmente, como
por exemplo, não falar sobre, evitar o assunto achando que com isto estão minimizando
o sofrimento da criança ou do adolescente.
Cabe às famílias, aos profissionais da educação e da saúde reconhecerem as
diversas perdas a que estão expostos às crianças e adolescentes, bem como os processos
associados a elas. Silva (2011) traz que o luto é um processo, é um momento para a
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elaboração de uma perda, seja ela por morte ou não. O luto mais reconhecido e aceito é
o relacionado à morte de um membro familiar, porém, outros eventos, como o luto pela
separação dos pais, pela mudança de cidade, de escola, por uma doença também podem
ser observados.
Da mesma forma, é importante que os professores tenham um conhecimento
sobre o processo de luto, pois este pode interferir na concentração, na aprendizagem das
crianças e dos adolescentes, podendo prejudicar o seu rendimento escolar (KÓVACS
2003; 2005; MELLO 2008; NALETTO 2005). Assim, entende-se que se a escola é um
espaço de vida, de crescimento e desenvolvimento, deveria abrir um espaço para se
trabalhar também com estes assuntos.
A produção científica sobre o luto na infância e adolescência, no Brasil, ainda é
pequena, e quando relacionado com o luto no ambiente escolar é ainda mais restrito. A
maioria da literatura encontrada a respeito do processo de luto infantil e adolescente é
estrangeira, conforme autores consultados (FRANCO e MAZORRA, TINOCO). Silva
(2011) aborda esta dificuldade em seu trabalho ao trazer que é uma temática pouco
difundida no meio acadêmico, mas de grande importância.
Considera-se neste trabalho que há uma necessidade de se estar discutindo e
refletindo sobre as situações de luto que afetam crianças e adolescentes no âmbito das
instituições de ensino, (KÓVACS, 2003). Sendo assim, este trabalho teve como objetivo
principal problematizar o papel da escola no que diz respeito às situações de luto na
infância e na adolescência, de acordo com a literatura científica. Decorrente deste
objetivo outros foram especificados como: a) discorrer sobre as perdas no ciclo vital e
as situações de luto vivenciadas na infância e na adolescência; b) identificar as
características do processo de luto de crianças e adolescentes e c) descrever atividades
que os educadores poderiam realizar na escola quanto ao tema luto na infância e
adolescência.
Frente ao que foi exposto, entende-se como de grande importância a discussão e
reflexão desta temática, visando contribuir para o melhor trabalho dos professores
dentro de sala de aula, e também para que as crianças e os adolescentes possam ter um
espaço acolhedor e de aprendizagem, pois cada pessoa vivencia o processo de luto de
formas diferentes.
A seguir será apresentado o método que embasou a proposta da pesquisa
bibliográfica e os resultados, bem como a discussão dos dados.
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2. MÉTODO
Este presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa que consiste
em um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado, numerado, ou
seja, ela trabalha com o universo dos significados, das crenças, dos valores e das
atitudes (MINAYO, 2007). Richardson (1999) aponta que este tipo de pesquisa
caracteriza-se como tentativa de uma compreensão minuciosa dos significados e
características ao invés de produzir medidas quantitativas dessas características ou
comportamentos. Ou seja, não possui a característica de numerar ou medir
categorizando homogeneamente. É a maneira mais adequada de entender os fenômenos
sociais.
É uma pesquisa de cunho exploratório que tem como principal finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos, ideias, formulando hipóteses para
estudos, pesquisas posteriores. Tem como objetivo proporcionar uma visão mais ampla
a cerca de um determinado assunto. Não possui uma rigidez no seu planejamento (GIL,
2008).
Nesta pesquisa qualitativa será utilizado o delineamento bibliográfico que é
realizado a partir de materiais já elaborados, construídos principalmente a partir de
livros e artigos científicos. Abrange toda a bibliografia tornada pública em relação ao
tema a ser pesquisado, permitindo que o pesquisador explore outras áreas que ainda não
foram pesquisadas (GIL, 2008). Lakatos e Marconi (2001) abordam que a pesquisa
bibliográfica propicia um novo olhar sobre um tema a partir de um enfoque ou
metodologia levando a conclusões inovadoras.
2.1.1 Sujeitos
Neste capítulo irá se discutir sobre a morte e os rituais que a envolvem e também
os rituais que envolvem o luto fazendo-se uma retrospectiva desde os primeiros séculos
até os dias de hoje. Faz-se importante resgatar estes aspectos para que se possa observar
a maneira com que o homem se relaciona com a morte, com o luto.
Kovács (2003) aborda que compreender os rituais e as formas de enfrentamento
da morte presentes na vida das pessoas é a base inicial e fundamental para preparar os
profissionais da educação para lidarem em seu cotidiano com a morte e com o processo
de luto. Com isto farei uma breve explanação sobre as formas, os costumes, a
compreensão, os rituais que se tinha e que se tem a respeito da morte.
