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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium


Curso de Pedagogia

Karol Cristine Rocha Oliveira


Letícia Maziero dos Santos

OS JOGOS DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA


E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A
ALFABETIZAÇÃO

LINS – SP
2013
KAROL CRISTINE ROCHA OLIVEIRA
LETÍCIA MAZIERO DOS SANTOS

OS JOGOS DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES


PARA A ALFABETIZAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Banca Examinadora do
Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium, curso de Pedagogia, sob a
orientação da Profª Ma Denise Rocha
Pereira e orientação técnica da Profª
Ma Fátima Eliana Frigatto Bozzo.

LINS – SP
2013
Karol Cristine Rocha Oliveira
Letícia Maziero dos Santos

OS JOGOS DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES


PARA A ALFABETIZAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Centro


Universitário Católico Salesiano Auxilium para obtenção do título de graduação
do curso de Pedagogia.

Aprovado em ________/________/________

Banca Examinadora:
Prof(a) Orientador(a): Ma. Denise Rocha Pereira
Titulação: Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista- UNESP,
Marília.
Assinatura: _________________________________

1º Prof(a): Ma. Ana Paula Menoti Dyonisio


Titulação: Mestre em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
campus de Três Lagoas.
Assinatura: _________________________________

2º Prof(a): Ma. Kátia de Moura Graça Paixão


Titulação: Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista- UNESP,
Assis.
Assinatura: _________________________________
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais e demais


familiares, por todo incentivo que me foi doado, além
da paciência que tiveram enquanto me mantive ausente
em dedicação aos estudos;
Aos meus professores, que colaboraram com a
conclusão de mais uma etapa de sucesso em minha
vida.

Karol

Dedico este trabalho à minha família e amigos pelo


apoio recebido em todas decisões para alcançar a
realização deste sonho;
Aos professores que contribuíram com seus
conhecimentos ao longo do caminho percorrido, em
especial à minha orientadora Denise Rocha Pereira por
toda dedicação, sabedoria, e paciência.

Letícia
AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível pelo apoio,


estímulo e cooperação de algumas pessoas, às quais
gostaria de expressar o meu profundo agradecimento:
Ao Unisalesiano e a todos os docentes, pelo
acolhimento e ensinamentos prestados ao longo
destes três anos que cimentaram os alicerces do meu
saber;
Um profundo agradecimento à Denise Rocha Pereira,
orientadora deste Trabalho, além de Fátima Eliana
Frigato Bozzo por também ter contribuído;
Aos colegas de turma pela atenção, amizade, trocas e
disponibilidade demonstrada ao longo de todos estes
anos de trabalho;
Aos meus pais Iris Rodrigues de Oliveira e Maria de
Lourdes Rocha Oliveira e minha irmã Kelly, a quem
devo tudo o que sou, e que estiveram sempre a meu
lado em todas as situações que tive que viver e
ultrapassar ao longo destes anos;
Frente a todos agradeço a Deus, por tudo o que me deu
e possibilitou buscar.
À minha amiga que posso chamar de irmã, Letícia
Maziero, pelo companheirismo e superação.
Karol

Agradeço primeiramente a Deus, pela vida, pela força,


por ter me guardado até o presente momento e
permitido a conclusão deste curso, sendo este a
realização de um sonho;
Aos meus pais, José Carlos dos Santos e Marlene
Maziero dos Santos, que sempre me apoiaram,
incentivando-me a nunca desistir dos meus objetivos,
mas a alcançá-los e traçar outros, assim como meus
irmãos que vibraram a cada pequena conquista;
Às orientadoras Denise Rocha Pereira e Fátima eliana
Frigatto Bozzo, que com paciência e empenho,
estiveram prontas para contribuir sabiamente para a
elaboração e conclusão deste trabalho;
Ao Unisalesiano pelas portas que foram abertas;
À minha amiga e parceira Karol Cristine, pelo
companheirismo ao trilhar todos os obstáculos.

Letícia
EPÍGRAFE

Tudo que existe antes, dentro e depois do ofício de educar,


existe no interior de relações de trocas vivas
Onde o trabalho sobre o mundo e entre os homens
É o único poder que tem o dom de a tudo transformar.
Pensar nossa própria prática como um trabalho entre os
outros, recriá-la e fazê-la,
Transformar-se em cada uma das suas esferas a da sala de
aula, a da escola, a do sistema, a do lugar do sistema,
Entre outros de nosso mundo agora.
Imaginar que a educação existe muito mais imensa do que
a escola,
Que os educadores somos todos os que temos o olhar
dirigido ao horizonte de um mundo de homens livres,
Mas com as mãos e coração metidos nas questões e nos
caminhos de agora.
De que devemos ser, mais do que mestres
Muito mais do que meros mediadores de um poder
supremo:
Irmãos e companheiros da lição humana de um mesmo
caminhar”

Última estrofe de “Avôs e netos no meio da noite”

Carlos Rodrigues Brandão.


RESUMO

A utilização dos jogos na educação simbolizam mudanças de concepções e


valores sociais, uma vez que precisam ser vistos por todos os envolvidos na
alfabetização da criança como algo cultural, possível de promover êxitos, não
somente atividade de recreação. Muitos professores esquecem que cada
criança em processo de alfabetização não deixa sua condição de criança para
ser apenas aluno, assim, não levam em conta o ritmo individual de aprendizado
e o fato de que em uma sala a diversidade de alunos pode necessitar de
estímulos lúdicos diferentes para o ensino da leitura e escrita,
consequentemente, a prática pedagógica do uso de jogos por muitas vezes é
deixada de lado. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi o de investigar e
compreender o uso e as contribuições dos jogos que envolvam a língua
portuguesa no processo de alfabetização, possuindo como objetivos
específicos: entender como ocorre o processo de aquisição da língua escrita;
identificar as representações que os professores trazem sobre as práticas e os
instrumentos utilizados no ato de alfabetizar; e por fim, reconhecer as
contribuições dos jogos no desenvolvimento e aperfeiçoamento da consciência
fonológica. Tal processo aborda questões conceituais e convencionais. No que
tange às questões conceituais, a pessoa constrói um conhecimento que busca
responder questionamentos sobre o que e como a escrita pode ser
representada. Quanto às questões convencionais, uma série de aspectos
determinados por convenções sociais, como, por exemplo, o traçado e a
imagem que a letra possui e que devem ser considerados. A metodologia
utilizada foi de questionários destinados a dez professores alfabetizadores da
rede pública de ensino como forma de conhecer as suas opiniões e
estabelecer índices de comparação e análise. O que segue neste trabalho é a
revisão bibliográfica, apoiada nos autores que mais dão ênfase ao tema,
buscando conceituar o jogo como um meio de aprendizagem motivador,
prazeroso e propício para o desenvolvimento de diferentes habilidades no
processo de alfabetização e principalmente a consciência fonológica. A revisão
bibliográfica, portanto, tem o objetivo de contribuir com as reflexões sobre os
jogos e suas contribuições para a compreensão do sistema de escrita
alfabética. Os professores participantes da pesquisa evidenciaram uma
compreensão sobre a importância do trabalho envolvendo jogos, necessários e
presentes na prática, porém, com conhecimentos vagos relacionados à
consciência fonológica.

Palavras Chave: Alfabetização. Consciência fonológica. Jogos. Prática


Pedagógica.
ABSTRACT

The use of games in education symbolize changes in conceptions and social


values. Once they need to be seen by everyone involved in the child's literacy
as something cultural can promote not only success but also recreational
activity. Many teachers have forgotten that each child in the process of literacy
do not let their child status to be just a student. Therefore do not take into
account the individual pace of learning and the fact that living in a diversity of
students may require different stimuli playful teaching reading and writing.
Thereafter the teaching practice of using games for many times were left out.
According to the objective of this research, it was looked into and to understand
the use and contributions of the games involving the Portuguese language in
the literacy process, having as objectives: understanding how the process of
acquisition occurs in writing language. As a result to indentify the
representations whose teachers bring about the practices and tools used in the
act of literacy and finally acknowledge the contributions of the games in
development and refinement of phonological awareness. This process deals
with conceptual issues and conventional. Regarding the conceptual issues, the
person builds a knowledge that seeks to answer questions about what and how
writing can be represented. As conventional issues a number of points
determined by social conventions, such as, for example, the tracing and the
image and the letter has to be considered. The methodology used was
questionnaires which had been intended to ten literacy teachers of public
schools as a way to meet their opinions and establish indices for comparison
and analysis. What follows in this work is a literature review which had been
supported by the authors who emphasize the subject in search to conceptualize
the game as a learning environment motivating, enjoyable and conducive to the
development of different skills in the literacy process and especially
phonological awareness. The literature review, therefore it aims to contribute to
the discussions about the games and its contributions to the understanding of
the alphabetic writing system. Teachers participating in the survey have showed
an understanding of the importance of the work involving games, and gifts
needed in practice, however with vague knowledge related to phonological
awareness.

Keywords: Literacy. Phonological awareness. Games. Teaching Practice.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Aprendizado .............................................................................. 22

Figura 2: Exemplo de escrita na hipótese pré-silábica............................. 33

Figura 3: Exemplo de escrita na hipótese silábica ................................... 34

Figura 4: Exemplo de escrita na hipótese silábico-alfabética .................. 34

Figura 5: Exemplo de escrita na hipótese alfabética................................ 35

Figura 6: Parlenda Batatinha quando nasce ............................................ 48

Figura 7: Quadrinha ................................................................................. 48

Figura 8: Caixa de jogos alfabetizadores ................................................. 49

Figura 9: Bingo dos sons iniciais.............................................................. 50

Figura 10: Caça Rimas ............................................................................ 51

Figura 11: Dado sonoro ........................................................................... 52

Figura 12: Trinca Mágica ......................................................................... 53

Figura 13: Batalha de palavras ................................................................ 54

Figura 14: Mais Uma................................................................................ 55

Figura 15: Troca Letras ............................................................................ 56

Figura 16: Bingo da Letra Inicial .............................................................. 57

Figura 17: Palavra dentro de palavra ....................................................... 57

Figura 18: Quem escreve sou eu ............................................................. 58

Figura 19: Alfabeto em madeira ............................................................... 59

Figura 20: Palavras Cruzadas.................................................................. 60

Figura 21: Letras A ao Z .......................................................................... 60

Figura 22: Meu alfabeto ........................................................................... 61

Figura 23: Resposta da pergunta nº 1 ..................................................... 65


Figura 24: Resposta da pergunta nº 2- A ................................................. 66

Figura 25: Resposta da pergunta nº 2- B ................................................. 67

Figura 26: Resposta da pergunta nº 3 ..................................................... 69

Figura 27: Resposta da pergunta nº 4- A ................................................. 70

Figura 28: Resposta da pergunta nº 4- B ................................................. 71

Figura 29: Resposta da pergunta nº 5 ..................................................... 73

Figura 30: Resposta da pergunta nº 6 ..................................................... 74

Figura 31: Resposta da pergunta nº 7 ..................................................... 75

Figura 32: Resposta da pergunta nº 8 ..................................................... 76

Figura 33: Resposta da pergunta nº 9 ..................................................... 77

Figura 34: Resposta da pergunta nº 10 ................................................... 78


LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Métodos tradicionais de alfabetização .................................... 26


LISTA DE TABELAS

Tabela 1: resposta nº 1 dos professores.................................................. 90

Tabela 2: resposta nº 2-A dos professores .............................................. 90

Tabela 3: resposta nº 2-B dos professores .............................................. 90

Tabela 4: resposta nº 3 dos professores.................................................. 90

Tabela 5: resposta nº 4-A dos professores .............................................. 90

Tabela 6: resposta nº 4-B dos professores .............................................. 91

Tabela 7: resposta nº 5 dos professores.................................................. 91

Tabela 8: resposta nº 6 dos professores.................................................. 91

Tabela 9: resposta nº 7 dos professores.................................................. 91

Tabela 10: resposta nº 8 dos professores................................................ 91

Tabela 11: resposta nº 9 dos professores................................................ 91

Tabela 12: resposta nº 10 dos professores.............................................. 92


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA: Avaliação Nacional de alfabetização

CEEL: Centro de Estudos em Educação e Linguagem

MEC: Ministério da Educação

PNAIC: Pacto Nacional de alfabetização na Idade Certa

SEA: Sistema de Escrita Alfabética


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................... 14

CAPÍTULO I – ALFABETIZAÇÃO: CAMINHOS PERCORRIDOS ......... 19


1 CONCEITO DE ALFABETIZAR...................................................... 20
1.1 O caminho através dos métodos tradicionais de alfabetização ...... 23
1.2 Teoria da Psicogênese da Língua Escrita ...................................... 27

CAPÍTULO II – A VISÃO DA ESCRITA SOB A TEORIA DA PSICOGÊNESE


................................................................................................................. . 29
2 O PROCCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA.............. 30
2.1 Prática de leitura e escrita na pré-escola ........................................ 36
2.2 A alfabetização hoje e aspectos que se mantém, após a Psicogênese
da Língua Escrita ...................................................................................... 38

CAPÍTULO III – O JOGO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS 42


3 PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES.......................................................... 43
3.1 O jogo como instrumento alfabetizador ........................................... 44
3.2 O jogo e o desenvolvimento da consciência fonológica .................. 46
3.3 Modelos e conceitos de jogos fonológicos ...................................... 49

CAPÍTULO IV – PESQUISA QUALITATIVA ........................................... 63


4 INTRODUÇÃO ................................................................................ 64
4.1 Análise Qualitativa ........................................................................... 64

CONCLUSÃO .......................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 84
APÊNDICES ............................................................................................ 88
14

INTRODUÇÃO

O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas


novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.

