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ARTIGO TÉCNICO

GERENCIAMENTO DE PNEUMÁTICOS INSERVÍVEIS (GPI):


ANÁLISE CRÍTICA DE AÇÕES INSTITUCIONAIS E TECNOLOGIAS
PARA MINIMIZAÇÃO

PNEUMATIC SOLID WASTE: CRITICAL ANALYSES OF INSTITUTIONAL ACTIONS


AND TECHNOLOGIES FOR WASTE MINIMIZATION

MARLY ALVAREZ CIMINO


Arquiteta pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos/ UNISANTOS. Pós-Graduada em Gestão e Controle
Ambiental pela UNISANTA. Especialista em Engenharia Urbana pela UFSCar. Mestre em Engenharia Urbana pela UFSCar.
Arquiteta do Departamento Consultoria Técnica, da Empresa de Economia Mista do Município de Santos,
Progresso e Desenvolvimento de Santos S. A – PRODESAN S.A

VIVIANA MARIA ZANTA


Engenheira Civil - ênfase Engenharia Urbana pela UFSCar. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela EESC. Doutora em
Engenharia Área de Concentração em Hidráulica e Saneamento pela EESC/ USP. Doutora pela EESC/ USP. Prof. Adjunta
do Departamento de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. Professora Credenciada
nos Programas de Pós Graduação de Engenharia Urbana (PPGEU) da UFSCar e do Programa de Mestrado em
Engenharia Ambiental Urbana (MEAU) da UFBA

Recebido: 04/01/05 Aceito: 27/09/05


RESUMO ABSTRACT
No Brasil, a disposição final inadequada de pneumáticos In Brazil, the improper final disposal of useless tires has created
inservíveis gera problemas ambientais de grandes proporções, significant environmental harm, mainly to the urban centers,
principalmente, no meio ambiente urbano, tornando-se neces- making necessary the minimization of this type of materials. Based
sária a minimização destes inservíveis. Nesse contexto, este traba- on that, the objective of this article is to analyze the current
lho objetiva analisar criticamente as ações institucionais existen- institutional actions, as well the technologies and its applications
tes, bem como, as tecnologias e usos que vêm sendo adotados no that are being used in the country, after CONAMA nº 258/99 and
território nacional, após a instituição das Resoluções CONAMA 301/02 resolutions implementation. This analysis has demonstrated
nº 258/99 e 301/02. A partir desta análise, constata-se a neces- that improvements are mandatory in several aspects, such as regarding
sidade de maior articulação entre os segmentos envolvidos, da the integration among the involved players, the enlargement of
ampliação dos programas existentes e de investimentos em novas actual programs and the investments increase on new technologies
pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias para a in order to reduce the useless tires disposal and, therefore to avoid
minimização destes resíduos de modo a não transferir às futuras environmental problems for the future generations.
gerações os problemas que atualmente são enfrentados.

PALAVRAS-CHAVES: Pneumáticos inservíveis, gerenciamento KEYWORDS: Tire waste, solid waste management, solid waste
de resíduos sólidos, minimização de resíduos sólidos. minimization.
INTRODUÇÃO Visando enfrentar os danos causa- do produto, reduzindo a extração de re-
dos pelos impactos ambientais gerados cursos naturais, bem como maximizando
No Brasil, o gerenciamento adequa- pelos resíduos sólidos, principalmente a vida útil dos aterros sanitários (D’Almeida
do dos resíduos sólidos urbanos constitui os decorrentes de sua disposição final ina- & Vilhena, 2000; Jardim et al, 1995).
um dos grandes desafios enfrentados pe- dequada, vem sendo adotada à mini- Dessa forma, a minimização de resí-
los municípios devido aos aspectos sani- mização de resíduos sólidos urbanos duos sólidos urbanos, associada à preven-
tários, ambientais e econômicos envol- originada da iniciativa da United States ção, são prioridades máximas na elabora-
vidos. Enviromental Protection Agency (USEPA – ção de qualquer plano de gerenciamento
O atendimento às necessidades de a agência de proteção ambiental dos Es- ambientalmente adequado (Comissão
um modo de vida urbano predatório, tados Unidos), denominada PPP – Européia, 2000).
devido ao consumismo desenfreado, acar- Prevention Pollution Program (Güunther, Em linhas gerais, as medidas visan-
reta a extração da matéria-prima para a 2000). do a minimização requerem uma signifi-
fabricação de um bem, até o respectivo Alguns exemplos de medidas de cativa mudança de comportamento, tan-
descarte como resíduo sólido, sem respei- minimização são a redução na fonte gera- to em nível de processo industrial e ges-
tar a capacidade de suporte do meio am- dora, o reuso dos materiais e a reciclagem, tão do produto quanto do consumidor
biente. que visam à ampliação do ciclo de vida (Zanta, 2001).

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Cimino, M. A. & Zanta, V. M.

