Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MOTIVATION AT UNIVERSITY:
A LITERATURE REVIEW
RESUMO
ABSTRACT
The aim of the present work is to present a literature review about variables
that influence college student’s motivation to learn, using Pintrich’s model,
which incorporates four main components: sociocultural context, classroom
environmental factors, internal factors and motivated behavior. It ends for
the need of larger emphasis in the use of metacognitive learning strategies
and larger number of studies about the theme in Brazil.
Key words: motivation to learn, metacognitive learning.
(*)
Artigo baseado em capítulo da dissertação de mestrado “Motivação para estudar e aprender em universitários”,
apresentada pela autora ao Instituto de Psicologia e Fonoaudiologia da PUC-Campinas, sob a orientação do Prof. Dr.
Samuel Pfromm Netto.
(1)
Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal e Faculdades Associadas de Ensino de São João da Boa Vista
Endereço: Rua José Bonifácio, 220 – Centro – CEP 13800-000 Mogi Mirim, SP – Fones (19) 3862-1874 / 3862- 4517
e-mail: growing@dglnet.com.br
A literatura psicológica sobre motivação estão presentes antes que os estudantes iniciem
aplicada a diferentes contextos educacionais seus cursos; (3) algumas evidências de que a
vem se expandindo consideravelmente nos motivação muda ao longo do curso e (4) que a
últimos anos, principalmente pelo fato (cada vez abordagem do estudo varia em função do sexo e
mais reconhecido, sob o ponto de vista cogniti- da idade - em geral, por exemplo, mulheres e
vista) de que para que qualquer aprendiz seja estudantes maduros tendem a adotar abordagens
bem sucedido é preciso que saiba utilizar de mais profundas do estudo. A outra linha de
forma auto-regulada, auto dirigida e ativa pesquisas sobre a motivação do universitário,
estratégias para gerenciar tanto a motivação segundo Jacobs e Newstead, segue uma tradição
como o comportamento e a aprendizagem, ou norte-americana e tem investigado três compo-
seja, que seja capaz de aprender a aprender. nentes da motivação: expectativa, valor e afeto.
Segundo Travis (1996) e Dembo (2000), no Pintrich, pesquisador da Universidade de
contexto universitário isto constitui uma tarefa Michigan, há algum tempo vem pesquisando
bastante complexa já que, neste, as a motivação na universidade por meio do
contingências são bastante diferentes daquelas “MSLQ - Motivated Strategies for Learning
do ensino fundamental ou médio, em que a Questionnaire” (1991), sendo um dos principais
motivação tem sido mais estudada (Ruiz, 2001). representantes desta última linha. Tem um
Jacobs e Newstead (2000) destacam que, modelo geral bastante amplo e esclarecedor
atualmente, há duas grandes linhas de pesquisa sobre a motivação do estudante e, por essa
neste campo. Uma delas é a adotada razão, será aqui utilizado para apresentar
principalmente por pesquisadores europeus e pesquisas recentes sobre o tema.
australianos que estudam a motivação na
universidade usando o “Approaches to Studying
Inventory” (ASI), desenvolvido na Lancaster O MODELO DE PINTRICH
University por Entwistle e Ramsden (v. Gibbs,
1992) e o “Study Processes Questionnaire”, de Concebido para ilustrar os aspectos que
Biggs. Este último, segundo Jacobs e Newstead, influenciam a motivação do estudante, o modelo
contém três orientações: superficial, profunda e de Pintrich (1994) incorpora quatro componentes
para a realização, cada uma das quais é dividida principais, nos quais se inserem variáveis
em dois componentes, estratégia e motivo. Os específicas: (1) o contexto sociocultural, (2) os
autores citados explicam que os estudantes fatores relacionados ao ambiente de sala de
“motivados superficialmente” fazem o mínimo aula, (3) os fatores internos ao aluno e (4) o
necessário para passar nos testes ou exames. comportamento motivado em si. Apresentado
Explicam também que os alunos com uma de forma linear, o modelo mostra como a direção
“motivação profunda” têm um interesse intrínseco se move a partir da influência do primeiro fator
no conteúdo de estudo e querem desenvolver para os demais, não obstante todos eles se
sua competência no assunto, enquanto aqueles relacionarem entre si.
