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Brasília, domingo, 28 de março de 2010


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COMPORTAMENTO

Mãe, tem visita!


Nada de surtar se os filhos quiserem trazer os namorados para dentro
de casa. Para os especialistas, o melhor a fazer é respirar fundo e
preparar as boas-vindas

Carolina Samorano
Especial para o Correio

Esqueça o futebol. Se existe um clássico que rende conversa em mesa de bar é sogra versus genro
ou sogra versus nora. Mais disputado que final de Copa do Mundo com Brasil e Argentina. Em
2008, quando não conseguiu um emprego em Brasília depois de se formar, a turismóloga Ângela
Capa
Silva, 25 anos, se viu de repente empurrada para o meio de campo, prestes a protagonizar a
Índice
Política peleja. “Eu não tinha trabalho aqui e os pais do meu namorado me convidaram a tentar alguma
Brasil coisa em São Paulo, morando com eles”, conta. O convite acabou convencendo Ângela a deixar o
Economia conforto da casa dos pais na capital para arriscar a sorte lá, a uma parede de distância dos sogros.
Opinião
Mundo
Saúde
Adaptar-se aos horários da casa e à falta de privacidade foi a parte da coisa que Ângela tirou de
Ciência New Beetle
Cidades letra. O ciúme da sogra é que era difícil de driblar. Mas, segundo o psicólogo e professor da 2.0 Mi
Universidade de São Paulo (USP) Aílton Amélio, esse desafio não foi privilégio da turismóloga. Ele Mec./Aut.
Super Esportes Ano: 2007
acredita que a maior parte dos problemas nas relações com as sogras surge exatamente daí. “Pode R$ 2000000.00
Diversão & Arte ser difícil para uma mãe ver uma terceira pessoa numa relação que antes era essencialmente entre XTZ 250
ela e o filho. Para ela, parece que alguém está tirando o filhinho ou a filhinha dela”, explica. “Daí LANDER
Direito & Justiça 249cc
para o ciúme virar um jogo baixo ou uma disputa não custa nada”, completa o especialista. Ano: 2009
Eu estudante R$ 12200.00
Informática Scénic Alizé/
Turismo Sorte ou não, Ângela nunca chegou a enfrentar a mãe do namorado enquanto dividia a casa com
Expression
Veículos ela. Oportunidade, não faltou. Paciência, sobrou. “Alguém tinha que ceder e, como eu era a visita 1.6 16V Mec.
Ano: 2005
Divirta-se ali, precisei respirar fundo algumas vezes”, lembra. A temporada durou nove meses, só o R$ 26900.00
Pensar suficiente para Ângela se estabilizar no novo emprego e encontrar um lar para chamar de seu. Civic Sedan
Super! Depois, cada um no seu espaço, não deu para segurar as diferenças. “Fiz muita vista grossa EXS 1.8/1.8
Revista do Correio Flex 16V Aut.
enquanto morava lá, acho que acabei guardando algumas coisas. Aí acabei me intrometendo um 4p
Trabalho
dia numa briga dela com o meu namorado”, lembra. Hoje, tudo resolvido, mas a experiência de Ano: 2007
TV R$ 59900.00
morar com a família do amado ficou no passado. “Não foi assim tão ruim, mas não troco mais a
Corsa Sedan
360 graus minha casa”, pondera. 1.0 MPFI 8V
Ari Cunha 71cv 4p
Visto, Lido e Ouvido Histórias de experiências traumáticas com sogra há aos montes. Todo mundo conhece alguém com
Brasil S/A uma para contar. O estudante de ciência política Pedro Ribeiro, 22, sabe bem disso. Da última
Brasília-DF
sogra, nem tem saudades. “Ela me regulava a comida, ficava dando indiretas e ainda colocava os
Charge
Coluna do Tostão dois filhos pequenos para ficarem nos vigiando”, recorda. Só que de um ano para cá, desde que
Crônica da Cidade começou a frequentar a casa da atual namorada, a também estudante Jéssica, 21, ele deixou de
Desabafo ser regra para virar exceção. A convivência com a família é tão bacana que ele se sente um
Dicas de Português membro dela.
Fala Zé
Fique Ligado “Eu adoro tê-lo por perto”, garante Herivânia Damata, 45, a sogra. “Quem fica preocupada é a
Grita Geral
mãe dele, com medo de que ele incomode, mas que nada!”, defende. A intimidade é tanta que já
Memória do Correio
Nas Entrelinhas rendeu até apelido. “Meu filho mais novo começou a chamá-lo de Agostinho Carrara (personagem
Sr. redator do programa A grande família) porque diz que ele explora a gente, mas é brincadeira”, diverte-se.
Tome Nota O irmão, aliás, é o parceiro de videogame preferido de Pedro. “Às vezes, espero a Jéssica dormir e
fico até tarde jogando com ele”, confessa, sob olhares de desaprovação da namorada e
gargalhadas da sogra.

Limite é bom e todo mundo gosta


Faz parte do senso comum a afirmação “o limite de um termina quando começa o do outro”.
Quando esse outro é alguém muito presente na vida do filho, é bom que esses limites sejam
determinados — e respeitados — para garantir a coexistência pacífica. Sendo assim, algumas
regrinhas podem ajudar a dosar o relacionamento em casa, de acordo com especialistas. Na casa

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de Herivânia, por exemplo, Jéssica e Pedro não ficam no quarto de portas fechadas. Dormir, só se
for cada um no seu canto: Jéssica no quarto, Pedro na sala. “Eu entendo e também não tenho do
que reclamar. Tem uma televisão enorme aqui, o videogame, e a comida é bem ali, na cozinha”,
brinca o estudante.