O caso dos pneumáticos inservíveis coleta e disposição final, por meio das A utilização de pneus trouxe consi-
dispostos inadequadamente em logra- Resoluções CONAMA nº 258/99 e go a problemática do impacto ambiental
douros públicos ou terrenos baldios re- 301/02, regulamentadas pela Instrução proveniente de seu descarte, em função
quer uma atenção especial, pois, além Normativa nº 8/02 do IBAMA. de seu formato e durabilidade, uma vez
desses materiais constituírem um passivo Esta pesquisa objetivou analisar cri- que a maior parte dos pneus inservíveis
ambiental, são expressivos componentes ticamente as ações institucionais para mini- descartados é relegada a locais inadequa-
na geração de resíduos sólidos resultando mização que vem sendo adotadas pelos seg- dos, causando grandes transtornos para a
em sério risco à saúde pública, pois po- mentos de produção e importação de saúde pública e à qualidade de vida hu-
dem servir de criadouros para micro e pneus com base no estabelecido pelas Re- mana.
macro vetores, ou, ainda, serem queima- soluções CONAMA para o gerenciamento Considera-se como pneumático
dos a céu aberto, liberando carbono, de pneumáticos inservíveis, GPI. inservível “... aquele que não mais se pres-
dióxido de enxofre e outros poluentes Espera-se que esta análise subsidie o ta a processo de reforma que permita con-
atmosféricos (D’almeida & Sena, 2000; aprimoramento do GPI, bem como, possa dição de rodagem adicional, conforme
Melo, 1998; Costa et al, 2000). contribuir para o processo de revisão da código 4012.20 da Tarifa Externa Co-
Acrescenta-se, a isso, o fato de que Resolução CONAMA nº 258/99 previs- mum – TEC” (BRASIL, 1999; BRASIL,
cada pneu, quando queimado, libera cer- ta para o ano de 2005 (BRASIL, 1999). 2003).
ca de dez litros de óleo que podem Conforme a NBR 10.004 da Asso-
percolar pelo solo até atingir a água do METODOLOGIA ciação Brasileira de Normas Técnicas
subsolo, contaminando-a. Ainda, quan- (ABNT, 2004) o rejeito da borracha é
do dispostos em aterros sanitários, por A metodologia utilizada foi análise classificado como resíduo classe II - B, por
apresentarem baixa compressibilidade, os exploratória e crítica sobre o GPI no âm- não conter metais pesados, não sofrer
pneus reduzem a vida útil dos aterros bito nacional e internacional, tendo sido lixiviação e não ser solúvel em água.
existentes, como também, por absorve- realizada em duas etapas. Face aos impactos ambientais gera-
rem os gases liberados pela decomposição A primeira etapa consistiu de pes- dos pelo descarte inadequado de pneus,
de outros resíduos, podem inchar e es- quisas bibliográfica e documental, em há que se buscar o seu gerenciamento
tourar a cobertura desses aterros. (Snyder, diversas fontes de informações técnicas e ambientalmente adequado, desde a eta-
1986; Wagner & Caraballo, 1997; científicas, como também de realização pa de acondicionamento até a sua
Blumenthal, 1993). de entrevista aberta à ANIP, visando in- destinação final, priorizando o uso de
Segundo dados da Universidade vestigar os tópicos concernentes a concei- novas tecnologias de reutilização, na sua
Estadual de Campinas (UNICAMP), tos básicos sobre pneus e pneumáticos forma inteira, e de reciclagem, como bor-
(Echimenco, 2001), no início deste sé- inservíveis; legislações sobre resíduos sóli- racha reciclada, ou como combustível na
culo havia um passivo ambiental em tor- dos urbanos e pneumáticos inservíveis; e, geração de energia, ou ainda triturado,
no de 100 milhões de pneumáticos alternativas de gerenciamento e tecno- para inserção em massa asfáltica entre
inservíveis abandonados no país, quer lógicas existentes. outros usos (Blumenthal, 1993; Wagner
estocados ou relegados em áreas abertas. Na segunda etapa realizou-se a sis- & Caraballo, 1997).
Este autor previu que, anualmente, seri- tematização dos dados e informações ob-
am somados a estes cerca de 17 milhões tidos para conhecimento e análise da si- Legislações ambientais
de unidades. Ressalta-se ainda, o fato da tuação atual do GPI no território nacio- brasileiras
Associação Nacional da Indústria de Pneu- nal, no que se refere às ações adotadas
máticos (ANIP, 2002), indicar o Estado pelos responsáveis diretos, suas interfaces A Constituição Federal em seu art.
de São Paulo como o responsável por 40% com as legislações ambientais em vigor, 225 adota o modelo de descentralização
desses descartes. nível de atuação dos responsáveis indire- de competências (BRASIL, 1998). Des-
Em razão dos motivos expostos, em tos, e alternativas tecnológicas existentes. te modo, a competência material, tais
vários países, assim como no Brasil, estão como, a proteção do meio ambiente e o
sendo implantados instrumentos de ges- Aspectos básicos combate à poluição, por exemplo, são
tão, a exemplo da Diretiva 91/157/CEE, comuns a União, Estado, Distrito Fede-
da Comunidade Européia, e das Normas O pneu é definido como “... todo ral e Municípios, conforme o art. 23, dessa
Diretivas de Aterros na Irlanda, entre artefato inflável, constituído por borra- Lei Maior.
outros, que buscam viabilizar o geren- cha e materiais de reforço utilizado para Por sua vez, o art. 24 da Constitui-
ciamento de pneumáticos inservíveis, rodagem em veículos automotores e bici- ção Federal estabelece a competência
abrangendo programas de redução na cletas” (BRASIL, 2002). legislativa das esferas governamentais, ca-
fonte com o propósito de recuperar esse Com 159 anos de criação, e um pa- bendo: à União estabelecer as normas
produto, assim como de reutilização e pel ainda insubstituível e fundamental gerais e diretrizes; aos Estados e Distrito
reciclagem desse material, quando trans- no cotidiano, tanto no transporte de pas- Federal, as normas específicas e de aplica-
formado em inservível, por meio da ado- sageiros, quanto no de cargas, o pneu apre- ção, além de junto aos municípios, pos-
ção de alternativas tecnológicas existen- senta uma estrutura complexa constituí- suir competência suplementar a legisla-
tes e em caráter experimental (Costa, da por diferentes materiais, como a bor- ção federal, e em caso de omissão federal
2001; Jardim et al, 1995). racha, o aço, o tecido de poliéster ou exercerão competência legislativa plena,
No Brasil, alguns procedimentos e nylon, objetivando conferir as caracterís- referente às suas peculiaridades.
metas para pneumáticos inservíveis foram ticas necessárias para atender às deman- Já o art. 30 estabelece a competên-
estabelecidos, entre outros, quanto a res- das de mercado (EPA, 1991; D’almeida cia suplementar aos Municípios, caben-
ponsabilidades, prazos e quantidades para & Sena, 2000; Bertollo et al, 1999). do-lhes formular exigências adicionais às

