Você está na página 1de 84

Luiz Miguel de Souza Gianeli

A Missão de Neemias Uma Perspectiva


para a Obra Missionária na Atualidade
Primeira Edição 2017
Copyright © Luiz Miguel de Souza Gianeli
Arte e Diagramação
Luiz Miguel de Souza Gianeli
Capa
Bertran Evarini
Revisão
Luiz Miguel de Souza Gianeli
www.diamanteseternos.blogspot.com.br/
Primeira edição (Mai/2017)
Impressão e publicação:
AMAZON KINDLE: https://kdp.amazon.com
DIAMANTES ETERNOS:
www.diamanteseternos.blogspot.com.br

Índice
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
I. O LIVRO DE NEEMIAS
II. O HOMEM NEEMIAS
1. Um Homem Real
2. Um Copeiro Real
3. Um Governador Fiel
III. O CARÁTER E AS VIRTUDES DE NEEMIAS DIANTE DA MISSÃO
1. Amor Sacrificial
a. Demonstração de interesse real pelos que sofrem
b. Apego às promessas e a Palavra de Deus
c. Disposição de fazer alguma coisa
2. Fé e Convicção
a. Fazer o certo, mesmo com medo
Oração
Tato
Coragem
b. Dependência total do Senhor
c. Capacidade de animas os outros mesmo quando tudo indica o contrário
3. Humildade
a. Reconhecimento da importância do trabalho dos outros
b. Uma vida igual a do povo
c. Desapego total por nossa pessoa e nosso nome
4. Perseverança
a. Força para suportar as terríveis crises do ministério
Os constantes e crescentes ataques dos inimigos
As lamentáveis contendas entre os irmãos
b. Compreensão de que nossa missão é muito maior do que levantar paredes
5. Santidade
a. Zelo e amor profundo peça Palavra de Deus
Uma completa disposição pessoal
Dedicação do ensino bíblico ao povo
b. Arrependimento verdadeiro dos pecados
c. Compromisso de viver segundo a Palavra de Deus
CONCLUSÃO
ANEXO - O SACRIFÍCIO DOS JOVENS CRISTÃOS MORÁVIOS
APÊNDICE - MISSÕES A ARTE DE GARIMPAR ALMAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dedico este livro à minha amada e maravilhosa esposa


Débora, a quem agradeço por sua fidelidade ao Senhor,
por sua dedicação ao trabalho missionário, por ser minha
companheira fiel e auxiliadora idônea, por seu amor a mim
e aos nossos filhos e por sua paciência enquanto escrevia
este livro;

AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus que, em sua infinita graça e misericórdia, me
salvou do pecado por meio de seu Filho Jesus, me adotou como Seu e me
considerou fiel, chamando-me ao ministério;
Aos meus preciosos filhos: Agnes, Annelise e Luigi, preciosas heranças do
Senhor, alegrias do nosso lar, companheirinhos de ministério desde o
nascimento e principais campos missionários da minha vida;
A minha querida mãe, Dona Fátima, que, com muito amor e esforço, me
criou nos caminhos do Senhor, ensinando-me Sua Palavra e levando-me à
Igreja desde a infância;
Ao casal de missionários; Erwin e Edna Evans, fundadores da Primeira Igreja
Batista Regular de Caçapava-SP, onde conheci a Jesus Cristo
como meu Senhor e
Salvador;
Aos pastores e missionários que me ensinaram a Palavra de Deus,
influenciaram minha vida cristã e me motivaram em relação a Missões:
Ricardo César Pereira, Jefferson Quevedo Soares, John Lee Nunley e
Rodinele Marcelo de Andrade,
E às amadas Igreja Batista de Vargem Bonita - MG e Igreja Batista Nova
Esperança de Piumhi - MG, que, pela graça de Deus, tive o privilégio de,
juntamente com minha família, participar de seus inícios e fundação como
missionário.
PREFÁCIO
O Apóstolo Pedro disse aos leitores das suas epístolas que queria despertar o
ânimo de crentes já confirmados na verdade com admoestações e exortação
(II Pedro 1.13; 3.1). Neste pequeno volume o Missionário Luiz Miguel
desperta os seus leitores com um desafio penetrante para a obra missionária.
Ele aplica várias lições da grande missão que Neemias enfrentou na
reconstrução dos muros de Jerusalém para incentivar a Igreja de Cristo hoje a
cumprir a sua grande missão de fazer discípulos de Cristo de todas as nações
(Mateus 28.19,20).

Luiz dá instruções que não somente iluminam a história inspirada do livro de


Neemias, mas também dá exemplos de como ele mesmo tem posto os
princípios em prática como missionário bem ativo no campo. Ele consegue o
propósito do seu livro, “Que as conclusões e aplicações sejam úteis e
relevantes para os cristãos na execução do trabalho missionário confiado
por Deus a nós.”

Leia estas conclusões úteis e relevantes, se desperte e aceite o desafio de


fazer Cristo conhecido no mundo inteiro.
Pr. John Lee Nunley – Missionário da Baptist Mid-Missions servindo no
Brasil desde 1978
______________________________
INTRODUÇÃO
O conteúdo deste livro foi primeiramente preparado no formato de esboços
para uma série de sermões que preguei na Conferência Missionária do
Seminário Batista Regular do Sul no ano de 2015, posteriormente, seu
conteúdo foi expandido e adaptado para um formato mais técnico, como um
Trabalho de Conclusão de Curso visando a Convalidação do meu curso livre
de Teologia e, agora, passa por uma nova expansão e adaptação, tomando a
forma de um pequeno livro, visando compartilhar, com um grupo maior de
irmãos, este desafio missionário que, em suma, trata-se de uma análise do
livro bíblico de Neemias, em especial, da missão deste homem de Deus em
liderar a reconstrução dos muros e de toda a cidade de Jerusalém, aplicando
isso à obra missionária na atualidade e oferecendo exemplos práticos de
como podemos executar a Grande Comissão dada pelo Senhor Jesus Cristo
nos Evangelhos, de forma eficiente, fiel e duradoura, para que, tanto a nossa
vida, como servos de Deus e pregadores do evangelho, quanto os meios que
usamos, bem como os frutos alcançados no cumprimento desta sublime
missão, glorifiquem ao nosso grandioso Deus, o Senhor da Seara.

Sabemos da importância da obra missionária para a fé cristã, contudo, é


evidente o declínio em que a mesma se encontra na atualidade, não somente
pela falta de novos obreiros indo aos campos, pelo grande número de
desistências por parte de missionários, pastores e evangelistas, mas também
pelas falhas em alguns dos projetos missionários já iniciados. Portanto, fica a
pergunta: “Como fazer missões de modo eficiente?”, aliás, em nosso mundo
pós-moderno, seria isto possível?
Observando a grande e maravilhosa obra que Deus fez no tempo de Neemias,
bem como o caráter deste servo, sua postura, suas atitudes diante da missão, o
trabalho que realizou, a forma como o fez, os meios que empregou, bem
como os frutos que alcançou a curto e longo prazo, comparando com outros
textos bíblicos e com exemplos da história da igreja e de missões, creio que é
possível fazermos a obra missionária com qualidade e eficiência, de modo
bíblico e coerente, em obediência ao Senhor, para Seu louvor e glória da Sua
majestade.

Meu objetivo é mostrar que a obra missionária pode e deve ser feita com
fidelidade e eficiência hoje e até a volta de Cristo, apesar de todas as
dificuldades que nos cercam, basta que sigamos os princípios e parâmetros
estabelecidos pelo nosso santo e soberano Deus em Sua Palavra perfeita,
sendo a vida de Neemias, em minha opinião, um dos melhores exemplos de
como isso pode ocorrer.
Entendo tal análise como algo de grande importância em face do lamentável e
crescente desinteresse pela obra missionária por parte das igrejas e dos
cristãos em geral e por fatores que já citei acima, o que nos leva a grande
preocupação com a própria manutenção do cristianismo no mundo e da
propagação do evangelho de Jesus Cristo com qualidade.

Usarei uma análise bíblica, textual e prática do livro de Neemias, bem como
aplicarei a visão de autores cristãos e missionários fiéis, tanto sobre o livro
acima citado, quanto sobre a obra missionária de maneira geral, além de
aplicações e exemplos práticos da experiência de minha família no campo
missionário desde o início do ano de 2006 até o presente momento. Já
completamos onze anos de ministério e aprendemos muito na implantação de
duas igrejas no interior, vendo na prática a importância de tudo que escrevo
aqui.

Dentre os autores selecionados, alguns são bem conhecidos, outros nem


tanto, alguns ainda exercem seus ministérios e outros já faleceram, brasileiros
e estrangeiros, sendo eles: John Piper, Ronaldo Lidório, Gérson Rocha,
Elisabeth Elliot, Stuart Olyott, J.C. Ryle, David de Bruyn, Mike Mackinley,
Russell Shedd, Mark Dever, Donald Whitney, Osvald Sanders, Edison
Queiroz, Glênio Fonseca Paranaguá, Mark Cahill e Jonathan Edwards.
Estes irmãos, bem como os muitos missionários citados ao longo de todo o
texto, foram escolhidos devido a sua fidelidade ao Senhor, pelo profundo e
exímio conhecimento das Escrituras Sagradas, pela qualidade de suas obras
relacionadas a missões, evangelismo, testemunho cristão, liderança espiritual
e secular, ministério pastoral, pelo exemplo e testemunho cristão fiel, bem
como pelo provado e aprovado amor ao Senhor Deus e às almas perdidas,
pela prática do que escreveram em suas próprias vidas e no trabalho
missionário, além do grande e profundo impacto e influência que causaram, e
ainda causam, na história da igreja, em minha vida e na vida de minha
família.

Além disso, selecionei outros autores, especialistas da Palavra de Deus, que


escreveram, de modo muito eficiente, especificamente, sobre o livro de
Neemias, seja em comentários dedicados exclusivamente a este livro, como
Cyril J. Barber e Hernandes Dias Lopes, ou que produziram comentários
mais gerais que englobam toda a Sagrada Escritura, como John MacArthur e
William Macdonald.
O livro está dividido em apenas três capítulos, sendo que, o primeiro deles,
apresenta uma breve e direta análise do livro bíblico de Neemias, o segundo
traz uma sucinta biografia deste importante personagem histórico, ambos
com um número maior de citações, através das quais deixo os especialistas
falarem, e o terceiro e último, que é o mais extenso dos três, no qual descrevo
o caráter, as virtudes, as qualidades e as atitudes próprias ao servo Neemias,
que podem, e devem ser consideradas como colunas universais e atemporais
da obra missionária, subdivididos em aplicações práticas de cada uma delas à
nossa realidade missionária atual.

Dedico, voluntaria e enfaticamente, mais tempo ao terceiro capítulo devido


ao objetivo primário da obra e a ênfase que pretendo estabelecer da
importante relação da missão de Neemias com a Grande Comissão de Jesus
Cristo para a Sua igreja e a obra missionária na atualidade ao redor do
mundo.
Espero que tais conclusões e aplicações sejam úteis e relevantes para os
cristãos na execução do trabalho missionário confiado por Deus a nós, como
tem sido em minha vida e na vida de minha família e que Jesus Cristo nosso
Senhor e Salvador seja glorificado através do fiel uso destes ensinos, hoje e
até a sua gloriosa volta.
I. O LIVRO DE NEEMIAS
O décimo sexto livro de nossa tradução da Bíblia e o décimo primeiro dos
chamados livros históricos; Neemias é um dos textos do Antigo Testamento
mais apreciados pelos cristãos e, de modo geral, também por toda sociedade
ocidental, inclusive no meio secular, em especial, por seus excelentes e
práticos princípios de liderança.
“Descobriremos que estes princípios são para todos os tempos.
Neles, estaremos em condições de aprender mais da dinâmica da liderança
bem sucedida – seja a nossa esfera de serviço o pastorado, o campo
missionário, uma firma, ou o governo” (BARBER, 2003, pg. 11).

Originalmente formava um único livro juntamente com Esdras, o que ainda


acontece nas versões atuais do texto em hebraico. Era chamado de “Segundo
Esdras” tanto na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento,
quanto na Vulgata latina, a tradução em latim feita por Jerônimo. Na bíblia
Católica o livro de Neemias vem depois do Livro de Esdras e antes do Livro
apócrifo de Tobias.
Em relação a sua autoria, o próprio Neemias é, tradicionalmente, reconhecido
e aceito como seu autor, apesar de muitos estudiosos creditarem sua autoria a
Esdras.

“Como os livros de Esdras e Ester, que receberam seus nomes em


homenagem a seus contemporâneos [...], o livro narra alguns fatos que
ocorreram durante a sua liderança e recebeu como título o seu nome”
(MACARTHUR, 2012, pg. 604).

Particularmente, creio que foi o próprio Neemias quem escreveu o livro,


devido às muitas narrativas em primeira pessoa, bem como a grande riqueza
de detalhes nas descrições de pessoas, locais e acontecimentos. Contudo, se
foi Esdras ou algum outro sacerdote ou escriba que escreveram o livro, é
mais do que certo que tiveram acesso a anotações pessoais de Neemias.
Escrito em hebraico “Neemias provavelmente escreveu o livro pouco tempo
depois dos acontecimentos narrados, c. 430 a.C., durante o reinado de
Artaxerxes I (464-424 a.C.).” (MACDONALD, 2010, p. 325).

O Pano de fundo do livro é o retorno do povo judeu à sua terra, após os


setenta anos de cativeiro babilônico e a restauração e reconstrução de Israel e
de Jerusalém. “Neemias narra o terceiro retorno para reconstruir os muros
ao redor de Jerusalém (c. 445 a.C.)”. (MACARTHUR, 2012, p. 604).
Hernandes Dias Lopes (2006, p. 12) ainda acrescenta:
Ele formava um só livro com Esdras na Bíblia Hebraica. A Septuaginta trazia os
dois também como um só livro. Ambos relatam o mesmo fato central: A volta do
povo judeu da Babilônia, após setenta anos de cativeiro, para a reconstrução da
cidade de Jerusalém. Ao revolvermos os escombros da cidade santa, espanando a
poeira do tempo, aprendemos princípios morais e espirituais que poderão
transformar nossa visão e a nossa própria vida.

“Finalmente, Neemias e Malaquias apresentam os últimos escritos canônicos


do AT, tanto em termos da época em que ocorreram os acontecimentos (cap.
13; Ml 1-4) quanto à época em que foram registrados [...]”.
(MACARTHUR, 2012, p. 604-605) e, de forma interessante, o livro não é
citado em parte alguma do Novo Testamento, nem por Jesus ou pelos
apóstolos.

Já sobre seu valor e utilidade, Hernandes Dias Lopes (2006, p. 13) procura,
com todo afinco e paixão, mostrar como o livro de Neemias é, de fato,
maravilhoso:
O livro de Neemias é um manual que trata da restauração da vida, família, igreja,
política e sociedade. É um dos livros mais extraordinários da História. É
atualíssimo, pertinente, assaz oportuno, insuperável na arte da administração
pessoal e pública. É um dos mais fascinantes compêndios sobre vida vitoriosa.
Trata de conflitos intrapessoais e interpessoais. Aborda os tenebrosos ataques
que vêm de fora, sem deixar de apontar os perigos que vêm de dentro. Neemias
precisa urgentemente ser redescoberto como um dos principais textos da
literatura mundial sobre liderança eficaz. Mais do que fabuloso, este livro é
inspirado!

Não nos restam dúvidas de que este é um livro bíblico especial, cujo
conteúdo é relevante e atual, querido por muitos e cheio de conteúdo
relacionado, não somente a princípios de liderança, mas também a realização
de uma missão, bem como a postura, as atitudes e o caráter que devemos ter
diante da mesma.
II. O HOMEM NEEMIAS
Vejamos um pouco quem foi Neemias.
1. Um Homem Real
Apesar do fato de alguns estudiosos interpretarem o livro de Neemias
alegoricamente e espiritualizarem-no, a versão mais aceita é de que Neemias
foi um personagem real e histórico, bem como que o livro deve ser lido e
interpretado literalmente, como Barber (2003, p. 11) diz:
Nosso método não será de fugir do Judaísmo pela espiritualização daquilo que
Neemias escreveu. Seguiremos uma interpretação normal, coerente e literal do
texto. Afinal de contas, Neemias era uma pessoa de carne e osso. Enfrentou
problemas reais. Construiu um muro verdadeiro.

Seu nome significa “Deus consola” ou uma variante disso, como, por
exemplo, “Consolo de Deus”. Tal significado é bem marcante na vida deste
homem como destaca Hernandes Dias Lopes (2006, p. 20): “O nome
Neemias significa ‘Confortador dado por Deus’ ou ‘Aquele que consola.
Neemias era um consolador, um homem de coração aberto e sensível aos
problemas dos outros”.
Em relação a confirmação da arqueologia sobre a veracidade a autenticidade
do livro Macdonald (2010, p. 325) esclarece: “Os papiros de Elefantina
testemunham fatos históricos contidos no livro, como a menção de Joanã, o
sumo-sacerdote (cf. 12.22-23), e os filhos de Sambalate, arqui-inimigo de
Neemias” e a Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego (2012, p.
537) acrescenta:
Cartas escritas em papiros foram encontradas no Egito, na ilha de Elefantina, no
rio Nilo, que afirmam que Sambalate, o homem que liderou a oposição, viveu
durante a época de Neemias. A descrição que está registrada nos papiros de
Elefantina, a respeito da situação política global, também coincide com os
relatos do livro de Neemias.

