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UMA HISTÓRIA DA MAÇONARIA EM PORTUGAL

(Autor não identificado)


A MAÇONARIA

Escrever sobre ou falar de Maçonaria nunca e uma tarefa simples, não só


por despertar um certo sentimento de desconfiança ainda latente no publico
português (o velho e irracional temor da obscura conspiração revolucionaria dos
pedreiros-livres...), mas também pela inacessibilidade geral das escassas fontes
documentais disponíveis, pela parcialidade tendenciosamente ideológica do
discurso transmitido nas divulgações efectuadas e por um certo temor ridículo de
afectar a própria reputação. Trata-se, contudo, apenas de mencionar a mais
externa (e, porque não dizer, esotérica?) das sociedades iniciáticas actualmente
existentes. Mesmo assim, e apesar da nossa condição externa, atrevemo-nos à
ousadia, não temendo as consequentes opiniões alheias, independentemente da
polaridade oposta da natureza diferente dos respectivos conteúdos. Não só não se
pretende perfilhar nenhuma corrente de pensamento de intervenção social, como
não se provêm redigir nenhum tipo invulgar de ensaio historiografico que
surpreenda, galvanize ou perturbe o leitor.

Compreender a Historia, o percurso, a doutrina e a importância da


influencia inegavelmente decisiva da Maçonaria no devir civilizacional constitui
efectivamente a primeira porta e possibilidade de abordagem dos movimentos
inimagináveis engrenagens (que mais não são que puras exteriorizações de
realidades ainda mais essenciais e hierarquicamente superiores) dos bastidores
deste fascinante processo indescritível de iniciação evolutiva e pedagogicamente
colectiva da Raça Humana que é a própria Vida.
Maçonaria é um esquema simbólico através de cuja linguagem, uma vez
gradualmente compreendida, certos conhecimentos se vão obtendo, que fariam
pasmar os magons regulares, ainda os de alto grau ou categoria.
Por: Fernando Pessoa
Procurando assim efectuar uma síntese histórico-evolutiva da presença maçónica
em Portugal (Hercúlea tarefa a que hoje já correspondem ensaios portentosos
cabalmente estruturados), o objectivo desta investigação consiste única e
simplesmente numa tentativa concreta e possível de articular os marcos principais
do desenvolvimento cronológico da sua existência efectiva, quer através das suas
manifestações externas, quer pelos seus e organismos institucionais representativos
divulgando o tema junto do grande publico, pouco ou nada familiarizado com
ele.

Desta forma, cumpre desde já definir preliminarmente o assunto em causa: o


que e a Maçonaria? Pode dizer-se de uma forma simplista que se trata de uma
fraternidade esotérica internacional postulando uma via de evolução espiritualista
não identificada com nenhuma confissão religiosa; contudo radicando na tradição
socio-profissional operativa dos grémios e corporações arquitectónicas da
Antiguidade, da Idade Media e do Renascimento, expressa na evolução
pedagógica iniciática gradual proposta por cada um dos diversos ritos que a
constituem ou sistemas litúrgico - doutrinais distintos transmissores de uma
reflexão simbólica geométrico - cavalheiresca, através da dinâmica instrutiva
desenvolvida e realizada nas lojas ou células de trabalho maçónico agrupadas
colectivamente em Obediências ou federações hierárquico - territoriais
administrativas.

Posto isto, resta convidar o leitor a viajar através da evolução nacional deste
universo fascinante (microcosmos que espelha e representa um macrocosmos
ainda mais excelso) que é a Fraternidade Maçónica, egrégora ou família espiritual
em demanda continua de um ideal de Construção permanente do Cosmos e da
Humanidade

Da operatividade à especulatividade

Radicando a génese da Maçonaria na tradição técnico-simbólica do oficio


operativo da construção, tão escassamente documentada e mal conhecido, o
contexto português tem sido quase nada investigado comparativamente ao
internacional.

Um tal esforço epistemológico implicaria a investigação transdisciplinar profunda e


demorada no âmbito académico conjunto da Historia e da Historia da Arte de
inumeráveis acervos documentais datados entre os séculos XII e XVIII e
espalhados por variadíssimos arquivos públicos e privados de norte a sul do Pais,
debruçando-se concretamente sobre as relações estatutárias das corporações
socioprofissionais, mesteres de ofícios mecânicos e companhas de pedreiros e
escultores com os arquitectos, artistas imaginários, ordens religiosas e militares e
encomendadores régios, nobiliárquicos, eclesiásticos e burgueses, bem como sobre
as respectivas fontes de formação e informação pedagógica, tratados modelares,
formas jurídicas contratuais administrativas. financeiras e comerciais.
Contudo, é perfeitamente possível referir alguns elementos disponíveis
sobre esta questão concreta, aludindo com clareza elucidativa à presença maçónica
operativa em território português. Com efeito, historiadores como Cristóvão
Aires, Alexandre Herculano, Miguel António Dias, Timoléon François Bégue
(Clavel), o conde Athanasius Raczynsky e Raúl Rêgo mencionam a vinculação do
arquitecto irlandês David Huguet – que coordenou em determinada fase a
construção do Mosteiro da Batalha, no século XIV – à Grande Loja de Iorque em
Inglaterra, referindo a Maçonaria medieval como resultante do contacto espiritual
e cultural entre arquitectos muçulmanos e cristãos por toda a Europa medieval.
Por um lado, confirma-se a participação portuguesa neste contexto
itinerante medieval da Maçonaria operativa europeia – a capela gótica
quinhentista privativa da família aristocrática escocesa Saint-Clair of Rosslyn
(próximo de Edimburgo), grão-mestres hereditários nacionais da Escócia entre os
séculos XV e XVIII por privilegio real, ainda hoje se designa significativamente
por Capela dos Portugueses, assim como, por outro, pelos enunciados atrás
efectuados, se conhece que os detentores da gnose construtiva não eram
exclusivamente plebeus; veja-se o caso exemplificativo do monge cisterciense
francês Roberto, referido como arquitecto e autor tradicional da planta da igreja
do Mosteiro de Alcobaça, enviado a Portugal por S. Bernardo de Claraval, abade
geral da Ordem de Cister, com o objectivo de supervisão técnico-logística. Tais
questões alertam-nos efectivamente para as características da
intervenção participativa dos maçons operativos na edificação de qualquer singela
igreja matriz paroquial ou edifício palatino ou civil até relevantes complexos
monásticos como os atrás referidos, ou até mesmo o jeronimita de Santa Maria de
Belém ou o templário de Cristo em Tomar em qualquer caso, marcando a sua
presença, gravando as pedras com as suas siglas profissionalmente identificativas,
imbuídas de profundo e inequívoco significado simbólico-iconográfico.

Ainda que se desconheça a data precisa da constituição das corporações


mesteirais de ofícios em Portugal (embora tão ou mais antiga que a própria
fundação da Nacionalidade), em Lisboa surge. em Dezembro de l383, uma
instituição confederante destas, de representação consultiva junto da autarquia da
capital, a Casa dos Vinte quatro (constituída por dois representantes de cada um
dos doze ofícios oficialmente representados), extinta com a consolidação política
do liberalismo socioeconomico em 1834.