Ariés (1977) traz que durante a Idade Média, entre os séculos IX e X o homem
tinha com a morte um convívio mais próximo e natural. A morte neste período era um
acontecimento público, havia uma familiaridade com a mesma. A pessoa ao pressentir
que iria morrer se recolhia nos seus aposentos e era acompanhado por familiares,
vizinhos, amigos, inclusive pelas crianças, onde o moribundo cumpria em seu leito o
ritual de adeus, redimindo-se de suas culpas, comunicava seus bens e esperava a morte
chegar. (ARIÉS, 1981).
Nesse período a morte era vista sem muita dramaticidade, ela fazia parte do
cotidiano familiar, era uma morte domada pelas pessoas. Durante suas preces as pessoas
pediam para ter uma morte calma, tranqüila, que acontecesse próxima da sua família,
dos seus amigos, em casa. Sendo que o temido era a morte inesperada, a morte “súbita”,
que privava o homem de se preparar para o seu momento final, esta era chamada de
morte feia e desonrosa (ARIÉS, 1989).
Áries (1977) traz que na idade medieval as manifestações, os sentimentos de dor
pelo morto, nos rituais de despedidas, eram permitidos, podiam ser expressos
livremente, pois com os rituais fúnebres se favorecia a vivência do luto. Havia respeito
pelo morto, onde se faziam visitas ao cemitério, tinha-se o tempo de luto e as
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cerimônias religiosas. As mortes ocorriam nas casas, o que fazia com que as crianças e
os adolescentes presenciassem a morte de uma pessoa querida, participasse do velório,
fizesse parte desse ritual (MELO, 2008).
Com esses rituais as pessoas lamentavam-se diante do cadáver, como uma forma
de desafogar a dor, uma possibilidade para que os sobreviventes pudessem expressar os
seus sentimentos livremente. O uso da cor preta pelos enlutados significava o medo que
se tinha dos mortos, o abandono e a perda. Passou-se a utilizar preto como uma forma
de expressar o que não podia ser expresso por gestos, palavras (ARIÉS, 1977). Kovács
(2003, p. 42) acrescenta que utilizar a cor preta “tinha duas intenções: representar o
caráter sombrio da morte e ser a demonstração de que a pessoa estava em luto, assim
não precisaria manifestar de maneira dramática sua tristeza”.
Melo (2008) elucida que os corpos eram enterrados no pátio das igrejas, onde
também ocorriam festas populares e feiras. Kovács (1992) vem ao encontro ao abordar
que houve um deslocamento dos enterros para os parques, afastando-se dos centros das
cidades, sendo que estes locais tornaram-se também um lugar de passeio, de descanso e
de oração. O homem neste período dividia os espaços de lazer, de convivência com os
mortos. Melo (2008) traz que este comportamento de mortos e vivos dividirem os
mesmos espaços começou a se modificar em 1231, onde se proibiu os jogos, as festas
nos cemitérios, e esta convivência com a morte passou a ser incômoda.
No século XII a missa de corpo presente acaba tornando-se regra, sendo uma das
mais importantes. Acrescenta que a missa de sétimo dia e de um ano também era
tradicional. O cortejo tinha o objetivo de acompanhar o morto, sendo que o padre tinha
o papel principal, pois era o especialista da morte. Sendo assim o morto passa a
pertencer à igreja e não mais a família. No lugar dos choros, das lamentações, eram
lidos ofícios, e quanto maior fosse o número de pessoas que acompanhava o cortejo,
mais importante era o morto (KOVÁCS, 2003).
Nos séculos XI e XII o homem começou a se questionar a respeito do que
acontecia após a sua morte, se iria para o paraíso ou para o inferno, havendo uma maior
preocupação com o juízo final, onde Deus avaliava as almas. Assim o homem mudou a
sua relação com a morte, não sendo esta mais encarada com a mesma naturalidade de
antes (MOTA, 2008). Melo (2008) traz que a partir deste momento a morte ganha um
sentido mais dramático e pessoal com uma percepção familiar, deixando de ser coletiva,
passando para uma preocupação mais individual, uma preocupação consigo mesmo.
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Na idade média viveu-se um momento de crise social muito grande por conta
das pestes, o que fez com que a maneira com que o homem lidava com a morte se
modificasse. Por conta deste fenômeno onde não se tinha mais o controle sobre os
eventos sociais e também não havia como controlar a morte como nos tempos
anteriores, esta passou a ser uma ameaça que convivia lado a lado com o homem,
podendo atingi-lo de surpresa. Com estes acontecimentos o homem passa a temer a
morte, e vários conteúdos negativos, como torturas, conteúdos macabros, passam a ser
associados à morte, o que ainda perdura até os tempos de hoje (MELO, 2008).
No século XV Kovács (2003) aponta que o corpo começa a ser escondido nos
caixões, pois a sua visão começava a ser insuportável. Mas para os nobres a visão do
corpo do morto foi substituída por uma estátua de cera ou de madeira que era exposta
em seu leito. Outra forma de se esconder o corpo foi a criação de máscaras mortuárias.
Mas esta imagem também passa a incomodar e o caixão passa a ser colocado em um
buraco. Sendo que as crianças e as pessoas pobres, que eram considerados sem valor,
eram jogadas em valas comuns (KOVÁCS, 2003).
