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Índice
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
I. O LIVRO DE NEEMIAS
II. O HOMEM NEEMIAS
1. Um Homem Real
2. Um Copeiro Real
3. Um Governador Fiel
III. O CARÁTER E AS VIRTUDES DE NEEMIAS DIANTE DA MISSÃO
1. Amor Sacrificial
a. Demonstração de interesse real pelos que sofrem
b. Apego às promessas e a Palavra de Deus
c. Disposição de fazer alguma coisa
2. Fé e Convicção
a. Fazer o certo, mesmo com medo
Oração
Tato
Coragem
b. Dependência total do Senhor
c. Capacidade de animas os outros mesmo quando tudo indica o contrário
3. Humildade
a. Reconhecimento da importância do trabalho dos outros
b. Uma vida igual a do povo
c. Desapego total por nossa pessoa e nosso nome
4. Perseverança
a. Força para suportar as terríveis crises do ministério
Os constantes e crescentes ataques dos inimigos
As lamentáveis contendas entre os irmãos
b. Compreensão de que nossa missão é muito maior do que levantar paredes
5. Santidade
a. Zelo e amor profundo peça Palavra de Deus
Uma completa disposição pessoal
Dedicação do ensino bíblico ao povo
b. Arrependimento verdadeiro dos pecados
c. Compromisso de viver segundo a Palavra de Deus
CONCLUSÃO
ANEXO - O SACRIFÍCIO DOS JOVENS CRISTÃOS MORÁVIOS
APÊNDICE - MISSÕES A ARTE DE GARIMPAR ALMAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus que, em sua infinita graça e misericórdia, me
salvou do pecado por meio de seu Filho Jesus, me adotou como Seu e me
considerou fiel, chamando-me ao ministério;
Aos meus preciosos filhos: Agnes, Annelise e Luigi, preciosas heranças do
Senhor, alegrias do nosso lar, companheirinhos de ministério desde o
nascimento e principais campos missionários da minha vida;
A minha querida mãe, Dona Fátima, que, com muito amor e esforço, me
criou nos caminhos do Senhor, ensinando-me Sua Palavra e levando-me à
Igreja desde a infância;
Ao casal de missionários; Erwin e Edna Evans, fundadores da Primeira Igreja
Batista Regular de Caçapava-SP, onde conheci a Jesus Cristo
como meu Senhor e
Salvador;
Aos pastores e missionários que me ensinaram a Palavra de Deus,
influenciaram minha vida cristã e me motivaram em relação a Missões:
Ricardo César Pereira, Jefferson Quevedo Soares, John Lee Nunley e
Rodinele Marcelo de Andrade,
E às amadas Igreja Batista de Vargem Bonita - MG e Igreja Batista Nova
Esperança de Piumhi - MG, que, pela graça de Deus, tive o privilégio de,
juntamente com minha família, participar de seus inícios e fundação como
missionário.
PREFÁCIO
O Apóstolo Pedro disse aos leitores das suas epístolas que queria despertar o
ânimo de crentes já confirmados na verdade com admoestações e exortação
(II Pedro 1.13; 3.1). Neste pequeno volume o Missionário Luiz Miguel
desperta os seus leitores com um desafio penetrante para a obra missionária.
Ele aplica várias lições da grande missão que Neemias enfrentou na
reconstrução dos muros de Jerusalém para incentivar a Igreja de Cristo hoje a
cumprir a sua grande missão de fazer discípulos de Cristo de todas as nações
(Mateus 28.19,20).
Meu objetivo é mostrar que a obra missionária pode e deve ser feita com
fidelidade e eficiência hoje e até a volta de Cristo, apesar de todas as
dificuldades que nos cercam, basta que sigamos os princípios e parâmetros
estabelecidos pelo nosso santo e soberano Deus em Sua Palavra perfeita,
sendo a vida de Neemias, em minha opinião, um dos melhores exemplos de
como isso pode ocorrer.
Entendo tal análise como algo de grande importância em face do lamentável e
crescente desinteresse pela obra missionária por parte das igrejas e dos
cristãos em geral e por fatores que já citei acima, o que nos leva a grande
preocupação com a própria manutenção do cristianismo no mundo e da
propagação do evangelho de Jesus Cristo com qualidade.
Usarei uma análise bíblica, textual e prática do livro de Neemias, bem como
aplicarei a visão de autores cristãos e missionários fiéis, tanto sobre o livro
acima citado, quanto sobre a obra missionária de maneira geral, além de
aplicações e exemplos práticos da experiência de minha família no campo
missionário desde o início do ano de 2006 até o presente momento. Já
completamos onze anos de ministério e aprendemos muito na implantação de
duas igrejas no interior, vendo na prática a importância de tudo que escrevo
aqui.
Já sobre seu valor e utilidade, Hernandes Dias Lopes (2006, p. 13) procura,
com todo afinco e paixão, mostrar como o livro de Neemias é, de fato,
maravilhoso:
O livro de Neemias é um manual que trata da restauração da vida, família, igreja,
política e sociedade. É um dos livros mais extraordinários da História. É
atualíssimo, pertinente, assaz oportuno, insuperável na arte da administração
pessoal e pública. É um dos mais fascinantes compêndios sobre vida vitoriosa.
Trata de conflitos intrapessoais e interpessoais. Aborda os tenebrosos ataques
que vêm de fora, sem deixar de apontar os perigos que vêm de dentro. Neemias
precisa urgentemente ser redescoberto como um dos principais textos da
literatura mundial sobre liderança eficaz. Mais do que fabuloso, este livro é
inspirado!