Jean Piaget
15

A presente pesquisa objetivou verificar a importância do uso de jogos de


conciência fonológica no processo de alfabetização e quais suas contribuições
nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Visando a qualidade na formação
de escritores e leitores críticos e aptos para uma vivência em sociedade, a qual
se encontra em constantes transformações sociais, políticas, econômicas e
tecnológicas, é essencial utilizar metodologias e materiais diversificados, que
irão favorecer a apropriação dos processos da leitura e língua escrita de forma
eficaz.
Sabe-se que o jogo é uma atividade inerente ao ser humano e na
infância está presente em todos os momentos, proporcionando prazer e
estimulando a construção de conhecimento por meio da exploração e
expansão de suas habilidades e competências. Haja visto que há uma
infinidade de jogos, é preciso considerar também as peculiaridades de cada
jogo possa trazer suas possíveis contribuições.
A interação com jogos voltados à construção, comparação e
identificação de palavras auxilia no desenvolvimento das hipóteses de leitura e
escrita, bem como no processo de consciência fonológica, pois a atividade
lúdica inserida em um contexto de alfabetização possibilita a ampliação dos
aspectos cognitivo, afetivo, social e emocional de forma mais inspiradora,
oportunizando às crianças, em processo inicial de alfabetização, vivenciar por
meio das brincadeiras a difusão de suas capacidades de expressão,
comunicação e interação, assim como ingressar progressivamente no mundo
letrado que as cerca.
Mediante a bagagem de conhecimento adquirida diariamente através do
contato com diferentes contextos, objetos de leitura, a criança traz consigo
experiências que servirão de alicerce em sua aprendizagem, cabendo ao
mediador valorizá-las como instrumento facilitador, pois os conhecimentos
prévios da realidade em que vivem irão estimular a compreensão do
funcionamento do sistema de escrita alfabética e suas propriedades
notacionais
Sabendo que as evoluções teóricas no campo da alfabetização levaram
a percepção da necessidade do uso de novas técnicas, a fim de alcançar um
ensino aprendizagem eficiente, a fim de que o indivíduo compreenda o
funcionamento da escrita e que este processo passa por etapas, levantaram-se
16

questões sobre o processo de aquisição do sistema de escrita alfabético


acontecendo de forma gradual.
Morais (2012, p.52) afirma que “(...) A apropriação do SEA não ocorre da
noite para o dia, mas, sim, pressupõe um percurso evolutivo, de reconstrução,
no qual a atividade do aprendiz é o que gera, gradualmente, novos
conhecimentos rumo a hipótese alfabética”, cabendo aos educadores
assimilarem a essencialidade de usar metodologias diversas para potencializar
seu ensino e obter sucesso no ato de alfabetizar. Sendo assim, a apropriação
do uso de jogos de alfabetização é indispensável, afinal, com o lúdico a criança
tem mais facilidade e incentivo para entrar no processo de alfabetização, pois
estimula o prazer, autonomia, aceitação de regras, interação, auxiliando na
assimilação e fixação de conhecimentos e na reflexão fonológica, de forma a
escrever com base no conhecimento dos sons da fala.
Nesse contexto, essa pesquisa visa investigar o uso e as contribuições
do jogo no processo de alfabetização, possuindo como objetivos específicos:
compreender como ocorre o processo de aquisição da língua escrita; identificar
as representações que os professores trazem sobre as práticas e os
instrumentos utilizados no ato de alfabetizar; e por fim, conhecer as
contribuições dos jogos no processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento da
consciência fonológica.
Esta pesquisa é de cunho qualitativo e buscou no aspecto empírico a
reflexão sobre a prática de ensino com o uso de jogos alfabetizadores, que os
professores alfabetizadores apontaram ter. Os procedimentos metodológicos
consistiram em aplicação de questionários direcionados a professores
alfabetizadores sobre o uso de jogos e observação e registro sobre a utilização
dos mesmos. As respostas dos questionários, ou seja, os dados coletados
foram agrupados por categorias para análise e reflexão das informações.
Este estudo contém quatro capítulos intitulados como: I - Alfabetização:
Caminhos percorridos; II - A visão da escrita sob a Teoria da Psicogênese; III -
O jogo e suas contribuições pedagógicas; e IV- Pesquisa qualitativa.
O primeiro capítulo denominado “Alfabetização: Caminhos percorridos”
discorre sobre a alfabetização em seus diversos aspectos e métodos, expondo
toda a trajetória evolutiva desde a teoria tradicionalista até a atual baseada na
Teoria da Psicogênese da Língua Escrita. Sendo uma teoria composta por
17

visão empirista/ associacionista na qual o aluno surge vazio devendo ser


preenchido de informações prontas, estas transmitidas por métodos analíticos
que se constituíam em métodos de palavração, sentenciação e método global,
neles o aprendizado parte do uso de unidades maiores como palavras, frases e
textos para unidades menores, ou, informações transmitidas por métodos
sintéticos que faziam correspondência entre o oral e o escrito, partindo do
ensinamento e compreensão das unidades menores da escrita para só então
partir para as maiores. A segunda teoria visualiza a escrita alfabética como um
sistema notacional, no qual os alunos aprendem e constroem seus
conhecimentos por meio de uma interação e podem evoluir as hipóteses que
possuem sobre a escrita alfabética, conforme as solicitações que o meio lhe
faça e ação que o sujeito possuir neste meio alfabetizador.
No segundo capítulo “A visão da escrita sob a Teoria da Psicogênese”,
parte-se da teoria de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky e relata-se a trajetória do
aprendiz na alfabetização por meio de hipóteses que permitem a ele
reconstruir suas respostas de acordo com o seu percurso individual e sua ação
e interação com o meio, passando pelos níveis de desenvolvimento da
aprendizagem: o pré-silábico; o silábico com valor sonoro e sem valor sonoro; o
silábico alfabético; e, por fim, o nível alfabético.
O terceiro capítulo “O jogo e suas contribuições pedagógicas” tem como
objetivo expor que o jogo é um excelente recurso no processo de alfabetização,
pois estimula o aperfeiçoamento das capacidades e habilidades auxiliando na
construção de significados, reflexão fonológica, conceitos e concepções para
representação e percepção do mundo.
O quarto e último capítulo “Pesquisa qualitativa” consiste em apresentar
respostas e reflexões referentes às concepções teóricas dos jogos como um
meio lúdico e importante para a prática pedagógica. As questões elaboradas
foram respondidas por dez professores alfabetizadores em atividade na Rede
Pública de ensino.
Nas considerações finais, essa pesquisa apresenta os jogos como
excelentes instrumentos alfabetizadores que devem ser valorizados e usados
concomitantes às demais atividades, proporcionando o aprendizado da leitura e
escrita de maneira concreta. A pesquisa aborda também, que a alfabetização e
o letramento devem acontecer em conjunto, pois um completa o outro na
18

aquisição do sistema da língua escrita e somente com essa assimilação que o


indivíduo será capaz de utilizar a leitura e a escrita como fonte de
conhecimento.
19

CAPÍTULO I
ALFABETIZAÇÃO: CAMINHOS PERCORRIDOS

O método (...) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar, porém, não criar
aprendizagem. A obtenção de conhecimento é um resultado da própria
atividade do sujeito.

Emília Ferreiro e Ana Teberosky


20

Neste capítulo, tratar-se-á as práticas que o professor precisa ter, para


tornar seus alunos capazes de viver ativamente em sociedade, como cidadãos
leitores e escritores, algo que é um direito de todos e deve ser assegurado.
Traz abordagens sobre uma passagem pelos métodos tradicionais de
alfabetização, seus conceitos e o aprendizado oferecido pelos mesmos, até
chegar à Psicogênese da Língua Escrita.

1 CONCEITO DE ALFABETIZAR

Ao falarmos em alfabetização estamos nos referindo a um aspecto


essencial que constitui um direito humano assegurado, este proporciona a
integração social, participação política, cultural e econômica, além de ser um
recurso valioso para uma educação de qualidade.
A alfabetização em seus diversos aspectos e métodos, foi e ainda é um
assunto discutido e pesquisado por muitos autores ao longo da história.
Segundo Morais (2012) o índice de analfabetismo no Brasil vem
diminuindo, mas ainda é relevante, uma vez que o número de alunos nas
escolas passa a representar cada dia mais a evasão escolar, seja por
abandono, necessidade de trabalho ou falta de recursos para locomoção.
O acesso ao saber ler e escrever é um direito no Brasil reconhecido pela
Constituição Federal de 1988 em seu Capítulo III, artigo 205, porém, não está
ao alcance de todas as classes sociais ou não é valorizado suficientemente por
meio dos investimentos em escolas públicas. Cagliari (1995, p.13) relata que
“Os alunos pobres têm pouco contato com a escrita e a leitura antes de
entrarem para a escola. Necessitariam, portanto, de livros e material escrito
bem impressos. Mas justamente eles é que recebem o pior material”
No Brasil existe uma espécie de apartheid educacional, uma vez que
pode-se dizer existir dois sistemas de ensino diferenciados, sendo um
direcionado para as classes médias e outro para as classes mais baixas. No
segundo, portanto, aceita-se com naturalidade que as crianças cheguem ao
fim do primeiro ano sem compreender o sistema de escrita, é o que Morais
(2012) visa mostrar. Para este autor é preciso considerar que não é natural
crianças não aprenderem a ler e escrever e sim algo cultural, temos que nos
indignar com tal postura, pois somos potencialmente capazes de aprender a ler
21

e a escrever. Quando isso não ocorre, não se pode culpabilizar o aluno que
vem de classes sociais menos abastadas.
Além dos aspectos políticos da alfabetização é preciso refletir que a
alfabetização é um processo longo e complexo, não somente para quem
ensina, mas da mesma forma para quem está sendo alfabetizado. É preciso
saber escrever porque vivemos em uma sociedade onde a escrita e a leitura
são formas primordiais de comunicação.
Desde o início da construção da escrita, o sujeito passa por um processo
de significação em que tenta compreender o que e como a escrita é
representada.
Para o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil:
Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também
os seus significados culturais com eles, os modos pelos quais as pessoas
do seu meio sociocultural entendem, interpretam e representam a
realidade. (BRASIL, 1998, p. 117).

Portanto, quem não tem acesso a um espaço de ampliação das


capacidades de comunicação e expressão, tem negado não somente o acesso
ao mundo letrado, mas tem a negação à vida social plena.
O processo de aquisição da língua escrita em seu significado da palavra
permite-nos entender a alfabetização como a “aquisição do alfabeto ou
compreensão do código da língua escrita, ensinar as habilidades de ler e
escrever” (SOARES, 1998, p.19). Outra autora que descreve este processo é
Mortatti (2011) com o livro Alfabetização no Brasil no qual refere-se como um
termo utilizado no Brasil para designar o processo ensino e aprendizagem,
correspondente ao ensino das letras, da leitura e, simultaneamente, leitura e
escrita. Imprescindível à alfabetização é o processo de compreensão do
funcionamento do sistema de escrita.
O professor alfabetizador precisa ver a criança como um ser capaz de
pensar e agir de maneira autônoma na busca por soluções, capacitados para
serem cidadãos competentes e preparados para a vida em sociedade, além de
ter consciência do importante papel que exerce na vida de cada aluno que
passa por suas mãos direta ou indiretamente. Faz-se necessário a existência
de ambientes propícios e prazerosos para o desenvolvimento desse processo,
onde seja possível desenvolver relações interpessoais competentes e
propícias para um bom aprendizado.
22

Figura 1: Aprendizado

Fonte: www.pompeumg.com.br

A criança que vive num ambiente estimulador vai construindo


prazerosamente seu conhecimento do mundo. Quando a escrita faz
parte de seu universo cultural também constrói conhecimento sobre
a escrita e a leitura. Ler é conhecer. Quanto mais tarde ela aprender
a ler a palavra, já enriquecida por tantas leituras anteriores,
apropriar-se á de mais um instrumento de conhecimento do mundo.
(MOLL, 1996, p. 69).

O adulto é um mediador durante a alfabetização de uma criança, no


caso das salas de aula, é o professor. Por meio das intervenções recebidas, a
criança cria suas próprias hipóteses até chegar ao objetivo, vivenciando o
contato com textos de gêneros diferentes. Segundo Cagliari (2009, p.221) “os
alunos são capazes de enfrentar uma variedade enorme de textos. A restrição
com relação à escrita reside apenas nos casos em que os alunos não sabem
decifrar determinadas letras ou conjuntos de letras”.
Houve uma reforma no Ensino Fundamental (Lei nº 11.274/2006) que
aumentou a sua duração normal de oito para noves anos, ou seja, o Ensino
Fundamental tem início com crianças de 6 anos completos, até 31 de março
do ano da matrícula no ensino fundamental, com o objetivo de ampliar os anos
de alfabetização, porém, vale ressaltar que mesmo com todo o potencial para
aprender, nessa idade ainda são crianças e necessitam ser tratadas como.
Necessitam, portanto, da mediação do adulto, intervenções e estímulos.
Em 2013 o governo Federal lançou a ANA – Avaliação Nacional de
Alfabetização, que está atrelado ao PNAIC – Pacto Nacional de Alfabetização
na Idade Certa, um programa que propõe que todas as crianças até os oito
23

anos devem estar alfabetizadas, também acompanhado de formação para


educadores alfabetizadores.
No entanto, é preciso considerar que as crianças necessitam de um
tempo específico para concluir a educação fundamental alfabetizadas, pois,
passam por estágios que serão discutidos mais adiante.

1.1 O caminho através dos métodos tradicionais de alfabetização

Existe uma discussão que perpassa por muitos anos e ocorre ainda nos
dias atuais sobre qual é o método mais eficaz para a alfabetização. Muitos
especialistas e autores relatam suas pesquisas sobre o tema, buscando,
principalmente, soluções para o problema do fracasso que se instala com
frequência na educação mundial.
Os métodos tradicionais de alfabetização mais conhecidos e criados a
partir do século XVIII, segundo Morais (2012) apesar de diferenças aparentes
utilizam a visão empirista/associacionista para a aprendizagem, na qual a
criança durante o processo somente recebe informações prontas e as adquire
por meio da cópia e memorização em aulas mecanizadas. Técnicas de
decoração levam os alunos ao desinteresse e falta de motivação com os
estudos, além de classificar o erro como algo proibido.

A aprendizagem é vista como um processo de simples acumulação


das informações recebidas do exterior, sem que o sujeito precisasse,
em mente, reconstruir esquemas ou modos de pensar, para poder
compreender os conteúdos (sobre letras e sons) que alguém (a
escola, a professora) estava lhe transmitindo. (MORAIS, 2012, p. 27).

São conhecidos como métodos tradicionais os sintéticos e analíticos,


uma vez que ambos fizeram e fazem história na área educacional.
O método sintético exerce mais influência na alfabetização já ocorrida e
é considerado possível de ser aplicado a qualquer tipo de criança,
relacionando-se a correspondência entre o oral e o escrito, entre o som e a
grafia, parte das unidades menores da escrita que são as letras, sílabas ou
fonemas para depois, em seguida, construir palavras e frases, ou seja, o início
do mesmo implica o domínio do alfabeto por completo para então prosseguir e
avançar fases. “O primeiro passo, que pode ser separado dos subsequentes, é
o reconhecimento das letras. Dizemos que uma criança reconhece uma letra
24

quando pode, mediante solicitação, dar uma resposta específica diante dela”.
Ferreiro (1999, p. 22).
Implícitos estão os métodos alfabético, silábico e fônico. O alfabético traz
o conceito de que as letras substituem os sons e o aluno já adquire tal
compreensão. Relacionam letras na busca por formação de sílabas (“D com a
Dá”) e após conseguir realizar a leitura das mesmas formam palavras e mais
palavras para chegar aos textos. As principais críticas a esse método estão
relacionadas à repetição dos exercícios, o que se torna tedioso, além de não
valorizar os conhecimentos adquiridos antes da criança ingressar na escola.
Já o conceito de que para o alfabetizando sílabas poderiam ser lidas,
substituindo parte do que é falado e juntas formar palavras se enquadra no
método silábico.
No método fônico acredita-se que os fonemas são pensados e
pronunciados facilmente, de forma que os nomes dados às letras não revelam
o real som que elas possuem. Desse modo, o alfabetizando precisa decorar os
fonemas e as letras às quais os mesmos se referem. Esse ensino permite o
descobrimento do sistema alfabético e mais adiante o domínio da ortografia,
mas também possui críticas e uma delas é que nesse método as crianças
agem de forma mecânica e repetitiva, sem autonomia, repetindo ações fora da
realidade própria.
Praticar a repetição e memorização prejudica o desenvolvimento
cognitivo do aluno, uma vez que este não exerce ações e criações próprias
através de sua imaginação, falta prazer pela leitura e pouco estímulo para
adquirir um vocabulário enriquecido.
As crianças têm certa dificuldade em compreender e criar textos com
base em regras, pois a leitura com o tempo não se torna algo prazeroso,
porque quando possuem o domínio da leitura e escrita se contentam com o que
já sabem, o que fica é um vocabulário pobre.. Vale ressaltar que este método
também possui pontos positivos, são poucos, mas aparentemente visíveis,
propiciam uma escrita correta mesmo sendo um ensino rígido quanto a regras
e conduz na melhor compreensão da língua, por adquirir capacidade em
executar as atividades por si só.
Ainda na perspectiva dos métodos tradicionais de alfabetização, existem
os métodos analíticos, grupo constituído por três principais métodos,
25

palavração, sentenciação e método global, os quais partem de unidades


maiores como palavras, frases e textos para unidades menores.
De acordo com relatos de Ferreiro (1999, p.23) “Segundo o método
analítico não importa qual seja a dificuldade auditiva daquilo que se aprende,
posto que a leitura é uma tarefa fundamentalmente visual. Postula-se que é
necessário começar com unidades significativas”.
Ao trabalhar utilizando o método de palavração, espera-se que, durante
certo tempo, os alunos aprendam por meio da cópia, ou seja, copiem um
número estabelecido de palavras por diversas vezes até que se tornem
capazes de decompô-las a unidades menores. As palavras são apresentadas e
aprendem a reconhecê-las pela visualização, visto que as figuras podem
acompanhá-las no início, de modo que se incentive estratégias de leitura.
Com a sentenciação, as crianças focam seu aprendizado em frases,
chamadas sentenças completas para depois analisá-las em palavras, sílabas e
letras.
O método global tem a finalidade de trabalhar a alfabetização a partir do
contexto de realidades vivenciadas pelas crianças, pois, letras e palavras
isoladas não fazem sentido algum para quem está se alfabetizando. Portanto,
se fundamenta no contato com textos, trabalhando em seguida com unidades
contidas nos mesmos.
Fica evidente que os métodos tradicionais de alfabetização
desenvolvem, em um prazo prolongado, habilidades para que os alunos
tornem-se leitores e escritores, porém, não garantem obter um bom
desempenho em atividades mais complexas, pois, devem partir do empenho do
próprio aluno em procurar aprender e abranger a leitura e a escrita como
necessária para si.
Tradicionalmente, a alfabetização inicial é considerada em função da
relação entre o método utilizado e o estado de “maturidade” ou de
“prontidão” da criança. Os dois pólos do processo de aprendizagem
(quem ensina e quem aprende) têm sido caracterizado sem que leve
em conta o terceiro elemento da relação: a natureza do objeto de
conhecimento envolvendo esta aprendizagem (FERREIRO, 2001, p.9).

