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UM OLHAR SOBRE AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS:

DESAFIOS E POSSIBILIDADES

PIAIA, Karine – UPF


karinepiaia@hotmail.com

SCALABRIN, Ionara Soveral – UPF


ionarascalabrin@via-rs.net

Eixo Temático: Políticas Públicas, avaliação e Gestão da Educação


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

As leis e normas educacionais são cada vez mais necessárias, mas não são suficientes para
garantir a construção de propostas curriculares democráticas e críticas que deem conta das
demandas na área da educação. Nesse sentido, considerando a necessidade de fomentar a
qualidade do ensino público, este trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre as
políticas educacionais implementadas no Brasil. Para tanto, espera-se investigar, por meio da
pesquisa documental, de que forma algumas leis, diretrizes e programas, favorecem ou
burocratizam os projetos e ações voltadas ao ensino formal. Para tanto, sendo o objeto de
estudo, a educação como forma de transformação do status quo, enfatiza-se a necessidade de
compreender, a priori, através de bases teóricas, temas inerentes às políticas educacionais,
educação, escola e Estado. A temática abordada será mediada por autores como Shiroma,
Marcon, Romanelli, Salvani, entre outros. Neste artigo, pretende-se ainda, problematizar o
papel das instituições escolares e públicas, frente à tarefa de proporcionar condições para
ampliar e defender a construção de uma proposta que supere os vícios educacionais que
estancam as tão necessárias mudanças nesse campo social. A pesquisa contribuiu para
compreender que os indicadores educacionais brasileiros refletem os entraves nesse campo e
apontam para a necessidade da articulação e do compromisso político das esferas do poder
quanto ao fortalecimento institucional, com vistas a disponibilizar meios tradicionais e
modernos de informação e de tecnologias para educar o público em questões de interesse
social e disseminar a educação de maneira a garantir o acesso qualitativo da mesma.

Palavras-chave: Educação. Políticas educacionais. Emancipação. Escola. Estado.

Introdução

O trabalho realizado com base em estudos teóricos e análise de documentos busca


compreender o papel do Estado quanto à construção e garantia de leis que favoreçam a tão
almejada qualidade social na educação. Primeiramente a pesquisa visa desvelar o processo
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histórico da educação no Brasil, buscando compreender como os movimentos em prol da


educação pública e de qualidade social, construíram e difundiram a proposta da
democratização desse espaço educativo, garantindo o direito do cidadão. Para tal abordagem,
necessitou-se também, analisar a contribuição e os estrangulamentos de algumas leis,
programas e movimentos no sentido de promover a reflexão e a criação de propostas que de
fato, se transformem em políticas educacionais. Por fim enfatiza-se a necessidade
investimentos e de redimensionamento quanti-qualitativos no sistema educacional brasileiro,
reafirma-se para tanto, o compromisso e a responsabilidade política e governamental.

O Estado e as Políticas Educacionais

A sociedade é uma forma de organização onde os indivíduos estabelecem relações e


criam instituições que, em tese, deveriam auxiliá-los a viver em comunidade; as diferentes
formas de organização social são fruto de condições específicas de determinada sociedade em
determinada época. A sociedade atual é definida como uma sociedade capitalista e nesta
perspectiva, desenvolve políticas que orientam as ações do Estado nos moldes ditados pelos
meios de produção. Estas políticas, por sua vez, possuem raízes históricas.
Para Shiroma (2004) o termo política emana do adjetivo politikós, originado de polis1,
se refere a tudo que se relaciona com a cidade, portanto ao urbano, público, civil
O Estado é uma instituição criada e gerida pela sociedade organizada para comandar a
e neutralizar os conflitos, no entanto, a partir do Contrato Social, ele passa a existir para
garantir e legitimar o direito natural de propriedade, defendido por John Locke. O liberalismo
econômico, política adotada e desencadeada na vigência do capitalismo industrial, possui
como princípio a lei da oferta e da procura, tendo o mercado papel fundamental na regulação
da economia e das relações sociais. A política neoliberal surge no final do século XX e se
dissemina em grande parte do mundo capitalista; o neoliberalismo por meio da crença no
poder da livre iniciativa restringiu a intervenção estatal.
Ao limitar a atuação do Estado na sociedade, as políticas neoliberais abrem espaço
para setores privados, e o mercado passa a reger a sociedade. Dessa forma, o Estado, muitas
vezes, compactua com os interesses empresariais, acentuando os conflitos sociais e

