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DESAFIOS E POSSIBILIDADES
Resumo
As leis e normas educacionais são cada vez mais necessárias, mas não são suficientes para
garantir a construção de propostas curriculares democráticas e críticas que deem conta das
demandas na área da educação. Nesse sentido, considerando a necessidade de fomentar a
qualidade do ensino público, este trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre as
políticas educacionais implementadas no Brasil. Para tanto, espera-se investigar, por meio da
pesquisa documental, de que forma algumas leis, diretrizes e programas, favorecem ou
burocratizam os projetos e ações voltadas ao ensino formal. Para tanto, sendo o objeto de
estudo, a educação como forma de transformação do status quo, enfatiza-se a necessidade de
compreender, a priori, através de bases teóricas, temas inerentes às políticas educacionais,
educação, escola e Estado. A temática abordada será mediada por autores como Shiroma,
Marcon, Romanelli, Salvani, entre outros. Neste artigo, pretende-se ainda, problematizar o
papel das instituições escolares e públicas, frente à tarefa de proporcionar condições para
ampliar e defender a construção de uma proposta que supere os vícios educacionais que
estancam as tão necessárias mudanças nesse campo social. A pesquisa contribuiu para
compreender que os indicadores educacionais brasileiros refletem os entraves nesse campo e
apontam para a necessidade da articulação e do compromisso político das esferas do poder
quanto ao fortalecimento institucional, com vistas a disponibilizar meios tradicionais e
modernos de informação e de tecnologias para educar o público em questões de interesse
social e disseminar a educação de maneira a garantir o acesso qualitativo da mesma.
Introdução
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Polis - Termo grego que se refere à cidade, compreendida como a comunidade organizada, formada pelos
cidadãos, isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais. Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite a
Filosofia, Editora Ática, 2003.
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fortalecendo ainda mais a exclusão daqueles que não possuem condições de obter
determinados bens ou serviços que outrora eram de responsabilidade do Estado.
Os discursos dos governos neoliberais ressaltam a necessidade dos chamados “ajustes”
que incluem cortes de investimentos na área educacional, pois os consideram gastos
desnecessários. Para tanto propõem e defendem a ideia de que a oferta educacional deveria ser
de responsabilidade da iniciava privada, transformando o ensino num grande negócio.
Nesse sentido, no enfoque liberal, o Estado é considerado neutro e está acima dos
interesses das classes sociais, pois tem como objetivo a realização do bem comum e o
aperfeiçoamento do organismo social no seu conjunto.
Paradoxalmente, Shiroma (2002) retoma a concepção de Marx. Para este, o Estado,
longe de ser neutro, representa a violência social organizada, pois ao gerirem-no utilizam de
mecanismos de controle e coerção para legitimar e reproduzir as estruturas hegemônicas. Em
suma, para ele, Estado é uma instituição política que representa os interesses de uma classe
social dominante.
Ao contrário do neoliberalismo, a política do Bem Estar Social prega a atuação do
Estado em diferentes frentes junto à sociedade; esta forma de governar o Estado surgiu após a
crise de 1929 nos Estados Unidos. Crise gerada, em grande parte, pela política liberal que
desestruturou a economia americana pelo excesso de bens no mercado e provocou a maior
crise da história do sistema capitalismo. A população começou a se organizar e fortalecer os
movimentos sociais e por meio de pressão, foi conquistando espaços. Sendo assim, o Estado
assume papel central no controle e distribuição de lucros e políticas de garantia de proteção ao
trabalhador, seguridade social, educação, saúde pública e gratuita.
Compactuando com essa ideia, Shiroma (2002) cita Gramsci quando discute esses
pressupostos e alega que o Estado não serve apenas para manter o controle em favor da classe
dominante, mas, a partir das organizações de base, acredita que é possível propiciar rupturas
de paradigmas até então impostos e proporcionar transformações sociais que visem o bem
estar de todos os cidadãos.
Percebe-se com isso que os conflitos e consensos entre organizações e diferentes
grupos sociais são forças antagônicas que compõem a sociedade e vão moldando as funções
do Estado conforme os interesses daqueles que o controlam. Nesse contexto, são fomentadas
as políticas públicas, ações desencadeadas, no caso brasileiro, nas escalas federal, estadual e
municipal, com vistas ao bem coletivo.
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A conquista econômica, política e cultural, que envolve a educação, deu-se início com
a vinda dos colonizadores ao “Novo Mundo”.
No período colonial, o propósito de converter os índios à fé católica camuflava a real
sujeição a que estes foram submetidos. Com raras exceções, os ensinamentos jesuíticos
serviram de instrumento de exploração e imposição sutil dos costumes, conhecimentos e
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Uma série de medidas anteriormente planejadas colocadas em prática por um governo. Ela cria acessórios
importantes para elevar a educação no meio da sociedade local, como a criação de escolas e melhorias na
qualidade do ensino.
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A palavra emancipação está, geralmente, relacionada ao processo de libertação da dominação do colonizador
sobre o colonizado. Para Santos (2000, p. 95), a liberdade é fator imprescindível à emancipação, cuja trajetória
parte do “colonialismo para a solidariedade.”. Em uma visão alargada desse conceito, compreendemos que a
emancipação é toda e qualquer “luta pela libertação e pela superação da cultura da opressão.” (MARCON, 2006,
p. 111).