Não há dúvidas de que Neemias foi um homem real, muito importante na


história de Judá e de Jerusalém e que tem grande influência para o povo de
Deus em toda a história, assim como para nós, cristãos da atualidade.
2. Um Copeiro Real
Neemias era copeiro do rei persa Artaxerxes como Barber (2003, p. 11)
descreve:
Neemias era provavelmente da tribo de Judá [...], e pode ser que fosse até
descendente do rei Davi [...]. Ele se apresenta como “o filho de Hacalias”. Nada
se sabe de seu pai, por isso concluímos que ele tenha sido levado cativo quando
Jerusalém caiu nas mãos dos babilônicos. É provável que Neemias tenha nascido
no cativeiro e foi cercado por todas as influências corruptoras do antigo Oriente
Próximo. Quando encontramos Neemias ele está servindo como copeiro do rei
em Susã, principal palácio e residência de inverno do monarca. Como copeiro,
ele se encontra em posição singular. Exerce ao mesmo tempo os cargos de
primeiro-ministro e mestre de cerimônias.

E Macdonald (2010, p. 325) diz: “A diplomacia, o empenho e a liderança


percebidas no livro são qualidades que Neemias precisava demonstrar como
copeiro do rei, cargo muito importante”.
Ser copeiro do rei não era uma função simples, mas de imensa
responsabilidade, como bem esclarece Hernandes Dias Lopes (2006, p. 21):
Contudo, por causa de sua integridade, capacidade e lealdade, Neemias ocupou
um cargo de grande confiança no reinado de Artaxerxes, em Susã [...]. Pelo
grande temor que os reis tinham de ser envenenados, o copeiro era um homem
de grande confiança. Ele provava o vinho do rei e cuidava dos seus aposentos.
Ele supervisionava toda a alimentação do palácio e, antes de o rei ingerir
qualquer bebida, devia tomar o copo, ingerindo-a ele mesmo [...]. O rei da Pérsia
colocava a vida em suas mãos. Além de copeiro, ele era uma espécie de
primeiro-ministro, o braço direito do rei Artaxerxes.

Fica evidente a soberania de Deus na vida de Neemias, colocando-o numa


posição em que teria acesso ao rei e assim, ter a permissão e o apoio
necessários para liderar a reconstrução dos muros e da cidade de Jerusalém.
Este cuidado de Deus com o seu povo, colocando pessoas em lugares e
posições estratégicas também é visto na vida de José, Ester e Daniel.

3. Um Governador Fiel
Neemias ocupou a posição de governador da Judéia e, como tal “demonstrou
humildade, integridade, patriotismo, energia, piedade e altruísmo” (RYRIE,
p. 460).

“Neemias foi nomeado governador da Judeia pelo imperador persa, e pouco


depois veio a Jerusalém (445 a.C.). Além disso, Artaxerxes lhe deu uma
escolta militar e fundos do governo, para ajudá-lo na reconstrução dos
muros ao redor de Jerusalém” (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS-
CHAVE HEBRAICO E GREGO, 2012, p. 537).
Ele ocupou esta posição por duas vezes. MacArthur (2012, p. 604) afirma:
“O livro segue em ordem cronológica, do primeiro mandato de Neemias
como governador de Jerusalém em c. 445-433 a.C. (Ne 1-12) até o seu
segundo mandato, que possivelmente teve início em c. 424 a.C.”

Neemias foi um governador fiel e compromissado, que exerceu sua função de


liderança com amor, dedicação, fidelidade e sacrifício, diferente dos que
exerceram tal função antes dele, tudo isso como fruto do seu temor do Senhor
Deus. Ele mesmo disse: “Também desde o dia em que fui nomeado seu
governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo
ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão
devido ao governador. Mas os primeiros governadores, que foram antes de
mim, oprimiram o povo e lhe tomaram pão e vinho, além de quarenta siclos
de prata; até os seus moços dominavam sobre o povo, porém eu assim não
fiz, por causa do temor de Deus”. (Neemias 5.15).

Com esta postura e, pela graça de Deus, pode cumprir sua missão e se tornar
um exemplo de fidelidade e liderança, como veremos daqui para frente,
aplicando aquilo que ele fez para o cumprimento da obra missionária na
atualidade.

III. O CARÁTER E AS VIRTUDES DE


NEEMIAS DIANTE DA MISSÃO
O fundamento de Missões é Jesus Cristo! Ele já está lançado, firmado e
estabelecido, é seguro, firme e eterno, só precisamos, em obediência a sua
ordem, construir em cima. Como bem disse David Brainerd (EDWARDS,
2005, p. 173-174) em seu diário, sobre sua missão entre os índios:
Não posso deixar de ressaltar que, em geral, desde a primeira vez que cheguei
entre os índios de nova Jersey, tenho sido favorecido com aquela ajuda que, para
mim, é incomum, ao pregar a Cristo crucificado, fazendo Dele o centro e o alvo
para onde se dirigem todos os meus sermões e explicações entre os índios.

Além disso, as Sagradas Escrituras deixam bem claro, nas palavras do


apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 3.11, a seguinte verdade: “Porque ninguém
pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus
Cristo.”

Paulo Serafim (Morávios, 2016) de forma muito sábia e esclarecedora


também acrescenta:
A igreja não pode inventar a missão e nem pode ter outra missão além da missão
de Deus. A igreja é missionária porque Deus é missionário. A igreja tem uma
missão porque Deus lhe deu uma. Se a missão é Deus, então, deve ser centrada
nele e no seu propósito soberano revelado nas Escrituras e, especialmente na
pessoa do seu Filho Jesus Cristo. Qual é, portanto, a missão da igreja? A missão
da igreja é realizar a missão de Deus de abençoar todos os povos da terra com o
evangelho do seu Filho Jesus Cristo. Quanto esforço, tempo, oração e dinheiro
temos investido nessa missão?

Entretanto, existem algumas questões fundamentais em relação à obra


missionária, em especial relacionadas ao caráter, postura e atitude dos
missionários, obreiros e pregadores do evangelho que precisamos analisar, e
que podemos considerar como colunas da obra missionária, sendo úteis,
necessárias e fundamentais em qualquer época ou lugar, não somente para os
missionários, mas para todos os cristãos.

Para isso vamos olhar a vida de Neemias, o governador de Judá, este servo de
Deus do Antigo Testamento que tinha uma grande missão diante de si, a
forma como ele encarou tal responsabilidade e como a executou.
O fundamento de sua missão era o Próprio Deus e não ele mesmo ou
qualquer outra pessoa ou coisa, mas a vontade eterna e Soberana do Senhor e
seu plano para com a nação de Israel.

A restauração de Jerusalém estava firmada nas promessas do Senhor e em sua


fidelidade. Era a hora daquilo acontecer e, firmado nisso, Neemias trabalhou,
construindo com algumas “colunas”, as quais aplicaremos à nossa missão
hoje: “Fazer discípulos de todas as nações!” (Mt 28,18-20), aquilo que
chamamos de “A Grande Comissão”. E a primeira delas é “um amor
sacrificial”.
Em seu contexto, Neemias vivia na cidadela de Susã, a mesma onde
ocorreram os eventos do livro de Ester, e ali era copeiro do rei Persa
Artaxerxes. Como fruto do cativeiro, Deus, em sua soberania, o colocou
numa posição estratégica, com acesso ao rei e com estreitos laços de amizade
para com ele, a fim de que, por meio disso, pudesse usá-lo na restauração do
seu povo e da sua cidade. Semelhante ao que aconteceu com José, Daniel e
Ester.

Neemias liderou o terceiro retorno dos judeus para Jerusalém,


aproximadamente no ano 445 a.C., com a intenção e missão principal de
reconstruir os muros da cidade que estavam em ruínas. Com sua dedicação,
tornou-se um exemplo de liderança até hoje e, observando suas atitudes
diante da missão que tinha para cumprir, podemos aprender com ele diante da
missão que temos a nossa frente, especialmente porque, assim como ele, nós,
cristãos da atualidade, estamos numa posição privilegiada, com a
possibilidade e o dever de fazer muito mais por missões.
1. Amor Sacrificial
Precisamos encarar a missão que o Senhor nos confiou com um amor
sacrificial! Isto é, o amor verdadeiro, o amor de Deus que é derramado em
nossos corações (Rm 5.5) e que deve marcar nossas vidas como cristãos.
Sobre isso o missiólogo Ronaldo Lidório (2007, p. 92), citando Manoel de
Oliveira Junior, escreveu sobre as características do missionário e plantador
de igrejas:
Ter uma boa teologia, cultivar um coração apaixonado pelos perdidos, encarnar
seu projeto ministerial, identificar-se com o povo e aproveitar as oportunidades.
[...] o plantador de igrejas não deve observar seu ministério como uma
oportunidade ministerial, mas como uma proposta de vida. Deve, assim, encarnar
seu projeto ministerial.

E Russell Shedd (2001, p. 13, 14 e 53), de modo pertinente, ainda acrescenta:


“Missionários que conseguem sentir algo do amor paterno e materno que
Paulo sentiu, podem desenvolver um grande ministério transcultural” e
“Nada é mais óbvio no ministério missionário do que a diferenciação de
intensidade de amor nos missionários enviados para os campos”.
a. Demonstração de interesse real pelos que sofrem

Observando os versículos 1 a 4 do primeiro capítulo, fica evidente que tal


atitude marcou Neemias desde o início. Ele Procurou saber a situação de seu
povo (v1-2): Queria saber o que estava acontecendo, se importava, pensava
neles, perguntou por eles, e sofreu ao saber da situação (v3-4); se assentou,
chorou, lamentou por alguns dias, jejuou e orou.
Seu interesse pelo povo judeu era real e verdadeiro e se compadeceu deles,
sentindo a dor, colocando-se no lugar. Isso foi exatamente o que Jesus fez
quando esteve aqui, basta olharmos Mateus 9.35-38 e é isso o que devemos
fazer, é assim que devemos viver como cristãos e cumprir a “Grande
Comissão”.

Conforme disse C. H. Spurgeon, citado por Mark Cahill (2008, p. 31): “Se há
algum ponto único no qual a igreja cristã deveria manter o seu fervor no
fogo do cadinho, é com respeito às missões. Se há algo que com o que não
podemos ser indiferentes é quanto a levar o Evangelho a um mundo
moribundo”.
Assim como a sociedade na qual vivemos, temos nos tornado insensíveis e
indiferentes, bem como egoístas, materialistas, acomodados e superficiais,
tanto para com os que estão perto, quanto para com os que estão longe. Desta
forma, jamais faremos missões como Deus quer, ficar parado não é amor
verdadeiro e sacrificial.

Jim Elliot, citado por Elisabeth Elliot (2013, p. 21), enquanto se preparava
para ser missionário no Equador, e era pressionado a permanecer nos Estados
Unidos e realizar algum ministério ali, disse:
Não ouso ficar em casa enquanto os Quíchua perecem. As igrejas bem
frequentadas aqui de casa precisam ser estimuladas? Elas têm a Bíblia, Moisés,
os profetas e muito, muito mais. Sua condenação está escrita em seus talões de
cheque e na poeira da capa de suas Bíblias.

Como Neemias e Jim Elliot, precisamos parar e pensar na situação dos


incrédulos e perdidos ao nosso redor, considerar a vida e o destino eterno
deles, pensar nos inúmeros povos, cidades, países e regiões sem o
conhecimento do Deus verdadeiro, sem Cristo, sem a Bíblia em seus idiomas
ou ao seu alcance, sem igreja e sem o evangelho. A miséria em que estão é
bem maior do que a dos judeus na época de Neemias.

Um grande amigo, mentor e exemplo, que foi meu pastor durante minha
adolescência e juventude, Jefferson Quevedo Soares[1], hoje missionário na
Índia, costumava dizer em suas pregações: “Pessoas são mais importantes do
que coisas!” e esta afirmação ficou marcada em minha mente e coração,
fazendo parte de minha vida desde então. Regularmente me volto para esta
verdade a fim de me lembrar do que é mais importante em minha vida e no
campo missionário. Jamais podemos nos esquecer de que as pessoas, sejam
elas adultos, crianças, idosos ou jovens, são mais importantes do que
programações, atividades, planejamentos, construções, equipamentos ou
qualquer outra coisa que envolve o ministério. É por elas que trabalhamos,
elas é que são amadas por Deus e que precisam de Cristo e da salvação que
Ele oferece. Sim, pessoas são mais importantes do que coisas!
Precisamos saber sobre o campo missionário, sobre o mundo em que
vivemos, prestar atenção as cartas dos missionários, as notícias do mundo, a
vida das pessoas ao nosso redor e sentir tristeza por isso, não podemos ser
indiferentes, frios e insensíveis.

Neemias Compreendia a seriedade do Pecado como observamos nos


versículos de 5 a 8 do capítulo 1 do livro, bem como suas consequências. Ele
sabia as razões pelas quais o povo judeu sofria daquela maneira, sabia que era
consequência de seus pecados contra o Deus Santo. Incluiu-se junto ao seu
povo e sabia que haviam vivido de forma corrupta contra o Senhor e que não
haviam guardado sua Palavra. Sua oração é muito parecida com a de Daniel
no capítulo 9 do livro que leva o seu nome.
Quando entendemos a seriedade do pecado e suas consequências, não temos
como ficar indiferentes, é impossível. As pessoas estão mortas em seus
delitos, são escravas dos seus pecados, estão presas nas garras de satanás,
cegas, enganadas, sem paz, alegria ou esperança, não têm Deus, não têm
Cristo, enfim, estão condenadas ao fogo eterno do inferno. E tudo isso é
anestesiado e piorado com a idolatria, o materialismo, o satanismo, o
ocultismo, o mundanismo, o ateísmo e o secularismo que predominam em
suas vidas e em toda a nossa sociedade atual.

O que fazemos diante disso? Importamo-nos? Entendemos a seriedade?


Temos a solução que é Jesus Cristo e temos que levá-lo até os perdidos.
Afinal, a miséria em que se encontram por causa do pecado é muito maior do
que a queda dos muros de Jerusalém, pois é eterna.
É extremamente preocupante a postura da igreja atual em relação à pregação
do evangelho ao redor do mundo, não só no presente, mas também quando
consideramos o próprio futuro do cristianismo, da igreja e da obra
missionária. Como bem colocou David de Bruyn (2015, p. 36-37),
A completa negligência quanto ao evangelismo obviamente ameaçará o
evangelho porque o fracasso em proclamá-lo será o fracasso em propagá-lo. Se o
evangelho não é mais ouvido, não será também recebido, e a mensagem do
evangelho morrerá com a geração desobediente que fracassou em passá-lo
adiante. O fracasso em evangelizar é um ataque frontal ao cristianismo genuíno e
consistente.

Como exemplo, descrevo um pouco do que vimos e sentimos quando


conhecemos São Roque de Minas e Vargem Bonita, as duas primeiras
cidades da região da Serra da Canastra em Minas Gerais onde, minha família
e eu, trabalhamos como missionários: idolatria, espiritismo, depressão,
solidão, alcoolismo, suicídio e trevas espirituais. As pessoas estavam, de
modo geral e intenso, literalmente, sem luz, sem Jesus, sem Deus e tal
situação tocou profundamente em nossas almas, a tal ponto que nos
importássemos com estas pessoas, com suas vidas e necessidades e, ao
menos, tentássemos fazer alguma coisa para ajudá-las. Por isso estamos aqui
até o presente momento, pregando o evangelho e anunciando o amor de Jesus
Cristo.

Temos demonstrado interesse real pelos que sofrem no pecado, separados de


Deus e condenados ao inferno? Temos que amar os perdidos sacrificialmente,
como Jesus nos amou, como Neemias amou ao seu povo.
b. Apego às promessas e a Palavra de Deus

Segundo os versículos 8 a 10 do capítulo 1, o que motivou Neemias a agir


não foi seu próprio coração ou mera motivação emocional, mas a Palavra de
Deus. Ele sabia que o Senhor havia profetizado em sua Palavra o retorno do
cativeiro, bem como a restauração da nação. Sabia que Deus continuava
sendo o Senhor de Israel e este, o seu povo escolhido, separado, resgatado e
formado por seu grande poder.
Firmado nestas promessas, Neemias tinha certeza do sucesso de sua missão.
Era o plano de Deus, era sua vontade soberana, Ele deveria apenas obedecer a
participar disso tudo como um instrumento.

Sendo assim, diante da missão que temos pela frente o que temos que fazer é
nos apegarmos a Palavra de Deus e suas promessas e confiarmos nela. A obra
de evangelização e missões, o fazer discípulos de todas as nações, batizá-los,
fundar igrejas e ensinar toda a Palavra de Deus não é algo que vem de nós
mesmos ou de outras pessoas, não é algo que realizamos firmados em nossas
emoções ou sentimentos, não é uma ideia ou plano humano, mas é a vontade
de Deus firmada, estabelecida e ordenada em sua santa e perfeita Palavra.
Vejamos um resumo disso:
1. A Grande Comissão é uma ordem bíblica para todos nós, os salvos por
Cristo Jesus: Mateus28.18-20, Marcos 16 e Atos 1.8.

2.O próprio Senhor nos disse, em detalhes, tudo o que devemos fazer para
realizá-la: Mateus 28.18-20, Marcos 16 e Atos 1.8.

3. Ele afirmou ser o Soberano e ter toda autoridade no céu e na terra, além
de prometer estar conosco todos os dias: Mateus 28.28-20.
4. Ele prometeu capacitar-nos e dar o poder necessário para a realização do
trabalho: o Espírito Santo: Atos 1.8.