No século XVII e XVIII houve uma intensificação das alterações com relação à
percepção que se tinha da morte, pois com o crescimento industrial e populacional
houve uma preocupação com a higiene pública, o que fez com que os cemitérios fossem
transferidos dos centros urbanos, os enterros se tornassem algo simples, e o luto
perdesse a sua originalidade e se tornasse algo mais impessoal (ARIÉS, 1989;
MARCÍLIO, 1983). Ariés (1982) que traz que o homem passa a se preocupar mais com
a morte do outro, da pessoa amada do que com sua própria morte. Mota (2008) aborda
que com este novo comportamento, o homem passou até a se preocupar como deveriam
ser os cemitérios, criando novas leis que instituíam regras quanto ao espaço e a
profundidade das covas, além de um padrão para os sepultamentos.
Ariés (1989) aponta que o homem começou a temer a morte, o moribundo não
podia mais realizar o seu ritual de despedida e a família passa a rejeitar a idéia de perder
o seu ente querido. No século XIX e XX começaram a se manifestar a necessidade de se
ter uma lembrança da pessoa morta, intensificando-se à inscrição funerária. Nelas
continham dados como nome, ano de falecimento, algum elogio e depois de um tempo
também se acrescentou os jargões “aqui jaz”, “que Deus tenha a sua alma” (KOVÁCS,
2003).
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progresso “a morte e o luto devem ser ocultos, sem direito a um espaço público, para
não causarem constrangimento e para que a sociedade não tenha que se ocupar com o
limite e a finitude” (MOTA, 2008, p. 41).
A morte nem sempre foi um assunto interdito, um tabu. Ariés (1977) traz que a
morte se transformou em um assunto interdito, sendo retirado da comunicação entre as
pessoas, somente no século XX. O que é curioso, pois como Kovács (2005) aborda, a
morte no século XX e XXI continua muito próxima das pessoas, principalmente, em
função do avanço da telecomunicação. Com a televisão as cenas de morte, de violência,
de doenças invadem diariamente as casas das pessoas, das famílias. Isto fica evidente na
fala de Kovács (2005, p. 486) que traz que “ao mesmo tempo em que é interdita, a
morte torna-se companheira cotidiana, invasiva e sem limites, e embora essas mortes
estejam tão próximas (real ou simbólica), reina uma conspiração do silêncio”.
Com esta invasão que as famílias têm em suas casas das cenas de mortes, Zorzo
(2004) pontua que desta forma é como se a morte estivesse distante do meio familiar,
como se só acontecesse com as outras pessoas, e para livrar-se dela é só desligar a
televisão. Kestemberg, Sória e Paulo (1992 apud Zorzo, 2004) relatam a respeito da
exaltação da morte pelos meios de comunicação, que acabam passando a imagem de
que todas as mortes vêm acompanhadas, ou acontecem em decorrência da violência.
Kovács (1992) vai chamar esta morte mostrada pelo sensacionalismo da mídia de morte
escancarada e banalizada.
Elias (2001) aborda que a exclusão da morte, da pessoa morta da vida social e a
ocultação da mesma para outras pessoas, principalmente das crianças e adolescentes,
está relacionada com o desconforto sentido na presença da pessoa morta. Hoje em dia as
pessoas não sabem o que falar, se embaraçam diante de uma pessoa que esteja em
processo de luto pela falta de espontaneidade na expressão dos sentimentos. O silêncio
se prolonga mesmo após a morte (ELIAS, 2001).
Bomberg (2000) traz que embora não haja uma padronização de significados
atribuídos à morte nas diferentes sociedades, há uma previsibilidade de
comportamentos, um quadro de referências à morte, uma estabilidade nas expectativas.
Acrescenta que por conta disto “os rituais por ocasião da morte estão presentes nos
processos cerimoniais de todos os povos, trazendo o objetivo e o significado da
ritualidade tanto do ponto de vista cultural como individual” (BROMBERG, 2000,
p.17).
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Elias (2001) traz a discussão de que a morte não traz problemas para os seres
humanos, mas sim o conhecimento que se tem da mesma; fazendo uma alusão aos
animais que não têm conhecimento sobre a morte, que nada sabem sobre a morte, sendo
assim, como os seres humanos sabem, esta se torna um problema. A experiência, os
rituais, as ideias que se tem a respeito da morte é variável e específica segundo os
grupos, e estes se tornam aspectos de socialização que podem unir, se forem comuns, ou
separar grupos se forem divergentes (ELIAS, 2001).
Silva (2005) aborda que os rituais e os costumes funerários não estão apenas
relacionados com a preparação e despedida do morto, mas também com a satisfação dos
familiares e com a crença da permanência do falecido entre eles. Sendo assim, Silva
(2005, p.3) traz que “o funeral, o translado do cadáver ao lugar de seu enterro, cremação
ou exposição, supõe uma ocasião para celebrar um ritual que varia em complexidade”.
Mas que isso muitas vezes se transforma em um ritual fixo.
Bromberg (2000) vem ao encontro de Silva ao falar que as cerimônias de enterro
e os rituais de luto revelam o mito da imortalidade, que aparece em quase todas as
culturas, onde se preparam o morto para a viagem para o outro mundo, e que isso são
formas simbólicas de perpetuar o morto entre os vivos.
