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BAURU
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU
Mantido pela Instituição Toledo de Ensino
CURSO DE DIREITO
BAURU
2018
GIOVANNA DE ÁVILA SILVESTRE
Banca Examinadora:
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RESUMO
This paper aims to discuss and demonstrate the relevance of the science of
psychoanalysis in order to understand the origins and needs of the law,
deconstructing the rigidity of norms in order to dive into the urgency of society about
this tool. Such study is necessary so that we can, through this knowledge, use more
profitably the norms themselves, which guide us in our lives in society. The
understanding of the psychological formation of the individuals in whom the norms
reflect is of paramount importance, since, after all, they are the final object of
collusion of the law. We will try, throughout the work, to remove all formalism from the
positive law, framing us in a unconscious aspect of the laws, in order to reach the
psyche, the desires and the need of directing reins of the individual so that he can
live, at least in terms, peacefully in a collective, passing through the lessons of
Sigmund Freud and Jacques Lacan, demonstrating that the law finds in the
psychoanalytic discipline a prism to have observed all the present order, to reach,
than, the conflicting germ of human nature that urges the need of standards. In the
end, what is intended is to launch into the law an alternative that is different from
classicism, petrification of truths and, above all, approximation to the justice. The
methodology used for the elaboration of the present work consists of bibliographical
research related to the psychoanalytic lessons in contraposition to the law, as well as
internet articles that deal with the subject.
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................
4 A SIMBOLOGIA DA JUSTIÇA............................................................................
4.1 A balança............................................................................................................
4.2 A cegueira...........................................................................................................
4.3 A espada.............................................................................................................
5 O SENTIDO DA LEI...........................................................................................
5.1 O discurso da justiça........................................................................................
5.2 O Direito e a sublimação...................................................................................
5.3 A análise............................................................................................................
6 CONCLUSÃO......................................................................................................
REFERÊNCIAS...................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
Para iniciar nossos estudos, por lógica, devemos partir da gênese do homem
e seus desejos. E ainda, devemos ir mais a fundo, analisando os traços animais
propriamente ditos.
Segundo a teoria psicanalítica, os laços sociais e afetivos que os humanos
perseguem são “aprendidos” no âmbito familiar, sua primeira “sociedade” – e, a isso,
citaremos (em rápidos esboços) o complexo de Édipo.
Introduzida por Freud em 1900, a teoria psicossexual trata-se de fenômeno
universal. A tese usa do mito grego de Édipo Rei (de Sófocles, obra teatral
produzida por volta de 428 a.C. que ilustra o parricídio e matrimônio de Édipo com
sua própria mãe, sendo desconhecida para os envolvidos sua ligação parental) para
indicar que as crianças desejam, inconscientemente, seus pais, tanto hostilmente
quanto amorosamente. Eles se tornam o objeto de desejo dos infantes: o menino
direciona sua libido para a mãe, voltando contra o pai sentimentos rivais (por este
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dormir com ela, por exemplo); a menina, por sua vez, direciona a libido para o pai,
tendo inconsciente rivalidade com a mãe. A teoria ainda se deslinda à frente, porém
podemos nos deter aqui para o presente trabalho.
Sendo este, então, o primeiro ponto dos desejos – o sexual (e ainda, do
propulsor da procriação) –, podemos dizer que, sem alguma forma de proibição, os
indivíduos cairiam em uma sucessão de incestos. Esta afirmação será
insistentemente negada, uma vez que a teoria psicanalítica segue exatamente esta
linha – a de buscar o “não” em nossos discursos, a singela mecha no consciente
que, ao se puxar, descobrem-se raízes. A própria negativa de um desejo já
pressupõe sua existência. A psicanálise tende a remexer o íntimo do ser, a pôr em
xeque a consciência, esta camada superficial, questionando nossa percepção
“comum”.
A partir deste ponto, com nossos valores morais e bons costumes, já
sabemos que tais relações entre familiares são inadmissíveis dentro de uma
sociedade politicamente “correta” e saudável. Aí, nos vemos diante da necessidade
da inibição, da criação de barreiras e proibições para que os indivíduos não
satisfaçam estes desejos inconscientes e tão latentes nas arestas mais invisíveis da
mente.
