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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

ISIDORO DA SILVA LEITE

OLORUM – SER SUPREMO CRIADOR NA UMBANDA

Pós-graduação em Ciência da Religião


Convergências e Divergências
Prof. Dr. Frank Usarski

SÃO PAULO
2016
Disciplina: Convergências e Divergências
Professor: Prof. Dr. Frank Usarski RA: 00190896
Aluno: ISIDORO DA SILVA LEITE Turma: 06602DPA

INTRODUÇÃO

Faz-se necessário apresentar um histórico resumido da Umbanda. Como


acontece com a maioria das histórias relativas à criação de uma religião, a da Umbanda
também apresenta variações. Uma das versões, diz que ela foi fundada nos idos de
novembro de 1908, em um centro kardecista, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro.
Naquela ocasião, um jovem de nome Zélio Fernandino de Moraes, com cerca de 17
anos, que apresentava sérios distúrbios (“ataques”), foi levado à Federação Espírita.
Chegando lá, impulsionado por força estranha, agiu de maneira não convencional
durante a sessão, chegando a quebrar as normas kardecistas e, por causa de sua postura,
seu modo de agir e de falar foi convidado a se retirar. Então, avisou que no dia seguinte
estaria pontualmente às 20 horas na sua casa para dar início a um culto em que os
espíritos que haviam se manifestado ali poderiam transmitir suas mensagens e, assim,
cumprir a missão que o plano espiritual lhes havia confiado.
No dia seguinte, acorreram à casa do jovem alguns membros da Federação
Espírita, parentes, amigos e desconhecidos, e às 20hs em ponto o Caboclo das Sete
Encruzilhadas se manifestou por meio de Zélio, declarando que, a partir daquele
momento, uma nova religião se iniciava. Nela, os espíritos de índios e de negros
escravos poderiam trabalhar ajudando seus irmãos encarnados, independentemente da
sua cor ou posição social, e que seu nome seria Umbanda.
O importante aqui é observar o nome dado à nova religião: Umbanda. Qual seu
significado? SARACENI (2015) diz que ela vem do termo “Mbanda” da língua
quimbundo, dos povos bantos, significando “curador, feiticeiro, sacerdote, a arte de
curar, benzedor”.

TEOLOGIA UMBANDISTA

A Umbanda é uma religião monoteísta, acreditando em Olorum (O Senhor de


òrun), o Divino Criador, não criado, princípio de tudo, o Senhor do Céu, infinito em si
mesmo, onisciente, onipotente. Olorum não teve um início e é princípio meio e fim de
tudo o que há no Universo. Ele também é, em si mesmo, os princípios masculino e
feminino indiferenciados porque sua natureza divina é impenetrável, una, indivisível,
indissociável.
Esse ser supremo é impessoal e vive em um mundo paralelo ao nosso chamado
de òrun, enquanto nós vivemos no aye, embora estes dois mundos estejam muito
distante um do outro, isto não é empecilho para permitir que Olorum conheça
individualmente a vida de cada um, percebendo, entendendo e participando das
angústias pessoais de cada ser humano. Ou seja, Olorum é um deus vivo, que permeia
sua criação.
Olorum não é inatingível, mas não existe nenhum culto específico a ele, nem há
imagem alguma relacionada a Ele. Como ele é infinito em tudo, também o é nas Suas
Divindades, os Sagrados Orixás. Ele as gerou em Si e elas complementam-se umas às
outras na sustentação da criação divina e na manutenção dos princípios que a regem,
manifestando-se através dos sentidos da Fé, do Amor, do Conhecimento, da Justiça, da
Lei, da Evolução e da Geração. Dessa maneira, os Orixás não são deuses, apenas
divindades originadas a partir de Olorum, ou seja, são manifestações do Ser e do Poder
Divino.
O relacionamento entre os homens e Olorum ocorre por intermédio dos Orixás,
a quem o ser supremo delegou poderes para administrar o aye. Tais Orixás regem o
Universo e dividem entre si as forças da natureza, que incluem, no espaço, os elementos
(água, lama, terra, fogo, pedra, metais), suas manifestações (chuva, raio, trovão, arco-
íris), o mundo vegetal e o mundo animal (homens e animais). No tempo, incluem-se
todos os fenômenos naturais: nascimento, crescimento, atividades humanas, doenças,
morte.