Com efeito, este organismo terá preservado a integridade da idiossincrasia


operativa dos mestres agregados, tal como a sua hierarquia administrativa se
apresenta paralelamente analógica à tecnologia da escala iniciática da primeira
estrutura maçónica especulativa portuguesa a Casa Real dos Pedreiros-livres da
Lusitânia, à qual pertenceram alguns maçons operativos, entre os quais o
arquitecto húngaro Carlos Mardel, responsável pela reedificarão da Baixa
Pombalina após o terramoto destrutivo de 1755.

No entanto, e apesar da proliferação e multiplicação de sociedades


maçónicas operativas portuguesas, particularmente ao longo dos séculos XVII e
XVIII, o processo de especulativização filosófica e iniciática em Portugal, como
em todo o mundo, não foi directo, antes descontinuo devido à implantação
nacional das primeiras lojas especulativas, na primeira metade do século XVlll, de
raiz inglesa e protestantes portanto culturalmente estranha a Portugal, nunca se
relacionando directamente com a tradição operativa dos países de acolhimento,
ainda que tenha eventualmente absorvido em parte algum contributo dessas
corporações operativas moribundas (embora separando na pratica a componente
técnico - académica da arquitectura, remetida a exclusividade pedagógica. do
ensino superior elitista).

As primeiras lojas:
Ingleses e Franceses

As mais antigas referencias historio-grafico-documentais conhecidas sobre a


existência das primeiras lojas maçónicas especulativas em território português
surgem-nos nos processos jurídico-inquisitoriais do Tribunal do Santo Oficio de
Lisboa. Vigilante e implacável, a Inquisição funcionava activamente desde 1542
como o braço judicial interventivo da Igreja Católica Romana, que aplicava de
forma inflexível a rígida disciplina ético-moral da jurisprudência canónico-pastoral
perante a Coroa, salvaguardando assim a exclusividade espiritual absoluta do
catolicismo face a qualquer manifestação comportamental herética.
Assim, perante a conclusão do longo processo histórico de
especulativização teórico-simbólica da Maçonaria, com a fundação da Grande Loja
de Inglaterra, em Londres, em 24 de Junho de 1717, já completamente
desvinculada da tradição socioprofissional operativa, como primeira Obediência
institucional congregando federadamente lojas particulares ou células de trabalho
litúrgico-iniciático, surge, cerca de 1728, a primeira loja maçónica especulativa
nacional identificada, fundada em Lisboa pelo empresário católico ingles William
Dugood, ai estabelecido com a sua família, sendo registada com o nº 135 em 17
de Abril de 1735 pela Grande Loja de Inglaterra (substituído pelo nº 120 em
1740). 0 seu grão-mestre, o conde de Weymouth, encarregou da sua
regularização o matemático escocês presbiteriano George Gordon, que chegou a
Lisboa nesse mesmo ano a bordo de uma importante frota naval britânica
ancorada no porto. Com efeito, a influencia civilizacional britânica encontrava-se
firmemente implantada em Portugal desde a assinatura do Tratado comercial
anglo-português de ),Methuen em 1703, determinando o comercio ultramarino
dos vinhos portugueses com os têxteis ingleses, além de intensos contactos navais,
constantes fluxos migratórios e excelentes relações diplomáticas, justificando
consequentemente a existência de uma colónia de 1000 habitantes estabelecida
em Lisboa, que contribuiu decisivamente para a consolidação do prestigio da
produção cultural inglesa face a tradicional hegemonia francesa no seio da
sociedade portuguesa e preparando este contexto o advento lógico e consecutivo
colonial inglês da Maçonaria especulativa na Europa continental, principalmente
em território português.

Esta loja – designada pelos maçons católicos irlandeses como a loja dos
mercadores hereges – era essencialmente composta de empresários ingleses
anglicanos e escoceses presbiterianos nos, sobrevivendo apenas ate 1755,
aquando da destruição maciça de Lisboa pelo terramoto de 1 de Novembro,
eventualmente também devido a problemas logístico - funcionais de ausência de
quórum mínimo para o funcionamento, o que lhe retirou o apoio e o
reconhecimento maçónico de Londres, já que muito difícil e raramente admitiria
candidatos não - britânicos no seio do seu comunitarismo etnoculural fortemente
concentrado.

Por outro lado, uma outra loja existia – a já mencionada Casa Real dos
pedreiros-livres da Lusitânia – estritamente integrada por clérigos regulares
dominicanos, militares e empresários católicos irlandeses (além do engenheiro
militar húngaro Carlos Mardel, interveniente directo na planificação urbanístico -
volumétrica da reconstrução pombalina de Lisboa, posteriormente ao terramoto
de 1755), reunindo mensalmente num restaurante junto ao Cais do Sodre,
reflectindo sobre temas instrutivos, recreativos e económicos nos graus de
aprendiz, companheiro, mestre, mestre excelente e grão-mestre ( sendo este
último um cargo eleito anualmente no dia 24 de Junho, comemorativo de S. João
Baptista, patrono da fundação da Maçonaria especulativa).
Após a proclamação da bula papal In Eminenti, de Clemente XII. em 24
de Abril de 1738, excomungando todos os católicos pertencentes a quaisquer
sociedades secretas externas a autoridade espiritual da Igreja Romana, a Inquisição
portuguesa investiu fortemente contra as lojas maçónicas, nomeada- mente as
protestantes, já que a Casa Real se extinguiu obedientemente naquele mesmo ano.
O estrangeirismo não latino da ) Maçonaria culturalmente britânica instalada em
Lisboa foi então considerado potencialmente ateu e subversivo pelas autoridades
políticas e religiosas portuguesas, que procuravam fortemente reprimir o seu
ecumenismo fraterno.

Posteriormente, em 1743, o lapidário de diamantes calvinista suíço Jean


Coustos, venerável mestre ou chefe de uma loja francesa não registada (ainda que
naturalizado inglês pelo casamento), e preso pela Inquisição e subsequentemente
libertado de um encarceramento torturante, sujeição a inquéritos e uma sentença
de quatro anos ás galés através dos pedidos diplomáticos do rei Jorge II de
Inglaterra junto do rei D. João V de Portugal, sob as influencias do embaixador
inglês lorde Charles Crompton e do primeiro - ministro duque de Newcastle, para
além dos esforços maçónicos do duque de Harrington. No regresso a Londres, em
1746, Coustos publica um relatório autobiográfico da sua prisão e torturas, onde
exprime a sua gratidão ao monarca inglês e aos aristocratas seus intercessores,
além de exaltar o excelente trabalho das lojas de Lisboa.
A loja a Cousto pertencia integrava quase exclusivamente cidadãos franceses
(denunciando assim a sua natureza étnico-colonial) – como os lapidários
Alexandre Jacques Mouton e Jean Thomas Brusle – com maior diversidade
religiosa que as anteriores, tendo sido alvo em 1744 do primeiro auto-de-fé e
inquisitorial realizado em Portugal, com a condenação torturante publica de
maçons. Apesar de Coustos ter procurado intervir tolerantemente como agente
missionário da Maçonaria protestante pró-inglesa, as lojas portuguesas futuras
serão lógica e fundamentalmente compostas de nacionais católicos – quer pela
brevidade do proselitismo efectuado, quer pela idiossincrasia sociológica do nosso
país.