É sabido que é a impossibilidade de concretização do desejo, a ausência de
uma “ponte” de ligação entre o indivíduo e o objeto idealizado, de chegada ao gozo,
é o fato gerador dos recalques, das germinações e reverberações inconscientes e,
consequentemente, das neuroses e dos descompassos que vivemos (diariamente).
Assim, facilmente conclui-se que é da proibição – do “não” dito ao objeto idealizado
e desejado – que surgem os mais diversos desdobramentos no aparelho psíquico.
fim, uma análise destas. O que se constatou (e assim continua a se constatar) é que
muitos tabus se perpetuam entre nossos interditos.
“As restrições do tabu são algo diverso das proibições religiosas ou morais.
Não procedem do mandamento de um deus, valem por si mesmas;
distingue-as das proibições morais o fato de não se incluírem num sistema
que dá por necessárias as privações, de forma geral, e fundamenta esta
necessidade. As proibições do tabu prescindem de qualquer
fundamentação; têm origem desconhecida; para nós obscuras, parecem
evidentes para aqueles sob o seu domínio. ” FREUD, p. 42-43
O totem, hora transmitido pela mãe, hora pelo pai, era o que delineava as
relações dentro das tribos (e para com outras tribos, já que cada uma possuía seu
animal). “Em quase toda parte em que vigora o totem há também a lei de que
membros do mesmo totem não podem ter relações sexuais entre si, ou seja,
também não podem se casar. É a instituição da exogamia, ligada ao totem”.
(FREUD, p. 21)
Vejamos que o totem não era a proibição em si, mas uma “entidade” aceita
como imperiosa e dominante sobre determinado grupo. A exogamia foi ligada a ele.
Devemos levar em consideração que pouco sabemos sobre os primeiros grupos de
humanos, logo, não conseguimos prosseguir às mais puras raízes destas ideias,
uma vez que longo tempo se passou e muito se deformou depois de tantos milênios.
Ainda, não podemos arriscar dizer que o saber de que biologicamente é incoerente a
procriação entre seres cujos genes são familiares possa ser a fonte desta aversão à
união sexual entre consanguíneos – afinal, até onde seria capaz o pressentimento
natural, animalesco do homem? Existem vários casos que demonstram que as
proibições não se limitam a este fator – inclusive, nem se poderia exigir um cuidado
tão peculiar de povos tão primitivos, ainda mais se considerarmos a própria teoria
psicanalítica sobre a libido primitiva para tanto. Acerca dessa confusão entre o
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Conclui-se que a lei ocupa, então, lugar simbólico dentro da psique humana
como o pai. Deve ser respeitada, não ferida, em prol da organização da sociedade e
sua boa convivência.
“A lei, contudo, retira força dela própria para exercer sua autoridade, na
medida em que não há fundamento externo que a justifique. Neste sentido,
é por exclusão de toda possibilidade física ou coercitiva que a lei se
constitui. Isto nos leva a crer que a autoridade é dada por um valor
simbólico, autoreferente, que tal objeto eleito ocupa.” (NILANDER, 2014)
semelhança a ela, de qualquer forma, pois essa foi a ideia que lhe foi agregada de
“mulher ideal” na infância.
Logo, o homem vê a mãe de sua esposa como outra mãe, mas além da que
não lhe é proibida (a biológica), gerando um caminho inconsciente de regresso ao
primeiro desejo. Sua atual esposa foi desejada, inicialmente, justamente porque ele
podia observar nela alguma semelhança à sua genitora. Isso o leva a uma mínima
ideia de desimpedimento de realização do desejo primitivo (incestuoso) que, se se
amparasse apenas pelos fatores de incompatibilidade genética, poderia se
concretizar com esta outra mãe, que não é sua mãe biológica, mas em muito se
assemelha a ela.
A sogra, por outro lado, segundo Freud:
“[...] As necessidades psicossexuais da mulher devem ser satisfeitas no
casamento e na vida familiar, mas ela é ameaçada pela insatisfação devida
ao fim prematuro da relação conjugal e à ausência de acontecimentos na
sua vida emocional. Ao envelhecer, uma mãe se protege disso mediante a
empatia com seus filhos, a identificação com eles, ao tornar suas as
vivências emocionais deles. [...]” p. 38
Em seus escritos, Freud afirma que a criança é, até certa idade, objeto de
desejo de seus genitores. Não são inconscientemente considerados como indivíduos
– não possuem individualidade propriamente dita -, mas são admitidos como uma
mera extensão dos desejos destes adultos que o geraram. “Tal empatia com a filha
chega facilmente ao ponto de a mãe também se enamorar do homem amado por
ela” (FREUD, p. 39).