5. Pessoas de toda tribo, povo, língua e nação estarão no céu ao lado de


Cristo: Apocalipse 5.9.
6. Tudo o que temos que pregar e ensinar está registrado em Sua Palavra, a
obra missionária é revelada, explicada e exemplificada de Gênesis a
Apocalipse.

Sobre o imenso valor e uso da “Grande Comissão” nos dias de hoje, John
Piper (2001, p. 184) escreve:
[...] a Grande Comissão foi conferida não apenas aos apóstolos, mas também à
igreja, que perduraria até a consumação do século. Isso foi sustentado pela
autoridade que ele requer como direito no versículo 18: “Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra”. Isso o habilita a fazer o que havia anteriormente
prometido em Mateus 16.18, quando disse: “Edificarei a minha igreja.” Portanto,
a validade permanente da Grande Comissão depende da autoridade contínua de
Cristo sobre todas as coisas (Mt 28.18), do propósito de Cristo de edificar sua
igreja (Mt 16.18) e da sua promessa de estar presente e ajudar na missão da
igreja até a consumação do século (Mt 28.20).

Portanto, firmados nestas verdades reveladas, na ordem explícita de Deus e


em suas fiéis promessas, devemos partir, precisamos ir, pregar o evangelho à
toda criatura, fazer missões, fundar novas igrejas que pregam o evangelho e
ensinam todo o desígnio do Senhor, em todo e qualquer lugar do planeta.
Nosso amor pelos perdidos deve ser sempre baseado, e firmado, na Palavra
de Deus, não em nossas emoções ou sentimentos e, muito menos, nas
circunstâncias pelas quais passamos. Devemos ir porque Deus nos amou,
assim com o é revelado em sua palavra e porque Ele nos mandou amar os
perdidos e a pregar o evangelho. É uma decisão, uma atitude, enfim, é
obediência e, quando obedecemos, até os nossos sentimentos em favor dos
perdidos, serão transformados.

Gérson Rocha (2006, p. 23), refletindo sobre os mandamentos e fundamentos


bíblicos para missões, diz:
Existem na Bíblia ordens expressas, definidas, claras e categóricas para que
façamos a obra missionária. Nossa obediência a estas ordens e também nossa
desobediência a elas hão de ser resultado da posição que assumimos no mundo
em relação a Jesus Cristo. Se cremos em sua Palavra sobre a redenção que há no
seu sangue para todos os que crerem, e se aceitamos o fato de sua segunda vinda
a este mundo para trazer juízo sobre o mesmo e arrebatar a sua igreja, a
consequência natural e inevitável será a realização da obra missionária, tanto
quanto deixar de realizá-la significa que nos confundimos com aqueles que não
tem esperança, perfilhando a sua divisa: “Comamos e bebamos que amanhã
morreremos”. A obediência aos mandamentos missionários da Bíblia significa
que aceitamos a responsabilidade de fazer Cristo conhecido no mundo inteiro.
[...] Não é nosso dever discutir as suas ordens, mas obedecê-las.

Temos obedecido a Palavra do Senhor? Estamos firmados nela para fazer


missões? Apeguemo-nos a isso e amemos os perdidos, sacrifiquemo-nos por
eles assim como Neemias fez pelos judeus, assim como Jesus fez por nós.
Apeguemo-nos a Palavra para começar e para permanecer na obra
missionária.
c. Disposição de fazer alguma coisa

“Viu a necessidade, faça!” Esta é uma frase do desenho animado “Robôs”[2]


e expressa um pensamento que deveria governar nossas vidas como cristãos,
bem como o nosso envolvimento com Missões e foi, justamente, o que levou
Neemias a agir segundo o verso 11 do capítulo 1.
William Wilberforce, (1759-1833 – político reformador britânico que aboliu
a escravatura), citado por Thomas Korontai (Federalista, 2013), em
pronunciamento no Parlamento disse: “Após ouvir tudo isto, talvez decida
olhar para o outro lado, mas nunca poderá dizer que não sabia”.[3]

Neemias não apenas sentiu, sofreu, chorou e orou, mas decidiu agir, decidiu
fazer alguma coisa, ajudar, participar. Então ele orou e pediu que Deus
abençoasse sua decisão e que lhe favorecesse junto ao rei persa, para que
pudesse voltar a Jerusalém e ajudar a reconstruir a cidade. E, tendo seu
pedido atendido, foi, como registrado no capítulo 2. Tal postura deve
caracterizar os missionários, plantadores de igrejas e pastores, como bem
frisou Ronaldo Lidório (2007, p. 74):
Imagino um plantador de igrejas como uma pessoa que tenha no coração a visão
de Deus, inflamada, que o incomode e alegre a cada dia. Em sua mente estão as
estratégias, borbulhantes, sempre perguntando a si mesmo enquanto caminha se
isto ou aquilo poderia cooperar para cumprir a visão. Em suas mãos as
ferramentas, o trabalho e o suor. Ele está nas ruas e não em casa. Está
caminhando e não recluso. Está entre o povo. Em casa possui uma agenda e um
arquivo. Organiza seu projeto de forma a sempre saber pelo que orar, a pensar no
próximo passo e poder avaliar a caminhada. Em sua boca está o evangelho. Não
cessa de falar de Cristo. Em seu testemunho está o caráter de Jesus. Mesmo
quando calado deve influenciar quem com ele convive. Se trabalha em equipe,
deve manter o equilíbrio entre a visão e a equipe. A visão define os alvos, mas é
preciso conhecer sua equipe, capacidade e limitações, para traçar estratégias
viáveis. Ele ora sempre, buscando a Deus e sua bondade. Deseja servir ao
Senhor com tudo o que tem.

Aqui vem o amor sacrificial e não apenas da boca para fora. Neemias decidiu
abrir mão de sua vida no palácio, de sua estabilidade social e financeira, de
sua segurança e tranquilidade, para encarar o sofrimento de perto, para estar
junto do povo, para ir e viver num lugar pobre, miserável, pequeno (ao menos
naquele exato momento), destruído, sujo e cercado de inimigos, para ajudar
as pessoas dali em suas dificuldades, para sujar as mãos, trabalhar pesado,
assumir sérias responsabilidades. Não é isso que é o amor? Se sacrificar por
quem amamos? Estar juntos de quem amamos? Não foi exatamente isso o
que Jesus fez por nós? Deixou a glória e veio habitar conosco, ser um de nós,
morrer por nós? Não é isso que devemos fazer como cristãos? Não é isso que
caracteriza a obra missionária verdadeira? Isso é amor, amor verdadeiro e
sacrificial.

David Brainerd, missionário entre os índios norte-americanos, citado por


Orlando Boyer (2013, p. 71-79), escreveu em seu diário:
Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim até aos confins da terra; envia-me aos
selvagens do ermo; envia-me para longe de tudo que se chama conforto da terra;
envia-me mesmo para a morte, se for no teu serviço e para promover o teu
reino... Adeus, amigos e confortos terrestres, mesmo os mais anelados de todos.
Se o Senhor quiser, gastarei a minha vida, até os últimos momentos, em cavernas
e covas da terra, se isso servir para o progresso do reino de Cristo.

Se não nos dispusermos a fazer algo, se não fizermos algo em relação aos
perdidos, não estamos amando, não estamos cumprindo nossa missão, não
estamos vivendo para o que Deus nos salvou e chamou, não estamos
imitando a Cristo.
Então, façamos algo, como Neemias, como Cristo, como os missionários têm
feito. Saiamos do nosso lugar, abramos mão do nosso conforto, vamos, com
disposição para ajudar, participemos, sirvamos, preguemos o evangelho,
ensinemos a Palavra de Deus, fundemos igrejas, estejamos prontos a perder, a
sofrer e até a morrer por amor a Cristo e as almas perdidas. Isto é missões!

Como observação cabe aqui uma lição preciosa sobre “chamado” e Missões:
Quando Neemias foi chamado por Deus? Ele não ouviu uma voz, teve uma
visão ou experimentou algo sobrenatural. Não! Ele apenas viu a necessidade
e foi. É isso o que devemos fazer.

Elisabeth Elliot (2013, p. 24) falando sobre Pete Fleming[4] disse:


Creio que um ‘chamado’ para o campo missionário não é diferente de nenhuma
outra forma de orientação, [...]Um chamado não é nada mais nada menos que
obedecer à vontade de Deus, à medida que o Senhor o confirma na alma pelos
meios que ele mesmo escolher.

Sophie Muller, missionária nas selvas amazônicas (em 1944) disse: “Eu não
tive um chamado, li uma ordem e obedeci!” (ROCHA, 2006, p.68) e Hudson
Taylor, missionário na China disse: “A grande comissão não é uma opção a
ser considerada, mas uma ordem para ser obedecida” (CARVALHO, p. 23).
Aqui acho válido dar nosso testemunho pessoal, pois até hoje, muitos nos
perguntam como foi o nosso “chamado” para sermos missionários e para
trabalhar na região da Serra da Canastra – MG, em especial, na pequena
cidade de Vargem Bonita (dois mil habitantes) onde servimos por oito anos.
O fato é que, tanto minha esposa Débora, quanto eu, decidimos estudar no
seminário em obediência a Palavra de Deus e não por causa de um chamado
sobrenatural. Simplesmente agimos em resposta as pregações que ouvíamos,
tanto pelo nosso pastor, quanto pelos missionários que visitavam nossa igreja.
Já no seminário, no dia em que começamos a namorar, uma das exigências
que fiz para Débora é se ela estaria disposta a ir comigo para qualquer lugar
do mundo, especialmente para o Japão (naquele momento eu tinha grande
admiração e carinho pelo país oriental e sua cultura, principalmente devido ao
envolvimento adolescente com os animes, mangás e tokusatsus[5]) e ela
prontamente aceitou. Louvo a Deus por minha esposa e pela disposição dela
em servir ao Senhor comigo em qualquer lugar. Nunca fomos para o Japão,
mas Deus usou muitas pessoas e circunstâncias para nos mostrar a Serra da
Canastra e nos trazer aqui para pregarmos Seu santo Evangelho.
Simplesmente estávamos dispostos e sabíamos que deveríamos obedecer a
Grande Comissão.

Então, vamos nos dispor e fazer algo, pois, se somos cristãos e desejamos
servir a Deus, é porque, assim como fez com Neemias, Ele nos tem colocado
em uma posição na qual poderemos, e deveremos, fazer mais pela obra
missionária. Mas para isso, firmados em Cristo Jesus, devemos encarar a
Missão com um amor sacrificial, esta é uma coluna fundamental no
evangelismo e em missões.
Se não estamos prontos a amar e a nos sacrificarmos pelos perdidos, não
devemos nem entrar no ministério, pelo contrário, ficar bem longe da obra
missionária. Mas se estamos dispostos a cumprir a grande comissão de
Cristo, então façamos isto, amemos sacrificialmente, demonstrando interesse
real pelos que sofrem (os perdidos), firmando-nos nas promessas e na
soberania de Deus e dispondo-nos a fazer alguma coisa. Assim se resume a
missão de Neemias pelos judeus e a de Cristo por nós!

Jim Elliot, missionário mártir no Equador na década de 50, escreveu em seu


diário, como documentado por Elisabeth Elliot (2013, p. 201): “Não é tolice
dar o que não podemos manter para ganhar o que não podemos perder”. Foi
isso o que ele e seus quatro amigos Ed Maculin, Nate Saint, Pete Fleming e
Roger Youderian, fizeram pelos índios Aucas do Equador, deram a própria
vida pela salvação deles. Foi o que Jesus fez por nós. Estamos pronto a imitá-
los? Amor sacrificial, isso é Missões! Foi o que Neemias fez, e nós, estamos
prontos?
2. Fé e Convicção
Observando a vida de Neemias e suas atitudes, em especial no capítulo 2, fica
muito claro que devemos encarar a Missão com fé e convicção! Neemias
confiava no Deus soberano que lhe designou tão grande missão e dependia
totalmente dele para a realização da mesma. Assim como ele, precisamos ter
fé no Deus Todo-Poderoso que nos chamou e no Senhor Jesus que é
soberano, e convicção de que nossa missão é a certa, é o que importa nesta
vida, é a vontade de Deus e, por isso, deve ser feita a qualquer custo e, com
certeza, será feita. Gérson Rocha (2006, p. 26) afirmou: “Quando a Igreja
vai, assume sua posição ao lado do Cristo triunfante. E ela triunfa como
igreja e triunfa nos lugares aonde envia os seus missionários”.
Independente das circunstâncias do mundo ao nosso redor, dos nossos
sentimentos ou de qualquer situação negativa aparente, Deus é Soberano e a
pregação do evangelho, bem como a obra missionária, são Dele e vão
prosperar, como enfaticamente afirmou John Piper (2001, p. 70):
Durante vinte séculos o mundo tem feito o máximo possível para contê-lo. Mas
ele não pode ser enterrado, contido, silenciado ou limitado. Jesus está vivo e
completamente livre para ir e vir conforme lhe aprouver. “toda autoridade no
céu” é dele. Todas as coisas foram feitas por meio dele e para ele, e ele é
absolutamente supremo sobre todos os outros poderes (Cl 1.16-17). Ele sustenta
todo o universo pela palavra do seu poder (Hb 1.3). E a pregação da sua Palavra
é A obra das missões que não pode fracassar.
a. Fazer o certo mesmo com medo

Considerando os dois primeiros versículos do segundo capítulo do livro,


vemos que a situação de Jerusalém mexeu tanto com os sentimentos de
Neemias que ele não parava de pensar no que ouviu e sofria sozinho.
Continuou fazendo o seu trabalho como copeiro diante do rei, mas seus
pensamentos estavam longe, sabia que devia estar lá ajudando na
reconstrução da cidade santa. Esta é a típica situação de quem é chamado por
Deus para o campo missionário, ou para o ministério de pregação do
evangelho, como vemos nas palavras de Jeremias em Jr 20.9: “Então disse
eu: Não me lembrarei dele, e não falarei mais no seu nome; mas isso foi no
meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado
de sofrer, e não posso mais.”
O rei percebeu sua tristeza e questionou os motivos. Neemias confessou que
teve muito medo. É claro! Sua situação diante do rei era perigosa sobre
muitos aspectos e ele não era um super-herói, era apenas um escravo, um
homem comum, cheio de falhas, pecados e dificuldades, além disso, estava
sujeito as autoridades e não podia fazer tudo o que queria e na hora que
queria. Mas sabia o que tinha que fazer e foi em frente, mesmo com medo e
mesmo com riscos. Isso é fé, isso é convicção.

A obra missionária também dá medo, e muito. O que podemos pensar sobre


largar tudo o que conhecemos e irmos para campos distantes e diferentes?
Sobre chegar onde ninguém conhece o evangelho e afirmar que são
pecadores? Sobre confrontar suas religiões queridas, passadas de geração a
geração, e seus estilos de vida perversos e pecaminosos? Sobre começar uma
igreja do zero, do nada? Sobre viver distante de tudo e de todos os que
conhecemos ou gostamos? Sobre suportar os ataques do maligno? Sobre
como saber fazer uma obra inteiramente nova? Medo... A resposta para
vencer isso (e qualquer outra dificuldade que temos como pessoas pecadoras
e falhas) é a fé em Deus e a convicção de nossa missão.
Neemias orou a Deus em questão de segundos, demonstrando fé de que o
Senhor estava ali, o ouvia, queria que cumprisse sua missão e que poderia
convencer o monarca Artaxerxes, e, com sabedoria e tato, explicou a situação
do seu povo ao rei e a rainha, os quais, segundo alguns estudiosos,
provavelmente, haviam sido influenciados, de antemão, pela rainha Ester.
Eles atenderam o seu pedido e ainda lhe ajudaram com muitas coisas: Cartas
às autoridades, recursos para a viagem e reconstrução da cidade, proteção
contra os inimigos e liberdade para trabalhar.

Consideremos algumas atitudes de Neemias que, mesmo com medo,


demonstraram que agia com fé e convicção:
Oração

Neemias era um homem de oração, em todo tempo o vemos orando, sejam


orações longas ou curtas, demoradas ou rápidas. Ele orava a Deus, orava
muito e a oração é uma prova de fé e fator fundamental na vida cristã e na
realização da obra missionária. Sem oração não faremos nada e não iremos a
lugar algum. Temos que orar e orar muito.
Barber (2003, p. 18) afirma que o conhecimento das condições de seu povo
leva Neemias a orar. Ele chora e lamenta por eles durante dias. Também jejua
e ora a Deus em favor deles.

Outro missionário muito conhecido que orou, numa situação difícil e


amedrontadora foi o profeta Jonas, quando, arrependido do seu pecado, foi
salvo pela graça de Deus no ventre de um grande peixe. Stuart Olyott (2012,
p. 34-35) refletindo sobre este maravilhoso fato escreve:
Desapontamentos fazem as pessoas orar. Algumas pessoas estão desapontadas
com seus casamentos, com seus filhos, com sua carreira, com sua igreja, com
elas mesmas. Deus deixa algumas pessoas sem emprego como um presente
bondoso a elas, para que orem. Pessoas se afundam em débitos, pessoas acordam
a noite com assaltantes dentro de suas casas; algumas têm perdas terríveis;
algumas vidas são visitadas pela incerteza. Deus governa sobre tudo isso. Essas
são as Suas providências bondosas – embora difíceis – para dar a você a maior
bênção que você pode ter no mundo: um coração voltado à oração.

