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A VIOLÊNCIA CONTRA OS IDOSOS E A

INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

O fato é que nem todos têm a paciência, ou a


disponibilidade para cuidar dos seus idosos. A falta de
tempo disponível para fornecer amor, carinho, atenção,
torna-se a desculpa mais usada para retirar o peso dos
ombros daqueles que ficam com a responsabilidade moral
de cuida-los.
A intervenção do serviço social junto as famílias que
estão sem possibilidades de cuidar do seu idoso é
importante. Muitas vezes os atos de violência vem por
falta de orientação e desespero. A humanização é um
ingrediente que deve ser aprendido e utilizado. Temos
que usar a conscientização e sabendo que um dia todos
iremos envelhecer, usando mais as politicas públicas e
programa de prevenção.
Segundo a Antropóloga e Coordenadora do curso de pós-
graduação em Gerontologia da PUC Elisabeth Frohlich
Mercadante, a longevidade humana apresenta-se
atualmente como uma grande conquista histórica e
social. "Diante do crescimento populacional do segmento
idoso e do aumento do número de anos de vida, impõe-
se hoje pensar e analisar a velhice, não como o fim da
vida, mas como uma nova etapa a ser vivida". A nossa
sociedade prioriza o novo, destaca a juventude como
valor cultural a ser perseguido por todos e apresenta o
futuro como algo que pertence ao jovem.
O velho aparece como o oposto dele, sem futuro, vivendo
de lembranças de uma vida passada, onde foi adulto e
jovem. Essa visão da velhice é geradora de
representações sociais que a homogeneízam, podendo
desenvolver atitudes discriminatória em relação ao
segmento idoso.
A discriminação, presente nos olhares e atitudes,
manifesta-se nas diversas esferas da vida social - família,
trabalho, saúde - criando diferentes formas de violência
em relação ao idoso".
Mesmo com o aumento da expectativa de vida da
população brasileira, conquistado graças aos avanços
tecnológicos e da medicina, não garantiu, no entanto, a
qualidade dessa existência prolongada. Para a maioria
das pessoas, há dificuldade de compreender a ocorrência
do problema, porque consideram que é somente nas
instituições que os idosos sofrem violência e lhes parece
improvável que eles possam ser maltratados em casa. A
violência contra idosos é uma violação aos direitos
humanos e é uma das causas mais importantes de
lesões, doenças, perda de produtividade, isolamento e
desesperança.
Segundo Carolina Gil David, assistente social São Paulo -
SP, a família e o lar deve ser o lugar onde as pessoas se
sintam seguras, que ao retornar ao final de um dia de
trabalho possam ter paz e tranqüilidade, que ao chegar a
sua velhice possam descansar com a dignidade de tarefa
cumprida.
Porém acaba sendo um dos lugares onde, em muitos
casos, a violência domina.
A violência intrafamiliar, é aquela que acontece dentro do
contexto da família, ou seja, nas relações entre os
membros da comunidade familiar, formada por vínculos
de parentesco natural (pai, mãe, filhos etc.) ou civil
(marido, sogra, padrasto ou outros), por afinidade (por
exemplo, o primo ou tio do marido) ou afetividade (amigo
ou amiga que mora na mesma casa).
Já a violência doméstica é aquela que acontece dentro de
casa ou unidade doméstica e geralmente é praticada por
um membro da família que viva com a vítima. As
agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e
psicológico, a negligência e o abandono.
Ritt e Ritt (2008, p. 18) afirmam que: É importante
estabelecer uma diferenciação entre violência doméstica
e violência familiar. A primeira pode ser definida como
sendo aquela que ocorre no âmbito domestico em que
vive o idoso, onde está inserido, não precisando ter como
autores de agressão necessariamente familiares,
mas,sim, vizinhos, cuidadores, ou, inclusive, pessoas que
trabalham em casas geriátricas ou asilos. Já violência
familiar, pode ser entendida como aquela que é praticada
por familiares do idoso, seus filhos, netos, bisnetos,
cônjuges ou companheiros, dentre outras pessoas que
possuem ligação familiar com esta pessoa idosa.