Não nos restam dúvidas de que este é um livro bíblico especial, cujo
conteúdo é relevante e atual, querido por muitos e cheio de conteúdo
relacionado, não somente a princípios de liderança, mas também a realização
de uma missão, bem como a postura, as atitudes e o caráter que devemos ter
diante da mesma.
II. O HOMEM NEEMIAS
Vejamos um pouco quem foi Neemias.
1. Um Homem Real
Apesar do fato de alguns estudiosos interpretarem o livro de Neemias
alegoricamente e espiritualizarem-no, a versão mais aceita é de que Neemias
foi um personagem real e histórico, bem como que o livro deve ser lido e
interpretado literalmente, como Barber (2003, p. 11) diz:
Nosso método não será de fugir do Judaísmo pela espiritualização daquilo que
Neemias escreveu. Seguiremos uma interpretação normal, coerente e literal do
texto. Afinal de contas, Neemias era uma pessoa de carne e osso. Enfrentou
problemas reais. Construiu um muro verdadeiro.
Seu nome significa “Deus consola” ou uma variante disso, como, por
exemplo, “Consolo de Deus”. Tal significado é bem marcante na vida deste
homem como destaca Hernandes Dias Lopes (2006, p. 20): “O nome
Neemias significa ‘Confortador dado por Deus’ ou ‘Aquele que consola.
Neemias era um consolador, um homem de coração aberto e sensível aos
problemas dos outros”.
Em relação a confirmação da arqueologia sobre a veracidade a autenticidade
do livro Macdonald (2010, p. 325) esclarece: “Os papiros de Elefantina
testemunham fatos históricos contidos no livro, como a menção de Joanã, o
sumo-sacerdote (cf. 12.22-23), e os filhos de Sambalate, arqui-inimigo de
Neemias” e a Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego (2012, p.
537) acrescenta:
Cartas escritas em papiros foram encontradas no Egito, na ilha de Elefantina, no
rio Nilo, que afirmam que Sambalate, o homem que liderou a oposição, viveu
durante a época de Neemias. A descrição que está registrada nos papiros de
Elefantina, a respeito da situação política global, também coincide com os
relatos do livro de Neemias.
3. Um Governador Fiel
Neemias ocupou a posição de governador da Judéia e, como tal “demonstrou
humildade, integridade, patriotismo, energia, piedade e altruísmo” (RYRIE,
p. 460).
Com esta postura e, pela graça de Deus, pode cumprir sua missão e se tornar
um exemplo de fidelidade e liderança, como veremos daqui para frente,
aplicando aquilo que ele fez para o cumprimento da obra missionária na
atualidade.
Para isso vamos olhar a vida de Neemias, o governador de Judá, este servo de
Deus do Antigo Testamento que tinha uma grande missão diante de si, a
forma como ele encarou tal responsabilidade e como a executou.
O fundamento de sua missão era o Próprio Deus e não ele mesmo ou
qualquer outra pessoa ou coisa, mas a vontade eterna e Soberana do Senhor e
seu plano para com a nação de Israel.
Conforme disse C. H. Spurgeon, citado por Mark Cahill (2008, p. 31): “Se há
algum ponto único no qual a igreja cristã deveria manter o seu fervor no
fogo do cadinho, é com respeito às missões. Se há algo que com o que não
podemos ser indiferentes é quanto a levar o Evangelho a um mundo
moribundo”.
Assim como a sociedade na qual vivemos, temos nos tornado insensíveis e
indiferentes, bem como egoístas, materialistas, acomodados e superficiais,
tanto para com os que estão perto, quanto para com os que estão longe. Desta
forma, jamais faremos missões como Deus quer, ficar parado não é amor
verdadeiro e sacrificial.
Jim Elliot, citado por Elisabeth Elliot (2013, p. 21), enquanto se preparava
para ser missionário no Equador, e era pressionado a permanecer nos Estados
Unidos e realizar algum ministério ali, disse:
Não ouso ficar em casa enquanto os Quíchua perecem. As igrejas bem
frequentadas aqui de casa precisam ser estimuladas? Elas têm a Bíblia, Moisés,
os profetas e muito, muito mais. Sua condenação está escrita em seus talões de
cheque e na poeira da capa de suas Bíblias.
Um grande amigo, mentor e exemplo, que foi meu pastor durante minha
adolescência e juventude, Jefferson Quevedo Soares[1], hoje missionário na
Índia, costumava dizer em suas pregações: “Pessoas são mais importantes do
que coisas!” e esta afirmação ficou marcada em minha mente e coração,
fazendo parte de minha vida desde então. Regularmente me volto para esta
verdade a fim de me lembrar do que é mais importante em minha vida e no
campo missionário. Jamais podemos nos esquecer de que as pessoas, sejam
elas adultos, crianças, idosos ou jovens, são mais importantes do que
programações, atividades, planejamentos, construções, equipamentos ou
qualquer outra coisa que envolve o ministério. É por elas que trabalhamos,
elas é que são amadas por Deus e que precisam de Cristo e da salvação que
Ele oferece. Sim, pessoas são mais importantes do que coisas!
Precisamos saber sobre o campo missionário, sobre o mundo em que
vivemos, prestar atenção as cartas dos missionários, as notícias do mundo, a
vida das pessoas ao nosso redor e sentir tristeza por isso, não podemos ser
indiferentes, frios e insensíveis.
