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SEGURANÇA
TRANSFUSIONAL
NUM HOSPITAL
Em concordância com o juramento hipo-
crático, o objectivo final do acto médico, e a
transfusão sanguínea não constitui excepção,
é trazer benefícios ao doente com um mínimo
de prejuízos (primum non nocerum – acima
de tudo não fazer mal). Os benefícios obtidos
com a transfusão sanguínea têm uma relação
directa positiva com a sua qualidade; os ris-
cos, uma relação inversa com a sua seguran-
ça. Podemos dizer então que a eficácia e
a segurança transfusionais não se podem
separar.(1)
26 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS
A segurança transfusional
é muito mais do que a
segurança do
componente.
A terapêutica transfusional
segura depende de uma
série de processos que se
interligam, que se inicia no
dador e termina no doente4
(vein to vein).
PRODUTO
PROCESSO
de Nova Iorque. Estes erros são evitáveis, mas doentes com anticorpos irregulares propostos para cirurgia
parece não estarem a diminuir. Daí que Butch(7) tenha programada e que são convocados no próprio dia, não constitui
apontado um aumento de 10% para 20% nos erros uma prática segura, expondo desnecessariamente os doentes
de colheita de amostra entre 1993 e 1999. O aumen- ao risco de demora ou a dificuldades na obtenção de sangue
to dos erros na colheita das amostras é até certo disponível para a cirurgia.
ponto explicado pela redução do pessoal hospitalar,
pela rotação do mesmo e pela falta de atenção insti- Decisão de transfundir
tucional às falhas na identificação dos doentes e na
etiquetagem das amostras. A existência de guidelines de aplicação dos diferentes com-
ponentes e derivados do sangue é um aspecto fulcral, não só
Uma avaliação rápida da ocorrência destes erros para a utilização correcta dos mesmos como para a sua moni-
mostra-nos o número de amostras incorrectamente torização. Constitui também uma forma de racionalizar a sua
etiquetadas, no sentido de não cumprirem os critérios utilização, no sentido de minimizar ou até anular o seu des-
de aceitação do laboratório, e o número de amostras perdício. Por outro lado, associada à decisão de transfundir, há
incorrectamente colhidas, no sentido de que a amos- a necessidade de informar o doente e instituir a prática do con-
tra está etiquetada correctamente como sendo do sentimento informado. Os doentes que necessitam de receber
Doente A, mas contém na realidade sangue do uma transfusão devem dar o seu consentimento, tal como fazem
doente B. Este erro constitui um designado "quase quando recebem um tratamento médico que envolve um risco
erro" , só é detectado numa repetição da amostra e potencial. O consentimento informado é um procedimento em
quando são confrontados os registos históricos. É que o prescritor, usualmente um médico, fornece informação ao
um quase-erro crítico e que compromete a segu- doente acerca da transfusão, possibilitando a este uma escolha.
rança do doente. Estudos recentes sugerem que Assim, o consentimento informado é na prática melhor descrito
erros na colheita de amostras são endémicos. Por como uma escolha informada.
esta razão, temos recentemente assistido ao apa-
recimento de sistemas electrónicos de rotulagem As indicações para o uso dos diferentes componentes constituem
que obrigam a uma confirmação final, à cabeceira uma área de investigação clínica actual, o que obriga a estar
do doente, não só de identificação como da grupa- atento para as eventuais modificações daí decorrentes, sendo
gem ABO dos mesmos. que a educação e formação contínuas deverão ser preocupações
sempre presentes. As comissões transfusionais hospitalares,
Por outro lado, o próprio timing de realização dos quando existentes, são particularmente eficientes para fazer passar
testes pré-transfusionais, sobretudo no caso de esta mensagem.