Do Pombalismo à Viradeira:
continuidade e perseguição

Sucedendo o rei D. José I ao seu pai, D. Joio V, o primeiro-ministro,


Sebastião José de Carvalho e Melo, posteriormente conde de Oleiras e marquês
de Pombal, protegeu as lojas maçónicas em Portugal face às penalidades
inquisitoriais e submeteu o clero católico - romano à autoridade da Coroa, tendo
provavelmente ele próprio sido iniciado em Londres, em 1744, pelo príncipe de
Gales, Frederico Luís, e admitido na Sociedade Real, agremiação cientifica
mundialmente famosa, de origem e filiação maçónicas. Assim, reflectindo as
doutrinas iluministas do despotismo esclarecido quanto ao primado do Estado, do
esclarecimento cientifico e da tolerância social, Pombal submete a Companhia de
Jesus ao controle da Coroa e transforma a Inquisição num instrumento político.
Entretanto, assim como diversos diplomatas, intelectuais, aristocratas,
docentes, industriais, comerciantes e clérigos eram iniciados, quer em Portugal,
quer em Inglaterra, a colónia britânica em Lisboa fundou em 1755 uma nova loja
étnica não registada, existente até 1762) e algumas lojas militares inglesas
surgiram no Norte do Pais, devido a forte implantação britânica no comercio
monopolista português do vinho do Porto durante as Guerras da Independência
com Espanha em 1762. É neste período que a Coroa contrata o general alemão
conde Frederico Guilherme Ernesto de Schaumburg-Lippe para coordenar e
instruir as tropas portuguesas, sendo também um dos grandes responsáveis pela
implantação entusiasta da Maçonaria no exercito.

Na cidade do Funchal, na ilha da Madeira, uma outra loja maçónica de


mercadores ingleses foi fundada em 1767, sendo pesadamente perseguida pelo
governo local e acusada em 1770 de liberalismo e heresia, provocando diversos
exílios temerosos para Londres.

Após a morte do rei D. José, em 1777, e a sucessão de sua filha, D. Maria


I, o marquês de Pombal e os seus despotismo iluminista e proteccionismo
maçónico são afastados, e Diogo Inácio de Pina Manique torna-se intendente geral
da Policia do Reino em 1780, penalizando especialmente a Maçonaria,
readquirindo a Inquisição a sua plana autonomia anterior. A presença simultânea
de mercadores, refugiados e militares inglesas conduziu ao estabelecimento de
lojas maçónicas dentro dos regimentos de tropas auxiliares e subsequentemente
registadas pela Grande Loja Antiga de Inglaterra. Devido ao endurecimento da
vigilância policial, diversos viajantes, particularmente ingleses, assistiram a muitas
reuniões clandestinas de lojas a bordo de navios estrangeiros ancorados no porto
de Lisboa.
Adicionalmente, algumas detenções policiais de maçons ingleses com as
suas famílias no castelo de S. Jorge causaram uma solicitação bem sucedida da
Grande Loja de Inglaterra ao príncipe D. João (futuro rei D. João VI), regente da
Coroa durante a loucura da rainha sua mãe. Foi a este retrocesso de
reaccionarismo conservador, aliado à queda da burguesia pombalina, em
substituição da antiga aristocracia de sangue, que se convencionou designar
Viradeira.

Em consequência da irrupção de diversas revoluções liberais europeias


(nomeadamente a francesa) e americanas no final do século XVIII, a burguesia
capitalista portuguesa aproxima o seu eixo civilizacional rumo a França, lutando
contra o absolutismo monárquico e lentamente substituindo as referencias culturais
britânicas. Tal processo, iniciando uma nova conjuntura, teve os seus efeitos
maçónicos, dado que a Grande loja de Inglaterra apenas registava lojas nativas no
estrangeiro, impedindo a iniciação de cidadãos portugueses e de estrangeiros de
outras nacionalidades.

No entanto, a constituição de novas lojas inglesas pelos súbditos britânicos


Gordon, em 1798, e Burdwood, em 1803, a reunião maçónica anglo-tranco-
portuguesa de compromisso realizada em 1797 a bordo da
fragata Fénix, ancorada no rio Tejo (na qual foi fundada a primeira loja territorial
nativa), e a contribuição decisiva do duque de Sussex, Augusto Frederico (filho do
rei Jorge lll de Inglaterra e futuro primeiro grão-mestre da Grande Loja Unida de
Inglaterra em 1813, que residiu em Portugal entre 1801 e 1805 num semi-
exílio), para a independência maçónica portuguesa foram os últimos actos do
imperialismo maçónico britânico fundador (que abandonou Portugal através da
partida dos regimentos militares ingleses, sucedido pela chegada de monárquicos
franceses exilados e de tropas militares relacionadas com o Grande Oriente de
Franca.

Obediências e Potências:
génese, diversidade e unificação

A génese de lojas maçónicas originalmente portuguesas (surgidas a partir


da presença de militares alemães maçons na década de 1760, por ocasião das
Guerras da Independência), não reconhecidas de inicio no plano administrativo
pela Maçonaria britânica, o desejo obstinado e persistente de independência
institucional com aceitação universal e um significativo incremento demográfico
dos obreiros nacionais conduziram inevitavelmente à criação da primeira
Obediência maçónica. nativa em 1802, o Grande Oriente Lusitano. O seu
primeiro grão-mestre foi 3º conde de São Paio, sebastião José de Sampaio e Melo
Castro e Lusignan, um neto do 1º marquês de Pombal, sendo a sua primeira
Constituição aprovada em 1806 (influenciando mais tarde e de forma decisiva a
primeira Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822).

Entretanto, em Maio de 1802, o reconhecimento oficial da independência


do Grande Oriente Lusitano pela Grande Loja Antiga de Inglaterra Obediência
maçónica inglesa existente entre 1751 e l813, dissidente face à Grande Loja de
Inglaterra, fundada em 1717) e a sua própria designação institucional transmitem
a ligação cordial maçónica francesa em verdadeira ambiguidade contraditaria com
a nossa aliança diplomática com a Inglaterra.

Tais rivalidades existentes no próprio seio da Maçonaria portuguesa, recém


nascida, tornaram-se mais tarde expressas na implantação do Rito Francês ou
Moderno de sete graus; na substituição dos exércitos invasoras franceses dos
generais maçons Junot, Soult e Massena, em 1807 – 1811 (devido à
desobediência portuguesa face ao embargo comercial continental anti-Britânico de
Napoleão Bonaparte, e das suas lojas militares pela colonização inglesa do
marechal visconde William Carr Beresford e do general Lord Arthur Wellesley.
duque de Wellington, em 1808 1820, e suas equivalentes; na libertação de
maçons portugueses sob a influencia do duque de Sussex, após encarceramento e
exílio decretado em Setembro de 1810 pelos ocupantes franceses, como aliados
de Inglaterra; no registo inglês, em 18l0. da Loja portuguesa de Londres
"Lusitânia" , composta de maçons portugueses exilados; e na execução por
enforcamento do general Gomes Freire de Andrade, grão-mestre do Grande
Oriente Lusitano, em 1817, como penalidade por conspiração contra a
dominação militar Britânica de Portugal.
Após a revolução liberal de 1820 planeada por maçons congregados
numa sociedade secreta política, o Sinédrio), que aboliu o absolutismo
monárquico em Portugal, a dominação inglesa foi expulsa com a sua influencia
maçónica e novos contactos apenas ocorreriam em 1828, quando a restauração
do absolutismo com o rei D. Miguel I forçou diversos maçons, liberais e
intelectuais portugueses ao exílio em Inglaterra, onde fundaram em Plymouth a
loja Fidelidade nº 14 do Grande Oriente Lusitano. Desde 1820, as relações
diplomáticas entre as Maçonarias inglesa e portuguesa restringem-se estritamente a
meros contactos de cortesia. Com a consolidação do liberalismo após a
capitulação e subsequente expatriação do rei D. Miguel I na Convenção de
Evoramonte, em l834, a Maçonaria portuguesa vincula-se progressivamente mais
à crescente politização da sociedade civil, cada vez mais cindida em tendências
ideológicas polarizadas. Reflectindo assim perfeitamente o espectro político
nacional, a Fraternidade maçónica em Portugal decai de forma significativa ainda
hoje (restringindo-se à mera defesa ético-cívica dos ideais liberais e em função do
seu passado clandestino), centrada numa aparência filantrópico-moral que
desfigurou a sua essência iniciático - beneficente.

