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A palavra bullying ganhou notoriedade no Brasil conforme mais e mais casos extremos e
consequentes dessa prática encontraram lugar no cotidiano do brasileiro. Quer pontuados
na mídia ou comentados em rodas de amigos, os casos não constituem mais apenas um
cenário tipicamente norte-americano no imaginário da sociedade, mas fazem parte de
realidades ao redor do mundo, em vários níveis e esferas. E engana-se quem pensa que se
trata de uma prática restrita ao universo jovem, como escolas, praças, condomínios e
clubes.
Comportamentos que antes não levavam esse nome ou não se aglutinavam em um termo
que os estabelecesse como um problema, passaram a ser considerados como tal em nível
corporativo. Consequentemente, o bullying tornou-se objeto de estudos. A psicóloga
Gisele Meter, com vasta experiência na área de Recursos Humanos, se dedica a pesquisar
o tema como fenômeno social, com foco em identificar como ele se insere no ambiente
profissional brasileiro. Ela define o bullying como "uma afirmação de poder através de
agressão, feita de forma intencional e repetitiva, causando dor e angústia à vítima, que
normalmente acaba tendo sua autoestima rebaixada e se sentindo cada vez mais
fragilizada para reagir aos ataques".
A desestabilização
À definição da psicóloga Gisele Meter, a médica do trabalho Margarida Maria Silva
Barreto acrescenta a questão da desestabilização da relação da vítima com o ambiente de
trabalho e com a organização, o que pode resultar em desistência do emprego. "Na última
empresa em que atuei, sofria pressão e humilhações por ter crises alérgicas. [A chefe]
falava que eu era uma doente, bem como também me dizia: 'você tem problemas
psicológicos, precisa se tratar'. Falava para todos da equipe. E, por esse motivo, optei por
me retirar da empresa", conta J.R.C., assistente técnica em telecomunicações.
Em sua experiência, porém, Gisele afirma ver mais mulheres praticando bullying velado,
através de fofoca, exclusão e maledicências, e mais homens realizando agressões abertas,
por meio de xingamentos e apelidos pejorativos. "Este é um viés pessoal que já observei
dentro da minha empresa, que conta com aproximadamente 300 colaboradores, e que é
diferente do apontado na pesquisa", afirma, deixando claro que essa é a realidade do seu
local de trabalho e não uma regra.
Pode ser mais difícil percebê-lo pois geralmente em relações horizontais os abusos se
disfarçam como "brincadeiras" e comportamentos passivo-agressivos, como no caso de
A.T., que atua no setor financeiro de uma empresa. "Já falaram que eu preciso de um spa.
Ontem me compararam a uma atriz muito feia. Riram de mim. Debocharam de mim. Fui
embora chorando e ainda estou muito mal", disse.
Ainda segundo a pesquisa do Instituto de Bullying no Trabalho, 37% das pessoas que
mais sofrem com a prática do bullying são consideradas gentis e dotadas de compaixão,
enquanto 22% conseguem driblar o bullying ou de alguma forma lidar com ele. Pessoas
agressivas e abusivas são normalmente os agressores.
Essas consequências são prejudiciais para a empresa também. A pesquisa realizada por
Gisele Meter revelou a existência de um ciclo nocivo para as organizações, advindo do
bullying. Por ser muitas vezes um conjunto de comportamentos difícil de ser identificado
de fato como um problema, o bullying pode passar despercebido e só ser notado quando
já está ocorrendo em nível avançado.
"O ciclo do bullying se inicia com a raiva, passando para o sentimento de humilhação,
vergonha, impotência, baixa autoestima e tristeza. E o que se percebe é que, já no segundo
estágio, impacta a produtividade do indivíduo, e a partir do penúltimo estágio pode
envolver estresse, afastamento do emprego e, em último grau, depressão ou até mesmo
fobia social", afirma Gisele, com base em sua pesquisa. As consequências individuais,
portanto, ultrapassam os limites do pessoal e prejudicam o ambiente ao redor do
funcionário.
