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BOAS PRÁTICAS

SEGURANÇA
TRANSFUSIONAL
NUM HOSPITAL
Em concordância com o juramento hipo-
crático, o objectivo final do acto médico, e a
transfusão sanguínea não constitui excepção,
é trazer benefícios ao doente com um mínimo
de prejuízos (primum non nocerum – acima
de tudo não fazer mal). Os benefícios obtidos
com a transfusão sanguínea têm uma relação
directa positiva com a sua qualidade; os ris-
cos, uma relação inversa com a sua seguran-
ça. Podemos dizer então que a eficácia e
a segurança transfusionais não se podem
separar.(1)

O contexto da prática transfusional nos últimos


30 anos caracteriza-se pelo reconhecimento dos
riscos das infecções virais e outras, bem como
pela adopção bem sucedida de medidas para o
seu despiste e minimização dos seus efeitos lesi-
vos. Para os componentes não-celulares, a inacti-
vação viral aumentou a segurança dos doentes
cujas vidas dependem da utilização regular desses
derivados (por ex. os hemofílicos). Recentemente
a Medicina Transfusional passou a ver com outros
olhos os riscos não virais e iniciou uma série de
iniciativas para melhorar a segurança dos doentes,
tendo também em conta os mesmos riscos.

Em 1999, nos Estados Unidos, o relatório do Insti-


tute of Medicine "To Err is Human: Building a Safer
Health System" realçou a necessidade de melhorar
os métodos de identificação dos doentes, visando
principalmente a redução dos erros de adminis-
tração terapêutica e nomeadamente a redução do
Dialina Brilhante
Serviço de Imuno-hemoterapia
erro transfusional que envolve maior mortalidade
do IPO Lisboa, SA

26 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS

– a transfusão ABO incompatível acidental. Na Euro- ASPECTOS FULCRAIS DO PROCESSO


pa, nos últimos seis anos, os relatórios anuais do TRANSFUSIONAL
Sistema de Hemovigilância inglês (SHOT– Serious
Hazards of Transfusion) têm continuadamente reve- São três os aspectos fulcrais da cadeia transfusional a nível
lado que os componentes sanguíneos erradamente hospitalar que necessitam ser melhorados, designadamente: a
transfundidos têm vindo a aumentar ano após ano, colheita da amostra do doente, a decisão médica de transfundir
tendo constituído 67% dos erros transfusionais em e a aplicação à cabeceira dos componentes sanguíneos. Estas
2001/2002.(2) áreas situam-se fora da prática imediata laboratorial. Na realidade,
a actual fragilidade nestas três áreas pode ser atribuída em parte
Em 2004 a transfusão sanguínea é muito segura. ao facto de nem sempre serem vistas como fases críticas da
O risco de transmissão viral, reportando-nos aos terapêutica transfusional, não só pelos profissionais da transfusão
dados ingleses, estima-se em 1 em 30 milhões para como pela própria instituição, e ambos não se empenharem
a Hepatite C; 1 em 8 milhões para o HIV; 1 em suficientemente na correcção desta atitude.
260000 para a Hepatite B. Em contrapartida, a con-
taminação bacteriana dos componentes sanguíneos, As sociedades profissionais têm chamado a atenção para estes
particularmente das plaquetas, tem vindo a ser aspectos e, na Europa, a Directiva 2002/98/EC, com aplicação
reportada (26 casos entre Outubro de 1996 a De- prevista até Fevereiro de 2005, poderá constituir um momento
zembro de 2002, no SHOT(2)), e desde Abril deste reformador ímpar na transfusão europeia, na medida em que
ano constitui despiste obrigatório nos EUA. consagra a regulação de toda a cadeia transfusional, compro-
metendo-a com um alto nível de qualidade e segurança, de veia
É interessante também notar que a maioria dos a veia, incluindo a produção e a utilização (5).
trabalhos que se debruçam sobre a questão do erro
nas transfusões se confina à não observação da Vejamos os três aspectos fulcrais da cadeia transfusional em
fórmula proposta por McClelland (3): o sangue certo, pormenor:
para o paciente certo, no local certo e no momento
certo, quando esta fórmula é manifestamente insu- Colheita da amostra
ficiente. Outras categorias de erro também podem
acontecer e contribuir de forma decisiva para a iatro- Do ponto de vista do doente, a colheita da amostra pré-trans-
genia induzida pela transfusão. fusional constitui o primeiro passo dos testes pré-transfusionais.
Qualquer erro a este nível é devastador, uma vez que inicia uma
Com efeito, a segurança transfusional obriga a um cadeia de eventos que pode conduzir à transfusão ABO incom-
realinhamento de prioridades, desfocalizando-nos patível. Linden et al (6) estimam que este tipo de erro constitui 15%
do componente em si e virando-nos para o doente. dos erros de transfusão ABO incompatível reportados no estado
Asegurança transfusional compromete-se com todo
o processo terapêutico transfusional do doente, des-
de o recrutamento do dador, passando pela colheita,
pelos seus testes de despiste, pelos testes pré-
-transfusionais, pela decisão médica de transfundir,
pela sua aplicação, pela sua monitorização e ava-
liação. Assim, referimo-nos a todo este processo
como a cadeia transfusional.(4)

