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ESTUDO DE CASO: ANÁLISE MATEMÁTICA DO PROCESSO DE PURIFICAÇÃO DE

EFLUENTES CONTENDO ANILINA VIA EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO

BIAZATTI, M. J.1
1
Graduanda de Engenharia Química; Universidade Federal de Mato Grosso;
1
Contato: meuryjoicy@gmail.com

1. Introdução

As técnicas de extração e pré-concentração são usadas comumente na indústria,


principalmente em áreas que tem interesse em análises de compostos biológicos e orgânicos, ou em
purificação de substâncias complexas. Existem várias técnicas analíticas disponíveis atualmente, essas
separam os componentes, obtendo uma sub-fração da amostra original enriquecida com a substancia
de interesse1.
As técnicas mais utilizadas são: extração líquido-líquido, extração em fase sólida, extração
com fluido supercrítico e extração com membranas sólidas ou líquidas. Na extração líquido-líquido
(ELL), foco do presente trabalho, ocorre a separação da amostra em duas fases imiscíveis (orgânica e
aquosa). A afinidade do soluto pelo solvente de extração é o determinante para a eficiência da
extração, além disso, deve ser considerada a razão das fases e do número de extrações1.
Vale ressaltar que extração líquido-líquido possui vantagens por ser um processo simples e
pela possibilidade de utilizar de vários solventes disponíveis comercialmente, que permitem uma faixa
ampla de solubilidade e seletividade, além da vantagem estrutural de ocorrer em uma coluna vertical,
ocupando pouco espaço em uma planta industrial. Porém, há também desvantagens bastante
relevantes, como: as amostras com alta afinidade pela água são extraídas em partes pelo solvente
orgânico; pode se formar emulsões durante o processo, aumentando o tempo de operação; as
impurezas do solvente também são concentradas com a amostra, logo, é necessária a utilização de
solventes extremamente puros. Há também um problema com descartes, visto que são necessários
grandes volumes de solvente e soluto. Esses e outros erros tornam o processo suscetível a vários erros
de difícil automação2.
Uma importante aplicação da ELL é na purificação de águas residuais, quando é necessário
que se tenha uma metodologia analítica rápida. Num caso específico em que se tem contaminação
dessas águas com anilina, um composto vastamente utilizado industrialmente, a tecnologia é
predominante empregada, mesmo não sendo a ideal, do ponto de vista ambiental, visto que apresenta
um custo elevado devido ao emprego de grandes quantidades de solventes3.
A anilina, por sua vez, é um composto orgânico, nitrogenado, aromático, empregado como
matéria-prima em mais de 150 tipos de produtos de indústrias químicas e farmacêuticas, o que a faz
presente em demasia nas águas residuais. Esse composto afeta de forma negativa o meio ambiente e a
saúde humana devido ao seu efeito cumulativo e sua grande toxidade4.
Ainda que existam opções diversas para o tratamento de águas contaminadas com a anilina,
essas tecnologias apenas conseguem remover a anilina até certa concentração. Logo, é preciso que,
além de diminuir ao máximo a fração desse composto ao fim da purificação, deve se conhecer a
concentração resultante, pois, há limitações nas quantidades que podem ser descartadas no meio
ambiente5.
Dentro desse contexto, o presente estudo teve como objetivo realizar uma análise numérica de
uma coluna de extração, na qual a anilina é removida de uma corrente aquosa de efluente utilizando-se
de tolueno em contracorrente, para determinar as concentrações de saída de anilina em fase aquosa e
em fase orgânica. E, num segundo momento, simular via SciLab 5 (cinco) casos com modificações
estruturais e na composição, verificando as melhores configurações de processo em função do
rendimento, e por conseguinte, verificar a viabilidade dessas alterações visto o custo-benefício do
sistema analisado.

2. Metodologia

O problema proposto para a análise inicial baseou-se em uma torre de extração de 10 estágios
com solvente tolueno em contracorrente, na qual a anilina é removida de uma corrente aquosa. Os
dados apreciados foram os seguintes:

Discriminação da fase Vazões (lb/h)


Fase aquosa com anilina (W) 100
Solvente reciclado no 7º estágio (F) 13
Solvente puro (S) 10

Considerou-se que W continha uma vazão de 5lb de anilina/h , que na corrente F, a relação de
equilíbrio era que a fração lb de anilina/lb de tolueno era de 0,003, e que Yi (lb de anilina na fase
orgânica/lb de tolueno na fase orgânica) era igual a 9 vezes Xi (lb de anilina na fase aquosa/lb de
pagua na fase aquosa).
Para a determinação das frações de interesse, Xi e Yi, foram utilizados os seguintes balanço de
massas para cada estágio da coluna de extração:
𝐸𝑖 = 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 − 𝑆𝑎𝑖 = 0

𝐸1 = 𝑊 ∗ 𝑋0 + (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌2 − 𝑊 ∗ 𝑋1 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌1