Recontratar funcionários que deixam a empresa por serem alvos do bullying, gastar tempo
resolvendo conflitos relacionados à prática e até potenciais processos trabalhistas são
elementos que podem ser evitados com a adoção de uma política preventiva. O objetivo
deve ser evitar que os funcionários sejam impedidos de contribuir com o melhor
desempenho possível para a organização por causa de um clima de medo e da quebra de
confiança.
Existe luz no fim do túnel
Somado ao fato de que o bullying profissional pode ser de difícil identificação há a
dificuldade de falar abertamente sobre o tema. Essa situação pede mudança. Pessoas que
estão em posição de poder nas empresas precisam tratá-lo como um problema relevante
a fim de que ele deixe de fato de ser um problema. Um dado curioso da pesquisa realizada
por Gisele Meter é que apesar de as pessoas saberem quais são os impactos do bullying,
32% dos respondentes afirmaram não saber dizer se já praticaram ou não bullying no
ambiente de trabalho. Essa informação reforça a importância da discussão aberta sobre o
tema no mundo corporativo.
O estudo mostrou ainda que 58% dos participantes já sofreram bullying profissional, e
89% deles acreditam na importância de adotar políticas claras contra esta prática. Apenas
5% afirmam trabalhar em empresas nas quais há políticas anti-bullying por escrito. A
instauração de uma atitude clara em relação ao assunto é, portanto, urgente. No caso do
bullying, a máxima "antes prevenir do que remediar" cabe perfeitamente.
"O ideal é que o primeiro passo a ser dado seja a instauração de politicas claras de anti
bullying, além de muita conversa sobre o tema. Outra coisa que percebo é que quando
falamos sobre isso, as pessoas acham que é apenas uma brincadeira e que a empresa
estaria tolhendo o direito dos trabalhadores de se expressar e interagir", lamenta Gisele
Meter. Por esse motivo é que a psicóloga afirma a necessidade de explicar claramente,
através de palestras, cartilhas e discussões em grupo, a diferença entre brincadeiras
saudáveis e bullying. No segundo caso, a diversão não é compartilhada, mas alcançada
através do sofrimento de outras pessoas.
André Freire aponta como alternativas serviços externos de suporte, como por exemplo
ouvidorias, para que os funcionários possam denunciar abusos sem medo de represália.
Além disso, o envolvimento do RH com treinamentos de liderança é importante para
esclarecer a diferença entre cobrança de resultados e assédio moral. Acima de tudo, é
preciso pensar e lidar com o bullying de forma séria. "É preciso saber que bullying é um
tipo de violência e deve ser tratado como tal", conclui Gisele Meter.
O combate à discriminação dentro das organizações
De Redação InfoJobs
Papel do Líder
Papel da Organização
As empresas, por sua vez, podem e devem recorrer a inúmeros métodos para
ajudar nessa conscientização. Palestras que promovam o tema é uma maneira
eficiente para abordar o assunto e a comunicação interna também pode ser usada
para disseminar tópicos como diversidade e respeito no ambiente de trabalho.
Nos processos de integração deve-se sempre mencionar que o preconceito vai
contra os valores da organização e, se for possível, a temática também deve ser
esclarecida como uma postura negativa e proibida dentro do Código de Conduta
e Ética da empresa.
Atualizar conceitos
Todas as vezes que o assunto preconceito for abordado, tanto diretores, como
líderes e colaboradores devem pensar nas consequências desta ação, pois em
muitos casos a discriminação pode gerar desconforto e até mesmo um
desligamento na empresa. O importante é manter sempre um comportamento
de respeito ao próximo e, principalmente, rever os seus conceitos. Estamos em
constante evolução e todos os dias desenvolvemos novos métodos para lidar
com antigas situações.
Empresas poderão ser multadas por
discriminação salarial de gênero
14/03/2019 às 15:02
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