Ao passo em que o homem vê na sogra um ideal que deseja, a sogra se
coloca inconscientemente na posição de desejante da filha – ou melhor, dos próprios
desejos dela. A proibição ocorre para que não se desfaça o laço matrimonial
permitido e já concretizado, e talvez, até para preservar certa integridade moral
deste núcleo familiar hipotético. Reprimidos os desejos de ambos, afloram os
sentimentos negativos de raiva, ciúme e suas variáveis, dos dois lados da relação.
A exogamia totêmica das tribos australianas citadas por Freud impedia não
somente a união sexual entre consanguíneos, mas entre todos os membros de um
mesmo clã. Isto porque houve uma substituição do fator que une os membros de
uma tribo: do sanguíneo pelo totêmico. É uma forma muito útil de aplicação das
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restrições sexuais (cite-se, ainda, das pulsões), e principalmente, por ter sido
agregada ao totem, exercia uma grande força psíquica nos indivíduos da tribo.
“[...] Os nomes com que designam o parentesco não consideram o laço
entre dois indivíduos, mas entre um indivíduo e um grupo; pertencem, na
expressão de L. H. Morgan, ao ‘sistema classificatório’. Isto significa que um
homem chama de ‘pai’ não apenas seu genitor, mas também qualquer outro
homem que, conforme os estatutos da tribo, poderia ter desposado sua mãe
e se tornado seu pai; chama de ‘mãe’ qualquer outra mulher que, sem ferir
as leis da tribo, poderia ser sua mãe; chama de ‘irmãos’ e ‘irmãs’ não só os
filhos de seus pais verdadeiros, mas também os de todas as pessoas
referidas que com ele mantêm relação parental no grupo, e assim por
diante. Os nomes de parentesco que dois australianos dão um ao outro,
portanto, não indicam necessariamente consanguinidade entre eles, como
em nossa linguagem; indicam laços sociais, não físicos. [...]” FREUD, p. 26
Dessa forma, pode-se inferir que tais mecanismos foram necessários para
que se atingisse certa unidade, no sentido de que houve identificação psicológica do
indivíduo com o grupo – grupo este que se movimentaria como um, com
necessidade de comunicação, de tecer relações, sendo que deste ponto poderíamos
criar um rol infinito de necessidades verificáveis tanto num indivíduo quanto num
grupo psicológico, correlacionados. Na citação abaixo, Ènriquez faz menção a um
dos termos que, noutras páginas do presente trabalho, se demonstrará central à
simbolização da justiça – a igualdade. Vejamos:
“[...] O laço libidinal é originário e é ele que permite o reconhecimento da
existência do outro. É justamente porque ele não existe no tempo da horda
que a horda permanece uma horda e não uma civilização ou uma
instituição; é porque ela é regida pala violência pura que os outros não
podem aceder à existência. O crime cometido em conjunto, fazendo do
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chefe um pai (pelo fato do remorso) o constitui em outro (em objeto de amor
e de ódio) e instaura o reconhecimento mútuo, a criação do outro
generalizado. [...] Por este discurso de amor igualitário, ele cria o grupo, e
cada um de seus membros vai introjetar o líder como objeto ideal e vai
substituir seu próprio ideal do eu pelo ideal encarnado nesta figura
transcendente. O amor que é dado, retorna. Não há, então, grupo sem pai,
grupo sem a obrigação infinita da dívida do direito à existência e do direito
ao sentido. E, como todos os homens têm, neste momento, o mesmo ideal,
eles poderão se identificar mutuamente e também se amar.” Commented [GdÁ3]: pag 11
O tabu possui uma característica que nos remonta ainda mais ao seu caráter
inconsciente, que é o da sua transmissibilidade. O próprio transgressor toma para si
o tabu, revestindo-se dele. Aquele que é impuro é totalmente capaz de transmitir a
outros suas impurezas, tal qual o próprio instante em que o tabu é desrespeitado.
