Você está na página 1de 13

Imputabilidade Penal – Doente Mental

RESUMO

Constatamos que desde sempre na sociedade existem pessoas com


certos tipos de anomalia. Surgindo assim, muitas vezes em nosso interior o
questionamento do que aconteceria com esta pessoa se cometesse um crime.

Desta forma, este projeto tem o intuito principal de trazer ao


conhecimento de todos os Direitos que estes possuem na legislação penal, quais
medidas são aplicadas aos indivíduos portadores dessas anormalidades para a
proteção da sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Imputabilidade Penal, Doente Mental, Isenção de pena.

1
Imputabilidade Penal – Doente Mental

1. INTRODUÇÃO

O Direito é a ciência que tem como objetivo regrar a sociedade,


tentando evitar ou solucionar o conflito de interesses. Assim, ele também vai
estabelecer as medidas específicas aqueles portadores de anomalias que
cometem algum tipo de crime.

O vigente Código Penal estabelece que os Doentes mentais


por não terem consciência de sua conduta não podem cumprir pena em regime
prisional como as demais pessoas que gozam plenamente de suas faculdades
mentais, pelo contrario devem receber tratamento psiquiátrico, a fim de
restabelecer sua saúde e promover segurança para a sociedade.

2
Imputabilidade Penal – Doente Mental

1. O DOENTE MENTAL

O homem é um ser social, sendo assim precisa viver em grupos


junto a seus semelhantes.

Ocorre que nem sempre as ideias e opiniões dos seres


humanos são iguais, causando desta forma um conflito entre si.

A fim de solucionar ou evitar esse conflito foi criado o Direito,


regendo e organizando a sociedade com suas normas de conduta, nos dizendo
o que pode ou não ser feito.

O ser humano é um animal racional, capaz de pensar, criar,


desenvolver, discernir o bem do mal, o bom do ruim entre tantas outras
atividades. Ocorre que foi constatado que nem todos tem essa boa saúde
mental, não tendo possibilidade de controlar a conduta desses.

São considerados loucos aqueles que sofrem de algum tipo de


anomalia, ou grave perturbação psiquiátrica. Desta forma, esses indivíduos
portadores dessas doenças, são considerados absolutamente incapazes,
conforme artigo 3° do vigente Código Civil

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer


pessoalmente os atos da vida civil
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem
exprimir sua vontade.

3
Imputabilidade Penal – Doente Mental

A legislação Penal tem um


intuito de proteger e resguardar a sociedade dos indivíduos que pratiquem atos
de caráter proibitivo, cominando a estes uma sanção com a intenção de punir e
restabelecer esse agente.

Desta forma, no âmbito Penal, os insanos mentais recebem o


nome de inimputável, de acordo bom o artigo 26 do Código Penal, pois são
totalmente ou relativamente incapazes de entender, evitar ou determinar os
atos por si praticados, por essa razão fica impossibilitado de punir ato ilícito
realizado por estes.

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença


mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Aqui a norma abrange a tudo o que pode comprometer a saúde


mental, sem uma descrição específica.

2. DA MEDIDA DE SEGURANÇA

Quando uma doente mental prática um crime, não deve ser


punido, como uma pessoa sã, pois como já citado ele não tem capacidade de
discernir sobre seus atos. Mas a sociedade deve ser protegida, assim como
medida de segurança estes ficarão em hospital, ambulatório ou ambiente
apropriado onde lhe seja oferecido tratamento. O doente mental não deve ficar
na cadeia e sim em local onde possa ser tratado. Conforme artigo 96 inciso I e
II Do Código Penal.

Art. 96. As medidas de segurança são:

I - Internação em hospital de custódia e tratamento


psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado;

II - sujeição a tratamento ambulatorial.

4
Imputabilidade Penal – Doente Mental

Apesar de o estabelecimento ser diferente, do comum, a


medida de segurança não deixar de ser uma pena, aplicada ao infrator
inimputável. Neste interim, comenta o doutrinador Delmanto.

As medidas de segurança são, também, sanções


penais, à semelhança das penas. Diferem, porém, destas,
principalmente pela natureza e fundamento. Enquanto as penas
tem caráter retribuído preventivo e se baseiam na culpabilidade,
as medidas de segurança tem natureza só preventiva e encontram
fundamento na periculosidade do sujeito.

