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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Ano lectivo 2016/2017

O Mar nos seus aspectos económicos na Eneida

Vasco Henriques – nº149283

Antiguidade Pré-Clássica

Prof: Nuno Simões Rodrigues


Introdução

O mar na Eneida, obra maior de Virgílio, no século I a.C. que marcou, sem margem
para qualquer tipo de dúvidas, um ponto de viragem na concepção de cultura latina no
singular Império Romano, sendo singular sem dúvida a própria origem da obra.
Foi encomendada a Virgílio, por parte de Octávio Augusto, de modo a que se fosse
cantado nesta obra a grandeza dos feitos do povo Romano, e também de dar a ver ao
resto do mundo a pureza da raça dos homens de Roma, como imediatos descendentes de
uma civilização sobejamente conhecida e admirada como tinha sido Tróia, do qual o
herói de toda esta epopeia é natural.
Ao longo de todos os doze cantos que esta obra possui, além do facto de ser
extremamente semelhante na sua constituição, quer seja pela construção frásica, do
poema, tendo a mesma estrutura da Odisseia de Homero, quer seja pelo facto de
também se situar temporalmente, a in media res, como a epopeia homérica, pode-se
igualmente fazer notar que a primeira metade é uma equiparação senão mesmo uma
tentativa de elevação da epopeia da Eneida em relação à da Odisseia.
O Mar nos seus aspectos económicos na Eneida

O papel do mar na epopeia de Virgílio, tal como na epopeia de Homero, tem um papel
não só simbólico, pois muitas vezes a sua presença altera a próprio psicológico das
personagens da mesma, mas surge em segundo plano, logo nos episódios inicias da
obra, a sua importância económica, e consequentemente estratégica e cultural.

O destino final da personagem principal, Eneias, após ter conseguido escapar de uma
cidade de Tróia em chamas, e mesmo tendo chegado a ver com os seus olhos a morte de
Príamo, rei de Tróia, e mesmo trazendo consigo parte da sua familía, sendo
famosissímo o facto de o ter feito com o seu próprio pai, Anquines, às costas,
demostrando porventura a bravia, que os próprio Romanos atribuiam aos seu feitos, era
partir de Tróia até o Lácio, território de onde um dia seria Roma.

Eneias, filho da deusa Vénus, a quem foi profetizado que fundaria uma nova nação,
teve uma saída da sua terra natal bastante penosa, e penosa também foi grande parte da
sua viagem, que teve a duração de cerca de sete anos (um número a quem os Romanos
lhe reconheciam como o número da sorte), muito devido a deusa Juno, que tinha um
ódio imenso aos Troianos, por Páris, o amado de Helena, ter escolhido Vénus como a
deusa da beleza ao invés desta, e por isso, além do seu receio de um dia Eneias poder vir
a derrotar os seus protegidos, os Cartagineses, que vêm a ter um papel chave em relação
ao mar, como símbolo e mesmo a descrição das suas actividades comerciais.

Coisa que acontece, depois de Eneias por entre bastantes obstáculos como ventos,
furacões como que revelando que para os Romanos a zona do Mar Egeu, ou seja toda a
parte Oriental do Mediterrâneo era uma zona de mar intranquilo e em convulsões e
atritos entre os seus habitantes, caso paradigmático que é a guerra de Tróia, que levou à
destruição da cidade.

