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● Elster Jon. Peças e Engrenagens das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
1994. Parte Um- Introdução- e Parte Dois – Ação Humana: Desejos e oportunidades,
Escolha racional, Quando a racionalidade falha págs. 13-59.
● Elster Jon. Peças e Engrenagens das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Relume Dumará 1994.
Parte Três- Interação-, págs. 113-160
Um dos mais flagrantes exemplos desse non sequitur ocorre nas discussões sobre
o "problema do carona" e sua suposta solução: a oferta governamental dos
chamados "bens públicos".[3] Essa é uma teoria particularmente insidiosa e
responsável em grande parte por arruinar a ciência econômica, jogando-a no fosso
do estatismo.
O "problema" do carona
O "problema do carona" ocorre em situações nas quais uma pessoa extrai uma
"externalidade positiva" das ações de terceiros — isto é, um benefício pelo qual ela
não pagou. Isso ocorre em situações em que o efeito benéfico de uma ação é "não
excludente", o que significa que pessoas que nada têm a ver com a ação não
podem ser impedidas de usufruir esses benefícios.
Observe que essa situação não gera danos a ninguém, muito menos qualquer
violação de direitos. O apicultor opta por comprar abelhas porque espera ficar em
melhor situação em decorrência de sua ação. Ademais, como consequência
involuntária dessa sua compra, os donos das propriedades adjacentes usufruirão o
benefício trazido por essas abelhas, a custo zero. Isso pode parecer um evento
fortuito — até mesmo algo a ser celebrado.
Para ilustrar como as coisas poderiam ser melhores, considere novamente nosso
apicultor e seus vizinhos. Se o apicultor possuísse algum meio de impedir que os
proprietários adjacentes se beneficiassem de suas abelhas, sem que isso
diminuísse seu próprio desfrute, então ele seria capaz de negociar com eles um
pagamento por esse benefício. Dado que agora ele poderia extrair um ganho
adicional de suas abelhas — o pagamento —, ele teria um incentivo para
cultivar ainda mais abelhas, beneficiando tanto a si próprio quanto a seus vizinhos
em um grau ainda maior. Tampouco seria isso um jogo de soma zero. Mais
especificamente, sob certas condições[5], haverá um determinado nível de
pagamento em que os proprietários adjacentes serão indiferentes entre a situação
excludente e a não excludente, ao passo que o apicultor estaria comprovadamente
melhor — isto é, haveria um ganho Pareto Eficiente.[6]
Talvez, na nossa situação do apicultor, há algum arranjo que possa ser feito entre
o apicultor e seus vizinhos de modo que todos fiquem mais felizes. Ou talvez não
haja. Um modelo matemático pode jogar luz sobre essa questão e pode até ser
usado para convencer o apicultor e seus vizinhos dos méritos de um determinado
arranjo. Essa seria uma decisão empreendedorial, a qual não envolve coerção
contra qualquer um dos lados envolvidos. Uma coisa é propor um arranjo
voluntário tendo por base uma análise matemática idealizada. Outra, totalmente
distinta, é propor um arranjo coercivo sob o qual as curvas de utilidade inventadas
por economistas podem sobrepujar as preferências reveladas dos agentes
envolvidos.
Mesmo se não tivermos objeção alguma à coerção per se,[9] ainda assim há fortes
motivos econômicos para rejeitar "soluções" coercivas para qualquer suposto
problema de ineficiência em decorrência de um "carona". Dado que um arranjo
empreendedorial não envolve coerção contra qualquer um dos agentes envolvidos,
ele garante que todos os lados irão usufruir ganhos ex ante. Entretanto, não
existe tal garantia sob um arranjo coercivo, e não faz sentido supor que o governo
é capaz de determinar arranjos em que haverá ganhos Pareto Eficientes de uma
maneira melhor do que aquelas pessoas que de fato podem ganhar com esses
arranjos. Com efeito, argumentos utilizados pela teoria de escolha pública — para
não falar das nossas reais experiências com a oferta estatal de bens e serviços —
nos dão todos os motivos para crer que ao menos alguém sairá prejudicado.
Portanto, mesmo se houvesse algum arranjo que pudesse ser acordado entre os
agentes de modo a afetar tal ganho de eficiência, de maneira alguma poder-se-ia
concluir que tal arranjo tem de envolver a oferta governamental de bens ou
qualquer outra medida coerciva.[10] Ao contrário, isso é o oposto do que
deveríamos esperar. Se todos os agentes podem ganhar, então não há motivos
para imaginar que haja necessidade de coerção; e há todos os motivos para se
esperar uma solução empreendedorial (isto é, não coerciva). De fato, há uma
contradição fundamental entre o critério da eficiência de Pareto e o uso da força
contra aqueles a quem se quer o "bem", aqueles a quem queremos "melhorar a
situação".
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Notas
[2] Isso não dever ser tomado como uma sugestão de que a economia não deve
ser uma ciência livre de juízo de valor. Antes, é uma sugestão de que a economia
deveria ser correta, e que, se ela for, ela irá certamente promover a liberdade
individual em detrimento da coerção estatal.