Analisando a figura 2, e indo ao encontro dos dados


da literatura científica, podemo-nos orgulhar dos
sucessos alcançados em termos de segurança de
cada componente, mas ao mesmo tempo temos de
admitir a relativa falta de progresso nos passos da
cadeia relacionados com a aplicação hospitalar da
transfusão. Curiosamente, os maiores riscos para
os doentes derivam de problemas que estão nas
nossas mãos resolver.
Figura 1 – Questionários por incidente 1996/97-2001/02 (n=1630) 2

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BOAS PRÁTICAS

Figura 2 – A cadeia transfusional

A segurança transfusional
é muito mais do que a
segurança do
componente.

A terapêutica transfusional
segura depende de uma
série de processos que se
interligam, que se inicia no
dador e termina no doente4
(vein to vein).
PRODUTO
PROCESSO

de Nova Iorque. Estes erros são evitáveis, mas doentes com anticorpos irregulares propostos para cirurgia
parece não estarem a diminuir. Daí que Butch(7) tenha programada e que são convocados no próprio dia, não constitui
apontado um aumento de 10% para 20% nos erros uma prática segura, expondo desnecessariamente os doentes
de colheita de amostra entre 1993 e 1999. O aumen- ao risco de demora ou a dificuldades na obtenção de sangue
to dos erros na colheita das amostras é até certo disponível para a cirurgia.
ponto explicado pela redução do pessoal hospitalar,
pela rotação do mesmo e pela falta de atenção insti- Decisão de transfundir
tucional às falhas na identificação dos doentes e na
etiquetagem das amostras. A existência de guidelines de aplicação dos diferentes com-
ponentes e derivados do sangue é um aspecto fulcral, não só
Uma avaliação rápida da ocorrência destes erros para a utilização correcta dos mesmos como para a sua moni-
mostra-nos o número de amostras incorrectamente torização. Constitui também uma forma de racionalizar a sua
etiquetadas, no sentido de não cumprirem os critérios utilização, no sentido de minimizar ou até anular o seu des-
de aceitação do laboratório, e o número de amostras perdício. Por outro lado, associada à decisão de transfundir, há
incorrectamente colhidas, no sentido de que a amos- a necessidade de informar o doente e instituir a prática do con-
tra está etiquetada correctamente como sendo do sentimento informado. Os doentes que necessitam de receber
Doente A, mas contém na realidade sangue do uma transfusão devem dar o seu consentimento, tal como fazem
doente B. Este erro constitui um designado "quase quando recebem um tratamento médico que envolve um risco
erro" , só é detectado numa repetição da amostra e potencial. O consentimento informado é um procedimento em
quando são confrontados os registos históricos. É que o prescritor, usualmente um médico, fornece informação ao
um quase-erro crítico e que compromete a segu- doente acerca da transfusão, possibilitando a este uma escolha.
rança do doente. Estudos recentes sugerem que Assim, o consentimento informado é na prática melhor descrito
erros na colheita de amostras são endémicos. Por como uma escolha informada.
esta razão, temos recentemente assistido ao apa-
recimento de sistemas electrónicos de rotulagem As indicações para o uso dos diferentes componentes constituem
que obrigam a uma confirmação final, à cabeceira uma área de investigação clínica actual, o que obriga a estar
do doente, não só de identificação como da grupa- atento para as eventuais modificações daí decorrentes, sendo
gem ABO dos mesmos. que a educação e formação contínuas deverão ser preocupações
sempre presentes. As comissões transfusionais hospitalares,
Por outro lado, o próprio timing de realização dos quando existentes, são particularmente eficientes para fazer passar
testes pré-transfusionais, sobretudo no caso de esta mensagem.

