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Gil

Vicente (1465-1536?)
Contextualização
•  Gil Vicente testemunhou:
•  as lutas polí3cas do reinado de D. João II;
•  a descoberta da costa africana;
•  a chegada de Vasco da Gama à Índia;
•  as conquistas dos seus primeiros governadores;
•  a transformação de Lisboa em capital de um Império;
•  o fausto do reinado de D. Manuel;
•  a construção dos Jerónimos, do convento de Tomar e de outros monumentos;
•  as perseguições aos cristãos-novos;
•  os começos da crise do reinado de D. João III.

•  Gil Vicente viveu numa época dominada pelos Descobrimentos e pelas dualidades do
novo Portugal Quinhen3sta:
•  Devoção religiosa vs. hipocrisia social;
•  Moralismo em público vs. devassidão em privado;
•  Valorização do dinheiro vs. diminuição da fé.
Ridendo CasGgat Mores

•  Gil Vicente criticou:


•  todas as classes sociais;
•  os vícios da sociedade do século XVI.

•  A sua crítica é conseguida através de:


•  comicidade;
•  naturalidade;
•  espontaneidade.

•  O teatro vicentino tem o objetivo pedagógico de modificar aquilo


que estava mal, por isso, cumpre a máxima latina – Ridendo
Castigat Mores.

Farsa de Inês Pereira

Farsa - conceito

•  Trata-se de um género pertencente ao modo dramá3co que


apresenta normalmente o tema do engano. De acordo o E-
Dicionário de termos literários de Carlos Ceia, Farsa é definida como
«um género dramá3co que representa cenas da vida profana,
simultaneamente agressivas, pela sá3ra contundente, e fes3vas,
pelo cómico hilariante».

Mote que dá origem à peça

«Mais quero ASNO que ME leve que CAVALO que me derrube.»

Pêro Marques Brás da Mata


Inês Pereira
Personagens

•  Reduzido número de personagens


Ex.: Inês Pereira, Mãe, Lianor Vaz,
Pêro Marques, Brás da Mata, Moço, Ermitão

•  Abundância de Gpos sociais caracterísGcos da época


Ex.: Inês Pereira – jovem em idade de casar
Lianor Vaz – alcoviteira
Brás da Mata – escudeiro pelintra
Pêro Marques – lavrador rús3co
Relações entre as personagens

Inês/Mãe – relação de hierarquia e autoritarismo.


Inês/Brás da Mata – autoritarismo, violência, prepotência e subserviência marital.
Inês/Pêro Marques – desigualdade emocional. Ele ama a sua esposa e esta
desrespeita-o, sendo-lhe infiel.
Mãe/Lianor – cumplicidade.
Moço/Brás da Mata - autoritarismo e crí3ca, lealdade do Moço em relação ao seu
amo.
Lianor/Pêro Marques – interesse (obje3vo é conseguir casá-lo com Inês a fim de
receber algum bene\cio com isso).
Judeus casamenteiros/Brás da Mata – interesse (obje3vo é conseguir casá-lo com
Inês a fim de receberem algum bene\cio com isso).
Inês/Ermitão – amor (reencontro de um amor an3go).
RepresentaGvidade das personagens e Personagens Gpo

Inês Pereira - Não é uma personagem-3po, mas o seu comportamento tem traços do estereó3po
da jovem sonhadora e ambiciosa.
Escudeiro Brás da Mata - Crí3ca à pequena nobreza sem recursos próprios. Crí3ca às suas
dependências, à parasitagem, à cobardia.
Pêro Marques - Representa o rús3co lavrador. A sua linguagem, ignorância, simplicidade e postura
ridícula transformam-no numa caricatura.

As personagens Gpo:
Mãe – Ilustra as bpicas mães protetoras e autoritárias.
Lianor Vaz - Representa os alcoviteiros: promove casamentos de conveniência a troco de dinheiro.
Judeus casamenteiros - Representam os alcoviteiros: promovem casamentos a troco de dinheiro.
Crí3ca à avareza e à men3ra.
Moço – Representa os criados e tudo o que estes têm de suportar dos seus amos. Apesar disso, são
crí3cos rela3vamente às condutas incorretas dos mesmos.
Ermitão - Crí3ca à imoralidade do clero. Crí3ca à hipocrisia com que os membros do clero encaram
a sua vocação.
Temas abordados

•  Luta entre forças opostas


Ex.: modo de vida popular vs. modo de vida cortês

•  Relacionamento humano, familiar e amoroso


Ex.: relacionamento mãe/filha, Inês/pretendentes, marido/mulher…

•  Oposição dos valores tradicionais e convencionais a valores individuais


e pessoais
Ex.: diferentes conceções de vida e de casamento

•  Recurso frequente ao equacionamento de um triângulo amoroso


Ex.: Inês Pereira - Brás da Mata - Pêro Marques
Inês Pereira - Pêro Marques - Ermitão
Inês Pereira