O dia Internacional de combate à violência contra a
pessoa idosa, é comemorado em 15 de Junho, foi
marcado por grandes atos, em muitas partes do País.
Esta é uma ótima oportunidade para que a sociedade se
conscientize sobre o problema e promova discussões que
ajudem a mudar um quadro preocupante. Atualmente, 15
anos após a edição da lei de Política Nacional do Idoso e
6 anos após o Estatuto do Idoso, ainda está em fase
inicial a adoção de práticas garantidoras dos direitos do
idoso no Brasil. Dados do IBGE dão conta que, no Brasil o
contingente de Idosos tem crescido de forma acelerada.
Estima-se que, até 2020, o País conte com 40 milhões de
pessoas acima de 60 anos, passando a ser o sexto País
com mais idosos no mundo. Pesquisas governamentais
na área da saúde, afirmam que dentre os principais
problemas enfrentados pelos idosos, o maior deles é o da
violência, que não é só no Brasil, hoje, as violências e os
acidentes constituem 3,5% dos óbitos de pessoas idosas,
ocupando o sexto lugar na mortalidade, depois das
doenças do aparelho circulatório, das neoplasias, das
enfermidades respiratórias, digestivas e endócrinas.
Morrem mais de 13 mil idosos por acidentes e violências
por ano, significando, por dia, uma média de 35 óbitos,
dos quais 66% são de homens e 34%, de mulheres.
Cerca de 10% dos idosos que morrem por violência são
vítimas de homicídios, sendo que na maioria dos casos,
são homens. No Brasil, as informações sobre doenças,
lesões e traumas provocadas por causas violentas em
idosos ainda são pouco consistentes. Pesquisadores
chegam a estimar que 70% das lesões e traumas sofridos
pelos velhos não comparecem às estatísticas.
Em nosso país, há 93 mil idosos que se internam por ano
por causa de quedas (53%), violências e agressões
(27%) e acidentes de trânsito (20%). Estudos parciais
feitos no país mostram que a maioria das queixas dos
idosos é contra filhos, netos ou conjugues e outros 7% se
referem a outros parentes.
As denúncias dirigidas ao Ministério público do Brasil,
enfatizam em primeiro lugar abusos econômicos, como
tentativas de apropriação dos bens do idoso ou abandono
material cometido contra ele. Em segundo lugar,
agressões físicas e em terceiro, recusa dos familiares em
dar-lhes proteção. A maioria das violências físicas
cometidas pelos filhos está associada a alcoolismo, deles
próprios ou dos pais idosos. No que concerne à
especificidade de gênero, todas as investigações mostram
que, no interior da casa, as mulheres, proporcionalmente,
são mais abusadas que os homens. E , ao contrário, na
rua, eles são as vítimas preferenciais. Em ambos os
sexos, os idosos mais vulneráveis são os dependentes
físicos ou mentais, sobretudo quando apresentam
problemas de esquecimento, confusão mental, alterações
no sono, incontinência e dificuldades de locomoção,
necessitando de cuidados intensivos em suas atividades
da vida diária. Dados do Ministério Público Federal.
Em conseqüência dos maus tratos, muitos idosos passam
a sentir depressão, alienação,desordem pós- traumática,
sentimentos de culpa e negação das ocorrências e
situações que os vitimam a viver em desesperança. Por
isso, é preciso reafirmar que falar de violência é
fortalecer políticas estabelecidas, por exemplo, pelo
estatuto do idoso, que queremos ver cumprido cada vez
mais. Assim, existem hoje suficientes dispositivos legais e
normativos para o enfretamento da violência, assim como
vão se implantando estratégias de proteção com os
Conselhos Nacionais e locais de direitos dos idosos, os
"SOS-IDOSO", "LIGUE - IDOSO" e muitos outros. No
entanto a uma imensa distância entre as leis e portarias e
sua implementação. Muitas transformações previstas
implicam em mudanças de hábitos, usos e costumes,
portanto, outra mentalidade.