Sendo assim, diante da missão que temos pela frente o que temos que fazer é
nos apegarmos a Palavra de Deus e suas promessas e confiarmos nela. A obra
de evangelização e missões, o fazer discípulos de todas as nações, batizá-los,
fundar igrejas e ensinar toda a Palavra de Deus não é algo que vem de nós
mesmos ou de outras pessoas, não é algo que realizamos firmados em nossas
emoções ou sentimentos, não é uma ideia ou plano humano, mas é a vontade
de Deus firmada, estabelecida e ordenada em sua santa e perfeita Palavra.
Vejamos um resumo disso:
1. A Grande Comissão é uma ordem bíblica para todos nós, os salvos por
Cristo Jesus: Mateus28.18-20, Marcos 16 e Atos 1.8.
2.O próprio Senhor nos disse, em detalhes, tudo o que devemos fazer para
realizá-la: Mateus 28.18-20, Marcos 16 e Atos 1.8.
3. Ele afirmou ser o Soberano e ter toda autoridade no céu e na terra, além
de prometer estar conosco todos os dias: Mateus 28.28-20.
4. Ele prometeu capacitar-nos e dar o poder necessário para a realização do
trabalho: o Espírito Santo: Atos 1.8.
Sobre o imenso valor e uso da “Grande Comissão” nos dias de hoje, John
Piper (2001, p. 184) escreve:
[...] a Grande Comissão foi conferida não apenas aos apóstolos, mas também à
igreja, que perduraria até a consumação do século. Isso foi sustentado pela
autoridade que ele requer como direito no versículo 18: “Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra”. Isso o habilita a fazer o que havia anteriormente
prometido em Mateus 16.18, quando disse: “Edificarei a minha igreja.” Portanto,
a validade permanente da Grande Comissão depende da autoridade contínua de
Cristo sobre todas as coisas (Mt 28.18), do propósito de Cristo de edificar sua
igreja (Mt 16.18) e da sua promessa de estar presente e ajudar na missão da
igreja até a consumação do século (Mt 28.20).
Neemias não apenas sentiu, sofreu, chorou e orou, mas decidiu agir, decidiu
fazer alguma coisa, ajudar, participar. Então ele orou e pediu que Deus
abençoasse sua decisão e que lhe favorecesse junto ao rei persa, para que
pudesse voltar a Jerusalém e ajudar a reconstruir a cidade. E, tendo seu
pedido atendido, foi, como registrado no capítulo 2. Tal postura deve
caracterizar os missionários, plantadores de igrejas e pastores, como bem
frisou Ronaldo Lidório (2007, p. 74):
Imagino um plantador de igrejas como uma pessoa que tenha no coração a visão
de Deus, inflamada, que o incomode e alegre a cada dia. Em sua mente estão as
estratégias, borbulhantes, sempre perguntando a si mesmo enquanto caminha se
isto ou aquilo poderia cooperar para cumprir a visão. Em suas mãos as
ferramentas, o trabalho e o suor. Ele está nas ruas e não em casa. Está
caminhando e não recluso. Está entre o povo. Em casa possui uma agenda e um
arquivo. Organiza seu projeto de forma a sempre saber pelo que orar, a pensar no
próximo passo e poder avaliar a caminhada. Em sua boca está o evangelho. Não
cessa de falar de Cristo. Em seu testemunho está o caráter de Jesus. Mesmo
quando calado deve influenciar quem com ele convive. Se trabalha em equipe,
deve manter o equilíbrio entre a visão e a equipe. A visão define os alvos, mas é
preciso conhecer sua equipe, capacidade e limitações, para traçar estratégias
viáveis. Ele ora sempre, buscando a Deus e sua bondade. Deseja servir ao
Senhor com tudo o que tem.
Aqui vem o amor sacrificial e não apenas da boca para fora. Neemias decidiu
abrir mão de sua vida no palácio, de sua estabilidade social e financeira, de
sua segurança e tranquilidade, para encarar o sofrimento de perto, para estar
junto do povo, para ir e viver num lugar pobre, miserável, pequeno (ao menos
naquele exato momento), destruído, sujo e cercado de inimigos, para ajudar
as pessoas dali em suas dificuldades, para sujar as mãos, trabalhar pesado,
assumir sérias responsabilidades. Não é isso que é o amor? Se sacrificar por
quem amamos? Estar juntos de quem amamos? Não foi exatamente isso o
que Jesus fez por nós? Deixou a glória e veio habitar conosco, ser um de nós,
morrer por nós? Não é isso que devemos fazer como cristãos? Não é isso que
caracteriza a obra missionária verdadeira? Isso é amor, amor verdadeiro e
sacrificial.
Se não nos dispusermos a fazer algo, se não fizermos algo em relação aos
perdidos, não estamos amando, não estamos cumprindo nossa missão, não
estamos vivendo para o que Deus nos salvou e chamou, não estamos
imitando a Cristo.
Então, façamos algo, como Neemias, como Cristo, como os missionários têm
feito. Saiamos do nosso lugar, abramos mão do nosso conforto, vamos, com
disposição para ajudar, participemos, sirvamos, preguemos o evangelho,
ensinemos a Palavra de Deus, fundemos igrejas, estejamos prontos a perder, a
sofrer e até a morrer por amor a Cristo e as almas perdidas. Isto é missões!
Como observação cabe aqui uma lição preciosa sobre “chamado” e Missões:
Quando Neemias foi chamado por Deus? Ele não ouviu uma voz, teve uma
visão ou experimentou algo sobrenatural. Não! Ele apenas viu a necessidade
e foi. É isso o que devemos fazer.