Elias (2001, p.37) fala que hoje o cuidado com as sepulturas e o tratamento dos
cadáveres saiu dos cuidados da família, parentes e amigos para serem realizados por
especialistas remunerados, “a memória da pessoa morta pode continuar acesa; os corpos
mortos e as sepulturas perderam significação”. Podemos perceber isto nos nossos dias,
pois os velórios geralmente são realizados em casas mortuárias, não mais na casa da
pessoa morta, o cuidado com corpo é realizado por empresas, por pessoas que nem
conheciam a pessoa morta. Passa-se a evitar o conato com o corpo morto,
Uma brochura publicada por jardineiros de cemitério mostra quão
distante o cuidado das sepulturas está das famílias. Naturalmente,
adverte contra correntes e rivais que podem reduzir a quantidade de
flores adorando as sepulturas. Podemos supor que a agência de
marketing adaptou a brochura tanto quanto possível à mentalidade dos
possíveis consumidores. O silêncio sobre a significação das sepulturas
como lugares onde pessoas mortas estão enterradas é, em função
disso, quase total (ELIAS, p.37/38, 2000).
Zorzo (2004) aborda que as crianças foram afastadas dos cenários da morte, dos
velórios, sendo privadas de viverem o luto. Acrescenta que a sociedade teme a morte e
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com isso evita falar sobre a mesma, acreditando que a afastando do seu cotidiano estão
protegidos da morte.
Através dos autores consultados nota-se que a forma, os costumes, os rituais que
envolvem a morte e o seu relacionamento com o processo de luto veio se modificando.
Inicialmente a morte não era temida, era um acontecimento natural; havia uma relação
de respeito com a pessoa que estava para morrer e com o luto da família.
A morte era encarada com naturalidade e, talvez por isso as crianças e os
adolescentes participassem de todo o processo que envolvia este evento, e soubessem
que a pessoa iria morrer. Não se tinha o medo, o pudor de se falar sobre a morte, de
vivenciar o processo de luto, de expressar os sentimentos, a dor que estava se sentindo.
Pode-se perceber que o homem já se relacionou com a morte de várias formas; já
foi algo natural, onde os vivos e os mortos ocupavam os mesmos espaços, mas
conforme a evolução dos modos de viver, da economia, da medicina as pessoas foram
se distanciando da morte, criando medos, tabus a respeito da mesma, estando hoje como
um tema interdito. Afastaram-se as crianças e os adolescentes da morte, tirando-os o
direito de saber o que está acontecendo, de poderem passar por um processo de luto, de
vivenciarem, expressarem os seus sentimentos decorrentes da perda.
No próximo capítulo irá se explanar sobre as perdas e as situações de luto no
ciclo vital, os comportamentos que envolvem o processo de luto na infância e
adolescência, e também irá ser abordada a formação do conceito de morte pela criança e
consequentemente pelo adolescente, pois este é necessário para que se possa
compreender como que os mesmos lidam com o processo de luto.
mesma entende a morte como algo não permanente, quase que não a distinguindo de um
divórcio, onde ela pode voltar a ver um dos seus pais.
Bretas (2008) aborda que os adolescentes vivenciam vários lutos a partir do
momento que se prepara para desenvolver a formação da sua própria identidade.
Elucidando que esta é uma fase extremamente importante para os adolescentes, pois a
partir deste processo ele conseguirá descobrir o seu papel social, adquirir subsídios
como crenças, valores, atitudes.
Aberastury e Knobel (1981, apud, BRETAS, 2008) apontam os lutos
vivenciados na adolescência:
[...] luto pela perda do corpo infantil e aceitação das transformações
corporais – controle dos impulsos da sexualidade; perda
bissexualidade infantil; luto pela perda dos pais da infância; transição
da dependência infantil para a independência adulta e busca da
identificação fora do âmbito familiar, o que é necessário para o
processo de socialização; luto pela perda da identidade infantil,
dificuldade de definir-se como criança ou como adulto, buscando
apoio do grupo em que está inserido (ABERASTURY e KNOBEL,
1981, apud BRETAS, 2008, p. 405).
Os adolescentes apesar de terem que lidar com várias questões e conflitos, de ter
que fazer escolhas, Mota (2008) aborda que os mesmos não se sentem preparados para
fazê-las, fundamentalmente por estarem em uma fase que há a perda do corpo infantil,
os pais da infância e a sua identidade infantil. Sendo assim, Bromberg (1996, apud
MOTA, 2008, p.71) traz que a própria adolescência é um processo de luto, onde o
mesmo se “vê impelido a abandonar a infância e o universo infantil para passar a viver
experiências que demandam mais autonomia”.
A institucionalização infantil também envolve muitos lutos: luto pelo abandono,
pela separação dos seus pais, mudanças na sua vida, na sua identidade, necessitando de
uma atenção especial, pois a criança perde a referência familiar que tinha, há um
rompimento de vínculos. É uma experiência que exigirá uma recuperação, readaptação
abrangendo necessariamente a vivência do processo de luto em função das perdas, das
mudanças vividas (TINOCO, 2007).