28 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS
Aplicação à cabeceira
dos componentes sanguíneos
SOLUÇÕES PARA
OS PROBLEMAS DA SEGURANÇA
TRANSFUSIONAL
Bibliografia
As novas tecnologias têm sido utilizadas na melhoria (1) Significance of ISO Certification and accreditation for blood banks.
da segurança dos componentes sanguíneos. Não P. Rebulla et al. Blood Banking and Transfusion Medicine, vol. 2, number 1,
2004.
têm sido aplicadas aos processos básicos de iden- (2) Haemovigilance in the UK – the SHOT scheme. D. Stainsby et al, Blood
tificação do doente, colheita de amostra, adminis- Banking and Transfusion Medicine, vol. 2, number 1, 2004.
tração à cabeceira, que necessitam de uma correc- (3) Treating a Sick Process. D.B.L. McClelland, Transfusion, 38, (11-12),
999-1103, 1998.
ção urgente. Há uma variedade de novas tecnolo- (4) Emily Cooley Lecture 2002: transfusion safety in the hospital. Transfusion,
gias, nomeadamente a nível da identificação electró- vol. 43: 1190-1199, September 2003.
(5) The European Blood Directive: a new era of blood regulation has begun.
nica, que pode ser usada nos hospitais para melhorar J.C. Faber. Transfusion Medicine: 2004, 14, 257-273.
a segurança transfusional, como por exemplo, fazer (6) Transfusion errors in New York State: an analysis of 10 years’ experience.
coincidir a mesma identificação doente-amostra- J.V. Linden et al, Transfusion, 2000; 40: 1207-13.
(7) Comparison of seven years of occurrence reports (abstract). S.H. Butch,
-componente a transfundir. Se não houver esta coin- Transfusion, 2000; 40 (suppl.1): 159-S.
cidência, o operador é avisado através de sinal sono-
Agradecimentos
ro ou outro, evitando-se assim o erro mais temido da A Isabel Branco, Maria Helena Moreira e Maria Antónia Affra pelas suas
transfusão, a incompatibilidade ABO. A implementa- sugestões e ajudas técnicas.
TERAPÊUTICA
TRANSFUSIONAL
Com o objectivo de orientar e uniformizar a aplicação
dos diferentes componentes sanguíneos, apresenta-se
uma sinopse dos fundamentos da terapêutica transfusional,
baseada nas recomendações da American Associations
of Blood Banks (AABB).
30 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS
COMPATIBILIDADE ABO
• Para as plaquetas a compatibilidade ABO entre dador-receptor é
SANGUE TOTAL preferível mas não indispensável.
• ABO – O Sangue Total DEVE respeitar o grupo.
Rh
COMPONENTES ERITROCITÁRIOS • Os concentrados de plaquetas Rh-negativos podem ser aplicados
• ABO – Para os Eritrocitos, a compatibilidade é a seguinte: em doentes Rh-positivos.
• Se os concentrados de plaquetas Rh-positivos forem aplicados
Grupo de Doente Grupo de Dador Compatível em doentes Rh-negativos, o uso de Imunoglobulina Rh poderá ser
A A, O considerado.
B B, O
AB A, B, AB, O TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS
O O • As provas (crossmatch) para compatibilidade ABO não são neces-
sárias.
Rh
• Todas as transfusões devem ser Rh compatíveis. TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO
• Os eritrocitos Rh Negativos podem ser aplicados em doentes Rh • 20-24 C (temperatura ambiente). NÃO REFRIGERAR AS PLA-
Positivos. QUETAS.
NOTA: Em certas circunstâncias, como em emergências hemorrágicas,
os Eritrocitos Rh Positivos podem ser dados a doentes Rh Negativos.
FILTROS
• TODOS os concentrados plaquetários devem ser administrados
FILTROS através de um filtro standard (170 micron) ou filtro de desleuco-
• Todos os componentes eritrocitários devem ser administrados citação.
através de um filtro standard (170 micron) ou filtro de desleuco- • Os filtros de desleucocitação destinados a eritrocitos NÃO devem
citação. ser utilizados para plaquetas.