Sophie Muller, missionária nas selvas amazônicas (em 1944) disse: “Eu não
tive um chamado, li uma ordem e obedeci!” (ROCHA, 2006, p.68) e Hudson
Taylor, missionário na China disse: “A grande comissão não é uma opção a
ser considerada, mas uma ordem para ser obedecida” (CARVALHO, p. 23).
Aqui acho válido dar nosso testemunho pessoal, pois até hoje, muitos nos
perguntam como foi o nosso “chamado” para sermos missionários e para
trabalhar na região da Serra da Canastra – MG, em especial, na pequena
cidade de Vargem Bonita (dois mil habitantes) onde servimos por oito anos.
O fato é que, tanto minha esposa Débora, quanto eu, decidimos estudar no
seminário em obediência a Palavra de Deus e não por causa de um chamado
sobrenatural. Simplesmente agimos em resposta as pregações que ouvíamos,
tanto pelo nosso pastor, quanto pelos missionários que visitavam nossa igreja.
Já no seminário, no dia em que começamos a namorar, uma das exigências
que fiz para Débora é se ela estaria disposta a ir comigo para qualquer lugar
do mundo, especialmente para o Japão (naquele momento eu tinha grande
admiração e carinho pelo país oriental e sua cultura, principalmente devido ao
envolvimento adolescente com os animes, mangás e tokusatsus[5]) e ela
prontamente aceitou. Louvo a Deus por minha esposa e pela disposição dela
em servir ao Senhor comigo em qualquer lugar. Nunca fomos para o Japão,
mas Deus usou muitas pessoas e circunstâncias para nos mostrar a Serra da
Canastra e nos trazer aqui para pregarmos Seu santo Evangelho.
Simplesmente estávamos dispostos e sabíamos que deveríamos obedecer a
Grande Comissão.
Então, vamos nos dispor e fazer algo, pois, se somos cristãos e desejamos
servir a Deus, é porque, assim como fez com Neemias, Ele nos tem colocado
em uma posição na qual poderemos, e deveremos, fazer mais pela obra
missionária. Mas para isso, firmados em Cristo Jesus, devemos encarar a
Missão com um amor sacrificial, esta é uma coluna fundamental no
evangelismo e em missões.
Se não estamos prontos a amar e a nos sacrificarmos pelos perdidos, não
devemos nem entrar no ministério, pelo contrário, ficar bem longe da obra
missionária. Mas se estamos dispostos a cumprir a grande comissão de
Cristo, então façamos isto, amemos sacrificialmente, demonstrando interesse
real pelos que sofrem (os perdidos), firmando-nos nas promessas e na
soberania de Deus e dispondo-nos a fazer alguma coisa. Assim se resume a
missão de Neemias pelos judeus e a de Cristo por nós!
Neemias foi forçado a orar em algumas situações difíceis pelas quais passou,
como na presença assustadora do rei da Pérsia, quando chegou a Jerusalém e
viu a cidade em completa ruína, quando os inimigos o assolavam por todos os
lados e de forma constante, bem como em outros momentos do seu
ministério. Só assim ele conseguiu forças para concluir sua missão. Sanders
(1985, p. 147) afirma:
A primeira impressão que se recebe ao ler sua história é que Neemias foi um
homem de oração. Sua primeira reação ao ouvir da triste situação de Jerusalém
foi voltar-se para Deus em oração, o que evidencia que ele não era um estranho
diante do trono da graça. O registro sagrado está todo salpicado de orações curtas
e espontâneas. Para Neemias, oração não era apenas um exercício para
determinadas ocasiões, mas uma parte vital do trabalho e da vida diária.
Da mesma maneira, os missionários e cristãos de hoje em dia, precisam ser
pessoas de oração, homens e mulheres que gastam tempo na presença de
Deus, conversando com o Ele especialmente em situações de grande temor e
perigo.
Diante destes fatos tão importantes e claros sobre a oração, Edison Queiroz
(1998, p. 41-42) nos lança o seguinte desafio:
Pela oração podemos fazer missões mundiais. Se você quiser ir como
missionário em certos países, terá muita dificuldade em conseguir um visto e
passar pela imigração, alfândega, etc. Mas a nossa oração não precisa de
passaporte nem de visto ou qualquer outra coisa. Podemos entrar em países,
reinos, nações, povos e alcançá-los por meio da oração. Por isso creio que cada
igreja deve ter um grande movimento de oração pró-missões mundiais. Podemos
usar cartões de oração, livros como ‘Intercessão Mundial’, revistas missionárias,
correspondências de missionários e motivar o povo de Deus a orar. [...] A oração
é uma potente arma para a obra de missões. Você tem orado? Você tem feito
missões mundiais por meio da oração? Quero desafiá-lo a orar individualmente,
a organizar um grupo de oração em sua casa ou igreja e também a motivar outros
a orar por missões.
Tudo isso parece uma contradição, um paradoxo, mas, mesmo com medo, por
Deus, podemos fazer coisas grandes, Ele nos capacita.
Ceder ao medo não melhora nada, só piora. O máximo que as pessoas podem
fazer conosco é nos rejeitar, desprezar e nos matar. David Livingstone,
missionário na África, diante de uma situação de grande perigo, falou certa
vez: “Sou imortal até que cumpra meu trabalho!” (ALMEIDA, p. 140).
Para fazer missões precisamos enfrentar o medo com oração, tato e coragem.
b. Dependência total do Senhor
Segundo os versículos 8, 18 e 20, Neemias diz que “A boa mão do meu Deus
era comigo.” E que “O Deus dos céus é que nos dará bom êxito”. Neemias
sabia que ele e o povo, eram apenas servos, e que iam se dispor e reedificar
os muros, pois eram o povo de Deus. Mas uma vez aqui ele demonstra
convicção e fé em ação.