28 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS

Aplicação à cabeceira
dos componentes sanguíneos

A troca na aplicação de sangue a um determinado


doente é o risco mais temido da transfusão. Não
assegurar uma transfusão ABO compatível faz-nos
recuar ao nível dos cuidados médicos existentes no
século XIX. Neste sentido, constitui uma prática
médica semelhante à cirurgia sem anestesia, ao
tratamento da infecção sem antibióticos.(4) Assim, o
erro humano de aplicação à cabeceira do doente
pouco mudou nos últimos 50 anos, já que a forma
de o evitar tem-se baseado numa atitude individual
de verificação, nem sempre executada, e no apa-
recimento tardio de novas tecnologias que a subs-
tituam. Os resultados do SHOT evidenciam-no sem
margem para dúvida, bem como os sistemas de
hemovigilância que estão a ser implementados nos
diferentes países.

SOLUÇÕES PARA
OS PROBLEMAS DA SEGURANÇA
TRANSFUSIONAL

Os erros fazem parte do exercício da Medicina e da


Medicina Transfusional como um todo. A detecção
do erro, sua identificação e correcção quando
possível, a sua análise e prevenção e a verificação
se os mecanismos preventivos foram eficazes
constituem um sistema organizado para a progres- ção destes sistemas constitui, por outro lado, um desafio de organi-
siva eliminação do erro, para a melhoria do desem- zação, já que eles cruzam horizontalmente toda a estrutura hospitalar.
penho e para a garantia da qualidade em transfusão.
Os sistemas de hemovigilância institucionais e nacio- Há, pois, tudo que fazer para controlar, diminuir e/ou anular o erro.
nais são a forma mais adequada de progressiva- Mas se errar é humano, então o erro constituirá sempre uma
mente melhorar a prática transfusional e desta oportunidade única de melhorar.
maneira garantir a sua segurança.

Bibliografia
As novas tecnologias têm sido utilizadas na melhoria (1) Significance of ISO Certification and accreditation for blood banks.
da segurança dos componentes sanguíneos. Não P. Rebulla et al. Blood Banking and Transfusion Medicine, vol. 2, number 1,
2004.
têm sido aplicadas aos processos básicos de iden- (2) Haemovigilance in the UK – the SHOT scheme. D. Stainsby et al, Blood
tificação do doente, colheita de amostra, adminis- Banking and Transfusion Medicine, vol. 2, number 1, 2004.
tração à cabeceira, que necessitam de uma correc- (3) Treating a Sick Process. D.B.L. McClelland, Transfusion, 38, (11-12),
999-1103, 1998.
ção urgente. Há uma variedade de novas tecnolo- (4) Emily Cooley Lecture 2002: transfusion safety in the hospital. Transfusion,
gias, nomeadamente a nível da identificação electró- vol. 43: 1190-1199, September 2003.
(5) The European Blood Directive: a new era of blood regulation has begun.
nica, que pode ser usada nos hospitais para melhorar J.C. Faber. Transfusion Medicine: 2004, 14, 257-273.
a segurança transfusional, como por exemplo, fazer (6) Transfusion errors in New York State: an analysis of 10 years’ experience.
coincidir a mesma identificação doente-amostra- J.V. Linden et al, Transfusion, 2000; 40: 1207-13.
(7) Comparison of seven years of occurrence reports (abstract). S.H. Butch,
-componente a transfundir. Se não houver esta coin- Transfusion, 2000; 40 (suppl.1): 159-S.
cidência, o operador é avisado através de sinal sono-
Agradecimentos
ro ou outro, evitando-se assim o erro mais temido da A Isabel Branco, Maria Helena Moreira e Maria Antónia Affra pelas suas
transfusão, a incompatibilidade ABO. A implementa- sugestões e ajudas técnicas.