Além disso, deve ser estimulada a formação de uma
verdadeira rede de proteção em todos os municípios, com
órgãos como Promotorias do idoso, Vara do idoso,
Defensorias do idoso, Conselhos de direitos do idoso,
Atendimento domiciliar ao idoso pelo profissional
assistente social, Residência temporária para idosos
vítimas de violência, Centro-dia para atendimento de
idosos que necessitam de atendimento diário
especializado e contínuo, Oficina abrigada de trabalho
para que o idoso complemente a sua renda, casas-lares,
capacitação de cuidadores de idosos e Conselheiros,
reserva de leitos em hospitais gerais e atendimento
especializados nos consultórios dos hospitais públicos, os
quais devem possuir médicos geriatras, terapeutas e
assistentes sociais, formando uma equipe mutidisciplinar,
prevendo o bem estar do idoso. A interlocução entre
todos esses órgãos e instituições torna-se essencial para
a garantia dos direitos dos idosos, bem como para a
inserção nos orçamentos dos recursos necessários para o
atendimento das demandas das pessoas idosas. O maior
antídoto contra a violência é a ampliação da inclusão na
cidadania.
Todos envelhecemos, e os mais jovens, um dia, serão os
idosos de seu tempo. Esse processo resulta em duas
situações-limite: uma com excelente qualidade de vida e
outra com qualidade de vida muito ruim. Entre esses dois
extremos, há diversas situações intermediárias. Em qual
extremo chegaremos depende de inúmeras variáveis.
Algumas pertencentes a nós mesmos como indivíduos e,
as demais, dependentes da sociedade e do meio em que
vivemos", comenta o coordenador da área técnica de
saúde do idoso - Codepps/Sms, de São Paulo,SR. Sérgio
Márcio Pacheco Paschoal. Quando se fala em violência
contra os idosos, pensa-se imediatamente na violência
física, mas esta não é a
única, pois há inúmeras formas de violência, veladas e
mascaradas.
A partir da Legislação existente, desde 1994, para uma
Política Nacional do Idoso (Lei 8842/94 e Decreto 1948,
de 1966) é que as ações concretas foram mais
organizadas para o combate à violência contra a pessoa
idosa. A Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, de
1993, possibilitou o benefício de prestação continuada
para as pessoas idosas, no valor de um salário mínimo,
desde que a renda familiar não supere a ¼ de salário
mínimo per capita. A eligibilidade, com o Estatuto do
idoso, dá-se aos 65 anos.
O Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) assinala que a
pessoa idosa goza de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana e que o envelhecimento é um
direito personalíssimo, e a sua proteção, um direito
social, com o correspondente dever do Estado e a
respectiva proteção quando os direitos reconhecidos na
Lei forem ameaçados ou violados (art. 43). Define ainda
que "nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de
negligência, discriminação, violência, crueldade ou
opressão, e todo atentado dos seus direitos, por ação ou
omissão, será punido na forma da Lei" (art. 4º).
Acrescenta também que "é dever de todos prevenir a
ameaça ou violação aos direitos do idoso" (& 1º). O
Estatuto consagra o paradigma do pacto dos direitos
como forma de combate a violência, embora se possa
observar que há uma distância entre o formal e o real na
implementação desses direitos. Constata-se também a
violação de direitos e a transgressão permanente dos
mesmos pelo Estado, pela família e pela sociedade.
Simone de Beauvoir, no clássico livro: A VELHICE, afirma
que há "conspiração do silêncio" contra a velhice,
manifestada por alguns grupos sociais que perpetuam
uma imagem de velhice como fase temida e apavorante
da vida. A Violência contra o idoso é parte dessa
conspiração. A Sociedade e muitos dos idosos consideram
que as condutas são normais da idade. Há resistência e
dificuldade por parte dos idosos, dos profissionais e da
sociedade em falar sobre o tema e consequentemente
negam a existência do fato.