Cassellato (2005, apud Tinoco, 2007) fala da importância de se distinguir o luto
não reconhecido como uma experiência de perda para que se possa auxiliar nas
mudanças de atitude da sociedade perante o reconhecimento do luto pelo abandono na
infância. O mesmo autor traz alguns indicadores de não reconhecimento da perda e do
luto frente a uma situação de abandono:
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Tada e Kovács (2007, p.122) definem o luto como “um processo de elaboração
do sentimento de pesar devido à perda de uma pessoa querida, que envolve, portanto
muita tristeza”. O processo de luto é considerado uma reação normal e esperada diante
da perda de algo ou alguém, da perda de um vínculo. Ele está diretamente ligado a
relação de apego e a outros vínculos, tendo em vista que a dor do luto existe devido à
importância destas relações (Tinoco, 2007).
Tinoco (2007) em seu estudo elucida a importância da elaboração do luto, tanto
pela criança quanto pelo adulto, diante de algumas necessidades em virtude da perda,
como: a adaptação a nova realidade, busca por novas figuras de apego, compreensão do
que aconteceu. Só que para que isto aconteça se faz necessário cumprir pelo enlutado
algumas tarefas psíquicas específicas como: “aceitação da realidade da perda,
elaboração da dor da perda, ajustamento a um ambiente novo, internalização e
ressignificação da relação perdida e continuação da vida (BOWLBY (1973/1993b);
JEWETT (1994); WORDEN (1998), apud TINOCO, 2007, p.59).
Bowlby (1979/1993b), Webb (1993), Jewet (1994), Bromberg (1998) e Mazorra
(2005a) citados por Tinoco (2007, p.60) ressaltam que a elaboração do luto infantil pode
ser considerada mais complexa que a de um adulto, pois existem alguns aspectos que
são específicos do luto da criança como: “intensa necessidade de receber apoio de outra
figura importante, dependência de outra pessoa para receber as informações sobre o que
aconteceu, dificuldade de compreensão de questões relativas à morte, influência da
capacidade do cuidador em superar o próprio luto”.
Tinoco (2007) aborda que durante o processo de luto crianças podem apresentar
sentimentos de intensa angústia e raiva, e que aos olhos de pessoas estranhas, não
mereceriam ser demonstrado em determinadas situações. Pode-se encontrar também o
medo de morrer ou de que outra pessoa que ela goste morra, comportamentos
agressivos, euforia, depressão, pesadelos, apatia, adoecimento, sentimento de ter sido
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transição entre a infância e a vida adulta. Ressalta que é um período que costuma
representar uma época de turbulências e conflitos, de novas amizades, de interesses
mutáveis.
Pereira (2004, apud MOTA, 2008) aborda a questão de a adolescência ser uma
fase que representa um momento de crise, pois se vai impondo ao jovem a tarefa de
lidar com várias questões e conflitos ao mesmo tempo. Sendo assim, na adolescência o
jovem atribuirá um significado a morte de acordo com o momento de seu
desenvolvimento, sobretudo a sua idade, como Domingos e Maluf (2003) apontam em
sua pesquisa.
Bowlby (1993) citado por Domingos (2003) aborda que entre alguns dos fatores
que influenciam o processo de luto dos adolescentes encontra-se “o conhecimento que
eles têm das causas e das circunstâncias da perda, especialmente o que lhes é dito sobre
a perda e as oportunidades que têm de compartilhá-las” além dos “padrões de
relacionamento familiar anterior e a mudança desses padrões e reestruturação do
sistema familiar em consequência da perda”.
Kovács (1992) traz que, do ponto de vista cognitivo, na adolescência o jovem já
entende as características essenciais da morte, que são a universalidade e
irreversibilidade, podendo desta forma dar respostas lógicas formais, que são
características importantes para a resolução do luto.
Mota (2008) elucida que os adolescentes geralmente sentem raiva, apesar de ter
uma ampla diversidade de comportamentos, seja da morte em si, por não ter podido
preveni-la - ter controle sobre ela, na busca por um significado – de ver que a morte tem
um “sentido”. Com este sentimento de raiva a autora traz que o adolescente pode se
sentir culpado, por pensar que poderia intervir no curso do acontecido ou que ele tenha
alguma responsabilidade na morte. A culpa também pode aparecer quando há
sentimentos negativos com a pessoa que morreu, pois na pós-morte, com a idealização
da pessoa amada, o adolescente pode se sentir culpado pelo sentimento negativo.
Há uma peculiaridade na relação de desenvolvimento do adolescente com a
morte, assim como Domingos e Maluf (2003) abordam, pois o mesmo está passando por
momentos de transformação, de formação da sua identidade. Acrescenta que na
adolescência os jovens entendem o significado da morte, mas não ficam pensando, não
tem o hábito de pensar sobre a mesma. Rodrigues (2005) citado por Hohendorff (2009)
aborda que isso talvez aconteça pelos sentimentos de onipotência e imortalidade, que
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são típicos da adolescência, pois os mesmos não conseguem pensar na morte como algo
que esteja próximo a eles, ou pensar na possibilidade de perder alguém próximo.