𝐸2 = 𝑊 ∗ 𝑋1 + (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌3 − 𝑊 ∗ 𝑋2 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌2

𝐸3 = 𝑊 ∗ 𝑋2 + (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌4 − 𝑊 ∗ 𝑋3 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌3
𝐸4 = 𝑊 ∗ 𝑋3 + (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌5 − 𝑊 ∗ 𝑋4 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌4

𝐸5 = 𝑊 ∗ 𝑋4 + (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌6 − 𝑊 ∗ 𝑋5 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌5

𝐸6 = 𝑊 ∗ 𝑋5 + (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌7 − 𝑊 ∗ 𝑋6 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌6

𝐸7 = 𝑊 ∗ 𝑋6 + 𝐹 ∗ 𝑌𝑟 + 𝑆 ∗ 𝑌8 − 𝑊 ∗ 𝑋7 − (𝐹 + 𝑆) ∗ 𝑌7

𝐸8 = 𝑊 ∗ 𝑋7 + 𝑆 ∗ 𝑌9 − 𝑊 ∗ 𝑋8 − 𝑆 ∗ 𝑌8

𝐸9 = 𝑊 ∗ 𝑋8 + 𝑆 ∗ 𝑌10 − 𝑊 ∗ 𝑋9 − 𝑆 ∗ 𝑌9

𝐸10 = 𝑊 ∗ 𝑋9 − 𝑊 ∗ 𝑋10 − 𝑆 ∗ 𝑌10

Do conjunto de equações gerados pelos balanços, e pela simplificação do mesmo a partir da


relação de equilíbrio citada anteriormente, formulou-se um sistema linear com 10 equações e 10
incógnitas (X1, X2, X3, ... , X10), que, por sua vez, foi resolvido pela operação da matriz inversa no
Scilab.
Após essa primeira análise, foram construídos outros sistemas, derivados desse, para verificar
como as mudanças nas variáveis interferem no processo como um todo. As novas configurações foram
as seguintes:
 Variação da vazão de solvente de 0 à 30lb de tolueno;
 Adição de 1 e 5 estágios antes e depois do reciclo;
 Alteração do reciclo para o terceiro estágio e para o nono estágio.

Por fim, foi feita uma breve investigação para o caso no qual se tem um coeficiente angular da
relação de equilíbrio de forma não linear, e apresentado um fluxograma para a resolução desse
problema.
3. Resultados e discussões
i) Sistema original com 10 estágios
A partir da análise feita com os dados iniciais, obteve-se os seguintes resultados:

Tabela 1: Concentrações de anilina nas frações aquosa e orgânicas para cada estágio da coluna
com a configuração original

Sistema com 10 estágios


Estágio X(i) Y(i)
1 0.024269 0.2184207
2 0.0118385 0.1065467
3 0.0058335 0.0525013
4 0.0029325 0.0263924
5 0.001531 0.0137794
6 0.000854 0.0076862
7 0.000527 0.0047426
8 0.0004152 0.0037372
9 0.0002911 0.0026202
10 0.0001532 0.0013791

O valor de X10 é destacado aqui e nos próximos casos por representar a fração aquosa de
anilina na saída da coluna de extração, e este valor deve ser o menor possível. Ao mesmo passo que Y1
também ganha ênfase por conceber a fração orgânica de anilina que sai em contracorrente.
Tendo a fração resultante de anilina, é possível calcular o rendimento pelas relações:
𝐴𝑎𝑞 𝑙𝑏 𝑑𝑒 𝑎𝑛𝑖𝑙𝑖𝑛𝑎 𝑎𝑞𝑢𝑜𝑠𝑎
𝑋10 =
100 𝑙𝑏 𝑑𝑒 𝑎𝑔𝑢á

Portanto 0.001532lb é a quantidade de anilina que sai na água ao fim do processo. Sabendo
que entram a coluna 5lb na corrente W e 13*0.003lb na corrente F, obtém-se que o rendimento da
coluna em remover anilina é de 99,69%.

ii) Sistema com variação de vazão de solvente


A partir da variação da vazão de solvente, um importante fator a ser considerado nesse caso,
sendo o maior gasto do processo, obtiveram-se as seguintes curvas de frações:
Figura 1: a) Gráfico de vazão de solvente versus vazão de anilina em fase aquosa.
b) Gráfico de vazão de solvente versus vazão de anilina em fase orgânica

a) b)

É possível observar o comportamento inverso dos gráficos em função da vazão de solvente,


como esperado. Ressalta-se que a partir de aproximadamente 35lb de solvente, a vazão de anilina em
ambas as fases permanece quase inalterada, o que indica uma estabilização dos dados em mais ou
menos 99,88% de rendimento.
iii) Sistema com variação na posição do reciclo

Neste sistema, mantendo-se 10 estágios e variando apenas a posição do reciclo do processo,


granjeou-se os dados na tabela 2:
Tabela 2: Concentrações de anilina nas frações aquosa e orgânicas para cada estágio da coluna
com reciclo no terceiro e no oitavo estágio

