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A ANTIGUIDADE NO CINEMA:
THE ODYSSEY
DE ANDREI KONCHALOVSKY (1997)
102 Nuno Simões Rodrigues
seus poemas, havendo sempre uma sensação de ficar aquém do espírito das
epopeias e da grandeza do Poeta.
Acresce o facto de ser impossível estabelecer comparações com outras
versões cinematográficas da épica homérica, designadamente o Ulysses de M.
Camerini (1954), com Kirk Douglas no papel protagonista e que é talvez a
mais bem conseguida adaptação da Odisseia até hoje feita.
O principal problema da produção de Coppola parece estar no cast,
totalmente miscasted, com uma ou outra honrosa excepção, e não tanto ao
nível da tecnologia utilizada, da investigação realizada ou da recriação de
ambientes.
Entre os actores mal escolhidos, não podemos deixar de referir
Bernardette Peters, uma Circe totalmente inadequada, por ser uma actriz de
teatro musical, pouco versátil no drama, que ninguém leva a sério como
Circe; Isabella Rossellini, uma Atena deslocada, aparentemente saída de um
anúncio de uma conhecida marca de cosméticos; Geraldine Chaplin,
demasiado rígida como Euricleia; e Freddy Douglas, um Hermes
excessivamente parecido com o anjo homoerótico do conhecido filme de
culto de R. Vadim, Barbarella (1968).
Entre os toleráveis, consideramos Armand Assant, apesar de o seu
Ulisses se descolar pouco do Napoleão que interpretou na mini-série de 1987;
Greta Scacchi, com um desempenho melhor na segunda parte do que na
primeira, onde é já demasiado velha para o papel que interpreta; e, claro,
Vanessa Williams, uma Calipso apaixonada, mas com uma dose pasoliniano-
felliniana excessiva e pouco credível como ninfa-afro (bem mais como Miss
América).
Ainda ao nível das interpretações, a honra é salva por Irene Papas, uma
habituée do cinema de temática clássica, que como Anticleia é a mais bem
inserida das intérpretes. Talvez a sua veia grega a inspire… A pose com que
interpreta a cena da espera à janela, por exemplo, é, no mínimo, soberba.
Uma palavra ainda para o prematuramente falecido Nicholas Clay, que teve
como Menelau uma das suas últimas representações, ainda que a composição
física da personagem, recordando um kouros, seja pouco credível.
Talvez esta produção seja o exemplo de que um cast «superestrelado»
pode ser particularmente contraproducente.
Quanto à produção propriamente dita, o filme tem aspectos
particularmente negativos. Ao contrário de Homero, que começa a narrativa à
maneira clássica, i.e., in medias res, o filme opta por ajudar o espectador,
contando a história pela ordem «correcta»: abre com uma cena caótica que