Hohendorff (2009) traz que o sentimento de que são invulneráveis também contribui
para que os adolescentes não pensem na morte.
Domingos e Maluf (2003) realizaram um estudo com adolescentes para
investigarem quais as reações dos mesmos frente a experiências de perda e de luto. As
reações iniciais citadas quando na ocasião do ocorrido foram choque, descrença, susto
ou desespero. No que se referem às reações frente a perdas repentinas as principais
foram tristeza, ressentimento, dor, desespero, resignação, desorientação e também o
sentimento de culpa por não poder evitar a morte, aparecendo também o sentimento de
raiva e revolta contra o destino. Quanto às reações frente às perdas esperadas está a
raiva, isolamento e atitudes agressivas. Os autores supracitados lembram que as reações
irão depender da proximidade do adolescente com a pessoa perdida e também das
circunstâncias da morte.
Liotta (1996, apud MOTA, 2008) entende que algumas das reações possíveis
durante o período do luto como a baixa autoestima, tristeza, culpa, intensa negação da
realidade da morte, desamparo requerem um cuidado maior, pois podem levar o
adolescente a ter comportamentos agressivos, antissocial de risco e ideação suicida.
Estes podem ser indicados, de acordo com o autor, pelo uso de álcool ou de drogas, pela
troca de amigos ou de interações sociais, por intensos sentimentos de raiva e negação,
perda da esperança, sentimentos de tristeza ou depressão, verbalização de pensamentos
suicidas e comportamentos de risco, meses após a perda.
Bowlby (2004, apud MOTA, 2008) considerou que a resposta à perda e o curso
do luto dos adolescentes são influenciados por vários fatores. Estes englobam:
Causas e antecedentes da perda, principalmente no que se refere ao que é
falado, a abertura que é dada para que o adolescente pergunte sobre o
que aconteceu e também a possibilidade de poder partilhar sua perda;
As relações familiares após a perda, especialmente no que tange as
mudanças nos padrões de relacionamento, mas também com relação á
permanência do adolescente com o genitor sobrevivente;
Os padrões de relacionamento da família anterior a perda, mas
principalmente o relacionamento entre os pais e de cada um deles com o
adolescente.
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a morte, eles sabem que é uma situação pela qual todos irão passar, mas evitam falar
sobre este assunto. Quando questionados quanto aos tipos de ajuda para auxiliar na
abordagem do tema, os mesmos mencionaram palestras, leituras filmes. Gostariam que
especialistas os orientassem de acordo com as suas experiências, lembrando que a
linguagem a ser utilizada também é importante.
A escola talvez seja o ambiente mais frequentado pelas crianças e adolescentes,
e talvez também o mais diversificado, pois são várias vivências de alunos diferentes,
relações familiares diferentes. Com isto a equipe pedagógica precisa estar empenhada
para poder acolher, ajudar o aluno a superar as fases do luto, oferecendo condições
materiais concretas para que isto venha a ocorrer (SILVA, 2011).
Kovács (2010, p.148) aponta que as “crianças que vivenciaram perdas podem
apresentar problemas sociais, baixa autoestima e ansiedade”, fatores estes que vêm
ressaltar a importância de os educadores saberem destes comportamentos para poder
acolher e ajudar os seus alunos. Silva e Valle (2008) citados por Kovács (2010)
abordam que além do prejuízo acadêmico, deve ser considerado o isolamento social da
criança e do adolescente e o afastamento dos colegas.
Faz-se importante que os professores fiquem atentos as mudanças
comportamentais que podem aparecer durante o processo de luto como: distúrbios
alimentares, distanciamento dos colegas, déficit de atenção entre outros (KOVÁCS,
2010).
Desta forma, Silva (2011) aborda que “como a fase de elaboração da perda é
diferente de pessoa para pessoa, o professor deve procurar conhecer o tema, de modo a
possibilitar o encaminhamento adequado e necessário a esse aluno”. Pontua também
que:
Nesta perspectiva, o professor deve procurar compreender o aluno e,
permitir que expresse suas emoções, pois, a partir de sua fala e suas
brincadeiras e de outras situações que permeiam o ambiente escolar,
poderá deixar a tensão de lado e, com as experiências adquiridas vai
obtendo, mesmo que lentamente, um conhecimento de mundo e, por
conseguinte, acerca do término do ciclo da vida (SILVA, 2011, p.18).
se este não estiver acessível, ocultar os sentimentos, a criança aprenderá a reagir desta
forma frente às situações de perda.
A escola pode deparar-se com o luto direto e indireto, ou seja, o luto direto
ocorre quando morre alguém da comunidade escolar (aluno ou funcionário), e o luto
indireto ocorre quando um aluno ou funcionário vive um processo de luto. Mas
independente de ocorrer uma ou outra situação, é necessário que a escola como um todo
esteja preparada para lidar com esta situação (NALETTO, 2005).
Naletto (2005) reforça a importância de a escola trabalhar com os professores
durante todo o ano, pensar em estratégias, planos de ação para lidarem com as situações
de perdas e de luto. Pois, uma das situações mais difíceis de lidar, de administrar são as
mortes repentinas, que pode ser um fator complicador no processo de elaboração do
luto.