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BOAS PRÁTICAS

Guia de aplicação de componentes sanguíneos

TERAPÊUTICA
TRANSFUSIONAL
Com o objectivo de orientar e uniformizar a aplicação
dos diferentes componentes sanguíneos, apresenta-se
uma sinopse dos fundamentos da terapêutica transfusional,
baseada nas recomendações da American Associations
of Blood Banks (AABB).

Práticas Transfusionais Gerais SOLUÇÕES INTRAVENOSAS COMPATÍVEIS


• Cloreto de Sódio a 0.9% é aceitável.
• NÃO USAR soluções de Dextrose a 5% (podem induzir hemólise).
PRÉ-TRANSFUSÃO • NÃO USAR Lactato de Ringer (contém Ca+ +, que pode induzir
• Verificar o pedido de transfusão formação de coágulos na unidade de sangue e/ou sistema infusor).
• Verificar a identificação do doente e do sangue
DOCUMENTAÇÃO E MONITORIZAÇÃO
FILTROS • Documentar os sinais vitais antes, durante e após a transfusão.
• Filtrar todos os componentes sanguíneos através de um filtro • Monitorizar no doente os sinais de reacção durante e após a
standard (170 micron). transfusão.
• A albumina, a fracção proteica do plasma (FPP) e a imunoglobulina • No caso de reacção, contactar o Banco de Sangue.
intravenosa não necessitam ser filtradas. • Registar o volume administrado e as reacções transfusionais no
• Desde 1999, os componentes celulares são obrigatoriamente des- protocolo de enfermagem.
leucocitados.
• ATENÇÃO! Não usar filtros de desleucocitação para os granulocitos TIPOS DE COMPONENTES
ou células progenitoras hematopoiéticas. Sangue Total (ST) Volume por Unidade
Concentrado de Eritrocitos (CE) 450 – 550 ml
TEMPO DE INFUSÃO Concentrado de Eritrocitos 300 – 350 ml
• Se o componente não puder ser iniciado rapidamente (i.e., dentro em solução aditiva
de 30 min.), devolvê-lo ao Banco de Sangue para armazenamento Concentrado de Eritrocitos 240 – 280 ml
adequado. Desleucocitado em solução aditiva
• Geralmente, todos os componentes devem ser infundidos em Concentrado de Eritrocitos Lavado 180 – 250 ml
4 horas.
• Se forem necessários tempos de infusão mais prolongados, o
componente deve ser subdividido pelo Banco de Sangue. TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS
• Todas as unidades de sangue total e concentrado de eritrocitos
MEDICAÇÃO devem ser compatibilizadas.
• ATENÇÃO! Não misturar medicação com sangue. • A grupagem e a pesquisa de anticorpos anti-eritrocitários (type
and screen) deve ser pedida quando a transfusão é possível, mas
AQUECIMENTO pouco provável.
• Se for necessário aquecimento, deve usar-se um sistema moni- • A grupagem e compatibilidade (crossmatch) deve ser pedida se a
torizado para assegurar que o sangue não atinja uma temperatura transfusão for provável.
em que ocorra hemólise dos eritrocitos. (Em geral, não aquecer
acima de 42 C.) TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO
• Os concentrados eritrocitários DEVEM ser armazenados num
BOMBAS frigorífico monitorizado (1-6 C) do Banco de Sangue.
• Podem usar-se dispositivos electromecânicos para a transfusão. • Se o componente não puder ser infundido de imediato, deverá ser
• ATENÇÃO! Pode ocorrer hemólise eritrocitária com alguns modelos devolvido ao Banco de Sangue dentro de 30 min. para armaze-
– verificar com o fabricante antes da utilização. namento adequado.