Assim, e ainda durante a guerra civil entre. liberais e absolutistas, os


exilados portugueses em Inglaterra (designados "cartistas" ou adeptos da Carta
Constitucional da Monarquia portuguesa de l826, outorgada pelo rei D. Pedro
IV, ele próprio maçon) consideravam seu grão-mestre José da Silva Carvalho
desde 1828, ao passo que: os liberais emigrados em França nomearam João
Carlos de Saldanha Oliveira Daun), futuro duque de Saldanha (na linha condutora
do vintismo quanto ao purismo revolucionário de l820 e da Constituição de
1822.

Subsequentemente à consolidação do liberalismo em 1834, afirmam-se


estas tendências, acrescentando-se-lhes a facção de Manuel da Silva Passos (Passos
Manuel) no Porto artífice do Setembrismo, movimento político que defendia em
1836 a restauração da Constituição de 1836 a restauração da constituição de
1822, antecedendo o advento da efémera Constituição de 1838, representando
um compromisso entre o purismo daquela e a moderação da Carta de
1826, designada por Maçonaria do Norte, distinta da do Sul do duque de
Saldanha, em Lisboa, e do Grande Oriente do Rito Escocês de José da Silva
Carvalho.
Posteriormente, em 1849, o Grande Oriente lusitano cindiu-se em duas
Obediências, graças aos conflitos graves entre maçons cartistas ou cabralistas,
adeptos do presidente do Conselho de Ministros, António Bernardo (Costa
Cabral, marquês de tomar) e vintistas, originando respectivamente a Grande Loja
Portuguesa e o Grande Oriente de Portugal – provocando assim a extinção do
Grande Oriente Lusitano, só ressurgido em 1859.

Entretanto, em 1849, as anteriormente referidas Maçonarias do Norte e


do Sul fundem-se numa nova Obediência. a Confederação Maçónica, surgindo
uma outra em 1863, a Federação Maçónica. Subsequentemente, estas fundem-se
em 1867 no Grande Oriente Português, juntamente com o Grande Oriente de
Portugal e a Grande Loja Portuguesa.

Mais tarde, em 1869, todas estas Obediências originam uma única, o


Grande Oriente Lusitano Unido até hoje expresso exteriormente pela
personalidade jurídica da associação civil Grémio Lusitano, paralelamente ao qual
existem o Grande Oriente da Maçonaria Ecléctica Lusitana, Obediência
essencialmente iniciática distinta das demais políticas fundada em 1853 e
absorvida cerca de l896, e o Oriente Irlandês, ou Grande Loja Provincial de
Portugal da Grande Loja da Irlanda, igualmente com cariz filantrópico-espiritualista
e afastado das suas homologas portuguesas politizadas. fundado em Lisboa em
1838 e integrado em 1872.

Face a um significativo e indesmentível incremento demográfico na


Maçonaria portuguesa unificada, sisões ocasionais de lojas ocorriam
esporadicamente e sem grande expressão, bem como o surgimento de novas
Obediências – reflectindo concretamente a pacificação geral no liberalismo
monárquico- -constitucional estabilizado.

Assim, em 1882, uma cisão profunda ocorrida no seio do Rito Simbólico,


sistema litúrgico-maçónico constituído apenas pelos três primeiros graus aprendiz,
companheiro e mestre, alem de um grau suplementar sobre a mitologia
arquitectónica do Templo de Salomão, o Arco Real) gera em Lisboa a Grande
Loja dos Antigos Mações Livres e Aceites de Portugal, extinguindo-se em 1884
por absorção no Grande Oriente Lusitano unido.

Em 1897, uma nova cisão lisboeta conduziu a retoma da


designação Grande Oriente de Portugal, extinta em 1904 e seguida da
autonomização interna, entre 1894 e 1899, de um circulo do Grande Oriente
Lusitano Unido designado Grémio Escocês e integrando algumas lojas
particularmente activas na sociedade civil. Verificamos assim, conclusivamente,
que a evolução institucional da Maçonaria portuguesa ao longo de todo o século
XIX reflectiu comevidencia a sua crescente politização profana, bem como a sua
irreligiosidade visceral progressiva (esta ultima mais definida desde o final da
década de 1870 por influencia da jacobinização ateia da Maçonaria francesa),
conduzindo a inevitável partidarização desintegrante de todos e quaisquer esforços
conjuntos. Contudo, e em paralelo, há que igualmente mencionar a existência de
Potências independentes ou estruturas institucionais administrantes de sistemas
litúrgicos de graus maçónicos superiores, constituindo diferentes prolongamentos
ritualisticos de aperfeiçoamento iniciático dos graus simbólicos universais de
aprendiz, companheiro e mestre (colocados sob a tutela das Obediências
instituídas e existentes em cada território nacional. Assim, no final do século XIX
existiam lojas portuguesas simbólicas do Rito de Mênfis Misraim sob
jurisdição espanhola (surgido em França em consequência da descoberta politico-
cultural contemporânea da civilização e da tradição iniciática egípcias e extremo-
oriental, subsequentemente a divulgação litúrgico-doutrinal efectuada no final do
século XVlII em Itália pelo misterioso aristocrata conde Alessandro di Cagliostro
(que terá então passado por Lisboa, tentando fundar uma loja maçónica com
aristocratas portugueses na sua dependência, ao passo que, no inicio do século
XIX, assistimos a introdução em Portugal do Rito Adoniramita (criado no fim do
século XVIII em França pelo barão de Tschoudy e baseando-se na mitologia
construtiva do Templo de Salomão) como primeiro sistema litúrgico-maçónico
superior português, seguindo-se-lhe os graus cavaleirescos do Rito Francês ou
Moderno igualmente surgido na mesma época sob o patrocínio oficial do Grande
Oriente de França) – que se assumiu originalmente como único oficial e praticado
pelo então recém-fundado Grande Oriente Lusitano –, posteriormente gerido
com autonomia pelo Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa+Cruz de
1869 a 1935.
Ainda na primeira metade do século XVIII, são praticados no seio das lojas
inglesas estabelecidas em Portugal os altos graus do Rito de Iorque (então surgidos
nas Ilhas Britânicas e aludindo explicitamente a mitologia arquitectónica da génese
e funcionamento litúrgicos do Templo de Salomão), geridos no século seguinte
pelo Supremo Grande Capitulo da Suprema Ordem do Santo Arco Real de
Portugal, assim como nesta mesma época se introduz o Rito de Adopção para
funcionamento nas lojas maçónicas femininas portuguesas (também de origem
francesa setecentista e vigente até à primeira metade do século XX) e regido
superiormente por uma câmara litúrgica independente.