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GPI: análise crítica de ações institucionais e tecnologias

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legislações federal e estadual, e legislar so-
bre assuntos de interesse local. Tabela 1- Prazos e quantidades proporcionais para coleta e destinação
Assim observa-se que os municípios final de pneumáticos inservíveis
podem assumir um papel fundamental Prazos a partir de Pneus novos Pneus inservíveis
quanto às questões ambientais.
Nacionais Importados
Por outro lado a Política Nacional
do Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, em Janeiro/2002 4 u n id a d e s 4 u n id a d e s * 1 u n id a d e
seu art. 8º delega competência ao Conse- Janeiro/2003 2 u n id a d e s 2 u n id a d e s * 1 u n id a d e
lho Nacional do Meio Ambiente como
órgão legislador brasileiro para editar atos Janeiro/2004 1 u n id a d e 1 u n id a d e 1 u n id a d e
jurídicos normativos, com força de lei; Janeiro/2005 4 u n id a d e s 4 u n id a d e s 5 u n id a d e s
decidir recursos administrativos em últi-
ma instância; exigir estudos e documen- * Quantidades válidas para pneus novos ou reformados
Fonte: Brasil, 1999; Brasil, 2003.
tos complementares ao licenciamento
ambiental na realização de EIA; e, atri-
buir competência ao IBAMA para Tabela 2 - Prazos e quantidades proporcionais para coleta e
licenciamento ambiental, bem como fis- destinação final de pneumáticos inservíveis em relação
calização e controle ambiental (BRASIL, a pneus reformados importados
1997; Machado, 2001). Prazos a partir de Pneus reformados Pneus inservíveis
As Resoluções CONAMA im p o r ta d o s
nº 258/99 e 301/02 definem tipos de
pneus por estado de uso, e instituem Janeiro/2004 4 u n id a d e s 5 u n id a d e s
metas, em vigor a partir de 01/01/02, Janeiro/2005 3 u n id a d e s 4 u n id a d e s
com prazos e quantidades proporcionais * Fonte: Brasil, 1999; Brasil, 2003.
para coleta, tratamento e disposição final
de pneus inservíveis para veículos
automotores e bicicletas (Tabelas 1 e 2), Minimização de resíduos pneus processados podem ser emprega-
em relação às quantidades de pneus pro- sólidos e de pneus dos como borracha regenerada, elemen-
duzidas ou importadas. Define também inservíveis tos e componentes construtivos, pisos para
o tipo de responsabilidade, que é direta áreas de lazer e recreação, solados e saltos
para os fabricantes e importadores para A minimização de resíduos sólidos de botas, pavimentação asfáltica via pro-
ações de coleta, tratamento e disposição consiste num conjunto de práticas que cesso úmido, entre outras aplicações).
final de pneumáticos inservíveis e, indi- possibilitam reduzir a extração de recur- Apresenta-se na Tabela 3, as estraté-
retas, para o Poder Público e aos demais sos naturais e a geração de resíduos, gias de reciclagem e reuso de pneus
segmentos envolvidos com a questão dos maximizar a vida útil de áreas destinadas inservíveis, com as suas respectivas op-
pneus inservíveis, no que concerne à à disposição final de resíduos, e ampliar a ções tecnológicas de tratamento.
implementação das ações de coleta. vida útil dos produtos. Algumas destas estratégias foram
A Instrução Normativa nº 08/02 No que concerne aos pneumáticos viabilizadas por meio de parcerias entre
do IBAMA: institui procedimentos para inservíveis, observa-se que as estratégias responsáveis diretos e indiretos, que
o cumprimento da Resolução CONAMA de minimização associadas à gestão do pro- implementaram procedimentos para GPI,
nº 258/99, quanto ao cadastramento, duto envolvem: por meio de ações institucionais, empre-
processadores, destinadores e destinação - redução na fonte: ampliando a sariais e governamentais.
final ambientalmente adequada; e, deter- vida útil do produto, por meio de
mina as respectivas equivalências em peso melhoria de técnicas de manufatura, e de Ações institucionais
de pneus para bicicletas e veículos manutenção; pesquisa de materiais; pes-
automotores (BRASIL, 2002). quisa de reinserção dos resíduos de borra- As ações institucionais são aquelas
Ainda, em relação a estas Resoluções cha na cadeia produtiva; realizadas pelos responsáveis diretos, por
e outras legislações e planos em nível esta- - reutilização: na recuperação do meio das associações de classe de pneu-
dual e municipal, pode-se destacar pon- pneu usado, por meio de recapagem, re- máticos, em âmbito nacional, com a As-
tos, como o uso do “princípio do poluidor cauchutagem, ou remoldagem; e com sociação Nacional da Indústria de Pneu-
pagador”, e a atribuição de: responsabili- novo uso para os pneus inservíveis intei- máticos, ANIP, aliada a Associação Brasi-
dades e co-responsabilidade; estabeleci- ros, como recifes artificiais, quebra-ma- leira dos Fabricantes, Distribuidores e
mento de prazos e quantidades para cole- res, flutuantes, playgrounds, elementos Importadores de pneus de Bicicletas, Pe-
ta, tratamento e disposição final; a reali- estruturais, cercas rurais, entre outros usos; ças e Acessórios, ABRIDIPI, pelos fabri-
zação de campanhas educativas; a exis- - reciclagem: reinserindo o pneu cantes, e a Associação Brasileira da Indús-
tência de incentivos econômicos; a neces- inservível como matéria-prima para no- tria de Pneus Remoldados, ABIP, repre-
sidade de cadastramento de fabricantes, vos produtos, por meio de aplicação físi- sentando os importadores.
importadores, processadores e destina- ca (inteiros, como combustível alternati- A ANIP representando 14 empre-
dores finais, entre outros (BRASIL, 1999; vo em fornos de cimenteiras; e triturados, sas brasileiras elaborou um planejamento
BRASIL, 2002; BRASIL, 2003). como combustível alternativo, TDF, na estratégico com ações até 2006, com vis-
pavimentação asfáltica via processo seco, tas à implantação de programa em âmbi-
e em passeios públicos) e, química (os to nacional, bem como uma campanha