Kovács (2010) aborda que dificilmente os educadores dirão que é sua tarefa
acolher, saber lidar com alunos que estão passando por situações de perda, de luto, mas
a autora reforça que mesmo os educadores não acreditando que seja sua função, a escola
deve investir na preparação dos mesmos para que saibam lidar com estes temas. Esta
situação foi comprovada na pesquisa realizada pela autora e seus colaboradores, onde a
maioria dos educadores entrevistados acredita que não seja sua função abordar o tema
da morte com crianças e adolescentes, mas sim uma função da família. Sendo que este
pensamento pode interferir na elaboração do luto das crianças e dos adolescentes, pois
muitas vezes a família também silencia este assunto.
Naletto (2005) vem ao encontro desta pesquisa ao abordar que os professores
devem ser capacitados para ensinarem, apresentarem para seus alunos a possibilidade de
se pensar a vida e a morte, e não apenas o conteúdo escolar. Acrescenta que se deve dar
tempo ao tempo, mas que o professor deve estar preparado, pronto para apoiar o aluno
que vier a precisar.
Quanto aos sentimentos dos colegas de classe, Naletto (2005, p115) traz que:
“deve-se abrir espaço na rotina da aula, para as crianças conversarem sobre o que estão
sentindo e assim poder ver que seu medo de perder alguém da família é também
expressado por outros colegas”. Com este momento de conversa entre os alunos a
autora elucida que muitos dos sentimentos de dor podem ser aliviados.
Silva (2011) aborda que o professor pode utilizar de recursos lúdicos como
brincadeiras, jogos para explorar a questão da transitoriedade da vida com as crianças.
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Outra proposta desta autora para que o professor consiga trabalhar o assunto da morte
dentro da sala de aula sem constranger o aluno que esteja passando por um processo de
luto é utilizar brincadeiras para socializá-lo, pois este, em função do luto, pode
distanciar-se dos seus colegas. Desta forma:
O professor observando de que forma a criança utiliza esses
momentos para se expressar, pode se situar no seu universo e então
ajudar o aluno, visando encaminhar melhor sua aula de forma que o
aluno mesmo com as limitações momentâneas que o processo de luto
pode acarretar, se integre às atividades (SILVA, 2011, p.18).
Naletto (2005) aborda que se faz muito importante que as escolas se preparem
para lidar com a morte e o luto, pois atuam principalmente na infância e adolescência,
fases importantes no desenvolvimento humano. Kovács (2010) corrobora com este
pensamento ao abordar que a escola é um local de socialização, e que a mesma deve
oferecer suporte para os alunos que sofrem alguma perda, pois o acolhimento é muito
importante para que as crianças e os adolescentes possam estar significando a perda.
Domingos (2000) citado por Kovács (2010) vem complementar que a escola deve
acolher e encaminhar para atendimento as crianças e os adolescentes que vierem a
precisar. Acrescenta que a escola não substitui o papel da família, mas que enquanto os
mesmos estiverem nela é de extrema importância o acolhimento e o suporte. Kovács
(2010) concorda com o pensamento de Domingos (2000), pois a morte está presente na
vida das crianças e dos adolescentes, e estes passam grande parte do seu dia na escola,
precisando esta estar preparada para cuidar destes alunos.
Kovács (2010) aborda que para que se possa cuidar bem das crianças e dos
adolescentes que viveram ou estejam vivendo uma perda, um processo de luto é
importante levar em consideração o nível de desenvolvimento cognitivo dos mesmos.
Naletto (2005, p.112) traz que para o magistério é importante “compreender o
sujeito, suas angústias, seu modo de se defender delas, as fases de um processo de
desenvolvimento contínuo”. Kovács (2003) aborda que é importante se pensar em
prevenção e capacitação da escola como um todo para que esta possa enfrentar a morte,
o luto e outras perdas. Naletto (2005) vem ao encontro desta autora e acrescenta que no
momento em que a situação de luto está sendo vivida é mais difícil de pensar em
estratégias, em elaborar um plano de ação para que se enfrente da melhor forma
possível esta situação.
Quando uma criança está passando pela situação de perda de alguém importante,
os seus colegas de classe também podem se sentir abatidos, afetados pelo o que está
acontecendo. Podem chorar, ficar tristes sem nem mesmo conhecer a pessoa que veio a
falecer. Mas ao conviverem com está situação os alunos acabam se identificando e
temendo pela morte de seus pais, de seus irmãos, ou seja, que o mesmo venha a
acontecer com eles. Fazendo-se assim, de extrema importância que o professor
compreenda o que está acontecendo com a sua turma, conheça a dinâmica da sala, pois
estas são ferramentas que lhe ajudarão a lidar com as situações de perda e de luto
(NALETTO, 2005).
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4. Considerações Finais
Com o levantamento dos dados pode-se chegar a algumas reflexões que dizem
respeito ao papel da escola no que tange às situações de luto na infância e na
adolescência, de acordo com dados da literatura científica. Para tanto se abordou o
relacionamento do homem com a morte, as características mais comuns apresentadas
pelas crianças e adolescentes frente a uma perda e durante o processo de luto, bem como
as atividades dos educadores no contexto escolar.
