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A mulher na sociedade: entre sempre e jamais

“Assim, incansavelmente, insubornavelmente,


entre sempre e jamais, flui a vida insone,
passam os grandes olhos abertos da vida.”
(Mario Benedetti)

Assim, como diz o poeta, é a vida das mulheres que lutam cotidianamente, através dos séculos, por seus
direitos. Luta permanente e incansável entre sempre e jamais . Entre sempre buscar a felicidade e o respeito, e
jamais desistir; entre sempre buscar a justiça, e jamais desistir do reconhecimento de seu papel na sociedade.
Mas é justamente entre os ‘sempres’ e os ‘jamais’ que as mulheres constroem a história, junto com os homens,
de uma civilização que caminha por trilhas muitas vezes perigosas. Mas qual é o balanço dessas idas e vindas
na vida das mulheres? Quais foram as conquistas mais importantes? Quais as lutas que ainda permanecem?
Quem são como trabalhadoras? Qual sua participação política na sociedade?

Conta a história...

A situação de submissão das mulheres é um fenômeno histórico. Esta constatação nos faz entender que
não existe uma predestinação na qual a mulher é inferior ao homem. No início da sociedade humana, a
organização se dava de maneira tal que as mulheres possuíam uma importância ímpar na consolidação do
grupo, tendo lugar de destaque sem que fosse necessária a exclusão ou submissão do papel dos homens. Foi
com o desenvolvimento da sociedade humana, e mais precisamente com o surgimento da propriedade privada
(e com ela a disputa pelo direito de herança) que se estabeleceu a hierarquia entre os seres humanos. Nesta
estrutura hierárquica, as mulheres foram subjugadas ao poder dos homens.
Com o passar dos tempos as coisas mudaram. O século 19 trouxe consigo novas necessidades e, com
elas, novas relações sociais se estabeleceram. Com a Revolução Industrial inglesa, o ingresso das mulheres no
mundo do trabalho foi inevitável para a crescente acumulação de riqueza da burguesia nascente. Já no século
20, com as duas Guerras Mundiais, em virtude do número reduzido de homens para o trabalho nas indústrias,
aumentou significativamente o trabalho das mulheres nas fábricas e em outros setores da economia do
Ocidente. Junto a estas alterações de ordem econômica, surgiram os grandes movimentos políticos e culturais
dos anos 1960 que discutiam questões como os direitos das minorias e, dentre elas, as mulheres.

Direitos a serem conquistados

De lá para cá, as lutas e conquistas ganham novas dimensões. As mulheres do final do século 20 são
aquelas que executam extensas jornadas de trabalho - uma jornada fora do ambiente doméstico e outra quando
retornam para casa. Na maior parte dos países de Terceiro Mundo, seus ganhos econômicos são essenciais para
a manutenção da família e muitas dessas mulheres sustentam sozinhas suas famílias, sem compartilhar com um
homem esta tarefa.
O papel das mulheres para a construção da riqueza é extremamente importante, mas, sem dúvida, seus
direitos ainda são desrespeitados. As diferenças essenciais entre homens e mulheres, típicas da própria
constituição de cada sexo, são interpretadas como desigualdades; desigualdades em direitos, em atenção às
especificidades. Para isto basta ver o trágico exemplo ocorrido no estado do Pará. Uma jovem com menos de 18
anos foi presa e colocada em uma cela com diversos homens, sendo que alguns deles estavam presos justamente
por crime de estupro. Onde estão os direitos?
Mesmo assim, as mulheres lutam sempre com conquistas no cenário político, no mercado de trabalho,
nas relações entre homens e mulheres, sem jamais perder de vista que todas as relações são historicamente
construídas. É necessário demarcar a diferença que existe nas conquistas das mulheres de acordo com sua
situação sócio-econômica. Os indicadores de inserção do mercado de trabalho demonstram que em uma escala
de preferência para a mesma função, a disposição ocorre da seguinte forma: em primeiro lugar um homem não
negro, depois um homem negro, depois uma mulher não negra e, por último, uma mulher negra. Além da
questão de gênero, está posta na sociedade ocidental a questão de classe e a questão étnica.
É importante compreender estas tramas históricas, pois só assim será possível relembrar sempre as
árduas conquistas das mulheres do século 19 que lutavam por condições dignas de trabalho e jamais esquecer
aquelas que morreram por estes direitos.

Ruth Ignácio professora na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS e no Colégio Marista Rosário, Porto Alegre, RS.

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