Dito isto sob a perspectiva dos povos antigos, vemos que:
“Fica igualmente claro por que a violação de determinados tabus envolve
um perigo social, que tem de ser conjurado ou expiado por todos os
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“O sujeito de que o Direito nos fala é o sujeito de direitos e deveres. Ele tem
sua descrição dada pela via da instância do eu, imaginária, consciente,
moldado segundo o ordenamento jurídico vigente. É a pessoa que via de
regra é capaz, tem pleno gozo de suas faculdades mentais, é consciente,
entende o caráter criminoso ou não de seus atos e é capaz de determinar-
se de acordo com este entendimento. Tem direito à vida, à integridade
física, corpórea, à sua imagem, à sua honra, à sua moradia, à saúde, a isto,
aquilo e aquil’outro. Tem também seu elenco de deveres, uma lista de
obrigações de dar, fazer e abster-se diante de determinadas situações.
Enfim, é acreditado como regulável, normatizável, passível de proteção
jurídica e exortado ao cumprimento de modelos de ações que lhe garantem
estar representado por significantes mestres, tais como cidadão livre,
proprietário, possuidor, detentor, sucessor, marido, mulher, filho, criança,
adolescente, consumidor, autor, réu, litisconsorte, indiciado, contribuinte,
etc. tudo regido por uma ética kantiana do imperativo categórico, tendo
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O Real é o que foge ao discurso. Dentre tantas lições dadas por Lacan, o
Real é a mais complexa delas, conceituada pelo que é impossível de se atingir,
sobretudo pelo discurso, por ser exatamente a sua falta. Como este é construído
pelo Simbólico (linguagem) e pelo Imaginário, seu fundamento é a interpretação, a
perspectiva; o discurso é feito na constante expectativa de que o ouvinte
compreenderá exatamente aquilo que o dito quer transpassar, porém, os signos (os
significantes e os significados) sempre são meras tentativas de se tocar o Real, o
desejo, o não-dizível, não-capturável. A compreensão do indivíduo 1 do signo x
nunca será a mesma do indivíduo 2 sobre o mesmo signo. Para Santos, “não há um
entendimento de forma plena, baseado em um consenso, porque as palavras geram
significados que transcendem a compreensão de quem as usa e de seus
destinatários. A linguagem é, por si, equívoca, sem significantes unívocos.” Commented [GdÁ13]: Lijeane Santos, p 75.
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Passemos, então, a abordar outro tópico essencialíssimo que nos foi passado
por Lacan: o da espécie dos discursos.
Ao todo, são quatro espécies: o discurso do mestre; do analista; da histérica;
e do universitário. Cada um deles possui suas particularidades quanto à sua forma
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É aqui que se verifica mais uma de suas falhas. Claro que, como toda ciência,
existem preceitos mínimos a serem seguidos, de forma que não se perca o objeto
perseguido numa determinada busca por uma “verdade”. Entretanto, retirar do
sujeito a sua capacidade de raciocinar, jogando a ele determinados conceitos
“comprimidos”, é desconsiderar todo o seu sistema interpretativo, sobretudo
inconsciente.
Conforme as próprias palavras de Lacan:
“[...] nenhuma evocação da verdade pode ser feita se não for para indicar
que ela só é acessível por um semi-dizer, que ela não pode ser inteiramente
dita porque, para além de sua metade, não há nada a dizer”. Commented [GdÁ16]: Seminario 17, pag 49
4 A SIMBOLOGIA DA JUSTIÇA
4.1 A balança
4.2 A cegueira
castrador que toma o Estado numa simples e corriqueira frase como “nos
submetemos ao Poder Estatal”. Nesta circunstância, o símbolo acaba por se perder
à margem dos olhos inúteis, teimosos, podendo-se falar até em narcísicos,
enfeitiçados pelo eco de sua própria soberania e capacidade de poder julgar, tal
como um deus.