Contudo, e posteriormente, entre 1840 e 1844, instala-se a totalidade


dos altos graus do sistema liturgico maçónico mais difundido em Portugal, mesmo
na actualidade: o Rito Escocês Antigo Aceite. Após a introdução dos
correspondentes graus simbólicos em Lisboa, em 1837, com a Grande Loja
Provincial de Portugal da Grande Loja da Irlanda e a adesão entusiasta do Grande
Oriente do Rito Escocês, esta Obediência e o Grande Oriente Lusitano envidaram
todos os esforços possíveis no sentido de receberem regularmente a transmissão
iniciática deste sistema a partir de Potências homologas tradicionais do Brasil,
neste rito designadas Supremos Conselhos dos Soberanos Grandes Inspectores
Gerais do 33º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite. Os Supremos Conselhos
portugueses deste rito – fundado nos Estados Unidos da América em 1801, com
base na pretensa organização do rei Frederico II da Prússia de síntese litúrgica da
diversidade de altos graus arquitectónicos e cavaleirescos vigentes no Ocidente no
fim do século XVlII – radicam de certa forma no funcionamento litúrgico em
Lisboa de um antecessor directo, o Rito de Heredom e Kilwinning (originado em
França na mesma época, de origem mítica escocesa), de 25 graus, apenas durante
alguns anos ainda antes da fundação do Grande Oriente Lusitano, alem de
também corresponder, de certa forma, à pluralidade institucional de Obediências
então existente em Portugal.
Contudo, a sua posterior fusão numa única Potência opera-se
simultaneamente a fundação do Grande Oriente Lusitano Unido em 1869,
assumindo desde então até à actualidade uma clara predominância efectiva sobre
os restantes ritos, reflectida na junção onomástica das duas designações
institucionais: Grande Oriente Lusitano Unido – Supremo Conselho da Maçonaria
Portuguesa. A sua adopção oficial contribuiu também decisivamente para o seu
afastamento da esfera de influencia maçónica inglesa e do seu Rito de Iorque.

Da Republica a actualidade

A consolidação do liberalismo institucional, a lenta ascensão do


republicanismo e a degradação partidária do parlamentarismo monárquico, bem
como a disseminação do ideal jacobino de secularização e laicização
revolucionarias da sociedade portuguesa face ao Catolicismo Romano como
religião oficial do Estado, conduziram ao acentuar progressivo da politização da
Maçonaria portuguesa ao longo da segunda metade do século XIX, rumo à
instauração da Republica em 1910.

Subsequentemente a maçonização do próprio Estado republicano – com a


presença de maçons nos governos e na administração publica, apesar da
fragmentação múltipla e irremediável do próprio Partido Republicano Português –
, verifica-se entre 1914 e 19a1 uma grave cisão no seio do Supremo Conselho do
Rito Escocês Antigo e Aceite, de denuncia da unificação de chefias com o Grande
Oriente Lusitano Unido, constituindo uma Obediência distinta, o Grémio Luso-
Escocês, com cerca de 100 lojas subtraídas.
Por outro lado, posteriormente as perseguições incentivadas pelos ex-
maçons e presidentes da Republica major Sidónio Pais em 1918 e general
Carmona em 1928 – contudo desde o golpe de Estado revolucionário de 28 de
Maio de 1926, que pôs termo a normalidade democrático-constitucional da
Primeira Republica e subsequente substituição pela ditadura militar que originaria
o regime político do Estado Novo, a promulgação da nova Constituição
autoritária de 1933 prepara o advento da promulgação da Lei do Ministério da
Justiça nº 1901, de 21 de ) Maio de 1935, coroando as sucessivas vagas de
atemorização e encarceramento de milhares de maçons com a declaração
obrigatória as autoridades publicas dos estatutos, regulamentos, membros, corpos
gerentes, objectivos, instalações e métodos de funcionamento das sociedades
secretas existentes em Portugal, especialmente vinculando os funcionários públicos
com um juramento particular, sob pena de demissão, além das determinações
prévias de prisão ou expulsão territorial Assim, apesar dos protestos do grão-
mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, general Norton de Matos, junto do
ex-maçon Prof. José Alberto dos Reis, presidente da então Assembleia Nacional, e
da defesa jornalística da integridade ético-maçónica pelo poeta Fernando Pessoa, a
Maçonaria tornou-se oficialmente extinta e o seu património confiscado pelo
Estado. Apesar dos encarceramentos, das torturas e das perseguições, as lojas
prosseguem perigosamente as suas reuniões secretas e o seu relacionamento
diplomático internacional fragilizado, cooptando e aumentando com lentidão
seleccionada os seus contingentes, unificando-se, nova e temporariamente, por
necessidades estratégico-funcionais, as chefias do Grande Oriente Lusitano Unido
e do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite – o qual, por seu lado,
absorveu as competências institucionais de cada uma das outras Potências
existentes, podendo restaura-las em caso de liberalização politico-constitucional. A
clandestinidade apenas consolidou compreensivelmente ainda mais a politização
ideologico-profana da Maçonaria portuguesa, auto-exilada no seu ocultamento,
em profundo envolvimento com a resistência de oposição ao Estado Novo.
Paralelamente, as Obediências estrangeiras mais tradicionalistas retiram o
seu reconhecimento perante o envolvimento ideológico progressivo do Grande
Oriente Lusitano Unido até a interdição de l935. No sentido de procurar
readquirir estrategicamente o reconhecimento britânico perante um isolamento
internacional cada vez maior, imposto pela ditadura corporativa o Grande Oriente
convoca em 1941 – em plena II Guerra Mundial – uma reunião secreta das suas
cúpulas e proclama uma nova Constituição, marcada pela aceitação incondicional
dos padrões de regularidade institucional estabelecidos pela Grande Loja Unida de
Inglaterra em 4 de Setembro de 1929 e envia diversas mensagens alusivas para
Londres e a todas as Obediências americanas. Contudo, nenhum resultado
positivo foi atingido, já que a Maçonaria inglesa não reconhece oficialmente
nenhuma Obediência que trabalhe clandestinamente, sem a aceitação declarada
do governo do respectivo pais. O Estado Novo foi extinto pela Revolução Militar
de 25 de Abril de l974, sendo a Maçonaria portuguesa – neste contexto
identificada com o Grande Oriente Lusitano Unido – oficialmente liberalizada
pelo artigo 18 da Lei nº 594/74, de 7 de Novembro, pondo assim termo a
longa e dolorosa clandestinidade persecutória de quase 50 anos. O Grande
Oriente readquiriu assim plenamente o seu património próprio e a sua liberdade
funcional. aliada a uma posição política progressivamente influente – mercê do
seu contributo para a resistência de oposição ao Estado Novo – na linha de
continuidade da sua politização afamada já secularmente, e, em consequência,
permanecendo internacionalmente quase isolado, cessando ainda a união
estratégica da chefia institucional com o Supremo Conselho do Rito Escocês
Antigo e Aceite, sem contudo se restaurarem quaisquer dos outros ritos
previamente existentes. Além disso, a descolonização africana concluiu o processo
de desaparecimento das lojas maçónicas ultramarinas encetado pelo Estado Novo.
já na década de 80, surgem em Portugal lojas de Obediências estrangeiras
marcadas por perspectivas iniciáticas distintas das da Maçonaria portuguesa até
aqui existente, cedo estabelecendo com ela relacionamentos diplomáticos
fraternos.
Trata-se, respectivamente, da Grande Loja Feminina de França (surgida em
Paris no inicio da década de 50 e congregando as lojas exclusivamente femininas
existentes desde o final do século XIX) instalada em Lisboa, Porto e Figueira da
Foz – que originou em l997 a Obediência independente da Grande loja Feminina
de Portugal e da Ordem Maçónica Mista Internacional – Direito
Humano (Obediência fundada em Paris em 1893, funcionando quase
exclusivamente na totalidade dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceite e
admitindo homens e mulheres em plena igualdade à iniciação maçónica), em
Lisboa e Porto – tendo já existido em Lisboa em 1923 – 1926. Podemos
igualmente referir a presença de lojas maçónicas inglesas e norte-americanas em
território português, reflectindo interesses estratégicos de utilidade das respectivas
comunidades étnico-nacionais de cada pais aqui radicadas.