A convivência do homem ocidental com a morte e com o processo de luto, os
rituais que envolvem estes acontecimentos terão restrições a partir do século XIX e que
perduram até os dias de hoje. Isto aparece como uma das características desta
civilização, cada vez mais secularizada, menos ritualizada e tendendo à negação da
morte, a expressão dos sentimentos, dos afetos que emergem perante a perda.
Consequentemente, o luto é renegado, é visto como indigno, servindo apenas para
aumentar sentimentos desnecessários de dor (ARIÉS, 1977).
Mas ao mesmo tempo em que há este movimento de interdição da morte e da
vivência do luto como um processo natural, normal, após uma perda, por morte ou não,
há uma exposição exarcebada da morte na mídia. As crianças e os adolescentes hoje são
afastados do enterro, dos rituais que envolvem a morte, são “poupados” de saber que
morreu alguém, os motivos. Esta relutância dos adultos diante da familiarização das
crianças e dos adolescentes com os fatos da morte é uma das características mais
marcantes na atualidade.
A sociedade atualmente acredita que a criança não compreende a morte e os
fenômenos associados à mesma, acreditando que comunicar a criança a respeito da
morte de alguém próximo estaria lhe prejudicando. Desta forma, acabam escondendo
esta situação da criança ou comunicando de forma que deixa lacunas.
A partir desta pesquisa pode-se constatar que a vivência do luto é muito
importante para um desenvolvimento sadio das crianças e dos adolescentes,
principalmente, no ambiente escolar, pois talvez seja um dos ambientes onde os
mesmos passam a maior parte do seu dia. A literatura apontou que o silêncio diante do
tema pode acarretar às crianças e adolescentes perturbações no seu desenvolvimento e
prejudicar o seu rendimento escolar.
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O processo de luto infantil é influenciado por vários fatores tais como, a idade, a
etapa do desenvolvimento em que a criança se encontra, a intensidade e diversidade dos
laços afetivos.
Os autores abordados nesta pesquisa evidenciaram que é fundamental a criança e
o adolescente terem o suporte de um adulto frente a uma perda, pois estes são
influências diretas no entendimento que terão a respeito da morte e, consequentemente,
do luto. A elaboração do luto irá depender do que é dito, como os familiares reagem
perante a perda, se dificultam ou facilitam a expressão emocional. Fica clara a
importância do papel de um adulto no processo de elaboração do luto.
Pode-se constatar o quão importantes são as instituições sociais, principalmente,
a família e a escola no processo do luto, demonstrando a importância que têm de
saberem lidar com esta situação. Mas, de acordo com os autores consultados, estes
espaços geralmente não favorecem a resolução das situações decorrentes do luto,
inviabilizando, muitas vezes, a expressão de afetos e a escuta das dúvidas, das angústias
que as crianças e os adolescentes podem ter.
Com relação à escola pode-se perceber que o luto tem implicações no processo
ensino-aprendizagem necessitando de uma atenção especial no seu método pedagógico.
Os professores também têm um papel importante na vivência do luto dos seus alunos,
pois eles têm uma convivência diária com eles, sendo muitas vezes, uma referência.
A literatura apontou que as atividades que podem ser utilizadas, servindo como
suporte para os professores trabalharem os sentimentos advindos no processo de luto é o
desenho, filmes, contos, brincadeiras, jogos para que se possa propiciar um espaço de
acolhimento, de escuta, de reconhecimento do processo em que as crianças e os
adolescentes enlutados se encontram.
Com isto pensamos que as escolas precisam estar atentas às necessidades de seus
alunos, abrangendo as necessidades que se referem ao luto, passando informação,
lidando com emoções complexas, dando um lugar para que as crianças e os adolescentes
se sintam reconhecidas e acolhidas no âmbito social.
O apoio social é muito importante durante o processo de luto, e este é
encontrado na família ou nos amigos. Sendo assim, acreditamos que o papel da escola
consiste em ser uma fonte de conhecimento e também de fornecer apoio instrumental,
através de informações, acolhimento das reações manifestadas, sejam elas emocionais
ou comportamentais.
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philipe. História da morte no ocidente: da idade média aos nossos dias. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
BIBIANO, Bianca. A morte sem rodeios. Revista Escola, Edição 233, 2010.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo, SP:
Atlas, 2008.
MOTA, Monica Maria Angelis. O luto em adolescentes pela morte do pai: risco e
prevenção para a saúde mental. (Tese de Doutorado – Programa de Pós Graduação em
Psicologia), Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2008.
NALETTO, Ana Lúcia. Morte e luto no contexto escolar. In: MAZORRA, Luciana;
TINOCO, Valeria. Luto na infância: intervenções psicológicas em diferentes
contextos. Campinas, SP: Livro Pleno, 2005, p.111 a 127.
TADA, Iracema Neno Cecilio; KOVACS, Maria Júlia. Conversando sobre a morte e o
morrer na área da deficiência. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 27, n. 1, mar. 2007 .
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932007000100010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 05 set. 2011.
TORRES, Wilma da Costa. A criança diante da morte: desafios. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1999.