30 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS

Componentes Eritrocitários COMPATIBILIDADE

COMPATIBILIDADE ABO
• Para as plaquetas a compatibilidade ABO entre dador-receptor é
SANGUE TOTAL preferível mas não indispensável.
• ABO – O Sangue Total DEVE respeitar o grupo.
Rh
COMPONENTES ERITROCITÁRIOS • Os concentrados de plaquetas Rh-negativos podem ser aplicados
• ABO – Para os Eritrocitos, a compatibilidade é a seguinte: em doentes Rh-positivos.
• Se os concentrados de plaquetas Rh-positivos forem aplicados
Grupo de Doente Grupo de Dador Compatível em doentes Rh-negativos, o uso de Imunoglobulina Rh poderá ser
A A, O considerado.
B B, O
AB A, B, AB, O TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS
O O • As provas (crossmatch) para compatibilidade ABO não são neces-
sárias.
Rh
• Todas as transfusões devem ser Rh compatíveis. TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO
• Os eritrocitos Rh Negativos podem ser aplicados em doentes Rh • 20-24 C (temperatura ambiente). NÃO REFRIGERAR AS PLA-
Positivos. QUETAS.
NOTA: Em certas circunstâncias, como em emergências hemorrágicas,
os Eritrocitos Rh Positivos podem ser dados a doentes Rh Negativos.

FILTROS
• TODOS os concentrados plaquetários devem ser administrados
FILTROS através de um filtro standard (170 micron) ou filtro de desleuco-
• Todos os componentes eritrocitários devem ser administrados citação.
através de um filtro standard (170 micron) ou filtro de desleuco- • Os filtros de desleucocitação destinados a eritrocitos NÃO devem
citação. ser utilizados para plaquetas.
• Os filtros de desleucocitação destinados a plaquetas NÃO devem
ser utilizados para eritrocitos. TEMPO DE INFUSÃO
• Devem ser infundidas dentro de 4 horas.
TEMPO DE INFUSÃO
• Os componentes devem ser infundidos dentro de 4 horas. MEDICAÇÃO
• NÃO juntar medicação com concentrados plaquetários.
MEDICAÇÃO
• NÃO juntar medicação com sangue total ou componentes eritro- BOMBAS
citários. • O seu uso é aceitável com plaquetas.

BOMBAS
• O seu uso é aceitável (ver ATENÇÃO em Práticas Transfusionais
Gerais). Plasma e Crioprecipitado
SOLUÇÕES INTRAVENOSAS COMPATÍVEIS
• O Cloreto de Sódio a 0.9% pode ser adicionado aos Eritrocitos se TIPOS DE COMPONENTES
indicado para redução da viscosidade. (ver Práticas Transfusionais Volume/Unidade
Gerais.) Plasma (PFC) 180-250 mL
Plasma-vírus-inactivado 200 mL
Crioprecipitado 10-20 mL

Plaquetas
COMPATIBILIDADE

TIPO DE PLAQUETAS ABO


• Os componentes plasmáticos devem ser ABO compatíveis.
Volume Dose habitual
Dador Único 150-300 mL 1 unidade equivale Grupo de Doente Grupo de Dador
(Aferese) 5-8 unidades Compatível para o Plasma*
(CUP) plaquetas random A A, AB
Dador 50-70 mL 1 unidade/10 kg peso B B, AB
Random corporal (dose habitual AB AB
(CP) para adulto: 4-8 U) O A, B, AB, O

• Pode fazer-se um "pool" de múltiplas unidades random. * O crioprecipitado pode ser dado independentemente do tipo ABO
em adultos.