1
Polis - Termo grego que se refere à cidade, compreendida como a comunidade organizada, formada pelos
cidadãos, isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais. Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite a
Filosofia, Editora Ática, 2003.
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fortalecendo ainda mais a exclusão daqueles que não possuem condições de obter
determinados bens ou serviços que outrora eram de responsabilidade do Estado.
Os discursos dos governos neoliberais ressaltam a necessidade dos chamados “ajustes”
que incluem cortes de investimentos na área educacional, pois os consideram gastos
desnecessários. Para tanto propõem e defendem a ideia de que a oferta educacional deveria ser
de responsabilidade da iniciava privada, transformando o ensino num grande negócio.
Nesse sentido, no enfoque liberal, o Estado é considerado neutro e está acima dos
interesses das classes sociais, pois tem como objetivo a realização do bem comum e o
aperfeiçoamento do organismo social no seu conjunto.
Paradoxalmente, Shiroma (2002) retoma a concepção de Marx. Para este, o Estado,
longe de ser neutro, representa a violência social organizada, pois ao gerirem-no utilizam de
mecanismos de controle e coerção para legitimar e reproduzir as estruturas hegemônicas. Em
suma, para ele, Estado é uma instituição política que representa os interesses de uma classe
social dominante.
Ao contrário do neoliberalismo, a política do Bem Estar Social prega a atuação do
Estado em diferentes frentes junto à sociedade; esta forma de governar o Estado surgiu após a
crise de 1929 nos Estados Unidos. Crise gerada, em grande parte, pela política liberal que
desestruturou a economia americana pelo excesso de bens no mercado e provocou a maior
crise da história do sistema capitalismo. A população começou a se organizar e fortalecer os
movimentos sociais e por meio de pressão, foi conquistando espaços. Sendo assim, o Estado
assume papel central no controle e distribuição de lucros e políticas de garantia de proteção ao
trabalhador, seguridade social, educação, saúde pública e gratuita.
Compactuando com essa ideia, Shiroma (2002) cita Gramsci quando discute esses
pressupostos e alega que o Estado não serve apenas para manter o controle em favor da classe
dominante, mas, a partir das organizações de base, acredita que é possível propiciar rupturas
de paradigmas até então impostos e proporcionar transformações sociais que visem o bem
estar de todos os cidadãos.
Percebe-se com isso que os conflitos e consensos entre organizações e diferentes
grupos sociais são forças antagônicas que compõem a sociedade e vão moldando as funções
do Estado conforme os interesses daqueles que o controlam. Nesse contexto, são fomentadas
as políticas públicas, ações desencadeadas, no caso brasileiro, nas escalas federal, estadual e
municipal, com vistas ao bem coletivo.
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Considerando o fato de que “a política passou a designar um campo dedicado ao


estudo da esfera de atividades humanas articulada às coisas do Estado e que o conjunto de
atividades, que, de alguma maneira, são atribuídas a ele ou que dele emanam” (SHIROMA,
MORAES e EVANGELISTA, 2002, p.7), a educação, sendo um processo intrínseco ao
conjunto de atividades oriundas do Estado, pode ser uma mola propulsora para a dinamização
das estruturas sociais, ou seja, uma possibilidade contra hegemônica.
A educação é entendida pelos educadores progressistas como um dever do Estado e
um direito da população. Neste sentido, está diretamente ligada a forma como os governos
adotam suas políticas, que vão se manifestar nas instituições escolares. Maior ou menor oferta
desse serviço, pelo Estado, é resultado do tipo de opção política.
Nesse contexto, enfatiza-se a importância de se construir, dentro das políticas públicas,
políticas educacionais 2, visando melhorias qualitativas na educação pública. A qualidade,
nesse sentido, consiste em construir propostas articuladas e consequentes com vistas à
educação emancipatória3, centrada em razões ético-políticas.
Sendo assim, ao se reportar ao conceito de emancipação, considera-se a liberdade
como condição para a sua concretização, condição esta que permite ao oprimido ser sujeito
consciente de sua realidade, possibilitando o emergir da solidariedade como prática humana e
humanizadora.

Processo Histórico da Educação no Brasil

A conquista econômica, política e cultural, que envolve a educação, deu-se início com
a vinda dos colonizadores ao “Novo Mundo”.
No período colonial, o propósito de converter os índios à fé católica camuflava a real
sujeição a que estes foram submetidos. Com raras exceções, os ensinamentos jesuíticos
serviram de instrumento de exploração e imposição sutil dos costumes, conhecimentos e

2
Uma série de medidas anteriormente planejadas colocadas em prática por um governo. Ela cria acessórios
importantes para elevar a educação no meio da sociedade local, como a criação de escolas e melhorias na
qualidade do ensino.

