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Arquitetura do Séc.

XIX – 2018-2019
Docente: Ricardo Costa Agarez
João Manuel Mota Martins Serra (Número do aluno), ‘Exercício 1 da UC ‘Arquitetura do Século XIX’
Ficheiro de Leitura Ficha nº 01

Autor(es) Assunto

Watkin, David The Rise of Neoclassicism


in France
Título, etc.

A History of Western Architecture


(Aldershot: Ashgate, 2005), 391- 410

Notas de leitura
Segundo o historiador David Watkin, o neoclassicismo surge como uma reação ao estilo

barroco tardio e rococó. O Petit Trianon projetado pelo arquiteto francês Ange-Jacques Gabriel,

durante o reinado de Luís XV, é um excelente exemplo da transição do estilo rococó para o

estilo arquitetónico neoclássico, já que foi encomendado pelo rei como um lugar onde ele e sua

amante, Madame de Pompadour, poderiam estar sozinhos e contemplar a vida pastoral da

fazenda vizinha, evidenciando já um afastamento da etiqueta barroca da vida da corte no

castelo de Versalhes e no Grande Trianon. O exterior do castelo é elegante mas simples e a

sua originalidade é atribuída às suas quatro fachadas, cada uma projetada de acordo com a

parte da propriedade onde está localizada. A ordem das colunas coríntias é a característica

decorativa dominante do castelo, com dois pilares destacados e dois semi-separados ao lado

do jardim francês formal, com as pilastras voltadas para o pátio e para a área anteriormente

ocupada pelas estufas de Luís XV. Os espaços interiores foram distribuídos de acordo com a

sua função e não tanto segundo as exigências estéticas da simetria. O exterior é muito

simplificado e livre de excessivas decorações, sendo definido por um rígido sistema de

grandes aberturas envidraçadas.

Uma nova fase na história do Petit Trianon teve início quando Marie-Antoinette toma posse do

Petit Trianon, em 1774, após a morte de Luís XV. Com a ajuda do seu jardineiro, Antoine

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Richard e do seu arquiteto, Richard Mique, começou a remodelar completamente os jardins

substituindo-os por um vasto jardim inglês, mais de acordo com os gostos contemporâneos.

Por esta altura já estava sedimentado o conceito de “jardin anglais”, amplamente disseminado

pela Europa e desenvolvido pelos ingleses. Neste modelo, a rigidez barroca do jardim francês

é substituída pela busca de ambientes naturais.

Esta procura de naturalidade aparente e simplicidade surgiu, no início do século, pela mão de

uma sucessão de teóricos da arquitetura, como é o caso de Michel de Fremin, Jean-Louis de

Cordemoy e Marc-Antoine Laugier. Cordemoy substituiu os atributos vitruvianos da arquitetura

por três características: ordem, distribuição e conveniência. Preocupava-se, sobretudo, com

uma proporção correta do clássico e com a pureza geométrica, acreditando que as

construções não pediam ornamento. Laugier reinterpretou Cordemoy e propôs como

arquitetura universal a “cabana primitiva”, a qual consistia em quatro troncos de árvore que

sustentam um telhado rústico e em colunas o mais possível fechadas por vidros. O grego

dórico foi assim revestido de uma simplicidade primitiva em sintonia com o funcionamento da

própria natureza.

Um dos arquitetos do século XVIII mais considerados, por impulsionar a criação de uma nova

arquitetura, clássica, racional e reformada, foi Jacques-Germain Soufflot, cuja obra de maior

destaque foi a igreja de Sainte Geneviève. Em 1755, por recomendação de Marigny, o projeto

de uma grande igreja dedicada ao santo padroeiro de Paris, Ste-Genevieve, é encomendado

ao arquiteto Jacques-Germain Soufflot por Louis XV. Soufflot aproveitou a ocasião para

projetar uma igreja revolucionária, nada semelhante aos edifícios de Paris do século anterior,

enfatizando os ideais intelectuais e visuais de teóricos como Perrault, Cordemoy e Laugier e de

outros arquitetos oriundos da Academia Francesa de Roma como Le Lorrain e Petitot. Era para

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ser construída no novo estilo neoclássico - uma decisão ousada na época. Os contemporâneos

foram aplaudiram Soufflot pela ousada combinação do grego e do gótico, do antigo e do

moderno, da razão e do pitoresco. O edifício, em forma de cruz grega, possui vinte e duas

colunas em estilo coríntio e é coroado por uma cúpula de oitenta e três metros de altura, com

um lanternim no topo. A estrutura do edifício tenta reproduzir a pureza e a magnitude das

construções gregas. A forma como copiou os detalhes clássicos num novo contexto foi o que

caracterizou a construção como neoclássica. As fundações começaram a ser escavadas em

1758 mas, devido a dificuldades financeiras e à morte de Soufflot em 1780, a sua construção

foi adiada. Foi finalmente retomada por um associado de Soufflot, Jean-Baptiste Rondelet, em

1791, sendo laicizado pelos movimentos revolucionários burgueses, transformando-o em

Panteão Nacional. Na década seguinte à construção de Ste-Genevieve, três novas igrejas

reuniram em menor escala muitos dos ideais racionalistas de Perrault, Laugier e Soufflot.

Projetadas por arquitetos da Academia Francesa de Roma, elas são: St Louis em St Germain-

en-Laye, St Symphorien em Versailles e St Philippe du Roule em Paris.