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Cimino, M. A. & Zanta, V. M.
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Tabela 3 - Estratégias de minimização de pneumáticos inservíveis e respectivas


opções tecnológicas de tratamento
E s tr a té g ia s d e m in im iz a çã o Descrição dos T é c n ic a s
reciclagem/reuso processos tecnológicos
Mecânica Cuminação: Redução do tamanho e processamento
- Ambiental e Mecânica, d o re s í d u o , t r a n s f o r m a n d o - o e m u m a
- Criogênica. matéria prima secundária, fechando o
ciclo de reciclagem do produto.
Química Desvulcanização: Re c u p e r a ç ã o d e c o m p o s t o s q u í m i c o s ,
- Mecânica, por meio da quebra parcial ou total de
- Química, moléculas, via reações químicas.
- Ultra-som,
- Bio-reação ou Biológica
Energética - Co-processamento; Combustão do resíduo, gerando como
- Pirólise produto, a energia que tanto pode ser
comercializada, quanto reutilizada para
abastecer processos.
De materiais "Lato sensu" - Recauchutagem; Retirada de partes de um produto que
- Recapagem; ainda sejam reutilizáveis, com nenhuma
- Remoldagem; o u po u ca alteração , po ssibilitan do u m
- Diversos usos: novo uso.
A g r ic u ltu r a e
Engenharia Civil.
Fonte: Gomes & Medina, 2001; Reschner, 2002; Almeida et al, 2000; Caponero, Levends & Tenório, 2000

para conscientização de consumido- quando as metas determinavam Em relação aos resultados obtidos
res, intitulada “Reciclar é vida e está em 22,5 milhões de unidades. observa-se que as duas primeiras metas
nossas mãos”. Contudo, com relação às próximas das Resoluções CONAMA nº 258/99 e
Com relação à coleta e tratamento metas considera-se necessário equacionar 301/02 foram atingidas, considerando
de pneus inservíveis implantou, por meio os obstáculos quanto à logística de coleta que foram eliminadas 8,8 milhões de
de convênio, uma estrutura composta e transporte entre os Ecopontos e os Cen- unidades, enquanto as metas determina-
por: 4.000 postos de coleta, junto às re- tros de Recolhimento e Trituração de vam 7,95 milhões de pneus inservíveis.
vendas de pneus no território nacional; Pneus Inservíveis, e desses centros até
77 Ecopontos em 75 Municípios Brasi- os locais de destinação final desses Ações empresariais
leiros; 1 ponto de coleta adicional em São inservíveis.
Sebastião/SP; e, Centros de Recolhimento No planejamento de suas ações a As ações empresariais compreendem
e Trituração de Pneus Inservíveis nas ABIP enfocou o combate a dengue, por algumas ações desenvolvidas isoladamen-
cidades de Jundiaí/SP e João Pessoa/PB meio de seu programa intitulado “Rodan- te por responsáveis diretos e indire-
em parceria com Cimentos Portugue- do Limpo”, no Estado do Paraná. Outra tos. Neste caso, destaca-se o “Programa
ses, CIMPOR, e a ABRIDIPI, e em ação foi o desenvolvimento de pesqui- SGR – Sistema de Gestão de Resíduos”
Sorocaba/SP em conjunto com a Empre- sa em co-processamento com rocha de implantado pela Rede D’Paschoal em suas
sa BORCOL (Lustwerk, 2002; xisto betuminoso, via pirólise, junto a lojas, com o objetivo de identificar o des-
FAPEMIG, 2002; Rios, 2003). PETROSIX (ABIP, 2003). tino final dos produtos automotivos des-
Os inservíveis coletados são utiliza- No que concerne aos procedimen- cartados nas lojas de sua rede.
dos como combustível alternativo, via co- tos adotados, verifica-se que assume, via Esse programa que conta com o
processamento em energia em fornos de empresa associada ao setor, à aquisição e apoio da ANIP, inclui a realização de: trei-
cimenteiras do Grupo CIMPOR, bem trituração de pneus inservíveis coletados namento e orientação dos funcionários;
como matéria-prima na confecção de no- pelos municípios cooperados e o trans- campanhas de conscientização para os
vos produtos, encaminhada a BORCOL porte desses inservíveis triturados até a seus clientes; e, a terceirização da coleta,
e para outras indústrias de manufatura PETROSIX. Além disso, patrocina trei- por meio de parceria com a Mazola
de produtos que utilizam a borracha. namento técnico e reuniões de conscien- Logística e Reciclagem que encaminha os
Os resultados obtidos no período tização, realizados em parceria entre a inservíveis coletados a Midas Elastômeros
analisado demonstram que a ANIP con- ABIP e a Federação das Associações Co- para destinação final como borracha re-
seguiu cumprir as duas primeiras metas merciais, Industriais e Agropecuárias do generada (Davidoff, 2003).
das Resoluções CONAMA nº 258/99 e Paraná, FACIAP, objetivando a realiza- A eficiência desse programa é atri-
301/02 ao eliminar 24,2 milhões de ção de coleta, via catadores, apoiados por buída às normas e procedimentos estabe-
pneumáticos inservíveis nesse período, empresários locais. lecidos para as ações de coleta e destinação