com “motivação para a realização” visam aumen-
tar seu ego e obter a maior nota possível, 1. Aspectos Socioculturais
independentemente de a informação ser de seu
interesse. Sobre os estudos conduzidos por Segundo Pintrich, estes se referem a
meio do “Approaches to Studying Inventory”, os atitudes, crenças e comportamentos que os
mesmos autores afirmam que eles têm estudantes trazem para a faculdade, baseados
demonstrado: (1) que diferentes cursos em suas experiências anteriores, o que, entre
encorajam diferentes abordagens; (2) que outras coisas, se relaciona com os fenômenos
diferenças nas orientações de aprendizagem de integração/evasão acadêmicas, os quais vêm
sendo objetos de estudo de muitos pesquisa- preocupação com a ajuda aos estudantes para
dores, tanto em instituições públicas quanto aprender.
privadas de ensino superior, no Brasil e no Analisando os métodos instrucionais
mundo. A esse respeito, vejam-se, por exemplo, utilizados particularmente no caso do ensino
os trabalhos de Cote e Levine (1997), Pachane superior brasileiro, Masetto (op.cit.) explica que
(1999), Polydoro, Primi e outros (1999). a ênfase sempre foi e continua sendo dada no
Outro trabalho com ênfase nos aspectos processo de ensino (centrado no professor),
socioculturais que enfocam a integração ao mais que no processo de aprendizagem (centrado
ensino superior, realizado nos EUA, mostrou no aluno). Entretanto, ele defende que os tempos
que estudantes cujos pais não freqüentaram a atuais exigem a complementaridade dos dois
universidade e estudantes originários de minorias processos, com predominância do de aprendi-
étnicas têm mais dificuldade de adaptação ao zagem, para o que faz uma série de sugestões
curso superior (Ratcliff, 1995). de estratégias a serem usadas pelos profes-
Os fatores socioculturais também podem sores.
influenciar a forma como os universitários Os efeitos das interações entre o método
abordam as tarefas acadêmicas. Reglin e Adams instrucional utilizado pelo professor (diretivo/
(1990) mostraram, neste sentido, que, nos EUA, não-diretivo), o nível conceitual atingido pelos
estudantes que descendem de populações alunos (alto/baixo) e a motivação para aprender
asiáticas tendem a despender mais tempo em conteúdos acadêmicos foram investigados por
tarefas escolares do que em não escolares, a fim Flowers e outros (1999), os quais verificaram que
de atenderem às expectativas de sucesso de não houve diferença estatística significativa entre
seus pais. os métodos instrucionais sobre o nível conceitual
atingido na aprendizagem do conteúdo, mas
2. Fatores relacionados ao ambiente de houve efeitos estatisticamente significativos sobre
sala de aula a motivação, sendo que o método não-diretivo
resultou em maior nível de motivação para
Segundo o modelo de Pintrich, entre os aprender.
fatores relacionados à própria sala de aula se Buscando-se alternativas a métodos de
incluem, principalmente, os tipos de tarefas ensino mais tradicionais, outros vêm sendo
dadas, o comportamento do professor e os propostos no sentido de favorecer a aprendizagem
métodos instrucionais utilizados.
do estudante universitário. Travis (1996) cita
Ratcliff (op. cit.) resume a importância alguns deles: aprendizagem cooperativa, método
destes fatores, afirmando que uma transição de caso, teste de feedback e videotape. Sobre
bem sucedida para a universidade se relaciona estes, ressalta que vários têm uma estrutura
com a qualidade de vida na sala de aula. formal, uma extensiva base de pesquisas e
Por outro lado, apesar de sua importância, aplicabilidade a quase todas as disciplinas.
vários autores, (Belholt, 1997; Bordenave e Entretanto ressalta, ainda, a necessidade de
Pereira, 1998; Masetto, 1998, Berbel, 1999; que o corpo docente das instituições de ensino
Veiga, Resende e Fonseca, 2000), destacam superior desenvolva sua expertise no ensino
que muitas instituições de ensino superior ainda para poder aplicá-los e desenvolver outros
utilizam, preponderantemente, modelos de métodos inovadores.