O estudo dos métodos tradicionais de alfabetização é algo relevante


para a prática docente, pois, por vezes, pode ocorrer a opção por um método
inadequado quando há um desconhecimento ou anáise ineficiente sobre o
mesmo.
26

Quadro 1- Métodos tradicionais de alfabetização

Fonte: Livro Sistema de Escrita Alfabética (MORAIS, 2012).

Para ensinar as especificidades dos métodos e chegar ao aprendizado


da leitura e escrita, é preciso materiais e, desse modo, surgem as cartilhas. A
primeira versão surgiu no século XIX com o nome silabário e várias outras de
origem portuguesa foram publicadas no Brasil, um comércio que gerou muito
lucro. Uma das cartilhas mais antigas é a Cartilha de Aprender a Ler criada por
João de Barros e com registros de ensino também religiosos. Já no século XX,
no Estado de São Paulo, as principais utilizadas eram Caminho Suave, Quem
sou Eu?, Cartilha Sodré e Cartilha Pipoca.
As cartilhas obrigam os alunos a seguirem um determinado caminho e pensar
conforme o método proposto, porém, há a necessidade de utilizar métodos de
alfabetização que valorizem a aprendizagem e expressividade.
Para Cagliari:
A alfabetização gira em torno de três aspectos importantes da
linguagem: a fala, a escrita e a leitura. Analisando estes três
aspectos, tem-se uma compreensão melhor de como são as cartilhas
ou qualquer outro método de alfabetização. (2009, p.82)

Pensando nesses aspectos trazidos por Cagliari, Mendonça (2003)


aponta um outro problema que as cartilhas causaram, pois privilegiaram as
atividades de escrita sobre a fala. Critica o fato de que inicialmente as cartilhas
27

vinham com intuito de ensinar o aluno a ler, mas no decorrer do tempo, o foco
passou para a escrita, tornando-se então um livro para ensinar a escrever.
Cabe ressaltar que a conversa na escola muitas vezes é vista com maus olhos
e como um aspecto negativo ao processo pedagógico.
O aluno não se faz participativo ao se apropriar do uso da cartilha, por
não trabalhar com o concreto, como jornais, revistas, livros de diversos gêneros
textuais, músicas e outros, pois ignoram conhecimentos adquiridos
previamente fora do ambiente escolar, através do cotidiano. Produzir pequenos
textos não é essencial, faz-se necessária a capacidade de comunicação
através da escrita.

1.2 Teoria da Psicogênese da Língua Escrita

A partir da década de 1980, Emília Ferreiro, doutora pela Universidade


de Genebra e orientanda do biólogo Jean Piaget, junto à psicolinguista Ana
Teberosky, passaram a contribuir com o processo de aquisição da língua
escrita por meio de diversos experimentos realizados com crianças de classe
baixa na Universidade de Buenos Aires e publicados como a Teoria da
Psicogênese da Língua Escrita.
Tal teoria é, por vezes, conhecida por muitos como construtivismo, mas
o termo, segundo Morais (2012), não é viável, primeiramente porque muitos
podem entendê-lo como uma teoria que só valoriza as descobertas
espontâneas. Segundo, porque o construtivismo, não é só uma concepção de
alfabetização, faz parte também da psicologia. Além disso, na concepção
construtivista não existe um entendimento sobre qual a melhor prática de
alfabetização.
O valor dado à aprendizagem baseia-se no modo como as crianças
aprendem e não como se ensina, modo como era feito com as cartilhas. Deve-
se, então, compreender como se dá o aprendizado para saber e pensar de que
forma e quais estratégias utilizar.
Nesta perspectiva, é importante valorizá-las em suas capacidades e
produções espontâneas. A criança chega à escola com uma grande bagagem
de conhecimentos sobre o sistema de leitura e escrita adquiridos através da
28

realidade em que vivem, do contato constante com livros, cartazes e outros


objetos.
Trabalhar com os conhecimentos prévios que a criança possui e
possibilitar que os expresse no ambiente escolar, faz com que seja uma
atividade prazerosa e eficaz.
Em a Psicogênese (1999), é possível perceber diversos estudos e
experimentos com crianças, nos quais as autoras constataram que o fracasso
na aprendizagem acontecia devido ao fato de as crianças não terem a mínima
noção de que a escrita se relaciona à fala e de fato nem tudo que falamos e
ouvimos está de acordo com a escrita.

Com a teoria criada por Ferreiro e Teberosky (1999), aprendemos


que os métodos tradicionais de alfabetização tinham uma visão
errônea sobre a atividade do aprendiz. Descobrimos que a escrita
não é um código e que não é da noite para o dia, recebendo
informações prontas, transmitidas pelo adulto (professora ou autor da
cartilha) que, de forma mágica ou instantânea, as crianças passam a
usar as letras para escrever ou ler palavras que não memorizaram.
(MORAIS, 2012, p.74).

Ferreiro e Teberosky (1999, p.26) citam que “O sujeito que conhecemos


aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do
mundo, e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo
tempo que organiza seu mundo”.
Pode-se dizer que as crianças precisam ser requisitadas, pois se
recebem poucos estímulos se mantém com ideias primitivas. Para Ferreiro e
Teberosky (1999) cabe à escola proporcionar vivências da prática social para
estimular uma escrita qualitativa, favorecendo a comunicação do aprendiz com
o mundo.
A discussão sobre a Psicogênese da Língua Escrita irá aprofundar-se no
próximo capítulo, quando será explicado aspectos necessários para sua
compreensão.
29

CAPÍTULO II
A VISÃO DA ESCRITA SOB A TEORIA DA
PSICOGÊNESE

A aprendizagem da leitura, entendida como o questionamento a respeito da


natureza, função e valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito
antes do que a escola o imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos.
Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito
que busca a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de
solucioná-los seguindo sua própria metodologia.

Emília Ferreiro e Ana Teberosky


30

No decorrer deste capítulo será abordado como ocorre o processo de


aquisição da Língua Escrita sob a Teoria da Psicogênese, criada por Emilia
Ferreiro e Ana Teberosky, afim de tornar explícito quais hipóteses as crianças
adquirem para se alfabetizar, de modo que sejam participativas, além de suas
concepções relacionadas à educação atual, uso de cartilhas e a idade para
que comece de fato a alfabetização.

2 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA

O livro a Psicogênese da Língua Escrita, publicado originalmente em


espanhol sob o título Los sistemas de escritura em el desarrollo del niño ao fim
da década de 1970 de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky visa indagar e mostrar
novas concepções para a compreensão do processo de construção da leitura
e escrita, com foco em um sujeito que busca conhecimentos, relacionando-os
aos que já trazem na bagagem.
Os estudos contidos nesta obra resultam de um trabalho experimental
realizado com a participação de crianças em idade de alfabetização, de forma
que representem a escrita e os questionamentos a sua maneira, além do apoio
e auxílio de colaboradores para refletir e tentar o alcance de modificações a
uma realidade constante de reprovação nas séries iniciais do Ensino
Fundamental.
A pesquisa citada causou reações diversas em educadores logo que
surgiu, introduzindo conhecimentos não só da pedagogia, mas também da
psicologia. Veio para modificar os métodos tradicionais de uso das cartilhas,
nos quais os alunos aprendiam com letras soltas, falta de contato com textos
produtivos, eram tidos como meros recebedores de conhecimento pronto e
sem valorizar o erro, no início a ênfase estava na leitura e depois passou para
produções escritas.
Alguns aderiram ao novo com total entusiasmo e passaram a colocar
em prática, deixando as cartilhas de lado, enquanto outros acreditavam que a
teoria fosse somente algo passageiro.
A teoria da psicogênese foi e é uma das teorias mais utilizadas pelos
professores quanto à sondagem no processo de alfabetização. Conforme essa
teoria, a criança deve se sentir capaz de construir seus próprios
31

conhecimentos, valorizando a bagagem que trazem consigo, de forma a


aperfeiçoar seus conceitos.
Muito se fala em métodos, mas com relação à Psicogênese, não se trata
da criação de um método, e sim uma teoria para expor o processo da maneira
como o sujeito inserido nele o pensa.
Nesta perspectiva teórica, as relações pessoais e individuais com a
significação da língua escrita são fundamentais.
É um processo difícil para a criança, mas não mais difícil que outros
processos de aquisição de conhecimento. Exige acesso à informação
socialmente veiculada, já que muitas das propriedades da língua
escrita só se podem descobrir através de outros informantes e da
participação em atos sociais onde a escrita sirva para fins específicos.
Não é um processo linear, mas com períodos precisos de organização,
para cada um dos quais existem situações conflitivas que podem
antecipar-se (FERREIRO, 1992, p.32).

A criança adquire conhecimentos ao longo de seu crescimento, o


conhecimento de mundo, e chega à escola com uma bagagem bastante
complexa sobre sua língua materna. Assim, a aprendizagem é vista como a
interação do indivíduo com o meio, a interrelação de aspectos internos e
externos, segundo o biólogo Jean Piaget, num processo construtivista, porque
o sujeito constrói seu conhecimento, por meio de adaptação e acomodação ao
meio. As autoras seguiram uma linha de estudo na qual o orientador de
Ferreiro não havia se aprofundado, criando a teoria da psicogênese para
descrever o processo citado acima. Tal teoria é vista como construtivista, pois
nos possibilita ver e refletir sobre o que o indivíduo sabe ou não, o professor
deve considerar os erros da criança para criar condições de atuar sobre eles,
interferindo positivamente.
A construção da escrita na criança remete à reconstrução da língua para
que seja possível apropriar-se dela. O termo maturação não é utilizado para
nomear esse processo porque não é algo maturativo, desenvolvimento e
aquisição também não se enquadram.
Emilia Ferreiro defende em seu livro Com todas as letras(1992) o termo
construtivismo, mostrando que a construção da escrita não é parcial, como
algumas pessoas imaginam, ou seja, constroem conhecimentos iniciais e
acrescentam o restante, sem reconstruir o que já se sabe. “Defendo a
utilização técnica do termo construtivismo, opondo-me à utilização abusiva que
o esvazia de conteúdo para convertê-lo simplesmente em uma etiqueta para
32

designar apenas um conjunto de práticas pedagógicas vagamente relacionadas


entre si.” (FERREIRO, 1992, p.77).
Antes de a criança adquirir a capacidade de ler convencionalmente ela já
obtém conceitos relacionados ao que pode ou não ser lido. Analisa aspectos
variados e de maneira interessante como a quantidade de letras que uma
palavra necessita ter para poder ser lida, cerca de duas a quatro, normalmente
três. Precisam ser letras variadas, pois se forem iguais não formam uma
palavra. Existe ainda a capacidade de distinguir letras e números, desenhos e
textos, sendo que alegam a leitura para os textos e os desenhos somente para
olhar “ A escrita é importante na escola porque é importante fora dela, e não o
inverso.” Ferreiro (1992, p. 20).
Há o reconhecimento e nomeação das letras que cada criança adquire a
seu tempo, sinais de pontuação e suas diferenciações, limitados aos mais
simples e o entendimento de uma escrita da esquerda para a direita ou de cima
para baixo, nesse caso, ocorre mais facilmente com a informação dada por um
adulto. Adultos leem com frequência em frente aos pequenos, seja em voz alta
ou leitura silenciosa, seja um livro, cartazes, bula de remédio ou jornal
estimulando a cópia de tais atos.
Os estudos levaram a resultados que permitiram o encontro de cinco
níveis para a alfabetização, sendo a escrita alfabética um sistema notacional
porque ganha sentidos de acordo com o contexto e não um código, ou seja,
algo fixo.
Com a Psicogênese da Língua Escrita (1999) as autoras descrevem os
níveis de desenvolvimento da aprendizagem. O primeiro nível é o pré-silábico,
no qual a criança ainda não relaciona os sons da fala com a escrita.
Inicialmente não ocorre a distinção entre letras e desenhos e ao solicitar a
escrita de um animal é provável que faça os formatos que conseguir. Ao
praticarem a escrita da forma que sabem começarão a desenvolver rabiscos
cada vez mais parecidos com letras, criando algumas de formas diferentes. A
escrita do nome próprio tem um papel muito importante para a criança desde o
início de sua alfabetização.
Segundo Grossi (1985, p.15) “a didática do nível pré-silábico visa a que
a criança distingua imagem de texto, letras de números, e que estabeleça
macrovinculações do que se pensa com o que se escreve”.
33

Nesse nível ocorre algo conhecido como realismo nominal, assim a


escrita da palavra mosquito deve possuir poucas letras e vaca, muitas letras,
pois um é pequeno e o outro é grande.
Figura 2: Exemplo de escrita na hipótese pré-silábica

Fonte: blogellenproinfo.blogspot.com.br

O nível seguinte é conhecido como silábico, no qual os grafismos


possuem definições parecidas com as letras do alfabeto, estabelecendo que há
a necessidade de uma quantia de caracteres e variação para que algo possa
ser escrito e lido, uma vez que escrever palavras monossílabas torna-se um
grande conflito.
O surgimento de novas hipóteses mostra que a criança evoluiu nos
conceitos sobre o que a escrita representa e como ela representa, assim, a
escrita torna-se a representação dos sons da fala e ao decorrer das aquisições
entende-se que para cada sílaba falada escreve-se uma letra. Quando o aluno
já possui uma hipótese silábica ao iniciar a alfabetização na escola, este,
provavelmente, ao fim, apropriar-se-á do Sistema de Escrita Alfabética (SEA),
ou seja, será capaz de ler e escrever textos significativos.
Divide-se em escritas silábicas sem valor sonoro ou quantitativas e
escritas com valor sonoro e qualitativa. No primeiro, as palavras costumam
possuir uma letra para cada sílaba pronunciada, visto que as letras
normalmente não correspondem as que realmente são. Já no segundo caso,
permanece uma letra por sílaba, porém, com relação aos sons ouvidos,
frequentemente utiliza-se vogais. “Assim é mais frequente encontrarmos grafias
como I O E para picolé ou A U I para jabuti.” Morais (2012, p.60).
34

Figura 3: Exemplo de escrita na hipótese Silábica

Fonte: Livro Sistema de Escrita Alfabética (MORAIS, 2012, p.59)

Existe um período conhecido como transição e chamado de nível


silábico-alfabético, a criança percorre o desenvolvimento de seus
conhecimentos adquirindo conceitos para propor maior quantidade de letras a
uma escrita. É extremamente importante para o desenvolvimento da
consciência com relação aos sons e a grafia.