Algo claro nestes versículos e em todo o livro é que Neemias dependia
totalmente do Senhor para cumprir sua missão. Ele não se apegava a suas
qualidades, seus talentos, sua força ou influencia, mas somente a Deus, ao
Seu poder, a Sua Palavra e a Sua Fidelidade.
Neemias sabia que Deus era com Ele, que a missão era do Senhor e que Ele a
levaria a bom êxito. O mesmo princípio vale para a obra missionária na
atualidade; a missão é do Senhor, Ele prometeu levá-la a bom êxito e afirmou
estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28.20).
Firmados nisso devemos ir, pregar, evangelizar, discipular, fundar igrejas e
viver para o Senhor.
Não podemos ir ao campo missionário confiando em nós mesmos, em nossos
talentos, capacidades ou em outras pessoas, mesmo que devamos usar tudo
isso para realizar o trabalho, porém, devemos confiar somente em Deus,
depender totalmente Dele e crer que Ele dará bom êxito ao nosso trabalho.
Nós não podemos fazer nada a não ser pregar o evangelho e vivermos em
fidelidade. Quem convence do pecado, quem salva o pecador, quem
transforma as vidas e edifica a igreja é Deus, é o Espírito Santo, é Jesus
Cristo, portanto, dependamos Dele e encaremos a Missão com fé neste Deus
que pode todas as coisas e com a convicção de que a missão é Dele e será
bem sucedida.
c. Capacidade de animar os outros mesmo quando tudo indica o contrário
Ao chegar ao campo missionário, seja ele qual for, o que iremos encontrar, de
verdade, é o caos espiritual. Se tirarmos um tempo para observar a realidade
do lugar, a vida das pessoas e o trabalho que temos pela frente, só veremos
miséria e destruição por causa do pecado e da vida sem Jesus e longe de
Deus. Entretanto, isso não deve nos desanimar, afinal, é para ajudar que
estamos ali, para oferecer a solução, para apresentar Jesus. Se fosse para
encontrar um campo agradável, pacífico e cheio de pessoas salvas e amáveis,
não seria necessário um missionário ali.
Isso é o que ele fez e o que devemos buscar em nossas vidas e ministérios:
Glorificar a Deus, cumprir nossa missão com fidelidade e sumir.
Paul Washer[10] pregou uma mensagem intitulada: “Vá, pregue e morra!”[11],
desafiando jovens cristãos para que, ao invés de ficarem buscando
reconhecimento pessoal, fama e glória escrevendo e discutindo sobre teologia
e assuntos polêmicos nas redes sociais ou em blogs na internet, a irem aos
confins da terra e pregarem a Palavra de Deus, a darem suas vidas por Cristo,
pelo evangelho e pelos perdidos, mesmo que seus nomes jamais sejam
conhecidos ou mesmo citados neste mundo. Ele ainda destaca que, em alguns
lugares, se estes jovens fossem pregadores do evangelho, seriam “Os maiores
pregadores!” de todos, pois só teriam eles como conhecedores das Escrituras
por ali.
Existiram e ainda existem muitos crentes assim, que, como Neemias estão
servindo ao Senhor e ao povo, dando suas vidas em sacrifícios e, muito
provavelmente, antes da eternidade, nem saberemos seus nomes. Mas Deus
sabe e, o mais importante, as pessoas para as quais eles pregaram, sabem o
precioso nome de Jesus.
Aqui vale uma palavra sobre o interior e cidades pequenas: Temos que ir para
estes lugares, bem como fazer trabalho simples com crianças, idosos, pobres,
doentes no hospital, analfabetos ou semi-analfabetos, deficientes mentais e
físicos, mendigos, moradores de ruas, drogados, enfim, com todo e qualquer
tipo de pessoa ou grupo, mesmo que isso não traga reconhecimento algum,
nenhum fruto aparente ou imediato, sucesso ministerial, aplausos ou
apreciação. Nossa pessoa e nosso nome não são o mais importante, tornar o
nome de Jesus conhecido, isso sim é prioridade, isso sim é o que importa.
Não podemos ter o desejo de grandeza ou, de forma alguma, ficar escolhendo
ministérios baseados em gostos ou aspirações pessoais, muito menos
almejando segurança financeira ou o sucesso egoísta como o mundo ensina.
Isso não é bíblico, não é Missões, pelo contrário, é pecado!
Por isso, ele não podia desistir ou parar após cumprir uma pequena parte da
tarefa. Precisava perseverar, ter paciência, longanimidade, calma e fidelidade
e é o que vemos nos sete capítulos seguintes.Perseverar é isso, continuar e
não parar, é jamais achar que o trabalho já está terminado ou que está difícil
demais para prosseguirmos. É uma missão dada para realizarmos até a
“consumação dos séculos” (Mt 28.20), ou seja, até o fim dos tempos, até a
volta de nosso Senhor e Salvador Jesus ou até a nossa morte.Sem
perseverança não conseguiremos nada, não faremos nada, não veremos nada
e não deixaremos nada. Em Gálatas 6.9 Paulo nos diz: “E não nos cansemos
de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos!”