Por outro lado, um grupo de maçons no seio do Grande Oriente procura


ganhar sem sucesso as eleições para o grão- mestrado em 1983, saindo
inconformados da Obediência para fundar uma outra em Novembro do ano
seguinte, a Grande Loja de Portugal, com o objectivo de adquirir o
reconhecimento regular de funcionamento maçónico-institucional por parte das
Obediências tradicionalistas já que o Grande Oriente Lusitano (que entretanto
abandonara obviamente a designação de Unido) tinha relacionamentos
diplomáticos apenas com as Obediências ditas liberais e mais politizadas, como a
Grande Loja Unida de Inglaterra e a Grande Loja Nacional Francesa.
Neste sentido, e após longas negociações, os membros da Grande Loja de
Portugal (entretanto registada em cartório notarial em 23 de Abril de 1985, sob
a personalidade jurídica da associação cultural Centro de Estudos Humanisticos)
obtém a admissão no seio da Grande Loja Nacional Francesa, constituindo lojas
distintas em território português, posteriormente agrupadas numa Grande Loja do
Distrito de Portugal, que, em 29 de Junho de 1991 adquire a independência
maçónica como Grande Loja Regular de Portugal. sendo subsequentemente
reconhecida como instituição soberana pelas Obediências consideradas regulares
do mundo inteiro. Após poucos anos de consolidação estrutural, esta Obediência
enceta igualmente providencias no sentido de estabelecer a continuidade evolutiva
de cada rito já trabalhado nos graus simbólicos. Assim, em 1993, em
coordenação com a Grande Loja Regular de Portugal, surge o Supremo Conselho
para Portugal dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º e ultimo grau do
Rito Escocês Antigo e Aceite (administrando os graus superiores do Rito Escocês
Antigo e Aceite, sendo empossado pelo Supremo Conselho norte-americano de
Washington, DC – Jurisdição Sul); em 1995, funda-se o Grande Priorado
Independente da Lusitânia (responsável pelos altos graus do Rito Escocês
Rectificado, surgido em França e na Alemanha no fim do século XVIII por
transmissão de linhagens iniciáticas maçónico-templárias alusivas a mitologia
cavaleiresca, sendo criado pelo Grande Priorado Independente de Helvécia); e,
em 1996, o Supremo Grande Capitulo do Arco Real de Portugal (gerindo os
graus de aprofundamento iniciático do Rito de Iorque, sendo emanado do Grande
Capitulo do Arco Real Internacional, sediado nos Estados Unidos da América).
Finalmente, os acontecimentos mais recentes que marcam estruturalmente a
evolução histórica da Maçonaria portuguesa consistem na fundação, em 1994, de
um Grupo Administrativo Português da Liga Universal Franco-Maçónica
(organização maçónica internacional fundada no principio do século XX,dedicada
ao estreitamento de laços fraternos entre todos os maçons do mundo inteiro em
todas as áreas possíveis – sendo fundamentalmente constituída por membros de
Obediências ditas liberais, e na ocorrência. de uma grave cisão subversiva em
1996 no seio da Grande Loja Regular de Portugal, que obrigou à alteração da sua
designação júridico-associativa pelas suas autoridades regularmente empossadas,
com a junção da expressão distinta Grande Loja Legal de Portugal.

Conclusão Chegando ao termo deste sucinto périplo histórico da evolução


institucional da Maçonaria portuguesa, constata-se a profunda superficialidade e
escasso desenvolvimento da informação transmitida face à exiguidade de espaço.
Alem disso, constata-se igualmente duas evidentes contradições: por um lado, o
contraste evidente entre a primitiva Maçonaria operativa e a sua sucessora
especulativa e, por outro, o paradoxo entre a teoria e a pratica, ou reja, a
Doutrina simbólica da Construção permanente e universal do Homem e do
Cosmos, e uma instituição cristalizada no seu próprio funcionamento
administrativo como enclave subversivo de estratégias mundanas. No entanto, a
evidente acessibilidade da herança arquitectonico-geometrica do património
monumental da Maçonaria operativa e a profícua diversidade da produção
literario-documental da Maçonaria especulativa remetem claramente no sentido
intrínseco e subjacente da Demanda de realização individual e colectiva através de
uma via iniciática de evolução espiritual diversificada, meditando fundamental mas
não exclusivamente sobre o processo cosmogonico de Criação genética da
realidade fenomenica que integramos, muito além da mera e superficial apologia
violenta de valores políticos básicos de liberdades e garantias civico-sociais e
melhoria de condições existenciais da qualidade de vida material e mental,
inerente a todo e qualquer esforço humano em geral. Com efeito, na actual época
contemporânea de que somos coevos, a maçonaria portuguesa parece-nos
começar a exprimir tímida e paulatinamente, na sua ampla diversidade de
organizações externas, a manifestação efectiva daquele seu dinamismo hermético
próprio (essência da Ordem que ela mesma afirma representar), em detrimento
da profanidade politizante de que tem sido alvo e manifestado mesmo em
conexão com a Tradição iniciática especifica portuguesa do Quinto Império e da
Idade do Espirito Santo da Redenção regeneradora da Humanidade. Esperemos
que ela doravante trabalhe apenas e de facto a Gloria do Grande Arquitecto do
Universo, seu Patrono e único Grande Mestre absoluto e autentico, e não mais a
do mundo profano que se lhe opõe e com o qual ela se tem ilicitamente envolvido
em compromisso.
A MAÇONARIA PORTUGUESA

E OS DIRIGENTES EXTERNOS

Ao longo da sua evolução histórica, a Maçonaria portuguesa procurou sempre


organizar-se institucionalmente no sentido de congregar no seu seio todos os maçons
integrantes, agremiar todas as lojas sob as diferentes dependências e cobrir de forma
unificada todo o território nacional através de uma mesma tutela estrutural.