Figura 4: Exemplo de escrita na hipótese silábico-alfabética

Fonte: Livro Sistema de Escrita Alfabética (MORAIS, 2012, p.64)


35

Logo adiante, vem a última etapa para a apropriação do SEA (Sistema


de escrita alfabética), nível alfabético, momento fundamental para esse
processo de alfabetização ser concluído parcialmente com sucesso, pois é
importante que cresça através das experiências de leitura e escrita vivenciadas
ao longo da vida.
A criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de
fazer uma análise que vá “mais além” da sílaba pelo conflito entre a
hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de granas
(ambas exigências puramente internas, no sentido de serem
hipóteses originais da criança) e o conflito entre as formas gráficas
que o meio lhe propõe e a leitura dessas formas em termos de
hipótese silábica (conflito entre uma exigência interna e uma
realidade exterior ao próprio sujeito). (FERREIRO, 1999, p.214).

Os erros ortográficos ainda estão presentes quando o nível alfabético é


alcançado, porém, para chegar a esse nível da escrita, vale ressaltar a
superação de hipóteses e conflitos por parte da criança. Portanto, cabe aos
professores trabalharem em cima disso com atividades diversas e não utilizá-
los contra os alunos. Faz-se necessário discutir junto com os mesmos para
buscar adequações, não deixando de lado o ensino referente aos sons da
fala(fonemas) e as letras, assim como o trabalho com a caligrafia, visto que é
importante letra legível, bastão e também cursiva.

Figura 5: Exemplo de escrita na hipótese alfabética

Fonte: Livro Sistema de Escrita Alfabética (MORAIS, 2012, p.65)

Para Morais (2012), alcançar o nível alfabético não é o mesmo que estar
alfabetizado. Nesse caso o foco não está mais em ensinar aspectos
36

conceituais do sistema, passa a relacionar-se principalmente com


correspondências entre grafema e fonema. Uma pessoa alfabetizada possui
em seu intelecto memória de muitas palavras, mesmo que não usadas
frequentemente, de modo que reflete sobre elas na hora de utilizá-las.
É quando se está no nível alfabético que o aprendiz inicia a produção
textual pela escrita, aquilo que já era capaz de fazer oralmente torna-se
possível com a escrita. Quando começam a escrever textos com sentido,
sentem-se cada vez mais capazes, importantes e criativos para criar suas
histórias.
Os primeiros textos escritos tendem a ser pequenos e com poucas
frases, no decorrer do processo e da prática tornam-se maiores e mais
elaborados. A análise dos erros é mais eficaz que os acertos, a partir daí
ocorrem discussões com os alunos, sempre valorizando os erros, pois quando
se procura evitá-los, evita-se também que a criança pense.
Quando a criança ingressa na escola, relaciona-se com a linguagem
como textos que podem ser ditos e ouvidos e, somente após muitos estudos,
consegue perceber unidades mais complexas. Por isso, para elas é mais fácil o
contato com textos de estilos diferentes do que com elementos isolados, dessa
forma, é relevante trabalhar proporcionando estas situações. Produzir textos
orais é uma característica que estimula a criação de textos escritos.
É dever do professor incentivar a escrita de textos e não palavras soltas,
proporcionando reflexões e construção de conhecimento encontrando o melhor
em cada texto, possibilitando escolhas sobre o que querem fazer e escrever
para então produzirem textos espontâneos

2.1 Prática de leitura e escrita na pré-escola

Morais (2012) nos aponta que as crianças que chegam no ensino


fundamental com experiências significativas na educação infantil podem
apresentar um avanço no processo de alfabetização pois já começaram a ser
provocadas no sentido de ler e escrever.
Ferreiro (2001) em seu livro “Reflexões sobre a Alfabetização” nos traz
a importante reflexão: alfabetizar ou não na pré-escola. Na realidade atual do
37

ensino da Educação Infantil, vemos duas vertentes: aqueles que antecipam o


processo de alfabetização, inserindo práticas descontextualizadas desde a
creche, por outro lado ainda um movimento laisse-faire que não trazem um
ambiente alfabetizador, retirando qualquer tipo de atividade que trate da leitura
e escrita. Brasil (1998, p.140) diz que “um ambiente é alfabetizador quando
promove um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita nas quais
as crianças têm a oportunidade de participar”.
O que Lerner (2002) nos aponta é que não somos nós, adultos, que
determinamos quando a criança irá iniciar seu processo de leitura e escrita e
que este movimento inicia-se muito antes, sem a autorização de um adulto,
porque a criança, em geral, vive em ambiente letrado que possui práticas
sociais que solicitam da criança o olhar para significar a notação gráfica.
Inserida nesses ambientes, elas formulam questionamentos próprios
sobre a linguagem, como “O que está escrito ali?” ou “O que significa isto?”,
mostrando a capacidade que possuem em refletirem sobre o que a escrita
representa.
O período pré-escolar gera discussões sobre a questão do ensinar a ler
e escrever nessa faixa etária, respondidas diferentemente por várias pessoas e
profissionais da área. Toda criança possui o seu momento próprio de aprender
e, por isso, necessita de estímulos para desenvolver-se, é o que se encontra
relatado no Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil:

As crianças têm ritmos próprios e a conquista de suas capacidades


lingüísticas se dá em tempos diferenciados, sendo que a condição de
falar com fluência, de produzir frases completas e inteiras provém da
participação em atos de linguagem. (BRASIL, 1998, p.117).

Portanto, o papel do adulto é importante como alguém que vai solicitar


da criança a sua atenção e mostrar a significação do mundo letrado, junto a
outras pessoas já alfabetizadas. Contudo, elas não aprendem algo somente
quando lhes é ensinado diretamente, estão a todo momento frente a paisagens
que exigem leitura, sendo cartazes, revistas, placas e outros, isso quando se
trata da vida urbana.

Não é obrigatório dar aulas de alfabetização na pré-escola, porém é


possível dar múltiplas oportunidades para ver a professora ler e
escrever; para explorar semelhanças e diferenças entre textos
escritos; para explorar o espaço gráfico e distinguir entre desenho e
38

escrita; para perguntar e ser respondido; para tentar copiar ou


construir uma escrita. (FERREIRO, 1992, p.39).

Existem atitudes dos adultos que involuntariamente estimulam os


menores, as quais transmitem informações sobre a relevancia da leitura e
escrita na vida social, desenvolvendo assim a compreensão da importância
sobre esses aspectos. São atos de contar histórias, consultar jornais para
descobrir horário de algum evento, consultar agendas e livros de receita, além
de outras posturas. Há também atividades que incluem brincadeiras com os
sons das palavras e o manejo de vários materiais.
Com relação às crianças provenientes do meio rural, Emilia Ferreiro, em
seu livro Reflexões sobre a alfabetização (2001), diz que estas estão em
desvantagem, pois a escrita não se faz muito viva e presente, pouco se tem
contato com essa prática e os estímulos são quase inexistentes.
Busca-se, então, pelo professor, a criação de um clima tranquilo e
confiante, no qual as crianças se comuniquem prazerosamente, vivam
atividades diversificadas envolvendo a linguagem oral e escrita, uma vez que
possam agir ativamente sobre seu próprio desenvolvimento.
A educação infantil, assim, contribui para amenizar e, de certa forma,
tentar minimizar as diferenças existentes na sociedade e cultura, assim como
no caso de crianças que muitas vezes dependem única e exclusivamente
desse ambiente para o acesso a uma cultura letrada.

2.2 A alfabetização hoje e aspectos que se mantém, após a Psicogênese da


Língua Escrita.

É preciso fazer uma reflexão além dos aspectos pedagógicos produzidos


em sala de aula, os aspectos mais amplos dos impactos da teoria da
Psicogênese da Língua Escrita no Brasil.
Ainda hoje muitos professores utilizam as cartilhas em sua prática de
ensino e aprendizagem, porém, existem aqueles que buscam métodos
diferentes, valorizando a capacidade de aprendizado dos alunos em suas
descobertas e progressos, transformando o ambiente escolar em um lugar
prazeroso e de interações positivas entre professor e aluno.
39

A cópia é uma atividade proposta em sala de aula há muitos anos, e


mesmo que muitos professores digam serem contra, aplicam frequentemente
com seus alunos.

O aprendizado da escrita e da leitura não termina no final da primeira


série nem do primeiro grau. Há tantas coisas a respeito de escrita e
leitura, e de dificuldades tão variadas, que se torna conveniente o seu
ensino ao longo de todos os anos de estudo. (CAGLIARI, 1995, p.33).

Copiar textos prontos da lousa, de livros e outros não é algo significativo


para os alunos, é importante que façam isso, porém, não com frequência. Mais
interessante é produzir textos espontâneos. “A concepção da escrita como
cópia inibe a verdadeira escrita, a concepção da leitura como decifrado não
somente inibe a leitura, mas cria ainda outros problemas.” Ferreiro e
Teberosky(1999, p. 293).
Morais (2012) aponta que a ideia trazida com a teoria da Psicogênese
trata o aprendiz através dos conhecimentos já adquiridos socialmente, por isso,
houve uma má interpretação, uma vez que acreditou-se no aprendizado
somente através de práticas de leitura e escrita, sem a necessidade de
planejar. Essa interpretação incorreta provocou três problemas no uso da
psicogênese: o abandono do sistema de ensino entre grafema-fonema, o
abandono de ensino da ortografia e a indiferença para com o ensino da
caligrafia.
O número elevado de alunos em uma mesma sala compõe outro grande
problema da educação mundial e principalmente brasileira. O espaço físico,
muitas vezes pequeno, não possibilita atividades diversas de leituras em
diferentes posições, trânsito pela sala, produções espontaneas de materiais e
aplicação de ideia próprias.
A preparação e capacitação dos docentes é também um aspecto
relevante desde sempre e ainda hoje para o sucesso da alfabetização, assim,
conhecer algumas matérias na teoria e superficialmente trazem um pequeno
nível de conhecimento, faz-se necessário a busca por conhecimentos melhores
para tornar-se um profissional que sabe o que faz e como se faz. Cagliari
(2009, p.35) cita que “Nenhum método educacional garante bons resultados
sempre e em qualquer lugar; isso só se obtém com a competência do
professor”.
40

Conhecer os alunos, permitir sua participação para que mostrem o que


aprenderam e precisam aprender, equilibrar o que é transmitido com o que já
sabem, ler constantemente são ações essenciais para um bom professor como
educador.
O Pacto de Alfabetização na Idade Certa - PNAIC tem por finalidade
certificar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade
entendendo, assim, o sistema tanto na escrita, quanto na fala.
Há quatro princípios básicos em que o Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa deve respeitar e acrescer no trabalho
pedagógico. Tais esses, o Sistema de Escrita, Leitura e Produção de Textos,
Conhecimentos em Diversas Áreas e o Lúdico.
O Sistema de Escrita é abrangente e requer um ensino problematizador
e sistemático. Leituras e produções de textos devem acontecer no processo de
alfabetização escolar como meio de promover o contato com diversos gêneros
textuais, com a finalidade de favorecer na criança a interação, a serem autores
de suas próprias histórias. Vale ressaltar que este método deve dar início na
Educação Básica.
Os conhecimentos em diversas áreas devem ser propícios para que as
crianças possam desenvolver o contato para falar, ouvir e ler possibilitando um
melhor embasamento por diversos temas e a se portarem como cidadãos
críticos em meio à sociedade.
Por fim, o lúdico, que tem por finalidade proporcionar um cuidado com as
crianças e promover o contato com diversos jogos alfabetizadores, oferecendo
maneiras diferenciadas de aprendizado.
De acordo com a Alfabetização na Idade Certa e seus princípios
norteadores, é de grande valia a alfabetização até uma idade predeterminada,
gerando um aprendizado com características qualitativas.
Ao falar em Alfabetização, é possível citar também o programa Ler e
Escrever, o qual tem um papel que vai além da formação de alunos, relaciona-
se ainda à formação de professores, através de um acervo de materiais
próprios que oferecem apoio.
Este programa apoia-se nos princípios norteadores para o professor, tais
esses: O Professor Coordenador deve ser apoiado e ao mesmo tempo
transmitir acolhimento aos demais professores e apoia- lós. Professores
41

regentes no contato pedagógico também devem assegurar um aprendizado e


favorecer situações ajustadas em sala e reestabelecer a extensão da gestão
pedagógica.
O programa busca acrescentar o lado da formação do professor com
diversos encontros para todos os profissionais da educação. As escolas de
ensino público fazem parte do projeto Bolsa Alfabetização do Ler e Escrever,
que insere alunos universitários dos cursos de Letras e Pedagogia a serem
alunos pesquisadores do programa, ou seja, um apoio a professores no
desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Os acervos de materiais para
professores e alunos são bem vastos e promovem uma melhor estruturação
aos sujeitos. Diretores de Ensino acompanham este trabalho nas escolas e
este ocasiona a participação intrínseca dos gestores, professores,
coordenadores e diretores de escolas, são discutidos e sugeridos conteúdos
para uma alfabetização mais complexa para o sucesso dos alunos.
Portanto, a formação continuada de professores ocorre por meio do
coordenador de escola que deve incentivar o aperfeiçoamento da didática para
alfabetizar de maneira a não fugir da realidade do aluno e abrir novos caminhos
para a formação de professores e alunos.
Muito além dos Programas de Formação e Alfabetização, é preciso levar
em conta que toda criança traz consigo conhecimentos de sua língua de
acordo com a cultura a qual estão inseridas, uma vez que falam dialetos
diferentes não precisam abandoná-los para aprender a norma culta da língua,
não precisa haver um preconceito linguístico em sala constrangendo a criança
devido às suas características individuais.
Existem vantagens que podem ser citadas, como o incentivo que a
criança recebe para expressar o que sente ao escrever e ao falar o que pensa,
em despertar a curiosidade e solucionar problemas, além de capacidade crítica
para a vida em sociedade.
Diante disso, torna-se importante a introdução de jogos na alfabetização,
na medida em que se busca facilitar e tornar o ensino algo mais agradável e
prazeroso. Não significa inserir qualquer jogo, sem conhecer seus conceitos,
faz-se relevante o estudo dos objetivos buscados e o desenvolvimento da
consciência fonológica nos alunos, ou seja, a relação que fazem entre a escrita
e os sons da fala, aspectos que serão aprofundados adiante.
42

CAPÍTULO III
O JOGO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS

Se o ensino for lúdico e desafiador, a aprendizagem prolonga-se fora da sala


de aula, fora da escola, pelo cotidiano, num crescimento muito mais rico do que
algumas informações que o aluno decora.