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GPI: análise crítica de ações institucionais e tecnologias

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final, bem como por permitir aos forne- Destacam-se várias tecnologias já zação dos responsáveis diretos e indire-
cedores rastrearem o ciclo de vida de seus empregadas e, outras em caráter experi- tos.
produtos, em razão do controle efetuado. mental, agrupadas segundo as estratégias
de minimização de redução na fonte, Legislações ambientais
Ações municipais e de reutilização, ou reciclagem. em vigor
instituições com interesse Com referência a redução na fonte,
em reciclagem pode-se destacar que o país já possui o A problemática gerada pelos pneu-
pneu ecológico produzido com borracha máticos inservíveis gerou a necessidade
Trata-se de práticas realizadas por natural oriunda do manejo em reservas de se instituir legislação específica, a Re-
alguns responsáveis indiretos, quer de extrativistas da Amazônia, sob adminis- solução CONAMA nº 258/1999, que
forma independente, ou em parceria com tração do IBAMA, desde 2002. Quanto estabeleceu metas e procedimentos para
os fabricantes ou importadores de pneus à eliminação de pneumáticos inservíveis, o gerenciamento ambientalmente adequa-
para veículos automotores e bicicletas. tem-se a ação da Bridgestone Firestone, do desses inservíveis, complementada
Das experiências pesquisadas desta- que picota os pneus refugados pelo pro- pela Instrução Normativa nº 08/02, do
ca-se a iniciativa conjunta da Prefeitura cesso produtivo, bem como os seus IBAMA, tendo alguns dispositivos al-
Municipal do Rio de janeiro com a inservíveis na própria fábrica, encami- terados pela Resolução CONAMA
COMLURB, que criaram uma Política nhando-os posteriormente para processo nº 301 / 02.
de Gerenciamento de Pneus Inservíveis, de reciclagem. A legislação ambiental em vigor atri-
em 2001, com base em diagnóstico reali- Ainda, no que diz respeito à redu- bui a competência do controle, fiscaliza-
zado na Zona Oeste do município, por ção na fonte aplicada a pneus usados ção e a edição dos atos normativos perti-
meio do qual foi detectada a existência de têm-se a aplicação dos processos de re- nentes aos pneumáticos inservíveis ao
um passivo ambiental da ordem de 451 cauchutagem, de recapagem, bem como IBAMA. Contudo, na Instrução Norma-
pneus de automóveis e 130 mil pneus de de remoldagem, que apresentam vanta- tiva nº 08/02, o IBAMA esclarece que
carga (Brito et al, 2003). gem econômica, principalmente aos usu- sua competência refere-se apenas ao
Os procedimentos adotados foram ários de veículos de carga e de transporte cadastramento dos responsáveis diretos,
a organização de 500 borracheiros em coletivo. O Brasil ocupa o 2º lugar no acrescido dos processadores e destina-
uma associação, o enquadramento ins- “ranking” mundial do uso do processo dores finais de pneus de veículos auto-
titucional de fabricantes e importadores de recauchutagem. motores e de bicicletas. Estes devem com-
com o estabelecimento de atribuições As utilizações mais vantajosas consi- provar as quantidades eliminadas de
entre os seus parceiros, implantação de derando o pneu inservível inteiro, con- pneus inservíveis, por meio de Relatório
estrutura de captação voluntária de pneus forme revisão realizada são para constru- de Atividades para que seja verificado o
inservíveis, composta de 63 pontos, e 2 ção de Galerias de Águas Pluviais e Siste- cumprimento das metas estabelecidas pela
centrais para armazenamento temporário ma Eco-Estrutural Pneumático aplicado mencionada Resolução CONAMA.
de pneus inservíveis, sendo uma em Nova em barragens, aterros, muros de arrimo, Essas Resoluções baseiam-se no prin-
Iguaçu e outra em Bangu, e, a constitui- contenção de encostas, entre outros usos. cípio do poluidor pagador. Os importa-
ção de um grupo técnico para análise Ainda, em relação à reciclagem, dores, de pneus novos e reformados, e os
de viabilidade de reaproveitamento de pode-se mencionar os processos de rege- fabricantes foram obrigados a implantar
pneumáticos inservíveis em pavimento neração da borracha, desvulcanização, co- ações operacionais de coleta, tratamento
asfáltico, nas vias do município. processamento para a geração de energia e disposição final desses inservíveis, em
Os resultados obtidos indicam a e a pirólise, ressaltando-se a aplicação da conformidade com as metas e procedi-
coleta de 80 mil pneus inservíveis por borracha triturada, tanto na confecção de mentos estabelecidos por essas legislações.
mês que são transportados pela ANIP para elementos construtivos para a construção Nas legislações pesquisadas verifica-
o Centro de Trituração de Jundiaí/SP, civil, quanto na pavimentação asfáltica, se que alguns Estados da União instituí-
onde são triturados, e após, encaminha- via processo úmido ou seco. ram legislação pertinente à matéria, esta-
dos para destinação final nos fornos das belecendo diretrizes complementares à
cimenteiras do Grupo CIMPOR. ANÁLISE CRÍTICA legislação ambiental federal em vigor. Po-
rém, não incluíram apoio ou incentivo
Alternativas tecnológicas O foco central da análise crítica rea- aos municípios, no que concerne à cria-
lizada foram os procedimentos opera- ção de fundos com vistas a subsidiar o
No Brasil, a Resolução CONAMA cionais executados por fabricantes e im- desenvolvimento e implantação de alter-
nº 258/99, em seu art. 9º, proíbe qual- portadores de pneus em consonância com nativas tecnológicas afetas as estratégias
quer forma de descarte de pneumáticos as Resoluções CONAMA nº 258/99 de minimização de pneus inservíveis, que
inservíveis, permitindo a queima quando e nº 301/02, e a Instrução Normativa também não são contempladas na legis-
se destinar à obtenção de energia. nº 08/02, do IBAMA. lação federal (RESOL, 2002).
Por esse motivo, programas de Dessa forma, as ações relativas prati- Quanto às legislações municipais
reutilização de pneus inservíveis estão sen- cadas foram analisadas sob vários aspec- referentes a pneumáticos inservíveis
do desenvolvidos, com o propósito de tos entre eles a motivação, enfoque dado, pesquisadas, observa-se que apenas três
recuperar esses materiais, ampliando o seu abrangência física e atuação, forma de municípios (São Paulo/SP, Salvador/BA e
ciclo de vida e minimizando os impactos manejo e tratamento, tipo de alternativas Rio de Janeiro/RJ) estabeleceram a possi-
ambientais decorrentes de suas caracte- tecnológicas escolhidas, das legislações bilidade de implementarem alternativas
rísticas e de sua disposição final inade- ambientais específicas sobre a matéria, e tecnológicas, com vistas à minimização
quada. do grau de envolvimento e conscienti- desses resíduos. Entre estes, apenas o