Lacan aduz:
“Tomemos a dominante do discurso do mestre, cujo lugar é ocupado por
S1. Se a chamássemos de a lei, faríamos algo que tem todo seu valor
subjetivo e que não deixaria de abrir a porta para um certo número de
observações interessantes. É certo, por exemplo, que a lei - entendamos a
lei como lei articulada, a própria lei em cujos muros encontramos abrigo,
essa lei que constitui o direito - não deve certamente ser considerada
homônima do que pode ser enunciado em outro lugar como justiça. Pelo
contrário, a ambiguidade, a roupagem que essa lei recebe ao se autorizar
na justiça é, precisamente, um ponto em que nosso discurso talvez possa
indicar melhor onde estão os verdadeiros propulsores, quero dizer,
aqueles que permitem a ambiguidade e fazem com que a lei continue
sendo algo que está, primeiramente e sobretudo, inscrito na estrutura. Não
há mil maneiras de fazer leis - estejam ou não animadas pelas boas
intenções e a inspiração da justiça - porque há, talvez, leis de estrutura
que fazem com que a lei seja sempre a lei situada nesse lugar que chamo
de dominante no discurso do mestre.” Commented [GdÁ23]: Lacan, Jaques, 1901-1981 O seminário,
Livro 17: o avesso da psicanálise 1969-1970 f Jacques Lacan ; texto
estabelecido por Jacques-Alain Miller ; [versão brasileira de Ari
Assim, a falácia da lei (desta que falamos em corruptível ao ego, ao poder) é Roliman ; consultor, Antonio Quinet]. -Rio de Janeiro : Jorge Zahar
Ed., 1992. (O campo freudiano no Brasil) Tradução de: Le
seminaire.re de Jacques Lacan, livre XVII : 11envers de la
a de que esta age em nome da justiça. O Estado baseado em dominação, em psychanalyse. Bibliografia. Anexos ISBN 85-7110-235-X
estrutura, transpõe sua ação repressora, impeditiva de gozo do sujeito. pag 41!!
4.3 A espada
Assim, considerando que a lei e o Estado ocupam simbolicamente o pai, Lacan, Sem 3 – pag 358
5 O SENTIDO DA LEI
Nesta posição, a espada não exerce poder; esta se localiza como objeto a, o
verdadeiro modus operandi do analista.
Por força de todo o exposto, tecemos algumas conclusões.
Muito embora se lute contra o termo “verdade”, é inútil buscar qualquer
sinônimo que se desvista dos mesmos significantes (por serem, estes, dependentes
de significados que são inerentes exclusivamente ao leitor). Porém, tenta se seguir à
risca o que se busca pelo emprego da “verdadeira justiça” – o equilíbrio e a
igualdade, termos que, anteriormente no presente trabalho, apresentaram-se como
centrais à noção de justiça.
Considerando a espada como o ato analítico, o ponto focal do discurso do
analista, esta não poderia se desvencilhar do que se apresenta como “símbolo
fálico”; igualmente, não poderia o Estado desmembrar-se da metáfora paterna que
se acopla inconscientemente em cada um dos homens – e tampouco poderia; a
ideia de “controle em prol do bem-estar coletivo” é inerente à integração do homem
à cultura e à família (superego freudiano). Não se discute, aqui, a questão de uma
abolição paterna, mas sim como esta figura poderia ser mais proveitosa, como a
relação entre “pai e filhos” poderia ser mais frutífera, conduzindo os indivíduos à um
real equilíbrio. Reale, mencionando Hans Kelsen (autor da conhecida Teoria Pura do
Direito), narra:
"[...] O Direito é visto como um sistema escalonado e gradativo de normas,
as quais atribuem sentido objetivo aos atos de vontade. Elas se apoiam
umas nas outras, formando um todo coerente: recebe umas das outras a
sua vigência (validade), todas dependendo de uma norma fundamental,
suporte lógico da integralidade do sistema. As normas jurídicas não são
comandos ou imperativos, no sentido psicológico do termo, como se atrás
de cada preceito houvesse alguém a dar ordens, mas sim, enunciados
lógicos que se situam no plano do dever ser." Commented [GdÁ30]: Reale, pag 457 (pdf 488)
peneirar da lei que ostenta o discurso do mestre, quando esta se auto afirma através
do poder: nesta forma, retém-se o objeto a - o desejo (do falo, de lugar do pai).