Carlos Alberto Ferreira Neto


43

Neste capítulo, abordar-se-á a definição do jogo pedagógico na visão de


alguns autores, assim como a sua importância na alfabetização e
desenvolvimento da consciência fonológica. Mais adiante serão citados alguns
modelos desses jogos, a forma de jogá-los e contribuições proporcionadas.
Tais jogos foram escolhidos pelo fato de estarem atrelados ao Pacto Nacional
de alfabetização na idade certa, assunto evidenciado ao longo do trabalho.

3 PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES

A prática do uso e contato com jogos não se faz um aspecto recente,


uma vez que os mesmos são instrumentos reveladores de cultura e inserção
na vida social dos seres humanos, auxiliam na construção de personalidade e
na forma como cada indivíduo aprende ao longo dos anos.
Segundo Kishimoto (1996) existe uma confusão constante com relação
aos termos: jogo, brinquedo e brincadeira, sendo que a conceituação e
diferenciação dos mesmos pode ser definida em que o jogo é algo que
pressupõe regras, o brinquedo é constituído por um objeto material e a
brincadeira resume-se em colocar o lúdico em prática. Ainda na visão da
autora (1996, p.21) “brinquedo, e brincadeira relacionam-se diretamente com a
criança e não se confundem com o jogo”.
Dessa forma, diversos autores definem o jogo em suas obras de
maneiras distintas, porém, que se entrelaçam e proporcionam saberes e
questionamentos. Para Dohme (2003, p. 87) “o jogo é um grande campo onde
as crianças vivenciam de forma livre e autônoma o relacionamento social.” Já
para Huizinga (2007, p. 33) “é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida
dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, acompanhado de
um sentimento de tensão e alegria.”
Piaget aborda:

O lúdico faz parte de nossa vida desde o nascimento por meio de


diferentes tipos de jogos. O de exercício (caracterizado pela
repetição) e o simbólico (o faz de conta) estão muito presentes no
cotidiano das crianças desde cedo, além do jogo de regras, que tem
papel mais significativo conforme elas ficam maiores. (1976, p. 13).

Os jogos, em geral, recebem características de acordo com o grupo,


sociedade em que se encontram, podendo receber significados e formas
44

diferenciadas de utilização, cada qual criando suas próprias regras ou


adaptando conforme julgam necessário.

3.1 O jogo como instrumento alfabetizador

O desenvolvimento e aprendizagem são elementos ligados diretamente


pela sociedade ao ambiente escolar, de forma a propiciar para as crianças
participação ativa e compreensão sobre conceitos do mundo em que vivem,
interagindo e aperfeiçoando aspectos físicos, morais e intelectuais.
Nas séries iniciais da alfabetização, para tornar desafiador e agradável
o processo de aprendizagem da leitura e escrita, faz-se necessário que o
professor saiba intervir e criar condições que estimulem os alunos, assim, a
utilização de jogos pedagógicos pode ser uma ótima estratégia. Não basta
simplesmente inseri-los nas aulas, é essencial conhecer suas contribuições e
saber em que momentos aplicar.
Distanciar a criança de uma educação prazerosa, que cabe a ela por
direito, significa também não deixar que o crescimento ocorra da maneira
necessária, com o desenvolvimento de várias habilidades e autonomia.
Pensamos que a criança se apropria do sistema de escrita no decorrer
de suas vivências em sociedade, no início de sua escolarização já faz uso da
linguagem e nessa fase é muito importante o papel do professor não só como
detentor de conceitos, mas como um elo que leva a criança a compreender que
a escrita representa a fala.
Esse tema tão amplo e rico pretende apoiar os alunos que ainda não se
apropriaram dos sistemas de leitura e escrita a futuros avanços e, os que já se
encontram no nível alfabético, que se aprofundem nos conhecimentos,
enriquecendo-os cada vez mais. Por meio do jogo a criança desperta a sua
personalidade e busca aprimorar informações, visto que o ato de jogar é
envolvente, provoca suas inteligências múltiplas.
Segundo Rizzo (1998, p.48) “Os jogos constituem um poderoso recurso
de estimulação do desenvolvimento integral do educando. Eles desenvolvem a
atenção, disciplina, autocontrole, respeito a regras e habilidades perceptivas e
motoras a cada tipo de jogo oferecido.”
45

Este desenvolvimento pode ser obtido através de situações simples


decorrentes da aplicação de jogos como o exercício da vivência em equipe, da
criatividade, imaginação, oportunidades de autoconhecimento, de descobertas
de potencialidade, formação da auto-estima e exercícios de relacionamento
social.
Nas escolas comuns, as crianças permanecem a maior parte do tempo
sentadas em fileiras, seguindo uma rotina, com salas pouco adequadas e não
muito confortáveis, fazendo o que é imposto. Muitos resistem a ir, pois, não são
desafiados e possibilitados a desenvolver atividades que lhes agradam, visto
que um ambiente assim, torna-se cansativo e pouco estimulador.
A principal característica priorizada pelas instituições é o silêncio e a
disciplina, com crianças obedientes e pouco ativas, visto que quando isso não
acontece, muitos dizem que virou bagunça e o professor não tem a capacidade
de dominar a turma. Aqueles que entendem e valorizam a criança como um ser
ativo, por vezes esbarram nos obstáculos impostos pela metodologia da própria
escola.
É importante ressaltar que em seus amplos aspectos, o jogo não deve
dar suporte às aulas apenas como um passatempo ou uma atividade qualquer
quando outras não foram planejadas. Faz-se imprescindível o questionamento
por parte do líder sobre o que o mesmo visa ensinar. Elaborar e buscar
respostas para suas questões antes e após aplicar os jogos, pensando em seu
real auxílio na alfabetização e no desenvolvimento da criança, de modo que
desperte interesse, descobertas e também a personalidade.
Freire (2002, p. 52) relaciona-se ao importante papel do professor
dedicado à alfabetização quando declara “saber que ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a
sua construção”, uma vez que ser criativo e capaz propricia novos meios de
trabalho.
Frente a visão dos alunos acostumados com um ensino centrado no
professor, cópias da lousa ou atividades prontas, é normal que quando
inseridos no mundo dos jogos se perguntem o que é possível aprender com
aquilo, quer logo o reconheçam apenas como ideia de passar o tempo. A
dedicação, portanto, não é comparável a que dão para as tarefas e o fato de
estarem sendo avaliados.
46

Com relação à questão de avaliação, a aprendizagem deve ser vista por


outros ângulos, deve ser visualizada também como uma forma de poder avaliar
o aluno de maneira global, pois o ato de jogar envolve na criança muitos
aspectos. “Consideramos fundamental aprender a analisar qualitativamente
ações (procedimentos) e produções (registros) em diferentes situações de
aprendizagem, estabelecendo um contexto de troca e diálogo (MACEDO, 2005,
p.7).
A extensão que o lúdico traz através da forma do brincar com jogos é
muito grande e envolve a criança como um todo. Ela se sente envolvida ao
colocar em prática o que imagina e isso é de grande valia. Há então quem diga
que o lúdico é um mero passatempo que as crianças só se apropriam dele pelo
simples fato de brincar, no entanto, não é assim que deve ser. O lúdico
proporciona sim o brincar, mas uma fonte magnífica de conhecimentos e,
adiante, muito aprendizado, coletivo ou individual.

Temos certeza de que a proposta de jogos, bem-aplicada e


compreendida, contribuirá concretamente para a melhoria do ensino,
quer na qualificação e formação crítica do educando, quer garantir
mais satisfatoriamente a permanência do aluno na escola (diminuir a
evasão), quer para redefinir valores e para melhorar o
relacionamento e ajustamento das pessoas na sociedade e o direito
de cidadania. (ALMEIDA, 2000, p. 14).

Contudo, o jogo como instrumento alfabetizador é estimulante às


capacidades das crianças, auxiliam na construção de significados,
representação do mundo, conceitos e ideias próprias, a fim de que sejam seres
sociais questionadores e participativos. A parceria família-escola é também
aspecto relevante e é necessário que a equipe pedagógica trabalhe a fim de
evidenciar as verdadeiras e importantes contribuições, proporcinando
conhecimento sobre o assunto.

3.2 O jogo e o desenvolvimento da consciência fonológica

A consciência fonológica possui intrínseca relação com a alfabetização,


de forma que as crianças, desde muito cedo fazem das palavras verdadeiros
brinquedos, como quando digitam letras no teclado de computador e revelam
quais são as palavras que acreditam estarem escrevendo realmente. Utilizam-
47

as para se comunicar, mas também refletem sobre as mesmas observando


seus sons. Morais (2012, p.84) relata que “A consciência fonológica não é uma
coisa que se tem ou não, mas um conjunto de habilidades que varia
consideravelmente”.
As variações de habilidades citadas por Morais (2012) resumem-se em
questões necessárias à pratica pedagógica para que um aluno se alfabetize, ou
seja, se tais habilidades devem ser desenvolvidas antes ou durante o processo,
assim como a valorização e entendimento da memorização. Ainda segundo o
autor:

As habilidades fonológicas não se desenvolvem em função de um


relógio biológico, que faria com que, por volta de certa idade, todas
as crianças fossem capazes de fazer tais ou quais operações sobre
os segmentos sonoros das palavras. As oportunidades vividas, na
escola e fora dela, são fundamentais para que os aprendizes
desenvolam determinadas habilidades fonológicas. Sabemos que a
habilidade de identificar rimas se desenvolvem mais facilmente com
cantigas, parlendas, ou jogos fonológicos. (MORAIS, 2012, p. 90)

A aprendizagem da leitura e escrita, assim como diversos estudos e


conceitos educacionais nos mostram, é uma obtenção de total relevância para
os anos iniciais de aprendizado escolar, à medida que pensar os sons da fala
contribui gradativamente para tal processo.
A análise fonológica da fala realizada pela criança, levando a mesma a
perceber semelhanças sonoras, é um meio de possivelmente prepará-la para a
apropriação do sistema de escrita alfabética com mais facilidade e entender a
relação entre grafema e fonema.
Os jogos contribuem para o desenvolvimento da reflexão fonológica,
apoiando a escrita com base no conhecimento dos sons da fala, manipulando a
estrutura das palavras. Assim, o ritmo desse desenvolvimento varia de criança
para criança e depende das oportunidades vivenciadas de reflexão sobre as
palavras.
O lúdico é vivo na criança que desenha, que rima, que escreve poemas,
que ouve parlendas entre outras atividades, assim, podem aprender brincando
todos os conteúdos. Existem atividades lúdicas que proporcionam refletir sobre
a sonoridade das palavras além dos jogos, como é o caso da exploração de
textos poéticos, aprendidos facilmente e por vezes decorados, muito comuns
na cultura da infância e presentes também nas séries de alfabetização. Com
48

outras contribuições do livro “Sistema de escrita alfabética” (SEA) entendemos


que:

O fato de aqueles textos conterem uma série de rimas, aliterações,


repetições e outros recursos que produzem efeitos sonoros, aliado
ao fato de as crianças os terem na memória, permite uma rica
exploração dos efeitos sonoros, acompanhada da escrita das
palavras. Assim, cria-se um bom espaço para que meninos e
meninas prestem mais atenção nas palavras e em suas partes orais
e escritas. (MORAIS, 2012, p.93/94).

Podemos então citar as parlendas, cantigas e quadrinhas, uma vez que


permitem a exploração da expressão e oralidade das crianças.

Figura 6: Parlenda Batatinha quando nasce

Fonte: www.atividadesparacrianca.blogspot.com.br

Figura 7: Quadrinha

Fonte: www.dani-alfabetizacaodivertida.blogspot.com.br
49

3.3 Modelos e conceitos de jogos fonológicos

Os jogos de alfabetização na prática pedagógica são utilizados como


meio de garantir a todos os alunos oportunidades de atuarem de maneira
lúdica ativamente sobre a linguagem e seus aspectos. Esses jogos que incluem
letras e palavras estão interligados com a prática de leitura e produção escrita,
através deles não é necessário expor tão rigidamente conceitos da língua para
as crianças.
É importante levar em consideração as necessidades a serem
desenvolvidas e a consciência de que as habilidades fonológicas não se
aperfeiçoam ao mesmo tempo, nem em uma mesma atividade. “Um bom jogo é
desafiador, permite a interação entre os participantes e mostra a eles se
alcançaram seu objetivo sem que o professor precise dar essa indicação”.
(SANTOMAURO, 2013, p. 31-33).
No ano de 2009 profissionais da Universidade Federal de Pernambuco
envolvidos em um núcleo de pesquisas e extensão que visa a melhoria da
educação brasileira, conhecido como Centro de Estudos em Educação e
Linguagem (CEEL), criaram, junto ao Ministério da Educação (MEC,) uma
caixa com dez jogos de alfabetização, os quais foram introduzidos ao uso pelo
Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

Figura 8: Caixa de jogos alfabetizadores

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal de


Pernambuco, fotografado pelas autoras.
50

Os jogos presentes na caixa acima foram criados dedicadamente para a


obtenção de sucesso no processo de alfabetização. Estão classificados em três
diferentes blocos, de acordo com Leal, Albuquerque e Rios (2005) são eles:
jogos que valorizam a análise fonológica, outros que ajudam a sistematizar as
correspondências grafofônicas e aqueles que caminham para uma reflexão
sobre os princípios do sistema alfabético. Os cinco primeiros explícitos a seguir
se encaixam na valorização da análise fonológica, o sexto na segunda opção e
os quatro últimos relacionam-se a reflexão sobre a escrita e seus princípios.
Nesta coletânea, apresenta-se cada jogo com informações diversas
sobre como utilizá-los, objetivos, orientações técnicas e dicas através de um
manual. Cabe ao professor, portanto, recorrer ao conhecimento que possui
sobre a turma, criando alternativas com o intuito de estimular avanços no
aprendizado.

Figura 9: Bingo dos Sons Iniciais

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal de


Pernambuco, fotografado pelas autoras.

O primeiro jogo trazido pela coletânea é o Bingo dos Sons Iniciais, o qual
é destinado a alunos com dificuldades para entender os sons das palavras e
seus significados, estimulando a reflexão e desenvolvimento da consciência
fonológica. Inicialmente o professor deve apresentar o jogo aos alunos, os
materiais que o compõe, quinze cartelas e trinta fichas com palavras, discutir
51

sobre o respeito às regras e a aceitação das mesmas para que possa ser
jogado de forma clara e objetiva.
O manual que acompanha a caixa mostra os objetivos: compreensão da
composição de palavras por unidades sonoras, explorando os sons de
aliteração, comparação das mesmas sendo que as sílabas iniciais são iguais,
uma vez que as palavras podem ser diferentes.
As cartelas possuem figura e palavra, assim, é possível observar as
letras que se repetem no início para então refletir sobre as sílabas e a forma
escrita. Consiste em uma atividade importante para aqueles que estão no
começo da alfabetização, além daqueles que já possuem hipóteses mais
avançadas e necessitam ainda mais de conhecimentos.
Após utilizar o jogo, o professor, sempre atuando como mediador, pode
criar maneiras de intervir eficientemente. É o que acontece quando ele propõe
outras atividades em cima desta, como por exemplo a reflexão e criação de
novas palavras com os sons iniciais já vistos.
Pode-se, então, pedir para que os alunos escrevam outras palavras com
determinada sílaba, em seguida formar uma lista de palavras para contato no
decorrer dos dias, como criar cruzadinhas para preenchimento de sílabas, seja
no começo das palavras ou em outros prontos.