• Os filtros de desleucocitação destinados a plaquetas NÃO devem
ser utilizados para eritrocitos. TEMPO DE INFUSÃO
• Devem ser infundidas dentro de 4 horas.
TEMPO DE INFUSÃO
• Os componentes devem ser infundidos dentro de 4 horas. MEDICAÇÃO
• NÃO juntar medicação com concentrados plaquetários.
MEDICAÇÃO
• NÃO juntar medicação com sangue total ou componentes eritro- BOMBAS
citários. • O seu uso é aceitável com plaquetas.
BOMBAS
• O seu uso é aceitável (ver ATENÇÃO em Práticas Transfusionais
Gerais). Plasma e Crioprecipitado
SOLUÇÕES INTRAVENOSAS COMPATÍVEIS
• O Cloreto de Sódio a 0.9% pode ser adicionado aos Eritrocitos se TIPOS DE COMPONENTES
indicado para redução da viscosidade. (ver Práticas Transfusionais Volume/Unidade
Gerais.) Plasma (PFC) 180-250 mL
Plasma-vírus-inactivado 200 mL
Crioprecipitado 10-20 mL
Plaquetas
COMPATIBILIDADE
• Pode fazer-se um "pool" de múltiplas unidades random. * O crioprecipitado pode ser dado independentemente do tipo ABO
em adultos.
Rh TEMPO DE INFUSÃO
• O Plasma e o crioprecipitado podem ser transfundidos sem respei- • Devem ser infundidos dentro de 4 horas.
tar o tipo Rh. • ATENÇÃO! As reacções febris são frequentes e muitas vezes
relacionadas com a dose e velocidade de infusão.
TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS
• As provas (crossmatch) para compatibilidade ABO não são MEDICAÇÃO
necessárias. • A premedicação é frequentemente administrada para prevenir febre
e outras reacções.
TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO • NÃO juntar medicação aos concentrados de granulocitos.
• O plasma e o crioprecipitado armazenam-se congelados a • A Anfotericina B não deve ser administrada concomitantemente
≤ -18 C. com os granulocitos.
• A sua preparação antes de utilização requer aproximadamente
30-60 min. BOMBAS
• Pode fazer-se um "pool" de múltiplas unidades de crioprecipitado. • O seu uso é aceitável.
• Transfundir tão rapidamente quanto possível após descongelação.
REQUISIÇÃO
• Os granulocitos não são armazenáveis no Banco de Sangue e
devem ser requisitados individualmente.
• É geralmente necessário 24-48 h para obter o primeiro concentrado
FILTROS de granulocitos, após selecção prévia dos dadores dirigidos.
• O plasma e o crioprecipitado devem ser administrados através de • A estimulação do dador com G-CSF (e/ou esteróides) aumenta o
um filtro para sangue. rendimento em granulocitos em 3 a 5 vezes.
TEMPO DE INFUSÃO
• Devem ser infundidos dentro de 4 horas.
COMPATIBILIDADE
• Os granulocitos devem ser ABO e RH compatíveis. FILTROS
• A compatibilidade HLA pode ser necessária em • Para os concentrados de factor da coagulação, é necessária a
doentes aloimunizados. filtração com um filtro de sangue standard ou com o filtro fornecido
com o concentrado.
TESTES PRÉ-TRANSFUSIONAIS • Os factores da coagulação devem ser transfundidos tão depressa
• As provas (crossmatch) para compatibilidade ABO devem ser quanto possível após reconstituição.
realizadas. • A albumina, a fracção proteica plasmática e as globulinas séricas
• O crossmatch HLA pode ser necessário. não requerem filtração.
BOMBAS
FILTROS • O seu uso é aceitável.
• APENAS UM FILTRO STANDARD (170 micron) PODE SER USADO
(não usar filtros de microagregados ou de desleucocitação).
32 QUALIDADE EM SAÚDE
BOAS PRÁTICAS