“É sempre bom iniciar tal elucidação partindo de um ponto bem conhecido,
mas nem sempre verificável: o de que o Sujeito Suposto Saber é antes de
tudo um lugar. O bom analista reconhece que esse é um lugar transitório e
que ser semblante de a só torna-se possível quando o analista desloca-se
dessa posição, dada pelo analisando na transferência, em um movimento
de ‘des-ser’, que por sua vez é inevitável, ficando-lhe apenas o lugar de
resto. Como o analista ocupa um papel nessa passagem na fantasia do
analisando, se seu narcisismo não tiver ainda sido encarado, o analista
pode custar a sair desse lugar, afinal, o ‘resto’ nem sempre cheira bem.
E prossegue que “é a tentativa de sobrepor a responsabilidade ao arbítrio”. Commented [GdÁ33]: Pag 102!
Que “mesmo após a difusão da Psicanálise pelo mundo, o Direito, em larga escala,
continua a ignorá-la apostando, ainda, no tecnicismo inerente à interpretação.” Commented [GdÁ34]: Pag 103
“[...] O ato analítico deveria permitir que o sujeito, após se haver engajado
na via do seu discurso, pudesse apropriar-se daquele elemento lacunar à
sua história (concebida por Lacan enquanto homóloga a uma cadeia
discursiva). Em linhas gerais, aquilo que o psicanalista francês designou a
palavra plena seria, pois, a materialização desse instante fecundo no qual
o sujeito viria a assumir para si, como efeito do dispositivo analítico,
aquela parte do seu discurso que se lhe apresentava sempre de modo
falhado.” Commented [GdÁ37]: http://www.scielo.br/pdf/pusp/v26n3/
1678-5177-pusp-26-03-00423.pdf pag 3 acesso em 11/02/18
5.3 A análise
As normas, tal qual o Simbólico, são compostas pela palavra, pela letra; não
devemos, ainda, esquecer do deslizar do desejo pelos significantes. A questão da
meia-verdade abordada pelo autor deve ser considerada quando de suas edições.
Pelo Simbólico ser frustrado e o Real intocável, o que se poderia fisgar do
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6 CONCLUSÃO
falha como símbolo. E, finalmente, a espada, que quando empunhada pelo mestre,
toma seu caráter castrador, fálico e auto empoderadora.
Ainda, demonstraram-se as possibilidades de interlocução entre as
disciplinas, de forma a lançar uma hipótese de reformulação (e desconstrução)
estrutural das normas. O Direito, tal qual o discurso, não se livra (e nem se livrará)
de suas faltas. As lacunas do Direito se justificam na medida em que todas as
circunstâncias possíveis são, como o Real, inimagináveis.
Se a justiça pudesse portar um discurso, baseado no ideal de igualdade, esta
teria como finalidade a busca pelo Real (desejo recalcado); somente neste caminho,
que nunca se cessa, encontraremos o que falta à sociedade e o que o Direito pode
(e deve) respaldar. O discurso do analista, quando posto à favor da justiça,
simboliza-se como a espada – a cisão, de forma a escancarar a lacuna que nos
deixou a lei escrita. O que tal ação pretende, ainda, nos abre as portas para as
hipóteses de sublimação, forma descrita por Freud como sendo “a menos danosa”
às pulsões, consistentes no desvio da libido a outro objeto.
Objetivando o equilíbrio da sociedade, é necessário que seja confiado aos
operadores do Direito o próprio discurso do analista; são os agentes da lei (em sua
concepção generalizada do termo) que poderiam, se assim pode-se dizer,
“aproximar” a relação entre Estado x indivíduo. É através da sublimação coletiva, da
justiça distribuída como ideal, integrativa, em total consideração ao particular, que o
equilíbrio se firmaria; o homem que analisa a lacuna para transparecer sua falta é
aquele que age em nome do equilíbrio, que promove o analisante a tomar as rédeas
de seus desejos. É a promoção da igualdade e do gozo, sublimado, à evolução.
Finalmente, aqui, manifeste-se a esperança que temos para os próximos
capítulos da evolução humana, de sua construção cultural e civilidade, sobretudo no
que tange a uma renovação de valores quanto à “ética”, que contribui, e muito, a
psicanálise quanto trazida ao diálogo.
O Direito, como o Real, não pode deixar de ser (in)escrito.
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REFERÊNCIAS