Sistema com reciclo no terceiro Sistema com reciclo no oitavo


estágio estágio
Estágio X(i) Y(i) X(i) Y(i)
1 0.0239017 0.215115 0.0243222 0.2188997
2 0.0112938 0.1016439 0.0119175 0.1072571
3 0.005203 0.046827 0.0059248 0.0533234
4 0.0047661 0.0428945 0.0028414 0.0255729
5 0.0042806 0.038525 0.0013519 0.0121668
6 0.0037411 0.0336699 0.0006323 0.0056905
7 0.0031417 0.0282755 0.0002846 0.0025618
8 0.0024757 0.0222816 0.0001167 0.0010503
9 0.0017358 0.0156218 0.0000818 0.0007364
10 0.0009136 0.008222 0.0000431 0.0003876

As eficiências para o reciclo no terceiro e no oitavo estágio são respectivamente: 98,19% e


99,91%, calculado como anteriormente.
Nota-se que ao adicionar o reciclo mais abaixo no processo, o rendimento se eleva. Embora
deva ser levado em conta dados mais aprofundados das reações envolvidas, o fato do solvente ser
aplicado em fluxo contracorrente, indica que quanto mais abaixo for o estágio em que se encontra,
maior será o contato que o mesmo terá até o topo da coluna de extração, e maior a eficiência almejada.

iv) Sistema com variação na quantidade de estágios


Nas últimas análises feitas, foram adicionados estágios antes e depois do reciclo, para
comparar a eficiência e a viabilidade dessa operação.
Tabela 3: Concentrações de saída de anilina nas frações aquosa e orgânicas para as modificações
estruturais propostas

Variação das concentrações de anilina (aquosa e orgânica) em função da adição de estágios

Modificação X(11) Y(1) Anilina retirada (lb) Rendimento (%)


Adição de um estágio antes do reciclo 0,000117 0.21857792 5,027292 99,7677
Adição de um estágio depois do reciclo 0,000133 0.21850775 5,025678 99,7356
Adição de 5 estágios antes do reciclo 0,000085 0.21871663 5,030483 99,8310
Adição de 5 estágios depois do reciclo 0,000095 0.21867448 5,029513 99,8117

Ressalta-se que a adição de estágios tanto antes quanto depois do reciclo não altera
consideravelmente o rendimento do processo. Mas dentro dos do contexto aplicável, a adição de
estágio antes do reciclo indicou uma leve melhora da eficiência da tecnologia.
Finalmente, é apresentado o fluxograma do procedimento adotado para resolver o problema
caso houvesse uma relação de equilíbrio que resultasse em um sistema de equações não lineares:
Figura 2: Fluxograma da resolução do problema para um sistema não-linear

4. Conclusões
Foi possível determinar as concentrações de anilina aquosa e orgânica na configuração inicial
do processo, e essas representaram um rendimento satisfatório. Com as modificações de vazão de
solvente, observou-se um rendimento ainda maior em função do acréscimo de tolueno ao processo,
porém, essa operação possui um impacto econômico e ambiental que pode não compensar tal
melhoria, já que os gastos com solvente representam grande parte do custo do processo e o descarte de
tolueno no meio ambiente não pode ser feita de forma negligente.
Ademais, com relação a modificação do reciclo, vale destacar que a alteração do terceiro para
o nono estágio representou uma melhora de aproximadamente 0,7%, o que pode ser proveitoso em
uma planta industrial, tendo em vista que essa alteração estrutural não é tão complexa.
Por fim, em virtude do que foi apresentado, nota-se que as variações provocadas pela adição
de 1 ou 5 estágios, tanto antes quanto depois do reciclo, alteram o rendimento do processo em menos
de 0,1%, caracterizando então uma mudança pouco viável, visto o custo necessário para tal fim.

5. Referências
1
QUEIROZ Sonia et al. Métodos de extração e/ou concentração de compostos encontrados em fluidos
biológicos para posterior determinação cromatográfica. Química Nova, 2001.
2
FACCHIN, Ileana et al. Extração líquido-líquido em sistemas de fluxo. Química nova, v. 21, n. 1, p.
60-68, 1998.
3
VOGEL, A.I. Análise química quantitative. 6 ed, Rio de Janeiro, LTC, 2008.
4
AL-JOHANI, Hind; SALAM, Mohamed Abdel. Kinetics and thermodynamic study of aniline
adsorption by multi-walled carbon nanotubes from aqueous solution. Journal of colloid and interface
science, v. 360, n. 2, p. 760-767, 2011.
5
OLIVEIRA, Marília Rafaele et al. Recuperação De Anilina De Meio Aquoso Utilizando Sílica
Modificada Com Líquido Iônico Por Spe. Blucher Chemical Engineering Proceedings, v. 2, n. 1, p.
797-804, 2015.

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