Figura 10: Caça-Rimas

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal de


Pernambuco, fotografado pelas autoras.
52

O jogo Caça-Rimas é proposto para o mesmo público do anterior e traz


como objetivos a compreensão das unidades sonoras das palavras, exploração
das rimas e comparação de semelhanças quanto aos sons.
As regras sempre devem ser discutidas anterior ao início do jogo,
esclarecendo dúvidas quando necessário no decorrer da atividade, assim como
as palavras representadas pelos desenhos, pois, a criança pode conhecer
aquele objeto com um nome diferente e obter dificuldades para encontrar os
pares.
Sua composição consiste em quatro cartelas com vinte figuras e vinte
fichas com figuras. É importante a escolha de um aluno para ser o líder do
jogo, o qual distribuirá as cartelas, passando a vez para o vencedor na próxima
rodada. Cada jogador recebe uma cartela e cinco fichas,assim, com o sinal de
início deve-se colocar as fichas em cima das imagens que rimam com as
mesmas, vencendo aquele jogador que encontrar primeiro todos os pares.
Faz-se um jogo de extrema importância, visto que estimula a
compreensão de rimas em palavras diferentes. Além disso, é possível solicitar
que pensem em palavras distintas e que possam fazer correspondências com
os pares encontrados.

Figura 11: Dado Sonoro

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal de


Pernambuco, fotografado pelas autoras.
53

O terceiro jogo propõe como objetivos iniciais a serem desenvolvidos a


percepção de sonoridades iguais em palavras diferentes e comparação entre
as mesmas, assim como desenvolvimento da consciência fonológica. Leva o
aluno a observar que a palavra é composta por segmentos sonoros e que
esses podem se repetir em palavras diferentes, uma descoberta essencial no
percurso de apropriação do sistema alfabético.
A forma como se deve proceder a atividade necessita de explicações e
esclarecimetos para aceitação e compreensão das regras. Possui a cartela do
aluno, joga-se de duas a quatro pessoas, com a utilização de um dado com oito
lados, fichas com figuras e palavras. As regras consistem primeiramente em
escolher o jogador que iniciará o jogo, o qual lança o dado e verifica qual figura
na cartela correspondente ao número sorteado. Então, escolhe uma figura com
a mesma sílaba inicial da figura indicada na cartela e a pega para si. O próximo
repete as mesmas ações, vencendo no final quem obter maior número de
fichas.
Figura 12: Trinca Mágica

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal


de Pernambuco, fotografado pelas autoras.

Esse jogo leva o aluno a obsevar que a palavra é composta com


segmentos sonoros e que esses podem se repetir em palavras diferentes,
sendo essencial no percurso de apropriação do sistema alfabético. Para
escrever, precisamos centrar a atenção nesses segmentos, durante a
aplicação do jogo é de extrema importância explicar as instruções e dar
orientações para o desenvolvimento do mesmo.
54

É composto por vinte e quatro cartas com figuras, visto que cada
participante recebe três cartas e o resto fica no centro da mesa. O primeiro
pega uma carta e descarta outra, já o segundo jogador precisa decidir entre
pegar uma nova no monte ou ficar com aquela deixada pelo anterior, somente
a última.
O jogo vai acontecendo desta forma, até que um dos jogadores consiga
formar uma trinca com figuras, cujos nomes rimam, tornando-se vencedor
quem formar o maior número de trincas.

Figura 13: Batalha de Palavras

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal de


Pernambuco, fotografado pelas autoras.

Todo jogo possui objetivos a serem alcançados e com a Batalha de


Palavras não é diferente. Centraliza-se no entendimento da composição de
palavras por unidades sonoras, sílabas como unidades fonológicas e
quantidade das mesmas. Uma estratégia para o desenvolvimento positivo
desses objetivos é o professor agrupar alunos que saibam dividir as sílabas
das palavras com aqueles que não sabem.
Quando se está no início da alfabetização é importante saber contar as
sílabas e comparar o tamanho das palavras, assim, existe uma compreensão
frente à regularidade e suas relações grafofônicas. Além de observar que as
sílabas não são formadas por uma única letra, existindo mais sílabas que letras
nas palavras.
55

Figura 14: Mais Uma

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal


de Pernambuco, fotografado pelas autoras.

Compreende um jogo para alunos que estejam em processo de


alfabetização, mas não compreendam ainda alguns dos princípios do sistema,
tais como o de que é necessário representar todos os segmentos sonoros por
meio de letras ou o de que as letras precisam ser dispostas em uma ordem
equivalente à emissão sonora dos fonemas. É um jogo interessante, também,
para os alunos que, embora compreendam tal princípio, não tenham ainda
consolidado as correspondências grafofônicas..
O professor deve ler em voz alta as regras do jogo e discutir com os
alunos sobre como ele funciona, à medida que lê. Durante o jogo, caso existam
dúvidas quanto às regras, o docente pode ler novamente o texto, mostrando
aos alunos que é necessário compreendermos e aceitarmos as regras.
As regras do jogo dizem que o mesmo deve ser composto por quatro
jogadores ou quatro duplas. Divide-se as fichas de maneira igual para cada
participante, os quais precisam ser rápidos e caminhar com o pino pela trilha,
de maneira que encontre o maior número possível de cartelas que rimem de
acordo com as fichas que estão em mãos.
Os jogadores vão jogando o dado e camihando pela trilha, caindo em
casas que tenham letras ou figuras, devendo procurar nas fichas palavras
semelhantes, para que vença aquele que consiga cegar primeiro ao fim da
trilha.
56

Figura 15: Troca Letras

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal


de Pernambuco, fotografado pelas autoras.

Neste jogo deve ocorrer o reconhecimento das letras do alfabeto e seus


respectivos nomes, que as sílabas são compostas e formadas por unidades
menores e que cada letra representa um som, tendo em vista que se
mudarmos qualquer letra, pode vir a se transformar em outra palavra. As letras
são registradas de acordo com a fala, ou seja, as diferenças entre as palavras
e a sua sonorização, por isso, é essencial determinar a relação do que é falado
e escrito, ou seja, as correspondências grafofônicas
Deve ser aplicado o jogo de forma a se pensar no processo de
alfabetização, mas em crianças que ainda tem equívocos ao escrever uma
palavra e que possuem certa dificuldade em se apropriar do sistema de escrita,
bem como o educando deve sanar qualquer tipo de dúvida no ato de jogar para
que, assim, seja um instrumento educativo prazeroso para as crianças.
Vale ressaltar este pode ficar exposto em sala de aula, de forma a
possibilitar que os alunos formem e pensem sobre as palavras
espontaneamente, sem que seja algo imposto pelo professor.
Quando fica colocado em um lugar visível e de fácil acesso, aumenta o
interesse em vencer os obstáculos e o cuidado com o mesmo, pois assim o
aluno tem um contato mais frequente e espontâneo com a atividade.
57

Figura 16: Bingo da Letra Inicial

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal


de Pernambuco, fotografado pelas autoras.

O bingo da letra inicial é jogado como outros bingos, visto que contribui a
conhecer o nome das letras do alfabeto e reconhecer as unidades sonoras,
facilitando uma melhor interação entre as crianças, como, por exemplo,
identificar as palavras que iniciam com o mesmo som, sendo esses os mesmos
nomes. Vale ressaltar que caso existam dúvidas quanto às regras é necessário
o auxílio do professor para explicá-las e solucioná-las.
Como na imagem acima, através da letra sorteada observa-se o encaixe
da mesma no início da palavra, relacionando-a com a imagem ao lado.

Figura 17: Palavra Dentro de Palavra

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal


de Pernambuco, fotografado pelas autoras.
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O jogo de palavra dentro de palavra compreende, além de formar pares


de palavras, a oportunidade de pensar sobre os sons que compõem as
mesmas, assim como as semelhanças entre elas, fazendo com que o aluno
perceba a lógica usada no sistema de escrita. Durante o jogo, caso exista
dúvidas quanto às regras, o docente pode ler novamente o texto, mostrando
aos alunos que é necessário compreendermos e aceitarmos as regras, pois
contribui para a melhor interação entre as crianças e para a familiarização com
o gênero textual .
A imagem mostra de forma concreta como ocorre o jogo, por exemplo, a
palavra mamão possui “mão” em sua composição, daí a explicação do nome
palavra dentro de palavra.

Figura 18: Quem Escreve Sou Eu

Fonte: Criado por profissionais do CEEL da Universidade Federal


de Pernambuco, fotografado pelas autoras.

O jogo Quem Escreve Sou Eu tem por finalidade firmar a sua


competência para com a escrita a alunos alfabetizados e não alfabetizados. A
criança cria certa habilidade em estar escrevendo palavras pelo fato de ter tido
o contato com este jogo, que estimula para o processo grafofônico.
O docente deverá aplicar este jogo em crianças que estejam no início do
sistema de alfabetização e que já tenham conhecimentos prévios de algumas
palavras já adquiridas, porém, tendo em vista que deve estar verificando o uso
correto das letras na palavra a ser escrita ou pronunciada, lembrando que não
é viável corrigi-los imediatamente quando errarem, e sim indagá- los a uma
59

percepção e auto correção. É de grande valia que o educando crie uma relação
com os alunos para que possam tirar suas dúvidas, porque a mesma dúvida de
um pode ser a do colega, uma vez que constrõem relacionamentos passivos,
entre professor e aluno, como também entre os próprios alunos.
Na Clínica pedagógica do Unisalesiano, assim como em outras ou até
mesmo em casa encontram-se jogos como os que estão explícitos abaixo.

Figura 19: Alfabeto em madeira

Fonte: Clínica Pedagógica do Unisalesiano, fotografado pelas autoras.

O jogo Alfabeto em Madeira é composto pelo jogo da memória e dominó.


Compreende o jogo de dominó que tem por objetivo entreter e desenvolver o
cognitivo da criança por meio da associação e da lógica. As regras do jogo
dizem que o mesmo deve ser jogado com dois jogadores ou até quatro. As
peças deverão ser embaralhadas e espalhadas, com os desenhos e letras
virados para baixo.
Em seu decorrer são entregues sete peças para cada, as quais serão
escolhidas por cada jogador, e as peças restantes serão utilizadas no decorrer
do jogo. Dará início quem obtiver a peça com duas letras iguais, devendo essa
peça ser colocada sobre a mesa. O jogador da esquerda será o próximo a
jogar, visto que se não tiver em mãos o mesmo desenho e letra do respectivo
jogador anterior, deverá fazer a junção dos mesmos e expor à mesa para que
todos possam ver, caso não obtiver nenhuma poderá utilizar a do parceiro para
que em outra rodada consiga achar o par, caso contrário passará a vez. O
vencedor é aquele que mais fez uma corrente de encaixes.
60

O Jogo da Memória, além de formar pares com as imagens e palavras,


faz com que a criança consiga se entreter de maneira a desenvolver a
associação e a lógica de seus interesses. Vale ressaltar que não há quantidade
para jogadores, fica a critério do professor.
Dando início ao jogo é necessário que todas as peças, desde as
palavras até as imagens fiquem viradas para baixo, de maneira que dificulte a
identificação. O primeiro participante deverá virar uma peça e em seguida outra
para identificar se são pares iguais, caso o encontre fará a junção dos mesmos,
Vence aquele que encontrar maior número de pares.

Figura 20: Palavras Cruzadas

Fonte: Clínica Pedagógica do Unisalesiano, fotografado pelas autoras.

Esse jogo é composto por um tabuleiro que segue de quatro madeiras


para suporte e com cento e vinte pedras, entretanto há cento e dezessete
letras visíveis e três em branco. Pode ser jogado por dois ou até quatro
jogadores.
Inicialmente, os participantes devem escolher uma pedra para cada. As
palavras deverão ser formadas a partir de um cruzamento em cima do
tabuleiro, onde os valores estão nas respectivas pedras de acordo com a letra,
lembrando que esses valores variam através da letra utilizada. Quem conseguir
o maior número de pontos possível torna-se vencedor do jogo, desenvolvendo
assim a vontade de sempre jogar e vencer, adquirindo conhecimentos.
61

Figura 21: Letras A ao Z

Fonte: Clínica Pedagógica do Unisalesiano, fotografado pelas autoras.

Faz-se um jogo no qual deve-se ocorrer o reconhecimento da figura


agregado à fala e as inicias, pois a criança interage, assim como brinca sem ao
menos saber que está trabalhando determinado conceito. De acordo com as
imagens irá observar e identificar as letras e suas respectivas palavras. É
viável trabalhar com esse jogo pelo fato de auxiliar no início do processo de
alfabetização. O mesmo é composto por setenta e oito peças sendo eles vinte
e seis quebra cabeças.
Vale ressaltar que auxilia no estímulo ao raciocínio lógico, noção de
espaço, concentração e coordenação motora.

Figura 22: Meu alfabeto

Fonte: Clínica Pedagógica do Unisalesiano, fotografado pelas autoras.


62

Tal jogo permite que o aluno consiga fazer a familiarização das letras e a
desenvolver diversos outros tipos de habilidades mentais, facilita a identificar
tais reconhecimentos, ordenações e a junção das letras formando palavras, ou
seja, envolvendo a percepção visual, memória, atenção, imaginação,
criatividade e expressão oral.
O alfabeto Turma da Mônica é um jogo de madeira, e que instiga a
atenção da criança para o jogo.
63

CAPÍTULO IV
PESQUISA QUALITATIVA

O pesquisador deve estar sempre atento à acuidade e veracidade das


informações que vai obtendo, ou melhor, construindo. Que ele coloque nessa
construção toda a sua inteligência, habilidade técnica e uma dose de paixão
para temperar (e manter a têmpera). Mas que cerque o seu trabalho com o
maior cuidado e exigência, para merecer a confiança dos que necessitam dos
seus resultados.

Ludke e André
64

4 INTRODUÇÃO

Inicialmente foram construídos e aplicados questionários destinados aos


professores alfabetizadores, a respeito do tema deste trabalho, o qual designa-
se “Os jogos de consciência fonológica e suas contribuições para a
alfabetização”. De acordo com as respostas obtidas, informações e
observações, construiu-se gráficos para melhor exemplificar, além da pesquisa
bibliográfica realizada.
A metodologia deste Trabalho de Conclusão de Curso consistiu em
pesquisa de campo com aplicação de questionários entregues a 10 (dez)
professores alfabetizadores da rede pública de ensino, número estabelecido
para o alcance de futuros resultados. Os professores participantes foram
escolhidos aleatoriamente, ou seja, solicitou-se a participação e aqueles que
aceitaram foram os que responderam. Os questionários são compostos com 10
(dez) questões que exigem respostas dissertativas referentes às concepções
teóricas dos jogos, como um meio lúdico e importante para a prática
pedagógica, assim como para a aquisição do sistema de escrita alfabética.
A pesquisa foi realizada pelas autoras em duas escolas de ensino
público na cidade de Lins, com o consenso dos gestores.
Tais questões, elaboradas com o intuito de chegar à conclusão sobre a
pesquisa, estarão dispostas em forma de gráficos, de modo que apareçam
seus resultados concernentes, assim como a análise de cada resposta
encontrar-se-á, na sequência, para facilitar a leitura e compreensão dos
gráficos, visando o devido entendimento.