PANTEÃO UMBANDISTA

Os Orixás foram concebidos como seres animados e agem segundo uma


personalidade bem determinada, com seu campo de ação, suas preferências,
repugnâncias e humor, ou seja possuem características antropomórficas bem definidas.
Como essas divindades não são em essência nem boas nem más é possível que o
homem possa conciliá-las; mas só conseguirá fazê-lo se já tiver adquirido o
conhecimento e a sabedoria necessários. Algumas vezes há uma interação ou, até
mesmo, luta e oposição entre elas, daí podendo resultar um conflito ao qual o homem
pode estar associado.
Cada divindade é em si mesma a manifestação de uma qualidade divina, de
aspecto de Deus e é, em si mesma, essa qualidade. Se em um nível da criação tudo é
Uno e Olorum é a unidade original, após esse nível o que é uno começa a nos mostrar a
dualidade macho-fêmea, ativo-passivo, irradiante-concentrador, positivo-negativo, etc.
Olorum está em todas as Suas divindades e em cada uma delas se verifica Sua
presença e cada uma delas pode conduzir o ser humano a Ele, pois cada orixá é uma
via, um caminho, até o Divino Criador.
Aqui no Brasil são cultuados, principalmente os seguintes Orixás1.
OXALÁ
Oxalá é o maior Orixá da Umbanda, estando abaixo apenas de Olorum, Deus
Supremo, por quem foi criado a partir do ar, que havia no início dos tempos, e das
primeiras águas. Seu símbolo é uma estrela de cinco pontas, e, no sincretismo com o
catolicismo, é venerado como Jesus Cristo, representando a paz e a fé. Na cosmogonia
umbandista, Olorum lhe dá a tarefa de criar o ser humano. Ele envia vibrações que
estimulam a fé individual, assim como irradiações que geram sentimentos de
religiosidade. É aquele que determina o fim da vida de cada ser humano, é o momento
de partir em paz. Representa o amor, bondade, pureza espiritual, e tudo aquilo que
indica positividade.
Saudação: Êpa Êpa Babá!
OXUM
Oxum é a Orixá que domina as mulheres, orixá da fertilidade, do amor e do
ouro. Protetora das gestantes e da juventude é a senhora das águas doces. Representa a
beleza e a pureza, a moral e o modelo de mãe. Muitas vezes é evocada em prol da
limpeza fluídica dos seguidores e do ambiente dos templos. Segundo a Umbanda, ela é
o exemplo de mãe que nunca desampara seus filhos e ajuda a qualquer pessoa.
Saudação: Ora iêiê ô!