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BOAS PRÁTICAS

Rh TEMPO DE INFUSÃO
• O Plasma e o crioprecipitado podem ser transfundidos sem respei- • Devem ser infundidos dentro de 4 horas.
tar o tipo Rh. • ATENÇÃO! As reacções febris são frequentes e muitas vezes
relacionadas com a dose e velocidade de infusão.
TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS
• As provas (crossmatch) para compatibilidade ABO não são MEDICAÇÃO
necessárias. • A premedicação é frequentemente administrada para prevenir febre
e outras reacções.
TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO • NÃO juntar medicação aos concentrados de granulocitos.
• O plasma e o crioprecipitado armazenam-se congelados a • A Anfotericina B não deve ser administrada concomitantemente
≤ -18 C. com os granulocitos.
• A sua preparação antes de utilização requer aproximadamente
30-60 min. BOMBAS
• Pode fazer-se um "pool" de múltiplas unidades de crioprecipitado. • O seu uso é aceitável.
• Transfundir tão rapidamente quanto possível após descongelação.
REQUISIÇÃO
• Os granulocitos não são armazenáveis no Banco de Sangue e
devem ser requisitados individualmente.
• É geralmente necessário 24-48 h para obter o primeiro concentrado
FILTROS de granulocitos, após selecção prévia dos dadores dirigidos.
• O plasma e o crioprecipitado devem ser administrados através de • A estimulação do dador com G-CSF (e/ou esteróides) aumenta o
um filtro para sangue. rendimento em granulocitos em 3 a 5 vezes.

TEMPO DE INFUSÃO
• Devem ser infundidos dentro de 4 horas.

MEDICAÇÃO Derivados do Plasma


• NÃO juntar medicação com plasma ou crioprecipitado.

BOMBAS TIPOS DE DERIVADOS


• O seu uso é aceitável. • Albumina (5%, 25%)
• Fracção Proteica Plasmática
• Concentrados de FVIII (alguns são recombinantes)
• Concentrados de FIX (alguns são recombinantes)
Granulocitos •

Concentrado de FVIIa (recombinante)
Complexo Protrombínico Activado (indicado para doentes com
alto título de inibidores para o FVIII)
CONTEÚDO DO COMPONENTE (CUG) • Imuoglobulina Rh (para uso IM e IV)
• Volume = 200-300 mL. • Imunoglobulina sérica (preparações IM e IV)
• Htc aproximadamente 12%. • Imunoglobulina Hiperimune
• Granulocitos (> 1.0 x 1010 PMN)
> 3-5 x 1010 PMN se dador tratado previamente TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS
com G-CSF • Crossmatch não é necessário.
• Plaquetas > 2.0 x 1011
(aproximadamente 4 unidades de plaquetas).

COMPATIBILIDADE
• Os granulocitos devem ser ABO e RH compatíveis. FILTROS
• A compatibilidade HLA pode ser necessária em • Para os concentrados de factor da coagulação, é necessária a
doentes aloimunizados. filtração com um filtro de sangue standard ou com o filtro fornecido
com o concentrado.
TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS • Os factores da coagulação devem ser transfundidos tão depressa
• As provas (crossmatch) para compatibilidade ABO devem ser quanto possível após reconstituição.
realizadas. • A albumina, a fracção proteica plasmática e as globulinas séricas
• O crossmatch HLA pode ser necessário. não requerem filtração.

TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO TEMPO DE INFUSÃO


• Conservar a 20-24 C. • Devem ser infundidos dentro de 4 horas.
• Devem ser infundidos tão depressa quanto possível, mas não após
24h depois da colheita. MEDICAÇÃO
• NÃO juntar medicação aos derivados do sangue.
• Diluir a albumina com Soro fisiológico a 0.9% ou Dextrose a 5%.
Não usar água destilada.