Temos dois tipos de medida de segurança, a internação e o


tratamento.

INTERNAÇÃO - Conhecida também como de tentava, constitui


no envio do portador de distúrbio mental a hospitais de custódia ou
ambulatórios de tratamentos psiquiátrico, para permanecem lá por tempo
necessário recebendo os devidos cuidados.

TRATAMENTO - Podem também receber o nome de restritiva,


nesta fase serão recebidos cuidados sem que seja necessária a internação.

3. DOENÇA MENTAL NA HISTÓRIA

Na antiguidade a doença mental não era tratada como um


problema de saúde e sim religioso, tanto que estes eram encaminhados à
igreja, pois acreditava-se tratar de um ser possuído. Com o passar dos tempos
percebeu-se que os cuidados espirituais não estavam sendo suficientes, foi a
partir daí que começaram a receber tratamentos médicos.

Também há relatos que os insanos mentais nas civilizações


antigas, eram recolhidos e levados em vias marítimas a locais bem distantes

5
Imputabilidade Penal – Doente Mental

sem que houvesse possibilidade de


retorno. Tais embarcações recebiam o nome de Naus dos Loucos. Essa era
uma forma de se livrar e exterminar alguns desses doentes.

4. TIPOS E GRAVIDADES DE DOENÇA MENTAL

Há vários fatores que podem fazer um homem perder seu livre


arbítrio, sua capacidade de entendimento e discernimento. Podendo ser
escassez de memória, delírios, alucinações, são as possibilidades mais comuns
de se afetar um ser saudável mentalmente, fazendo desencadear diversas
doenças que podem comprometer seu entendimento e autocontrole.

Deve-se saber que patologicamente há vários tipos de


insanidade mental, umas mais graves que atacam ferem e até mesmo matam
seu semelhante, assim como também há outras um pouco mais brandas.

A seguir serão demonstrados alguns dos mais comuns tipos de


Doenças mentais conhecidas em nossa sociedade.

6.1 ESQUIZOFRENIA

A palavra Esquizofrenia significa divisão da mente. Afeta em


geral homens a partir dos 25 anos e mulheres de idade média entre 29 a 30
anos, porém não é difícil de encontrar pessoas mais velhas com idade de 66 a
77 anos.

A doença se caracteriza com manifestações atípicas as quais


induzem no comportamento anormal, como delírios, alucinações, complicações
na fala com atribuições de palavras inventadas entre outras.

Na maioria dos registros, a pessoa portadora desta doença,


ouve vozes, as quais são caracterizadas por seus perseguidores, que os
mandam fazer ou deixar de fazer algo.

6
Imputabilidade Penal – Doente Mental

Outro sintoma bastante comum é a sensação de estar sendo


vigiado e que sempre tem alguém que lhe trama fazer mal.

Geralmente os surtos não se dão com grande frequência,


podem acontecer em algumas vezes ao ano, ou em casos muito raros apenas
uma vez na vida do doente.

O esquizofrênico pode ouvir os sons mais altos e bem mais


penetrantes, em sua visão as cores são em média mais brilhantes e com
grande definição.

A Esquizofrenia é incurável e quando não tratada corretamente,


impossibilita o doente de conviver com a sua família, ou em demais grupos
sociais, pela gravidade que a doença traz, pois um esquizofrênico pode devido
a suas alucinações e delírios levar a morte pessoa próxima de si.

Uma maneira de combater seus sintomas é com o uso regular e


continuo de medicação específica, sempre com acompanhamento de um
psiquiatra.

6.2 DOENÇA MANÍACA – DEPRESSIVA OU DOENÇA


BIPOLAR

Sua principal característica é a mudança involuntária de


comportamento e humor. Onde em certos períodos a pessoa fica extremamente
alterada e em outros momentos com uma profunda depressão.

Ela ocorre por alterações funcionais do cérebro da pessoa,


fazendo com que ela perca o controle de suas emoções. Por essa razão há
períodos que a pessoas tem diferentes comportamentos.

6.3 EPILEPSIA

7
Imputabilidade Penal – Doente Mental

Acredita-se que esta doença


seja a mais velha da humanidade, pois já há indícios que até os animais a
portavam.

O epilético pode apresentar crises que duram em média cinco


minutos, onde a pessoa se joga ao chão, sacode-se, tem convulsões, torce a
boca, range os dentes, emitem gritos e roncos.