1
As informações sobre os Orixás foram retiradas dos seguintes sites na internet:
http://aruanda-sarava.tumblr.com/osfilhos-dos-orixas
http://doutrinadeogan.blogspot.com/2015/09/orixas-e-seus-dias.html
http://www.caboclojurua.com/p/orixas_22.html
http://curiosidadereligiosas.blogspot.com.br
http://www.cabocloboiadeiro-ind.com.br/wp/gallery-items/that-he-gave-his-only-son/
OGUM
Orixá guerreiro, Ogum é aquele que representa todas as batalhas da vida.
Identificado com São Jorge, é o orixá protetor contra as guerras e contra diversas
demandas espirituais. Ogum é a força do movimento. É ele quem protege os seguidores
da Umbanda e as pessoas que sofrem perseguições espirituais ou materiais. Ogum
também é o senhor das estradas, é a jornada do dia a dia e sua responsabilidade é a
manutenção da lei e da ordem.
Saudação: Ogunhê!
IEMANJÁ
Orixá mais popular do Brasil, a rainha do mar é a mãe de todos os Orixás, é o
trono feminino da geração, a protetora dos marinheiros, pescadores, das viagens pelo
mar, agindo, também, sobre toda a flora e fauna marinhas. E, além disso, atua no
amparo à maternidade, rege de forma absoluta o lar e a família. Dona dos mares e
oceanos, águas essas que, através de sua força, tem o papel de devolver vibrações e
trabalhos, pois creem que o mar devolve tudo que nele for jogado e vibrado.
Saudação: Odoiá!
XANGÔ
Xangô é o Orixá da justiça e da sabedoria, simboliza a lei de causa e efeito,
responsável a dar a quem merece o devido castigo e a vitória aos que foram
injustiçados. É quem dá solução às pendências. A maioria dos seguidores que recorrem
ao Xangô são os que sofrem de injustiças, perseguições espirituais e materiais. Desse
Orixá, emanam também o saber e a autoridade, é o protetor de todos que tem contato
com as práticas da lei.
Saudação: Caô Cabecilê!
IANSÃ
Iansã é a Orixá dos ventos e das tempestades. Rainha dos raios, é responsável
pelas transformações e pelo combate a feitiçarias feitas aos seus seguidores. Guerreira, é
conhecida também como guardiã dos mortos, pois exerce domínio sobre os eguns. A
força de sua magia afasta todas as influências do mal e negativas, pois tem o poder de
anular os males e cargas de enfeitiçamento.
Saudação: Eparrei Oyá!
OXOSSI
Oxossi é o Orixá conhecido como senhor dos caboclos e das matas. É o caçador
de almas de homens e dele emana altivez. Encoraja e dá segurança a todos seus
seguidores; protetor dos animais é conhecido por aliar sua grande força com o bom
senso. Assim como Ogum, é um lutador, grande guerreiro, está sempre pronto para
defender aqueles que se colocam sob sua guarda.
Saudação: Okê Arô!
OMULÚ
Orixá da saúde, atua sobre os doentes, hospitais e cemitérios. Senhor da morte e
das doenças, costuma ser muito temido, porém da mesma forma que traz a doença, ele
leva embora também. Muito respeitado, é um orixá exigente e grande feiticeiro. Omulú
é a manifestação idosa de Obaluaiê. Os médiuns ao manifestarem a presença de Omulú,
se curvam aproximando-se o máximo da terra, do chão. Representa a transformação do
ser, morrer para o pequeno e renascer para o grande.
Saudação: Atotô!
NANÃ
Orixá mais velho do panteão africano, cuja origem ainda não foi identificada por
nenhuma pesquisa. Dona da alma do fundo dos rios, lama esta que serviu para modelar
os homens, é misteriosa e também possui forte relação com a morte; pois é o
nascimento, a vida e a morte. Nanã é uma expressão que significa “Mãe” em diversos
dialetos na África, portanto, Nanã é a mãe do destino.
Saudação: Saluba Nanã!

CONCLUSÃO

Como primeira e importante observação a se fazer é a constatação de, apesar de


haver diversas deidades no panteão, a Umbanda se entende como sendo monoteísta, já
que aceita apenas a existência de um Deus Supremo, criador, não criado e fora do
Universo material. As diversas divindades existentes foram criadas por e a partir dele.
Todas essas divindades possuem características antropomórficas acentuadas.
Ao contrário do Deus cristão – comumente representado por um senhor sisudo,
de barbas brancas – Olorum não possui aspecto físico distinguível. De maneira
equivalente, Deus e Olorum vivem em uma dimensão diferente da dos seres humanos,
mas, participam ativa e intensamente de suas vidas.
Também de modo similar, Umbanda e Cristianismo enxergam tudo o que existe
de forma dual, mais ou menos atenuada. No catolicismo, mais especialmente, há a
presença de santos e anjos entre o mundo material e o mundo espiritual, enquanto que
na Umbanda, há a presença dos Orixás entre o òrun (mundo espiritual) e o aye (mundo
material), além de haver a possibilidade de comunicação entre os espíritos e os homens.

REFERÊNCIAS

CHIESA, G. R. Criando mundos, produzindo sínteses: experiência e tradição na


Umbanda. Debates do NER, v. 1, n. 21 (2012). Disponível em :
<http://seer.ufrgs.br/index.php/debatesdoner/article/view/26495/19927>. Acesso em:
24set2016.
ESPÍRITO SANTO, D. Algumas observações em torno da renovação na umbanda
urbana contemporânea. Disponível em:
<https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/view/7104/5541>.Acesso em: 28ago2016.
NEGRÃO, L. N. Umbanda: entre a cruz e a encruzilhada. Tempo Social, São Paulo, v.
5, n. 1/2, p. 113-122, dec. 1993. ISSN 1809-4554. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/84951>. Acesso em: 24set2016.
PRANDI, R. O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso. Estud.
av., São Paulo , v. 18, n. 52, p. 223-238, dez. 2004 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142004000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 04out2016.
SARACENI, R. Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada. São Paulo: Madras. 2016.
_____________. Fundamentos doutrinários de Umbanda. São Paulo: Madras. 2015.

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