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da formação social brasileira implementou uma política educacional que contribuiu para
consolidar a escola como uma instituição conservada, alienante, imitativa da organização do
trabalho no sistema produtivo.
Porém, se ao longo da história a educação constituiu-se em instrumento de
domesticação, reprodução de ideologia e de exclusão das camadas menos favorecidas, a
prática dos Movimentos Sociais, iniciaram um processo de construção de uma educação de
todos e para todos. A luta pela educação, pelo direito à escola e por transformações no seu
papel e na forma de desenvolver seu trabalho é que possibilitou o início da democratização da
mesma.
A escola pública sempre necessitou de políticas nacionais que favorecessem uma
educação pautada pela construção da autonomia, pela inclusão e pelo respeito à diversidade.
Nesse viés, o debate e a luta sobre a qualidade social da educação devem compreender
o planejamento das políticas públicas da educação que, articuladas com os processos de
organização política dos segmentos da sociedade civil, proponham uma maior abertura
política e com esta, novas concepções de educação.
Cita-se como exemplo alguns movimentos e programas organizados em prol da
educação a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia que
contribuiu para suscitar reformas, gerar inúmeras iniciativas e descobrir novos recursos
humanos e financeiros para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de crianças,
jovens e adultos. Este importante encontro contou com a presença de representantes de
governos de vários países e patrocinadores internacionais como: Organização das Nações
Unidas Para a Educação, Fundo das Nações Unidas Para a Infância, Programa das Ações
Unidas Para a Educação e o Banco Mundial.
A partir disso, inúmeras propostas e metas foram traçadas no sentido de proporcionar
condições objetivas e subjetivas básicas para a aprendizagem. No entanto, algumas resultaram
apenas em amostra de estatísticas com objetivo de mostrar o que tinha sido cumprido,
voltando-se a enfoques minimalistas, a curto prazo, em que o predomínio da quantidade sobre
a qualidade eram evidentes, chegando, em alguns casos, a reduzir a qualidade do ensino.
Além disso, muito do que foi estrategicamente planejado não chegou a ganhar forma. Mas,
mesmo diante desses entraves, são inegáveis as contribuições projetadas a nível micro e
macro estrutural provenientes desse trabalho.
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O Ideb é um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exames
padronizados (Prova Brasil ou Saeb) – obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do
ensino fundamental e 3ª série do ensino médio) – com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Para
maiores detalhes sobre a definição e construção do Ideb, consultar a publicação Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), na Série Documental – Texto para Discussão nº 26, disponível em: www.inep.gov.br.
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literárias para alunos do Ensino Médio, ampliar as bibliotecas nas escolas, promover
concursos literários para todos, distribuir programas com conteúdos educacionais e outras
tantas metas que estão servindo para ampliar o ensino-aprendizagem e proporcionar melhorias
nesse sentido.
Apesar das limitações é inegável que esse conjunto de medidas que vêm sendo
adotadas, embora que de forma lenta, possam contribuir para concretizar as expectativas
propostas, mas é preciso ampliá-las e assegurá-las.
Considerações Finais
As leis e normas educacionais mais democráticas são cada vez mais necessárias, mas
não são suficientes para garantir a construção de propostas curriculares democráticas e
críticas. Pois, analisando a escola como um todo e o educando nela inserido, torna-se
preocupante o estado lamentável do esfacelamento do saber, que transformado em migalhas,
revela uma inteligência esfacelada e um horizonte epistemológico demasiadamente reduzido.
Apesar dos esforços empreendidos nos últimos anos, ainda não se conseguiu estruturar
um sistema educacional eficiente, ou seja, incapazes de assegurar a democratização mediante
ao oferecimento de vagas que ampliam o acesso das massas às instituições educacionais,
ainda não há investimentos suficientes para proporcionar condições de melhorias nessa área.
O cuidado que se deve ter é evitar que esse conjunto de atividades e metas sejam utilizadas
apenas para justificar o declínio da qualidade do ensino através de avaliações que “medem”
de forma excludente e classificatória o desempenho do aluno para poder legitimar as políticas
de privatização.
O desafio é não somente colocar a escola e a educação no centro das políticas, mas
promover e garantir de fato, diante desse contexto globalizado e de cunho neoliberal adotado
por muitos governos, a capacitação de professores, a equidade, a autonomia das escolas, a
igualdade, a cidadania crítica, a participação da sociedade civil, a formação do cidadão.
Qualidade para quem? Para que finalidade? Que forma de avaliação? Essas perguntas
devem permear e guiar as discussões no campo educacional.
Em suma, o alcance desses objetivos necessários, implica muito mais do que deslocar
recursos, deve colocar o aluno no centro, reestruturar os conteúdos, métodos, sistemas de
avaliação e modelos de gestão escolar, propiciar condições para garantir a aprendizagem,
reconhecimento de que a educação básica se realiza ao longo de toda a vida e em múltiplos
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ambientes.
Não se cria uma sociedade nova da noite para o dia, assim como não haverá qualidade
social na educação sem que haja políticas que viabilizem o conhecimento, a aprendizagem.
Sem isso faltará sempre lucidez, consciência e capacidade para enfrentar as dominações
econômicas, sociais e culturais.
REFERÊNCIAS
SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia M. de & EVANGELISTA, Olinda. Política
educacional. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.