No decorrer da historia, acreditava-se que esse doente teria dentro


de si um espírito maligno que o fazia ter esse comportamento, assim recebeu
diversos nomes, como Mal Fulminante, Mal de Deus, Mal Sagrado, Mal
demoníaco, Mal Hediondo, entre tantos outros.

Recomenda-se que presenciando uma crise de Epilepsia, deve


procurar imediatamente atendimento médico, pela situação neurológica que o
paciente se encontra.

A doença pode ser controlada através de medicação, as quais


evitam as crises. É importante também, além de manter o controle, realizar
acompanhamento periódico ao médico.

6.4 OLIGOFRENIA

Em Sua etimologia, a palavra quer dizer, “mente pequena”, a


qual denomina desenvolvimento mental, ou retardado, o que ocasiona
geralmente a diminuição da inteligência.

A doença origina-se de herança degenerativa, ou seja, filhos de


alienados mentais, casais consanguíneos que contraem matrimonio,
complicações na gestação como intoxicação, traumatismo uterino, desnutrição,
também pode ser ocasionada pós parto, com doenças como a Rubéola e
Meningite.

8
Imputabilidade Penal – Doente Mental

Aqui estamos diante da


possibilidade da inteligência ser pouco ou muito diminuída, sendo classificadas
em categorias, como Imbecil, Débil Mental e Idiota.

7 LAUDO MÉDICO PERICIAL

Como já abordado anteriormente, não pode responder por seus


crimes, aquele que portar doença mental.

Porém, para que seja proferida decisão justa a este, é


necessário que aquele que tenha praticado o ato delituoso se submeta a exame
médico, onde ficará comprovado a anomalia e a sua periculosidade.

Este exame deve ser realizado por um psiquiatra forense, o


qual realizará as devidas averiguações e elaborara um laudo.

Vale informar, outrossim que o laudo a ser apresentado pelo


médico perito é uma prova que, o juiz pode ou não acatar. Tal prática é lícita e
prevista em nosso ordenamento jurídico, no Artigo 182 do Código de Processo
Penal;
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo
aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

Este laudo é nomeado como “Laudo de Sanidade Mental”. Não


há relatos que tem um padrão a ser seguido, porém deve conter alguns
requisitos formais em sua elaboração são eles:

• Identificação do Examinado – Dados completos, como


nome filiação, data de nascimento. Tudo o que seja
possível para identificar o paciente.

• Condições do Exame – Relatar em que situação foi


realizado as averiguações no paciente, como e onde ele
se encontrava.
9
Imputabilidade Penal – Doente Mental

• Histórico – Há a necessidade de se relatar todo o trâmite


clínico do examinado.

• Exame Clínico - Aqui é o momento onde o médico


utilizará os métodos e conhecimentos para diagnosticar o
paciente.

• Exames Complementares – Momento que deve ser


indicado se houver resultados de exames
complementares.

• Diagnostico – As conclusões extraídas com a pericia


realizada. Deve ser elaborada com base na classificação
determinada pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
a conhecida CID 10.

• Comentários e Conclusões – Parte que o perito


apresentará a sua opinião. Poderá sugestões a aplicação
da justiça.

• Resposta aos quesitos – O laudo final deverá preencher


a todos os questionamentos e sanar a dúvida do setor
judiciário, a motivação principal para a elaboração da
perícia.

Como previsto no Artigo 97, § 2° do Vigente Código Penal, a


perícia médica tem um lapso temporal mínimo a ser seguido e deverá ser
repetida anualmente, até que finda-se a periculosidade;

Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz


determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto

10
Imputabilidade Penal – Doente Mental

como crime for punível com detenção,


poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

(...)

§ 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do


prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a
qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução.

8. MATÉRIA SOBRE ATUAL SITUAÇÃO DE UM HOSPITAL


DE CUSTODIA EM TERESINA

A comissão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do


estado do Piauí realizou uma vistoria em um hospital de custodia em Teresina,
onde foi constatado que as condições físicas são bem precárias. Segue abaixo
matéria:

OAB-PI constata situação caótica na Casa


de Custódia de Teresina1
Sexta-feira, 14 de novembro de 2014 às 11h34.