Neemias foi forçado a orar em algumas situações difíceis pelas quais passou,
como na presença assustadora do rei da Pérsia, quando chegou a Jerusalém e
viu a cidade em completa ruína, quando os inimigos o assolavam por todos os
lados e de forma constante, bem como em outros momentos do seu
ministério. Só assim ele conseguiu forças para concluir sua missão. Sanders
(1985, p. 147) afirma:
A primeira impressão que se recebe ao ler sua história é que Neemias foi um
homem de oração. Sua primeira reação ao ouvir da triste situação de Jerusalém
foi voltar-se para Deus em oração, o que evidencia que ele não era um estranho
diante do trono da graça. O registro sagrado está todo salpicado de orações curtas
e espontâneas. Para Neemias, oração não era apenas um exercício para
determinadas ocasiões, mas uma parte vital do trabalho e da vida diária.
Da mesma maneira, os missionários e cristãos de hoje em dia, precisam ser
pessoas de oração, homens e mulheres que gastam tempo na presença de
Deus, conversando com o Ele especialmente em situações de grande temor e
perigo.

John Piper (2001, p. 45, 51 e 52), de forma muito apropriada, disse: “A


oração dá a nós a importância das forças da linha de frente e dá a Deus a
glória de um Provedor ilimitado [...]. A verdade é assim reafirmada: Deus
deu-nos a oração porque Jesus nos deu uma missão. Estamos nessa terra
para desbaratar as forças das trevas e nos foi dado acesso ao quartel”.

Diante destes fatos tão importantes e claros sobre a oração, Edison Queiroz
(1998, p. 41-42) nos lança o seguinte desafio:
Pela oração podemos fazer missões mundiais. Se você quiser ir como
missionário em certos países, terá muita dificuldade em conseguir um visto e
passar pela imigração, alfândega, etc. Mas a nossa oração não precisa de
passaporte nem de visto ou qualquer outra coisa. Podemos entrar em países,
reinos, nações, povos e alcançá-los por meio da oração. Por isso creio que cada
igreja deve ter um grande movimento de oração pró-missões mundiais. Podemos
usar cartões de oração, livros como ‘Intercessão Mundial’, revistas missionárias,
correspondências de missionários e motivar o povo de Deus a orar. [...] A oração
é uma potente arma para a obra de missões. Você tem orado? Você tem feito
missões mundiais por meio da oração? Quero desafiá-lo a orar individualmente,
a organizar um grupo de oração em sua casa ou igreja e também a motivar outros
a orar por missões.

Ao olharmos o exemplo de Neemias é necessário entender que quando


oramos precisamos ter a disposição de sermos a resposta ás nossas orações.
Muitas vezes Deus nos leva a orar, pois já está trabalhando em nossas vidas e
nos mostrando o que, nós mesmos, devemos fazer. Ele orou por seu povo e
Deus o levantou como a resposta a sua oração.

Minha família e eu temos vivido isso na prática desde que chegamos ao


campo missionário e, em duas situações específicas, isso aconteceu conosco
de forma clara.

A primeira experiência foi quando iniciamos o trabalho em Piumhi,


realizamos os primeiros cultos, fizemos os primeiros contatos e as portas para
iniciarmos uma igreja foram abertas. Na época, estávamos bem em Vargem
Bonita, não tínhamos a mínima intenção de sair de lá, portanto começamos a
orar para que o Senhor levantasse um obreiro disposto a vir até Piumhi e
encabeçar esta obra com o nosso apoio. Oramos muito e entramos em contato
com alguns obreiros, dentre eles seminaristas prestes a se formar ou pastores
sem ministério no momento e, infelizmente, todas as respostas foram
negativas, nenhum deles queria assumir um trabalho de implantação de igreja
do zero ou levantar o sustento necessário para isso. Sendo assim, depois de
muita oração, entendemos que o Senhor nos queria como a resposta. Já
éramos missionários, já tínhamos o sustento para viver e conhecíamos o
campo. Decidimos então nos mudarmos para Piumhi e assumirmos este novo
trabalho e procuramos um pastor para assumir a Igreja em Vargem Bonita, o
que, na segunda tentativa, foi encontrado.

A segunda experiência aconteceu quando já estávamos em Piumhi e


procurávamos um local para que a igreja que estava nascendo pudesse se
reunir. Procuramos pontos para alugar, casas ou terrenos para comprar e as
portas foram todas se fechando, mesmo quando parecia que tudo daria certo.
Oramos e oramos, tanto em família, quanto com a igreja e tentamos, de todas
as formas, conseguir algo, mas Deus não permitiu. Foi um tempo difícil, pois
sem um lugar apropriado, as casas dos irmãos já não comportavam mais as
reuniões, havia a possibilidade do trabalho acabar ou estagnar por completo.
Então, após muita oração e reflexão, entendemos que Deus queria que
doássemos a nossa casa para a igreja e assim o fizemos. Entendemos
perfeitamente que a casa que adquirimos por financiamento, na época que
nos mudamos para Piumhi, na verdade foi algo que Deus, em Sua
providência, nos permitiu usar por algum tempo, até que chegasse ao seu
objetivo real: ser a propriedade da Igreja Batista Nova Esperança. E assim o
fizemos, nos mudamos para uma casa alugada no bairro vizinho e a igreja
passou a se reunir no casa e, logo em seguida, construiu um espaçoso salão
no terreno que sobrava. Pareceu uma decisão muito grande e difícil, mas não,
tínhamos a perfeita paz de que Deus queria que fizéssemos isso. O que só
aconteceu depois de MUITA oração.
Desta forma, em nossa experiência pessoal no campo missionário temos
usado vários métodos para integrar oração e missões em nossas igrejas locais
como, por exemplo: Culto de Missões uma vez por mês, no qual lemos as
cartas dos missionários sustentados pela igreja e outros conhecidos delas, o
“Dia da Igreja Perseguida” em parceria com a Missão “Portas Abertas” e o
“Dia da Índia”, para apoiar missionários que atuam neste país asiático e, em
todos estes casos, oramos por estes missionários, usas famílias e seus
ministérios.

Refletindo sobre isso é impossível não lembrar do capítulo 6 do livro de


Isaías e de como Deus perguntou diante dele a quem enviaria, sendo que só o
humilhado profeta estava presente perante o trono do Senhor. Isaías entendeu
o chamado de Deus e, prontamente, atendeu dizendo: “Eis-me aqui, envia-me
a mim”. Isso foi o mesmo que Neemias fez e o que todos nós, devemos estar
prontos a fazer. Portanto, repito: “Quando oramos, precisamos ter a
disposição de ser a resposta á nossas orações!”
Entretanto, como vemos no exemplo de Neemias, a oração deve fazer parte
de nossa vida diária, de nossa comunhão pessoal com Deus, deve ser parte
integrante de nossa caminhada cristã neste mundo e não apenas parte de uma
programação especial e periódica da igreja. Não só para a obra missionária, a
oração é fundamental para cada área de nossas vidas. Inclusive nosso Senhor
Jesus orava e gastava horas em comunhão com o Pai. Sigamos seu exemplo!
Tato

“Do exemplo de Neemias aprendemos a importância da lealdade e do tato,


como evitar polarização desnecessária, a técnica de boas perguntas e a
forma pela qual se pode levar a administração a adotar nossas ideias”
(BARBER, 2003, p. 26).
Neemias foi extremamente sábio ao lidar com o rei, sábio nas palavras, no
tratamento e na forma de explicar a situação. Podemos dizer que foi
“político”, sem mentir, mas sem dizer cada detalhe, apenas o suficiente e
necessário. Sobre isso, Barber (2003, p.27) acrescenta:
O modo como Neemias enfrenta esta situação não esperada demonstra a
importância do tato. Tato não significa que tenhamos de concordar com tudo que
uma pessoa diz. Nem quer dizer que devamos mentir para evitar ferir aos outros.
O tato baseia-se na verdade e no caráter e na compreensão da natureza humana.
Envolve saber como aproximar-se das pessoas e como apresentar os nossos
pedidos.

Isso é fundamental quando se trata de missões, seja quando estamos nos


preparando para ir, quando precisamos explicar a situação para a família, a
igreja, os amigos, as autoridades e os incrédulos que convivem conosco, e
também quando estamos no campo, tendo que lidar com todo tipo de pessoas
e situações inesperadas.

Popularmente é usada a expressão “dar uma de louco” para lidar com


situações constrangedoras e, minha esposa e eu, usamos isso vez ou outra,
quando, por exemplo, vou às escolas públicas contar histórias bíblicas, eu
falo sobre a necessidade de sermos bons cidadãos, da importância de
protegermos as crianças das drogas, não falo o nome de minha igreja, não
faço apelos, cuido para não desprezar outras igrejas e religiões e procuro lidar
com as pessoas com gentileza e cordialidade, mas tudo isso sem deixar de
apresentar a Cristo e o plano de salvação.
Coragem

Já que estava arriscando muito, Neemias decidiu arriscar tudo e, além de


pedir autorização do rei para viajar para Jerusalém, pediu cartas com a
autorização dele para fazer a obra e também madeira para usar na
reconstrução dos muros e, além disso, diante dos inimigos “ele demonstrava
coragem em face de grandes perigos. ‘Homem como eu fugiria? E quem há,
como eu, que entre no templo para que viva? De maneira alguma entrarei’
(6.11). Esta demonstração de firmeza e de falta de medo foi importante para
aumentar o moral de um povo desencorajado”. (SANDERS, 1985, p.147).

Tudo isso parece uma contradição, um paradoxo, mas, mesmo com medo, por
Deus, podemos fazer coisas grandes, Ele nos capacita.

William Carey, missionário na Índia, conhecido como “o pai das missões


modernas” disse: “Espere grandes coisas de Deus; faça grandes coisas para
Deus” (CARVALHO, p. 13).
Foi isso o que Neemias fez. William Macdonald (2010, p. 325), de forma
muito apropriada, diz: “Há três tipos de pessoas no mundo: as que não
sabem o que está acontecendo, as que apenas observam os acontecimentos e
as que fazem as coisas acontecerem. Neemias pertencia à última categoria.”

Ceder ao medo não melhora nada, só piora. O máximo que as pessoas podem
fazer conosco é nos rejeitar, desprezar e nos matar. David Livingstone,
missionário na África, diante de uma situação de grande perigo, falou certa
vez: “Sou imortal até que cumpra meu trabalho!” (ALMEIDA, p. 140).

Para fazer missões precisamos enfrentar o medo com oração, tato e coragem.
b. Dependência total do Senhor

Segundo os versículos 8, 18 e 20, Neemias diz que “A boa mão do meu Deus
era comigo.” E que “O Deus dos céus é que nos dará bom êxito”. Neemias
sabia que ele e o povo, eram apenas servos, e que iam se dispor e reedificar
os muros, pois eram o povo de Deus. Mas uma vez aqui ele demonstra
convicção e fé em ação.
Algo claro nestes versículos e em todo o livro é que Neemias dependia
totalmente do Senhor para cumprir sua missão. Ele não se apegava a suas
qualidades, seus talentos, sua força ou influencia, mas somente a Deus, ao
Seu poder, a Sua Palavra e a Sua Fidelidade.

Neemias sabia que Deus era com Ele, que a missão era do Senhor e que Ele a
levaria a bom êxito. O mesmo princípio vale para a obra missionária na
atualidade; a missão é do Senhor, Ele prometeu levá-la a bom êxito e afirmou
estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28.20).
Firmados nisso devemos ir, pregar, evangelizar, discipular, fundar igrejas e
viver para o Senhor.
Não podemos ir ao campo missionário confiando em nós mesmos, em nossos
talentos, capacidades ou em outras pessoas, mesmo que devamos usar tudo
isso para realizar o trabalho, porém, devemos confiar somente em Deus,
depender totalmente Dele e crer que Ele dará bom êxito ao nosso trabalho.

David Livingstone, de forma emocionante e convicta, disse: “Deus, envia-me


para qualquer lugar, desde que vás comigo. Coloca qualquer carga sobre
mim, desde que me carregues e desates todos os laços do meu coração,
menos o laço que prende o meu coração ao teu” (CARVALHO, p. 17)

Nós não podemos fazer nada a não ser pregar o evangelho e vivermos em
fidelidade. Quem convence do pecado, quem salva o pecador, quem
transforma as vidas e edifica a igreja é Deus, é o Espírito Santo, é Jesus
Cristo, portanto, dependamos Dele e encaremos a Missão com fé neste Deus
que pode todas as coisas e com a convicção de que a missão é Dele e será
bem sucedida.
c. Capacidade de animar os outros mesmo quando tudo indica o contrário

Durante uma complicada crise que enfrentei no primeiro ano de seminário,


um grande amigo me disse: “Não duvide no vale (trevas) do que Deus lhe
revelou no monte (luz)!” Isso foi muito importante em minha vida naquele
momento difícil e tal verdade tem me ajudado e fortalecido até hoje no
campo missionário. Isso é fundamental em missões e também o foi para
Neemias executar sua missão como vemos claramente nos versículos de 9 a
20 do capítulo 2.

É necessário entendermos que, do sonho do ministério missionário, até a


realidade do mesmo, muita coisa muda. No início existe a empolgação do
convite e a alegria das primeiras visitas ao campo, mas depois vem a
realidade, a rotina, a dificuldade do trabalho, o pecado, a perseguição, a falta
de fruto aparente e, se não cuidarmos, o desânimo cai sobre nós e sobre todos
ao nosso redor.

Nossa tarefa, a frente desta obra, assim como Neemias, é permanecermos


animados, mesmo com tudo indicando o contrário, ao ponto de animar,
empolgar e envolver os outros também. Não precisamos (e nem podemos)
mentir, mas ter fé, ter convicção, ter visão. Sem isso, não faremos missões.
Vejamos o que Neemias encontrou:
Primeiro: A cidade em completa miséria. De acordo com os versículos de 11
a 17 esta foi a realidade que Neemias encontrou quando chegou em
Jerusalém: Completa miséria! Ele andou ao redor da cidade, avaliou a
situação, observou tudo com atenção e a conclusão era uma só: Caos!

Isso o levou a pensar bastante e planejar em detalhes como faria o trabalho e


cumpriria sua missão, bem como a pedir a ajuda de Deus em oração e saber o
que falar e como animar o povo para uma tarefa, aparentemente, impossível.

Ao chegar ao campo missionário, seja ele qual for, o que iremos encontrar, de
verdade, é o caos espiritual. Se tirarmos um tempo para observar a realidade
do lugar, a vida das pessoas e o trabalho que temos pela frente, só veremos
miséria e destruição por causa do pecado e da vida sem Jesus e longe de
Deus. Entretanto, isso não deve nos desanimar, afinal, é para ajudar que
estamos ali, para oferecer a solução, para apresentar Jesus. Se fosse para
encontrar um campo agradável, pacífico e cheio de pessoas salvas e amáveis,
não seria necessário um missionário ali.

Portanto, diante do caos a nossa frente, precisamos colocar nossa fé em ação,


orar muito e, convictos, partir para o trabalho e ainda animar os outros,
mostrando que vai dar tudo certo. Ver o que ninguém pode ver, ver o que
ninguém mais quer ver. Isso é ter fé e visão! Por isso a obra missionária é tão
importante, como bem descreveu Gérson Rocha (2003, p.42): “É através da
obra missionária que o mundo é abençoado. A paz, a alegria, o amor e a
libertação de Deus vão, em toda parte, substituindo o horror, o medo, o ódio,
o desespero”.
Segundo: O desagrado, a zombaria e o desprezo dos inimigos. Além do
impacto inicial da visão do caos, Neemias e o povo tiveram que lidar com os
ataques dos inimigos antes e depois de iniciarem a obra. Mas ele não se
deixou abater e respondeu os inimigos com fé e convicção de Que Deus os
faria prosperar, que levantariam os muros e que eles não tinham parte com o
povo de Deus. Vemos isso nos versículos 10, 19 e 20 do capítulo 2.

Jamais podemos deixar os inimigos nos desanimarem de realizar a obra de


Deus, pelo contrário, temos que agir com tanta fé e convicção que
influenciaremos outros a realizar a obra de Deus mesmo diante das
dificuldades e oposição. Se os inimigos são muitos, grandes e fortes, nosso
Deus é infinitamente maior.

No ano de 2006, quando iniciamos nosso ministério de implantação de uma


igreja em Vargem Bonita-MG, era comum ouvirmos alguns comentários
sarcásticos pela cidade, como, por exemplo: “Não dura dois anos!”, ou
“Este pastor novinho só veio aqui para pegar nosso dinheiro!” É claro que
isto doía muito em nossos corações, bem como nos fazia tender ao desânimo,
contudo, a convicção do chamado de Deus e a fé em Seu poder e soberania
nos mantiveram firmes. Pela graça de Deus, em 2016, o trabalho naquela
cidade completou dez anos e continua firme, para a glória de Deus.

Terceiro: Neemias precisou de muita reflexão pessoal e de força espiritual


para motivar os outros. Considerando o que lemos nos versículos 11 a 18 do
capítulo 2, aprendemos que, para animarmos os outros, mesmo quando tudo
indica o contrário, precisamos ter um tempo de reflexão pessoal e solitária.
De maneira geral, a vida missionária é de grande solidão, mas de muito
tempo na presença de Deus.

Quando gastamos bastante tempo refletindo, meditando e buscando a Deus


em oração, saberemos o que, quando, e como falar aos outros irmãos,
animando-os a participarem conosco.
De certa forma, a vida missionária é como uma faca de dois gumes, não
podemos esconder as dificuldades do campo, mas não podemos desanimar os
que nos apóiam. Portanto, um bom período de reflexão, meditação e oração,
nos ajudará a saber o que e como testemunhar, conversar, escrever nas cartas
(e na internet...) e incluir nos pedidos de oração. É preciso um equilíbrio que
o Senhor nos concede com o tempo.

