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O presente artigo discorre a memória social do espetáculo “Jú Onze e Vinte e Quatro”,
apresentando corpos masculinos em diferentes contextos. A partir de um estudo
etnográfico de atores, dançarinos, performers que trabalharam como Drag-Queens no
show humorístico “Jú Onze e Vinte e Quatro” na cidade de Goiânia (GO) percebe-se
uma aproximação com as inquietações e performances do Grupo Dzi Croquetes (RJ).
PALAVRAS-CHAVE: Performance, Corpo, Paródia, Masculinidade, Gênero.
INTRODUÇÃO
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Mestrando em Performances Culturais na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de
Goiás (EMAC-UFG/GO); Bolsista da Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG-
GO); Pós-Graduando em Gênero e Sexualidade, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-
UERJ/RJ); Pós-Graduado em Filosofia da Arte, na Universidade Estadual de Goiás (UEG-GO);
Licenciado e Bacharel em Artes Cênicas (UFG-GO); Professor no Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda
da Arte, da Secretaria de Educação (SEDUC-GO); E-mail: (pauloreisnunes@hotmail.com)
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questão. Segundo Jô Gondar (2005, p. 18), “a memória é algo que os homens constroem
a partir de suas relações sociais, e não a verdade do que passou ou do que é”.
Usando desta narrativa, me faço valer das narrativas e fatos ocorridos durante a
existência do espetáculo “Jú Onze e Vinte e Quatro”, criado na década de 1980 e
findado em 2005, com a morte do ator e diretor Júlio César Vilela. A partir de então, a
apresentação do espetáculo passou a ser do ator e Drag-Queen Leleco Diaz, alterando o
nome do espetáculo para “Trupe do Jú”, adaptando todo o roteiro do espetáculo,
tentando não perder a essência do espetáculo original. Retomo Gondar para atentarmos
ao fato de que é no processo que se faz a construção da memória:
3. CENAS/QUADROS
As cenas do show humorístico Jú Onze de Vinte e Quatro eram apresentadas em
blocos, satirizando jornais, novelas, programas de TV. Faziam uma crítica à política
brasileira (e goiana), entrevistas artistas ou personalidades importantes, além de
dublagens de cenas de telenovelas.
Além disso, outro ponto bastante marcante do show são performances de atores
Drag-Queens, com produções diferenciadas dos demais quadros. Percebe-se então que
os quadros se aproximavam do teatro de revista, misto a um modelo de talk show, já que
a ideia original se inspirava no apresentador e ator brasileiro, Jô Soares.
Podemos pensar estas intervenções como paródias de gênero, pois brinca e
expõe os sujeitos ali presentes. As paródias de gênero são mais performáticas porque
brincam com a imitação do próprio gênero, segundo Butler apud Sara Salih aponta que:
Neste caso, deve ser possível encenar esse gênero sob formas que
chamem a atenção para o caráter construído das identidades
heterossexuais que podem ter um interesse particular em apresentar a
si mesma como essenciais e naturais, de maneira que seria legítimo
dizer que o gênero em geral é uma forma de paródia, mas que algumas
performances de gênero são mais paródicas que outras. (2002, p. 93)
Estas críticas eram parodiadas por atores Drag- Queens, que eram dirigidos por
Júlio Vilela. A direção optou por mediar a programação do espetáculo numa estrutura
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Das atrizes que passaram pelo elenco, somente uma se fixou durante algum tempo e outras somente
tiveram participações especiais como convidadas.
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Elas não só são definidas como também impostas, elas não convivem
harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; elas
são disputadas. A identidade e diferença estão, pois, em estreita
conexão com a relação de poder: o poder de definir a identidade e de
marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de
poder. A identidade e a diferença não são inocentes. (2011, p. 81)
Estudos recentes Queer apontam para a análise das teorias feministas baseadas
na oposição homens versus mulheres e também aprofunda os estudos sobre minorias
sexuais, dando maior atenção à formação de sujeitos da sexualidade desviante como o
travestismo, a transexualidade e a intersexualidade. Guacira Louro, nos explica que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Expressão no dialeto gay que traduz a caracterização total da Drag.
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gay em Goiânia? Não há uma resposta pronta. De fato usar o teatro como local de
aceitação de sujeitos discriminados foi uma ótima percepção e incrível sensibilidade de
Júlio Vilela e de todos os bailarinos e atores que participaram do elenco.
Por fim, posso refletir que sempre vamos retomar num ciclo de identidades,
afinidades e marcadores da diferença para determinar uma posição política. Não
conseguiremos nos distanciar da identidade e da diferença porque estes processos estão
ligados, assim como o bem e o mau. Esta trupe, assim como Dzi croquetes, questionou
os valores de seu tempo e sem dúvida contribuiu para a ampliação dos espaços de
sociabilidade LGBT em Goiânia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS