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Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo

PNV2333 – Mecânica dos Sólidos

Prof. Dr. Claudio Ruggieri

Breve monografia sobre vasos de pressão e projeto


básico de um vaso de pressão

Pedro Pascoal Andorfato NUSP 8075120

1
Breve Monografia sobre Vasos de Pressão

1. Conceito

Vasos de pressão são reservatórios à prova de vazamento, cuja função


é armazenar fluidos à pressões internas diferentes das externas. Eles podem
assumir diversas formas, desde garrafas de refrigerante até tanques mais
sofisticados sob alta pressão interna, como caldeiras.

2. Aplicações e Usos de Vasos de Pressão

Vasos de pressão são utilizados para as mais diversas funções. Suas


principais aplicações são, no entanto, em processos industriais, em
armazenamento de líquidos e gases e na geração de energia. Na área naval
podemos citar os submarinos e os tanques de gases liquefeitos, como o GLP,
em navios tipo tanker.

Fig. 2.1 (à esquerda): Gerador à vapor -


caldeira

Fig. 2.2 (abaixo): Vaso esférico para


armazenamento de gás liquefeito à baixa
temperatura

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3. Tensões em Vasos de Pressão

Vasos de pressão possuem, em geral, formato esférico, cilíndrico,


elipsoidal, ou uma combinação dentre eles. Em sua utilização como recipiente
de fluidos submetidos à pressão e temperatura extremas, surgem diversas
tensões que devem ser levadas em consideração pra um projeto eficiente.

Essas tensões podem ser definidas como:

1.Tensões primárias

a) Gerais:

- Tensão de membrana primária

- Tensão de flexão primária

b) Tensão local

2. Tensões secundárias

a) Tensão de membrana secundária

b) Tensão de flexão secundária

3. Tensão de pico

3
3.1 Tensões Primárias

São tensões que atuam ao longo de toda a seção transversal do vaso.


Produzidas por carregamentos mecânicos, são as mais prejudiciais dentre
todos os tipos de tensão. Sua característica básica reside no fato de que ela
não é auto -limitante. É em geral produzida por pressões internas ou externas.

As tensões primárias são divididas em tensões de membrana e tensões


de flexão devido ao fato de que o valor calculado para a tensão de flexão
primária máxima pode ser maior do que o calculado para a tensão de
membrana máxima.

3.1.1 Tensão de membrana primária

Ocorre ao longo de toda a seção transversal. Principalmente


representada pelas tensões longitudinais e circunferências devido à pressão e
ao vento.

3.1.2 Tensão de flexão primária

Devida à cargas contínuas atuantes nas paredes do vaso. Essa tensão é


uma função da espessura, dado que é proporcional à distância entre o ponto
analisado e o centróide da seção transversal.

3.1.3 Tensão primária local

Possui algumas características auto-limitantes assim como as tensões


secundárias, porém sua ordem de grandeza a coloca na lista de tensões
primárias. Como é localizada, quando ultrapassa a tensão de escoamento do
material, é redistribuída para regiões mais resistentes do vaso. No entanto, é
importante enfatizar que a deformação associada com escoamento é
inaceitável em um projeto de um vaso de pressão.

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3.2 Tensões secundárias

A característica básica de uma tensão secundária é que ela é auto-


limitante. Tensões secundárias são desenvolvem-se nas junções dos principais
elementos do vaso. Também são ocasionadas por cargas contínuas além da
pressão (interna ou externa).

3.2.1 Tensão de membrana secundária

São exemplos de tensão de membrana secundária a tensão térmica e as


tensões causadas por pequenas cargas locais.

3.2.2 Tensão de flexão secundária

São exemplos de tensão de flexão secundária as tensões ocasionadas


por descontinuidades estruturais grosseiras, como bicos e saliências.

3.3 Tensões de pico

São tensões adicionais ocasionadas pela intensificação da tensão em


áreas altamente localizadas. Não há deformações significantes associadas à
tensões de pico.

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4. Análise das tensões em vasos sob pressão interna

A seguir, será feito o estudo mais detalhado das tensões de membrana


primárias em vasos de pressão esféricos e cilíndricos.

4.1 Vasos esféricos


Para determinar as tensões atuantes em um vaso esféricos, precisamos
cortar diametralmente a esfera (Figura 4.1 a) e definir metade de sua casca e
seu conteúdo como um corpo livre (Figura 4.1 b). Nesse corpo livre, agem as
tensões de tração na parede do vaso e a pressão do fluido. Dado que a
pressão é uniforme, podemos escrever que:

Figura 4.1: Análise das tensões de um vaso esférico

6
Como consideramos a parede fina, assumimos que a tensão de tração
está uniformemente distribuída através da espessura t. A resultante das
tensões de tração na parede é:

Obtemos, portanto, a seguinte equação de equilíbrio:

Então:

Podemos concluir ainda, pela simetria, que a parede de um vaso


esférico pressurizado está submetida a tensões de tração uniformes em todas
as direções (condição representada pelo elemento de tensão da Figura 4.1 c).

4.1.1 Tensões na superfície externa

A superfície externa de um vaso esférico está, em geral, livre de


quaisquer carregamentos. Na Figura 4.2, é representado o elemento de tensão
da figura 4.1 c. Os eixos x e y são tangenciais à esfera e o eixo z é
perpendicular a ela. Portanto, e são iguais às tensões de membrana ea
tensão normal é nula.

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Figura 4.2: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície externa de uma esfera

Quando consideramos elementos obtidos pela rotação sobre o eixo z, as


tensões normais permanecem constantes e não há cisalhamento. Assim, as
tensões principais para o elemento são:

O cisalhamento máximo pode ser avaliado ao considerarmos rotações


fora do plano, sobre os eixos x e y. O cisalhamento máximo pode ser
encontrado ao estabelecermos uma rotação de 45º em trono de um desses
eixos. Obtemos:

8
4.1.2 Tensões na superfície interna

Na superfície interna, um elemento de tensão tem as mesmas tensões


primárias de membrana e que um elemento na superfície externa. Existe,
além disso, uma tensão de compressão igual à pressão .

Figura 4.3: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície interna de uma esfera

O elemento da Figura 4.3 está em estado triaxial de tensões, com as


seguintes tensões principais:

Novamente, as tensões de cisalhamento no plano são nulas. No entanto,


com uma rotação de 45º sobre o eixo x ou y, obtemos o cisalhamento máximo,
exposto a seguir:

9
Em se tratando de um vaso de pressão de paredes finas, podemos

desprezar o número 1 em comparação com o termo .Sendo assim, podemos


afirmar que, para a superfície interna, temos o mesmo cisalhamento máximo
que para a superfície externa, ou seja:

4.2 Vasos cilíndricos

Começaremos a análise abordando as tensões normais em um tanque


circular de parede fina AB submetido à pressão interna (Figura 4.4 a). Um
elemento de tensão está ilustrado na parede do tanque. As tensões normais
e agindo nas faces laterais desse elemento são as tensões de membrana
primárias na parede. Devido à simetria, não há ação de nenhuma tensão de
cisalhamento.

A tensão é chamada de tensão circunferencial (ou tensão de arco),


enquanto é chamada de tensão longitudinal (ou axial).

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Figura 4.4: Análise das tensões em um vaso cilíndrico

4.2.1 Tensão circunferencial

Para determinação da tensão circunferencial, toma-se uma região de


comprimento b e realiza-se um corte no plano vertical através do eixo
longitudinal, resultando no diagrama de corpo livre da figura 4.4b. Observa-se a
ação das tensões circunferenciais e da pressão interna .

Desconsiderando o peso do tanque e de seu conteúdo, obtemos que a


pressão circunferencial agindo na parede do vaso tem resultante igual a
. A força resultante da pressão interna é igual a . Temos,
portanto, a seguinte equação de equilíbrio:

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Logo, obtemos para a tensão circunferencial do cilindro:

4.2.2 Tensão longitudinal

A tensão longitudinal é obtida a partir de um corte transversal ao vaso


(Figura 4.4 c). As tensões agem longitudinalmente e possuem resultante
igual a . Como se trata de um vaso de paredes finas, podemos utilizar
o raio interno em substituição ao raio médio da seção.

A força proveniente da pressão interna é equivalente a . Temos,


portanto, a seguinte equação de equilíbrio:

Logo, obtemos para a tensão longitudinal do cilindro:

Fica claro que a tensão circunferencial em um vaso cilíndrico é igual ao


dobro de sua tensão longitudinal:

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4.2.3 Tensões na superfície externa

O elemento de tensão da Figura 4.5 está em um estado de tensão


biaxial. As tensões principais e atuantes na superfície estão
representadas. A tensão principal agindo na direção normal z é nula.

Figura 4.5: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície externa de um cilindro

As tensões de cisalhamento máximas no plano ocorrem rotacionando


em 45° o eixo z. Temos:

As tensões de cisalhamento máximas fora do plano ocorrem


rotacionando em 45° os eixos x e y. Elas são dadas por:

Comparando as três tensões, nota-se, claramente, que a tensão máxima


de cisalhamento absoluta será:

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4.2.4 Tensões na superfície interna

O elemento de tensão da Figura 4.6 ilustra as condições na superfície


interna de um vaso cilíndrico.

Figura 4.6: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície interna de um cilindro
As tensões principais estão enumeradas a seguir:

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As tensões de cisalhamento máximas, obtidas pela rotação em 45º dos
eixos x, y e z são:

Considerando a hipótese de paredes finas, concluímos que podemos

desprezar o termo 1 frente à fração . Concluímos, portanto, que a superfície

interna do cilindro está submetida às mesmas tensões da superfície externa em


relação aos eixos x e y.

5. Análise da tensão térmica

Problemas ocasionados pela expansão térmica ocorrem sempre que


existe uma diferença considerável entre a temperatura de operação do vaso e
a temperatura do ambiente. Em geral, os efeitos devidos às cargas mecânicas
aplicadas são estudados separadamente dos efeitos causados pelo gradiente
de temperatura. Os dois são posteriormente combinados para uma
comparação com a tensão máxima de projeto.

A tensão térmica é causada por mudanças na temperatura da estrutura


e pelas consequentes modificações em suas dimensões. Para ser
desenvolvida, é necessário que haja restrições em algum de seus graus de
liberdade. As restrições podem usualmente (e convenientemente) ser divididas
em restrições internas e externas.

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Na análise da tensão térmica, o primeiro passo é calcular as tensões
elásticas devido às restrições. Assume-se que a tensão está na parte elástica
do diagrama tensão-deformação do material em questão. Em determinadas
situações, a tensão térmica pode exceder o limite de escoamento do material.
No entanto, devido à sua característica auto-limitante, uma pequena
deformação plástica local vai reduzir significativamente força atuante.

5.1 Equacionamento básico

Trataremos um corpo como a composição de cubos infinitesimais de


temperatura média uniforme. Existem três casos para a tensão causada devido
a uma variação de temperatura de para , dependendo de quais graus de
liberdade estão restritos:

1. Restrição na direção do eixo x. A tensão resultante é:

sendo o coeficiente de expansão térmica e o módulo de elasticidade


do material.

2. Restrição na direção dos eixos x e y. A tensão resultante é:

sendo o coeficiente de Poisson do material.

3. Restrição em todas as direções (x, y, z). A tensão resultante é:

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5.2 Restrições externas

O método usual para calcular as tensões provocadas por restrições


externas é computar as dimensões expandidas do corpo como se não
houvesse restrições e calcular a força e o momento necessário para levá-lo
para as dimensões reais (com restrições).

Um exemplo simples que ilustra com clareza essa situação é o de um


tubo de metal entre duas paredes fixas. Neste caso, qualquer mudança na
temperatura do fluido em ralação à atmosfera induzirá a seguinte variação de
comprimento do tubo:

Caso , será positivo e a força total F necessária para a


restrição manter o comprimento original do tubo igual a , será:

A tensão térmica será:

sendo:

Área da seção transversal metálica do tubo.

Coeficiente de expansão térmica do metal.

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5.3 Restrições internas

O formato de um corpo com distribuição de temperatura não-uniforme


pode não permitir a expansão de cada elemento infinitesimal de acordo com
suas temperaturas locais para utilização do método da seção anterior. A
produção de um gradiente de temperatura faz com que a temperatura de um
elemento seja diferente da temperatura dos elementos imediatamente
adjacentes à ele.

A descrição de um método analítico para a resolução desse problema


foge do escopo deste trabalho. Em geral, são utilizadas aproximações
tabeladas para cada situação, de forma a simplificar o projeto e permitir a
obtenção das tensões mais importantes.

6. Concepção de detalhes estruturais

Um vaso de pressão caracteriza-se pela presença de diversos


elementos, notadamente: casco, tampos, suportes e bocais. Cada um deles
será explanado a seguir:

6.1 Casco

O casco de um vaso de pressão apresenta em geral um formato


cilíndrico ou esférico. O formato cilíndrico é o mais utilizado no projeto de
vasos. Isso se deve ao processo de fabricação mais simples, ao menor custo e
à maior facilidade de transporte em relação à esfera. Por sua vez, a esfera
apresenta uma melhor relação capacidade/peso. É preciso, no projeto de um
vaso, avaliar qual o formato ideal para a aplicação prevista.

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6.2 Tampos

Os tampos de um vaso são, em geral, semiesféricos, semielipsoidais,


torisféricos, cônicos ou planos. A Figura 6.1 ilustra essas diferenças
geométricas.

Figura 6.1: Diferentes tipos de tampo

Dependendo do serviço necessário e de sua exigência, são escolhidos


os diferentes tipos de tampo. Suas principais características são listadas a
seguir:

- Semielipsoidal: Geometria mais comum, possui a mesma resistência do


casco cilíndrico para a relação .
- Torisférica: Mais fáceis de fabricar do que os semielipsoidais, porém
menos resistentes.
- Semiesférico: Mais resistente do que os anteriores, mas de construção
mais difícil.
- Cônico: Resistência baixa, mas construção bastante fácil.

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- Plano: Resistência bastante baixa o que exige grandes espessuras. Em
geral empregados como tampos removíveis.

6.3 Suportes

São utilizados diferentes espécies de suporte dependendo do tipo de


vaso de pressão. Eles são dimensionados para resistir às cargas do vaso, de
ventos e de terremotos. A seguir, são especificadas as formas mais usuais.

6.3.1 Pernas (colunas) de sustentação

São utilizadas como suporte para vasos verticais de pequeno e médio


porte localizados no solo. Para permitir o acesso à parte inferior do vaso, o
número de colunas é geralmente limitado a quatro. Objetivando diminuir a
concentração de peso na fundação de concreto, as pernas são construídas
sobre pratos que formam uma base. Para manter as pernas em posição são
usados chumbadores.

6.3.2 Saias de sustentação

As saias de sustentação são também utilizadas em vasos verticais. No


entanto, encontra maiores aplicações em situações nas quais o vaso está
localizado acima do solo em uma estrutura de aço ou conectado por um
sistema de tubulação a uma maquina como um compressor. São também
usadas como apoio de vasos verticais d e grande porte. Esse tipo de suporte é
mais eficaz em problemas com vibrações.

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6.3.3 Lug support

O lug support é utilizado em vasos de pressão verticais com diâmetros

pequenos e médios (até aproximadamente 30 m) com relação .

A base pode ser aproximada para uma placa em balanço retangular


uniformemente. A região do meio pode ser considerada uma placa carregada
excentricamente. A região superior pode ser assumida como uma viga
simplesmente apoiada com carga uniformemente distribuída.

Caso as tensões sejam muito altas, são utilizados anéis de reforço que
também devem ser dimensionados.

6.3.4 Selas

As selas (ou berços) são utilizadas em cilindros horizontais. Idealmente,


elas devem ser localizadas de forma a causar a menor tensão possível no
casco. No entanto, a tubulação e o próprio layout da plataforma devem também
ser levados em consideração.

Enquanto uma das selas é fixa, a outra é livre, de moto a permitir a


expansão térmica do vaso. Em geral, cilindros de grande porte são apoiados
em duas selas sobre colunas de concreto.

6.4 Bocais

Um bocal é uma abertura que penetra o casco ou o tampo. É utilizado


para conectar tubos, instrumentos de medidas como manômetros e
equipamentos em geral. Servem para efetuar a ligação entre a tubulação de
entrada e de saída e para a instalação de drenos, respiros válvulas de
segurança e equipamentos como manômetros e trocadores de calor. É preciso
cautela no projeto de bocais, pois eles acarretam uma descontinuidade na
estrutura que precisa ser compensada, em geral com o aumento da espessura
do vaso na região.

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7. Seleção de materiais

O material selecionado para o projeto de um vaso de pressão deve


obviamente, em primeiro lugar, atender aos requisitos de tensão e temperatura
calculados. Para isso, deve-se suas propriedades mecânicas tais como módulo
de elasticidade, limite de escoamento e ductilidade.

Além disso, são observados os seguintes critérios:

- Resistência a corrosão no ambiente de serviço


- Custo
- Dificuldade de usinagem e conformação
- Disponibilidade no mercado
- Manutenção (frequência, possibilidade, mão-de-obra...)

Usualmente, os vasos são projetados para um tempo mínimo de serviço.


Para efeitos ilustrativos, a vida útil usual de alguns equipamentos está
especificada a seguir.

- 5 a 10 anos: Tubulação de aço-carbono e feixes tubulares de trocadores


de calor.
- 10 a 15 anos: tambores de aço-carbono e partes removíveis de reatores
- 15 a 20 anos: Torres de fracionamento, reatores e cascos de trocadores
de calor de alta pressão.

Os materiais mais comumente utilizados são o aço de baixa liga. Na


faixa recomendável de temperatura (entre -45ºC e 450ºC) são largamente
utilizadas as seguintes composições: SA-285 Gr C, SA-515 Gr 60 e Gr 70, AS
516 Gr 60 e 70. Buscando uma boa resistência a corrosão, chapas revestidas
de aço inoxidável, níquel e ligas metálicas mais nobres encontram larga
aplicação.

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8. Aspectos gerais de construção e fabricação de vasos

Feita a escolha e aquisição dos materiais, faz-se necessário verificar


seus certificados. É importante realizar uma inspeção visual para evitar defeitos
grosseiros que porventura não tenham sido identificados no fornecedor.
Utilizando uma amostragem estatisticamente relevante, deve-se ainda
inspecionar o lote adquirido.

Uma vez aprovadas as peças, inicia-se o processo de fabricação


propriamente dito. A fabricação segue uma lógica usual para qualquer
equipamento.

8.1 Traçagem e corte

O processo de traçagem sobre as chapas consiste na marcação das


linhas onde devem ser realizadas as operações referentes à usinagem, desde
o corte e a furação até a solda. Essa marcação é em geral feita com um
marcador de ponta dura (usualmente de ponta de diamante), giz ou tinta (esses
dois empregados em casos em que se deve evitar a fragilização da peça).

No processo de corte de chapas, a guilhotina é utilizada para chapas


finas e cortes retilíneos. Para chapas que fogem dessas condições, emprega-
se, entre outros, maçarico com chama oxiacetilênica (oxi-corte) e corte a
plasma.

8.2 Conformação

A conformação dos componentes dos vasos de pressão se utiliza, dentre


outros, dos seguintes processos de fabricação mecânica:

- Calandragem
- Prensagem
- Rebordeamento
- Dobramento
- Estampagem

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- Curvamento
É importante ressaltar a necessidade de realizar uma verificação
minuciosa para garantir que todas as dimensões e tolerâncias de projeto
tenham sido respeitadas.

8.3 Soldagem

O processo de soldagem segue o recomendado para todo processo de


fabricação mecânica. Primeiramente, deve-se garantir a qualificação de todos
os materiais e técnicos responsáveis pelo processo. É de extrema importância
dimensionar com cautela o procedimento de soldagem, levando em
consideração, não apenas o tipo de material que será soldado, mas também a
geometria da peça. A análise da geometria da peça é crucial para determinar
que tipo de aparelho e de eletrodo pode realizar a união com maior eficiência e
precisão.

9. Código ASME

O código ASME é a norma mais difundida para projeto de vasos de


pressão. Ele estabelece regras sobre materiais, projeto, cálculo, fabricação e
inspeção para qualquer classe de vasos, dadas algumas exceções, dentre
elas, vasos sujeitos a chama e desenhados para ocupação humana.

9.1 Histórico

A necessidade de normatizar a construção de caldeiras e vasos de


pressão surgiu no final do século XVIII com a invenção do motor a vapor.
Durante o século XIX, nos EUA e na Europa, ocorreram milhares de explosões
em caldeiras, resultando em inúmeras mortes. Após a explosão de uma
caldeira de uma fábrica de sapatos em Brockton, Massachesetts, em 1905, que
resultou em 58 mortes, tornou-se inevitável a criação de normas para
regulamentar o projeto de vasos de pressão. O Código ASME para Caldeiras e

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Vasos de Pressão foi concebido em 1911 e publicado pela primeira vez em
1915.

9.2 Código ASME, Seção VIII, Divisão 1

A Divisão 1 do Código ASME para Vasos de Pressão, Seção VIII,


fornece as fórmulas necessárias para o cálculo da espessura necessária do
vaso devido às tensões de membrana devidas às pressões externas e internas.
Fica por conta do projetista, no entanto, a utilização de processos analíticos
para computar as tensões devidas a outras cargas.

O parágrafo UG-23c define que a espessura da parede do vaso deve ser


tal que a máxima tensão de membrana direta, ocasionada por qualquer
combinação de carregamentos, não exceda os valores estabelecidos pelo
código para aquele material. Existe uma lista, no parágrafo UG-22, de todos os
tipos de carga que podem atuar em um vaso.

9.3 Código ASME, Seção VIII, Divisão 2

A Divisão 2 do Código ASME para Vasos de Pressão, Seção VIII,


baseia-se na necessidade de permitir maiores tensões utilizando menos
material, de forma a reduzir custo. Estabelece regras mais restritivas quanto ao
tipo de material que pode ser empregado. Entretanto, com a utilização de
cálculos mais precisos, de processos de fabricação melhor delineados e
métodos mais precisos de inspeção, permite a redução do fator de segurança,
garantido economia de material. Trata-se, portanto, de um projeto menos
conservador do que o descrito pela Divisão 1.

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Projeto Básico de um Vaso

10. Memorial de Cálculo

Nesta sessão, será apresentada a metodologia utilizada pra o projeto do


tambor de coqueamento especificado no enunciado e reproduzido na figura a
seguir:

Figura 10.1: Tambor de coqueamento com suas regiões e dimensões

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10.1 Cálculo da pressão interna

Do enunciado, temos que em cada região k, .

Chegamos aos seguintes valores de pressão:

Região Pressão (MPa)


1 0,25
2 0,27
3 0,29
4 0,31
5 0,33
6 0,35
7 0,37
Tabela 10.1: Pressão interna em cada região

10.2 Temperatura de operação


Do enunciado, temos que a temperatura de operação situa-se na faixa
entre 400 ~ 500 ºC.

10.3 Eficiência da junta soldada


Do enunciado, assumimos a eficiência da junta soldada 0,8.

27
10.4 Material empregado
Da bibliografia: “Um caso típico de emprego dos aços-liga cromo-
molibdênio são os equipamentos para serviço com hidrocarbonetos em
temperaturas elevadas, para os quais o material mais empregado é aço liga 5
Cr – ½ Mo, cuja vida é aproximadamente dez vezes maior do que o aço
carbono no mesmo regime de operação” (SILVA TELLES, 1996).
Foi escolhido o aço SA-387, material indicado por (BEDNAR, 1981), em
seu manual, para essas temperaturas. Suas características, para a faixa de
temperatura determinada são:

Temperatura (ºC) 400 500


Tensão máxima
104 61,7
admissível (MPa)
Tabela 10.2: Tensão admissível na faixa de temperatura

Para os cálculos referentes à espessura do tambor, utilizaremos o valor


mais conservador de 61,7 MPa.

10.5 Fator de segurança indicado


Pelo código e para a liga escolhida, temos .

10.6 Cálculo das espessuras mínimas


Dividiremos o tambor em três partes: o tampo elipsoidal, o casco
cilíndrico e o tampo cônico. Temos que:
- P = pressão interna de projeto
- R = raio interno
- S = máxima tensão admissível
- E = eficiência da junta soldada
- D = comprimento interno do maior eixo do tampo elipsoidal (na seção
10.6.2) ou diâmetro do tampo cônico (na seção 10.6.3)
- = ângulo formado entre o eixo central do cone e uma das retas
incluídas em sua lateral.

28
10.6.1 Corpo cilíndrico
A partir da parte UG-27, da Divisão 1, temos que a espessura do casco
cilíndrico deve ser a maior dentre as seguintes:
- Para tensão circunferencial (juntas longitudinais)

- Para tensão longitudinal (juntas circunferenciais)

10.6.2 Tampo elipsoidal


A partir da parte UG-32, da Divisão 1, temos que a espessura do tampo
elipsoidal é:

10.6.3 Tampo cônico


A partir da parte UG-32, da Divisão 1, temos que a espessura do tampo
cônico é (para ):

( )

29
10.6.4 Resultados
Definimos, primeiramente, os parâmetros necessários:
- (ver Tabela 6.1)
-
-
-
-
-

Substituindo esses valores e aplicando o fator de segurança ,


obtemos:

- Região 1 (tampo elipsoidal):

[ ]

- Região 2 (casca cilíndrica):

{ [ ] [ ]}

- Região 3 (casca cilíndrica):

{ [ ] [ ]}

30
- Região 4 (casca cilíndrica):

{ [ ] [ ]}

- Região 5 (casca cilíndrica):

{ [ ] [ ]}

- Região 6 (casca cilíndrica):

{ [ ] [ ]}

- Região 7 (tampo cônico):

[ ]

31
Portanto, obtivemos as seguintes espessuras para nosso tambor de
coqueamento:

Região Tipo Espessura (mm)


1 Tampo elíptico 64,86
2 Casco cilíndrico 70,25
3 Casco cilíndrico 75,47
4 Casco cilíndrico 80,69
5 Casco cilíndrico 85,92
6 Casco cilíndrico 91,15
7 Tampo esférico 110,98
Tabela 10.3: Espessura calculada para cada região do tambor de coqueamento

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Referências Bibliográficas

TELLES, P.C.S. Vasos de Pressão. 2.ed. Rio de Janeiro, RJ: Livros Técnicos
e Científicos (LTC), 1996.

BEDNAR, H.H. Pressure Vessel Design Handbook. 1.ed, Nova York, NY,
EUA: Van Nostrand Reinhold Company, 1981.

HARVEY, J.F. Theory and Design of Modern Pressure Vessels. 2.ed. Nova
York, NY, EUA: Van Nostrand Reinhold Company, 1974

MOSS, D.M. Pressure Vessel Design Manual. 1.ed, Houston, TX, EUA: Gulf
Publishing Company, 1987

GERE, J.M. Mêcanica dos Materiais. 5.ed, São Paulo, SP: Thomsom
Learning, 2003

ASME: HOMESITE. Disponivel em: <http://www.asme.org/>. Acesso em: 1 jun.


2013.

33
Lista de Ilustrações

pág.

Figura 2.1: Gerador à vapor – caldeira ...............................................................1

Figura. 2.2: Vaso esférico para armazenamento de gás liquefeito à baixa


temperatura .........................................................................................................1

Figura 4.1: Análise das tensões de um vaso esférico ........................................5

Figura 4.2: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície externa


de uma esfera .....................................................................................................6

Figura 4.3: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície interna de


uma esfera ..........................................................................................................7

Figura 4.4: Análise das tensões em um vaso cilíndrico ......................................9

Figura 4.5: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície externa

de um cilindro ....................................................................................................11

Figura 4.6: Elemento de tensão para avaliar as tensões na superfície interna de

um cilindro .........................................................................................................12

Figura 6.1: Diferentes tipos de tampo ……………………………………………..17

Figura 10.1: Tambor de coqueamento, suas regiões e dimensões ..................24

34
Lista de Tabelas

pág.

Tabela 10.1: Pressão interna em cada região ..................................................25


Tabela 10.2: Tensão admissível na faixa de temperatura ................................25
Tabela 10.3: Espessura calculada para cada região do tambor de
coqueamento.....................................................................................................30

35

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