3
A palavra emancipação está, geralmente, relacionada ao processo de libertação da dominação do colonizador
sobre o colonizado. Para Santos (2000, p. 95), a liberdade é fator imprescindível à emancipação, cuja trajetória
parte do “colonialismo para a solidariedade.”. Em uma visão alargada desse conceito, compreendemos que a
emancipação é toda e qualquer “luta pela libertação e pela superação da cultura da opressão.” (MARCON, 2006,
p. 111).
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valores europeus, resultando na dominação cultural, política e religiosa. Esse “choque


cultural” resultou num processo de globalatinização, processado intensamente no campo da
educação, gerando um sistema de ensino elitizado, aristocratizado e excludente.
Mais tarde, devido ao declínio econômico e político de Portugal, Marques de Pombal
foi o encarregado a realizar as mudanças necessárias, sendo assim, temendo o poder e a
influência que a Companhia de Jesus vinha exercendo sobre a colônia, em 1759, decide
expulsar os jesuítas do Reino e de seus domínios. É o início da Educação Pública no Brasil.
Ou seja, quando o poder público pretendia reverter esse domínio religioso, buscou conservar a
igreja como subordinada e aliada, assim, o Estado foi apoderando-se do ensino e da escola.
Na República, a tentativa de implementar leis e organizar a educação pelo poder
público descentralizado deu início a projeções descontínuas e intermitentes de organizar a
educação. Surge então, a primeira constituição que, longe de ser a saída para os problemas
sociais e construção da gestão autônoma, aparece fortemente alicerçada nos princípios
positivistas de Comte que enfatizavam a ordem e progresso, equilíbrio e harmonia, permitindo
maior controle e uniformização do ensino. Essa corrente teve seu auge em 1891,
influenciando teorias Foylistas e Tayloristas que vieram a moldar comportamentos e práticas
na área administrativa.
Em decorrência disso, entre 1920 e 1932, ocorre um processo inicial de consciência
político-democrática com a reconstrução educacional que foi marcada pelos Manifestos dos
Pioneiros da Escola Nova, cuja proposta era abranger diferentes níveis de ensino de forma
socializada em defesa do voto livre e secreto, liberdade de ensino, etc. Porém, com a
Revolução de 30, anulam-se todas as tentativas populares e, Francisco Campos, apesar de
buscar algumas práticas libertadoras, não consegue conter interferência dos interesses da
iniciativa privada no campo da Educação. Ocorre assim, a “falsa democracia” na educação.
O Estado Novo se desincumbiu da educação pública através de sua legislação máxima,
assumindo apenas o papel subsidiário. Por um lado, situaram-se os liberais-intelectuais que
expressavam os desejos da construção de um país em bases urbano-industriais democráticas e,
em oposição, situaram-se os católicos, defensores da Pedagogia Tradicional. O governo
desenvolveu um esforço governamental no sentido de controlar essas duas grandes tendências
do pensamento educacional e desejava transformações somente “dentro da ordem”.
Começaram a renascer antigos debates ideológicos a partir da deposição de Getúlio
Vargas em 1945. Surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961, que foi a
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primeira a englobar todos os graus e modalidades de ensino, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade, apresentando modificação na estrutura e conteúdo
curricular diversificado.
Na década de 60 crescem as organizações que trabalham com a promoção da cultura
popular, a conscientização da população sobre a realidade dos problemas nacionais, porém, o
período ditatorial pautado por termos educacionais de repressão, privatização do ensino,
exclusão, institucionalização do ensino profissionalizante, tecnicismo e desmobilização do
magistério foram heranças deixadas pelo “autoritarismo triunfante”.
Também, durante esse período, embora tenha acontecido à reforma do Ensino de 1º e
2º Graus, buscou-se atender aos interesses da classe dominante, reforçando as relações de
exploração. Em decorrência desse processo educacional, percebe-se a construção da
democracia arquitetada lentamente e projetada na Constituição Federal de 1988 que “assegura
o exercício de direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça”.
É a partir da Constituição Federal de 1988, que se constrói um novo pensamento
relacionando ciências humanas e ciências sociais contrapondo-se ao pensamento neoliberal
implantado pelos governos que vêm a disseminar uma política de diminuição do papel do
Estado frente às questões sociais. A construção de alternativas contra hegemônicas que
pregam a organização e a resistência da sociedade civil, o respeito ao ser humano, a defesa do
meio ambiente e da qualidade de vida, são necessárias principalmente na área educacional,
para que se possa resgatar a dignidade do ser humano, que sendo um sujeito pleno de direitos,
merece uma educação de qualidade, que o auxilie na compreensão e transformação do mundo
no qual está inserido.