Meu professor de grego no seminário, durante os anos de 2001 a 2005, Pastor
João Batista Luiz sempre dizia em suas proveitosas aulas: “O vencedor
Nunca desiste, quem desiste, nunca vence!”[12]. Esta frase foi usada por Deus
para me ajudar a perseverar nesta disciplina até o fim, bem como a perseverar
em muitas outras coisas na vida e no ministério desde então. Aliás, tenho
usado esta frase até hoje nas igrejas e nos cursos que ministro e também em
conversas pessoais para motivar irmãos em Cristo e companheiros de
ministério a não desistirem nunca.
Por isso, Missões não podem ser definidas por curtos períodos de trabalho no
campo, por construções de templos, por viagens missionárias em feriados ou
nas férias (mesmo que tudo isso seja importante e faça parte do trabalho),
pela ausência de problemas e dificuldades, ou, nem mesmo pela quantidade
de fruto aparente, mas por anos e anos de trabalho dedicado e fiel, enfim, por
uma vida.
Neemias sabia que sem santidade, Judá não iria para frente e logo, não
somente os muros tombariam novamente, mas toda a cidade e a própria
nação.
Sobre este zelo e amor pela Palavra de Deus, Piper (2011, p. 90) declara:
Enquanto meditamos na lei do Senhor de dia e de noite (Salmo 1.2) – ao nos
mergulharmos na Palavra de Deus – ele vem e toma algum aspecto da verdade
dessa palavra e a queima em nosso coração até que se torne uma santa ambição.
Se isso ainda não aconteceu, encha sua vida, sature-se da Palavra de Deus e
peça-lhe isso.
Esdras foi chamado por Neemias por ser um especialista na Palavra de Deus,
tanto no conhecimento, quanto na prática dela:
“Ele era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo SENHOR,
Deus de Israel; e, segundo a boa mão do SENHOR, seu Deus, que estava
sobre ele, o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira.” Esdras 7.6
Como bem disse o apóstolo Pedro em sua primeira epístola: “Vós, porém,
sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz;” 1Pedro 2.9
Dedicação do ensino bíblico ao povo
O desafio é ensinar a Palavra de Deus com qualidade, sendo simples, mas não
“simplório”, profundo, mas acessível e na linguagem do povo. É preciso
gastar tempo e ter paciência, orar bastante e confiar, esperar que Espírito
Santo dê os resultados no tempo de Deus. Não podemos ser crentes chatos,
mas bíblicos. A Bíblia não é chata, ela é maravilhosa e precisamos transmitir
isso ao povo com o qual vivemos e trabalhamos.
Uma aplicação que Neemias e Esdras nos dão em relação a Palavra de Deus é
que devemos amá-la acima de tudo e de todos, zelar por ela e firmarmo-nos
nela para vencer o desânimo, para combater as seitas e heresias, o
mundanismo, o comodismo, o pecado de modo geral, o medo, a timidez,
satanás e as trevas.
O missionário precisa lembrar-se sempre que ela, a Palavra de Deus, é a luz
quando tudo estiver escuro, e momentos assim serão muitos no campo
missionário. Precisa firmar-se nela para ser santo, para ser mais parecido com
Jesus Cristo, para não cair nas tentações, para ser luz no meio das trevas e
para cumprir sua missão com fidelidade. A Bíblia é a chave de tudo no
cumprimento de nossa missão.
A aliança que fizeram focava na separação dos outros povos que eram
pagãos, idólatras e imorais, mas também incluía a santificação do dia do
Senhor (10.31), fidelidade nas ofertas e dízimos (de tudo, inclusive a
consagração dos filhos) para a obra de Deus (10.32-39),enfim, incluía cada
área da vida, mas algumas em especial. E Neemias, com certeza, se incluía
nisso tudo.
Para realizar a obra de Deus e cumprir a missão que Ele nos confiou,
precisamos viver em santidade, o que só é possível quando nos
comprometemos a viver segundo a Palavra de Deus e isso inclui a decisão de
não mais pecar contra o Senhor.
Precisamos de um compromisso sério, de uma aliança com o Senhor nosso
Deus, de um pacto com Ele de que obedeceremos a sua Palavra e seremos
fiéis aos seus mandamentos. Isso nos constrange e nos desafia a fazer o certo
em momentos mais difíceis, nos ajuda a lembrar do que fazer e do que não
fazer. Além do mais, Jesus mesmo disse que “Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será
amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.”João 14:21
Como vimos até aqui, só podemos fazer Missões com santidade na vida!
Demonstrando zelo e amor profundo pela Palavra de Deus, com
arrependimento verdadeiro dos nossos pecados e com um compromisso de
viver segundo a Palavra de Deus. Pensando nisso, me lembro das palavras de
Jonathan Edwards (2005, p.233-234) sobre David Brainerd, que foi
missionário entre os índios norte-americanos:
A religiosidade de Brainerd não consistia numa experiência desvinculada da
prática. Toda a sua iluminação interior, emotividade e consolos pareciam
conduzir diretamente à prática cristã, culminando na mesma. E esta não era
meramente uma prática boa por ser livre de atos grosseiros de irreverência e
imoralidade, mas por ser uma prática santa e cristã, própria de uma vida séria,
devota, humilde, mansa, misericordiosa, caridosa e beneficente. Ele fazia do
serviço a Deus e a nosso Senhor Jesus Cristo a atividade mais importante de sua
vida, à que se dedicou e buscou com o maior empenho e diligência até o último
de seus dias, em meio a todas as suas dificuldades. Nele via-se a maneira correta
de alguém viver e praticar a religião cristã. Sua vivacidade cristã não consistia
apenas, ou principalmente, em ser ativo em palavras, mas em obras, nem em
mostrar-se ousado na profissão de sua fé e em demonstrações externas, contando
com frequência as suas próprias experiências, mas, sobretudo em mostrar-se
ativo e abundante nos labores e deveres religiosos. “No zelo não sejais remissos:
sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor em vossa geração, de acordo
com a vontade de Deus”.