BOMBAS
FILTROS • O seu uso é aceitável.
• APENAS UM FILTRO STANDARD (170 micron) PODE SER USADO
(não usar filtros de microagregados ou de desleucocitação).

32 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS

TRATAMENTO DE REACÇÕES TRANSFUSIONAIS AGUDAS


Medidas imediatas para todas as Reacções Transfusionais:
• Parar a transfusão.
• Manter via e.v. Com NaCl a 0,9%.
• Reconfirmar identificação da unidade e do doente.
• Monitorizar os sinais vitais.
• Notificar o médico responsável e o Banco de Sangue; registar no processo clínico do doente.

Após paragem da transfusão (excepto para reacções alérgicas moderadas)


• Enviar ao Banco de Sangue amostras frescas de sangue colhidas em tubo de hemograma e tubo seco, com a respectiva unidade transfundida.

REACÇÕES TRANSFUSIONAIS AGUDAS


TIPO DE REACÇÃO SINAIS E SINTOMAS ATITUDE CLÍNICA
Alérgica moderada Urticária localizada Parar a transfusão (passos 1-5)
(pápulas), prurido, rash • Podem administrar-se anti-histamínicos (PO, IM ou IV)
• Se a reacção desaparecer, a transfusão pode ser completada
• Considerar profilaxia nas transfusões seguintes
Alérgica grave Flushing, espirros Parar a transfusão (passos 1-6)
hipotensão, anafilaxia • Epinefrina e/ou esteróides podem estar indicados
• ATENÇÃO: pode tornar-se uma emergência médica; mantenha a tensão arterial
e vias aéreas desobstruídas
Febril Calafrios e febre súbita Parar a transfusão (passos 1-6)
(>38 C ou aumento > 1 C) • Geralmente responde a antipiréticos
• Nos casos resistentes, considerar o uso de Petidina IV e/ou orticosteróides
• Excluir r. hemolítica, r. séptica e TRALI
Hemolítica aguda Tremores, febre, dor lombar Parar a transfusão (passos 1-6)
taquicardia, dispneia, hipotensão, • Forçar diurese com fluídos e diuréticos
tendência hemorrágica, • ATENÇÃO: pode tornar-se uma emergência médica; mantenha a tensão arterial e vias
oligúria, hemoglobinúria, aéreas desobstruídas
hemoglobinémia • Não transfundir outras unidades até confirmação laboratorial imuno-hematológica
• Se persistir oligúria/anúria considerar diálise
Transfusion-related Calafrios, febre, dispneia, Parar a transfusão (Passos 1-6)
Acute lung injury falência respiratória, • Oxigenoterapia e ventilação assistida se necessário
(TRALI) edema pulm. não cardiogénico • ATENÇÃO: pode tornar-se uma emergência médica; mantenha a tensão arterial
e vias aéreas desobstruídas
• Notificar o Banco de Sangue e descartar restantes componentes do mesmo dador
Reacção séptica Febre, calafrios, tremores Parar a transfusão (Passos 1-6)
náuseas, vómitos, hipotensão • Iniciar de imediato Antibioterapia IV agressiva após colheita de amostra para hemocultura
• ATENÇÃO: pode tornar-se uma emergência médica; mantenha a tensão arterial
• Notificar o Banco de Sangue e descartar restantes componentes do mesmo dador
• Devolução imediata da unidade para o Bloco de Sangue para estudo bacteriológico

• Todos os doentes grupados têm uma


Ficha Transfusional Individual.
• Esta folha constitui o cartão de
grupo do doente.
• Esta folha deve sempre acompanhar
o processo do doente.
• Sempre que o doente for
transfusionado, a etiqueta
autocolante identificadora do
componente transfundido deve ser
colada no verso da folha.
Quando o verso desta folha estiver
totalmente preenchido, anexar uma
folha em branco com essa finalidade.

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