Indicadores Educacionais Brasileiros

Decorrente desse processo histórico, a educação constitui-se diante de uma constante


disputa entre os setores dominantes da sociedade e as camadas populares, que buscam na
mesma, possibilidades de intervenção e ocupação de espaços que garantam o poder
econômico, político e social.
A terrível realidade socioeconômica, a que muitas crianças, jovens e adultos
encontram-se, além de gerar uma enorme exclusão social, impede milhões de pessoas do ato
de ler e escrever, justamente porque, o processo de dominação política, econômica e cultural
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da formação social brasileira implementou uma política educacional que contribuiu para
consolidar a escola como uma instituição conservada, alienante, imitativa da organização do
trabalho no sistema produtivo.
Porém, se ao longo da história a educação constituiu-se em instrumento de
domesticação, reprodução de ideologia e de exclusão das camadas menos favorecidas, a
prática dos Movimentos Sociais, iniciaram um processo de construção de uma educação de
todos e para todos. A luta pela educação, pelo direito à escola e por transformações no seu
papel e na forma de desenvolver seu trabalho é que possibilitou o início da democratização da
mesma.
A escola pública sempre necessitou de políticas nacionais que favorecessem uma
educação pautada pela construção da autonomia, pela inclusão e pelo respeito à diversidade.
Nesse viés, o debate e a luta sobre a qualidade social da educação devem compreender
o planejamento das políticas públicas da educação que, articuladas com os processos de
organização política dos segmentos da sociedade civil, proponham uma maior abertura
política e com esta, novas concepções de educação.
Cita-se como exemplo alguns movimentos e programas organizados em prol da
educação a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia que
contribuiu para suscitar reformas, gerar inúmeras iniciativas e descobrir novos recursos
humanos e financeiros para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de crianças,
jovens e adultos. Este importante encontro contou com a presença de representantes de
governos de vários países e patrocinadores internacionais como: Organização das Nações
Unidas Para a Educação, Fundo das Nações Unidas Para a Infância, Programa das Ações
Unidas Para a Educação e o Banco Mundial.
A partir disso, inúmeras propostas e metas foram traçadas no sentido de proporcionar
condições objetivas e subjetivas básicas para a aprendizagem. No entanto, algumas resultaram
apenas em amostra de estatísticas com objetivo de mostrar o que tinha sido cumprido,
voltando-se a enfoques minimalistas, a curto prazo, em que o predomínio da quantidade sobre
a qualidade eram evidentes, chegando, em alguns casos, a reduzir a qualidade do ensino.
Além disso, muito do que foi estrategicamente planejado não chegou a ganhar forma. Mas,
mesmo diante desses entraves, são inegáveis as contribuições projetadas a nível micro e
macro estrutural provenientes desse trabalho.
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Dentre as contribuições projetadas, salienta-se a execução de um conjunto de


programas que constituem o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como sendo
alternativas que permitem enfrentar estruturalmente a desigualdade de oportunidades
educacionais e avançar para uma educação de qualidade para todos.
Segundo Demerval Saviani (2007), apesar de sua configuração atual ainda não nos dar
garantia de êxito, o Plano de Desenvolvimento da Educação representa um importante passo
no enfrentamento do problema da qualidade da Educação Básica.
Nasce então, a ideia de combinar os resultados de desempenho escolar (Prova Brasil) e
os resultados de rendimento escolar num único indicador, o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) 4, como forma de detectar os avanços e necessidades de cada
instituição. Os dados coletados pelos instrumentos cognitivos por meio de avaliações como a
Prova Brasil, poderão criar possibilidades de análise de desempenho juntamente com
informações contextuais relativas à infraestrutura, nível socioeconômico, rendimento escolar,
reprovação, taxas de aproveitamento entre outros aspectos que refletem a realidade de cada
escola.
Visualiza-se assim que a implementação e articulação entre a avaliação, o
financiamento e a gestão, conferem um caráter diferenciado ao IDEB na tentativa de gerir
sobre o problema da qualidade do ensino.
Segundo as tabelas de resultados divulgadas no site do Governo Federal, essas ações
aplicadas nas escolas revelam índices baixos de aprendizagem influenciados por inúmeros
fatores. O IDEB calculado para o País, relativo aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
confirmam a defasagem de ensino, os resultados requerem de fato investimentos
significativos, tanto no que tange a formação dos professores como no aspecto financeiro.
Embora se concorde que é necessário diagnóstico da realidade educacional, teme-se
que essas avaliações externas sejam apenas um plano de ação articulado ao empresariado e a
serviço da lógica capitalista.
Citando outro exemplo que faz parte do PDE, a política de formação de leitores
considerada uma das ações do Ministério da Educação consiste em disponibilizar obras

