BIOLOGIA
I UNIDADE – 3a SÉRIE
Caro(a) aluno(a)
Você já começou a escalada para o sucesso! Parabéns!
Conforme combinamos, existe a necessidade de leituras complementares para fazermos um bom
curso de Biologia. Aqui está a nossa 1ª leitura complementar recomendada.
Faça bom proveito.
Com carinho
Profª. Tânia Freitas
LEITURA COMPLEMENTAR Nº 1
Físico propõe novos sistemas para vida
“Precisamos mudar este sis-
tema de valores em que ganhar
dinheiro é sempre melhor que
proteção ao meio ambiente, direi-
tos humanos e democracia”
Nascido na Áustria, em 1939,
Fritjof Capra cresceu numa fazen-
da. Andava quatro quilômetros
todos os dias para ir à escola. A
contemplação diária da vegetação
influenciou sua concepção filosófi-
ca, profundamente ligada à ecolo-
gia. Anos mais tarde, quando se
tornou Phd em Física teórica
prela Universidade de Viena, em
pleno clima de protestos sociais e
efervescência dos anos 60, esta
época também deixaria sua marca
em Capra. Enquanto pesquisava
nas maiores universidades mun-
diais, o físico começou a questio-
nar os efeitos da ciência contempo-
rânea no homem. Em 1975, suas
inquietações cristalizaram-se no
livro que o tornou famoso, “O Tao
da Física”, onde estabeleceu a
convergência entre o misticismo
oriental e a física moderna. Com os
livros “Ponto de Mutação” (1982), e
“A Teia da Vida” (1996), Capra
ampliou esta filosofia, propondo
novos sistemas para a vida. Seu
livro mais recente, “As Conexões
Ocultas - Ciência para Uma Vida
Sustentável” (2002), faz referência
ao Fórum Social Mundial como
porta-voz de um novo movimento
global, encabeçado pela sociedade
civil organizada. O próprio Capra é
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LIXO E CIDADANIA
um dos fundadores do Centro de Dois avanços terão um grande
Eco-Alfabetização de Berkeley, impacto no futuro da humanidade.
uma ONG que incentiva a educa- Um deles é a ascensão do capita-
ção ambiental nas escolas. lismo global e o outro é o desen-
Ele já veio ao Brasil quatro ve- volvimento de comunidades sus-
zes, desde 1993. Numa delas, tentáveis baseadas no ecodesign.
falou para executivos da Petrobras Eu tenho muito interesse nestas
e somou seu discurso ao Fórum evoluções, já que ambas são ba-
Social Mundial de 2003, ao lado da seadas em redes e meu trabalho
ministra do Meio Ambiente. Marina tem muito a ver com redes. As
Silva. Segundo o físico, a visão duas envolvem tecnologias novas,
mecanicista atualmente em voga mas são muito diferentes. A nova
foi responsável por notáveis avan- economia, ou capitalismo global,
ços tecnológicos, mas também usa redes eletrônicas de fluxo
segregou o homem em classes financeiro e de informações. O
econômicas e poluiu o meio ambi- movimento do ecodesign se preo-
ente. Com a rejeição do mundo- cupa com as redes ecológicas, o
máquina, ele propõe a inteira inde- fluxo de massa e energia. E as
pendência entre o homem e a duas evoluções estão em rota de
natureza, à semelhança das estru- colisão. A economia global, na sua
turas orgânicas mais básicas. forma atual, busca maximizar a
Capra mora em Berkeley com riqueza e poder de sua elite, en-
a esposa e a filha de 18 anos, quanto o ecodesign quer maximi-
numa casa sem aparelho de televi- zar a permanência da rede da vida.
são. A seguir, a entrevista conce- Então meu discurso sempre fala
dida ao jornal A Tarde na ocasião em como mudar a economia glo-
de sua vinda para o seminário bal, como introduzir valores dife-
“Construindo Cidades Sustentá- rentes neste sistema. Se você
veis: Política de Resíduos Sóli- imaginar os mercados financeiros
dos para o Estado da Bahia”, globais, você terá que imaginar
realizado pelo Fórum Lixo & Cida- uma rede de máquinas que permi-
dania e o Instituto Simões Filho, tem o fluxo livre de dinheiro por
nos dias 5 e 6 de abril, em Salva- todo o mundo, para que especula-
dor. dores possam investir em qualquer
lugar do planeta e possam tirar o
Qual o seu ponto de vista dinheiro desses investimentos
sobre o capitalismo global e quando quiserem. Isto é um verda-
ecodesign? deiro cassino global, turbulento e
instável, que causa muitas crises
financeiras. Todo o sistema está
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programado ao redor de um princí-
pio fundamental, que ganhar di-
nheiro é sempre melhor que qual-
quer coisa. É mais importante que
saúde, proteção ao meio ambiente,
direitos humanos e democracia. O
que precisamos é mudar este
sistema de valores, e a coalizão
global de ONGs que emergiu nos
últimos cinco anos se organiza
com valores diferentes, basicamen-
te dignidade humana e ecologia
sustentável.