CONCLUSÃO A violência praticada contra os idosos em
seus domicílios é uma realidade grave e complexa, sendo
urgente e necessário a criação de serviços que atendam
as necessidades dos idosos vítima de violência, ou seja, a
criação de centros para atendimento de vítimas que
sejam acolhedores para prestar o serviço necessário, e
que efetivamente haja a punição dos agressores.
Viver muito com dignidade é um direito de todo ser
humano, já que significa a própria garantia do direito à
vida, o Estado precisa desenvolver e disponibilizar as
pessoas envelhecidas toda uma rede de serviços capaz de
assegurar a todas essas pessoas os seus direitos básicos,
como, por exemplo, saúde, transporte, lazer, ausência de
violência tanto no espaço familiar como no espaço
público, conforme nos traz o Estatuto do Idoso.
Com relação ao papel do Assistente Social, é um
profissional preparado para lidar com as políticas públicas
e programas do governo para garantir e assegurar o
cumprimento das Leis estabelecidas no Estatuto do
Idoso. Ainda, o Assistente Social é capaz de promover a
auto-valorização do idoso, afim de que ele se sinta
incluso na Sociedade.
É necessário transformar a realidade do idoso para que
num futuro próximo possam viver com dignidade,
erradicando toda e qualquer forma de isolamento e
exclusão social.
METODOLOGIA Em visita ao lar Torres de Melo, onde
pude entrevistar a assistente social chefe do setor de
Serviço Social ao idoso institucionalizado, a Dra. Maria
Julia de Barros, autora do livro APRENDENDO A
ENVELHECER, e a estagiária de serviço social Mirian
Gondim, do qual tive acesso aos prontuários e históricos
dos internos , onde sigilosamente pude ler vários casos
de violência familiar, gerando a vinda do idoso a
instituição, muitas vezes interferida pelo Ministério
Público.
A pedido da instituição, não publiquei no trabalho
nenhum dados referente ao assunto, preservando a
privacidade dos internos, e não citei as violências, nas
visitas que tive ao lar evitando as lembranças dolorosas
do seu passado.
Para a realização desse trabalho, obtive ajuda em sites
especializados e livros dedicados a violência sofrida na
terceira idade, além de visitas periódicas ao asilo Lar
Torres de Melo, localizado no bairro de Jacarecanga,
Fortaleza, Ceará.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MINAYO, Maria Cecília de
Souza. Violência contra idosos. Disponível em:
www.mj.gov.br/sedh/ct/cndi/eixos_tematicos.doc Acesso
em: 27 Nov 2010.13:30 SILVA, Lucilene Dahiane
Carvalho da; CARVALHO, Patrícia de; BELCHIOR, Valéria
da Silva.
Abrigo de idosos: aplicação do estatuto do idoso.
Presidente Prudente, 2007. 66 f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação) - Faculdades Integradas
http://www
.intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/vi
ewFile/2007/2170 acessado em 12 Dez 2010 - 17:00 -
Carolina Gil David, Discente do 6º termo do Curso de
Serviço Social das Faculdades Integradas "Antônio
Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente/SP Faleiros,
Vicente de Paula. VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA -
Ocorrências, Vítimas e Agressores, Editora Universa,
Brasília/DF, 2007.
http://www.renancalheiros.com.br/index.php/hot-
topic/398-a-violencia-contra-os-idosos?format=pdf
acessado em 10 dezembro / 2010 14:30 Caldas, CP.
Envelhecimento com dependência: responsabilidades e
demandas da família. Cadernos de Saúde Pública, RJ 19
(3):773-781,2003 Machado,L e Queiroz, ZPV. Negligência
e Maus-Tratos em Idosos. In: Freitas, EPV (coord)
Tratado de Geriatria e Gerontologia.RJ: Guanabara
Koogan, 2006,1152-59 Lar Torres de Melo - Jacarecanga
- Fortaleza - Ceará.
Autor: Danila Gomes Pinto

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