Além disso, por estarmos em guerra contra satanás e as forças das trevas (Ef
6), é preciso compreender que o campo missionário (assim como o ministério
pastoral) é algo muito sério e qualquer descuido pode ser fatal. Precisamos
cuidar com o pecado, mas também com o tempo e devoção dedicados a
entretenimentos considerados saudáveis e aceitáveis como o futebol,
videogames, Netflix (ou qualquer outro serviço de Streaming como Amazon),
TV paga, passeios, dentre outros. Nossa prioridade deve ser ao Senhor e não
a coisas que nos prendem e atrapalham de executar nossa missão com
fidelidade e excelência. Consideremos como observamos o Dia do Senhor, se
e como realizamos o culto doméstico, o tempo que investimos em oração,
leitura bíblica pessoal, reflexão e meditação nas coisas espirituais, enfim,
como desenvolvemos uma vida íntima na presença de nosso Senhor e
Salvador Jesus. Ele, por meio de Sua palavra, é que nos manterá puros,
limpos e santos.
Meu desejo e oração são para que todos os missionários, pastores e cristãos
sejam mais como Neemias, mais como Paulo, mais como os dedicados
missionários do passado e do presente, enfim, que sejamos mais como Jesus,
afinal, temos uma grande missão pela frente e também para que, apesar das
grandes dificuldades que nos cercam, novos missionários se levantem de
nossas igrejas, mais obreiros levando o evangelho de Cristo ao mundo
perdido, para a glória e honra do único e glorioso Deus.
Termino com a letra de um hino que fala justamente disso, uma oração por
mais missionários, baseado no pedido de Jesus em Mateus 9.35-38, chamado
“Prece Missionária” e composto pelo Pr. Renato Brito e faço dele a minha
oração:
Prece Missionária
Grandioso Deus eterno, que fez o céu e o mar,
em nome do Seu filho vimos te rogar,
Pedido singular, que vem do nosso amor,
a tua obra, tua colheita, oh! Senhor!
Manda mais obreiros, para trabalhar,
a seara é grande e o fruto maduro está,
Seu chamado ouvimos, para o teu labor,
manda mais obreiros oh! Senhor.
Assim, naquela ilha do Atlântico, estavam três mil escravos, trazidos das
selvas da África. Ali eles iriam viver e morrer, sem nunca ouvir falar de
Cristo. E aqueles dois jovens morávios, com vinte e poucos anos, ouviram
essa notícia. Então eles se venderam como escravos àquele fazendeiro
britânico. Com o dinheiro que receberam, puderam comprar a passagem, pois
o homem só pagava aquele mesmo valor para qualquer escravo e não
providenciava o traslado para a ilha.
No dia em que iam partir, os irmãos de sua comunidade vieram de Herrenhut
até o porto para se despedirem deles. Como os jovens haviam se vendido
como escravos para o resto da vida (e não apenas para um período de quatro
anos), nunca mais retornariam à sua terra. É que assim, sendo escravos,
poderiam viver como crentes ali onde aqueles outros se encontravam.
Pois foi desta arte que surgiu a cidade de Vargem Bonita, localizada no
interior do estado de Minas Gerais, a qual, devido ao seu rico solo em
diamantes, atraiu, das mais variadas regiões do território nacional, um grande
número de pessoas sonhadoras que se viram diante da possibilidade de
adquirir grandes riquezas, fato que ajudou a antiga vila a se tornar um
município.
Hoje com cerca de 2.500 habitantes, Vargem Bonita já não sobrevive à custa
do garimpo, o qual, no seu auge, trouxe a cidade cerca de 30.000 pessoas
ligadas direta, ou indiretamente a esta prática.
Infelizmente, como ‘nem tudo que reluz é ouro’, esta arte de garimpar não
trouxe muitos benefícios à cidade de Vargem Bonita e, muito menos, aos que
dela buscavam riquezas, pois, a primeira, ao ver o fim do seu mais lucrativo
meio de renda e crescimento, se encontrou na difícil tarefa de restaurar a
natureza desgastada e contaminada pelo garimpo e descobrir outros meios de
sobrevivência, como o turismo, visto que a cidade é a primeira banhada pelo
Rio São Francisco e está próxima a sua nascente; já os segundos, tiveram
mais dificuldades em se restaurar, pois a vida no ambiente de garimpo não se
compara com a arte de praticá-lo, devido ao fato de, os mesmos homens que
a beira do rio e nos buracos, demonstravam tanto paciência, sabedoria e
discernimento, em suas vidas pessoais refletiam completamente o oposto:
Vícios como o do cigarro, drogas e principalmente o das bebidas alcoólicas,
prostituição e imoralidade exagerada, desprezo pela família, ingenuidade
diante dos astutos e gananciosos compradores de diamante e a falta de
sabedoria parta administrar o dinheiro ganho com tanto suor, o que resultou
em vidas destruídas física, emocional e, principalmente, espiritualmente.
Convivendo com o povo é fácil perceber que os estragos maiores que a antiga
‘arte’ deixou não foram de cunho material, porém espiritual. O estilo de vida
libertino do passado junto com uma falha orientação espiritual da igreja
romana, associado à superstição, ao espiritismo e a típica “desconfiança” do
interior, tornou endurecido o coração dos moradores. O diabo aproveitou-se
de toda a situação propícia e cegou-lhes o entendimento para que não lhes
resplandeça o evangelho de Cristo, o qual, para a grande maioria é somente
uma imagem, um nome religioso e uma espécie de ‘força espiritual’ que
todos acreditam seguir e servir.