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Cimino, M. A. & Zanta, V. M.
ARTIGO TÉCNICO
Município de São Paulo estabeleceu que Desenvolveram e divulgaram cam- Alternativas tecnológicas
pode instituir linhas de financiamento panha própria de conscientização na
para esse fim, relativas a projetos de eco- mobilização de parcerias, firmadas por No que concerne ao Brasil, apesar
nomias solidárias. meio de convênios para fins específi- de não haverem incentivos financeiros
Dessa forma, sugere-se que por oca- cos de coleta, tratamento e disposição fi- previstos na legislação ambiental em vi-
sião da revisão da Resolução CONAMA nal de pneumáticos inservíveis, bem gor para adoção de alternativas de
nº 258/99, seja incluso a criação de in- como apóiam outras campanhas e parti- minimização constata-se pela pesquisa
centivos, que promovam o desenvolvi- cipam de ações especiais promovidas por realizada que nesse período ocorreu uma
mento de pesquisas, visando contribuir empresas associadas e por parceiros, in- crescente evolução na adoção de alterna-
para a minimização de pneumáticos clusive com a adoção de incentivo tivas tecnológicas consolidadas, e no de-
inservíveis dispostos inadequadamente. psicossocial. senvolvimento daquelas em caráter expe-
Criaram, também, uma estrutura de rimental utilizando pneumáticos inser-
Ações dos responsáveis captação voluntária constituída por víveis, tanto por parte de Municípios,
diretos 4.000 postos de revenda de pneus exis- quanto de empresas e instituições de en-
tentes no território nacional, além de rea- sino superior.
Com referência ao enfoque dos pro- lizarem coleta de todos os tipos de pneus
gramas adotados pelos setores de produ- inservíveis em 77 Ecopontos implanta- Ações dos responsáveis
ção e importação de pneus verifica-se que dos pelo Poder Público dessas localida- indiretos
a motivação dos parceiros é diferente. O des, situadas nas regiões Centro-Oeste,
setor de importação utiliza o combate à Nordeste, Sul e Sudeste. O maior No que concerne ao grau de envol-
dengue como forma de mobilização, por percentual desses Ecopontos, cerca de vimento e conscientização dos responsá-
meio do programa “Rodando Limpo”, 63% encontram-se no Estado de São veis indiretos verifica-se que distribuido-
cuja abordagem é voltada ao impacto Paulo, que também possui um ponto res, revendedores e reformadores vêm
ambiental gerado pela disposição final adicional de coleta no Município de São colaborando com o setor de produção,
inadequada de pneus inservíveis, portanto Sebastião / SP (ANIP, 2003). de forma efetiva, na coleta de pneumáti-
enfocando-os como resíduos. Parcerias firmadas com um gru- cos inservíveis, ao passo que consertadores
Em contrapartida, o setor de pro- po do setor cimenteiro (CIMPOR), e e consumidores finais contribuem, po-
dução adota uma visão positiva des- uma indústria de artefatos de borracha rém apenas nos municípios conveniados
ses resíduos, voltada à reciclagem dos (BORCOL) propiciaram a implanta- ao setor de produção ou cooperados ao
pneus inservíveis, por meio do slogan ção de três Centros de Trituração de setor de importação.
“Reciclar é vida e está em nossas mãos”, Pneus Inservíveis no país situados um no No caso das parcerias firmadas pelo
conscientizando seus parceiros para o Estado da Paraíba e dois no Estado de setor de importação de pneumáticos, ob-
potencial desse resíduo como uma nova São Paulo. serva-se que também se incluem duas as-
matéria-prima, com possibilidade de ge- No que diz respeito à estratégia ado- sociações de classe paranaense, em âmbi-
ração de emprego e renda, além de enfocar tada pelo setor de importação, verifica-se to estadual, e que por intermédio de uma
que essa ação depende do comportamen- que existem tanto ações isoladas realiza- delas, ocorre o envolvimento com o setor
to de todos os segmentos envolvidos para das por empresas do setor ou por suas de catação nos municípios cooperados ao
que se tenha um ganho ambiental. filiais, quanto às ações conjuntas a car- setor de importação de pneus.
Quanto à área de abrangência, ob- go do órgão maior do setor (ABIP), Com referência ao grau de articula-
serva-se que o setor de produção vem atu- no tocante à mobilização de parceiros e ção do Poder Público com os dois seg-
ando em âmbito nacional, sendo que de nas tratativas para firmar os Termos mentos de pneumáticos, verifica-se que
forma mais intensa na Região Sudeste, de Cooperação com esses parceiros. as parcerias firmadas tanto com o setor
principalmente na Região do Grande produtivo, quanto com o setor de impor-
ABC, no Estado de São Paulo responsá- Procedimentos tação de pneumáticos foram de funda-
vel por 40% do descarte de pneumáticos operacionais mental importância para implementação
inservíveis no país (ANIP, 2002). da coleta de pneus inservíveis, com vistas
Já o setor de importação restringiu- Analisando a eficácia dos procedi- ao cumprimento das metas estabelecidas
se, praticamente ao Estado do Paraná, mentos operacionais para pneumáticos pelas Resoluções CONAMA nº 258/99
onde conseguiu por meio de ações con- inservíveis verifica-se que os resulta- e 301/02. Destaca-se nesse sentido, a ini-
juntas com Empresas Nacionais e Órgãos dos obtidos em relação às duas primeiras ciativa, já mencionada, da Prefeitura
Públicos Estaduais uma adesão maciça metas estabelecidas pela Resolução Municipal do Rio de Janeiro em conjun-
por parte dos municípios. CONAMA demonstram que as mesmas to com a COMLURB.
Com referência à estratégia de ação foram atingidas tanto pelo setor produti- Embora o número de parceiros não
adotada pelos segmentos tanto de impor- vo quanto pelo de importação de pneu- tenha sido expressivo, no contexto naci-
tação, quanto de produção, observa-se máticos. onal, observa-se que aqueles que ade-
que no setor produtivo as 14 empresas Todavia, observa-se que nenhum riram às parcerias demonstraram esta-
fabricantes existentes no território nacio- desses dois segmentos investiu no desen- rem conscientes e mobilizados para se
nal se uniram e vêm atuando de forma volvimento de pesquisas sobre alternati- articularem e contribuírem no enfrenta-
conjunta, por meio de seu órgão maior vas tecnológicas. Ambos optaram por fa- mento de questões ambientais, na busca
(ANIP), ao qual o setor de produção, zer uso de alternativas tecnológicas de da sustentabilidade e da melhoria
importação e distribuição de pneus de reciclagem existentes. da qualidade de vida em suas localida-
bicicletas, também se aliou. des.