Tudo isto, até dar-se o momento da chegada a Cartago, e aquando da sua chegada,
Eneias, é informado por Vénus disfarçada de caçadora, que ele havia chegado ao
território dos Cartagineses, liderados por uma rainha extremamente bela, Dido, e é
também precisamente no momento da chegada de Eneias a Cartago, que vemos uma
descrição por parte de Vergílio do que estava a acontecer em Cartago, que pode muito
bem ser uma representação do autor retirada a partir dos factos históricos sobre Cartago,
o porto desta cidade onde os seus trabalhadores são descritos como “Assemelhavam-se
às abelhas que, ao Sol do Verão, saem pelos campos floridos à frente dos enxames e,
todas juntas, realizam mais uma vez aquelas tarefas antigas como o mundo, colhendo o
doce néctar e enchendo os seus favos até transbordarem com o fino suco das flores. Não
há qualquer descanso para aquelas operarias aladas até o fim do estio, quando as
colmeias estão cheias de mel grosso, perfumado e doce.” aos olhos de Eneias, que ao
qual se pode retirar que era um local de verdadeira azáfama comercial e cultural nesta
região do Norte de África, de onde vinham produtos de toda a parte de África e com a
ilha de Sicília nada longe, seria difícil a cidade de Cartago ser de facto um pólo
comercial de grande empreendimento no séc. I a.C.
Logo após esta descrição, Eneias observa no templo, que era o centro da cidade e por
onde este esperava por Dido, um fresco respresentado a batalha que ele mesmo havia
visto com os seus olhos, a guerra de Tróia, que não só demonstra que as civilizações da
Antiguidade Clássica não só comunicavam entre si, como também davam especial
relevo a acontecimentos de natureza histórica, e este contacto entre civilizações por todo
o Mediterrâneo aconteceria através do comércio e das rotas marítimas inerentes.
Entretanto, a epopeia continua com a recepção de Dido a comitiva de Eneias, e onde
este lhe conta todo o seu percurso até ao momento, inclusive a narração do episódio do
“Cavalo de Tróia” de Ulisses e a consequente queda de Tróia à rainha Cartaginesa.
Só após o suicídio de Dido, devido a um amor não permitido por Júpiter, mas a que a
rainha pensou ter sido não correspondido, é que o mar reentra na epopeia, estando ele
“Mais uma vez escurecia o céu e chegavam as trevas e as águas agitavam-se.”,
revelando novamente a coragem de Eneias a enfrentar o mar tenebroso, de forma a se
escapar de Cartago e chegar a Sicília para a realização de jogos fúnebres em honra de
Anquises, seu pai.
Por ultimo, a representação final do mar acontece no momento da chegada ao Lácio de
Eneias, “Já o mar se avermelhava com os raios do Sol e, elevada ao éter, a dourada
aurora surgiu no seu coche cintilante, quando os ventos amainaram e toda a brisa cessou
repentinamente.” À chegada deparam-se com a foz do Tibre, que por Tiberino, deus do
rio que aparece em sonhos a Eneias e afiança-lhe que nas margens dele mesmo, esta irá
erguer e forte nação.
E é este facto de ser localizado junto ao rio e ao mar que fez com que Roma viesse a ser
uma das mais tremendas civilizações da história da Humanidade, pois estava em
contacto com o resto do Mediterrâneo, o centro do mundo na Antiguidade Clássica.
Conclusão

Como na Odisseia, de Homero o papel do mar na obra de Virgílio, é tido tanto como
cenário e fio condutor da acção da epopeia, mas como revelador das actividades
económicas, como também culturais e religiosas das civilizações clássicas.
O mar compõem o fatum a que Eneias está destinado, faz-lhe passar por sofrimento e
perda de todas as ligações que tinha com o seu passado, no entanto, é o mar que lhe
revela os fins de todo esse mesmo sofrimento, que acaba por demonstrar indirectamente
que o destino dos Romanos não era de maneira nenhuma determinado pelos deuses, ao
qual os marcos simbólicos como a rainha Dido, a tentar atrair Eneias para longe do
Lácio com a sua paixão, como o próprio Turno que simboliza o que Roma era antes de
ser “Roma”.
Os Romanos vêem em Eneias uma descendência mítica, juntando-se assim ao mito da
fundação de Roma por Rómulo e Remo, enquanto que toda a epopeia em si simboliza o
poder do Império Romano comandado por Augusto.

Bibliografia

VIRGíLIO, Eneida. Trad. Luis Cerqueira, Ana Alexandra Alves de Sousa, Cristina Abranches
Guerreiro. Lisboa, Bertrand Editora, 2011.

VIRGíLIO, Eneida. Publicações Europa-América, 1995

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