Inês - Solteira Inês – Brás da Mata Inês – Pêro Marques


Insa3sfação de Inês com a sua
vida de solteira Centralidade do encontro de Casamento com Pêro
• Projeto de libertação de Inês: Inês Pereira com Brás da Marques
o casamento como forma de Mata: ilusão de Inês •  aprendizagem
emancipação (homem “avisado”) pela experiência;
• Recusa de casamento com o → anseio de promoção •  perceção dos
rús3co Pêro Marques social (modo de vida perigos do
→ recusa do modo de vida cortês) casamento;
popular • Reforço do antagonismo •  anseio de
• Antagonismo entre Inês e a entre Inês e a Mãe promoção social;
Mãe (conflito (conflito intergeracional) •  alteração de
intergeracional): oposição de • Casamento de Inês e de Brás a3tude: aceitação
interesses e conceções de da Mata; transformação da do modo de vida
vida ilusão do primeiro encontro popular.

→ marido ideal: em desencanto
• Relação
homem “avisado”, com (carácter autoritário e 3rano
extraconjugal com o
hábitos de corte (Inês) de Brás da Mata)
Ermitão:
vs. homem que garanta • Viuvez de Inês (o Escudeiro
•  emancipação/
estabilidade económica morre em África), que volta
liberdade
(Mãe) a estar livre

Representação do quoGdiano

•  a prá3ca religiosa (ida à missa);


•  o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz e os Judeus);
•  a falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sob o jugo desta;
•  a ocupação da mulher solteira em tarefas domés3cas (bordar, coser);
•  o casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe;
•  diferentes conceções de vida e de casamento – diferenças intergeracionais;
•  a tradição da cerimónia do casamento, seguida de banquete;
• a submissão ao marido da mulher casada e o seu «aprisionamento» em casa;
•  modo de vida popular (Pêro Marques) vs modo de vida cortês (Brás da Mata);
•  a inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir mais cultura;
•  a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e
buscava o presbgio perdido na luta contra os mouros;
•  a devassidão do clero; a corrupção moral de mulheres que se deixavam seduzir
por elementos do clero; o episódio relatado por Lianor Vaz;
•  o adultério.
Dimensão safrica

•  Presença da sáGra, fonte de cómico


Ex.: Farsa de Inês Pereira:
Mundo às avessas / subversão da ordem social estabelecida
– crise de valores (hipocrisia, 3rania, adultério, devassidão do clero, culto da
aparência)
– conflitos sociais em potência (casamento entre pessoas de classes sociais
dis3ntas)

•  Mecanismos
– Personagens 3po (3pos sociais caracterís3cos da época)
– Recurso ao cómico (de situação, de carácter e de linguagem)

A sáGra, estreitamente ligada ao cómico, ao riso e ao caricatural, recai principalmente


sobre as personagens de Inês Pereira, Pêro Marques e Brás da Mata.

Dimensão safrica - exemplos

Inês Pereira:
•  apresenta-se como revoltada contra os trabalhos domés3cos;
•  pretende libertar-se através de casamento;
•  tem uma noção idealizada do casamento, muito longe da realidade;
•  pretende um marido que seja bem-falante, tocador de viola, sedutor, mesmo que
nada tenha de comer;
•  é cas3gada quando vê desabar, na prá3ca, o seu engano, a sua conceção de
casamento;
•  encaminha-se, às costas do marido, para um encontro amoroso que fará de si
adúltera.

Pêro Marques:
•  é visto pela primeira vez a caminhar desajeitadamente em busca da casa de Inês;
•  revela incapacidade de falar, de seduzir;
•  traz presentes inadequados para Inês;
•  expõe a sua rus3cidade de campónio que desconhece a função da cadeira;
•  mostra a sua ingenuidade em assuntos amorosos, pois, encontrando-se de noite
com Inês, não aproveita para lhe dizer palavras de amor;
•  leva a mulher às costas , com docilidade e ingenuidade, para se encontrar com um
amante: é o modelo do marido enganado e complacente – sem perdão, é cas3gado
pelo riso.
Dimensão safrica – exemplos (cont.)

Brás da Mata:
•  reconhecimento, aquando da sua entrada em cena, acompanhado pelo
Moço, de uma figura velha conhecida: o escudeiro pelintra, fanfarrão,
pretensioso;
•  palavras do Moço, que, direta ou indiretamente, em vários apartes,
cas3ga o amo ao lembrar-lhe a pobreza esfomeada e descalça em que
vive, ou se espanta com as manias de grandeza de quem até a viola tem
de pedir emprestada…;
•  respostas do Escudeiro aos pedidos do Moço, a indicar caminhos de
men3ra e de dissimulação, ou a propor-lhe o roubo para se alimentar;
•  nobcia do modo como morreu: fugindo covardemente da luta.

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