4.1 Análise qualitativa

Sabemos que a aquisição da língua escrita faz-se uma prática de


extrema valia para uma vivência social. Quanto ao questionário, inicialmente foi
perguntado aos professores sobre como ocorre esse processo de aquisição da
língua escrita, e de acordo com os conhecimentos que possuem para então
responderem, obteve-se como respostas: cada aluno aprende no seu tempo,
de acordo com os níveis de escrita, com intervenções e estímulos e de forma
65

participativa e desafiadora.
As falas foram:

“a criança necessita compreender a natureza do nosso sistema de escrita”

“Cada pessoa tem uma maneira particular para aprender”

Figura 23- Resposta da pergunta nº 1

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

As respostas trazidas pelos educadores apontaram para aspectos


coerentes e necessários para o ensino da alfabetização, porém vagos com
respostas incompletas.
O processo de aquisição da língua escrita está presente na prática
pedagógica e cada profissional o contempla de uma forma diferente de acordo
com os conhecimentos que possuem sobre o assunto e seu valor.
A pergunta realizada mostrou que apenas quarenta por cento apontaram
para noções sobre o processo de estágios da escrita, podendo-se inferir que
estariam fazendo a correlação com a teoria da Psicogênese. Nesta, como visto
anteriormente, o alfabetizando passa por fases de desenvolvimento até que
alcance a escrita alfabética, de modo que, a cada fase, novas hipóteses são
adquiridas e outros conceitos tornam-se necessários para sua satisfação.
Trinta por cento relataram que intervenções e estímulos auxiliam na
construção desse processo. De fato, sabe-se que a atuação do professor
alfabetizador é de extrema importância, assim como dos demais adultos que
estejam presentes, mas as respostas não esclarecem quanto a que tipo de
66

intervenção deve ser feita ou como realizá-las, além de esclarecer quais


estímulos são necessários.
As outras duas categorias somam os trinta por cento restantes,
revelando que tal processo se dá através do aprendizado de cada aluno no seu
tempo e com a participação ativa e desafiadora dos mesmos, sem esclarecer
conceitos objetivos para o entendimento da questão.
Nesta pesquisa, de uma maneira geral, foi constatado que o processo de
aquisição da língua escrita é um assunto pouco especificado e compreendido
pelos professores, mesmo que faça parte do cotidiano. Porém, existem aqueles
que conseguem explicar sua metodologia e conceitos próprios sobre o
desenvolvimento do processo, sem citar somente aspectos subjetivos. Para um
trabalho eficiente de alfabetização, utiliza-se de recursos diferenciados como
os jogos, os quais podem ser obtidos prontos ou confeccionados com materiais
simples.
Quando perguntado aos professores se o trabalho com o lúdico faz parte
da rotina em suas aulas, as respostas obtidas foram: sempre que possível, de
acordo com as necessidades, ao longo do processo, é muito importante e para
a construção de conhecimentos.

Figura 24- Resposta da pergunta nº 2- A

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras


As falas foram:
“Procuro sempre que possível colocá-los em prática”.
“Sim, é muito importante”
“De acordo com as necessidades do aluno”
67

A preparação, antes de fornecer jogos e outras atividades lúdicas, exige


do professor muito cuidado e atenção para essa exploração. No decorrer
desses momentos, o mediador tem que estar atento e possuir total atenção nas
crianças, valorizando suas falas e ações, além de observar o interesse e
desempenho.
É importante propiciar condições de desafio à criança, adequação do
material ao nível de compreensão de cada uma, assim como prazer em jogar.
Cabe realçar que o mediador, quando preparado, possui um amplo repertório
de atividades que enriquecem essas aprendizagens.
Perante este resultado, percebe-se que apenas cinquenta por cento dos
professores responderam se o jogo faz parte ou não da rotina de suas aulas,
outro disse utilizá-lo ao longo de todo o processo de alfabetização, já a soma
de quarenta por cento deixam a ideia de inconstância com relação a esse uso.
Quando respondem que é muito importante, ou apontam para a
construção de conhecimentos, não deixam claro sobre a utilização, apenas
expressam o valor do uso, o que desenvolver, mas não apontam o uso
propriamente dito em sala de aula.
Ainda sobre a perspectiva do jogo e o lúdico em sala de aula, perguntou-
se a respeito da organização das rotinas, ou seja, de que forma ela é
organizada para possibilitar essas vivências. As respostas foram:
semanalmente, jogos três vezes na semana, jogos segunda e sexta-feira,
atividades permanentes com jogos e com o auxílio dos alunos.

Figura 25- Resposta da pergunta nº 2- B

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras


68

As falas foram:

“ A rotina é organizada através de uma planilha semanal”


“ Eles também participam da organização da mesma”
“ Procuro quando possível aplicá-los na segunda-feira, onde não tem nenhuma
aula extra ou então na sexta-feira, quando estão cansados”

Ao focar a pergunta mais propriamente sobre a rotina, quarenta por


cento dos professores apontaram para a utilização de jogos em sua prática
rotineira, outros sessenta por cento relataram com relação ao modo como a
rotina é organizada. Para ambos, portanto, é importante o emprego do
planejamento, nesse caso, além dos cinquenta por cento que falam com
objetividade do planejamento semanal, cita-se pelos demais que são feitos
também semanalmente e entregues no fim da semana anterior para o
professor coordenador, ou no início da semana relatada.
“Repensar o planejamento na educação implica sanar as lacunas
existentes entre o planejar e a prática efetiva do docente. Significa re-imaginar
e recriar as práticas pedagógicas aliadas às teorias educacionais” (ANTUNES;
HAUSCHILD, 2002, p.7). Assim, não basta planejar, é de extrema importância
pensar e repensar sobre o planejamento, com o intuito de alcançar melhorias
constantes.
O tempo é um fator importante no planejamento do educador. Precisa
ser bem utilizado, pois define as escolhas e técnicas, escolhas essas que são
apoiadas na visão de aprendizagem e de currículo do educador que
intencionalmente proporciona atividades necessárias para o aprendizado e
desenvolvimento da criança.
As atividades permanentes aplicadas sistematicamente e com prazo de
duração previsível, possibilitam a interação entre os conteúdos estudados e os
conceitos trazidos pelo aprendiz.
Com relação à participação dos alunos no planejamento de tais rotinas,
consiste-se na observação e valorização de suas opiniões, vivências e
questionamentos, como forma de subsidiar a prática e assim trabalhar com
aspectos relevantes do cotidiano e que despertem o interesse. Pode-se
verificar que a rotina deve contemplar diversos objetivos e atender as
69

necessidades das crianças durante toda a alfabetização. Comparada à


pergunta anterior pode-se verificar certa incoerência nas respostas dadas
quanto a frequência e uso dos jogos.
Na pergunta realizada posteriormente “Você considera o jogo um
instrumento importante para a alfabetização? Por quê?” obteve-se como
respostas que o mesmo possibilita o desenvolvimento de habilidades
brincando, compreensão de regras, letras e números, adquirir conhecimentos e
aperfeiçoa objetivos da aula.

Figura 26- Resposta da pergunta nº 3

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

Nesta questão, revelou-se que metade dos professores dão ênfase ao


desenvolvimento de habilidades através dos jogos, ou seja, para eles as
crianças aprendem com mais eficiência sob essa prática. Porém não apontam
quais habilidades. Morais (2012) aponta habilidades, como o reconhecimento
de rimas, comunicação, reflexão sobre palavras escritas e sua parte sonora,
além da aquisição de conhecimentos relacionados a diversos assuntos, como
outra percentagem de professores equivalente a vinte por cento, relata.
Vinte por cento dos professores destacam a compreensão de regras,
letras e números e outra porcentagem igual relata a importância dos jogos para
a aquisição de conhecimentos.
Segundo Macedo (2005), o intuito de trabalhar com jogos visa oferecer
um amplo espectro de possibilidades, cooperando com a construção de limites,
70

cujo foco principal é proporcionar um aprendizado social agradável, sempre


expressando seus sentimentos, dúvidas, curiosidades e necessidades.
Toda situação de jogos oferece à criança desafios como: lidar com sua
própria disciplina, respeitar e reconhecer a importância das regras existentes e
manter um comportamento adequado. Facilita o desenvolvimento da leitura e
da escrita dos alunos, assim como os aproxima da realidade. Dez por cento
dos entrevistados evidenciam o aperfeiçoamento dos objetivos das aulas com
maior facilidade sob o uso de jogos de consciência fonológica.
É primordial ao professor obter conhecimentos sobre a utilização dos
jogos alfabetizadores, uma vez que dificuldades são encontradas ao longo do
ato de inserção dos mesmos. Perguntou-se, então, quais são as maiores e
mais frequentes dificuldades encontradas no processo de alfabetização, as
respostas variaram entre: não participação das famílias, imaturidade dos
alunos, compreender o sistema de escrita alfabética, alunos com deficiência e
a heterogeneidade.

Figura 27- Resposta da pergunta nº 4- A

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:
“A dificuldade maior é o aluno entender o sistema de escrita”
“A própria imaturidade das crianças”
“Trabalhar com situações de heterogeneidade é uma das maiores dificuldades”

Defronte ao resultado, revela-se que as maiores dificuldades


encontradas no processo de alfabetização são a imaturidade dos alunos e a
compreensão do sistema de escrita alfabética, ambos citados com trinta por
cento dos professores. Com o passar do tempo os alunos adquirem valores e
71

conceitos relativos à vida, assim vão deixando a imaturidade de lado. Morais


(2012), assim como Ferreiro e Teberosky (1999) descrevem o processo de
aquisição da língua escrita, as fases de desenvolvimento e aquisição das
hipóteses.
As respostas revelaram outros aspectos valiosos tidos como
dificuldades, é o caso da heterogeneidade em sala de aula, obtida com vinte
por cento das respostas, podendo-se incluir a questão dos alunos com
deficiência. É desejo na maioria das escolas e por muitos professores o
alcance de classes homogêneas, porém, uma realidade inalcançável e que não
contribui verdadeiramente para a evolução dos alunos.
A não participação das famílias soma a porcentagem restante da
questão, porém, não relatam quais os possíveis motivos para esse
acontecimento.
Existem famílias que pouco ou nada se importam com a vida escolar de
seus filhos. Por isso, diversos professores devem perceber a falta que fazem,
visto que é um estímulo necessário para a criança. Faz-se importante um
trabalho para tentar a aproximação escola/família, realizado atualmente em
muitos lugares, buscando mostrar a necessidade e positividade dessa parceria.
Estas foram as maiores e mais frequentes dificuldades citadas pelos
professores relacionadas ao processo de alfabetização. Já com relação ao
trabalho com jogos responderam que as principais dificuldades são: respeito às
regras, intervenção do professor, trabalho em grupo, pouco interesse no
assunto, não há dificuldades e não opinou.

Figura 28- Resposta da pergunta nº 4- B

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras


72

As falas foram:

“A maior dificuldade é entender as regras”


“A grande dificuldade está na hora de intervir junto aos grupos”
“Trabalho em grupo, aprendendo a dividir”
“ Eles participam bem”

A pergunta revelou que as respostas relacionadas ao trabalho em grupo


e intervenção do professor foram equilibradas. O sujeito é o próprio
protagonista das ações que executa, portanto, quando colocado no contexto de
um trabalho em grupo, como variados tipos de jogos, precisa pensar sobre tudo
o que faz e observar os demais companheiros.
O professor adquire o papel de mediador, visto que necessita fazê-lo da
maneira mais agradável possível, com certa intencionalidade, colocação de
problemas, chamada de atenção para algumas questões que surgiram durante
o jogo e reflexão junto aos alunos sobre o que fizeram e podem fazer para
melhorar e alcançar outros objetivos.
Outras três categorias também obtiveram respostas equilibradas com
dez por cento cada, são elas: a falta de interesse do aluno com relação ao
jogo, a inexistência de dificuldades e a falta de opinião para a pergunta. Pode-
se perceber que são poucos os professores que acreditam não haver interesse
dos alunos em jogar, assim como o fato de não encontrarem dificuldades.
Já o respeito às regras obtém maior porcentagem na pesquisa. Vale
ressaltar que a criança nas séries iniciais de alfabetização encontra-se em um
período egocêntrico, ou seja, para a própria defesa evitam centrar-se nos
outros ou em regras, mostrando dificuldades em compreendê-las. Nesse caso,
entram as atividades coletivas como meio facilitador para a mudança de
pensamentos e aceitações.
O jogo é um tipo de atividade eficiente para o convívio social e o
desenvolvimento de relações pessoais, uma vez que faz parte da cultura na
qual as pessoas estão inseridas.
Não basta utilizar os jogos, é destacado o saber avaliar tudo o que se
consegue desenvolver com eles. Quando perguntado, “de que forma ocorre a
avaliação dos alunos no ato de jogar?”, as respostas revelaram: observação,
apropriação das regras, memorização e socialização.
73

Figura 29- Resposta da pergunta nº 5

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:
“ Verificando a memorização”
“ Através da observação constante”
“ Se entenderam a regra do jogo”
“ Desenvolvimento do espírito de socialização”

Percebe-se que, nesta pergunta, em relação às formas de avaliação no


trabalho com jogos, sessenta por cento relatou que avalia-se através de
observações constantes durante as atividades. Já o restante não soube
explicitar os critérios utilizados, mostrando quais são os quesitos avaliados e
não a forma de avaliar, como é o caso da memorização.
Para esse tipo de avaliação é importante o uso de “pautas de avaliação”,
as quais possuem clareza em seu planejamento, apontando quais critérios se
quer avaliar, colocando os resultados de acordo com o critério correspondente,
como meio de facilitar a leitura e entendimento do que foi realizado.
Segundo Macedo (2005) para se avaliar a aprendizagem através dos
jogos é necessário olhar sob vários ângulos, avaliando o aluno em seu todo,
em suas múltiplas inteligências, além de suas produções e situações de
diálogo. Na investigação sobre quais os jogos que estão presentes em sala de
aula, no geral, a pergunta foi: Você possui jogos em sua sala para que a turma
possa desfrutar e manusear? Quais são eles?.
Obteve-se como respostas: Jogos da memória, dominós de palavras,
bingo das letras, alfabeto móvel e jogos matemáticos.
74

Figura 30- Resposta da pergunta nº 6

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:

“ Utilizo principalmente o alfabeto móvel”


“ Bingo das letras”

A existência de jogos em sala, seja na Educação Infantil ou nas séries


iniciais de alfabetização é um aspecto importante, de modo que o aluno possa
manusear e jogar sem intervenções o tempo todo, aperfeiçoando habilidades.
Foi constatado que o alfabeto móvel é o que se faz mais presente nas
estantes dessas salas, logo depois se enquadram jogos da memória, bingo das
letras e dominós de palavras, além dos jogos matemáticos, os quais não
envolvem a língua escrita, uma vez que relacionam-se à contagens.
Pela análise da figura é possível constatar que ambos os professores
que responderam ao questionário possuem um acervo certamente pequeno de
jogos em suas salas, talvez não por que queiram, mas pelo fato de a
metodologia da escola, ou correria do dia a dia e o medo de não cumprir com
as obrigações ou tarefas possam inibir tal prática.
Os jogos de alfabetização, em sua maioria, contribuem para o
desenvolvimento da consciência fonológica. Assim, a próxima questão serviu
para avaliar a utilização desses jogos e o conhecimento dos professores sobre
o termo.
Perguntou-se “quais tipos de jogos podem ser introduzidos no ensino
fundamental, nas séries iniciais de alfabetização para o desenvolvimento da
75

consciência fonológica nos alunos?” e adquiriu-se como respostas o que


consta no gráfico abaixo.