Teresina (PI) - Uma comissão da OAB do Piauí esteve nesta quarta-feira (12) na Casa de Custódia de
Teresina para averiguar as condições do local, tais como estrutura física, condições de trabalho dos
agentes e situação dos detentos. Os advogados da Ordem constataram sérios problemas como a falta de
condições materiais para manter o presídio, como mantimentos e até gás de cozinha.

Durante a semana, os agentes penitenciários do local descobriram um túnel construído no Pavilhão C


pelos detentos, com mais de 10 metros de comprimento. Embora a estrutura tenha sido isolada, continua
exposta e o reparo é impossibilitado pela falta de materiais. O pavilhão C é atualmente um dos mais
críticos do presídio, abrigando presos de alta periculosidade, condenados por crimes gravíssimos, tais
como narcotráfico, latrocínios e assalto a bancos, oriundos também de outros estados.

Além destes problemas, a falta de gasolina em viaturas e de internet também foram informadas pelos
agentes. “Estamos impossibilitados de cumprir alvarás de soltura, por exemplo, pela falta da internet.
Quanto à gasolina, chegamos ao extremo. Para levar um preso para a audiência, a família se dispôs a
colocar o combustível na viatura”, informou um agente.

1
http://www.oab.org.br/noticia/27820/oab-pi-constata-situacao-caotica-na-casa-de-custodia-de-
teresina?utm_source=3068&utm_medium=email&utm_campaign=OAB_Informa

11
Imputabilidade Penal – Doente Mental

A Casa de Custódia tem capacidade para 330 presos,


mas atualmente mantém 860 detentos. Ouvidos, eles relataram, além da superlotação, a demora nos
julgamentos. “Temos presos provisórios que estão há mais de três anos sem serem ouvidos”, comentou o
presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB, Lúcio Tadeu Santos, acrescentando que a justiça
vive uma situação caótica e que há muito tempo vem sendo denunciada pela OAB. “Esta situação só tem
demonstrado a inoperância da Secretaria de Justiça, embora a mudança de gestão. Estamos num caos
total do Sistema, resultante de um longo período sem investimento no setor prisional do Piauí”, asseverou
Lúcio Tadeu.

Soma-se a tudo isso a eminência de uma greve dos agentes penitenciários, que estão insatisfeitos com
as condições de trabalho e remuneração. “Se isso acontecer, será o caos total. Em meus 10 anos de
profissão, já passei por muitas dificuldades, mas nada como o que vivemos hoje. Embora procuremos,
não achamos solução”, finalizou o diretor da Casa de Custódia, capitão Marinho. A OAB-PI buscará
providências junto à Corregedoria de Justiça e Procuradoria Geral de Justiça.

Participaram da vistoria os advogados membros da Comissão de Segurança Pública da OAB-PI: Baltemir


Júnior, Alexandre Carlos, Euller Paiva e Carlos Lacerda; e o vice-presidente da Comissão de Direitos
Humanos, Carlos Edilson Sousa.

Com informações da OAB-PI

9. DECISÃO JURISPRUDENCIAL

Com base nos fatos até aqui relatados, será exposto alguns
entendimentos jurisprudenciais:

Ementa: PENAL.
PROCESSO PENAL. RECURSO CRIMINAL
DE OFÍCIO. TENTATIVA DE
HOMICÍDIO. RÉU PORTADOR
DE DOENÇA MENTAL. COMPROVAÇÃO
ATRAVÊS DE PERÍCIA
MÉDICA. INIMPUTABILIDADE DO AGENTE.
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. RECURSO
IMPROVIDO. 1. Os exames realizados no
acusado constataram, de forma inequívoca,
que o mesmo sofria de transtorno bipolar do
humor, não sendo, pois, capaz de entender o
caráter criminoso do seu ato ou de agir de
acordo com esse entendimento. 2. Verificada
e confirmada, de forma incontestável,
a inimputabilidade do acusado, via Laudo
médico devidamente homologado em Juízo,
correta a decisão que absolveu sumariamente
o réu e aplicou-lhe medida de segurança, por

12
Imputabilidade Penal – Doente Mental

força do quanto previsto nos arts. 97, da


Lei Substantiva Penal, e 415, IV, da Lei
Adjetiva Penal. 3. Recurso Improvido.
Unanimemente.(TJ-MA - RECURSO
CRIMINAL DE OFÍCIO RCCR 361092010 MA
(TJ-MA)

13

Você também pode gostar