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A VIOLÊNCIA

1) O desejo é essencialmente mimético: “só me interessa o que não é meu” – não desejo a
partir de mim mas de alguém que tomo como modelo. A violência surge como uma
derivação não calculada do caráter mimético do desejo: num primeiro momento aproxima
do modelo, mas a seguir torna-o um rival pois o desejo é aquisitivo. “Doravante é contra o
seu rival mimético que cada indivíduo se encarniça. […] A identidade cumpre-se no ódio ao
idêntico”. (Satanás, p. 41)

2) Dada a natureza mimética do desejo, os homens tendem a desejar os mesmos objetos. Portanto, o
desejo mimético tem um caráter coletivo que desencadeia a espiral de violência. A violência de
todos contra todos somente é apaziguada quando se metamorfoseia em violência de todos contra
um único membro do grupo: o bode expiatório e o surgimento da cultura humana.

“O que determina a força de atração dos escândalos é o número e o prestígio daqueles que
conseguem escandalizar” (Satanás, p. 41) “Quando um escândalo muito sedutor fica ao seu alcance,
os escandalizados são irresistivelmente tentados a gravitar à sua volta” (Satanás, p. 43)

“É, com toda a evidência, o mimetismo que explica o ódio das multidões contra os seres excepcionais
[…], seres de exceção, os indivíduos que não são como os outros, […] estropiados, enfermos,
despojados, desfavorecidos, indivíduos mentalmente atrasados”

“Todos os povos têm tendência para rejeitarem, sob um pretexto ou outros, os indivíduos que
escapam à sua concepção do normal e do aceitável” (Satanás, p. 45)

3) Não podemos fugir ao mimetismo senão pela compreensão de suas leis. É só o entendimento dos
riscos da imitação que nos permite cogitar uma verdadeira identificação com o outro. Uma denúncia
da violência do mecanismo do bode expiatório implica adotar uma atitude ética de defesa da
vítima.

“Quanto mais se é crucificado, maior é a ânsia por participar na crucificação de um outro ainda mais
crucificado”.

“Ao mimetismo que divide, fragmenta e decompõe as comunidades, substitui-se um mimetismo que
reúne todos os escandalizados contra uma vítima comum promovida a escândalo universal”
(Satanás, p. 39).

“Num universo onde a violência já não é ritualizada e onde é objeto de um interdito poderoso, de
uma maneira geral a cólera e o ressentimento não podem ou não ousam saciar-se com o objeto que
as excita diretamente” (Satanás, p. 193).

Qual a origem da nossa preocupação moderna com as vítimas?

Temos boas razões para nos censurarmos, mas de onde vêm? (Satanás, p. 201)

• Para aprofundar:

GIRARD, René. A preocupação moderna com as vítimas. In: IDEM. Eu via Satanás cair do céu como
um raio. Lisboa: Instituto Piaget, 2002. p. 199-209.
René Girard, Desejo, violência e literatura:

http://www.dicta.com.br/rene-girard-desejo-violencia-e-literatura-i/

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