Adoniram Judson[6] disse: “Muitos crentes consagrados jamais atingirão os


campos missionários com os seus próprios pés, mas poderão alcançá-los
com os seus joelhos” (CARVALHO, p. 14). Podemos ajudá-los!
De qualquer forma, o missionário, bem como pastor e o líder cristão em
geral, é um motivador por natureza, deve ser. É alguém que Deus chama para
fazer a obra e animar outros a fazerem o mesmo, inclusive quando tudo
indica o contrário. Fé e convicção são elementos fundamentais nisso. Como
Neemias, precisamos estar prontos para atender o chamado de Deus, fazer
sua obra, influenciar e levar outros conosco. Jesus fez isso, Paulo e Barnabé
também. Muitos missionários ao longo da história o têm feito, e nós
igualmente, devemos fazer.

Devemos encarar a missão com fé e convicção, fazendo o certo mesmo com


medo, dependendo totalmente do Senhor e animando os outros mesmo
quando tudo pareça indicar o contrário. Nosso Senhor e Salvador Jesus
sempre teve convicção de sua missão e, apesar de não ter medo, sempre fez o
que era certo em sua missão de nos resgatar, Ele dependeu totalmente do Pai
enquanto se esvaziou e, mais do que ninguém, animou e motivou outros,
quando tudo indicava o contrário. Por isso estamos aqui, por isso somos
salvos e por isso podemos servi-lo. Sigamos o seu exemplo, imitemos
também Neemias e encaremos nossa missão com fé e convicção.
3. Humildade
O dicionário online do Google define humildade como: “1. qualidade de
humilde. 2. virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações;
modéstia, simplicidade. 3. sentimento de fraqueza, de inferioridade com
relação a (alguém ou algo). 4. reverência ou respeito para com superiores;
acatamento, deferência, submissão. 5. falta de luxo, de brilho; simplicidade,
sobriedade.”[7]
Tal característica era marcante na vida de Neemias e é uma das virtudes mais
importantes das Escrituras Sagradas, que também marcou a vida de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo e que deve ser parte da vida de todo cristão,
não só dos obreiros, líderes, pastores ou missionários.

Sobre a importância da humildade J.C. Ryle (2011, p. 172-173) nos diz:


Se o unigênito filho de Deus, o Rei dos reis, pensou que não seria indigno para
ele realizar o humilde serviço de escravo, não existe coisa alguma que seus
discípulos possam reputar menos importante ou digna para eles fazerem.
Nenhum pecado é tão ofensivo e prejudicial à alma humana quanto o orgulho.
Nenhuma virtude é tão recomendada, por exemplo e preceito, como a humildade.
“Cingi-vos todos de humildade” (1Pe 5.7). “O que se humilha será exaltado” (Lc
18.14). “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a
Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se
em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8). Seria
bom se a igreja recordasse mais esta verdade e a humildade não fosse tão escassa
entre os seus membros.

Neemias era um homem humilde, um líder humilde, assim como Jesus.


Portanto, na obra missionária, a humildade é fundamental e essencial.
Devemos viver em humildade da seguinte forma: Colocando os outros acima
de nós!

Colocar as outras pessoas acima de nós é a essência da verdadeira humildade


e é a sua prática. Precisamos nos rebaixar, considerarmo-nos menores e
inferiores ao outros. Humildade é deixar todo o orgulho, a soberba, a
arrogância e a prepotência de lado, e isso só acontece com:
a. Reconhecimento da importância do trabalho dos outros

No terceiro capítulo de seu livro, Neemias lista muitos daqueles que


trabalharam ao seu lado na reedificação dos muros e o que fizeram. Cada um
era importante, cada um tinha seu papel e seu valor, mesmo que, com certeza,
alguns trabalhavam mais do que outros. Mas estavam juntos. A missão de
Deus e sua obra são feitas em conjunto, não por uma pessoa apenas. Pouco
ou nada fazemos sozinhos. Tem o missionário(a) no campo, a igreja que o
envia, outras igrejas que sustentam financeiramente e em oração, outros
cristãos que oram por nós, a equipe no campo (quando existe), a agência
missionária, os novos convertidos, etc. Cada um faz um pouco, alguns fazem
mais, outros muito mais, porém todos fazem parte, todos fazem alguma coisa,
todos são importantes.
Ligado a isso vemos que, no capítulo 8 Neemias relata o apoio de Esdras:
Quando o povo se reuniu para ouvir a leitura e explicação da lei de Deus,
Neemias chamou Esdras para pregar. Um senhor de idade que, anos antes,
havia ido e trabalhado na restauração do templo de Jerusalém, e era
especialista na Lei do Senhor. Neemias não procurou o foco ou o
reconhecimento, não quis aparecer, não pediu a Palavra, mas passou tudo à
Esdras.O que queria era que a Palavra de Deus fosse ensinada e o povo se
voltasse para o Senhor.

Um grande amigo e mentor espiritual, meu professor e conselheiro dos


tempos de seminário, que, inclusive, escreveu o prefacio deste livro, pastor
João Lee Nunley, ensinando sobre o ministério pastoral e missionário, certa
vez disse: “Valorize o trabalho do seu antecessor!”[8] Esta foi, e continua
sendo, uma lição preciosa que aprendi e que tem me ajudado imensamente no
campo missionário. Neemias entendia isso e vivia desta forma.
b. Uma vida igual a do povo

Uma rápida passada sobre o capítulo quatro de Neemias, nos versículos 21 a


23 e em todo o capítulo 5, nos mostra como este servo do Senhor viveu com
o povo, no meio deles, igual a eles, trabalhando junto dele. Fez-se igual. Não
se considerou superior, melhor ou diferente, inclusive abrindo mão dos seus
direitos como governador e, com isso “Neemias serviu de exemplo de
altruísmo para todo o povo” (RYRIE, p. 466).
Foi isso o que Jesus fez para nos salvar do pecado e isso que os missionários
bem sucedidos têm feito ao longo da história da igreja e que nós devemos
continuar fazendo ainda hoje. Ronaldo Lidório (2007, p. 75) afirma: “Tentar
alcançar pessoas, evangelizá-las e agrupá-las em comunidades cristas, em
antes compreendê-las, é demonstração de soberba e falta de sabedoria. É
preciso compreender a população local antes de abordá-la com o
evangelho”.

No interior de Minas Gerais temos visto o quanto isso é importante, e


podemos imaginar quanto mais necessário tal postura é em culturas ainda
mais diferentes. Podemos tomar como exemplos missionários bem sucedidos
que se fizeram iguais ao povo, como Hudson Taylor que se vestia como os
chineses, inclusive com a tradicional trança no cabelo e Amy Carmichael[9],
missionária na Índia que passava pó de café sobre a pele para ficar parecida
com os indianos, dentre outros.
c. Desapego total por nossa pessoa e nosso nome

Fazer missões buscando a própria glória ou almejando reconhecimento


pessoal, com toda certeza gerará resultados desastrosos, contudo, muitos têm
ido aos campos e agido desta forma, pois o coração humano é assim. Como
bem disse Glênio Fonseca Paranaguá (2013, p. 41):

O perfil da raça caída é a glorificação do gênero humano. Somos uma casta de


caçadores de prestígio e reivindicamos a nossa própria evidência e atuação no
cenário circense. Somos catadores de aplausos no palco da existência, sem,
contudo, sermos satisfeitos.

Em momento algum de sua vida e ministério Neemias buscou grandeza para


si, reconhecimento, títulos, fama, poder ou status, pelo contrário, abriu mão
de tudo isso. Para servir aos outros.

Apesar de seu exemplo fantástico e de ser um dos livros mais queridos do


Antigo Testamento, o nome de Neemias não é mais citado em lugar algum
das Escrituras. E, devido a grandeza e valor do livro, tal fato é algo fora do
comum, totalmente contrário a lógica humana.

Isso é o que ele fez e o que devemos buscar em nossas vidas e ministérios:
Glorificar a Deus, cumprir nossa missão com fidelidade e sumir.
Paul Washer[10] pregou uma mensagem intitulada: “Vá, pregue e morra!”[11],
desafiando jovens cristãos para que, ao invés de ficarem buscando
reconhecimento pessoal, fama e glória escrevendo e discutindo sobre teologia
e assuntos polêmicos nas redes sociais ou em blogs na internet, a irem aos
confins da terra e pregarem a Palavra de Deus, a darem suas vidas por Cristo,
pelo evangelho e pelos perdidos, mesmo que seus nomes jamais sejam
conhecidos ou mesmo citados neste mundo. Ele ainda destaca que, em alguns
lugares, se estes jovens fossem pregadores do evangelho, seriam “Os maiores
pregadores!” de todos, pois só teriam eles como conhecedores das Escrituras
por ali.

Existiram e ainda existem muitos crentes assim, que, como Neemias estão
servindo ao Senhor e ao povo, dando suas vidas em sacrifícios e, muito
provavelmente, antes da eternidade, nem saberemos seus nomes. Mas Deus
sabe e, o mais importante, as pessoas para as quais eles pregaram, sabem o
precioso nome de Jesus.

Aqui vale uma palavra sobre o interior e cidades pequenas: Temos que ir para
estes lugares, bem como fazer trabalho simples com crianças, idosos, pobres,
doentes no hospital, analfabetos ou semi-analfabetos, deficientes mentais e
físicos, mendigos, moradores de ruas, drogados, enfim, com todo e qualquer
tipo de pessoa ou grupo, mesmo que isso não traga reconhecimento algum,
nenhum fruto aparente ou imediato, sucesso ministerial, aplausos ou
apreciação. Nossa pessoa e nosso nome não são o mais importante, tornar o
nome de Jesus conhecido, isso sim é prioridade, isso sim é o que importa.
Não podemos ter o desejo de grandeza ou, de forma alguma, ficar escolhendo
ministérios baseados em gostos ou aspirações pessoais, muito menos
almejando segurança financeira ou o sucesso egoísta como o mundo ensina.
Isso não é bíblico, não é Missões, pelo contrário, é pecado!

Ashbel Green Simonton, primeiro presbiteriano no Brasil disse: “Se o campo


é o mundo, então todas as esferas e países precisam ser ocupados, e a recusa
de alguns em ir para os lugares menos promissores, somente torna esse
dever mais imperativo para outros” (CARVALHO, p. 32).
E, conforme David H. Roper (2016, pg24 jan),
“Outro dia ouvi um amigo dizer: "Ele está destinado a um grande ministério", e
com isso, queria dizer que ele seria bem-sucedido numa igreja com altos padrões
e orçamento enorme. Questionei-me o motivo de pensarmos que o chamado de
Deus significa necessariamente conquistar mais um degrau do que já temos. Por
que Deus não enviaria Seus melhores trabalhadores para ministrar por toda a
vida em algum lugar pequeno? Será que não há pessoas em lugares
desconhecidos que precisam do evangelho e do ensino? Deus não quer que
ninguém pereça. Jesus se preocupava com indivíduos e multidões. Ensinou a
muitos, e jamais se incomodou que o número de Seus ouvintes diminuísse dia
após dia. João disse que muitos o abandonaram (Jo 6.66), redução que teria
deixado a maioria de nós em pânico. Mas Jesus seguiu em frente, com os que o
Pai lhe tinha dado. Em nossa cultura, quanto maior melhor, o tamanho é a
medida do sucesso. É necessário ser forte para resistir a esta tendência,
especialmente se trabalhamos num lugar pequeno. Mas o tamanho não é nada; a
substância é tudo. Se você estiver pastoreando uma igreja pequena, grupo de
estudo, ou classe de ensino bíblico, dedique-se. Ore, ame, ensine pela Palavra e
exemplo. Seu pequeno lugar não é um degrau para atingir a grandeza. Seu lugar
é uma grandeza.

Podemos refletir também sobre pessoas cristãs de grande capacidade


intelectual e seus respectivos campos de atuação ministerial. Atualmente, boa
parte delas, se foca apenas em cidades grandes e carreiras de sucesso,
contudo, no passado, grandes intelectuais, pessoas realmente a frente do seu
tempo, deixaram tudo, para serem missionários nos interiores, como Jim
Elliot e John Paton, dentre outros.

Se nossa preocupação for com nosso nome, com reconhecimento, gratidão,


títulos ou qualquer outra coisa assim, devemos ficar bem longe do ministério
cristão e, em especial, da obra missionária, pois fracassaremos. Como João
Batista, nossa convicção e o que realmente importa é que Jesus cresça e nós
diminuamos (João 3.30).

É extremamente oportuno considerar o que Mike Mckinley (2013, p. 18)


falou sobre missões, implantação e revitalização de Igrejas: “Tenho
aprendido que Deus usa pessoas atrapalhadas como eu para plantar igrejas
que parecem totalmente inexpressivas para o mundo. A coisa maravilhosa é
que, em sua bondade, Deus faz coisas admiráveis por meio dessas igrejas”.
Sim, isso é verdade. Temos vivido esta experiência por duas vezes. Deus é
maravilhoso!
4. Perseverança
Esta foi uma virtude essencial na vida de Neemias e é, sem sombra de
dúvidas, uma virtude extremamente fundamental na obra missionária e na
fundação de igrejas. Temos vivido isso no campo e podemos afirmar seu
valor. A Perseverança inclui:
a. Força para suportar as terríveis crises do ministério

O fato de estarmos obedecendo a Deus e fazendo aquilo que é certo, não


exclui as lutas e dificuldades, pelo contrário, elas existirão e serão muitas.
Basta observarmos as imensas dificuldades que Neemias enfrentou em sua
missão. Como bem afirmou Russel Shedd (2001, p.31): “quem se candidata
ao ministério de missionário deve prontificar-se para enfrentar problemas,
oposição e lutas”.
E, apesar da certeza da vitória na missão por causa de Cristo, é preciso
considerar o que John Piper nos diz (2011, p.71-73):
O fato de que ainda que a causa de Cristo acabe triunfando em todo o universo,
por ser ele vivo e soberano, em curto prazo, seguir a Jesus definitivamente
significará prisão e perseguição para alguns de seus discípulos. O que nos
encoraja nessas palavras é que Deus intenta que a perseguição e as prisões sejam
oportunidade para testemunharmos sobre a verdade do evangelho. [...] Noutras
palavras, sempre e em todas as circunstâncias – especialmente nas que são
inesperadas, e as frustrantes – esteja pronto para dar testemunho de Cristo. [...]
Confie em sua sabedoria de permitir o que aconteceu. Calce os sapatos da
prontidão, da preparação de ir em frente com o evangelho mesmo durante os
tempos de maiores provas em sua vida.
Os constantes e crescentes ataques dos inimigos

Considerando os capítulos 4 e 6 vemos que Neemias, desde o início, foi


cercado por inimigos e sofreu todo tipo de ataque, desde simples zombaria e
desprezo, até calúnias, ameaças de morte e falsas profecias. O mesmo
acontece no campo missionário.
Em nossa realidade atual podemos comparar tais ataques com as ações das
inúmeras seitas que nos cercam e dos falsos religiosos, inclusive alguns que
se dizem cristãos ou evangélicos que não estão preocupados com a salvação
das pessoas, mas apenas em fazer seus grupos crescerem “pescando no
aquário dos outros”.

Os ataques sofridos por Neemias aconteciam sempre e de forma crescente, ou


seja, a seriedade dos ataques aumentava mais e mais. Ele precisou de muita
humildade, para suportar todo tipo de humilhação e de muita perseverança
para permanecer firme em sua missão. Isso se chama domínio próprio.
O mesmo vale para nós hoje, que, no campo missionário, sofreremos todo
tipo de perseguição e ataques do inimigo de nossas almas e de ímpios cegos,
escravos de satanás. Paulo disse: “Porque uma porta grande e eficaz se me
abriu; e há muitos adversários.” 1Coríntios 16:9. Sendo assim, perseguição,
inimigos e adversidades, mesmo sendo certas e, com certeza, duros, jamais
podem ser considerados motivos para desistirmos ou não começarmos o
trabalho missionário.
As lamentáveis contendas entre os irmãos

No capítulo 5 de Neemias, mesmo com todas as vitórias alcançadas, vemos


que o povo começou a brigar entre si, houve discórdias e sérios problemas
dentro do povo de Deus (em geral envolvendo dinheiro), o que atrasava a
obra, prejudicava o testemunho perante as nações vizinhas e impedia as
bênçãos de Deus. Neemias teve que lidar com isso e, com sabedoria, ajudar a
resolver, ou, ao menos, amenizar a situação. Para isso precisou abrir mão de
seus direitos, se sacrificou e deu o exemplo.

Não existem justificativas para contendas dentro do povo de Deus. Como


Paulo disse em 1Coríntios 6.7, só a existência delas já é “completa derrota”
para nós, especialmente quando falamos do campo missionário. Mas elas
existem, e precisamos saber lidar com elas, com humildade para tentar
resolver ou amenizá-las e, com perseverança, não parar ou destruir o trabalho
por causa delas.