Depois de Soufflot, Marie-Joseph Peyre (1730 a 1785) foi um dos arquitetos que exerceu maior

influência na ascensão do neoclassicismo do século XVIII. O seu objetivo era promover uma

nova arquitetura monumental inspirada nos protótipos antigos, com inúmeras colunatas

simétricas, cúpulas e pórticos. Além do Teatro de l'Odeon, em Paris, Peyre pouco construiu de

relevante. No entanto, o seu projeto mais notável, embora não executado, para um palácio

destinado ao príncipe de Condé, primo de Luís XV, inspirou o Hotel de Salm, construído no

início da década de 1780 por Pierre Rousseau para o príncipe Frederico de Salm-Kyrberg. O

portal em arco de triunfo e o peristilo inspiraram-se no projeto de Marie-Joseph Peyre de 1763

para o Hôtel de Condé. Peyre projetou o tradicional hotel parisiense ou casa de cidade, em

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torno de um pátio, com a dignidade e o esplendor da arquitetura pública romana antiga.

Aclamado como uma obra-prima do classicismo por muitos contemporâneos, este

impressionante edifício foi descrito por Peyre como um "monumento [que] anunciava um

templo mais do que qualquer uma das nossas igrejas" (Peyre, A.-F. 414).

O teatro construído entre 1772 e 1780 por Victor Louis, na cidade de Bordeaux, foi outro

edifício muito admirado. Construído em pedra, o material de construção mais nobre, este

grande salão quadrado tinha o primeiro piso aberto com colunatas e a sua abóbada de guarda-

chuva de alvenaria é uma variação neoclássica da tradição das escadarias de pedra

renascentistas e barrocas, na França dos séculos XVI e XVII. Foi projetado como um reino da

arte e da luz e possui uma fachada dotada de um pórtico com doze colunas de ordem coríntia

que sustentam um entablamento coroado por doze estátuas, represetando as nove musas e as

três deusas. O design do teatro era inovador, devido ao ênfase que Louis deu aos espaços de

escada e circulação, de modo a criar um espetáculo dramático, mesmo antes de o auditório ser

atingido. Esta inovação não só modificou o conceito de escadaria do século XIX como

influenciou Marie-Joseph Peyre e Charles de Wailly que expressaram ideias semelhantes na

construção do Teatro Frangais, mais tarde, de l'Odeon e agora de France.

De Wailly demonstrava interesse na recente pesquisa arqueológica, como pode ser visto nas

colunas de revivalismo grego do Hotel de Voyer, mas continuava ligado ao drama barroco, o

que se pode comprovar pelas colunas, arcos abobadados e espelhos no seu grandioso salão

no Palazzo Spinola em Génova. Os dois elementos juntam-se no seu castelo em Montmusard

perto de Dijon, construído entre 1764 e 1772 para o Marquês de la Marche. Montmusard é um

dos edifícios mais pitorescos e clássicos da França, pois projeta da sua fachada de entrada

uma colunata semicircular aberta. Este foi reivindicado como o primeiro edifício secular, na

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França do século XVIII, a ser considerado como um templo. O tipo de complexidade

característica de Montmusard foi demonstrado na construção da sua própria casa, um palácio

associado apenas a nobres e financistas. Assim, por volta de 1770, a casa parisiense

tradicional foi revolucionada e De Wailly, com a sua imaginação, essencialmente, pictórica,

pôde dar nova vida aos motivos associados aos banhos e vilas da antiga Roma.

A ingenuidade, a surpresa e a quase assimetria que caracterizam a casa de Wailly foram

algumas das principais qualidades do movimento Pitoresco, especialmente expressas no

design de jardins. Jean Jacques Rousseau argumentou, nos seus dois volumes de Discours

publicados em 1750 e 1754, que o homem era originalmente livre, virtuoso e feliz, mas

corrompido pela sociedade e pela vida na cidade, fazendo, desta forma, um apelo lírico e

sentimental para o homem retornar a uma vida simples, em harmonia com a natureza. O

arquiteto tornara-se um visionário que poderia criar um novo mundo ou um padre que poderia

mudar o coração dos homens, um papel perigoso, que apenas foi conseguido pelo arquiteto

mais prático e mais ambicioso do século XVIII, Claude-Nicolas Ledoux. Além de projetar

inúmeras casas da cidade com uma elegância extrema e um pequeno número de castelos, foi

também responsável por um célebre teatro em Besançon, a Salina Real de Arc-et-Senans, a

prisão de Aix, os portões da cidade ou as portagens de Paris, e um projeto visionário para uma

cidade em Chaux. Ledoux era diferente devido à sua originalidade arquitetónica, à sua

dependência das evocações da antiga Roma e à sua sensibilidade à natureza.

Situada nos arredores de Besançon, no Franco-Condado, a salina real de Arc-et-Senans é

considerada a obra-prima de Claude-Nicolas Ledoux e a primeira grande obra de arquitetura

industrial. Propõe a autonomia dos elementos volumétricos, o sistema de pavilhões, que não

são partes, porém elementos independentes. A parte é livre no marco definido como todo.

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Ledoux cria um projeto com uma geometria implacável: o recinto é organizado ao redor de uma

imensa região quadrada. As diferentes construções são dispostas segundo pontos de vista

prático, ao redor desta região central, ligadas por pórticos. Assim, temos algo como se fosse

uma única construção. As construções possuem várias colunas, fazendo com que as galerias

cobertas fiquem apoiadas por colunas dóricas.

Para David Watkin, o Neoclassicismo refuta a ornamentação exuberante da arquitetura do

barroco tardio e dedica-se à projeção de vários edifícios públicos, inspirados pelas antigas

construções da Roma antiga. Um dos expoentes desse movimento é, certamente, Ledoux, que

alcançou a pureza máxima em termos de aplicação dos princípios neoclássicos. Ledoux

afirmou: “O homem se aperfeiçoa pelas suas próprias sensações” (JACQUES;

MOUILLESEAUX, 1988, 14).

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