É correto dizer que o ecode-
sign se inspira nos sistemas
naturais?
Sim, o ecodesign é um plane-
jamento que usa a natureza como
modelo. É um ecossistema natural,
o que é lixo para uma espécie é
comida para a próxima, de forma
que a matéria segue seu ciclo pelo
ecossistema. Deveríamos ter sis-
temas industriais onde os resíduos
de uma fábrica servem como maté-
ria-prima para a próxima. Isto já
está acontecendo, temos que ter
um sistema onde, ao comprar um
computador, um carro ou qualquer
outro produto industrial, você não
tenha que ser o dono do bem.
Quando você compra o computa-
dor, não é para possuir uma caixa
de químicos tóxicos. Você o com-
pra para escrever, navegar na
Internet e outras coisas. O que
você deveria comprar, de fato, é o
serviço, de forma que o computa-
dor ainda pertença ao fabricante, e
quando você não o quiser mais, o
fabricante tem a obrigação de
pegar o produto, desmontá-lo e
reciclar as peças. Isso criaria um
fluxo de componentes entre o
fabricante e o usuário. Nos EUA,
por exemplo, existe uma empresa
chamada Interface que faz isso.
Eles oferecem assistência para o
carpete durante toda a sua vida útil
e, no fim, eles recolhem o carpete
e o reciclam, A Fiat também faz o
mesmo na Itália, existem cerca de
300 centros em todo o país que
reciclam os carros. A Canon, no
Japão, é outro exemplo. Este é um
novo movimento, chamado de
economia de fluxo e serviços, pois
você compra o serviço e depois há
um fluxo de componentes entre o
consumidor e o fabricante.
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Qual é a sua opinião sobre
as soluções para o lixo?
A melhor solução é não ter li-
xo, o objetivo deverá ser eliminar o
conceito de lixo, como na natureza.
Se produzirmos lixo, ele deveria
ser biodegradável ou, se não for
biodegradável, ele deveria circular
entre o fabricante e o consumidor.
Claro, isto demanda uma mudança
completa dos sistemas atuais. As
roupas que usamos, por exemplo,
elas poderiam ser feitas de fibras
naturais, tornando-se biodegradá-
veis. Os produtos industrializados,
como computadores, são feitos de
uma maneira que é muito difícil
desmontá-los, pois os materiais
não estão claramente identificados.
Neste novo design, os materiais
podem ser separados facilmente,
tornando sua reciclagem muito
mais fácil.
E a alfabetização ecológica?
Ela é um conhecimento bási-
co, porque todos estes conceitos
são princípios ecológicos, como o
princípio onde o sol é principal
fonte de energia nos ciclos ecoló-
gicos. Nós deveríamos aproveitar a
energia solar, ao invés de usar
combustíveis fósseis, energia nu-
clear ou outras formas de energia
não-renováveis, porque o dano
causado por elas é muito grande.
Não podemos ter uma sociedade
sustentável que se baseie em
combustíveis fósseis.
O que uma cidade como
Salvador poderia fazer a esse
respeito?
Muitas coisas. Temos várias
tecnologias novas que são orienta-
das para a ecologia. Nos prédios
existem as superjanelas, com duas
placas de vidro recheadas por um
gás. Este projeto funciona de ma-
neira que deixa entrar a luz, mas
segura o calor. Nos países frios,
onde é quente dentro e frio por
fora, o calor fica preso no prédio e
se economiza com aquecimento.
Existem prédios experimentais, em
países quentes, onde a temperatu-
ra interior é bem agradável. Se
você usa essa tecnologia, pode-se
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BIOLOGIA
I UNIDADE – 3a SÉRIE
economizar muita energia e o
dinheiro pode ser usado para
financiar projetos sociais, por
exemplo. A energia solar é outro
aspecto relacionado, a Bahia tem
tanto sol, o Estado inteiro poderia
usar a energia solar. Caminhar
para o desenvolvimento sustentá-
vel não é algo fácil. É um problema
complexo, precisa-se de soluções
diferentes para cada lugar no mun-
do. Até mesmo dentro de um
mesmo país, o que pode ser feito
em Salvador não é viável em Porto
Alegre. É preciso uma colaboração
entre muitos indivíduos, especial-
mente entre o governo e a socie-
dade civil.
E o que devemos fazer com
o lixo que já temos?