Uma observação importante precisa ser dada aqui: Neemias sempre


desabafava sobre suas lutas, medos e dificuldades, mas somente com o
Senhor. Ele orava, falava com Deus, pedia direção e até o castigo aos
inimigos, e muito mais, mas só com Deus e não publicamente (4.4-5 e 5.19)
Desabafos e lamentos públicos não ajudam em nada, só pioram as coisas, até
mesmo na internet (é preciso muito cuidado com o que escrevemos no
Facebook ou nas redes sociais). Precisamos desabafar, orar e clamar por
ajuda, expor nossa dor, aflição e angústia, mas com o Senhor em oração e,
em alguns momentos, com pessoas preparadas para ouvir, como outros
missionários ou pastores e, mesmo assim, com extremo cuidado e, as vezes,
nem tudo podemos compartilhar. Existem coisas que só podemos nos abrir
com Deus mesmo. Algumas questões relacionadas a missões, nem pastores
de igrejas locais vão entender ou aceitar. Portanto, suportemos tudo com
Cristo. Como Paulo falou em Fp 4.13: “Posso todas as coisas em Cristo que
me fortalece”.
b. Compreensão de que nossa missão é muito maior do que levantar paredes

Em Neemias 6.15 vemos que a reedificação dos muros foi concluída em


tempo recorde, apenas 52 dias (duração aproximada da viagem da Pérsia para
Jerusalém). Foi algo milagroso, especial, maravilhoso e digno de grande festa
e muita alegria. Claro, só por causa da boa mão de Deus sobre o seu povo
(v16).
Contudo, esta grande conquista foi só uma parte do trabalho, uma pequena
parte, muito importante sim, mas pequena perto de todo o resto. Neemias
estava trabalhando para reconstruir muito mais do que os muros e portões de
Jerusalém, sua missão era reconstruir a vida das pessoas, a própria nação,
reedificar sua comunhão com Deus, seu ânimo, sua fé, seu testemunho diante
das nações vizinhas, sua alegria, e isso não era fácil e, de forma alguma
levaria 52 dias, pelo contrário, levaria muito tempo.

Por isso, ele não podia desistir ou parar após cumprir uma pequena parte da
tarefa. Precisava perseverar, ter paciência, longanimidade, calma e fidelidade
e é o que vemos nos sete capítulos seguintes.Perseverar é isso, continuar e
não parar, é jamais achar que o trabalho já está terminado ou que está difícil
demais para prosseguirmos. É uma missão dada para realizarmos até a
“consumação dos séculos” (Mt 28.20), ou seja, até o fim dos tempos, até a
volta de nosso Senhor e Salvador Jesus ou até a nossa morte.Sem
perseverança não conseguiremos nada, não faremos nada, não veremos nada
e não deixaremos nada. Em Gálatas 6.9 Paulo nos diz: “E não nos cansemos
de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos!”
Meu professor de grego no seminário, durante os anos de 2001 a 2005, Pastor
João Batista Luiz sempre dizia em suas proveitosas aulas: “O vencedor
Nunca desiste, quem desiste, nunca vence!”[12]. Esta frase foi usada por Deus
para me ajudar a perseverar nesta disciplina até o fim, bem como a perseverar
em muitas outras coisas na vida e no ministério desde então. Aliás, tenho
usado esta frase até hoje nas igrejas e nos cursos que ministro e também em
conversas pessoais para motivar irmãos em Cristo e companheiros de
ministério a não desistirem nunca.

Por isso, Missões não podem ser definidas por curtos períodos de trabalho no
campo, por construções de templos, por viagens missionárias em feriados ou
nas férias (mesmo que tudo isso seja importante e faça parte do trabalho),
pela ausência de problemas e dificuldades, ou, nem mesmo pela quantidade
de fruto aparente, mas por anos e anos de trabalho dedicado e fiel, enfim, por
uma vida.

Segundo Donald S. Whitney (2019, p. 130):


Precisamos aprender que compartilhar o evangelho é obter êxito no evangelismo.
Devemos ter obsessão por almas e suplicar sentidamente a Deus que vejamos
mais pessoas convertidas, mas conversões são frutos que somente Deus pode
dar. Neste aspecto, somos como o serviço postal. O êxito é medido pela entrega
cuidadosa e precisa da mensagem, e não pela resposta do destinatário. Sempre
que compartilhamos o evangelho, (que inclui o chamado ao arrependimento e à
fé), temos êxito. No sentido mais verdadeiro, todo evangelismo bíblico é bem
sucedido, independentemente dos resultados.

Nos primeiros anos do nosso trabalho missionário em Vargem Bonita e em


Piumhi, duas cidades localizadas no interior do estado de Minas Gerais,
passamos por várias e complicadas dificuldades, dos mais variados tipos,
portanto, sabemos que existem momentos, as vezes prolongados, nos quais,
aparentemente, nada irá acontecer, que o trabalho não dará certo, que tudo o
que fazemos é em vão, mas aprendemos que, nessas horas, devemos confiar
no Senhor e continuar, perseverar e, como Neemias, jamais desistir. Afinal,
Deus nos confiou esta missão e o que Ele espera de nós é fidelidade. Como
Paulo diz em 1 Coríntios 4.2: “Ora, além disso, o que se requer dos
despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”.
Neemias perseverou em sua missão até o fim e, no capítulo 13, após voltar de
uma longa viagem à Pérsia, encontrou muitas coisas fora do lugar, muitos
pecados sendo aceitos e cometidos pelo povo, bem como muito trabalho
ainda para ser feito. E ele o faz, aparentemente um pouco cansado, mais
impaciente e nervoso do que no início (o que é natural devido a idade, ao
cansaço, e a teimosia do povo), mas continuou trabalhando e se esforçando
para reedificar a vida espiritual do povo de Judá.

O Ministério pastoral e a obra missionária são assim, uma missão constante e


contínua, é o lidar com pessoas e vidas, não se trata de muros, paredes ou
construções materiais (mesmo que isto esteja incluído), mas da edificação da
Igreja de Cristo, do crescimento do Reino de Deus. Por isso temos que ter
humildade, muita humildade e perseverança, para continuarmos fiéis até o
fim.

Assim como Neemias precisamos cumprir nossa missão com humildade e


perseverança, colocando os outros acima de nós, suportando as terríveis
crises do ministério e sabendo que nossa Missão é muito maior do que
levantar paredes. Assim como Jesus que também não desistiu de nós
pecadores, mas perseverou até o fim, ate a morte e, por isso, estamos aqui,
salvos por sua graça, seu amor e seu sacrifício na cruz. Ele se humilhou, se
fez um de nós, nos salvou, nos chamou, cumpriu sua missão. Então, sigamos
seu exemplo, dependamos Dele e cumpramos nossa missão com humildade e
perseverança, lembrando também das belas e emocionantes palavras do
salmista em relação a perseverança do povo judeu durante o cativeiro
babilônico:
“Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e
chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.”
Salmos 126.5-6
5. Santidade
Após a conclusão dos muros e o lento recomeço da vida em Jerusalém,
conforme o capítulo 7, bem como o estabelecimento de guardas para a
cidade, Neemias sabia que precisava reedificar as bases espirituais da
sociedade, trazer o povo de volta ao Senhor, afastá-lo do pecado que assolava
a todos, torná-lo novamente o povo santo, separado e exclusivo do Senhor e o
único jeito disso acontecer era com um retorno a Palavra de Deus. Então,
começa a trabalhar visando este objetivo: Santidade!

Neemias sabia que sem santidade, Judá não iria para frente e logo, não
somente os muros tombariam novamente, mas toda a cidade e a própria
nação.

Considerando primeiramente a vida de Neemias vemos que só podemos fazer


Missões com santidade na vida! Assim como Jesus que nos salvou por ser
santo e cumpriu sua missão com santidade. Conforme Barber (2003, p. 157);
Primeiro, um líder eficaz tem de ser um homem íntegro. Tem de possuir caráter
reto e integridade de princípios morais. Ele tem de conhecer e defender o que é
justo – mesmo em face da desaprovação popular. Só então é que ele terá a força
interior que inspira outros a segui-lo com confiança.

No campo missionário também é assim. É impossível fazer a diferença onde


Deus nos colocar, cumprir nossa missão com fidelidade e alcançar um
resultado real, impactante e eterno sem santidade na vida, sem pureza no
coração e sem separação do pecado. O pecado destrói tudo: nossa comunhão
com Deus, nossa vida, a vida de nossa família, a vida dos outros (incrédulos
ao nosso redor e apoiadores que são usados por Deus para nos sustentar em
oração e financeiramente), a obra de Deus, nosso testemunho onde vivemos e
as chances de continuarmos o ministério com eficiência.
a. Zelo e amor profundo peça Palavra de Deus

De acordo com o capítulo 8 de Neemias, tudo começa com um apego


profundo por Deus e por Sua Palavra. William Carey disse: “Onde a paixão
por Deus é fraca, o zelo por missões será fraco” (CARVALHO, p. 11).Uma
verdadeira paixão por Deus é vista na paixão por sua Palavra.
Aqui, Neemias separou uma manhã inteira para que todo o povo ouvisse a
leitura e a explicação clara e detalhada da lei de Deus por parte de Esdras e
também por outros sacerdotes, que eram especialistas nas sagradas Escrituras.
Todos os que entendiam, desde as crianças até aos idosos, participaram e
ficaram atentos a leitura e a explicação da Lei de Deus. O resultado foi choro
e alegria, arrependimento e esperança, bem como a decisão de mudanças
reais na vida da população.

Sobre este zelo e amor pela Palavra de Deus, Piper (2011, p. 90) declara:
Enquanto meditamos na lei do Senhor de dia e de noite (Salmo 1.2) – ao nos
mergulharmos na Palavra de Deus – ele vem e toma algum aspecto da verdade
dessa palavra e a queima em nosso coração até que se torne uma santa ambição.
Se isso ainda não aconteceu, encha sua vida, sature-se da Palavra de Deus e
peça-lhe isso.

Não nos restam dúvidas de que Neemias e seu companheiro de missão,


Esdras, viviam assim, uma vida de completa santidade e com profundo apego
a palavra de Deus.

“Neemias restaurou a autoridade da Palavra de Deus. As reformas que ele


instituiu teriam sido de breve duração, e até mesmo impossíveis, não fora
esta restauração. Ele impôs vigorosamente os padrões da Palavra de Deus, a
qual empregou autoridade espiritual as suas ações”. (SANDERS, 1985, p.
150).
Isto é o que Deus deseja dos obreiros e cristãos de hoje em dia, frente a
grande missão que, soberanamente, nos confiou: santidade na vida como
fruto de um profundo zelo, apego, obediência e amor por Sua santa Palavra.
Nosso Senhor e Salvador Jesus viveu assim, amava as Escrituras, venceu as
tentações por meio delas (Mateus 4), zelava por ela e a ensinava
constantemente.
Uma completa disposição pessoal

Esdras foi chamado por Neemias por ser um especialista na Palavra de Deus,
tanto no conhecimento, quanto na prática dela:
“Ele era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo SENHOR,
Deus de Israel; e, segundo a boa mão do SENHOR, seu Deus, que estava
sobre ele, o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira.” Esdras 7.6

“Porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do


SENHOR, e para cumpri-la, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os
seus juízos.” Esdras 7.10.
Com certeza, esta era a mesma atitude de Neemias, pois vemos o reflexo da
lei do Senhor em suas orações, em sua vida no dia a dia, em suas atitudes,
obras e reações.

O missionário, assim como todo obreiro cristão, precisa ser um especialista


de Bíblia, um profundo conhecedor da Palavra de Deus e um exímio
praticante. Tem que demonstrar amor e zelo por ela. O que envolve dar
prioridade à Palavra, gastar tempo com ela, levá-la a sério, estudá-la, meditar
nela, decorá-la, cantá-la, falar dela, ensiná-la, enfim, amá-la com todo o
coração. As Escrituras nos capacitarão ao ministério, bem como nos afastarão
do pecado, nos levarão para perto do Senhor Jesus e nos tornarão santos.
Como bem afirmou J.C.Ryle (2000, p. 65): "A leitura da Bíblia, com
regularidade e sinceridade, é o grande segredo para alguém permanecer
firme na fé. Ignorar as Escrituras é a causa de todo o tipo de erro".

Teologia e Missões andam juntas. O maior teólogo de todos os tempos, o


apóstolo Paulo, escreveu seus tratados teológicos enquanto viajava pelo
mundo antigo pregando o evangelho e fundando igrejas. Este deve ser o
modelo para nós hoje, afinal, uma coisa não exclui ou sobrepuja a outra.
Portanto, nossa decisão deve ser de nos aprofundarmos nas Escrituras,
continuarmos lendo e estudando mesmo se, no campo missionário, não
pudermos fazer mestrado, doutorado ou continuarmos os estudos teológicos
de maneira formal. Precisamos pregar expositivamente, mesmo que de forma
simples (de acordo com a compreensão do povo ao qual servimos), pregar e
ensinar a Bíblia em sequência e toda ela, saber aplicá-la a própria vida e a
vida do povo, aos problemas e dificuldades da atualidade e a realidade do
local onde estamos. Precisamos viver as Escrituras e sermos santos. Neemias
viveu assim, Esdras também, bem como nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. Isso é o que Deus espera de nós!

Como bem disse o apóstolo Pedro em sua primeira epístola: “Vós, porém,
sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz;” 1Pedro 2.9
Dedicação do ensino bíblico ao povo

Tudo o que o missionário fizer no campo missionário, deve fazê-lo firmado e


baseado na Palavra de Deus. É preciso aproveitar toda e qualquer
oportunidade e ocasião para ensiná-la ao povo. Em cada evangelismo pessoal
ou em grupo, culto, no local separado para isso ou ao ar livre, programação
(com crianças, jovens, homens, mulheres, idosos ou casais) e nas atividades
do dia a dia (visitas, discipulados, conversas, no relacionamento com as
pessoas, no testemunho), a vida do obreiro deve ser caracterizada por Bíblia e
mais Bíblia.

O desafio é ensinar a Palavra de Deus com qualidade, sendo simples, mas não
“simplório”, profundo, mas acessível e na linguagem do povo. É preciso
gastar tempo e ter paciência, orar bastante e confiar, esperar que Espírito
Santo dê os resultados no tempo de Deus. Não podemos ser crentes chatos,
mas bíblicos. A Bíblia não é chata, ela é maravilhosa e precisamos transmitir
isso ao povo com o qual vivemos e trabalhamos.

Uma aplicação que Neemias e Esdras nos dão em relação a Palavra de Deus é
que devemos amá-la acima de tudo e de todos, zelar por ela e firmarmo-nos
nela para vencer o desânimo, para combater as seitas e heresias, o
mundanismo, o comodismo, o pecado de modo geral, o medo, a timidez,
satanás e as trevas.
O missionário precisa lembrar-se sempre que ela, a Palavra de Deus, é a luz
quando tudo estiver escuro, e momentos assim serão muitos no campo
missionário. Precisa firmar-se nela para ser santo, para ser mais parecido com
Jesus Cristo, para não cair nas tentações, para ser luz no meio das trevas e
para cumprir sua missão com fidelidade. A Bíblia é a chave de tudo no
cumprimento de nossa missão.

Especialista em Missões, Ronaldo Lidório (2007, p. 36 e 39) nos diz:


A mensagem, no processo de comunicação contextual, jamais deve ser diluída
em seu conteúdo. A fidelidade às Escritura deve ser nossa prioridade à
semelhança de Paulo que falou da ressurreição de Cristo no areópago, mesmo
sabendo que seria um tema controverso para a crença filosófica presente. [...] É
necessário fazer o povo perceber que Deus fala a sua língua, em sua cultura, em
sua casa, no dia a dia.

Também é pertinente considerarmos o que Hernandes Dias Lopes (2006, p.


165) nos diz:
Neemias destaca três coisas absolutamente importantes: Em primeiro lugar, a
reforma começou quando o povo voltou-se para a Palavra de Deus (8.1). Tudo
começou quando o povo de Israel se reuniu para buscar a Palavra de Deus (8.1).
Não há reforma sem Palavra (8.13,18). Não há mudança sem centralidade das
Escrituras. O Pentecostes, a Reforma, o movimento dos Puritanos, os
avivamentos foram todos produzidos por uma volta a Palavra. É pela Palavra que
Deus chama os pecadores a conversão. É pela Palavra que os incrédulos são
convertidos e os santos são edificados, santificados e treinados para a obra. É
pela Palavra que vencemos o inimigo. A maior necessidade da igreja evangélica
brasileira é uma volta a Palavra. Precisamos de uma nova reforma que venha
colocar as Escrituras no centro de nossa vida, família, igreja e nação.

Neemias, assim como Jesus, se dedicou a ensinar a Palavra de Deus ao povo.


Ambos sabiam que só por meio dela a obra de Deus poderia ser feita e, desta
foram, viveram em santidade, ajudaram o povo a se santificar e, fielmente,
cumpriram sua missão. Portanto, no campo missionário hoje, precisamos nos
dedicar ao ensino da Palavra de Deus ao povo, aplicando-a a nossa própria
vida, para que vivamos em santidade e ajudemos o povo a viver assim
também.
b. Arrependimento verdadeiro dos pecados

Numa análise do capítulo 9 de Neemias, dos versículos de 1 a 37,


observamos que, como resultado da leitura, ensino e obediência a Lei de
Deus, o povo se foi, comovido pelo Espírito Santo e se arrependeu dos seus
pecados, demonstrando isso pelo jejum, pelo pano de saco com que se
vestiram e pela terra em cima de suas cabeças (9.1), bem como pela confissão
dos seus pecados (9.2),a adoração ao Senhor Deus (9.3), e uma clara e
detalhada lembrança da maravilhosa salvação que Deus lhes deu por sua
graça e amor (9.5-37).