ensino-aprendizagem convencionais, em Tendo em vista esta questão, todavia,
especial os métodos mais diretivos, dos quais a autores como Berbel (1999) consideram que
aula expositiva é o exemplo maior. Estes, em experiências inovadoras no ensino superior ainda
geral, segundo Svinicki (apud Travis, 1996), são insuficientes e pouco disseminadas entre
limitam-se a cobrir o conteúdo, sem nenhuma os professores das diversas áreas de conhe-
que pode ser desenvolvida, em vez de uma dos próprios estudantes que estão mais
“entidade” fixa) tendem a se engajar em estra- fortemente relacionados ao desenvolvimento da
tégias mais variadas de aprendizagem auto- motivação contínua para aprender. Outra
-regulada. conclusão importante a que chegaram foi que a
Os interesses e a percepção do valor de instrução que incorpora tanto uma variedade de
uma atividade ou tarefa acadêmica são outros estratégias de obtenção e manutenção da
fatores internos que influenciam a motivação de atenção do aluno, quanto elementos de surpresa
estudantes de 3º grau, já que podem afetar o e novidade (isto é, reduzem a previsibilidade) é
grau de esforço e persistência que a elas dedicam mais efetiva no sentido de gerar interesse e
(vide modelo da motivação como “expectativa x prevenir o “aborrecimento” dos alunos. De outro
valor” descrito por Brophy , 1998). lado, materiais instrucionais que não “capturem”
a atenção do estudante e não sejam relevantes
Stipek (1998) ilustra a importância de tais
para o conteúdo e as metas instrucionais
fatores, afirmando que estudantes que limitam
promovem “chateação”.
seu envolvimento ou esforço a uma disciplina em
particular não são, necessariamente, “pregui- A criatividade é outro elemento relacionado
çosos” ou “desmotivados”. Ao contrário, podem à redução da previsibilidade, ao gerar surpresa,
estar motivados a participar de diferentes novidade, curiosidade e suspense. Avaliar a
atividades atléticas, sociais, familiares ou de efetividade do engajamento de universitários em
relacionamento com colegas. De maneira atividades criativas sobre um tópico de aprendi-
semelhante, destaca Dembo (2000) que zagem, no sentido de encorajar um envolvimento
universitários não desenvolvem um interesse cognitivo ativo com o mesmo, foi o objetivo de
pessoal ou valorizam da mesma forma todos os outra pesquisa, na qual se verificou que, de fato,
cursos ou disciplinas. tal estratégia leva não só a aumentar a criatividade
do aluno, mas também a aumentar sua motivação
Ainda sobre a questão dos interesses,
intrínseca e a retenção do conteúdo a longo
Robinson (1970) afirma que uma maneira de
prazo (Conti e outros, 1995).
elucidar o problema da motivação de universitários
é examinar as razões pelas quais estes não se As metas e a forma pela qual para elas se
interessam pelas atividades acadêmicas. Dentre orientam os alunos são outros fatores internos
estas razões aponta: (1) a real preferência por que também têm influência sobre a aprendizagem
realizar outras atividades, em vez de freqüentar e o desempenho, sendo que existe vasta literatura
a faculdade; (2) freqüentar a faculdade como um associada à chamada “teoria das metas” (v., por
fim em si mesmo e não para aprender; (3) exemplo, Ames, 1992 e Blumenfeld, 1992).
problemas pessoais (de saúde, psicológicos, Neste sentido, estudos têm sugerido que a
financeiros, etc.); (4) preguiça; (5) falta de orientação à meta de realização denominada
escolha vocacional e (6) valores continuadamente domínio ou aprender (mastery ou task-involvement
imaturos. goals) leva a melhores realizações acadêmicas
do que a orientação à meta performance (ego-
Small e outros (1996), após passarem em
revista pesquisas anteriores sobre fontes de -involvement goals), o que é fortemente influen-
interesse e “aborrecimento” ou “chateação” em ciado pelas estratégias de ensino-aprendizagem
ambientes educacionais e suas relações com utilizadas pelos professores do ensino superior
as emoções, concluíram que, não obstante o (Archer e Scevak, 1998; Berguim, 1995).