Existem soluções, uma delas
está no Brasil, em Curitiba. A solu-
ção de lá é um modelo que poderia
ser usado em Salvador. O proble-
ma geralmente é a política. Curitiba
teve um prefeito, Jaime Lerner, que
é um designer brilhante, mas que
teve problemas na política. Muitas
pessoas não querem esse tipo de
política. Mas se você separar o
design da política, é possível estu-
dar o que foi feito em Curitiba e
aplicar aqui. A melhor solução para
o lixo que já temos é separá-lo. Em
Berkeley, onde moro, todo o lixo
coletado é levado a um centro de
reciclagem. A cidade descobriu
que é mais barato fazer isso que
jogar tudo num lixão. Nestes cen-
tros, o lixo orgânico é separado do
reciclável, e o que sobra é muito
pouco.
Como você vê a situação do
lixo atômico no mundo, hoje?
O lixo radioativo é um proble-
ma enorme e precisamos de enge-
nheiros nucleares para lidar com
isso. Mas nós não devemos produ-
zir mais lixo nuclear, porque não é
necessário, temos maneiras muito
melhores de produzir energia.
O que o cidadão médio pode
fazer para melhorar o problema
do lixo?
Você pode reciclar seus plásti-
cos, vidro e papel, mas isso neces-

sita de infra-estrutura municipal, ou
não saberíamos para onde levar
isso. Se você não tem uma estrutu-
ra municipal, você pode se juntar a
uma organização que faz educa-
ção ambiental, elas estão por todo
o Brasil. Juntando-se a essas
organizações, você pode se orga-
nizar e pensar maneiras de mudar
a realidade.
Você acha que o movimento
ambiental no mundo está alcan-
çando seus objetivos?
Sim, está alcançando alguns
objetivos e é muito forte, mas tam-
bém há uma resistência. Se você é
um ecologista, ou se trabalha para
o desenvolvimento sustentável,
você pensa no longo prazo e refle-
te sobre os efeitos que a energia
fóssil terá nos próximos 20 anos,
ou que acontece com o meio am-
biente quando jogamos fora emba-
lagens não-biodegradáveis. A Como empresas pequenas
maioria dos empresários não pen-
sa em termos de 20 anos, eles
refletem sobre o próximo relatório
anual. Os políticos pensam em
como essas questões afetariam
suas eleições em dois anos. Eles
têm um horizonte muito estreito, e
esse é um os problemas. Mas o
movimento ambientalista teve
algum sucesso na expansão do
horizonte dos políticos. No Brasil,
talvez o movimento tenha o poten-
cial de alcançar muito, porque há
interação entre o governo e a soci-
edade civil, existem conselhos
especiais e canais de comunicação
entre os dois. Ao mesmo tempo, há
muita resistência por parte de
pessoas mais conservadoras.
Você poderia explicar o
conceito de ecologia profunda e
a sua ligação com a espirituali-
dade?
Ecologia profunda é um con-
ceito fundado pelo filósofo norue-
guês Herman Hess. No começo
dos anos 70, Hess fez uma distin-
ção entre ecologia profunda e rasa.
Ecologia rasa é uma atitude em
que você enxerga o meio ambiente
como fonte de recursos, onde se
gerencia o ambiente para extrair os
recursos da maneira mais eficiente
possível. Segundo este pensamen-
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BIOLOGIA
I UNIDADE – 3a SÉRIE
to, devemos proteger o meio ambi-
ente porque ele é valioso para os
seres humanos. A ecologia profun-
da tem uma filosofia diferente e vê
valor na vida, não considerando
que uma árvore é valiosa apenas
pela sua madeira. A árvore é valio-
sa por si mesma, por ser parte do
ecossistema. Então, ecologia pro-
funda não vê os seres humanos
como separados da natureza e sim
como parte da teia da vida. Quan-
do se reflete sobre essa filosofia,
você percebe que, em último caso,
ela é baseada na experiência de
pertencer a algo maior. E isso é
uma experiência espiritual. Se você
analisa as outras tradições espiri-
tuais, todas elas caracterizam a
experiência religiosa ou espiritual
como pertencer a uma comunidade
maior. Então, ecologia profunda
está muito relacionada com a espi-
ritualidade.
podem fazer gerenciamento
ecológico?
Pequenas empresas podem
produzir bens que são ecologica-
mente corretos, seja na agricultura
ou no vestuário ou em qualquer
outro campo. Elas podem divulgar
isso e colaborar com a sociedade
civil organizada, as ONGs, de
forma a tornar isso público e dizer:
“Nós queremos ser uma empresa
verde, fazemos produtos limpos,
ecologicamente responsáveis, e a
maneira como gerenciamos nossa
empresa é consciente”. Como a
opinião pública está mais e mais
consciente sobre os problemas
ecológicos, o público pode esco-
lher tal produto e permanecer leal a
ele. Então, uma empresa pequena
pode sobreviver muito bem se
encontrar um nicho onde possa
produzir produtos ecologicamente
corretos.
Leitura recomendada pela professora
Tânia Freitas.
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