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GPI: análise crítica de ações institucionais e tecnologias

ARTIGO TÉCNICO
Contudo, há que se considerar que Ecopontos, pontos de coleta adicional, en- 2- Criação de um Fundo de Desen-
em relação ao contexto nacional, que o tre outros. volvimento Tecnológico para pesquisas
número de municípios cientes de suas Com respeito ao tratamento e a dis- que visem o aumento do ciclo de vida do
competências legais e articulados, princi- posição final desses resíduos, identificou- pneu pela busca de materiais mais resis-
palmente, ao setor produtivo é ainda se à adoção de soluções usuais que visam tentes ou ecologicamente mais adequa-
inexpressiva, o que pode ser atribuído a à geração de energia por meio de co- dos, ou por tecnologias de reciclagem e
uma interpretação equivocada da legisla- processamento e pirólise de pneus de reutilização de pneumáticos inservíveis.
ção ambiental, entendendo-se que o con- inservíveis triturados, além do encami- Recomenda-se a instituição de transferên-
trole e a fiscalização são exclusivos do nhamento desse material para diversos cia de uma parcela do imposto cobrado
IBAMA. Ou ainda, por falta de uma ação segmentos industriais, como matéria-pri- dos fabricantes e importadores na comer-
mais incisiva por parte dos responsáveis ma na confecção de novos produtos. cialização de pneus tanto importados,
diretos, visando à ampliação e fortaleci- Além dessas ações observam-se ou- quanto nacionais, cujo valor arrecadado
mento das parcerias com os Municípios. tros processos tecnológicos convencionais seria aplicado para o fomento de pesqui-
Dessa forma, faz-se necessária uma ou experimentais, voltados à reutilização sas para minimização, por meio de con-
maior mobilização das Prefeituras Muni- e reciclagem, com destaque para a pavi- vênio, instituído por lei, entre o Poder
cipais, visando o envolvimento das que mentação asfáltica cujo uso está se expan- Público, os segmentos de pneumáticos e
ainda não estão articuladas ao processo, dindo. as instituições de pesquisa;
para que se aliem aos geradores, visando Contudo, ainda existem pontos a 3-Ampliação da participação do
contribuir na implementação da coleta serem mais bem equacionados, principal- Poder Público Municipal na articulação
de pneumáticos inservíveis, com a finali- mente com referência à importação de com os responsáveis diretos pelo geren-
dade do efetivo cumprimento da legisla- pneus recauchutados que contribui para ciamento de pneus inservíveis, com vis-
ção ambiental em vigor. o aumento do passivo ambiental. tas à implementação de coleta de pneu-
Da mesma forma sugere-se que por Constata-se que embora existam al- máticos inservíveis, conforme estabeleci-
ocasião da revisão da Resolução gumas legislações sobre resíduos sólidos, do na legislação ambiental em vigor. Su-
CONAMA nº 258/99, seja incluído um há falta de políticas públicas nos vários gere-se que por ocasião da revisão da Re-
artigo que determine aos municípios a níveis de governo, que visem eliminar o solução CONAMA nº 258/99, estabe-
elaboração de uma Política de Geren- passivo ambiental existente de forma mais leça-se a necessidade dos municípios im-
ciamento de Pneus Inservíveis. Esta polí- eficaz, e promovam a prevenção e a plantarem um Plano de Gerenciamento
tica deve ser desenvolvida considerando minimização de resíduos sólidos especi- de Pneus Inservíveis.
o diagnóstico local sobre a questão, pro- ais, com especial atenção para a criação de
pondo o manejo e as tecnologias aplicá- incentivos que ampliem o ciclo de vida REFERÊNCIAS