fato de os professores serem vistos como Quanto às metas individuais de
responsáveis por despertar sentimentos de prazer universitários, Dembo (2000) afirma que muitos
a fim gerar e sustentar nos alunos o interesse ainda não as definiram e não têm certeza de por
mais imediato pela aprendizagem, são os que estão na faculdade, enquanto outros que
sentimentos de competência e autodeterminação sustentam a família ou que voltam a estudar
depois de algum tempo de ausência parecem tê- e valor e tentando dela extrair benefícios para si.
las mais claras. Por fim, o mais alto nível na progressão menciona-
É relevante que se considere sobre isto o da pelo autor é sucesso + vontade + valor +
prazer. É por isto que afirma: “ajudar adultos a
fato, cada vez mais freqüente, de estudantes
aprenderem com sucesso o que valorizam e o
mais maduros recorrerem ao ensino superior,
que querem aprender, de uma forma agradável,
premidos pelos mais diversos tipos de
é condição sine qua non para motivar a
motivações, dentre as quais as relacionadas ao
aprendizagem e a instrução” (op. Cit. p.14). Para
mercado de trabalho, à educação permanente e
tanto, Wlodkowski cita um conjunto de 60
(ou) à chamada “doença do diploma” (v. Dore,
estratégias motivacionais que podem ser
apud Litlle, 1992). Por isso (e em especial no
aplicadas ao ensino-aprendizagem de adultos.
caso brasileiro), a faixa etária de que se compõe
a população de universitários é cada vez mais Digilio (1998) ilustra alguns dos pontos já
ampla, incluindo uma parcela considerável de aqui mencionados por outros autores no que se
refere à motivação de estudantes adultos,
adultos mais maduros, que trabalham durante o
defendendo que não somente apresentam
dia e estudam à noite (Moraes, 1998).
diferentes experiências, motivações e estilos de
Sobre estes estudantes é preciso lembrar, aprendizagem em relação a estudantes
como fazem Mendes, Franco (in INEP, 1986) e universitários tradicionais, mas também que,
Castanho (1989) que o aluno de cursos superiores para os primeiros, tecnologias de aprendizagem
noturnos tem características bastante espe- à distância, desde que utilizadas sob condições
cíficas, que demandam um projeto pedagógico específicas, proporcionam maior flexibilidade
especial, bem como métodos e técnicas para atingir suas necessidades.
diferenciados daqueles que são utilizados durante
o dia. 4. Comportamento motivado
Muitas das características do aprendiz
maduro são consideradas por Wlodkowski (1999), O quarto e último dos fatores considerados
reconhecido especialista em motivação e no modelo de Pintrich caracteriza-se pelos
aprendizagem de adultos e um dos muitos comportamentos reais observáveis, os quais
autores que destacam as especificidades de podem ser utilizados como indicadores da
que se reveste o comportamento motivado nesta motivação do universitário.
fase de vida. Sobre eles, conforme já mencionado, a
Este autor assume que a motivação de literatura tem apresentado ênfase em estudos
adultos pode operar em níveis integrados, com que se referem à auto-regulação da aprendiza-
múltiplos sentimentos e pensamentos ocorrendo gem, o que está relacionado à metacognição
(v. Pfromm Netto, 1987; Boruchovitch, 1993 e
simultaneamente. O primeiro destes níveis é o
1999; Seminério e outros, 1995 e 1997; Vieira e
que integra sucesso + vontade. Assim, Wlodkowski
outros, 1999). O próprio Pintrich explica esta
explica que para que a motivação seja
ênfase afirmando que, neste nível de escolari-
sustentada, adultos devem poder experimentar zação, estudantes devem ter maior consciência
a escolha e o desejo de sucesso nas atividades de seu próprio comportamento, motivação e
de aprendizagem. Um nível superior da integração cognição, bem como devem ter crenças
motivacional nos adultos, entretanto, para motivacionais positivas e praticar estratégias
Wlodkowski é sucesso + vontade + valor. Neste auto-reguladas de aprendizagem. Para tanto,
ponto, sua visão considera que o estudante não recomenda que o corpo docente das faculdades
necessariamente precisa achar a atividade de modele a aprendizagem auto-regulada, utilizando
aprendizagem prazerosa ou excitante, mas deve estratégias metacognitivas apropriadas (Pintrich,
realizá-la com seriedade, encontrando significado 1995).