Somos pecadores e, como tais, vez ou outra, estaremos pecando e, além


disso, em alguns momentos, quando mais pertos de Deus ou sob forte ataque
do inimigo, o Espírito Santo nos mostrará pecados ou pesos que nem
percebíamos antes. Quanto mais perto do Senhor, mais incomodados com o
pecado ficaremos. Com Neemias era assim e também com David Brainerd,
como registrado em seu diário e apresentado a nós por Jonathan Edwards
(2005, p.61-62):
Ó, minha alma, ai de mim, pois sou apenas um pecador que continuamente
entristece e ofende a esse Deus bendito, infinito em bondade e graça! Opino que
se Ele punisse meus pecados, não feriria tanto o meu coração como quando O
ofendo; mas, embora eu peque continuamente, Ele continua a ser gentil para
comigo! Penso que poderia suportar quaisquer sofrimentos; mas como posso
tolerar entristecer e desonrar a esse Deus bendito? Como poderei prestar-lhe
honra, mil vezes mais do que faço? Que poderei fazer para glorificar e adorar a
esse melhor de todos os seres? Que eu possa consagrar-me eternamente, de
corpo e alma, ao seu serviço! Como gostaria de poder dedicar-me a Ele de tal
maneira que nunca mais tentasse nada por mim mesmo, que nunca mais qualquer
volição ou afeto fugisse da mais perfeita conformidade com Ele! Infelizmente,
porém, tenho descoberto que não consigo consagrar-me assim tão
completamente a Deus. Não posso viver sem pecar.

Para cumprir nossa missão, precisamos estar sempre prontos a reconhecer


nossos pecados e a nos arrependermos deles, a ficarmos profundamente
tristes por eles e a abandoná-los completamente, a nos separarmos do que não
agrada a Deus e do que atrapalha nossa missão. É preciso uma profunda
reverência e amor por Deus, bem como uma grande sensibilidade para com o
erro. É impossível cumprir a missão que Deus nos confiou com uma vida
cheia de pecados ou “levada” (vivida) de qualquer modo, sem seriedade ou
santidade.

No livro de Hebreus, capítulo 12 e versículo 1 lemos: “Portanto, também


nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas,
desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia,
corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,”
No meio do campo de batalha, nas terras do inimigo, nossa sensibilidade
espiritual aumenta, nossa visão de vida e do mundo muda completamente,
percebemos muito mais a seriedade do pecado e os cuidados que devemos ter
em nossas vidas. Nós aprendemos no campo o que é ser um crente de verdade
e muita coisa muda em nosso viver, desde coisas grandes a pequenas. Enfim,
uma guerra muda muito quem participa dela, basta lermos ou ouvirmos os
relatos de ex-combatentes. Certa vez, um amigo que me conhecia dos tempos
quando eu estudava no seminário, me disse: “Você mudou muito, não é mais
o mesmo de antes!” Não, não sou, não tem como ser. Deus me mudou, o
campo missionário me mudou, as lutas me mudaram. Neemias, após um
período em Jerusalém, não era mais o mesmo dos tempos de palácios na
Assíria e nunca mais o foi.

É preciso haver humildade para reconhecer os nossos erros, nos


arrependermos deles, abandoná-los completamente e mudarmos nossa vida,
bem como para ter uma visão correta da grandeza e importância da obra que
Deus nos confiou e de como precisamos ser vasos limpos nas mãos do grande
Oleiro, para sermos usados corretamente por Ele.
O Arrependimento inclui os pecados grandes e sérios, bem como os
“pecadinhos” de estimação, coisas aparentemente pequenas que afetam
nossa comunhão com Deus e nosso testemunho diante dos incrédulos, bem
como tudo aquilo que pode se tornar um peso ou uma porta aberta ao pecado
e a queda. Por isso precisamos ser humildes para ouvir quando alguém nos
avisar, seja o Espírito Santo, o cônjuge, um amigo ou até mesmo um
incrédulo.

No campo missionário, se quisermos ver pessoas se arrependendo dos seus


pecados e crendo em Cristo, primeiramente nós devemos nos arrepender dos
nossos próprios pecados, sempre em resposta a santa palavra de Deus e ao
Espírito Santo. Lembremo-nos que Neemias se incluiu com o povo na culpa
pelos pecados da nação contra o Senhor (Neemias 1.6-7).Não podemos
culpar e condenar o povo somente, mas nos incluir e procurar resolver nossas
próprias falhas diante de Deus e orar para que os demais façam o mesmo. Se
não temos feito isso agora, também não estaremos prontos a fazer no campo
missionário depois.
c. Compromisso de viver segundo a Palavra de Deus

Por fim, analisando o capítulo 9, do versículo 38 até o capítulo 10, vemos


que, após o arrependimento, do abandono do pecado e da mudança de vida, o
povo fez uma aliança com o Senhor de não pecar mais, em especial de não se
misturar com povos de outras terras. Escreveram isso e selaram diante das
autoridades da nação. Fizeram um pacto, um compromisso, um voto, uma
aliança com Deus e tudo foi escrito para dar mais valor a tal decisão. Então se
desfizeram dos casamentos mistos e se separaram daquilo que os separava de
Deus.

A aliança que fizeram focava na separação dos outros povos que eram
pagãos, idólatras e imorais, mas também incluía a santificação do dia do
Senhor (10.31), fidelidade nas ofertas e dízimos (de tudo, inclusive a
consagração dos filhos) para a obra de Deus (10.32-39),enfim, incluía cada
área da vida, mas algumas em especial. E Neemias, com certeza, se incluía
nisso tudo.

Para realizar a obra de Deus e cumprir a missão que Ele nos confiou,
precisamos viver em santidade, o que só é possível quando nos
comprometemos a viver segundo a Palavra de Deus e isso inclui a decisão de
não mais pecar contra o Senhor.
Precisamos de um compromisso sério, de uma aliança com o Senhor nosso
Deus, de um pacto com Ele de que obedeceremos a sua Palavra e seremos
fiéis aos seus mandamentos. Isso nos constrange e nos desafia a fazer o certo
em momentos mais difíceis, nos ajuda a lembrar do que fazer e do que não
fazer. Além do mais, Jesus mesmo disse que “Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será
amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.”João 14:21

Não precisamos, necessariamente, escrever uma aliança como o povo fez


aqui, mas, como Daniel e seus amigos, “decidir firmemente não se
contaminar” com o pecado e as coisas deste mundo (Daniel 1.8). Por outro
lado, devido a fraqueza de nossa memória e nossa tendência ao
esquecimento, às vezes, é necessário escrever algo, como o “Compromisso
dos pais” no filme “Corajosos”.[13]
Precisamos tomar decisões específicas na vida, normalmente em áreas que
temos mais problemas, lutas e dificuldades e nos comprometer diante de
Deus e, se possível, de outras pessoas, a não cair nelas, não pecar, não voltar
atrás. Isso incluirá um esforço contínuo, uma dedicação constante, sacrifício
real e obediência verdadeira, mas é o certo, é o que vale a pena, é o que nos
manterá firmes e fieis no campo missionário e no ministério, enfim, na vida
cristã.

Diferentemente de Neemias, não podemos obrigar o povo com o qual


trabalhamos a fazer o mesmo que nós, ele tinha esta autoridade por causa de
sua posição, da cultura e circunstâncias da época, mas podemos nos obrigar a
não pecar, bem como fazer um compromisso em família ou como igreja.
Algumas coisas, serão decisões pessoais, não podemos forçar os outros, mas
podemos dar o exemplo, estimular e orar para que mais pessoas sejam
influenciadas por nós e por nossas decisões. O fato é que nossos
compromissos com Deus devem ter como base a Sua Palavra e como foco a
Sua Glória, depois a salvação de almas e o crescimento do seu reino e de sua
igreja.
Não adianta, alguns pecados em nossas vidas não serão vencidos se não
fizermos um compromisso de não mais pecar e de fugir deles de qualquer
maneira, como aconteceu com o povo judeu no tempo de Neemias, portanto,
como ele e o povo de Judá, precisamos ser diferentes, santos, separados,
consagrados e dedicados ao Senhor e sua obra, mesmo que nossa vida pareça
loucura para o mundo e até para muitos crentes.

É importante ainda considerarmos que uma vida de santidade é uma luta


constante contra o pecado. Vemos no capítulo 13 que, durante a ausência de
Neemias, alguns anos depois, o povo de Jerusalém caiu e voltou a falhar em
muitas áreas nas quais tinha se comprometido a cumprir. Foi preciso uma
atitude bem mais dura e radical por parte dele, na ocasião do seu retorno, para
que deixassem tais pecados imediatamente. Barber(2003, p. 149) mostra a
importância disso:
Homens capazes como Neemias são muito necessários hoje. Tanto na igreja
como fora dela temos há muito tolerado o mal. Por um lado existem doutrinas
falsas e pseudopiedade que permite aos inimigos da verdade diminuir os pontos
básicos da fé e controlar os currículos de nossas faculdades e nossos seminários;
por outro lado, os velhos princípios de moral e integridade foram desprezados
para dar lugar à política do conveniente e a crença de que os fins justificam os
meios. Tais tendências precisam ser desafiadas por aqueles que aderem à piedade
e praticam os seus princípios. Mas a causa do declínio espiritual tem de ser
atacada na raiz, onde começou, na tolerância ao mal.

Como humanos, corremos este risco de altos e baixos, de quedas, vacilos e


tropeços, mas precisamos cuidar para que não sejamos desqualificados e
percamos o ministério que Deus nos confiou. Sendo assim, precisamos
continuar nos arrependendo hoje e sempre.

Como vimos até aqui, só podemos fazer Missões com santidade na vida!
Demonstrando zelo e amor profundo pela Palavra de Deus, com
arrependimento verdadeiro dos nossos pecados e com um compromisso de
viver segundo a Palavra de Deus. Pensando nisso, me lembro das palavras de
Jonathan Edwards (2005, p.233-234) sobre David Brainerd, que foi
missionário entre os índios norte-americanos:
A religiosidade de Brainerd não consistia numa experiência desvinculada da
prática. Toda a sua iluminação interior, emotividade e consolos pareciam
conduzir diretamente à prática cristã, culminando na mesma. E esta não era
meramente uma prática boa por ser livre de atos grosseiros de irreverência e
imoralidade, mas por ser uma prática santa e cristã, própria de uma vida séria,
devota, humilde, mansa, misericordiosa, caridosa e beneficente. Ele fazia do
serviço a Deus e a nosso Senhor Jesus Cristo a atividade mais importante de sua
vida, à que se dedicou e buscou com o maior empenho e diligência até o último
de seus dias, em meio a todas as suas dificuldades. Nele via-se a maneira correta
de alguém viver e praticar a religião cristã. Sua vivacidade cristã não consistia
apenas, ou principalmente, em ser ativo em palavras, mas em obras, nem em
mostrar-se ousado na profissão de sua fé e em demonstrações externas, contando
com frequência as suas próprias experiências, mas, sobretudo em mostrar-se
ativo e abundante nos labores e deveres religiosos. “No zelo não sejais remissos:
sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor em vossa geração, de acordo
com a vontade de Deus”.

Então, no campo missionário, assim como Neemias, não podemos brincar


com o pecado, mas é preciso começar a viver em santidade agora. Estando no
campo, sejamos santos em todo o nosso procedimento, acertemos toda a
nossa vida com Deus imediatamente, reconheçamos nossos pecados com
humildade, confessemo-los a Deus, arrependamo-nos deles, abandonemo-los
completamente, e descansemos no perdão e na purificação que Jesus nos
oferece e que conquistou na cruz do Calvário, pois João nos diz em 1João
1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça.”

Somos pecadores, falhos e imperfeitos, mas precisamos pedir a ajuda de Deus


como Neemias fez várias vezes (13.14, 22 e 31.). No fim do livro ele estava
mais cansado e, no capítulo final, três vezes pede a Deus por misericórdia
para suportar e vencer o pecado e também para conseguir cumprir sua
missão. Pede também que o Senhor se lembre Dele e lhe faça o bem.
Precisamos fazer o mesmo, imitá-lo, seguir seu exemplo e orar, orar muito,
nunca pararmos de pedir a ajuda ao Senhor.
Como exemplos bem práticos para mantermos uma vida de santidade,
recomendo extremo cuidado com a imoralidade e a pornografia, pecados que
têm destruído a vida, a família e o ministério de muitos obreiros, sejam eles
homens ou mulheres, bem como as coisas que podem levar a isso, como os
filmes, séries e programas que assistimos, os sites que acessamos, as músicas
que ouvimos, os livros que lemos, os lugares que frequentamos, as conversas
que temos, os jogos que jogamos ou qualquer outra atividade em nosso dia a
dia. É preciso selecionar bem, cortar muitas coisas, e, em determinados casos
ou momentos de nossa vida, evitar e se abster por completo.[14]

Além disso, por estarmos em guerra contra satanás e as forças das trevas (Ef
6), é preciso compreender que o campo missionário (assim como o ministério
pastoral) é algo muito sério e qualquer descuido pode ser fatal. Precisamos
cuidar com o pecado, mas também com o tempo e devoção dedicados a
entretenimentos considerados saudáveis e aceitáveis como o futebol,
videogames, Netflix (ou qualquer outro serviço de Streaming como Amazon),
TV paga, passeios, dentre outros. Nossa prioridade deve ser ao Senhor e não
a coisas que nos prendem e atrapalham de executar nossa missão com
fidelidade e excelência. Consideremos como observamos o Dia do Senhor, se
e como realizamos o culto doméstico, o tempo que investimos em oração,
leitura bíblica pessoal, reflexão e meditação nas coisas espirituais, enfim,
como desenvolvemos uma vida íntima na presença de nosso Senhor e
Salvador Jesus. Ele, por meio de Sua palavra, é que nos manterá puros,
limpos e santos.

Temos vivido uma vida de santidade? Tomamos a decisão de viver assim?


Cumpriremos nosso chamado e nossa missão em santidade? Assim como
Neemias, peçamos a ajuda do Senhor e cumpramos nossa missão em
santidade, façamos missões, sejamos santos, sejamos missionários!
Jesus cumpriu sua missão em santidade, devemos imitá-lo, depender dele e
fazer o mesmo. Sejamos santos e cumpramos a missão que o Senhor Deus
nos confiou!
Conclusão
Diante de tudo o que discorremos até agora fica muito claro a relação entre o
caráter, postura e atitude de Neemias frente a sua missão com a forma
mediante a qual devemos encarar e realizar a obra missionária na atualidade.
Podemos concluir, sem sobras de dúvidas, que os exemplos e princípios
extraídos da vida deste líder judeu são atemporais e universais, sendo válidos
tanto para a sua época, quanto para o período apostólico, ao tempo das
missões mundiais, e também para os dias da igreja atual.

Além disso, colocar em prática o que aprendemos com Neemias é eficiente


no cumprimento da Grande Comissão, na pregação do evangelho ao redor do
mundo, na fundação de novas igrejas, no fazer discípulos de Jesus, batizá-los
e ensiná-los tudo o que o Senhor nos ordenou, em qualquer lugar do mundo,
seja numa grande metrópole dos Estados Unidos, numa pequena cidade do
interior brasileiro, nas selvas africanas, nos países mulçumanos, comunistas
ou na Europa secular e atéia, pois não estamos tratando de métodos, números
ou resultados, mas de caráter, postura, atitude, de relacionamento com Deus e
da resposta do obreiro cristão a Sua santa e perfeita Palavra.
Neemias, de forma muito consistente, tem sido aceito e elogiado como
exemplo e modelo de liderança eficaz, isso é muito importante, mas não é
tudo sobre ele ou sobre o livro que leva o seu nome. Como vimos, Neemias
nos mostra o que é ser um servo fiel do Senhor, alguém que o ama, teme o
Seu santo nome e vive para servi-lo e ao próximo. Vimos também como ele
demonstra um caráter cristão, santo, humilde, cheio de amor, compaixão e
disposição de se sacrificar para servir ao próximo e cumprir a missão que o
Senhor lhe ordenou.

Fazendo uma comparação da vida e do caráter de Neemias frente à missão


com o exemplo e ensino dos missionários ao longo da história da igreja, bem
como de pastores, teólogos e cristãos consagrados, podemos entender um
pouco melhor o que Deus espera dos missionários na atualidade, estejam eles
servindo em todo e qualquer lugar do mundo. Tais princípios e marcas de
caráter precisam ser trabalhados nas vidas dos missionários por suas igrejas,
seus pastores, seus líderes e responsáveis pelas agências missionárias. São
marcas de caráter e qualidades de vida que, juntamente com um bom
treinamento teológico e um período apropriado de reconhecimento do campo,
deveriam ser exigidos, ensinados e cobrados na vida daqueles que se
propõem a deixar tudo e ir pregar o evangelho em campos pouco ou nada
alcançados.

Com tudo isso, podemos tranquilamente concluir que o livro bíblico de


Neemias é, claramente, inspirado por Deus, que seu conteúdo histórico é real
e literal e que o exemplo deste homem é extremamente válido e muito
importante para a igreja cristã na atualidade e a obra missionária até a volta
de Cristo.
Como missionário fundador de igrejas, tenho visto, na prática, durante estes
quase 12 anos de ministério, a necessidade de desenvolver o caráter de
Neemias em minha própria vida e em meu ministério, bem como imitar sua
postura e suas atitudes frente aos inúmeros desafios que enfrento dia após dia
na pregação do evangelho de Jesus Cristo neste mundo caído e afundado no
pecado. Oro para que o Senhor me capacite e que eu, juntamente com minha
família, possa, ao menos, ser um pouco parecido com ele.