No entanto, se o visitante passa a ser um incômodo para a família, cabe aos pais o controle da
situação. “Eles são mais experientes em ocasiões de estresse, por isso o melhor é que eles
descubram o melhor jeito de ajustar as coisas sem invadir o espaço do filho. O que não pode é
deixar que o filho faça o papel de mediador de conflitos”, explica o psicólogo e especialista em
relacionamentos Thiago de Almeida. Já para Amélio da Silva, se o parceiro não é bem-vindo em
casa, cabe ao namorado colocar o relacionamento na balança e ver se vale a pena enfrentar os
pais em nome do amor. Se a resposta for sim, existem formas de se impor sem declarar guerra
total — tanto para os pais quanto para os filhos.

O ideal, segundo Silva, é que exista uma flexibilidade. Engolir alguns sapos no meio do caminho
também não é o fim do mundo, mas é preciso saber usar a diplomacia e negociar com firmeza.
“Existem maneiras firmes de lidar com inconvenientes. Ser assertivo, usar a educação e a
tolerância são dicas importantes”, afirma o especialista. No entanto, na opinião do psicólogo, se a
casa é dos pais, eles têm o direito de querer impor algumas regras, mas é preciso que ele saibam
que falar pode gerar ou piorar conflitos. “Não tem como fazer uma omelete sem quebrar os ovos.
Mas as regras fazem parte da vida, precisam existir. Ficar no silêncio absoluto nunca é uma boa
política”, pondera.

Em nome da convivência
Se você é a sogra anfitriã ou se é o amor do filho dela, a boa
educação é bem-vinda para deixar o convívio ainda mais agradável
ou evitar estresse no ambiente familiar.

» Normal fazer uma ou outra visita no começo do namoro, mas entrar de vez na vida da família
não é uma boa. Passar dias e noites inteiros na casa dos sogros, só depois de alguns meses. “Cada
caso é um caso, mas eu diria que seis meses é a conta ideal para a família se acostumar à ideia”,
diz a especialista em etiqueta Virgínia Gargiulo.

» Se você vai ficar mais de um dia na casa do namorado, organize uma mala de roupas que seja
suficiente e organizada. Pedir roupa emprestada para a sogra ou para a cunhada pode ser
desconfortável.

» Atenção, meninas: manter o banheiro organizado é fundamental. Fique atenta para não esquecer
peças de roupas íntimas por lá. Os meninos devem prestar atenção à tampa do vaso levantada.

» Se o plano é passar a noite, o melhor é que a visita seja no fim de semana. “Durante a semana,
as pessoas têm compromissos, atrapalha a rotina da casa e até mesmo a do casal, que estuda ou
trabalha”, aconselha Gargiulo.

» Aparecer de camisola ou samba-canção na mesa do café-da-manhã não tem nada a ver.


Segundo Gargiulo, para circular nas áreas comuns da casa, só depois de devidamente vestido.

» Ser uma sogra receptiva ajuda a deixar de lado o estresse desnecessário. Não custa nada
oferecer um café-da-manhã caprichado ou convidar a namorada ou o namorado para um almoço
em família. Além de simpático, é uma boa oportunidade para conversar e conhecer melhor a
pessoa antes de qualquer julgamento.

» Se a situação está ruim mesmo, o melhor então é chamar os dois para uma conversa franca.
Ficar soltando indiretas pode piorar a situação.

Papéis invertidos
Alex Carvalho/TV Globo -
Se as coisas são difíceis para as noras e os genros, quem está do 25/2/10
outro lado da história não sofre menos. Segurar o ciúme e aceitar que
a felicidade dos filhos não depende mais só delas deixa mães
enlouquecidas. Ingrid, personagem da atriz Natália do Vale na novela
Viver a vida, que o diga. Na trama, ela é do tipo que espera os filhos
adultos no sofá da sala a cada noite e sofre horrores com as escolhas
amorosas dos rebentos. Mas quem estuda a fundo esse tipo de relação
garante: com quase nenhum esforço — e muita paciência — é
possível, sim, manter a convivência numa boa mesmo sem morrer de
amores pelos amores dos filhos.

De acordo com o psicólogo Thiago de Almeida, a boa convivência


familiar não depende só de ir ou não com a cara do sujeito. Aceitar
que filhos crescem e são livres para escolher seus próprios parceiros
faz parte. “Quando o filho permite que alguém passe a frequentar a

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casa dos pais é um sinal de que, para ele, aquele é um relacionamento


importante”, explica. “O problema é que para alguns pais assumir um
compromisso assim é quase como romper o cordão umbilical de vez, e
aí eles se sentem abandonados”, completa.

Por isso, o psicólogo avisa: entrar em pânico e querer empurrar o


problema para longe não é a solução apropriada. Pedir para que os
filhos terminem o relacionamento, por exemplo, não deve nem ser
uma alternativa. “Muitas mães caem no erro de tentar persuadir o filho
de que o relacionamento não é apropriado”, conta. “Na verdade, não
há como impedir um amor de acontecer. Isso só trará estresse ao
ambiente familiar”, analisa. Herivânia, a mãe de Jéssica e sogra de
Pedro, sabe o que o especialista quer dizer. “Nunca torci pelo fim do
namoro deles. Pelo contrário, acho que enquanto eles estiverem bem,
minha filha estará feliz e é com isso que eu me importo”, resume.
Na ficção, Natália do Vale vive
Ingrid, uma sogra que sonha com
a mulher perfeita para os filhos

Editor: Cristine Gentil // cristinegentil.df@diariosassociados.com.br


Subeditor: Gustavo Falleiros // gustavotorres.df@diariosassociados.com.br
Sibele Negromonte// sibelenegromonte.df@diariosassociados.com.br
E-mail: revistadocorreio.df@diariosassociados.com.br
Tel: 3214-1138

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