De facto, essa tendência é claramente visível durante a primeira metade do século


XIX, com a fundação subsequente e simultânea das diversas Obediências então existentes,
até à criação, em 1869, do Grande Oriente Lusitano Unido, unificando assim todos os seus
homólogos antecedentes, bem como desde a década de l980 em diante, com o surgimento
de novas instituições nacionais soberanas.
Por outro lado, as Potências independentes administrantes dos graus superiores dos
diversos sistemas litúrgicos maçónicos igualmente sempre manifestaram esta mesma
perspectiva de soberania territorial indivisível, também por consequência de reflexo de
protocolos de relacionamento institucional estabelecidos com as respectivas Obediências
simbólicas. Neste sentido, apresentamos aqui as listas nominais identificativas dos dirigentes
das diversas organizações maçónicas portuguesas instituídas nos séculos XIX e XX, os seus
respectivos âmbitos cronológicos, períodos de mandato, designações institucionais e títulos
hierárquicos especificamente assumidos.

OBEDIENCIAS SIMBOLICAS E RITOS


Grão-mestres da Grande Loja
Grãos mestres do grande Portuguesa Grão-mestres do Grande
Oriente Lusitano (1802- (1849-1856) Oriente de Portugal
1849) (1849-1867, 1897-1904)
Eleuterio Francisco de Castelo
Branco (interino) (1849 –
1850).
Jose Bernardo da Silva Cabral
(18i0 – 1856?).

Grão-mestres da Grande
Loja Provincial de Portugal
Sebastiao Jose de Sampaio da Grande Loja da Irlanda
Melo e Castro (1842-1872)
Lusignan (1802-1809). Marcos Pinto Soares Vaz
Jose Aleixo Falcao de Preto (1842 – 1851).
Gamboa Fragoso Wanzeler Joaquim Possidonio Narciso Marcelino Maximo de
(1809?). da Silva (1851 – 1853). Azevedo e Melo (1849 –
Fernando Romao da Costa Frederico Guilherme da 1853).
de Ataide e Teive Sousa Silva Pereira 1853 – Jose Joaquim de Almeida
Coutinho (1809-1814?). 1871). Moura Coutinho (1854--
Fernando Luis Pereira de Joaquim Jose Gonçalves de 1861).
Sousa Barradas Matos Correia (1871 – Frederico Leão Cabreira
(interino) (1814? – 1872). (interino) (1861 – 1863).
1816?). Caetano Gaspar de Almeida
Gomes Freire de Andrade Grão-mestres do Grande Noronha Portugal Camoes de
(1816 – 1817). Oriente do Rito Escoces Albuquerque Moniz e Sousa
Joao Vicente Pimentel (1840-1885). (1863 – 1867).
Maldonado (interino, (1820 Jose da Silva Carvalho Joaquim Brito de Carvalho
– 1821). (1840 – 1856). (1897 – 1902).
Joao da Cunha Souto Maior Rodrigo da Fonseca Antonio Gomes da Silva
(1821 – 1823). Magalhaes (1856 – 1858). Pinto (interinoj (1902 –
Jose da Silva Carvalho (l823 Domingos Correia Arouca 1903).
– 1839). (1858? – 1861). Custodio Miguel de Borja
Manuel Gonçalves de Joao Maria Feijó (1861 – (1903 – 1904).
Miranda (1839 – 1841). 1884).
Antonio Bernardo da Costa Francisco Soares Franco
Cabral (1841 – 1846). (1884 – 1885).
Grão-mestres dissidentes da
Joao de Deus Antunes Pinto Grão-mestres da Maqonaria do Norte (1834-
(interino) (1846). Confederação Maçónica 1850)
Marcelino Maximo de Portuguesa (1849-1867)
Azevedo Melo (interino)
(1846 – 1847).
Antonio Bernardo da Costa
Cabral (1847 – 1849).
Marcelino Maximo de
Azevedo e Melo (interino)
(1849).
Grão-mestres do Grande
Oriente Lusitano Manuel da Silva Passos
Joao Gualberto de Pina
(1834 – 1850).
Cabral (1849 – 1851).
Unido (1869) Francisco Xavier da Silva Grão-mestres dissidentes da
Pereira (1851 – 1852). Maqonaria do Sul (1828-
Nuno Severo de Mendoça 1849).
Rolim de Moura Barreto Joao Carlos Gregorio
(1852). Domingos Vicente Francisco
Antonio Rodrigues Sampaio de Saldanha de Oliveira Daun
(1852 – 1853). (1828 – 1837).
Jose Antonio do Jose Liberato Freire de
Nascimento Morais Mantas Carvalho (interino) (1834 –
João Inacio Francisco de Paula (1853). 1835).
de Noronha (1869 - 1881). Nuno Severo de Mendonça Jose Manuel Inácio da Cunha
Miguel Baptista Maciel Rolim de Moura Barreto Faro Meneses Portugal da
(interino, efectivo) (1881 (1853 – 1862. Gama Carneiro e Sousa
José Elias Garcia (interino) António de Sousa de (1835 – 1836).
(1884 – 1886). Meneses (interino) (1862 – Luís Ribeiro Saraiva (interino)
António Augusto de Aguiar 1863). (1836 1040).
(1886 – 1887). Joaquim Tomas Lobo de Francisco António de
José Elias Garcia (interino, Avila (1863). Campos (1840 – 1849).
efectivo) (1887 – 1889). José Joaquim de Abreu
Carlos Ramiro Coutinho Viana (interino) (1864 –
(1889 – 1895j. 1866). Grão-mestres do Grande
Bernardino Luis Machado José da Silva Mendes Leal Oriente Lusitano
Guimarães (1895 – 1899). (1866 – 1867). (1859-1869)
Luis Augusto Ferreira de Grão-Mestres da Federaçao
Castro (1899 – 1906. Maçónica Portuguesa Joao Inacio Francisco de
Francisco Gomes da Silva (1863-1869) Noronha (1859 – 1869).
(interino) (1906-1907). José Elias Garcia (interino,
Grão-mestres da Grande Loja
Sebastiao de Magalhães Lima efectivo) (1863 – 1869). de Portugal
(1907 – 1928).
António Augusto Curson Grão-mestres do Grande (1893-1894, 1985-1986)
(interino) (1928 – 1929). Oriente Portugues
António José de Almeida (1867-1869)
(eleito) (1929). José da Silva Mendes Leal
Joaquim Maria de Oliveira (1867 – 1869).
Simões (interino) (1929 – Grão-mestres do Grande
1930). Oriente da Maçonaria
José Mendes Ribeiro Norton Eclectica Lusitana (1853 -
de Matos (1950 – 1935. 1896)e
Mauricio Costa (interino) Miguel António Dias (1853
(1935 – 1937). – 1875).
Filipe Ferreira (interino) Abilio Roque de Sá Barreto
(1937). (1875 – 1896). José Salgueiro de Almeida
Luis Gonçalves Rebordao (1893 – 1894).
Grão-mestres da Grande Fernão Vicente (1985 –
(interino, efectivo) (1937 –
Loja da Maçónaria 1986).
1975).
Luis Hernani Dias Amado Portuguesa do Norte Grão-mestres do Grande
(interino, efectivo) (1975- (1871?-1878?). Oriente Portugues
1981). "Gama" (1894-1895, 1908-1911)
Armando Adão e Silva «Correia Teles» (1894 –
Grão-mestres da Grande
(1981-1984) 1895).
Loja dos Maçõns
José Eduardo Simões Coimbra Francisco José Fernandes da
Antigos Livres e Aceites de
(1984 – 1988). Costa (1908-1911).
Portugal (1882-1885)
Raul da Assunção Pimenta
José Dias Ferreira (1882 –
Rego (1988-1990).
1885).
Ramon de La Feria (1990-
1994). Grão-mestres da Grande
João Rosado Correia (1994- Loja Fortaleza
1996) (1884-1886)
Eugénio de Oliveira (1996) César Augusto Falcao (?)
(1884 – 1886).