Além de tudo isto, teve o triste impacto negativo de alguns religiosos, que se
dizendo evangélicos, chegaram a cidade, pregando não Cristo, mas um
legalismo exagerado e um evangelho falso de prosperidade e milagres
baratos.
Agora, minha esposa Débora e eu, temos que, como as antigos garimpeiros,
ter a paciência em esperar as pessoas e os momentos certos para apresentar o
evangelho e ensinar a verdade da Palavra de Deus, mas, principalmente para
ver os frutos de salvação e arrependimento serem demonstrados, também
necessitamos de discernimento para perceber quem são as pessoas que estão
abertas a verdade em diferença daquelas que só querem bênçãos físicas e
materiais, além de um cuidado tremendo em não deixar cair das nossas mãos
aquela valiosa alma que está se aproximando de Cristo como os garimpeiros
faziam para não deixar cair de suas peneiras o pequeno diamante que, com
tanto esforço encontraram, o que vez ou outra acontecia. Para isso, usamos a
força, não braçal, mas da oração e do Espírito Santo, oferecemos o sangue de
Cristo derramado na cruz, que purifica as vidas manchadas pelo pecado ao
invés do vermelho mercúrio que contaminava as águas limpas do ‘Velho
Chico’ e pregamos a maior de todas as riquezas, não a que vem dos
diamantes, do ouro ou de qualquer outra preciosidade natural e passageira,
mas a melhor e mais maravilhosa de todas as riquezas: A salvação eterna da
alma pela graça de Jesus Cristo através da fé.
Assim como garimpar, esta ‘arte’ não é fácil, envolve lutas, desânimos,
desapontamentos, desilusões, e é necessário muito amor, paciência,
compaixão e poder espiritual para que, depois de efetuada a tarefa, possamos,
como os garimpeiros, comemorar com intensa alegria, que os fazia esquecer
todo o esforço e sofrimento, a descoberta de um pequeno diamante, o qual,
no nosso caso, é cada preciosa alma salva pelo amor de nosso Senhor e
Salvador Cristo Jesus.
‘Esforçando-me deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora
anunciado, para não edificar sobre o fundamento alheio;’Romanos 15.20”[16]
Referências Bibliográficas
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WHITNEY, Donald S. Disciplinas Espirituais para a Vida Cristã. São Paulo, SP: Batista
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Sobre o autor
Luiz Miguel de Souza Gianeli é casado com Débora Barbosa da Silva Gianeli
e pai de Agnes, Annelise e Luigi.
Bacharel em Teologia pelo Seminário Batista Regular do Sul (SBRS), com
Convalidação pela Faculdade Evangélica do Piauí (FAEPI), tem trabalhado
como missionário Batista na região da Serra da Canastra, Centro-Oeste de
Minas Gerais desde 2006, onde, juntamente com sua família, fundou a Igreja
Batista de Vargem Bonita e a Igreja Batista Nova Esperança em Piumhi, onde
serve atualmente.
É autor do livro “Como Peregrinos e Forasteiros – Meditações em
Primeira Pedro” e escreve o Blog “Diamantes Eternos”
(http://diamanteseternos.blogspot.com.br/) sobre missões, cristianismo,
literatura e cultura.
[1]
Pastor da Primeira Igreja Batista Regular de Caçapava – SP durante os anos de 1996 a
2001. Seu ministério missionário atual, realizado na Índia, pode ser conferido no blog:
http://missoesindia.blogspot.com.br/
[2]
Longa metragem animado produzido por Fox/Blue Sky – 2005.
[3]
Sua história pode ser conferida no filme “Jornada Pela Liberdade” (Amazing Grace) –
Swen Filmes - 2008.
[4]
Um dos cinco missionários mortos pelos índios Huaorani, durante a operação Auca no
Equador em 1956.
[5]
Desenhos animados, histórias em quadrinhos e seriados de super-heróis japoneses, bem
comuns no Brasil na década de 90.
[6]
Missionário americano que atuou na Birmânia, atual Myammar durante 40 anos (1788-
1850).
[7]
Disponível em https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-
instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Humildade .
[8]
Conteúdo ministrado na aula de “Ética Ministerial” no Seminário Batista Regular do Sul
no ano de 2005.
[9]
Sua história é contada no livro infantil da APEC “Comprando Crianças para Deus”.
[10]
Pastor norte-americano com experiência missionária dez anos no Peru.
[11]
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=PLQ5jsyLlL4 Acesso em 19 out.
2016.
[12]
Grego era a disciplina do seminário com maior número de alunos desistentes, por isso,
a ênfase do seu professor nesta frase.
[13]
Filme cristão “Corajosos” – “Courageous” no original, lançado pela Sherwood Pictures
em 2011.
[14]
Recomendo um estudo das resoluções de Jonathan Edwards e a leitura do livro: “As
Firmes Resoluções de Jonathan Edwards” – de Steven Lawson, publicado pela editora
FIEL.
[15]
Extraído de http://diamanteseternos.blogspot.com.br/2013/09/missoes-e-o-exemplo-
dos-jovens-moravios.html
[16]
Texto publicado originalmente em meu blog no dia 1/12/2008:
http://diamanteseternos.blogspot.com.br/2008/12/misses-arte-de-garimpar-almas.html