Figura 31- Resposta da pergunta nº 7

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:
“Jogos que desenvolvam as rimas”
“Jogos de contagem”

Visto que a consciência fonológica pode ser conceituada como uma


capacidade de entender a relação de que tudo o que é falado pode também ser
escrito, compreender sons e refletir sobre a estrutura das palavras, analisou-se
as respostas obtidas.
De acordo com porcentagem, cinquenta por cento dos professores
disseram que alguns jogos contribuintes para o desenvolvimento da
consciência fonológica são aqueles que desenvolvem a consciência para rimas
e sons.
A soma das categorias restantes, portanto, metade revela o
desconhecimento do termo e os jogos que realmente trabalhem sobre ele. Um
exemplo está na citação de jogos de contagem, os quais não se relacionam ao
sistema se escrita, mas sim a cálculos matemáticos. Houve também quem não
quis opinar.
Ainda sobre os jogos de consciência fonológica, porém, agora sobre a
frequência, perguntou-se: “Com que frequência utiliza jogos de consciência
76

fonológica em sua prática?” As respostas obtidas foram: diariamente,


semanalmente, visando as necessidades, não sabe dizer a frequência.

Figura 32- Resposta da pergunta nº 8

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:
“Uma vez por semana”
“É difícil se falar em frequência”
“De acordo com as necessidades dos alunos”

Perante a este resultado e relacionado ao anterior, verifica-se que


mesmo analisando que muitos professores demonstraram falta de
entendimento sobre a questão da consciência fonológica e quais jogos são
uteis para desenvolvê-la, todos responderam sobre a frequência de utilização,
exceto dez por cento, dizendo ser difícil falar sobre frequência.
A utilização dos jogos alfabetizadores ainda é algo confuso, pois, muitos
desconhecem sua real importância e meios de trabalhar.
Quarenta por cento das respostas revelou a inserção de tais jogos
diariamente, para trinta por cento o uso é semanal e para o restante é
introduzido de acordo com as necessidades dos alunos, trabalhando com as
dificuldades apresentadas.
Falou-se até aqui sobre o processo de aquisição da língua escrita,
metodologias para facilitar o ensino e, principalmente, a importância dos jogos.
Para encerrar esta análise qualitativa, quando perguntado: “Quais
procedimentos e práticas não podem faltar quando ainda se está
77

alfabetizando?” eles responderam: planejamento, atividades diversificadas,


conhecer fases da escrita, leituras frequentes, ensinar através das dificuldades.

Figura 33- Resposta da pergunta nº 9

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:
“ Ter conhecimento de como se dão as fases da leitura e escrita, digo, as
hipóteses”
“ Leitura diária de diversos gêneros”
“ Planejamento(planilha)”

Pela figura acima, revela-se que os professores responderam as oito


questões anteriores relacionadas à importância dos jogos na alfabetização,
porém, não o citaram como sendo algo que essencial no decorrer do processo.
O ensino através das dificuldades mostra-se como um procedimento de
extrema relevância para trinta por cento dos professores questionados,
significa trabalhar valorizando não somente os acertos, mas também os erros
dos alunos, de modo que vençam obstáculos.
Igualmente, vinte por cento aponta para a prática do planejamento e o
uso de atividades diversificadas. Nessas atividades podem estar inferidos os
jogos, porém, não esclareceu-se a respeito. Outra parcela aponta para as
leituras constantes de diversos gêneros.
Sabe-se que o professor ensina as crianças de forma que adquiram
conhecimentos e habilidades, passando pelas fases da escrita citadas no
segundo capítulo deste trabalho. No entanto, com a pesquisa observou-se que
apenas dez por cento reconhece a importância desse procedimento.
78

Na última pergunta, “Para você professor, qual é a visão dos pais sobre
seu trabalho com jogos em sala de aula?” as respostas obtidas foram: gostam,
consideram brincadeira, enrolação da aula, depende do público, não
acompanham a vida escolar.

Figura 34- Resposta da pergunta nº 10

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras

As falas foram:
“Penso que gostam, pois não houve reclamações”
“Para os pais, estamos enrolando o trabalho”

Obteve-se como resposta da maioria dos professores com relação à


visão que possuem sobre a opinião dos pais que os jogos são utilizados na
prática pedagógica apenas para enrolação e passagem do tempo, além de
servir somente como brincadeira para as crianças, são portanto,
desvalorizados na visão dos pais.
Muitas famílias desconhecem os benefícios trazidos pelos jogos para o
alcance da alfabetização, devido ao fato de existir pouco contato com a política
pedagógica da escola.
Trinta por cento dos professores disseram que os pais gostam desse
objeto de ensino, visto que não recebem reclamações, mas também não
justificaram, além de dizer que acham importante.
Essa questão pode fazer referência ao que Angela Borba (2005) traz
sobre uma sociedade e cultura do trabalho, que vê na ação do jogar algo sem
79

valor. Evidencia-se também que a brincadeira aprende-se desde muito cedo,


por meio das relações que os sujeitos estabelecem com os outros e com a
cultura.
Portanto, as opiniões quanto a visão dos pais sobre o trabalho com jogos são
diversificadas, visto que variam de acordo com a sociedade cultural que essas
famílias se inserem e o grau de conhecimento que possuem, ou seja, as visões
são diferentes se relacionadas ao contexto social dos indivíduos, pois, em
algumas culturas o jogo é uma prática mais valorizada, ora em outras é algo
menos valorizado, apoiado em poucos conhecimentos sobre o assunto.
80

CONCLUSÃO

O jogo como promotor de aprendizagem e do desenvolvimento passa a ser


considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já
que coloca o aluno diante de situações lúdicas pode ser uma boa estratégia
para aproximá-los dos conteúdos culturais a serem vinculados na escola.

Tizuko Morchida Kishimoto


81

Após a realização dos estudos, pode-se afirmar que a alfabetização e o


letramento são necessários e de extrema importância quando se trata da
formação de cidadãos críticos e aptos a viver em sociedade.
A linguagem oral e escrita são fontes de comunicação e expressão
primordiais ao desenvolvimento integral do indivíduo, enfatizando suas
necessidades reais e ampliando seus aspectos emocionais, cognitivos, afetivos
e sociais. Quando esse processo envolve o contexto lúdico com uso de jogos,
oportuniza-se à criança a construção do conhecimento da leitura e escrita
através de situações atraentes e motivadoras, que respeitam a cultura da
infância.
A pesquisa possibilitou compreender que a linguagem oral e escrita
acontecem de forma intrínseca e individual, mas num processo social e
interativo ao mesmo tempo, uma vez que é pela interação do sujeito com seus
pares, com a comunidade que ele organiza seu conhecimento cada vez mais
elaborado.
Foi possível perceber e adquirir conhecimentos sobre os métodos
tradicionais de alfabetização, compreendendo que não é o método que
alfabetiza, exige-se muito da atuação do professor e valorização dos conceitos
já trazidos pelos alunos. Dessa forma, inferir a utilização de jogos de
consciência fonológica é um meio de facilitar a aprendizagem em todas as
circunstâncias.
A criança que inicia a alfabetização já sabe falar o português, sem saber
escrever nem ler, mas compõe palavras e argumentos, porém, de início, não
sabem que a palavra escrita representa a linguagem oral, tampouco possui a
percepção de suas pautas sonoras. No entanto, quando entra na escola, com a
alfabetização, a criança possui uma grande bagagem de conhecimentos
prévios, porque tem contato com práticas sociais que envolvem a leitura e a
escrita. Porém, a escola introduz uma linguagem que é considerada um
desafio, pois foge dos conhecimentos e concepções trazidos das experiências
vivenciadas, visando impor uma fala única, como forma de adquirir a linguagem
oral e escrita, desconsiderando a diversidade.
O adulto exerce um papel fundamental nesse processo, pois o
aprendizado da escrita e da leitura não termina no final da primeira série do
Ensino Fundamental e não acontece apenas na sala de aula, afinal as crianças
82

estão constantemente frente a situações que exigem a internalização da


alfabetização e do letramento. Há tantas coisas a respeito de escrita e leitura, e
de dificuldades tão variadas, que se torna conveniente o seu ensino ao longo
de todos os anos de estudo. Emília Ferreiro em seu livro “Com todas as Letras
“(1992, p.17) cita que “As crianças são facilmente alfabetizáveis: foram os
adultos que dificultaram o processo de alfabetização delas”.
É importante que o professor alfabetizador tenha compromisso pelo que
faz, conhecendo e se aperfeiçoando constantemente, pois a aquisição da
língua escrita ainda é um assunto pouco esclarecido e compreendido por parte
dos educadores, mesmo compondo o cotidiano, muitos educadores não
especificam adequadamente como ocorre o processo de construção de
hipóteses sobre as regras do sistema alfabético.
Com relação ao uso de jogos como recurso pedagógico, a pesquisa
mostrou que os mediadores precisam planejá-los adequadamente, almejando
metas precisas, valorizando sua aplicação com intuito de explorar, observar e
analisar o interesse e desempenho dos alunos, bem como propiciar condições,
espaço e materiais adequados, possibilitar compreensão das regras, normas e
desafios, pois um professor bem preparado deve possuir um repertório
enriquecedor de atividades lúdicas e não lúdicas no processo de ensino
aprendizagem.
Sabe-se que os jogos alfabetizadores são essenciais ao
desenvolvimento da consciência fonológica e no processo de aquisição da
língua escrita, no entanto, a capacitação profissional constannte para a
avaliação e uso desse recurso deve ser constante, pois grande parte da
sociedade ainda considera jogos e brincadeiras como mero passatempo e
alguns educadores não relacionam a sua importância na construção do
conhecimento e na reflexão fonológica da escrita com base nos sons da fala.
Cabe ao educador conhecer sua turma e ter um diagnóstico do nível
silábico de seus alunos para posteriormente usar jogos adequados às metas
almejadas.
Formar cidadãos leitores e escritores é o grande objetivo da educação e
fonte de prazer para o educador. Portanto, torna-se necessário inovar a todo o
momento, trabalhar com uma grande variedade de textos e materiais que
83

estimulem a consciência fonológica, diversificando as aulas e vendo nos jogos


alfabetizadores um parceiro na prática pedagógica e na alfabetização.
O professor não é o detentor do saber, nem um cientista composto por
conhecimentos ilimitados, mas sim, um mediador incentivador que apoiado no
equilíbrio entre os saberes que possui, assim como os saberes de seus alunos
e os que serão adquiridos, irá proporcionar grandes avanços no processo de
ensino aprendizagem.
É indispensável aos professores, saberem que as críticas aparecerão
frequentemente, mas cabe ao preparo de cada profissional saber lidar com
elas, usando-as como incentivo para um aperfeiçoamento contínuo e
impulsionando sua capacitação profissional.
84

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APÊNDICES
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APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO APLICADO PARA PROFESSORES


ALFABETIZADORES

1) Como ocorre nos alunos o processo de aquisição da língua escrita?


2) A- O trabalho com o lúdico faz parte de sua rotina em sala de aula?
B- De que maneira esta rotina com introdução do lúdico é organizada?
3) Você considera o jogo um instrumento importante para a alfabetização? Por
quê?
4) A- Quais as maiores e mais frequentes dificuldades encontradas no
processo de alfabetização?
B- Quais as maiores e mais frequentes dificuldades encontradas no
trabalho com jogos?
5) De que forma ocorre a avaliação dos alunos no ato de jogar?
6) Você possui jogos em sua sala para que a turma possa desfrutar e
manusear? Quais são eles?
7) Quais tipos de jogos podem ser introduzidos no ensino fundamental, nas
séries iniciais de alfabetização para o desenvolvimento da consciência
fonológica nos alunos?
8) Com que frequência utiliza jogos de consciência fonológica em sua prática?
9) Quais procedimentos e práticas não podem faltar quando ainda se está
alfabetizando?
10) Para você professor, qual é a visão dos pais sobre seu trabalho com jogos
em sala de aula?”
90

APÊNDICE B- TABULAÇÃO DOS DADOS

Tabela 1. Pergunta nº 1 feita aos professores


Como ocorre nos alunos o processo de aquisição da língua escrita?
Cada aluno aprende Níveis Com intervenções e De forma
no seu tempo de escrita estímulos participativa e
desafiadora
2 4 3 1

Tabela 2. Pergunta nº 2- A feita aos professores


a) O trabalho com o lúdico faz parte de sua rotina em sala de aula?
Sempre que De acordo com Ao longo do É muito Construção de
possível as processo importante conhecimentos
necessidades
2 2 1 3 2

Tabela 3. Pergunta nº 2- B feita aos professores


b) De que maneira esta rotina com introdução do lúdico é organizada?
Jogos três Jogos segunda Atividades Com
Semanalmente vezes na e sexta-feira permanentes auxílio dos
semana incluindo jogos alunos
5 1 1 2 1

Tabela 4. Pergunta nº 3 feita aos professores


Você considera o jogo um instrumento importante para a alfabetização? Por
quê?
Desenvolve Compreensão de Adquirir Aperfeiçoa
habilidades regras, letras e conhecimentos objetivos da aula
brincando números
5 2 2 1

Tabela 5. Pergunta nº 4- A feita aos professores


a) Quais as maiores e mais frequentes dificuldades encontradas
no processo de alfabetização?
Não Compreender Alunos
participação Imaturidade o sistema de com Heterogeneidade
das famílias dos alunos escrita deficiência
alfabética
1 3 3 1 2
91

Tabela 6. Pergunta nº 4-B feita aos professores


b) Quais as maiores e mais frequentes dificuldades encontradas no
trabalho com jogos?
Pouco
Respeito Intervenção Trabalho interesse no Não há Não
às regras do professor em grupo assunto dificuldades opinou
3 2 2 1 1 1

Tabela 7. Pergunta nº 5 feita aos professores


De que forma ocorre a avaliação dos alunos no ato de jogar?
Observação Apropriação das Memorização Socialização
regras
6 2 1 1

Tabela 8. Pergunta nº 6 feita aos professores


Você possui jogos em sua sala para que a turma possa desfrutar e manusear?
Quais são eles?
Jogos da Dominós de Bingo das Alfabeto móvel Jogos
memória palavras letras matemáticos
2 2 2 3 1

Tabela 9. Pergunta nº 7 feita aos professores


Quais tipos de jogos podem ser introduzidos no ensino fundamental, nas séries
iniciais de alfabetização para o desenvolvimento da consciência fonológica nos
alunos?
Jogos de Jogos de Alfabeto Leitura de Jogos de Não
rimas/sons memorização móvel livros e gibis contagem opinou

5 1 1 1 1 1

Tabela 10. Pergunta nº 8 feita aos professores


Com que frequência utiliza jogos de consciência fonológica em sua prática?
Diariamente Semanalmente Visando as Não sabe dizer
necessidades a frequência
4 3 2 1

Tabela 11. Pergunta nº 9 feita aos professores


Quais procedimentos e práticas não podem faltar quando ainda se está
alfabetizando?
Planejamento Atividades Conhecer Leituras Ensinar
diversificadas fases da frequentes através das
escrita dificuldades
2 2 1 2 3
92

Tabela 12. Pergunta nº 10 feita aos professores


Para você professor, qual é a visão dos pais sobre seu trabalho com jogos em sala de
aula?”
Gostam Consideram Enrolação da Depende do Não acompanham
brincadeira aula público a vida escolar

3 4 1 1 1

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