veis e as formas de articulação entre os útil dos pneus e priorizem na etapa pós-
atores envolvidos. consumo a reutilização e a reciclagem. ABIP – Associação Brasileira da Indústria de
Os dados obtidos por meio desses Da mesma forma, verifica-se que se Pneus Remoldados. Programa Paraná Rodan-
do Limpo. In: CURITIBA RODANDO
diagnósticos poderiam servir de subsídio torna imprescindível também, um maior LIMPO, 2003. Disponível em: <http://
à elaboração de um Inventário Nacional grau de articulação dos setores de produ- www.paranarodandolimpo.com.br> - Acessado
sobre o Gerenciamento de Pneus ção e importação de pneumáticos com o em: 13 dez. 2003.
Inservíveis. Para tal, os municípios forne- Poder Público Municipal que poderia ABNT – Associação Brasileira de Normas Téc-
ceriam seus dados aos órgãos ambientais assumir o papel de facilitador na mobi- nicas. Resíduos Sólidos: Classificação.
estaduais, que os repassariam ao IBAMA lização dos segmentos envolvidos, a fim ABNT/NBR 10.004 – Rio de Janeiro, 2004.
complementando as informações obtidas de que os responsáveis diretos consigam ALMEIDA, M.C. et al. Reciclagem de Pneus
junto aos responsáveis diretos. cumprir as próximas metas anuais previs- Automotivos. In: 55º CONGRESSO DA AS-
tas nas Resoluções CONAMA mencio- SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE METALUR-
CONCLUSÃO E nadas, reduzindo o passivo ambiental
GIA E MATERIAIS, ABM, Anais..., p.2015-
2922, Rio de Janeiro/RJ, jul. 2000.
RECOMENDAÇÕES presente no meio urbano.
ANIP – Associação Nacional de Indústrias de
Com base no exposto e objetivando Pneumáticos. Entrevista Aberta: Sr. José Carlos
Os dados e informações obtidos contribuir para o aprimoramento do sis- Arnaldi, Assessor da Presidência – Sede da
demonstraram que as metas estabelecidas tema de gerenciamento de pneumáticos ANIP, São Paulo/SP, jul. 2002.
pelas Resoluções CONAMA nº 258/99 inservíveis no território nacional, reco- ANIP – Associação Nacional de Indústrias de
e 301/02 vem sendo cumpridas tanto mendam-se as estratégias: Pneumáticos. Palestra: Alternativas Tecnológicas
pelo setor produtivo quanto pelo setor 1- Ampliar o ciclo de vida dos pneu- para Pneumáticos Pós-Uso – Sr. José Carlos
de importação de pneumáticos, bem máticos, com a finalidade de promover a Arnaldi, Assessor da Presidência – Sala
Eldorado, Senalimp/Feilimp 2003 – Centro
como estão promovendo o surgimento prevenção da geração de pneus inser- de Exposições Imigrantes, mar. 2003.
de um novo nicho de mercado, voltado à víveis. Neste caso, recomenda-se a reali-
BERTOLLO, S.A et al. Pavimentação Asfáltica:
reciclagem de pneus inservíveis. zação de Campanhas Educativas promo- Uma Alternativa para a Reutilização de Pneus
Com referência à coleta de pneu- vidas pelo Poder Público, objetivando Usados. Revista Limpeza Pública, nº 54, p.23-
máticos inservíveis, observou-se o desen- incentivar os consumidores finais a reali- 30, ABLP, Associação Brasileira de Limpeza
volvimento de programas e campanhas zarem manutenção periódica nos pneus Pública, São Paulo/SP, jan. 2000.
educativas e a busca de parcerias entre os de seus veículos, considerando que por BLUMENTHAL, M.H. The Mc Graw-Hill
atores envolvidos com essa problemática, meio da calibragem e balanceamento dos Recycling Handbook. Hebert F. Lund Pub. New
bem como a implantação de Centros de pneus pode-se ampliar a sua vida útil York: McGraw-Hill, cap.18, p. 18.3-18.63,
1993.
Trituração de Pneus Inservíveis, desses pneumáticos;

Eng. sanit. ambient. 305 Vol.10 - Nº 4 - out/dez 2005, 299-306


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ARTIGO TÉCNICO
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