Grão-mestras da Grande
Loja Feminina de Portugal
(1997-)
Maria Manuela Cruzeiro
(1997 – ).
Grão-mestres da Grande
Loja Regular de Portugal
(1991-)

Fernando Teixeira (1991 –


Grão-mestres do Gremio 1996).
Luso-Escoces Luis Nandin de Carvalho
(1914-1926) (l996 – ).
Luis Augusto Ferreira de
Castro (l914 – 1926).
Grão-mestres da Grande
Loja do Distrito de Portugal
da Grande Loja Nacional
Francesa
(1990-1991)
Fernando Teixeira (1990 –
1991)

POTENCIAS SUPERIORES

Soberanos grandes comendadores do Soberanos grandes comendadores do


Supremo Conselho para o Grande Orieate Supremo Conselho para o Grande Oriente
do Rito Escoces (1841-1885) Lusitano (1843-)

Grão-mestres do Grande Oriente Lusitano


(l843 – 1846).
Grão-mestres do Grande Oriente do Rito José Joaquim de Almeida Moura Coutinho
Escoces (1841-1885). (interino) (1846-1847?).
António Bernardo da Costa Cabral (1847 –
1849).
Soberanos grandes comendadores do
Supremo Conselho para a Grande Loja Grão-mestres do Grande Oriente de Portugal
Provincial de Portugal da Grande Loja da (1849 – 1867).
Irlanda (1857-1872) Grão-mestres do Grande Oriente Português
Domingos Chiappori (1857 – 1872). (1867 – 1869).
Grão-mestres do Grande Oriente Lusitano
Unido (1869-1928)
Soberanos grandes comendadores João Carlos Alberto da Costa Gomes (1928
dissidentes do Supremo Conselho para o – 1929).
Grande Oriente de Portugal (1897-1904) Bernardino Luís Machado Guimarães (1929
Grão-mestres do Grande Oriente de – 1944).
Portugal (1897 – 1904). António Augusto da Veiga e Sousa (1944 –
1953).
Soberanos grandes comendadores
Grão-mestres do Grande Oriente Lusitano
dissidentes do Supremo Conselho para
Unido
o Gremio Luso-Escocês (1914-1951)
(1953-1977).
Luis Augusto Ferreira de Castro (1914 –
Adelino da Palma Carlos (1977 – 1981).
1925).
Carlos Ernesto de Sá Cardoso (1981 –
João Carlos Alberto da Costa Gomes
1982).
(1925 – 1926).
José Eduardo Simões Coimbra (1982 –
Luis Augusto Ferreira de Castro (1926 –
1984).
1931).
Raul da Assunção Pimenta Rego (1984 –
João Evangelista Pinto de Magalhaes (1931 1988).
– 1939). Adozmdo de Sousa Leite (1988 – 1991).
Carlos José de Oliveira (1939 – 1951). António Henrique Rodrigo de Oliveira
Presidentes do Soberano Grande Capitulo Marques (1991 – ).
de Cavaleiros Rosa+Cruz de Portugal
(1869-1935) Soberanos grandes comendadores do
Grão-mestres do Grande Oriente Lusitano Supremo Conselho para a Grande Loja
Unido Regular de Portugal(1993-)
(1869-1935).

José Eduardo Pisani Burnay (1993 –


1998).
José Carlos Nogueira (1998 – )

Grão-priores do Grande Priorado


Independente da Lusitania (1995-).
José Anes (1995 – ).

Grandes sumos sacerdotes do Supremo


GrandeCapitulo do Arco Real de Portugal
(1995-)

R. Amaral (1995 – 1996).


Fernando Teixeira (1996 – 1997).
José Vieira (1997 – ).

RITOS MAÇÓNICOS EM PORTUGAL: METODOS DE FUNCIONAMENTO


INICIATICO
Simultaneamente a introdução inglesa da Maçonaria em Portugal na primeira metade do
século XVIII o ritual em funcionamento efectivo no seio das lojas simbólicas começa a
apresentar determinadas características de especificidade litúrgica face a outras intervenções
não britânicas posteriores.

É assim que aos três graus simbólicos universais de aprendiz, companheiro e mestre
(complementado pelo de Arco Real) são sequentemente adicionados outros (no futuro
geridos por organismos soberanos a parte das lojas), constituindo ritos ou sistemas litúrgicos
distintos, veiculando tradições iniciáticas de origens diferentes, quer relacionadas com a
Historia e mitologia das Ordens medievais de cavalaria, quer com as antigas corporações de
artífices, quer ainda com outras confrarias herméticas ocidentais ou orientais, como a
Ordem Rosa+Cruz. Desta forma, a Maçonaria inglesa introduz em Portugal o seu Rito de
Iorque (surgido nas Ilhas Britânicas na primeira metade do século XVIII e aludindo
especificamente à mitologia arquitectónica da génese e funcionamento litúrgicos do Templo
de Salomão) e, no final do século, surge o Rito de Adopção, para funcionamento nas lojas
maçónicas femininas portuguesas (também de origem francesa setecentista e vigente até à
primeira metade do século XX). Com a aproximação civilizacional face a França e o
consequente afastamento progressivo do colonialismo britânico no inicio do século XIX, a
Maçonaria portuguesa introduz o Rito Adoniramita (criado no fim do século XVIII em
França pelo barão de Tschoudy e baseando-se na mitologia construtiva do Templo de
Salomão), que, aquando da génese do Grande Oriente Lusitano em 1802, e substituído
pela adopção oficial do Rito Francês ou )Moderno (igualmente surgido na mesma época,
sob o patrocínio oficial do Grande Oriente de França). Nas décadas de 1830 e 1840,
introduz-se em Portugal o Rito Escocês Antigo e Aceite (fundado nos Estados Unidos da
América em 1801, com base na pretensa organização do rei Frederico II o Grande da
Prússia, de síntese litúrgica da diversidade de altos graus arquitectónicos e cavalheirescos
dirigentes no Ocidente no fim do século XVIII, que adquire uma clara predominância
hegemónica sobre os outros desde meados do século XIX – radicando, de certa forma, no
funcionamento em Lisboa de um antecessor directo, o Rito de Heredom e Kilwinning
(originado em França na mesma época), de 25 graus, apenas durante alguns anos ainda
antes da fundação do Grande Oriente Lusitano. Na segunda metade do século, surge o Rito
Ecléctico Lusitano (criado com elementos comuns sintetizados do Rito Francês ou Moderno
e do Rito Escocês Antigo e Aceite, baseados nos valores simbólicos do Cristianismo
hermético e no liberalismo social – representado na cruel execução do general Gomes Freire
de Andrade, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano em 1817), em sete graus e com total
independência institucional nacional.

Actualmente, com a criação de outras Obediências maçónicas em Portugal nas décadas de


1980 e 1990, cumpre destacar essencialmente a reintrodução do Rito de Iorque e a
implantação do Rito Escocês rectificado (surgido em França e na Alemanha no fim do século
XVIII por transmissão de linhagens iniciáticas maçónico-templárias alusivas à mitologia
cavalheiresca).

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