4
O Ideb é um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exames
padronizados (Prova Brasil ou Saeb) – obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do
ensino fundamental e 3ª série do ensino médio) – com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Para
maiores detalhes sobre a definição e construção do Ideb, consultar a publicação Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), na Série Documental – Texto para Discussão nº 26, disponível em: www.inep.gov.br.
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literárias para alunos do Ensino Médio, ampliar as bibliotecas nas escolas, promover
concursos literários para todos, distribuir programas com conteúdos educacionais e outras
tantas metas que estão servindo para ampliar o ensino-aprendizagem e proporcionar melhorias
nesse sentido.
Apesar das limitações é inegável que esse conjunto de medidas que vêm sendo
adotadas, embora que de forma lenta, possam contribuir para concretizar as expectativas
propostas, mas é preciso ampliá-las e assegurá-las.

Considerações Finais

As leis e normas educacionais mais democráticas são cada vez mais necessárias, mas
não são suficientes para garantir a construção de propostas curriculares democráticas e
críticas. Pois, analisando a escola como um todo e o educando nela inserido, torna-se
preocupante o estado lamentável do esfacelamento do saber, que transformado em migalhas,
revela uma inteligência esfacelada e um horizonte epistemológico demasiadamente reduzido.
Apesar dos esforços empreendidos nos últimos anos, ainda não se conseguiu estruturar
um sistema educacional eficiente, ou seja, incapazes de assegurar a democratização mediante
ao oferecimento de vagas que ampliam o acesso das massas às instituições educacionais,
ainda não há investimentos suficientes para proporcionar condições de melhorias nessa área.
O cuidado que se deve ter é evitar que esse conjunto de atividades e metas sejam utilizadas
apenas para justificar o declínio da qualidade do ensino através de avaliações que “medem”
de forma excludente e classificatória o desempenho do aluno para poder legitimar as políticas
de privatização.
O desafio é não somente colocar a escola e a educação no centro das políticas, mas
promover e garantir de fato, diante desse contexto globalizado e de cunho neoliberal adotado
por muitos governos, a capacitação de professores, a equidade, a autonomia das escolas, a
igualdade, a cidadania crítica, a participação da sociedade civil, a formação do cidadão.
Qualidade para quem? Para que finalidade? Que forma de avaliação? Essas perguntas
devem permear e guiar as discussões no campo educacional.
Em suma, o alcance desses objetivos necessários, implica muito mais do que deslocar
recursos, deve colocar o aluno no centro, reestruturar os conteúdos, métodos, sistemas de
avaliação e modelos de gestão escolar, propiciar condições para garantir a aprendizagem,
reconhecimento de que a educação básica se realiza ao longo de toda a vida e em múltiplos
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ambientes.
Não se cria uma sociedade nova da noite para o dia, assim como não haverá qualidade
social na educação sem que haja políticas que viabilizem o conhecimento, a aprendizagem.
Sem isso faltará sempre lucidez, consciência e capacidade para enfrentar as dominações
econômicas, sociais e culturais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de setembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=content&
task=view&id=78&Itemid=221>. Acesso em: 20 out. 2007.

BRASIL. Manual Básico da Biblioteca na Escola, MEC, FNDE, 1998.

MARCON, Telmo. Políticas de educação emancipatórias: contribuições de Paulo Freire e


Alberto Memmi. Espaço Pedagógico. Educação e emancipação. Passo Fundo: UPF, v. 13, p.
107 – 121 jan./jun. 2006.

Resultados e metas IDEB. Disponível em : <http://ideb.inep.gov.br/Site/>. Acesso em: 10


dez. 2010.

Rio Grande do Sul. Secretaria da Educação. Princípios e Diretrizes para a educação


Pública Estadual. Porto Alegre: Corag, 2000.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil (1930/1973). 22.ed. Rio


de Janeiro: Vozes Ltda,1978.

SALVIANI, Demerval, O Plano de Desenvolvimento da Educação: análise do projeto do


MEC. Educação e Sociedade. V.28 n 100 Campinas out.2007.

SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia M. de & EVANGELISTA, Olinda. Política
educacional. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.

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