Sei que o conteúdo apresentado aqui não é exaustivo e definitivo, entretanto,


é fundamental e, em qualquer ministério de sucesso, seja missionário ou
pastoral, é fundamental para que o trabalho seja realizado com qualidade.

Meu desejo e oração são para que todos os missionários, pastores e cristãos
sejam mais como Neemias, mais como Paulo, mais como os dedicados
missionários do passado e do presente, enfim, que sejamos mais como Jesus,
afinal, temos uma grande missão pela frente e também para que, apesar das
grandes dificuldades que nos cercam, novos missionários se levantem de
nossas igrejas, mais obreiros levando o evangelho de Cristo ao mundo
perdido, para a glória e honra do único e glorioso Deus.

Termino com a letra de um hino que fala justamente disso, uma oração por
mais missionários, baseado no pedido de Jesus em Mateus 9.35-38, chamado
“Prece Missionária” e composto pelo Pr. Renato Brito e faço dele a minha
oração:
Prece Missionária
Grandioso Deus eterno, que fez o céu e o mar,
em nome do Seu filho vimos te rogar,
Pedido singular, que vem do nosso amor,
a tua obra, tua colheita, oh! Senhor!
Manda mais obreiros, para trabalhar,
a seara é grande e o fruto maduro está,
Seu chamado ouvimos, para o teu labor,
manda mais obreiros oh! Senhor.

Quem irá aos campos? Quem irá daqui?


Atender ao seu chamado e pronto ir?
Pra tua obra santa, de ensino e pregação,
do teu amor pedimos Pai em oração.
ANEXO
O sacrifício dos jovens cristãos morávios
Considero impossível tratar do tema “Missões” sem citar esta pertinente e
desafiadora história missionária que tem desafiado gerações de cristãos ao
redor do mundo, dentre os quais me incluo. Creio que o exemplo destes
jovens reflete o caráter e atitude de Neemias e de nosso Senhor Jesus Cristo,
os quais abordei no decorrer do trabalho:
"Dois jovens cristãos morávios ouviram falar que numa das ilhas das Índias
Ocidentais havia um ateu, um inglês, que mantinha ali entre dois e três mil
homens como escravos. E ele dizia: ‘Nesta ilha, nunca haverá um pregador,
nem pastor. Se por acaso um navio naufragar aqui e houver nele um
religioso, podemos até deixar que venha para cá, mas o manteremos numa
casa separada até que ele possa ir embora. Entretanto, nunca vamos permitir
que ele fale de Deus a nenhum de nós. Não quero saber mais dessas
besteiras.’

Assim, naquela ilha do Atlântico, estavam três mil escravos, trazidos das
selvas da África. Ali eles iriam viver e morrer, sem nunca ouvir falar de
Cristo. E aqueles dois jovens morávios, com vinte e poucos anos, ouviram
essa notícia. Então eles se venderam como escravos àquele fazendeiro
britânico. Com o dinheiro que receberam, puderam comprar a passagem, pois
o homem só pagava aquele mesmo valor para qualquer escravo e não
providenciava o traslado para a ilha.
No dia em que iam partir, os irmãos de sua comunidade vieram de Herrenhut
até o porto para se despedirem deles. Como os jovens haviam se vendido
como escravos para o resto da vida (e não apenas para um período de quatro
anos), nunca mais retornariam à sua terra. É que assim, sendo escravos,
poderiam viver como crentes ali onde aqueles outros se encontravam.

Quando o navio, levado pela maré, começou a se afastar do cais, em


Hamburgo, entrando nas águas do mar do Norte, os dois iam nele. Seus
familiares choravam, pois sabiam que nunca mais iriam vê-los. E muitos
deles não entendiam por que os dois jovens estavam partindo assim. Até
questionavam se aquilo era mesmo sensato. À medida que a distância ia
aumentando, as casas da beira do cais iam sumindo da vista e os jovens
percebiam a separação crescendo. Então um deles passou o braço pelo do
colega, ergueu o outro braço e gritou: ‘Que o Cordeiro que foi morto receba
a recompensa de seus sofrimentos!’ Foram as últimas palavras que aqueles
irmãos ouviram dos lábios dos jovens. E elas se tornaram o apelo central das
missões morávias. Na verdade, elas são a única razão para nossa existência”.
[15]
APÊNDICE Missões a arte
de garimpar almas
No início de 2007, após o primeiro ano de ministério missionário de nossa
família na região da Serra da Canastra em Minas Gerais, especialmente na
cidade de Vargem Bonita, após um bom período de meditação, escrevi esta
reflexão sobre missões associada à realidade do local.
Considerei relevante incluí-la neste livro por expressar uma experiência e
sentimento pessoal em relação a obra missionária, a fundação de igrejas e o
desafio que isso ao obreiro cristão, além de deixar implícito a necessidade de
desenvolvermos o caráter, a postura e as atitudes de Neemias para com a
missão que o Senhor nos confiou:

“O Dicionário define garimpar como: ‘Procurar (metal precioso), explorando


garimpo, procurar como que em garimpo, selecionar (o que houver de
valioso), reunindo, coligindo, exercer o ofício de garimpeiro, minerar.”

A este ofício podemos denominar de arte, devido à paciência obrigatória a


sua prática, ao claro discernimento entre pedras comuns e preciosas e a
sabedoria para selecionar os melhores locais nas margens dos rios e nos
buracos dos montes para trabalhar; virtudes normalmente encontradas nos
garimpeiros.

Pois foi desta arte que surgiu a cidade de Vargem Bonita, localizada no
interior do estado de Minas Gerais, a qual, devido ao seu rico solo em
diamantes, atraiu, das mais variadas regiões do território nacional, um grande
número de pessoas sonhadoras que se viram diante da possibilidade de
adquirir grandes riquezas, fato que ajudou a antiga vila a se tornar um
município.

Hoje com cerca de 2.500 habitantes, Vargem Bonita já não sobrevive à custa
do garimpo, o qual, no seu auge, trouxe a cidade cerca de 30.000 pessoas
ligadas direta, ou indiretamente a esta prática.
Infelizmente, como ‘nem tudo que reluz é ouro’, esta arte de garimpar não
trouxe muitos benefícios à cidade de Vargem Bonita e, muito menos, aos que
dela buscavam riquezas, pois, a primeira, ao ver o fim do seu mais lucrativo
meio de renda e crescimento, se encontrou na difícil tarefa de restaurar a
natureza desgastada e contaminada pelo garimpo e descobrir outros meios de
sobrevivência, como o turismo, visto que a cidade é a primeira banhada pelo
Rio São Francisco e está próxima a sua nascente; já os segundos, tiveram
mais dificuldades em se restaurar, pois a vida no ambiente de garimpo não se
compara com a arte de praticá-lo, devido ao fato de, os mesmos homens que
a beira do rio e nos buracos, demonstravam tanto paciência, sabedoria e
discernimento, em suas vidas pessoais refletiam completamente o oposto:
Vícios como o do cigarro, drogas e principalmente o das bebidas alcoólicas,
prostituição e imoralidade exagerada, desprezo pela família, ingenuidade
diante dos astutos e gananciosos compradores de diamante e a falta de
sabedoria parta administrar o dinheiro ganho com tanto suor, o que resultou
em vidas destruídas física, emocional e, principalmente, espiritualmente.

A defesa da ecologia surgiu, o solo se desgastou, os diamantes começaram a


diminuir de quantidade... o garimpo acabou, não havia mais espaço para a
prática desta ‘Arte’ (que ainda é praticada as escondidas por um pequeno
número de moradores), e os inúmeros trabalhadores, diante do
desmoronamento do sonho de enriquecerem, tiveram que deixar a cidade e
voltar para suas terras, a maioria sem um centavo no bolso. Os que
permaneceram na cidade, ou se encontravam com a saúde destruída pelo
álcool, ou estavam falidos e tinham que reconstruir suas vidas de outras
formas ao lado de muitas crianças sem pai, de mulheres sem sua principal
fonte de renda, a prostituição, e de trabalhadores rurais das redondezas.

O tempo passou e a cidade sobreviveu, parou de crescer é verdade, mas não


se acabou como aconteceu com outras antigas cidades de garimpo que
desapareceram do mapa, mas redescobriu a agricultura, desenvolveu a
produção de queijo, começou a investir no artesanato e, principalmente, no
turismo. Atualmente, é uma cidade simples, porém bonita (como o próprio
nome diz), acolhedora e agradável, como só as cidades do interior podem ser
e, ‘devagarinho’, como é próprio aos mineiros, vai se mantendo e se
desenvolvendo.
Hoje, como missionário batista pioneiro, residindo e trabalhando há pouco
mais de um ano em Vargem Bonita, posso afirmar que a ‘arte’ de garimpar
precisa voltar, não mais na busca por riquezas materiais e diamantes valiosos,
mas por algo muito mais precioso: as almas perdidas que são amadas por
Deus.

Convivendo com o povo é fácil perceber que os estragos maiores que a antiga
‘arte’ deixou não foram de cunho material, porém espiritual. O estilo de vida
libertino do passado junto com uma falha orientação espiritual da igreja
romana, associado à superstição, ao espiritismo e a típica “desconfiança” do
interior, tornou endurecido o coração dos moradores. O diabo aproveitou-se
de toda a situação propícia e cegou-lhes o entendimento para que não lhes
resplandeça o evangelho de Cristo, o qual, para a grande maioria é somente
uma imagem, um nome religioso e uma espécie de ‘força espiritual’ que
todos acreditam seguir e servir.

Além de tudo isto, teve o triste impacto negativo de alguns religiosos, que se
dizendo evangélicos, chegaram a cidade, pregando não Cristo, mas um
legalismo exagerado e um evangelho falso de prosperidade e milagres
baratos.

Agora, minha esposa Débora e eu, temos que, como as antigos garimpeiros,
ter a paciência em esperar as pessoas e os momentos certos para apresentar o
evangelho e ensinar a verdade da Palavra de Deus, mas, principalmente para
ver os frutos de salvação e arrependimento serem demonstrados, também
necessitamos de discernimento para perceber quem são as pessoas que estão
abertas a verdade em diferença daquelas que só querem bênçãos físicas e
materiais, além de um cuidado tremendo em não deixar cair das nossas mãos
aquela valiosa alma que está se aproximando de Cristo como os garimpeiros
faziam para não deixar cair de suas peneiras o pequeno diamante que, com
tanto esforço encontraram, o que vez ou outra acontecia. Para isso, usamos a
força, não braçal, mas da oração e do Espírito Santo, oferecemos o sangue de
Cristo derramado na cruz, que purifica as vidas manchadas pelo pecado ao
invés do vermelho mercúrio que contaminava as águas limpas do ‘Velho
Chico’ e pregamos a maior de todas as riquezas, não a que vem dos
diamantes, do ouro ou de qualquer outra preciosidade natural e passageira,
mas a melhor e mais maravilhosa de todas as riquezas: A salvação eterna da
alma pela graça de Jesus Cristo através da fé.

Assim como garimpar, esta ‘arte’ não é fácil, envolve lutas, desânimos,
desapontamentos, desilusões, e é necessário muito amor, paciência,
compaixão e poder espiritual para que, depois de efetuada a tarefa, possamos,
como os garimpeiros, comemorar com intensa alegria, que os fazia esquecer
todo o esforço e sofrimento, a descoberta de um pequeno diamante, o qual,
no nosso caso, é cada preciosa alma salva pelo amor de nosso Senhor e
Salvador Cristo Jesus.

‘Esforçando-me deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora
anunciado, para não edificar sobre o fundamento alheio;’Romanos 15.20”[16]
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Natanael de Barros. Coletânea de Ilustrações. São Paulo, SP: Vida Nova,
1987.
BARBER, Cyril J. Neemias e a Dinâmica da Liderança Eficaz. São Paulo, SP: Vida,
2003.
BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS-CHAVE HEBRAICO E GREGO. Rio de Janeiro,
RJ: CPAD, 2012.
BOYER, Orlando. Heróis da Fé. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2013.
BRUYN, David de. A Igreja Conservadora. São Paulo, SP: Batista Regular, 2015.
CAHILL, Mark. Evangelismo – Uma Coisa que Você Não Pode Fazer no Céu. São
Paulo, SP: Shedd, 2008.
CARVALHO, Marcone Bezerra. Hebreus 11.38 – O Mundo Não Era Digno Deles.
Morávios Publicações. E-book disponível em http://moravios.org/.
EDWARDS, Jonathan. A Vida de David Brainerd. São José dos Campos, SP: FIEL,
2005.
ELLIOT, Elisabeth. Através dos Portais do Esplendor. São Paulo, SP: Vida Nova, 2013.
KORONTAI, Thomas. Site Federalista – Nossa História – Cartas de Thomas Korontai.
2013. Disponível em http://www.federalista.org.br/historia.php.
LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando Igrejas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2007.
LOPES, Hernandes Dias. Neemias: O Líder que Restaurou Uma Nação. São Paulo, SP:
Hagnos, 2006.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP: SBB, 2010.
MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular – Antigo Testamento, São
Paulo, SP: Mundo Cristão, 2010.
MCKINLEY, Mike. Plantar Igrejas é para os Fracos. São José dos Campos, SP: FIEL,
2013.
OLYOTT, Stuart. Jonas – O Missionário Bem-Sucedido que Fracassou. São José dos
Campos, SP: FIEL, 2012.
PARANAGUÁ, Glênio Fonseca. Cruz-Credo! O Credo da Cruz. Londrina, PR: IDE,
2013.
PIPER, John. Evangelização e Missões. São José dos Campos, SP: FIEL, 2011.
PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP:
Cultura Cristã, 2001.
QUEIROZ, Edison. A Igreja Local e Missões. São Paulo, SP: Vida Nova, 1998.
ROCHA, Gérson. Quem há de Ir por Nós? Campo Belo, MG: Maranata, 2006.
ROPER, David H. – Devocional Pão Diário – Janeiro, fevereiro e março. Curitiba, PR:
Edições Pão Diário, 2016.
RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de João. São José dos Campos, SP, SP: FIEL,
2000.
RYRIE, Charles Cadwell. A Bíblia Anotada Expandida. São Paulo-SP: Mundo Cristão,
2006.
SANDERS, J. Oswald. Liderança Espiritual. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 1985.
SERAFIM, Paulo. Site Morávios – A Missão de Deus e a Missão da Igreja. 2016.
Disponível em http://moravios.org/missao-de-deus-e-a-missao-da-igreja/
SHEDD, Russell P. Missões – Vale a Pena Investir? São Paulo, SP: Shedd, 2001.
WHITNEY, Donald S. Disciplinas Espirituais para a Vida Cristã. São Paulo, SP: Batista
Regular. 2009.

Sobre o autor

Luiz Miguel de Souza Gianeli é casado com Débora Barbosa da Silva Gianeli
e pai de Agnes, Annelise e Luigi.
Bacharel em Teologia pelo Seminário Batista Regular do Sul (SBRS), com
Convalidação pela Faculdade Evangélica do Piauí (FAEPI), tem trabalhado
como missionário Batista na região da Serra da Canastra, Centro-Oeste de
Minas Gerais desde 2006, onde, juntamente com sua família, fundou a Igreja
Batista de Vargem Bonita e a Igreja Batista Nova Esperança em Piumhi, onde
serve atualmente.
É autor do livro “Como Peregrinos e Forasteiros – Meditações em
Primeira Pedro” e escreve o Blog “Diamantes Eternos”
(http://diamanteseternos.blogspot.com.br/) sobre missões, cristianismo,
literatura e cultura.

[1]
Pastor da Primeira Igreja Batista Regular de Caçapava – SP durante os anos de 1996 a
2001. Seu ministério missionário atual, realizado na Índia, pode ser conferido no blog:
http://missoesindia.blogspot.com.br/
[2]
Longa metragem animado produzido por Fox/Blue Sky – 2005.

[3]
Sua história pode ser conferida no filme “Jornada Pela Liberdade” (Amazing Grace) –
Swen Filmes - 2008.
[4]
Um dos cinco missionários mortos pelos índios Huaorani, durante a operação Auca no
Equador em 1956.
[5]
Desenhos animados, histórias em quadrinhos e seriados de super-heróis japoneses, bem
comuns no Brasil na década de 90.
[6]
Missionário americano que atuou na Birmânia, atual Myammar durante 40 anos (1788-
1850).
[7]
Disponível em https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-
instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Humildade .
[8]
Conteúdo ministrado na aula de “Ética Ministerial” no Seminário Batista Regular do Sul
no ano de 2005.
[9]
Sua história é contada no livro infantil da APEC “Comprando Crianças para Deus”.
[10]
Pastor norte-americano com experiência missionária dez anos no Peru.
[11]
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=PLQ5jsyLlL4 Acesso em 19 out.
2016.
[12]
Grego era a disciplina do seminário com maior número de alunos desistentes, por isso,
a ênfase do seu professor nesta frase.
[13]
Filme cristão “Corajosos” – “Courageous” no original, lançado pela Sherwood Pictures
em 2011.
[14]
Recomendo um estudo das resoluções de Jonathan Edwards e a leitura do livro: “As
Firmes Resoluções de Jonathan Edwards” – de Steven Lawson, publicado pela editora
FIEL.

[15]
Extraído de http://diamanteseternos.blogspot.com.br/2013/09/missoes-e-o-exemplo-
dos-jovens-moravios.html
[16]
Texto publicado originalmente em meu blog no dia 1/12/2008:
http://diamanteseternos.blogspot.com.br/2008/12/misses-arte-de-garimpar-almas.html

Você também pode gostar