[3] Para uma refutação da falácia da teoria econômica dos "bens públicos", ver
Hoppe, H.H. (1989) "Fallacies of the Public Goods Theory and the Production of
Security". The Journal of Libertarian Studies 9(1). Hoppe resume a situação da
seguinte forma:
Apesar de seus vários seguidores, toda a teoria dos bens públicos é constituída de
um raciocínio barato e errôneo, infestado de inconsistências internas, non
sequiturs, recorrendo a preconceitos populares e crenças presumidas, porém sem
absolutamente qualquer mérito científico. (p. 27)
[4] Similarmente, os donos de propriedades adjacentes podem plantar flores em
seus jardins unicamente pelo benefício estético que elas propiciam. Entretanto,
como um efeito subsidiário — outra externalidade —, o apicultor irá se beneficiar
da maior oferta de flores para suas abelhas polinizarem.
[5] Tais como a ausência, ou pelo menos um baixo nível, de custos de transação.
[6] Um ganho Pareto Eficiente é aquele no qual pelo menos uma pessoa melhora
sua situação e nenhuma outra fica pior em decorrência disso.
Você, gentil leitor, nunca me contratou como consultor econômico. Você não se
aproveitou dessa maravilhosa oportunidade aberta para você. Entretanto, saiba
você ou não, esteja você a par ou não, goste você ou não, o fato é que você se
beneficia das minhas análises econômicas. Você é, portanto, um caroneiro
egoísta e trapaceiro, que se aproveita desses benefícios multifacetados que há
muito venho lhe fornecendo, e tudo gratuitamente. Mas agora chegou a hora de
impedi-lo de continuar me explorando em relação a esses ganhos externos que
você usufruiu durante muitos anos gratuitamente. Chegou a hora de você pagar
um preço justo! Conformemente, venho por meio deste apresentar-lhe uma conta
no valor de $100.000, uma barganha.
Ver Hoppe, H.H. (2003) The Myth of National Defense: Essays on the Theory and
History of Security Production, p. 310.
O conflito entre o que é bom para o indivíduo e o que é bom para o grupo, deixa claro a presença do
"caroneiro" que podemos definir como indivíduo que desfruta de bens coletivos providos pelo
esforço de terceiros, sem contribuir com esforço ou recurso algum.
Assim, é verificado que a solução para o sucesso na promoção de bens públicos é induzir as pessoas
a contribuírem para a criação de benefícios coletivos. Em outras palavras, um "arranjo
institucional", "regras para regular" a provisão do bem público, apresentam-se fundamentais para tal
objetivo. Como exemplo, os modelos referentes propõem a oferta de "incentivos seletivos", ou seja,
concessão de benefício, de forma a promover a provisão e produção, contribuindo para a correção
de tal problema.
Em termos gerais, a solução para o "problema do caroneiro" e da "provisão de bens públicos" seria
a construção de instituições que reduzam os problemas de coordenação, cooperação e comunicação
entre os atores envolvidos.
A elevação dos preços internacionais de petróleo poderia ser considerada como um bem público
para os países membros da OPEP. Os preços eram não excludentes, pois eram os mesmos para todos
os produtores de petróleo. Os preços também eram não rivais, porque compartilhados por todos os
produtores.
A estabilidade da coalizão dependeria da disciplina de cada país em não elevar a sua cota. Mas,
considerando a forte elevação nos preços, como manter essa situação estável? Como manter a
coalizão coesa e unida? Como garantir que um país, isoladamente, aproveitando o preço alto, não
resolva produzir acima da sua cota?
O problema da ação coletiva se manifestou nesse caso e alguns países acabaram pegando uma
carona, elevando sua cota e os preços caíram. Em suma, atores políticos devem ser instigados para
agirem no sentido de viabilizar a provisão desses bens públicos. Mas que incentivo os atores
políticos teriam para se mobilizar para a provisão de bens públicos? Será factível encontrar na
sociedade grupos e coalizões que defendam e suportem a provisão de bens que são sujeitos ao
problema do caroneiro?
Muitos bens públicos, sob a ótica do consumo, são produzidos por empresas privadas. Considere,
por exemplo, o caso de obras públicas (saneamento, usinas elétricas, redes de transmissão de
energia e telefonia, rodovias, pontes, aeroportos, etc.). A maioria dessas obras é financiada pelo
governo, mas produzidas por empresas privadas (empreiteiras) que, no caso brasileiro, são
altamente eficientes e politicamente ativas.
Muitas das obras públicas são motivadas pela influência e interveniência dessas empresas, e não
pelos problemas de ação coletiva que decorrem do "consumo" desses bens. Portanto, a produção e o
consumo de bens públicos envolvem processos diferentes, que seguem lógicas distintas e que não
são, necessariamente, regidos pela lógica da ação coletiva.
Se os grupos que controlam a oferta de bens públicos são considerados "Grupos de Interesse"
podemos considerar os que consomem como "Grupos Consumidores", portanto a lógica na provisão
de bens públicos segue as pressões da oferta e não da demanda.
Referências bibliográficas
OLIVEIRA, Amâncio Jorge, ONUKI, Janina & NETO, Manoel Galdino Pereira. Revista
Brasileira de Informação Brasileira em Ciências Sociais - IBI
O kapital está em função da dominação. (não ha processo econômico que não conduza as formas
de dominação social)
Slide 1 e 2
corpo/espirto
slide3
moralidade na vida social isso se revela de forma diferente em diferentes tipo de sociedade
tripé de Mauss doar-receber-retribuir
drama do prisioneiro